• Nenhum resultado encontrado

Encontro II: Nova Délhi – 1993

2.1. Contexto Internacional das Políticas Educacionais

2.1.3. Encontro II: Nova Délhi – 1993

Plano Decenal de Educação para Todos, preparado de acordo com as recomendações da reunião organizada pela UNESCO realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990” (BRASIL, 2001, p.

7).

isento da imposição de tetos, preestabelecidos e que promovam um clima internacional capaz de permitir aos países sustentar seu desenvolvimento sócio econômico” (UNESCO, 1993). Há também no documento uma sinalização de que a educação é responsabilidade de toda a sociedade (governos, famílias, comunidades, organizações não governamentais). Ou seja, todos devem ter compromisso e devem participar nessa empreitada (UNESCO, 1993).

Como reflexo dessa Conferência, no Brasil foi elaborado o Plano Decenal de Educação Para Todos, que antecedeu a criação do PNE, cujo objetivo principal era oferecer conteúdos mínimos de aprendizagem às crianças, jovens e adultos, atendendo as suas necessidades básicas para sobreviver em sociedade. O referido Plano se estenderia por dez anos a contar de 1993. O que se afirma é que, até o ano de 2003, o Brasil teria atendido as exigências das duas Conferências de “Educação Para Todos”.

O Plano Decenal de Educação Para Todos,

[...] não se confunde com o Plano Nacional de Educação previsto na Constituição e que incluiria todos os níveis e modalidades de ensino. Tampouco se caracteriza como um plano estilo tradicional, em respeito mesmo à organização federativa do país.

Delimitando-se no campo da educação básica para todos, que é a prioridade mais importante neste momento, o plano responde ao dispositivo constitucional que determina ‘eliminar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental nos próximos dez anos’ (BRASIL, 1993-2003).

No discurso de abertura do documento, o então Ministro da Educação, Murílio de Avelar Hingel, se dirige aos professores e dirigentes escolares, nos seguintes termos:

O Plano Decenal foi concebido e elaborado para ser um instrumento guia na luta pela recuperação da educação básica do País. Todavia, a sua efetivação depende de esforço integrado e compartilhado entre todas as esferas e agentes do processo educativo, ou seja. A União, os Estados e Municípios, as escolas, os professores e dirigentes escolares, as famílias e a sociedade civil. Torna-se cada vez mais importante que cada uma dessas instâncias e segmentos assumam compromissos públicos com a melhoria do ensino, fazendo da escola um centro de qualidade e cidadania, com professores e dirigentes devidamente valorizados, ajudando o País a edificar um eficiente sistema público de educação básica (BRASIL, 1993, p. 1).

Trata-se de um Plano estudado e reestudado que contou com a participação de “toda a sociedade”, principalmente dos órgãos interessados na política educacional, tais como representantes do MEC, do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (CONSED) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) (BRASIL, 1993).

Conforme o documento, o MEC enviou o Plano a “inúmeros segmentos sociais, promovendo, posteriormente, uma reunião específica sobre o Plano com as entidades não

governamentais” (BRASIL, 1993, p. 13). Assim, o Plano foi debatido, discutido e ouviram-se críticas e sugestões de diversos seguimentos “dos trabalhadores, patronais, acadêmicos, pais de alunos, defesa dos direitos de cidadania, associações de classe, etc.” (BRASIL, 1993, p. 13).

Enfim, não se pode negar que o Plano fora discutido. E o documento apresenta metas a serem alcançadas nos próximos dez anos, para a universalização do Ensino Fundamental e erradicação do analfabetismo, a saber:

1) Com a participação dos sistemas de ensino;

2) Elevar a, no mínimo, 94% a cobertura da população em idade escolar;

3) Assegurar a melhoria do fluxo escolar, reduzindo as repetências, sobretudo na 1ª séries, de modo a que 80% das gerações escolares, no final do período, possam concluir a escola fundamental com bom aproveitamento, cumprindo uma trajetória escolar regular;

4) Criar oportunidades de educação infantil para cerca de 3,2 milhões de crianças do segmento social mais pobre;

5) Proporcionar atenção integral a crianças e adolescentes, sendo que 1,2 milhão através do Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (PRONAICA), em áreas urbanas periféricas;

6) Ampliar o atendimento de jovens e adultos de modo a oferecer oportunidades de educação básica equivalente ao ensino fundamental para 3,7 milhões de analfabetos e 4,6 milhões de subescolarizados;

7) Ampliar progressivamente a participação percentual do gasto público em educação no PIB brasileiro, de modo a atingir o índice de 5,5%;

8) Implantar novos esquemas de gestão nas escolas públicas, concedendo-lhes autonomia financeira, administrativa e pedagógica;

9) Promover a revisão crítica dos cursos de licenciatura e da escola normal de forma a assegurar às instituições formadoras um novo padrão de qualidade, compatível com os requerimentos atuais da política de educação para todos;

10) Incrementar, em cerca de 50%, os atuais níveis de aprendizagem nas matérias do núcleo comum, tomando como referência os novos padrões de conteúdos mínimos nacionais e de competências básicas a serem nacionalmente determinadas

11) Dotar todas as escolas de ensino-fundamental, urbanas e rurais, estaduais e municipais, de condições básicas de funcionamento;

12) Aumentar progressivamente a remuneração do magistério público, através de plano de carreira que assegure seu compromisso com a produtividade do sistema, ganhos reais de salários e a recuperação de sua dignidade profissional e do reconhecimento público de sua função social;

13) Descentralizar progressivamente os programas de livro didático e de merenda escolar (BRASIL, 1993, p. 42-43).

O Plano em questão foi elaborado por cumprimento às metas estabelecidas por instituições internacionais e “[...] a partir de 1995, esse diálogo foi encerrado e o governo federal passou a dar prioridade a outros interlocutores para a elaboração de suas políticas [...]”

(PERONI, 2003, p. 87).

Tomou-se a crítica de Saviani (2011) sobre a lógica que embasa as propostas para Educação Para Todos, que nesse ínterim, sirva também, pois os governos aderem aos planos de metas extemporâneos; elaboram projetos mirabolantes, mas não atendem às necessidades dos indivíduos inseridos no processo.

Na próxima sessão será apresentada a Conferência de Dakar-Senegal (2000), suas contribuições para as políticas públicas educacionais brasileiras e os compromissos assumidos para tentar buscar a universalização da Educação Básica no Brasil.