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2.6 Demonstração do Valor Adicionado (DVA)

2.6.2 Surgimento e relevância da DVA

As primeiras informações sobre o valor adicionado tiveram suas origens nos Estados Unidos da América (EUA), na década de vinte e serviu como base de cálculo para os sistemas de incentivos governamentais. Todavia, as referências no campo empresarial são

mais recentes, datam dos anos cinquenta, momento em que o valor adicionado começou a ser utilizado sob a perspectiva microeconômica, sendo adotado por algumas companhias na Inglaterra (Cosenza, 2003; Cunha et al., 2005).

A demonstração do valor adicionado (DVA) passou a ser difundida na década de 60, mediante a realização de movimentos sociais iniciados na França, Alemanha e Inglaterra.

A exigência de elaboração da DVA foi impulsionada pela urgência em introduzir o imposto sobre valor agregado nos países europeus. A partir dos anos 70, atingiu grande popularidade no Reino Unido, com a publicação do Corporate Report pelo Accounting Standards Steering Committee (Belkaoui apud Cunha, 2002; Cosenza, 2003; Cunha et al., 2005).

Em uma perspectiva abrangente, a DVA surgiu a partir do Balanço Social, com o objetivo de fornecer informações sobre a riqueza gerada pela empresa, e sua distribuição aos agentes econômicos, participantes de sua geração, quais sejam: empregados; governo;

financiadores externos; e acionistas ou sócios. Além disso, as informações extraídas da DVA possuem natureza econômica, o que permite a apuração do desempenho empresarial, e possibilita aferir o seu relacionamento com a sociedade (Santos &

Hashimoto, 2003; Cunha et al., 2005; Santos et al., 2007).

No Brasil, a obrigatoriedade da divulgação da DVA, surgiu a partir da promulgação da Lei nº 11.638 de 2007, que introduziu alterações a Lei nº 6.404 de 1976. Dessa forma, a DVA se tornou obrigatória para as companhias abertas. Em 2008, foi emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) o Pronunciamento Técnico CPC 09 – Demonstração do Valor Adicionado, que tem a finalidade de estabelecer critérios para a elaboração, e apresentação da DVA (CPC 09, 2008). De acordo Mazzioni et al. (2013) a riqueza criada pela empresa deverá ser distribuída aos participantes (stakeholders), ou seja, aqueles que contribuíram para a sua geração. Os stakeholders são considerados qualquer indivíduo ou grupo que possa afetar a consecução dos objetivos organizacionais, ou que é afetado pelo processo de busca desses objetivos, ou seja, são grupos que possuem direito legitimado sobre a organização (Freeman et al.,2010).

Historicamente, vêm ocorrendo uma discussão generalizada sobre o conceito de valor adicionado e as diversas formas de cálculo. Embora não haja unanimidade, duas vertentes predominam: o valor adicionado é considerado uma forma superior de medição e está orientado para a busca de riqueza, da produtividade e da eficiência operacional (Burchell et al., 1985; Mazzioni et al., 2013). O valor adicionado representa a riqueza criada pela entidade e pode ser medido pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros, adicionado pelos recursos recebidos em transferência, sinalizando a política adotada pela empresa frente a seus diversos grupos de interesse (CPC 09, 2008;

Luca, 2009).

A riqueza gerada (valor adicionado) pela empresa é medida a partir da utilização de conceitos contábeis (CPC 09, 2008) e pode ser calculada mediante a utilização da expressão abaixo:

𝑉𝐴 = 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 − 𝐼𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜𝑠 𝑎𝑑𝑞𝑢𝑖𝑟𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜𝑠 − 𝐷𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜

+ 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑇𝑟𝑎𝑛𝑠𝑓𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 (1)

A utilidade do valor adicionado consiste em mostrar como os benefícios do esforço de uma organização foram compartilhados entre as partes interessadas (Bao & Bao, 1998).

Portanto, é salutar conhecer a geração e a distribuição do valor em todas as organizações.

A depender da ótica analisada, o valor adicionado pode ser visto como fator decisório, prognóstico ou uma consequência no processo de mudança social (Burchell et al., 1985;

Mazzioni et al., 2013).

Gelbcke et al. (2018) explicam que a DVA é fundamentada no conceito macroeconômico, sem dupla contagem, o qual busca apresentar a parcela de contribuição que a empresa detém na formação do Produto Interno Bruto (PIB). O PIB é concebido como a soma dos valores adicionados em um determinado período, considerando todas as etapas do processo de produção do país. Contudo, existem diferenças na forma de cálculo do valor adicionado quando são considerados os modelos contábil e econômico (Gelbcke et al., 2018).

O modelo contábil adota o conceito de realização com base no regime de competência, de forma que o valor adicionado é reconhecido conforme transcorrem as vendas. Por

outro lado, considerando o aspecto econômico, o valor adicionado deverá ser reconhecido conforme transcorre a produção (Santos & Hashimoto, 2003). Ressalta-se que existe uma diferença temporal entre o conceito contábil (realização) e o conceito econômico (produção). A utilização do critério para apuração do valor adicionado pode ser superior ao econômico, visto que se materializa a partir de práticas contábeis consistentes com a utilização de valores reais (Santos et al., 2007; Gelbcke et al., 2018).

Kroetz (2000) acrescenta que na perspectiva econômica, a DVA permite captar a contribuição da entidade para cada segmento com o qual se relaciona, constituindo-se no PIB produzido pela organização. Dessa forma, a DVA pode ser um instrumento para subsidiar a árdua tarefa de estimar o PIB do país (Santos & Hashimoto, 2003).

Além da relevância macroeconômica, a DVA pode ser utilizada para decisões sobre os seguintes aspectos: i) análises de investimentos e financiamentos; ii) incentivos fiscais; e iii) avaliação de projetos para instalação de empresas multinacionais (Luca, 2009;

Cosenza, 2003; Cunha et al., 2005). Para Santos et al. (2007), ao fornecer dados sobre o auxílio empresarial na geração de riqueza, em uma determinada região, a DVA pode contribuir para a elaboração de estudos acerca da viabilidade econômica na instalação de empresas, além de auxiliar decisões sobre financiamentos governamentais.

Para Haller e Stolowy (1998), as informações sobre o valor adicionado não são apenas econômicas, mas também sociais. É possível identificar a parte produtiva que se destina a cada participante do processo empresarial. Desse modo, o valor adicionado é uma medida muito mais ampla do que o lucro líquido, pois não está focado e nem é tendencioso sob o ponto de vista do provedor de capital (stockholders), mas revela o resultado da entidade (Mazzioni et al., 2013). Ademais, a DVA é um importante instrumento de análise que demonstra a interação entre a empresa e o entorno no qual está inserida, dada sua condição de agente econômico e social (Kroetz & Neumann, 2008;

Mazzioni et al., 2013).

Em síntese as informações disponibilizadas pela DVA são importantes para: i) analisar a capacidade de geração de valor e a forma de distribuição da riqueza de cada empresa; ii) permitir a análise do desempenho econômico da empresa; iii) auxiliar no cálculo do PIB

e de indicadores sociais; iv) fornece informações sobre os benefícios (remunerações) obtidos pelos fatores de produção (trabalhadores, financiadores, acionistas ou credores) e governo; v) auxiliar a empresa a informar sua contribuição na formação da riqueza de uma região, estado ou país, em que se encontra instalada (Gelbcke, et al., 2018).