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2.3 Incentivos fiscais

2.3.1 Contextualização

extrafiscalidade convergem para dois pontos em comuns: a ausência de fins arrecadatórios; e o objetivo de intervenção no sistema socioeconômico, a partir da modificação do comportamento dos indivíduos, sem impor uma penalidade (Gouvêa, 2006; Seixas, 2017).

• Intervencionismo fiscal: caracteriza-se por operar na economia global do país e perseguir de forma sistemática algumas medidas de caráter geral. Tem como objetivo alcançar o alto nível de emprego, e a diminuição das diferenças na renda individual (Lacombe, 1969).

• Dirigismo fiscal: consiste no desenvolvimento de políticas tributárias com vistas a favorecer ou prejudicar, a partir da imposição e por motivos meta-econômicos alguns setores da produção e do consumo, bem como, estruturas de formação de capital (Lacombe, 1969). O dirigismo fiscal serve como instrumento para conduzir a economia a favor de interesses privados em grupos que exercem pressões, e atuar em finalidades não amparadas pela Constituição Federal (Bomfim, 2015).

No Brasil, as políticas de incentivos fiscais são baseadas no dirigismo fiscal. Assim, não obedecem a um plano global, oferecendo soluções para problemas esparsos, não relacionados entre si (Lacombe, 1969). No processo de desenvolvimento brasileiro, houve o predomínio de um modelo concentrador de riquezas, constitucionalmente adotado ao longo da história. Diversos fatores produziram desníveis regionais, o que levou ao favorecimento de algumas regiões, em detrimento de outras (Lacombe 1969;

Luca & Lima, 2008). Para Oliveira et al. (2014) é preciso considerar a existência de uma

“sombra” acerca da verdadeira função dos incentivos fiscais, não é possível afirmar se tais estratégias promovem o desenvolvimento econômico regional, ou trata-se apenas de artifícios para o aumento da arrecadação.

Para Easson e Zolt (2002), quase todos os países adotam políticas de incentivos fiscais, o que pode ocasionar vantagens e desvantagens. Os autores salientam que, países em desenvolvimento possuem um foco adicional. Neste sentido, os incentivos fiscais são usados para estimular as indústrias nacionais, e atrair investimentos estrangeiros. As estratégias escolhidas perpassam por isenções fiscais, incentivos para investimento

regional, zonas especiais de empreendimento e incentivos de reinvestimento (Easson &

Zolt, 2002).

Em relação às vantagens, Easson e Zolt (2002) explicam que, quando devidamente concebidos, os incentivos fiscais podem ser uma ferramenta útil para atrair novos investimentos, inclusive o estrangeiro direto, gerando diversos benefícios a um país, tais como: maiores transferências de capital; trocas de know-how e tecnologia; aumento do emprego formal; e assistência para melhorar as condições em áreas menos desenvolvidas (Easson & Zolt, 2002).

Os incentivos fiscais também podem gerar efeitos colaterais, que são alcançados a partir do crescimento econômico, incluindo, maior demanda por bens e serviços, e aumento da receita tributária, principalmente após o término de um período de isenção fiscal. De forma indireta, pode ocorrer o aumento das receitas fiscais recebidas de funcionários, fornecedores e consumidores (Easson & Zolt, 2002).

Em oposição, Melo (2015) discorre sobre os aspectos negativos relacionados aos incentivos fiscais, são eles:

• O sistema de incentivos fiscais guarda estreita relação com o sistema de punições.

Assim, ambos vão se comportar em um modelo de gestão autocrático e controlador. A ameaça latente daquele que se sujeita a ficar sem recompensa, principalmente quando a sistemática perdura em longo prazo, acaba tornando o sistema essencialmente punitivo.

• Os incentivos fiscais podem gerar uma expectativa de obtenção, que caso não seja cumprida, equivale a uma punição com frustração pela perda de oportunidade.

Esse mecanismo pode custar à sobrevivência de uma empresa em razão da concorrência em situação de desvantagem.

• Os sistemas de recompensas afetam os relacionamentos. Em um ambiente escasso em termos de premiação, a concessão de incentivos fiscais pode levar ao acirramento da competição e do individualismo. Ademais, ressalta-se a exigência

de influência política aos diversos grupos de contribuintes, condição para o alcance de incentivos equivalentes. Os contribuintes que estão ao lado do governo obtêm maiores vantagens.

• Os incentivos ignoram razões para os problemas. Dessa forma, podem ser utilizados como uma rápida solução na geração de resultados, que por vezes, seriam alcançados à medida que o problema real fosse solucionado. Assim, o incentivo fiscal torna-se uma forma de compensar a ineficiência do Estado em relação ao provimento de políticas públicas.

• Os incentivos restringem o campo de visão para focar apenas nos resultados que geram prêmios. Diante de tarefas complexas, existe uma perda de eficiência em relação ao alcance de resultados, ou seja, quanto maior o prêmio, menor o foco na tarefa e pior o desempenho. Ademais, os incentivos desencorajam a tomada de risco e tendem a minar a criatividade, o que dificulta a descoberta de soluções inovadoras.

• Os incentivos se prestam a minar o valor intrínseco daquela atividade que é estimulada. A relação condicional para o recebimento de vantagens pelo resultado, em longo prazo pode ser prejudicial, pois cria uma expectativa de contínuas recompensas. Dessa forma, quando uma recompensa não pode ser provida, a conduta desejada deixará de ser espontaneamente realizada, havendo uma perda de interesse.

Para Melo (2015), as políticas de incentivos fiscais devem ser estudadas, visto que o seu uso pode ocasionar efeitos negativos. Ressalta-se que, não se trata de um instituto inválido ou inconstitucional, porém, tais estratégias conferem muito poder ao Estado, e por isso, devem ser objeto de limitações para um uso republicano e isonômico. Amaral Filho (2003) afirma que um bom sistema de concessão de incentivos públicos deve conter alguns princípios básicos, ou seja, ser socialmente transparente; competitivo em relação aos outros sistemas; e sustentável financeiramente.

No Brasil, a partir da aprovação do CPC 07 – R1 (2010), os incentivos fiscais precisam ser divulgados pelas empresas, em notas explicativas. As operações podem ser relevantes para efeito de análise do desempenho empresarial, dependência financeira etc. (Gelbcke et al., 2018). Conforme CPC 07 – R1 (2010), a entidade deve divulgar as seguintes informações: a) política contábil adotada para as subvenções governamentais, incluindo os métodos de apresentação adotados nas demonstrações contábeis; b) natureza e extensão das incentivos fiscais reconhecidas nas demonstrações contábeis, e a indicação de outras formas de assistência governamental de que a entidade tenha diretamente usufruído; c) condições a serem regularmente satisfeitas, e outras contingências ligadas à assistência governamental reconhecida.