• Nenhum resultado encontrado

Relações entre incentivos fiscais federais e distribuição de valor adicionado

5.2 Análise Econométrica

5.2.3 Relações entre incentivos fiscais federais e distribuição de valor adicionado

Em síntese, os resultados obtidos atenderam ao objetivo específico (3): analisar as relações entre incentivos fiscais federais e geração de valor adicionado em empresas brasileiras listadas na B3. Dessa forma, pode-se inferir que existe uma relação significativa e positiva entre incentivos fiscais federais e a geração de valor adicionado (VAAT e VAPL).

Ao analisar o efeito das conexões políticas (CPAE, CPDC e CPPG) sobre a geração de valor adicionado apresentam-se os seguintes achados:

A variável (CPDC) foi significativa negativa. Dessa forma, pode-se inferir que o estabelecimento de conexão política por doação a campanha prejudica a geração de valor

como, testar as hipóteses H6, H7, H8 e H9 desta pesquisa foram estimados quatro modelos econométricos pelo método dos Mínimos Quadrados Generalizados (GLS), quais sejam:

i) valor adicionado distribuído ao pessoal (VADP); ii) valor adicionado distribuído ao governo (VADG); iii) valor adicionado distribuído a terceiros (VADT); e iv) valor adicionado distribuído aos acionistas (VADA). Os resultados se encontram na Tabela 8.

Tabela 8:

Modelos estimados para incentivos fiscais federais e distribuição de valor adicionado.

MODELOS VADP VADG VADT VADA

Regressores Coef. Coef. Coef. Coef.

NIFF -0,0042* 0,0137*** 0,0031 -0,0207*

CPAE 0,0192** -0,0102 -0,0107* 0,0040

CPDC -0,0032 -0,0027 -0,00003 -0,0110

CPPG -0,0159** 0,0327*** 0,0167** 0,0489*

NIFF*CPAE -0,0181*** -0,0243*** 0,0184** 0,0235

NIFF*CPDC -0,0046** -0,0059 -0,0046* 0,0037

NIFF*CPPG 0,0114*** -0,0387*** 0,0066 -0,0541**

AUDIT 0,0104*** 0,0425*** -0,0034 -0,0066

CRISE -0,0071*** -0,0209*** 0,0134*** -0,0133

END -0,0473*** -0,0593*** 0,0772*** -0,0350

INTG 0,0054 0,0299** 0,0060 -0,0771

ROA -0,4964*** -0,2099*** -0,4090*** 2,6615***

SETUP -0,4425*** 0,3449*** 0,0349 0,3121***

TAM -0,0068*** -0,0081*** -0,0098*** 0,0475***

Constante - 0,4445*** - -

Teste Chow 28,12*** 30,40*** 14,50*** 5,23***

Teste Breusch- Pagan 2260,68*** 2694,15*** 1455,30*** 308,91***

Teste Hausman 50,96*** 16,44 45,99*** 35,49***

Teste Wooldridge 1,954 3,484* 2,718 1,033

Teste Wald Modificado 47045,40*** - 75565,40*** 2,4e+05***

Teste Likelihood - 869,38*** - -

Teste Wald 39095,02*** 3590,99*** 6148,61*** 2119,76***

Fonte: Dados da pesquisa.

Notas: Teste de Chow - adequabilidade entre Pooled e Efeitos Fixos; Teste Breuch Pagan - adequabilidade entre Pooled e Efeitos Aleatórios; Teste de Hausman - adequabilidade entre Efeitos Aleatórios e Efeitos Fixos; Teste de Wooldridge - verificação de existência de autocorrelação entre os resíduos; Teste de Wald Modificado - verificação da existência de heterocedasticidade dos resíduos; Teste de Likelihood: verificação de existência de heterocedasticidade. Teste de Wald - Teste de verificação de ajuste global do modelo. As significâncias estatísticas dos testes são representadas por meio da seguinte simbologia: *10%; **5%;

***1%.

Incentivos fiscais federais e distribuição de valor adicionado ao pessoal: a variável (NIFF) apresentou uma relação significativa e negativa no modelo (VADP). Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais tendem a distribuir menor valor adicionado ao pessoal.

O resultado é contrário ao esperado. Ao analisar a literatura observa-se que um dos propósitos que permeia a concessão de incentivos fiscais está na geração de emprego e renda. Easson e Zolt (2002) afirmam que os incentivos fiscais são capazes de promover o aumento do emprego formal, bem como melhorar as condições em áreas menos desenvolvidas. Ressalta-se que nesta pesquisa foram considerados um conjunto de incentivos fiscais federais (incentivos regionais, redução do IRPJ, incentivos financeiros e parcelamentos especiais), o que pode ter contribuído para este resultado.

Incentivos fiscais federais e distribuição de valor adicionado ao governo: a variável (NIFF) apresentou uma relação significativa e positiva no modelo (VADG). Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais tendem a distribuir maior valor ao governo.

Os achados corroboram com a literatura sobre o tema. Santos e Hashimoto (2003) afirmam que o governo é tido como um dos principais participantes na distribuição do valor adicionado. Neste sentido, Easson e Zolt (2002) explicam que os incentivos fiscais estão vinculados a geração de desenvolvimento econômico regional, ocasionando maior demanda por bens e serviços, e consequentemente, o aumento da receita tributária.

Incentivos fiscais e distribuição de valor adicionado a terceiros: o resultado da estimação para o modelo (VADT) foi não significativo, impossibilitando a realização de inferências.

Incentivos fiscais e distribuição de valor adicionado aos acionistas: a variável (NIFF) apresentou uma relação significativa e negativa no modelo (VADA). Dessa forma, pode- se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais tendem a distribuir menor valor aos acionistas.

O resultado é contrário ao esperado. Gonçalves, et al. (2016) afirmam que sob a ótica do investidor, as empresas que possuem incentivos fiscais são as mais atrativas, ou seja, distribuem maior valor adicionado como remuneração ao capital próprio. Ressalta-se que os incentivos fiscais federais normalmente reduzem o montante dos tributos a pagar.

Além disso, é preciso considerar o acesso aos empréstimos subsidiados, bem como os

parcelamentos especiais. Assim, esperava-se que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais promovessem maior distribuição de valor adicionado aos acionistas, tendo em vista o maior acesso a recursos governamentais.

De forma adicional, procedeu-se com análise das relações entre conexões políticas (CPAE, CPDC e CPPG) e a distribuição de valor adicionado ao pessoal, governo, terceiros e acionistas.

Conexão política pelo alto escalão e distribuição de valor adicionado: a variável (CPAE) apresentou uma relação significativa e positiva no modelo (VADP). Por outro lado, a variável foi significativa e negativa no modelo (VADT). Dessa forma, pode-se inferir que empresas que estabelecem conexão política pelo alto escalão tendem a distribuir maior valor adicionado ao pessoal, no entanto, a distribuição de valor tende a ser menor a terceiros. Assim, a conexão política pelo alto escalão favorece o pessoal e prejudica a remuneração do capital de terceiros.

Conexão política por doação a campanha e distribuição de valor adicionado: o resultado para a variável (CPDC) foi não significativo em todos os modelos, impossibilitando a realização de inferências.

Conexão política por participação governamental e distribuição de valor adicionado: a variável (CPPG) foi significativa e positiva nos modelos (VADG, VADT e VADA). Por outro lado, a relação foi significativa e negativa no modelo (VADP). Dessa forma, pode-se inferir que empresas que possuem o governo como acionista tendem a distribuir maior valor ao governo, terceiros e acionistas, no entanto, a distribuição tende a ser menor ao pessoal. Assim, a conexão política por participação governamental favorece o governo, terceiros e acionistas e prejudica o pessoal.

Para estimar os modelos econométricos foram realizadas interações entre as variáveis nível de incentivos fiscais federais e conexões políticas. O objetivo foi analisar de que forma o efeito conjunto das variáveis afeta a distribuição de valor adicionado ao pessoal, governo, terceiros e acionistas. Assim, destacam-se os seguintes achados:

Interação entre as variáveis (NIFF e CPAE): a interação entre as variáveis foi significativa e positiva no modelo (VADT). Por outro lado, a interação foi significativa e negativa nos modelos (VADP e VADG). Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais e que estabelecem conexão política pelo alto escalão tendem a distribuir maior valor a terceiros, no entanto, a distribuição tende a ser menor ao pessoal e governo. Assim, o efeito conjunto dos incentivos fiscais federais e da conexão política pelo alto escalão favorece a distribuição de valor a terceiros e prejudica a distribuição de valor adicionado ao pessoal e ao governo.

Interação entre as variáveis (NIFF e CPDC): a interação entre as variáveis foi significativa e negativa nos modelos (VADP e VADT). Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais e que estabelecem conexão política por doação a campanha tendem a distribuir menor valor adicionado ao pessoal e a terceiros. Assim, o efeito o conjunto dos incentivos fiscais federais e da conexão política por doações a campanhas prejudica a distribuição de valor adicionado ao pessoal e a terceiros.

Interação entre as variáveis (NIFF e CPPG): a interação entre as variáveis foi significativa e positiva no modelo (VADP). Por outro lado, a interação foi significativa e negativa nos modelos (VADG e VADA). Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais e que estabelecem conexão política por participação governamental tendem a distribuir maior valor adicionado ao pessoal, no entanto, a distribuição tende a ser menor ao governo e acionistas. Assim, o efeito conjunto dos incentivos fiscais federais e da conexão política por participação governamental favorece a distribuição de valor adicionado a pessoal e prejudica a distribuição de valor adicionado ao governo e acionistas.

Em relação as variáveis de controle foram avaliadas os efeitos da auditoria (AUDIT), crise (CRISE), endividamento (END), nível de intangibilidade (INTG), rentabilidade (ROA), setor de utilidade pública (SETUP) e tamanho (TAM) sobre a distribuição de valor adicionado.

Auditoria (AUDIT): a variável foi significativa e positiva nos modelos (VADP e VADG). Dessa forma, pode-se inferir que empresas auditadas por big four tendem a distribuir maior valor adicionado ao pessoal e ao governo. Os achados sugerem que a presença de uma empresa de auditoria big four favorece o pessoal e o governo.

Crise (CRISE): a variável foi significativa e positiva no modelo (VADT). Por outro lado, a variável foi significativa e negativa nos modelos (VADP e VADG). Dessa forma, pode- se inferir que em momentos de crise econômica as empresas tendem a distribuir maior valor adicionado a terceiros, no entanto, a distribuição tende a ser menor ao pessoal e governo. Os achados sugerem que os períodos de crise favorecem terceiros e prejudica o pessoal e o governo.

Endividamento (END): a variável foi significativa e positiva no modelo (VADT). Por outro lado, a variável foi significativa e negativa nos modelos (VADP e VADG). Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de endividamento tendem a distribuir maior valor adicionado a terceiros, no entanto, a distribuição tende a ser menor ao pessoal e governo. Os achados sugerem que o endividamento empresarial favorece terceiros e prejudica o pessoal e o governo.

Intangível (INTG): a variável foi significativa e positiva no modelo (VADG). Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de intangível tendem a distribuir maior valor adicionado ao governo. Os achados sugerem que o nível de intangibilidade da empresa favorece o governo.

Rentabilidade (ROA): a variável foi significativa e positiva no modelo (VADA). Por outro lado, a variável foi significativa e negativa nos modelos (VADP, VADG e VADT).

Dessa forma, pode-se inferir que empresas mais rentáveis tendem a distribuir maior valor adicionado aos acionistas, no entanto, a distribuição tende a ser menor ao pessoal, governo e terceiros.Os achados sugerem que a rentabilidade da empresa favorece os acionistas e prejudica o governo e o pessoal.

Setor (SETUP): a variável foi significativa e positiva nos modelos (VADG e VADA).

Por outro lado, a variável foi significativa e negativa no modelo (VADP). Dessa forma,

pode-se inferir que empresas que atuam no setor de utilidade pública tendem a distribuir maior valor ao governo e acionistas, no entanto, a distribuição tende a ser menor ao pessoal. Os achados sugerem que o setor de utilidade pública favorece o governo e acionistas e prejudica o pessoal.

Tamanho (TAM): a variável foi significativa e positiva no modelo (VADA). Por outro lado, a variável foi significativa e negativa nos modelos (VADP, VADG e VADT). Dessa forma, pode-se inferir que empresas maiores tendem a distribuir maior valor aos acionistas, no entanto, a distribuição é menor ao pessoal, governo e terceiros. Os achados sugerem que empresas maiores favorecem os acionistas e prejudicam o pessoal, governo e terceiros.

A partir da estimação dos quatro modelos econométricos (VADP, VADG, VADT e VADA) foi possível testar quatro hipóteses de pesquisas (H6, H7, H8 e H9). Assim, os achados corroboram com a hipóteses a hipótese H7: empresas brasileiras listadas na B3 que possuem maior nível de incentivos fiscais federais distribuem maior valor adicionado ao governo. Por outro lado, os resultados não corroboram com as hipóteses H6, H8 e H9,

ou seja: H6: empresas brasileiras listadas na B3 que possuem maior nível de incentivos fiscais federais distribuem maior valor adicionado ao pessoal; H8: empresas brasileiras listadas na B3 que possuem maior nível de incentivos fiscais federais distribuem menor valor adicionado a terceiros; e H9: Empresas brasileiras listadas na B3 que possuem maior nível de incentivos fiscais federais distribuem maior valor adicionado aos acionistas.

Em síntese, os resultados obtidos atenderam ao objetivo específico (4): analisar as relações entre incentivos fiscais federais e distribuição de valor adicionado em empresas brasileiras listadas na B3. Dessa forma, pode-se inferir que existe uma relação significativa e positiva entre incentivos fiscais federais e a distribuição de valor adicionado ao governo (VADG). Por outro lado, existe uma relação significativa e negativa entre incentivos fiscais federais e distribuição de valor adicionado ao pessoal e aos acionistas (VADP e VADA). A variável valor adicionado distribuído a terceiros (VADT) foi não significativa, impossibilitando a realização de inferências.

Ao analisar a relação entre conexões políticas (CPAE, CPDC e CPPG) sobre a distribuição de valor adicionado apresentam-se os seguintes achados:

i) Pessoal: a variável (CPAE) foi significativa e positiva. Por outro lado, a variável (CPPG) foi significativa e negativa. Dessa forma, pode-se inferir que o estabelecimento de conexão política pelo alto escalão favorece a distribuição de valor ao pessoal, no entanto, o estabelecimento de conexão política por participação governamental prejudica a distribuição de valor ao pessoal.

ii) Governo: a variável (CPPG) foi significativa e positiva. Dessa forma, pode- se inferir o estabelecimento de conexão política por participação governamental favorece a distribuição de valor ao governo.

iii) Terceiros: a variável (CPPG) foi significativa e positiva. Por outro lado, a variável (CPAE) foi significativa e negativa. Dessa forma, pode-se inferir que o estabelecimento de conexão política por participação governamental favorece a distribuição de valor a terceiros, no entanto, o estabelecimento de conexão política pelo alto escalão prejudica a distribuição de valor a terceiros.

iv) Acionistas: a variável (CPPG) foi significativa e positiva. Dessa forma, pode- se inferir que a conexão política por participação governamental favorece a distribuição de valor aos acionistas.

Sob a perspectiva da distribuição de valor adicionado, a conexão política quando estabelecida pelo alto escalão (CPAE) é favorável em relação ao pessoal e terceiros. Por outro lado, a conexão política estabelecida por participação governamental (CPPG) favorece o governo e acionistas, no entanto, prejudica o pessoal e terceiros. Ressalta-se que se espera uma maior distribuição de valor adicionado ao pessoal, governo e acionistas e uma menor distribuição de valor adicionado a terceiros.

Ao analisar o efeito a interação entre o nível de incentivos fiscais federais e conexões políticas (CPAE, CPDC e CPPG) sobre a distribuição de valor adicionado apresentam-se os seguintes achados:

i) Pessoal: a interação entre as variáveis (NIFF e CPPG) foi significativa e positiva. Por outro lado, a interação entre as variáveis (NIFF e CPAE e NIFF

e CPDC) foi significativa e negativa. Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais e que estabelecem conexão política por participação governamental tendem a distribuir maior valor ao pessoal, no entanto, empresas com maior nível de incentivos fiscais federais e que estabelecem conexões políticas pelo alto escalão e doação a campanha tendem a distribuir menor valor ao pessoal.

ii) Governo: a interação entre as variáveis (NIFF e CPAE e NIFF e CPPG) foi significativa e negativa. Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais e que estabelecem conexões políticas pelo alto escalão e por participação governamental tendem a distribuir menor valor ao governo.

iii) Acionistas: a interação entre as variáveis (NIFF e CPPG) foi significativa e negativa. Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivos fiscais federais e que estabelecem conexão política por participação governamental tendem a distribuir menor valor aos acionistas.

iv) Terceiros: a interação entre as variáveis (NIFF e CPAE) foi significativa e positiva. Por outro lado, a interação entre as variáveis (NIFF e CPDC e NIFF e CPPG) foi significativa e negativa. Dessa forma, pode-se inferir que empresas com maior nível de incentivo fiscal federal e que estabelecem conexões políticas por doação a campanha e participação governamental tendem a distribuir menor valor a terceiros.

Sob a perspectiva da distribuição de valor, pode-se inferir que a interação entre o nível de incentivos fiscais federais e as conexões política é favorável em relação ao pessoal (CPPG) e terceiros (CPDC). Por outro lado, a interação entre o nível de incentivos fiscais e as conexões políticas é desfavorável em relação a distribuição de valor ao pessoal (CPAE e CPDC), governo (CPAE e CPPG), terceiros (CPAE) e acionistas (CPPG). Ressalta-se que se espera uma maior distribuição de valor adicionado ao pessoal, governo e acionistas e uma menor distribuição de valor adicionado a terceiros.