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INOCÊNCIO MARTINS COELHO

No documento CUSTEIO POR ABSORÇÃO Franciele Duarte (páginas 134-138)

3. O direito fundamental de acesso à justiça

4.2 INOCÊNCIO MARTINS COELHO

Diante das lições da experiência histórica, rica em exemplos da chamada revolta dos fatos contra os códigos, expressão afortunada com que os juristas modernos explicaram as transformações ocorridas na passagem do Estado liberal ao Estado social, diante dessas lições, tanto Hesse como os demais constitucionalistas, que se viram a braços com o problema da alteração do sentido dos preceitos constitucionais, como consequência das mudanças verificadas na realidade social, todos eles tiveram que "conviver" com aquelas já referidas mutações constitucionais, eufemicamente consideradas simples processos adaptativos, que permitem alterar a concretização do conteúdo das normas constitucionais, sem a correspondente necessidade de modificar-lhe o texto.

Destaca Inocêncio que: "(…) achamos que Hesse, em verdade, acaba se rendendo à força normativa dos fatos, embora mascare essa rendição com a afirmativa de que a problemática (= necessidade) da revisão somente se coloca – melhor seria ter dito que necessariamente se coloca – quando terminam as possibilidades de mutação constitucional. No particular, pensamos que não lhe socorrem nem mesmo os elogios que faz à rebuscada construção de F. Müller, via da qual assimilam as mutações constitucionais com o argumento de que a realização do direito constitucional só se verifica, efetivamente, quando o conteúdo da norma que o integram incorpora à conduta humana, mediante a aplicação e observância diárias, o que faz a realidade se converter em parte integrante e constitutiva da normatividade jurídica. (COELHO, p. 174-175)

Por meio da tarefa hermenêutica amplia-se a compreensão e a prática constitucional, daí o destaque que vem sendo dado à jurisdição constitucional, através de sua criatividade jurisprudencial. A tarefa da hermenêutica deve ser mantida através do caráter da integração das normas, operando-se pela concretização das normas constitucionais que ganham um conteúdo básico por intermédio das decisões jurisdicionais. Nesse sentido, ressalta duas orientações hermenêuticas concretizadoras, postuladas por Hesse e Müller. (COELHO, p. 26)

5 CONCLUSÕES

Com relação as concepções e definição de Lassalle, são inicialmente feitas, de forma elucidativa, considerações relativas aos pontos fundamentais que estão presentes em uma Constituição, os equívocos existentes nos comentários a eles relacionados, os fatores reais do poder que integram e direcionam uma Constituição e a forma sustentável que os mesmos lhe são inseridos.

Os pontos fundamentais a serem abordados quando se desenvolvem comentários a uma constituição são: suas características fundamentais e o seu conceito. O autor critica que estes temas são abordados de maneira equivocada, de forma a atender a uma Constituição específica. De forma até certo ponto genericamente exagerada, afirma que aplicadores do Direito apresentam a esses pontos ensinamentos apenas relacionados ao campo jurídico, que no geral não atendem aos seus propósitos e não são suficientes para se definir se uma Constituição é boa ou má ou se suas características atendem a uma determinada finalidade. Desta forma, o autor afirma que os juristas se limitam a descrever apenas as funcionalidades externas de uma Constituição, não esclarecendo onde está a sua essência, “... apenas dão-nos critérios, notas explicativas para conhecer juridicamente uma Constituição”.

Nos comentários e informações sobre Constituição, Lassalle ao condicionar a Constituição escrita à Constituição efetiva, deixa basicamente evidente a importância que tem o direito natural no direito positivo. Vale esclarecer aqui, para que não haja uma falsa sinalização histórica e de autoria, que Hesse assimila diversas formulações da teoria geral de Friedrich Müller, principalmente no que tange ao tópico da interpretação constitucional como, por exemplo, no que se refere à concepção geral de concretização da norma (constitucional), à diferença entre norma e texto da norma e ao estudo da estrutura da norma, programa normativo e âmbito normativo.

Hesse e Müller não entendem como descartáveis ou obsoletas as regras tradicionais de interpretação, na verdade, partindo-se, como exemplo, do binômio necessário-suficiente, fica claro que ambos definem o papel daquelas regras como necessário – enquanto utilizados para a interpretação de dados linguísticos (voltada para o texto normativo, onde se destaca frequentemente uma "equivocidade semântica" ou caráter não unívoco), mas não mais suficiente enquanto parte do

processo de concretização normativa (constitucional), principalmente diante de uma nova postura hermenêutica voltada para o Direito Constitucional.

Em verdade, Hesse e Müller não se coadunam com as limitações impostas por uma explicação da interpretação constitucional, que parte somente de uma concepção de lógica silogística (extremamente simplista) ou de uma concepção meramente casuística (porque incontrolável). Estes autores propõem um terceiro caminho, que busca um caminho que não desconsidera a realidade e não acredita na possibilidade de existir uma norma pré-existente já capaz de, por si só, resolver sozinha todas as questões constitucionais.

Eles estão mais interessados em destacar o pensar direcionado ao problema, normativamente vinculado, buscando destacar pontos de vista que possam, enquanto hipótese de trabalho, direcionar o processo de concretização.

Conforme destacado na análise das teorias em separado, Hesse e Müller partem de algumas premissas comuns, principalmente no que tange à estrutura da norma (sendo fundamental uma clara compreensão deste aspecto), à diferenciação entre texto da norma e norma, entre âmbito normativo e programa normativo, e na sua inter-relação constante no processo de concretização, o que, inclusive, influenciou posteriormente as construções teóricas.

Na concepção de Hesse é o chamado condicionamento recíproco, que reflete a necessidade de contínua inter-relação entre a realidade a ser ordenada e a ordem a ser concretizada (Constituição), entre a dimensão normativa e a dimensão fática que permeiam o processo de concretização. É a ação recíproca que, dirigindo-se ao problema, busca concretizar a norma constitucional.

Um ponto comum entre o entendimento de Müller e Hesse se refere à ideia de que nenhum deles concebe que a norma (constitucional) tenha existência autônoma em face da realidade, ou seja, não admitem uma norma completa e pré- acabada, capaz de solucionar todas as questões jurídicas (constitucionais). Nesse sentido, Hesse destaca que a norma se faz presente em sua vigência, enquanto Müller aponta que a norma é norma concretizada, ou seja, a norma de decisão do caso concreto.

Em verdade, estão estes autores às voltas da questão da mutação constitucional no direito constitucional alemão. Isto porque buscaram continuamente prover o direito constitucional de recursos, para que este não venha a sucumbir

simplesmente aos fatores reais de poder, ou que se veja sempre submetido às reformas constitucionais, sempre que uma nova questão surja, a fim de evitar a falta de legitimidade e o desprestígio da dimensão normativa da Constituição.

Uma das maiores contribuições destes autores parece estar na exploração do conceito de concretização, que evidencia exatamente outros aspectos do processo interpretativo, que não somente os destacados pela hermenêutica jurídica tradicional, ou seja, elementos não diretamente relacionados ao texto normativo. A concretização de normas e princípios constitucionais parece querer dotar exatamente o direito constitucional de melhores instrumentos que habilitam o intérprete na resolução das diversas questões constitucionais diariamente surgidas da realidade histórica concreta.

Os diversos pontos analisados pelos autores e destacados aqui servem de contribuição para a realidade constitucional brasileira contemporânea, não só porque o Brasil detém um modelo peculiar de jurisdição constitucional, mas também porque todas estas questões da hermenêutica jurídica constitucional ainda carecem de maior consciência pela maioria dos agentes ligados à interpretação jurídica, especialmente à constitucional.

Portanto, o que se intentou aqui, não foi buscar exaurir os modelos estudados ou apresentar as críticas a ele formuladas, mas sim destacar os pontos de vista que certamente contribuem no desenvolvimento de um constitucionalismo e hermenêutica voltados para a realidade histórica brasileira. Mais do que isto, a intenção era apresentar trabalho que pudesse persuadir a comunidade jurídica da necessidade de uma maior reflexão e aprofundamento no estudo desta temática, visto que o Brasil tem se visto às voltas de inúmeras emendas constitucionais (reformas constitucionais) que vêm certamente gerando descréditos quanto ao fortalecimento da dimensão normativa da Constituição, sem que se apresente uma alternativa plausível para essa cultura reformista. Mas analisando num todo, a concepção de cada mestre aqui estudado, entendemos que das classificações aqui propostas (sociológica, política e jurídica), que mais se aproximaria de nossa realidade seria a concepção jurídica. Mas não poderíamos deixar de esclarecer que a Constituição de um Estado não deve ser vista apenas por uma única concepção, e sim por uma “junção” de todas elas, que reflete numa união, a supremacia da Constituição, estando no ápice da pirâmide, servindo de legitimação para todo Ordenamento Jurídico.

6 BIBLIOGRAFIA

CANOTILHO, José Joaquim Gomes - Constituição dirigente e vinculação do legislador: 2º edição 2001 e Direito constitucional e teoria da Constituição. 4º.

ed. 2001.

COELHO, Inocêncio Martins - Konrad Hesse: uma nova crença na Constituição, S.l., v. 24, n. 96, out./dez. 1990.

HESSE, Konrad – A Força Normativa da Constituição , tradução Gilmar Ferreira Mendes e Edição 1991.

HÃBERLE, Peter - São Paulo, Ed. Revista dos tribunais 3ª Ed. 2003;

D.Constitucional, Método Concretista de Constituição Aberta - 10º Edição \

No documento CUSTEIO POR ABSORÇÃO Franciele Duarte (páginas 134-138)