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Implantação do PNAIC e seleção de professores formadores

3.2. Documentação do PNAIC no município de Jataí-GO

3.2.1. Implantação do PNAIC e seleção de professores formadores

Como já mencionado, o PNAIC fora implantado em Jataí-GO no ano de 2013. A partir daí a Secretaria Municipal de Educação iniciou a seleção dos professores formadores do PNAIC, no mesmo ano, embora não exista registro dessa seleção, pois no ofício da SME nº 710/2015 a própria secretária de educação apresenta no item 8 que Não há edital de seleção dos professores formadores aqui em Jataí, pois estes não são de responsabilidade do Município e sim das IES, responsável pela formação.

Conforme já mencionado a Adesão ao PNAIC fora concretizada em 2012, cujo documento físico a SME no documento mencionado acima, afirma que não possui em função da troca de gestor municipal de educação passando a responder a partir de 2015 pela pasta a senhora Izildinha Divina Borba, contudo, contraditoriamente a isso, ela afirma que o referido termo fora entregue (Item 1).

Após a assinatura do termo fora então elaborado um projeto para os três primeiros anos do curso de formação, intitulado Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa Anos 1, 2 e 3 (2013-2016), assim se iniciaram as formações dos professores no município.

O referido projeto reproduz as diretrizes estabelecidas no Termo de Adesão assinado, não parte de uma análise da realidade do município, que, segundo a secretaria, no ofício já mencionado o diagnóstico com certeza foi realizado na mesma época, justificando a necessidade do Programa (Item 1).

Dessa forma, vê-se mais um projeto de formação continuada se instalar no município sem que de fato se estabeleça claramente a realidade, os objetivos, as metas, pois essas não são as mesmas em todos os municípios brasileiros, visto as diferenças existentes entre eles, existindo cidades de grande porte, com ótima infraestrutura nas escolas, ao passo que existem municípios que não poderiam nem abrir escolas, devido à falta de infraestrutura.

Inicialmente o projeto intitulado “Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, anos 1,2,3 elaborado pela Secretaria Municipal da Educação (ANEXO), apresenta o tópico Tema Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa no qual apresenta como objetivo principal:

Deixar claro o conceito de Alfabetização e a importância da formação continuada dos professores alfabetizadores, para que estes consigam realizar um trabalho de qualidade, garantindo que todas as crianças da Rede Municipal de Ensino de Jataí estejam alfabetizadas, até os oito anos de idade (p. 2).

Logo em seguida o referido documento apresenta a necessidade de distribuição de carga horária para a execução do projeto no total de 30 horas, contudo não deixa claro se essa carga horária será para a participação no curso ou para atuação em sala de aula.

No campo denominado “Justificativa” do documento citado é feita uma contextualização tímida do PNAIC enquanto programa de formação, contudo o mesmo não apresenta e nem justifica a necessidade de sua aplicação no município cujo embasamento teórico é em Vaniscotte (2002) por meio de uma única citação. Surge aí o conceito educação ao longo da vida, que diz respeito não apenas ao profissional, bem como algo benéfico também à vida pessoal e social.

No tópico “Cronograma mensal” do PNAIC, foram divididas horas para operacionalização de cada título constante do Caderno do PNAIC, contudo, não de forma clara, pois não se estabelece nem ao menos de que caderno se fala, ficando assim distribuídas as horas:

8 horas - Unidade 1 – Organização do trabalho Pedagógico.

8 horas – Unidade 2 – Quantificação, registros e agrupamentos.

12 horas – Unidade 3 – Construção, registros e agrupamentos.

12 horas – Unidade 4 – Operações na resolução de Numeração Decimal.

12 horas – Unidade 5 – Geometria.

12 horas – Unidade 6 - Grandezas e Medidas.

8 horas – Unidade 7 – Educação Estatística.

8 horas – Unidade 8 – Saberes Matemáticos e Outros Campos de Saber.

Acrescentado na observação que serão destinadas 4 horas mensais, para acompanhamento da Alfabetização em Língua Portuguesa. E encontros de formação para as orientadoras de 200 h anuais, oferecidos pelo MEC, em parceria com a UFG, em Goiânia (p. 4).

Conforme o projeto apresentado como o norteador das ações do PNAIC em Jataí, não se tem estabelecidos o desenvolvimento de todos as disciplinas do pacto, apenas a Matemática, nem mesmo se tem clareza da intervenção do município no sentido de se comprometer com a formação como importante ferramenta para a formação em serviço de seus professores.

No tópico destinado aos “Objetivos gerais e específicos” apresenta na íntegra todos os elencados no documento oficial do MEC para o PNAIC, assim a própria SME/Jataí-GO não tem nenhum objetivo para além dos propostos. Na definição da metodologia também se atém ao determinado no documento oficial. No item “Avaliação” é feita uma breve explanação do conceito e da concepção de avaliar.

A nova concepção de avaliação deixa evidente que esta não é mais vista como instrumento de exclusão e reprovação e sim caracterizada como um ato contínuo, regulador, diagnóstico, mediador e formativo, que tem como função regular e adaptar a prática pedagógica.

[...] No município de Jataí, a avaliação já tem este caráter transformador, visto que, a mesma, por parte da maioria dos professores, é um instrumento de diagnóstico, visando a reconstrução do ensino. E com o PNAIC, as orientadoras reforçam esta visão da avaliação para que todos os professores se conscientizem que a avaliação é um meio e não um fim (JATAÍ, 2013, p. 5).

Assim, analisando a proposta do PNAIC por meio dos cadernos do programa distribuídos pelo governo e do projeto (JATAÍ, 2013-2016- ANEXO A), construído pelo município, fica claro que são trabalhados no distanciamento da realidade do município, da escola e da sala de aula, acabando por se constituir um “treinamento” em curto prazo, pois não partem da análise da realidade.

Em uma era considerada por muitos estudiosos como a do conhecimento, visualiza-se claramente aspectos de concepções marxistas sobre as questões do trabalho alienador, típico do sistema capitalista, nas conjunturas de implantação e implementação do curso PNAIC.

Conforme Lima (2007), o grande potencial das teorias crítico-reprodutivistas para a compreensão da função da escola na sociedade de classes auxilia a “perceber os rituais escolares que reforçam o agir sem pensar, o obedecer sem refletir, o aceitar a ordem das coisas, que gera um sentimento de pessimismo pedagógico” (LIMA, 2007, p. 36).

Na verdade, percebe-se um verdadeiro desencanto por parte de muitos professores cursistas, que continuam a fazer o curso, a participar dos encontros semanais, realizando as atividades em sala de aula na semana, no silêncio para não perderem uma bolsa ou por exigência da rede.

Assim, nota-se que o cenário educacional do município de Jataí-GO, em relação à formação continuada dos professores alfabetizadores que atuam nas turmas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental, está submetido à política implantada pelo PNAIC, sendo que todas as orientações pedagógicas, planejamento, diretrizes e avaliação são enviadas pela SME para as escolas, assim como as avaliações, e os diagnósticos mensais, que define e também as tipologias textuais a ser trabalhada em cada bimestre, tirando do professor a autonomia pedagógica do seu trabalho docente. Conforme Zeichner,

anunciar ou mesmo exigir mudanças na educação não alterará o que se passa nas salas de aula e nas escolas enquanto os educadores oferecerem resistência e subverterem essas mudanças. Diante do modelo autoritário de transmissão do conhecimento que

predomina nas escolas do mundo todo, os professores só passarão a ensinar de modo mais democrático e centrado no aluno se viverem uma reorientação conceituai fundamental sobre o seu papel e sobre a natureza do ensinar e o aprender (2008, p.

36).

O que se verifica nessa citação, adequada para o momento no contexto do neoliberalismo, é que os cursos de formação servem como modelos a serem seguidos, desprezando toda a formação do professor, sua experiência de sala de aula e a realidade das salas de aula de cada contexto social.

Após essa reflexão, apresenta-se a formação do grupo participante deste estudo, os quais fizeram parte do processo de formação de professores alfabetizadores, oferecido pelo MEC/PNAIC, a saber: 01 Coordenador Municipal; 06 professoras orientadoras e 111 professoras alfabetizadoras participaram do curso (90% são graduadas em Pedagogia, com especialização na área da educação). Em Jataí-GO, a Faculdade de Educação de Goiânia da Universidade Federal de Goiás (UFG) se constitui na entidade educativa de ensino superior parceira do MEC que orientaram os representantes dos municípios participantes o passo a passo para a formação do grupo gestor do município.

As professoras designadas como orientadoras participam do curso sob a responsabilidade da UFG em Goiânia. E o município arcou com as despesas de deslocamento, translado, hospedagem e alimentação dos professores orientadores para realizarem o curso na capital do Estado. O município também arca com as despesas de alimentação durante o curso para as professoras alfabetizadoras em 2013 e 2014 (TOTI, 2014).

Sobre os encontros desses formadores há apenas dois documentos de convocação, emitidos pela SME, que foi o Ofício Circular nº 110/2013, de 06/08/2013, e o Oficio Circular nº 103/2014, de 27/06/2014, convocando para planejamentos do PNAIC. Os referidos ofícios não apresentam nenhuma indicação sobre a importância desses encontros.

Analisando as pautas dos encontros semanais do PNAIC, conforme registro no caderno de uma professora formadora (Anexo 5), percebe-se a utilização de uma rotina didática padronizada entre as turmas de 1º, 2º e 3º anos aplicada pelas professoras formadoras, composta linearmente por: oração, acolhida, leitura deleite, atividade em grupo ou coletiva, atividade individual e trabalho pessoal (BRASIL, 2012b).

Esta metodologia pode ser vista como um mecanismo de controle de tempo, pois todas as professoras cursistas são orientadas pela SME a seguir uma pauta diária que se tornou uma rotina a ser seguida, com orientação de controle de horários para realizar as atividades diárias.

Este cenário traz intrínseco em suas teorias o padrão taylorista-fordista, que se caracteriza pela produção em massa, controle do tempo e produção em série. O trabalhador, no período fordista, era intensamente explorado, massificado, peça fundamental para a expansão capitalista, pois esse obtém lucro com a exploração do trabalhador (ANTUNES, 2002). Isso é preocupante, visto que se trata de professores que trabalham com o “conhecimento”, principalmente que buscam qualidade no ensino e esperam contribuir para a formação de cidadãos críticos, para submeterem as estas condições de trabalho.

Até aqui puderam ser notados os elementos próprios do PNAIC e do seu alinhamento à ideologia neoliberal denunciada na perspectiva de formação do indivíduo e na necessidade do desdobramento dos profissionais para obterem uma formação em serviço. A seguir será tratada, por meio da ANA, uma das formas de avaliação sistemática utilizada pelo PNAIC para medir o desempenho tanto dos alunos quanto dos professores.

3.2.2. A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA): o que mudou na alfabetização de