• Nenhum resultado encontrado

E- LALAUR

1. FRONTEIRAS GEOGRÁFICAS X FRONTEIRAS ESTRATÉGICAS

1.1 GUERRA FISCAL

"A guerra fiscal é uma das maiores burrices do Brasil. É um tiro no próprio pé do país." (Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco do Central do Brasil – Folha de São Paulo, 19 de maio de 2011).

De acordo com o site Brasil Economia e Governo (2012) a guerra fiscal pode ser definida como a disputa, entre cidades e Estados, visando oferecer mais incentivos para que as empresas se instalem em seus territórios. Para atrair investimentos e obter mais riqueza e mais renda para suas regiões, vários governos concedem incentivos para as empresas. Esses incentivos podem ser dados sob a forma de isenção de tributos, ampliação do prazo de pagamento de tributos, melhorias na infra- estrutura e até a construção de instalações da empresa com o uso de dinheiro público.

Quando trata-se de comércio exterior a Guerra Fiscal afeta diretamente as importações. O Brasil vive uma alta demanda por produtos importados originários de todo o planeta. De acordo com o site Aliceweb do MDIC (2012) em 2002 o Brasil importou US$ 47,2 bilhões. Em 2012, somente até o mês de setembro, o Brasil já importou US$ 164,8 bilhões. Esse aumento significativo das importações fez com que

os Estados entrassem em guerra fiscal por esses impostos estaduais que os importadores têm que pagar quando nacionalizam seus produtos no país.

Estados como Santa Cataria, por exemplo, baixaram consideravelmente o ICMS com o objetivo de atrair importações para os seus portos, aeroportos e terminais alfandegados. De acordo com o site Aliceweb do MDIC (2012) em 2002 o Estado de Santa Catarina exportou US$ 3,1 bilhões e importou US$ 931 milhões. Já no ano de 2012 (janeiro a setembro) o Estado exportou US$ 6,8 bilhões e importou US$ 10,7 bilhões. De Estado exportador Santa Catarina transformou-se em um Estado importador pois oferece benefícios fiscais as empresas importadoras.

Em abril de 2010 o CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) elaborou uma resolução que foi aprovada pelo Senado em 2012. Projeto de Resolução 72/2010 foi aprovado pelo Senado e impacta diretamente na unificação da tarifa tributária do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em 4%, não submetido a qualquer processo de industrialização, para todo o território nacional. Esta resolução conta com a participação da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), para o controle e mobilização do apoio federações, entidades e associações e também com a CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária) que atuará na competência para regulamentar as certificações de conteúdo de importação.

A medida entrará em vigor no dia 1 de janeiro de 2013 e tem como objetivo o extermínio da famosa “Guerra Fiscal” entre os Estados. De acordo com senador Eduardo Braga (PMDB-AM), a modificação no texto original de Jucá foi feita para evitar a redução abrupta da alíquota para zero, de forma a alcançar “um meio termo entre a necessidade do país de controlar a entrada indiscriminada de produtos estrangeiros e a possibilidade de permanência, ainda que residual, dos incentivos concedidos pelos estados à atividade de importação”, mas existem várias opiniões a respeito.

Segundo o secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, Odir Tonollier (2012), era “urgente” a normatização dessa batalha. “Acredito que a medida é importante para o País, pois acaba com os subsídios às importações, o que é inadmissível por parte dos estados que praticam esta política que suprime os empregos nacionais em detrimento da criação de postos de trabalho na China”, defende o secretário.

A medida, para Tonollier (2012), é um primeiro passo para a uniformização dos tributos, fator determinante para encerrar as disputas fiscais entre os estados da

Federação. “Os secretários da Fazenda já trabalham nesta linha e projetam que as alíquotas sejam reduzidas para que haja facilidade na migração dos tributos de um estado produtor para outro consumidor”, diz.

O assunto Guerra Fiscal ainda gera polêmicas, de acordo com o jurista Roque Carrazza (2012) a lei é uma “inconstitucionalidade aberrante” o projeto de resolução 72/2010 do Senado, que uniformiza a alíquota do ICMS interestadual na comercialização de produtos importados. Carrazza (2012), que participa de audiência pública em duas comissões da Casa sobre o assunto, disse que a mudança deveria ser feita por meio de projeto de lei complementar e não por uma resolução do Senado.

Segundo ele, a Constituição diz que qualquer projeto que propõe eliminar ou reduzir alíquotas do imposto tem de ser aprovado separadamente pelos deputados e senadores, em votações com maioria absoluta, ou seja, mais da metade da composição de cada uma das Casas.

Para o jurista, também não é possível dar tratamento fiscal ou tributário diferente a operações com produtos importados e a similares nacionais, conforme prevê a resolução. Segundo ele, o Supremo Tribunal Federal (STF) já deu decisões nesse sentido. Carrazza disse que a resolução até poderia fixar o percentual do ICMS, mas não poderia, por causa do “princípio da seletividade” utilizar percentuais diferentes para produtos importados e similares nacionais. “Os bens importados devem receber o mesmo tratamento do nacional”, afirmou.

Na mesma linha de raciocínio, o doutor em Direito Tributário e professor Fábio Canazaro (2012), diz que o governo confunde o contribuinte quando aplica aumento de 30 pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros importados, por exemplo, e cria uma alíquota mais baixa para o ICMS para mercadorias vindas de fora do País. Com base nisso, o professor entende que a Resolução 72 está na contramão do crescimento do País. “É o maior absurdo dar incentivo às indústrias estrangeiras, isso é contra o desenvolvimento”, critica. Para ele, a disparidade existente entre os ICMS só se resolveria com a Reforma Tributária.

Apesar disso, Canazaro (2012) admite que o movimento de unificação possa representar o início da tal sonhada mudança no sistema tributário nacional. Porém, o especialista só acredita numa transformação paulatina e diz que o Brasil já está atrasado para começar essa reestruturação. “Os estados estão destruindo com as suas indústrias”, lamentou.

Percebe-se que o tema Guerra Fiscal ainda não está esgotado. Existem ainda muitas opiniões e interesses em jogo. Enquanto isso as empresas brasileiras ficam sem o norteador necessário para a tomada de decisão em relação aos investimentos que necessitam fazer para os próximos anos.

No documento CUSTEIO POR ABSORÇÃO Franciele Duarte (páginas 63-66)