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O ENSINO CONSTRUTIVISTA SOB A PERSPECTIVA DO ALUNO

Valéria Lopes da Silva Zancchini15 Maria A. Belintane Fermiano16 RESUMO

O presente estudo tem como objetivo descrever a opinião da criança sobre as aulas da professora mais querida e identificar possíveis características de um método de aprendizagem significativo. Dessa forma, pretende-se colaborar para a reflexão de educadores sobre a importância de práticas pedagógicas ativas que provoquem o desenvolvimento e a autonomia dos alunos. A fundamentação teórica priorizou uma análise das tendências pedagógicas na educação brasileira e refletiu sobre características ainda presentes em práticas pedagógicas que não favorecem o desenvolvimento integral do aluno. Acredita-se que, quando os docentes trabalham a partir de ideias espontâneas das crianças, veem nos conflitos oportunidades de aprendizagem, valorizam o trabalho em grupo, realizam investigações, sendo possível aos alunos desenvolverem a criatividade, a criticidade, a capacidade de resolver problemas, além de favorecer para a formação de atitudes e valores. A presente pesquisa bibliográfica fundamenta-se principalmente nos trabalhos de Saviani (2003), Piaget (1999), Delval (2002).

Palavras chaves: Aprendizagem, Ensino Fundamental, Práticas Pedagógicas, Didática, Metodologias, Construtivismo.

ABSTRACT

The present study aims to describe the child's opinion about the sweetest teacher classes and identify possible characteristics of a significant learning method. In this way, we intend to collaborate to the reflection of educators about the importance of active pedagogical practices, which cause the development, and autonomy of the students. The theoretical foundation prioritized a pedagogical trends analysis in Brazilian education and reflected on features still present in pedagogical practices that do not favor the development of the student. It is believed that when teachers work from spontaneous ideas of children, see conflict learning opportunities, enhance group work, conduct investigations, and students develop creativity, criticality, the ability to solve problems, as well as encourage the formation of attitudes and values. This bibliographical research is based mainly in the works of Saviani (2003), Piaget (1999), and Delval (2002).

Key words: learning, elementary school, pedagogical practices, Didactics, methodologies, constructivism.

15 Aluna do 4º Ano de Pedagogia- Faculdades Network- Av. Ampélio Gazeta, 2445, CEP 13460-000, Nova Odessa, SP, Brasil. (e-mail: valerialopessilva@hotmail.com)

16 Prof.ª Drª Maria A. Belintane Fermiano das Faculdades NetWork. (maria.belintane@gmail.com)

1 Introdução

Enquanto estagiária de uma escola estadual, pude participar da rotina de uma sala de aula cuja prática da professora foi a inspiração para esse artigo. Sua postura enquanto professora não foi o único ponto que chamou a atenção, o ambiente físico, além de aconchegante, era motivador para alunos e visitantes. O espaço era subdividido em três partes:

uma parede para exposição dos trabalhos realizados pelos alunos, outra para exposição dos projetos e outra apresentando o cronograma bimestral com os conteúdos a serem desenvolvidos, datas de provas e painel de regras. As carteiras sempre eram agrupadas, em outros casos, alinhadas em duplas.

Em relação à professora, ela trabalhava seguindo uma linha pedagógica criativa, inovadora e, a meu ver, construtivista; apresentava uma linguagem acessível ao contexto da aula, sempre oferecendo aos alunos a oportunidade de interagir, opinar e até decidir temas de pesquisas, dar sugestões, ideias, nos casos de divergência, a professora sempre optava pela votação. Ela encorajava os alunos a terem responsabilidade em cuidar da própria classe. Semanalmente, um grupo de alunos era responsável em higienizar as carteiras, já ao monitoramento do lixo como papeis, lascas de lápis, era uma responsabilidade de todos.

Trabalhava sempre com dinâmicas e jogos para compreensão dos conteúdos, principalmente os mais complexos. Em relação à rotina da sala, pode-se dizer que a docente sempre apresentava atividades diferenciadas a cada aula, buscando atrativo para os educandos. As atividades em grupo incluíam dinâmicas integradoras e a socialização dos conteúdos ocorria de uma forma participativa, fazendo com que os alunos partilhassem suas ideias com os demais.

Ao abordar os conteúdos, a docente desenvolvia técnicas que instigava os alunos a pensarem, despertando o seu interesse. Recursos audiovisuais eram utilizados com frequência, bem como, pesquisas via internet, revistas, recortes de jornais, promovendo assim, um campo de desafios que induzia o aluno a aprender prazerosamente.

Sempre considerava as propostas e opiniões dos alunos, podendo mudar a rotina planejada. Convidar as crianças para tomar decisões e fazer algumas regras era frequente. Por esse motivo, o painel de regras da classe foi construído coletivamente, podendo ser acrescido de itens dependendo da situação e da necessidade, considerando sempre as ideias e o ponto de vista dos alunos.

Antes de realizar qualquer tipo de atividade em grupo ou individual, a professora sempre retomava as regras da classe, para evitar problemas. Em casos de conflitos ou desentendimentos, ela convidava-os para a roda da conversa e discutia o assunto, propondo que os demais colegas colaborassem com ideias ou opiniões para a resolução e sugeria que tentassem descobrir formas de satisfazer a todos. Nos momentos de discussões, a docente sempre considerava as opiniões da classe. Dificilmente a direção ou a coordenação interferia nos conflitos.

A partir das observações realizadas nessa classe, comecei a buscar em outras classes e escolas, o mesmo tipo de conduta profissional nos professores. Infelizmente não consegui encontrar. Em algumas práticas, a preocupação do professor era apenas o conteúdo e não a aprendizagem dos alunos, não demonstravam reflexão de uma prática pedagógica. Em outras haviam características muito agressivas e mesmo ofensivas em relação ao tratamento do aluno. A relação professor-aluno era composta por uma hierarquia e, como consequência, os alunos assumiam uma postura submissa e apática.

Dessa forma, minha preocupação com essa escassez de professores tal como o descrito, motivou minha pesquisa. Mas, percebi que a resposta, não é tão simples assim.

Para dar sentido à investigação o referencial teórico estudado foi Saviani (2003), Piaget (1999), Delval (2002), Freire (2003), entre outros. A opção por esses autores auxilia a esclarecer duas coisas. A primeira, diz respeito às características do ensino tradicional e o fato desse tipo de ensino não proporcionar o desenvolvimento integral do aluno. A segunda, é o que pode ser considerado ensino construtivista, ou seja, uma educação que compreende a construção do conhecimento pelo aluno, possibilitando ao educador estabelecer relações entre o desenvolvimento intelectual da criança e a aprendizagem como um processo ativo. Nessa perspectiva, acredita-se que um ensino baseado na concepção construtivista pode interferir na capacidade de aprender, contribuindo para a formação e o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social dos alunos de forma autônoma.

(...) conhecendo os mecanismos de aprendizagem que as crianças desenvolvem desde o nascimento, hoje sabemos que elas vão construindo seu modo de agir, pensar, sentir, sua visão de mundo e seu conhecimento, através da interação com outras pessoas, adultos e colegas. Isso quer dizer que a aprendizagem raramente pode ocorrer num ambiente em que somente o professor fale, enquanto o aluno escuta passivamente. (DELVAL, 2002, p. 12)

Dessa forma, essa pesquisa buscou desenvolver um olhar crítico sobre o ensino nos anos iniciais do fundamental, questionando a eficácia da prática de ensino tradicional como metodologia que não garante ao aluno a construção de sua cidadania. Mas, a pesquisa não está centrada na comparação de notas, ou mesmo atribuindo juízo de valor para o tipo de aula que o professor desenvolve. Pelo contrário, o foco foi investigar a memória dos alunos a respeito de sua professa mais querida e o que ela fazia de “diferente”.

Sendo assim, o pressuposto dessa pesquisa é o de que, para um melhor desenvolvimento, aprendizado e autonomia dos alunos é importante a utilização de práticas construtivistas, ativas, isto é, utilizar metodologias e estratégias que estabeleçam condições para que a criança reflita, desenvolva a autonomia moral e intelectual e seja protagonista de seu aprendizado.

O docente que se utiliza de práticas construtivistas, organiza seu tempo pedagógico com trabalho em grupo e investigações em sala de aula. As ideias espontâneas das crianças são consideradas, os problemas e conflitos em sala de aula são resolvidos com os envolvidos.

O ambiente é organizado pela ação do professor para o desenvolvimento e autonomia dos alunos, de forma a responder e alimentar a curiosidade das crianças, promovendo a reflexão, além de desenvolver capacidade de pensar, criar, criticar, resolver e solucionar problemas e formar atitudes e valores.

2 Pesquisa e Métodos

Os autores Saviani (2003), Piaget (1999), Delval (2002), Freire (2003), Queiroz e Moita (1994) se posicionam de forma que as práticas pedagógicas que priorizam a atividade dos alunos, provocam seu desenvolvimento e a autonomia, tornando a aprendizagem significativa e cidadã.

Sendo assim, essa pesquisa, visa compreender se, práticas pedagógicas construtivistas que busquem a participação ativa do aluno em seu processo de aprendizagem, são lembradas pelos alunos como significativas, estabelecendo relação professor-prática. O estudo apresenta, o ponto de vista da criança sobre o que pode ser um ensino significativo, considerando a sua opinião sobre a sua professora mais querida e quais era as suas características.

A partir da opinião dos alunos sobre as aulas da professora mais querida é possível identificar um método de aprendizagem significativo?

Acredita-se que um método de aprendizagem significativo, é aquele que valoriza o aluno, suas vivencias, suas opiniões, aquele que estimula e motiva os alunos a partir de seus próprios interesses. Mas para isso, é preciso refletir sobre o que é um bom aluno? É o mero reprodutor?

Em poucas palavras, pode-se dizer que um bom aluno, segundo as palavras de Severino (2008), não é aquele que fica quieto, não abre a boca durante as aulas. Ser bom aluno, implica várias características, como por exemplo, aquele que tem interesse em aprender, gosta de conversar, de se divertir, que participa apresentando suas opiniões e ideias.

Para o autor, ser quieto não é sinônimo de ser bom aluno.

Metodologias construtivistas e ativas que se utilizam de interatividade, sociabilidade, trocas entre os alunos, contribuem significativamente para a formação e desenvolvimento dos alunos em sala de aula. Por sua vez, alunos que vivenciam esse procedimento educativo, valorizam-no.

Ouvir os alunos sobre sua professora querida e o que ela tinha de tão especial, traz uma oportunidade de refletir sobre práticas pedagógicas significativas e perceber que quando o aluno se sente parte do processo de aprendizagem, está se torna significativa. Isso contribui

para fortalecer o compromisso do professor a encontrar caminhos para uma educação que favoreça o desenvolvimento da criança, capaz de promover a criticidade, a criatividade e a autonomia. O objetivo principal é apresentar o ponto de vista da criança em relação a um ensino significativo a partir de suas memórias sobre sua professora mais querida, e a partir daí colaborar para a reflexão de educadores sobre a importância de práticas pedagógicas que provoquem o desenvolvimento e a autonomia dos alunos.

A pesquisa é caracterizada como pesquisa de campo exploratória, qualitativa e descritiva. Os dados foram coletados em duas escolas públicas. Sendo a escola A da rede estadual da cidade de Sumaré e a escola B da rede municipal da cidade de Nova Odessa, ambas do Ensino Fundamental.

A investigação foi intencional, uma vez que foi solicitado aos professores das respectivas escolas, que indicassem um colega que apresentasse perfil de práticas pedagógicas construtivista ou ativas.

Foram entrevistados 20 (vinte) alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, sendo 15 (quinze) alunos pertencentes da escola A, e 5 (cinco) alunos da escola B.

O questionário foi composto por 11 questões, sendo 4 perguntas orais, 2 de múltipla escolha, e 5 descritivas. Os alunos foram entrevistados pessoalmente e individualmente.

É importante ressaltar que os 15 alunos entrevistados da escola A, foram alunos de uma professora considerada construtivista e que ali trabalhou em 2013. Ela foi indicada como referência pela escola e pelos colegas. Desses quinze alunos entrevistados, 80 % se lembraram desta professora.

Os 5 alunos entrevistados na escola B, foram indicados pela professora da sala como respectivos “bons alunos”; ambos, declaram ter tido uma professora “semelhante” a descrita pelos demais alunos, sendo as respostas respectivamente semelhantes.

As questões abrangeram temas que remetem ao ponto de vista do aluno em relação ao que é uma boa aula, um bom ensino, um bom professor, e outras remetem às situações marcantes em sala de aula presenciadas pelos alunos, como as ações do professor ao lidar com os conflitos em sala de aula, a relação professor-aluno, as oportunidades e diferentes possibilidades pedagógicas.

3 A trajetória dos métodos de ensino e aprendizagem

O ensino tradicional não está embasado em uma teoria empiricamente válida, no entanto, ele é uma prática educativa, cuja transmissão ocorre até os dias de hoje. A característica desse ensino é uma rigidez formal, centrada no professor, com um aluno que

deve reproduzir o que foi didaticamente organizado e ensinado. Há o incentivo de ações individualistas, evitando as trocas entre os pares e a liberdade de criação.

A crítica ao ensino tradicional não é nova, ela remonta ao século XVIII, quando Jean Jacques Rousseau (1995), explicava que a criança não podia ser mais entendida como um adulto em miniatura, porque se tratava de um ser com características próprias, com ideias, interesses diferentes das do adulto. Por isso mesmo, ela necessitava de um tratamento adequado à sua faixa etária. Mais de 200 anos depois, as ideias de Rousseau a respeito da educação e da criança ainda encontram resistência na prática pedagógica da educação no Brasil.

Como afirma Delval (2002), em relação à educação, embora tenha ocorrido algumas modificações, ainda hoje, como podemos perceber, o ensino está pautado num sistema tradicionalista. Daí, surge a razão de se fazer uma crítica em relação a esse sistema tradicional que tem demonstrado pouca eficácia no aprendizado do aluno. Segundo Dewey (1979), um ensino centrado no professor, onde ocorre a transmissão de ideias prontas e “preparadas”, e que o aluno reproduz exatamente o que lhe foi ensinado, certamente não trará resultados positivos, perdendo-se assim, o seu sentido e seu valor.

Freire (2003) denomina esse tipo de ensino, como educação bancária, porque o professor “deposita” no aluno todo o conteúdo e espera que ele assim o assimile, pois

“inteligente” é aquele que armazena a maior quantidade de conteúdo. Por esta razão é que podemos concordar com a ideia de Freire (2003, p.33), de que o educador “tolhe a liberdade”

do aluno, tirando-lhe a capacidade de aventurar pelo mundo do conhecimento. O professor, não instiga e desperta o interesse e o prazer em aprender e, muito menos o tem. Partindo dessa questão, a pesquisa vem alertar os educadores a necessidade de uma tomada de consciência a fim de inovar as metodologias e práticas de ensino que ainda hoje são aplicadas nas escolas e mais, trazer a fala da criança a respeito de seu aprendizado e aquilo que faz com que ela se lembre do professor que lhe foi significativo.

Além de Freire (2003), outros autores brasileiros tecem críticas a esse mesmo tipo de ensino porque não garante o desenvolvimento pleno das potencialidades de uma criança, de forma democrática e libertadora.

Os estudos de Saviani (2003) muito contribuem para compreender as práticas pedagógicas e sua caracterização quanto ao papel da escola, conteúdos, métodos, relação professor-aluno, como se concebe a aprendizagem e como o aluno aprende. Segundo Saviani (2003), o ensino deve basear-se numa didática que insista na necessidade de trabalhar a educação no concreto e não de forma abstrata, partindo do próprio interesse e realidade dos alunos; tal perspectiva é o foco para uma educação crítica e instigadora.

Segundo Saviani (2003), o estudo das tendências norteadoras da prática docente é realizado por vários pesquisadores, dentre eles, Piaget (1999), que muito contribuiu para a compreensão do desenvolvimento da criança e, por consequência, o desdobramento de sua teoria para a prática pedagógica trouxe resultados muito positivos.

O objetivo principal de Saviani (2003), ao caracterizar as tendências pedagógicas, foi o de observar quais princípios norteiam as práticas dos professores e, obter um paradigma de ensino, isto é, um “modelo” o qual fosse possível caracterizar um conjunto de práticas que

trouxessem melhorias na qualidade do ensino e assim, contribuir para um trabalho pedagógico significativo.

Para Saviani (2003), o estudo das tendências pedagógicas pode auxiliar o professor a uma autocrítica ante o processo ensino e aprendizagem. Ou seja, elas caracterizam a prática pedagógica do docente, considerando aspectos importantes em sua análise, como o que ensinar, para quem ensinar, como ensinar, para quê ensinar e porquê ensinar. O autor salienta que, para o bom funcionamento da escola, o ideal é que se adotem métodos de ensino eficazes, de forma a estimular nos alunos a iniciativa, o pensamento investigativo, a partir da iniciativa do professor em promover uma educação crítica. O método de ensino deve proporcionar o diálogo entre os alunos, com o professor e com a cultura historicamente construída.

Estudos realizados por Queiroz e Moita (1994, p.4) apontam que a educação brasileira se constituiu em uma corrente histórica sendo, em diversos momentos, influenciada e transformada por questões políticas, econômicas, científicas e tecnológicas. Por isso, é preciso compreender cada contexto que a educação enfrentou, analisando os métodos de ensino e de aprendizagem, partindo do tradicionalismo até uma perspectiva pedagógica histórico-crítica para compreendermos os processos que permeiam o ensino escolar.

O ensino no Brasil foi, em grande parte, influenciado pelas ideias dos jesuítas, instituindo-se o modelo tradicionalista. Ainda hoje, é possível observar algumas características nas escolas. Esse método por sua vez, tinha como objetivo formar o homem para defender as ideias da igreja; a técnica utilizada para garantir que o aluno aprendesse as informações transmitidas pelo professor, sem questioná-las nem discuti-las, foi a da

“memorização”.

Segundo as informações apresentadas por Queiroz e Moita (1994, p. 6) as tendências pedagógicas influenciaram as práticas pedagógicas, buscando atender as “expectativas da sociedade”. Suas pesquisas apontam que, as tendências pedagógicas se dividem em dois blocos, o “Filosófico Liberal e a progressista”. De uma forma breve, pode-se dizer que as Tendências Pedagógicas Liberais surgiram no século XIX, influenciadas pelas ideias da Revolução Francesa (1789). Esta por sua vez, acreditava que os conteúdos seriam mais importantes que a experiência vivida pelos educandos. Dentre as tendências liberais, destacam-se a “Liberal Tradicional”, predominante no Brasil desde os Jesuítas, tendo como objetivo principal, preparar os alunos para assumirem papeis na sociedade, já que apenas os filhos dos burgueses frequentavam a escola. Nesta tendência, o ensino era centrado no professor, o único detentor do saber.

A segunda, conhecida como “Tendência Liberal Renovada”, conforme apontam Queiroz e Moita (1994, p. 8), é caracterizada pelas transformações sociais e políticas ocorrentes no Brasil na década de 20 e 30 (século XVIII), ou seja, a chegada do pensamento liberal democrático no Brasil e o surgimento da Escola Nova.

A educação brasileira desenvolve-se, principalmente, por influências da pedagogia católica (a pedagogia tradicional de orientação religiosa), com os Jesuítas, que, praticamente, exerceram o monopólio da educação até 1759, quando foram expulsos por Pombal. [...] isso não significou a exclusão da influência católica na educação, mas sim, a quebra de um monopólio. Este período vai até o início do século XX, quando se torna forte a influência da Escola Nova, que se inspira naquilo que chamo de concepção humanista moderna de filosofia da educação. (SAVIANI, 2003, p.88).

Com as transformações, a escola tradicionalista deixou de se preocupar com os interesses da classe dominante (elite, burguesia), passando a defender a escola pública para todos. A partir daí a educação tradicional, intelectualista e “livresca”, passa a receber um sentido vivo e ativo. Nesta tendência, o aluno torna-se o centro, tendo sua curiosidade, criatividade estimulados pelo professor, o “facilitador” do ensino. Nesse período, destaca-se Dewey (1979), que defendia a ideia de um método de ensino que explorasse a curiosidade, as dúvidas, a investigação, a observação e a experimentação. Para o autor, é necessário aproveitar essas situações desafiadoras para que o ensino seja significativo. (Queiroz e Moita, 1994).

A terceira, definida por “Tendência Liberal Tecnicista” que marcou fortemente a década de 1970, momento em que houve grande força do Regime Militar no país. A educação tomou novos rumos, direcionando-se às grandes massas, de forma a atender a sociedade capitalista. A educação e a escola passam a ter como objetivo, produzir alunos para o mundo capitalista. O professor passou a ser “refém” da técnica. Nesse contexto, Saviani (2007) afirma que, o tecnicismo veio remodelar os métodos e instrumentos de ensino, valorizando os livros didáticos, materiais audiovisuais, ganhando forma mecânica e técnica. Contudo, o sistema tradicionalista permaneceu, ainda que de forma “camuflada”. Só então, a partir de novos movimentos educacionais como crítica ao sistema tecnicista, os educadores e pesquisadores, perceberam a necessidade de investigar como o conhecimento processa em si.

A partir daqui, apresentamos o segundo bloco, o das Tendências Progressistas. Esta por sua vez, surge a partir da década de 70 e 80, com a abertura política no país. Dentro desse contexto, (Libâneo, 1990 apud Queiroz e Moita, 1994, p.12), dividiu a Pedagogia Progressista em (três) tendências. (Queiroz e Moita, 1994).

A primeira no que se refere “Tendência Progressista Libertadora”, influenciada pela grande mobilização dos professores por uma educação crítica, a atividade escolar passou a ser centrada em discussões de temas sociais e políticos e em ações concretas sobre a realidade social. O professor era como um coordenador das atividades, atuando conjuntamente com os alunos. Destaca-se Paulo Freire (2003), que lutava por uma escola conscientizadora, que problematizasse a realidade e trabalhasse a sociedade capitalista, que também se destacou na educação brasileira por apresentar uma nova proposta pedagógica que defendia a “libertação do homem” e se contrapunha à proposta tradicionalista. (Queiroz e Moita, 1994).