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delimitar a sua atuação. A segunda, por sua vez, se refere a observância do devido processo legal quando houver atuação estatal, vale dizer, do magistrado, que deverá observar o procedi- mento adequado para a prática de seus atos, sob pena de incorrer em nulidade (BRASIL, 1988).

Dessa forma, só existirá o devido processo legal se, para realizações de atos, assim como para proferir decisões, forem observados todos os demais princípios constitucionais, ainda que se esteja diante de uma medida urgente.

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Na hipótese de citação da parte ré e esta não interpor o recurso cabível contra a decisão que concedeu a medida urgente, considera-se que houve inércia de sua parte quanto à con- cessão da medida e ela se estabilizará, é o que dispõe o artigo 304, § 1º, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

Neste caso, conforme o artigo 1.015, do CPC, o recurso cabível é o Agravo de Instrumento (BRASIL, 2015).

Para Fredie Didier Júnior, Rafael Alexandria de Oliveira e Paula Sarno Braga, “a estabili- zação da tutela é uma generalização da técnica monitória para situações de urgência e para a tutela satisfativa, na medida em que viabiliza a obtenção de resultados práticos a partir da inércia do réu”. (DIDIER; OLIVEIRA; BRAGA, 2018, p. 695)

Assim, é notório que a criação do citado instituto se deu com a fim de preservar a eficácia e utilidade da tutela jurisdicional, assegurando à parte a obtenção de uma decisão célere e eficaz, em sede de liminar, diante da existência de situações em que existam perigo de ocorrência de dano ou risco ao resultado útil do processo aliados ao perigo de demora da prestação jurisdi- cional.

4.1 REQUISITOS PARA CONCESSÃO

Sendo a urgência contemporânea à propositura da ação a parte autora poderá apresentar a inicial constando apenas o pedido de tutela antecipada, com exposição da lide e do direito, além de comprovação da existência de perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo (BRASIL, 2015). Por se tratar de situação excepcional é que o Código de Processo Civil permite que a petição inicial seja apresentada de forma incompleta, devendo, no entanto, ser aditada no prazo de 15 dias a fim de preencher os requisitos previstos no artigo 319, do CPC/154.

Nos termos do art. 303, §1º, inciso I, do CPC, tal aditamento se refere à complementação da argumentação, à juntada de novos documentos e confirmação do pedido de tutela final (BRASIL, 2015).

Pode o juiz entender que não existem elementos suficientes para a concessão da medida urgente. Assim, será determinado que a parte autora emende a petição em até 5 dias, sob pena de ocorrer a extinção do processo sem resolução de mérito.

4 Art. 319. A petição inicial indicará:

I - o juízo a que é dirigida;

II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV - o pedido com as suas especificações;

V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

§ 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências neces- sárias a sua obtenção.

§ 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do

§ 3º A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informa-réu.

ções tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. (BRASIL, 2015)

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Concedida a tutela, caso o autor não adite a inicial, também haverá extinção do processo sem resolução de mérito, sendo cessados nesse momento os efeitos da tutela antecipada con- cedida.

Por sua vez, feito o aditamento, o réu será devidamente citado para passar a integrar a relação processual e intimado para audiência de conciliação ou de mediação na forma do artigo 334 do CPC, com base no artigo 303, §1º, II do CPC (BRASIL, 2015).

Havendo autocomposição, o acordo é homologado e o processo é extinto com resolução do mérito, sendo substituído o conteúdo da tutela antecipatória eventualmente concedida pelo o que foi acordado. Não havendo, inicia-se o prazo de 15 dias para contestação, nos termos do artigo 335, do CPC (BRASIL, 2015).

Na hipótese de o caso não admitir autocomposição não é preciso a designação de audi- ência de conciliação. Dessa forma, o prazo para contestação será contado a partir da intimação feita ao réu do aditamento da petição inicial (DIDIER; OLIVEIRA; BRAGA, 2018, p. 700).

Se, devidamente citado o réu recorre da decisão que concede a tutela antecipada, o pro- cedimento comum se desenvolverá normalmente, rumo às suas etapas de saneamento, instru- ção e decisão. No entanto, caso fique inerte, leia-se, não interponha o agravo de instrumento, a tutela será estabilizada, podendo somente ser revista com o ajuizamento de ação autônoma no prazo decadencial de 02 (dois) anos a contar da ciência da decisão que extinguiu o feito principal (DIDIER, 2018, p. 616).

Nessa seara, a tutela concedida continuará produzindo os seus efeitos enquanto não for objeto de revisão, reforma ou invalidação.

4.2 A ESTABILIZAÇÃO DOS SEUS EFEITOS

Reafirmando a ideia do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) de tornar a relação pro- cessual mais célere e eficiente foi criado o instituto em estudo, que evita o desgaste dos liti- gantes em longas lides, por pleitos que, em sede de tutela são resolvidos de forma satisfatória e célere para as partes envolvidas.

Assim, constitui requisito necessário para a estabilização dos efeitos da tutela antecipató- ria, a inércia do réu. Dessa forma, se citado para defesa o réu não interpõe o recurso cabível, os efeitos da decisão concessiva de tutela tornam-se estáveis, não se desenvolvendo a cognição exauriente.

Quanto à inércia do réu e o recurso cabível, explicam Érico Andrade e Dierle Nunes que:

“[...] a falta de interposição do agravo de instrumento leva à estabilização, independentemente do pedido de suspensão de liminar ou de reclamação, com o que estes eventuais mecanismos processuais teriam de ser extintos por perda de objeto” (ANDRADE; NUNES, 2015, p.16).

No mesmo sentido, o julgado do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:

EMENTA: PROCESSO CIVIL. ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA. CONFIGURAÇÃO. PRINCÍ- PIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. INÉRCIA DO RÉU. NÃO APRESENTAÇÃO DE RECURSO. CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA. - Em consonância com o princípio da instrumen- talidade das formas não há nulidade na decisão que declarou a estabilização da tutela quando o autor deixa claro no âmbito da inicial que pretende se valer do instituto e na medida em que

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o réu não demonstrou qualquer prejuízo em razão do aditamento ter sido mencionado na ini- cial. - Não é possível realizar uma interpretação ampliativa do art. 304 do CPC quando o legis- lador expressamente afirma que a decisão que concede a antecipação dos efeitos da tutela em caráter antecedente “torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso” - Configura-se a inércia do réu caso não interponha recurso próprio da decisão que concede a antecipação dos efeitos da tutela, ainda que tenha apresentado contes- tação. (TJMG - Apelação Cível 1.0372.17.004316-3/001, Relator(a): Des.(a) Alberto Vilas Boas , 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 05/02/2019, publicação da súmula em 13/02/2019)

No entanto apenas os efeitos da decisão podem estabilizar-se. A respeito do tema Fredie Didier, assim explica que “[...] somente os efeitos da decisão positiva podem tornar-se estáveis”.

E, quanto ao tema estabilização dos efeitos da decisão, defende mais ainda, que “têm aptidão para a estabilidade do art. 304 tanto os efeitos da decisão concessiva proferida pelo juízo de primeiro grau como os da decisão (unipessoal ou colegiada) concessiva proferida em recurso de agravo de instrumento interposto contra decisão singular denegatória”. Alerta, portanto: “O que importa é que tudo isso aconteça antes de o autor aditar a inicial para complementar a sua causa de pedir e formular o seu pedido definitivo (art. 303, §1º, I, CPC)”. (DIDIER, 2018, p. 699).

Cumpre registrar ainda que, estabilizada a decisão antecipatória e extinto o procedimento, não se opera a coisa julgada. Nesse sentido, Humberto Theodoro Júnior assim esclarece:

Essa decisão antecipatória, todavia, não opera a coisa julgada, ou seja, não se reveste dos efeitos da coisa julgada material, que a tornaria imutável e indis- cutível, com força vinculante para todos os juízos. As partes poderão, no prazo decadencial de dois anos, contado da ciência da decisão que extinguiu o pro- cesso, apresentar, se lhes convier, a ação principal para discutir a matéria no mérito (art. 304, §§ 2º e 5º). A opção, in casu, pela não ocorrência da coisa julgada é lógica e faz sentido, pois não se poderia conferir a mesma dignidade processual a um provimento baseado em cognição sumária e a um provimento lastreado na cognição plena. (THEODORO JUNIOR, 2018, p. 698).

Isso porque, a coisa julgada recaí sobre o conteúdo da decisão e não somente sobre seus efeitos. Dessa forma, ainda que transcorrido o prazo decadencial de dois anos, a matéria poderá ser objeto de questionamento em uma ação autônoma até findar-se os demais prazos constantes no direito material.

Percebe-se que a estabilização dos efeitos ocorrerá nos casos em que a decisão anteci- patória for suficiente para resolver o conflito de forma satisfatória para as partes envolvidas, razão pela qual não se faz necessário o prosseguimento do processo. Assim, se porventura o réu, embora intimado, não apresentar defesa no prazo devido ou, apesar de manifestar seu inconformismo com a decisão, valer-se se outro meio que não seja o agravo de instrumento.

Dessa forma, a parte ré encontra-se limitada à uma única forma de defesa hábil a impedir que ocorra a estabilização dos efeitos.

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5 A NÃO ESTABILIZAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA