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DESVALORIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE: ADOECIMENTO DA EDUCAÇÂO

Daniela Corina21 Luis Carlos Gonçalves22

RESUMO

Este artigo tem como objetivo alertar o professor sobre uma doença que está atingindo a muitos. Uma doença que chega de “mansinho” e, sem ao menos perceber, tem levado o docente à beira da loucura, tirando o prazer de viver, de sorrir, de amar, tirando o gosto da vida. E com isso se vai o prazer de lecionar e entra a dura angústia de entrar em sala de aula.

Doença que tem cura, mas é taxada como “frescura”, incompetência e até mesmo falta de responsabilidade. Este trabalho tem como alvo mostrar que ela existe, e que é possível falar em sala para a criança saber o que está acontecendo com seu professor para não ficar o mito de que ele é um “super-heroi” inatingível. Os professores estão sujeitos a ficarem doentes, e devemos respeitá-los e apoiá-los nessa dura fase para que seu retorno seja breve e satisfatório para benefício de todas as partes, que são os alunos, a escola e o próprio professor. Este trabalho se utilizou de um levantamento bibliográfico e documental, bem como foi aplicado questionários, junto a uma docente vítima de depressão por consequência de seu trabalho e junto a um psicólogo que atende professores nessas condições.

Palavras-chave: Trabalho Docente; Valorização; Saúde ;Valorização .

ABSTRACT

This article aims to alert the teacher about a disease that is hitting many. A disease that comes from "quietly" and without even realizing it, has led the teacher to the brink of madness, taking the pleasure of living, smiling, loving, taking the taste of life. And with that goes the pleasure to teach and enter the hard anguish to get into the classroom. A disease that has cure, but it is rated as "fresh", incompetence and even lack of accountability. This work is aimed to show that it exists, and it is possible to speak of room for the child to know what is going on with your teacher not to be the myth that he is a "super-hero" unattainable.

Teachers are subject to get sick, and we should respect them and support them in this phase lasts for his return will be brief and satisfying for the benefit of all parties, who are the students, the school and the teacher himself. This work was used a bibliographical and documentary survey and questionnaire was applied, by a teacher victim of depression as a result of his work and next to a psychologist who meets teachers in these conditions.

Keywords: Decent Work; Teaching Work; Valuation.

21Graduanda em Pedagogia das Faculdades Network – Av. Ampélio Gazzetta, 2445, 13460-000, Nova Odessa, SP, Brasil. (e-mail: corina6631@hotmail.com).

22 Professor Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia das Faculdades Network – Av.

Ampélio Gazzetta, 2445, 13460-000, Nova Odessa, SP, Brasil. (e-mail: lu1313@bol.com.br).

1 Introdução

Segundo Guinote (2008): “Sabe-se quando começa uma depressão, mas nunca se sabe quando ela acaba!”. A depressão de docentes é um fato cada vez mais corriqueiro.

Encontramos nos noticiários vários relatos de afastamentos devido a essa doença que, além de prejudicar o próprio professor, torna-se também uma causa de dificuldades para o adequado rendimento escolar dos alunos.

Ao longo do tempo, vimos mudanças constantes no meio da educação. E nesse processo, o quanto o professor tem que batalhar para ocupar um espaço ainda pouco valorizado. Principalmente no que se refere às melhores condições de trabalho, como o respeito por seus alunos, pais e pela sociedade.

Desde época, da colonização do Brasil e a época dos jesuítas onde que a educação tinha um único propósito e não era simplesmente ensinar ou ajudar O propósito era ensinar para explorar, de lá em diante a educação foi progredindo, ela foi voltada para a classe mais favorecida apenas para os ricos, mas as condições não eram as melhores. Depois ela se estendeu para as classes menos favorecidas para os pobres, negros e indígenas.

Com isso o trabalho dos docentes só foi piorando. Com horas de trabalho exaustivo, com crianças “rebeldes”, famílias desestruturadas.

2 Revisão Bibliográfica

Há um conceito acerca do Trabalho Decente, a partir dos estudos e debates promovidos pela Organização Internacional do Trabalho – OIT (201?), que convergem para a concretização dos seguintes objetivos:

 A liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva;

 A eliminação de todas as formas de trabalho forçado;

 A abolição efetiva do trabalho infantil;

 A eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação;

 A promoção do emprego produtivo e de qualidade;

 A extensão da proteção social;

 O fortalecimento do diálogo social.

A partir destes estudos, o Brasil lança chamada a Agenda Nacional de Trabalho Decente – ANTD, definindo três prioridades:

 A geração de mais e melhores empregos, com igualdade de oportunidades e de tratamento;

 A erradicação do trabalho escravo e eliminação do trabalho infantil, em especial em suas piores formas;

 O fortalecimento dos atores tripartites (governo, empresários e trabalhadores) e do diálogo social como um instrumento de governabilidade democrática.

Fazendo uma relação entre os objetivos da OIT e as prioridades da ANTD, pode-se aferir que a promoção de empregos produtivos e de qualidade com igualdades de oportunidades e tratamento são uma necessidade de fundo ético para o trabalho docente.

Acerca disso, Rios (2001) afirma que a ética e a competência estão diretamente correlacionadas, contribuindo com o contexto em que vivemos frente a um mundo globalizado, inerente à educação, à sociedade e ao trabalho. E que, para tanto, o “fazer bem”

seu trabalho docente, necessita desta aliança entre a técnica, no sentido do domínio dos conteúdos e métodos, e a política, no sentido do conhecimento das condições estruturais e sua necessária transformação.

Ao pretender lançar um olhar claro, fundo e largo sobre a educação, a reflexão deve partir da situação, do contexto social que envolve essa educação. É esse contexto que a caracteriza, que lhe confere especificidade. Falar da educação brasileira, por exemplo, significa ir à sociedade brasileira para verificar as determinações que esta, organizada de um modo específico, nos moldes do sistema capitalista, confere ao processo educativo. Importa, então, procurar estabelecer as relações entre educação, cultura e sociedade, centrando a atenção na perspectiva política da prática educativa e procurando apontar, ainda que brevemente, algumas características de que se reveste a escola em nossa sociedade (RIOS, 2001, p. 29).

Acredita-se na educação como um instrumento poderoso de transformação social que deve ter como um de seus objetivos o desenvolvimento de seres humanos aptos a contextualizações de vida com a sociedade, o que se pode planejar e ter alcance vitorioso através da educação, enquanto seres humanos que estão inseridos num meio e que desempenha papéis como educador, educando e como cidadão.

A partir desta perspectiva, Giroux (1997) apresenta uma teoria crítica educacional como instrumento de renovação pedagógica, bem como instrumento de uma revolução educacional necessária para ele no mundo, abordando questões de importância teórica, política e pedagógica, que se refletem no papel da educação escolar.

Para Giroux (1997), os professores precisam encontrar uma relação entre o que deseja ensinar com a realidade encontrada na sala de aula, para assumir um compromisso de luta por melhores condições para seu exercício profissional, envolvendo um reconhecimento da política cultural que as práticas pedagógicas e o próprio funcionamento da escola dão base.

Para tanto, busca em Paulo Freire sua fundamentação teórica, trabalhando o conceito de intelectual, e, a partir disso, argumentando que todos somos intelectuais, independentemente da posição social, na medida em que aprendemos a construir um projeto social para nós e contribuímos para a construção desse projeto para os outros, lutando em prol das condições necessárias e exercendo uma função essencialmente política e significativamente pedagógica.

Este movimento de relação entre a teoria e a realidade para o engajamento na melhoria das condições, é visto por Giroux (1997) também como uma forma do professor ser um intelectual transformador, repensando e reformando as tradições e condições que têm impedido que os professores assumam todo o seu potencial como estudiosos e profissionais ativos e reflexivos.

Ao encarar os professores como intelectuais, podemos elucidar a importante ideia de que toda atividade humana envolve alguma forma de pensamento. Nenhuma atividade, independente do quão rotinizada possa se tornar, pode ser abstraída do funcionamento da mente em algum nível. Esse ponto é crucial, pois ao argumentarmos que o uso da mente é uma parte geral de toda atividade humana, nós dignificamos a capacidade humana de integrar o pensamento e a prática, e assim destacamos a essência do que significa encarar os professores como profissionais reflexivos. Dentro desse discurso, os professores podem ser vistos não simplesmente como operadores profissionalmente preparados para efetivamente atingirem quaisquer metas a eles apresentadas. Em vez disso, eles deveriam ser vistos como homens e mulheres livres, com uma dedicação especial aos valores do intelecto e ao fomento da capacidade crítica dos jovens (GIROUX, 1997, p. 161).

Ainda sobre as condições necessárias para um trabalho decente, Gaulejac (2007) fala que as condições de trabalho interferem e muito no indivíduo, tanto do ponto de vista profissional, como do ponto de vista pessoal. Um ambiente desestruturado com tensões extremas pode levar a pessoa a um colapso nervoso onde o seu trabalho passa a não render, a não desenvolver, passa a não ter mais sentido. Trabalha-se com uma ideia de indivíduo que é capaz a todo instante de alcançar cada vez mais metas. É uma busca infinita de qualidade que aparece como progresso individual e não como uma pressão, que de fato é, do próprio sistema educacional, da sociedade e do mundo do trabalho.

Neto (2016), em sua matéria jornalística, apresenta relatos bem claros de como essa pressão por um trabalho de qualidade num ambiente estrutural deficitário vem atrapalhando de uma forma grotesca o desenvolvimento do trabalho docente. Esse artigo traz um depoimento de uma professora de língua portuguesa, Elizabeth da Silveira, que sofreu com depressão em 2012, quando tirou cinco meses de licença. Segundo ela, o colégio não tinha inspetores nem funcionários suficientes para conter a indisciplina dos alunos.

Era uma escola muito complicada: turmas muito cheias, faltava água sempre, e eu não podia liberar alunos mais cedo. Trabalhávamos em condições precárias.

Comecei a me deprimir e não queria mais trabalhar. Era impossível dar aula. Já estava afetando bastante o conteúdo. Tinha medo de chegar ao portão da escola.

Faltei uma semana direto. Vendo que estava em depressão, procurei um psiquiatra (por conta) própria e entrei de licença. O governo não me ajudou em nada (SILVEIRA citada por NETO, 2016).

Uma pesquisa do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – APEOESP – e publicada pelo Portal G1 São Carlos e Araraquara (2012), revela que, de 40% dos professores afastados por problemas de saúde, quatro tiveram algum tipo de transtorno psiquiátrico. Os diagnósticos mais comuns foram ansiedade e depressão. O problema é agravado, segundo os docentes, pelo excesso de trabalho e pela falta de respeito na sala de aula. Este estudo ainda demonstrou que 59% dos educadores com depressão não têm um acompanhamento médico regular e adequado. “Passar as tarefas, tirar dúvidas e ainda pôr ordem na sala. O desafio é diário e a saúde pode não resistir. Mas de acordo com o estudo, os problemas nas cordas vocais e as dores musculares deram espaço ao desânimo, aos pensamentos perturbadores e às mãos trêmulas” (G1 SÃO CARLOS E ARARAQUARA, 2012)

Apresentando mais um relato,

A vida da professora Elaine Cristina Molina Gil mudou há três anos, depois que ela entrou em depressão. São oito remédios por dia, alguns com tarja preta. Elaine deu aula em escolas públicas por 22 anos, mas não resistiu à pressão. Ela já tirou 12 licenças médicas e há quase um ano está afastada do trabalho. Elaine lembra que era difícil a relação com os alunos. “O pouco interesse, a bagunça, a conversa, o desrespeito. E quando você chama o pai ele diz que não pode fazer nada. Eu comecei a sentir uma angústia e me perguntei o que estou fazendo aqui?” (G1 SÃO CARLOS E ARARAQUARA, 2012).

É de se supor que a pressão pela qualidade de trabalho, as condições para sua realização e a crescente jornada, são fatores causadores do prejuízo à saúde dos docentes e obstáculos à implementação de um trabalho decente na educação.

“A maioria dos professores tem dupla ou tripla jornada de trabalho, muitas vezes ultrapassando 11 horas de trabalho com aluno e isso certamente não é recomendável”, afirmou Ariovaldo de Camargo (diretor da Apeoesp em Araraquara- SP). Ele diz que as condições de trabalho também prejudicam a saúde do docente.

“A pressão que o professor sofre no dia a dia dentro da sala de aula é muito grande.

As nossas escolas mais parecem verdadeiros presídios, porque estão todas cheias de grades e telas, e esse evidentemente não é um ambiente adequado para que se possa desenvolver um processo de ensino-aprendizagem”, analisou Camargo (G1 SÃO CARLOS E ARARAQUARA, 2012).

Dados do Censo Escolar (2010) mostram que em alguns Estados da Federação há um percentual importante de escolas que apresentam condições de infraestrutura muito ruins. Tais estudos apontam exemplos dessas péssimas condições, tais como: a inexistência de energia elétrica, rede de esgoto e abastecimento de água em escolas localizadas em zonas rurais; a falta de biblioteca e internet em escolas em áreas urbanas.

Ainda que existam problemas estruturais que extrapolem a própria escola, criando obstáculos para melhores condições, necessitando, pois, de investimentos consideráveis de forma inter-setorial, não se pode tratar como impeditivo para a obtenção de um aprendizado por parte dos alunos. Uma alta qualificação dos professores torna-se ainda mais essencial nessas escolas, uma vez que, tais alunos possuem menos estímulos educacionais em casa para a escolarização, além do que e por isso mesmo, os professores não conseguirem cumprir boa parte do conteúdo previsto.

Embora por meio do Fundeb já exista um auxílio a alguns estados que apresentem um investimento por aluno muito baixo, são necessárias iniciativas mais focadas em buscar garantir com que todos os alunos, independentemente de onde morem, tenham condições similares de obter um aprendizado adequado. Esse problema não ocorre apenas entre regiões, pois em um mesmo município situações de inequidade também aparecem de forma gritante (FARIA, 2012).

Acerca do Fundeb, denominado de Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação sua criação se deu através da Emenda Constitucional nº 53/2006 e foi regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e pelo Decreto nº 6.253/2007.

É um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual (um fundo por estado e Distrito Federal, num total de vinte e sete fundos), formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e transferências dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, vinculados à educação por força do disposto no Art. 212 da Constituição Federal. Além desses recursos, ainda compõe o Fundeb, a

título de complementação, uma parcela de recursos federais, sempre que, no âmbito de cada estado, seu valor por aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente.

Independentemente da origem, todo o recurso gerado é redistribuído para aplicação exclusiva na educação básica (BRASIL, 201?).

Contudo, é de se supor que é preciso mais do que recursos. É preciso da melhor aplicação dos recursos. Sendo importante o estudo de políticas públicas em outros países, por exemplo, que transformaram a educação pública para melhores condições.

Países como o Chile (incentivos financeiros para professores que atuam em difíceis condições de trabalho), a Irlanda (relação aluno-professor reduzida nas escolas primárias localizadas em áreas urbanas com mais desvantagem e bônus com base no nível de desvantagem da escola) e a Bélgica (apoio a escolas de alunos de classe socioeconômica mais baixa) se mostram mais atentos à questão da equidade. Não é nenhum equívoco dizer que já passou da hora de o Brasil estudar as políticas desses países para construir suas próprias políticas que promovam a equidade (FARIA, 2012).

Ainda sobre a valorização do trabalho docente, Cieglinski e Harnik (2013), apontam para a complexidade quando se pensa em país, falando sobre a discrepância do que se é pago de salário aos professores, fator apontado há décadas como um dos fundamentos para a melhoria da qualidade da educação. É evidente que, os professores assumem muitas salas, turmas, aulas, além do que é possível atuar para se manter financeiramente, afetando seu trabalho e sua própria condição de saúde física, mental e emocional.

Mozart Neves Ramos, do conselho da organização não governamental Todos pela Educação, citado por Cieglinski e Harnik (2013) afirma que “formação, remuneração, melhoria das condições de trabalho e carreira são os quatro pilares que poderiam mudar essa situação”, quando se trata de valorização docente. Tornando a profissão mais atraente às pessoas e, com isso, trazendo uma maior quantidade de estudantes aos cursos de Pedagogia e Licenciaturas pelo interesse na atuação do trabalho docente.

Idoeta (2013) cita as palavras de Paula Louzano, pesquisadora da Faculdade de Educação da USP e doutora em educação em Harvard a respeito disso:

Há o problema da atratividade da carreira e da formação dos professores – e ambos estão interligados. Ao contrário de países (com ensino considerado de alta qualidade) como Cingapura, Finlândia e Canadá, no Brasil o trabalho é visto como algo que qualquer um pode fazer. A maioria não escolhe ser professor, é escolhido (por falta de outras oportunidades). A mudança dessa mentalidade é fundamental [...] A docência é uma das profissões mais complexas de se fazer bem-feito, de ensinar 40 alunos de uma mesma sala com demandas e históricos diferentes.

Além disso, Beatriz Lugão, diretora do Sindicato Estadual dos Professores do Rio, citada também por Idoeta (2013), coloca entre outras queixas afora a remuneração: "a falta de autonomia pedagógica, turmas superlotadas, sucateamento de escolas e filtro ideológico na indicação política do corpo de diretores". Silva e Mafra (2014) apontam que o trabalho do professor é um trabalho que provoca tanto prazer, quanto sofrimento, concomitantemente, uma vez exigir várias e distintas frentes de atuação.

Como exemplo dessa situação, tem-se que, ao mesmo tempo em que o trabalho docente traz o prazer pelo conhecimento que se aprende, pelas relações sociais que se criam, por outro lado, no que se refere às condições de seu exercício, encontra-se a seguinte situação:

Na sala de aula, o professor tenta vencer o barulho dos alunos e a indisciplina enquanto explica o conteúdo de sua matéria. Em seu corpo, cordas vocais estressadas pela vibração em alta frequência por horas. Ouvidos submetidos constantemente a sons acima do limite adequado para o trabalho. Tendões sobrecarregados e músculos cansados por estar em pé horas a fio, todos os dias, ao longo dos anos. Acrescente a esse quadro a administração constante de conflitos. Por fim, o retorno muitas vezes é parco, os salários são baixos e, mais, a sociedade observa atenta seu trabalho, reiterando que dele depende o futuro do país [...] As doenças funcionais dos professores explicam, pelo menos em parte, o elevado absenteísmo de algumas redes. Recentemente, por exemplo, a imprensa noticiou que cada professor da rede estadual de São Paulo falta, em média, 21 aulas por ano utilizando licenças de saúde. São quase mil aulas que deixam de ser dadas por dia (CAMARGO, 2015).

Calixto (2012) descreve que um dos maiores motivos que levam os professores ao absenteísmo é a depressão, já que tais condições de trabalho irão ser potencializadoras desse processo no âmbito escolar. Segundo informa sobre a pesquisa "A Saúde do Professor da Rede Estadual de Ensino", realizada pela Apeoesp em 2010, mais da metade dos afastamentos, cerca de 57%, são por causa da depressão. Que como já visto, traz enormes prejuízos aos docentes e aos discentes.

Guinote (2008) aborda a depressão, que é vista pela sociedade como uma “preguicite aguda”, não se dando a importância devida a quem está com essa doença, revelando que os sintomas apresentados são:

falta de força para acompanhar ritmos normais de trabalho, denota perdas de memória, qualquer assunto de simples resolução é uma enorme complicação, demonstra enormes níveis de insegurança pessoal sofrendo ainda de crises terríveis de ansiedade [...] Mas o pior, é que, quando mal curada e mal acompanhada, a depressão pode diminuir em muito as capacidades intelectuais de uma pessoa. Para quem no quotidiano lida com várias pessoas, como é o caso dos professores, é necessária uma grande higiene mental para que a depressão não tome conta das nossas vidas.

Vale ressaltar que, segundo Souza (2002), uma das principais causas para ocorrência de depressão docente no âmbito escolar é a ausência de “sentido instalada no coração do projeto escolar [...]se a escola não tem sentido para os alunos, inevitavelmente também não fará sentido para os professores”. Onde, chama-se a atenção sobre “a hegemonia crescente dos métodos ativos [...] que fez equivaler algumas vezes aprender com manter crianças ocupadas”

(SOUZA, 2002).

Pois, se o único fundamento da escola pública, é o de que é melhor que crianças e jovens estejam na escola e não nas ruas, os professores se transformam não em animadores, mas em guardas. Guardas sorridentes, compassivos e desarmados, mas guardas. Não importa se construtivistas ou tradicionais: se os professores não ensinam e nada exigem dos alunos, curvando-se às suas demandas superficiais, são guardas (SOUZA, 2002).

Deixa-se de ser docente. Perde-se o fim último da educação. Fica-se doente. E adoece- se a própria educação.

3 Metodologia