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Instituições financeiras do estado de São Paulo para a habitação

4. Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do estado de São Paulo

4.2 Instituições financeiras do estado de São Paulo para a habitação

Conforme a CDHU (2016), o BNH privilegiava financiamentos imobiliários para cidades porte médio ou grande, bem como aquelas que se destacassem economicamente e tivesse mão de obra para tal empreendimento. O direcionamento imposto para as companhias habitacionais estava voltado para o operário e para os feitios urbanos.

Para a CDHU (2016), o Banco centralizava muito suas políticas e isso acarretou inúmeras consequências. Tanto os estados quanto os municípios eram dependentes e não possuíam autonomia em seus atos. Ademais, quando os recursos foram cessados tanto para a CODESPAULO quanto para os demais agentes promotores do país, houve uma exacerbação do setor. Isso se deve ao fato de o país vivenciar “[...] dificuldades macroeconômicas, tornando as políticas centralizadoras do BNH ultrapassadas e exigindo que os estados e municípios tivessem maior participação na estruturação das políticas públicas” (CDHU, 2016, p. 87).

A CDHU (2016) indica que a inflação, no ano de 1982, quase atingiu a marca de 100%, ao mesmo tempo que se observava o aumento da taxa de desemprego e diminuição de os investimentos de caráter público e infraestrutura basilar. Isso fez com que população com menos poder aquisitivo se afastasse do consumo de bens e serviços.

Para Royer (2002), há nesse momento uma base para a criação de um sistema habitacional estadual. Não obstante, seria a instituição de uma autonomia para com suas políticas públicas. Será neste contexto que se institui um fundo público com entradas tributárias, o que viabilizaria o financiamento de investimentos estatais.

Ao mencionar as entradas tributárias, Royer (2002) explicita o ICMS como a receita medular do fundo e a promulgação da Lei n° 6.556 de 30 de novembro de 1989 e sua vigência a partir de 1990. O valor de 1% da alíquota do referido imposto se destina ao financiamento de programas habitacionais de interesses sociais por intermédio da Caixa Econômica do Estado e que fossem executados pela CDHU. A autora também explicita que a prioridade dos atendimentos se ateve a famílias com rendimentos de até 5 salários mínimos. A prestação obedeceria ao comprometimento familiar de até 20% e contaria com o subsídio estatal.

Não obstante, Royer (2002) retoma a discussão sobre um fundo público para a habitação. Ao avultar a alíquota do ICMS, a autora demonstra o quão notório é tal ato, uma

vez que no seu contexto histórico, em 2002, havia apenas como recurso para a Habitação o FGTS, o Orçamento Geral da União (OGU) e recursos específicos e competentes a cada estado do país.

Para Royer (2002), a Companhia se via em condições para a produção em massa de unidades habitacionais. Todavia, novos aportes além do ICMS se faziam primordiais para alavancar suas atividades.

Como início de contextualização, Royer (2002) conta que em 1988, um ano antes da promulgação da lei do ICMS, a CDH contava com o terceiro maior orçamento dentre as estatais paulistas. Ademais,

Segundo dados extraídos de relatórios internos da Companhia, seu custeio já chegou a representar mais de 30% do investimento.As mudanças internas levaram a CDHU a apresentar um orçamento, para o exercício de 1988, de 3,5 milhões de OTNs para despesas operacionais, ou 5,2% do volume destinado aos investimentos, sendo que a receita de custeio para o mesmo período foi totalmente gerada pela taxa de 6% da CEF, que remunera seus agentes financeiros pelos serviços prestados. Além disso, do total do orçamento da CDHU para 1988, 600 mil OTNs destinaram-se à amortização de dívidas anteriores contraídas na Caixa Econômica Estadual, dos tempos da Cecap, cujo total era estimado em 2,7 milhões de OTNs (ROYER, 2002, p. 61).

Nesse cenário de mudanças, Royer (2002) também irá enfatizar que houve mudança no cálculo dos encargos mensais dos mutuários. Em uma discussão gerada pelo Fórum Nacional dos Secretários de Habitação e no âmbito do modelo vigente do SFH/BNH, fora defendida uma política que concedesse crédito para uma construção subsidiada. Com isso, Royer (2002) demonstra que a abstração era a de semear no país um Estado que fosse o sujeito essencial na provisão da habitação e que esse captaria os recursos federais necessários para tanto.

Conforme Royer (2002), havia uma meta de construção de 400 mil unidades habitacionais e o novo conceito da Companhia traria reflexos. Cita-se, contudo, o conceito de

“juros zero”, de áreas “comuns” e de bônus de ordem temporária às famílias que poderiam atingir 5 anos de vigência.

É interessante que Royer (2002) chama a atenção para as principais conquistas dos períodos enfatizados nos parágrafos anteriores. Inicia com a lei do ICMS, aportes do tesouro nacional e meios diversificados para outros aportes (a promulgação do Fundo de Investimento Habitacional e Urbano – FIDHU, é um exemplo dos meios mencionados).

De acordo com a autora (2002, p. 68), esperava-se que a vinculação orçamentária surtisse efeito, o que pode ser observado “Nos primeiros anos, [visto que] os recursos advindos do ICMS viabilizam as metas de construção de empreendimentos que totalizam cerca de 200 mil unidades”. Para tal, é importante citar a Lei n° 7.003/90 que “determina a

alocação dos recursos financeiros diretamente na CDHU” (ROYER, 2002, p. 68), bem como o Decreto n° 31.357/90 que determina 50% dos recursos com destino às famílias com renda de até cinco salários mínimos e com renda comprometida para o financiamento de até 20%.

Entre o Governo Quércia e o Governo Fleury, manteve-se a legislação citada anteriormente e foi criada a Taxa de Provisão de Subsídios “[…] que, integralizada ao preço de venda do imóvel, resulta num mecanismo de transferência de renda das faixas de maior renda para as de menor” (ROYER, 2002, p. 69). Ou seja, os mutuários que apresentassem maior renda para o financiamento arcariam com os subsídios fornecidos para as famílias que apresentaram menor renda. Isso acarretou diversas dissenções entre os mutuários, pois havia prestações diferentes para o mesmo tipo de unidade habitacional.

Conforme Royer (2002), o conceito de subsídio direto surge na Companhia logo no primeiro ano da gestão Quércia. Durante os cálculos para a viabilidade dessa modalidade, essa estratégia foi caracterizada como subsídio cruzado. Embora estudassem outras políticas, o adicional de 1% da alíquota de 17% do ICMS não seria mais destinado em lei para a CDHU a partir de 1998.

Entre os anos de 2007 e 2013 vivia-se, no âmbito federal, a institucionalização e o início da operação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), com a organização do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) (CDHU, 2016).

Isso permitiu que os entes públicos como os municípios, por exemplo, tomassem providências no que se pode mencionar a respeito do território urbano. Nesse sentido, em 2007, o Estado de São Paulo fez sua adesão formal ao SNHIS e, com essa adesão, comprometeu-se a criar um Fundo Habitacional de Interesse Social, com respectivo Conselho Gestor, e a desenvolver o Plano Estadual de Habitação. (CDHU, 2016, p. 342).

A partir dos estudos desenvolvidos no sexto período da história da CDHU, presente no item 4.1, e com a Lei Estadual n° 12.801/2008, que fora regulamentada pelo Decreto n°

53.823/2008, permite-se que as providências fossem tomadas para o Sistema Estadual de Habitação participar do SNHIS e tem-se a instituição do Conselho Estadual de Habitação (CEH), do Fundo Paulista de Habitação de Interesse Social (FPHIS) e do Fundo Garantidor Habitacional (FGH), ou seja, definia-se como estariam dispostos os aportes estaduais voltados para a habitação.

De acordo com a CDHU (2016), o FPHIS resguardava os aportes do subsídio enquanto o FGH deveria provocar recursos advindos da iniciativa privada, visando atender as famílias de baixa renda. Quanto ao CEH, a CDHU (2016) enaltece que suas atividades só iniciaram de fato em dezembro de 2010. Seu corpo colaborativo contava com

[...] seis representantes do poder público estadual, um representante do poder público municipal e sete representantes do poder público estadual, um representante do poder público municipal e sete representantes da sociedade civil – dos quais quatro de organizações populares com atuação comprovada na área de moradia popular, dois de organizações de agentes promotores privados empresariais de HIS e um representante de organização de agentes financeiros privados. (CDHU, 2016, p.

342).

A razão de ser do CEH, de acordo com a CDHU (2016), consistia em propor projetos para desenvolver a política estadual para Habitação de Interesse Social (HIS), acompanhar a evolução desses projetos, bem como tratar da regularização fundiária para a população de mínimo poder aquisitivo, cooperar com os entes federativos com a sociedade, entre outros.

Ademais, o CEH deveria trabalhar a transparência de suas ações, tornando públicas suas ações e instigar fóruns de caráter temático, além de promover conferências habitacionais.

Assim, conforme a CDHU (2016), em 2011 com a operação de fato do FPHIS e do FGH, tem-se instituída o pilar basilar da Secretaria da Habitação, sendo a Agência Paulista de Habitação Social ou, também conhecida como Casa Paulista. Em complemento, com base no Diário Oficial do Estado de São Paulo de 27 de setembro de 2011, foi instituído pelo Decreto n° 57.369 o Programa Casa Paulista Microcrédito/Banco do Povo Paulista e providências, conforme a suma dos artigos a posteriori.

Artigo 1º - Fica instituído o Programa Casa Paulista Microcrédito/Banco do Povo Paulista, objetivando a concessão de financiamentos para a aquisição de material para construção, reforma e ampliação de imóveis residenciais.

Artigo 2º - O Programa instituído por este decreto será executado pela Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho e pela Secretaria da Habitação, de forma integrada e em conformidade com as resoluções do Conselho de Orientação de que trata o artigo 4º.

Artigo 3º - Os financiamentos de que trata este decreto serão concedidos à população com renda familiar mensal de 1 a 5 salários mínimos, utilizando-se de conta exclusiva ou de sub-conta específica do Fundo de Investimentos de Crédito Produtivo Popular de São Paulo. (SÃO PAULO, 2011a)

Ressalta-se que, com base no artigo 3° exposto os financiamentos teriam como público-alvo famílias com rendimentos mensais baixos, sendo eles de 1 a 5 salários-mínimos.

Todavia, é importante ressaltar que não se trata de financiamento de um imóvel e sim um financiamento para materiais de construções, bem como ocorreu com a CDHU com a cesta de materiais.

Em sequência ao referido Decreto, tem-se o Decreto n° 57.370/2011 no mesmo Diário que instituiu a Secretaria da Habitação, a Agência Paulista de Habitação Social - AGÊNCIA – e providências.

Artigo 1º - Fica instituída, na Secretaria da Habitação, diretamente subordinada ao Titular da Pasta, a Agência Paulista de Habitação Social - AGÊNCIA, com a finalidade de fomentar e executar programas e ações na área de habitação de interesse social do Estado e seus municípios, aprovados pelos Conselhos Gestores do Fundo Paulista de Habitação de Interesse Social - FPHIS e do Fundo Garantidor

Habitacional - FGH, instituídos pela Lei nº 12.801, de 15 de janeiro de 2008, regulamentada pelo Decreto nº 53.823, de 15 de dezembro de 2008.

Parágrafo único - A AGÊNCIA integra a estrutura básica da Secretaria da Habitação, reorganizada pelo Decreto nº 34.399, de 18 de dezembro de 1991. (SÃO PAULO, 2011b)

Com isso e conforme a CDHU (2016), a Casa Paulista teria o almejo de atuar lado a lado à SH, fomentar parcerias em essência com o setor privado e focar nos atendimentos de habitação de interesse social. Cabe enfatizar, conforme exposto no artigo 4° do Decreto 57.370/2011 que a agência é um agente executor da política habitacional de interesse social no estado de São Paulo.

De acordo com a CDHU (2016), durante a execução do FPHIS ao estabelecido Plano Plurianual (PPA) de 2012-2015, foram possíveis ações com aportes não onerosos para a concessão de microcrédito para melhorias e de créditos para aquisição de moradias. Contudo, de acordo com a CDHU (2016), o PMCMV ganha espaço no estado de São Paulo a partir da concentração de um montante notório de recursos estaduais do FPHIS. O benefício pôde ser observado para a faixa 1 do programa, que visava atender a famílias cujos rendimentos mensais eram de até R$1.600,00. A CDHU (2016) também enfatiza que foram concedidos em aportes federais, R$20.000,00 por moradia e que em um termo colaborativo de 2012, foi viabilizada a construção de 120 mil unidades habitacionais que contaram, inclusive, com a cooperação da Prefeitura do Município de São Paulo.

No período compreendido entre 2011-2014, a Casa Paulista traria inovações como, por exemplo, uma Parceria Público-Privada (PPP) Habitacional. Conforme a CDHU (2016), foi aprovada pelo Conselho Gestor das Parcerias Público-Privadas (CGPPP) que fora proposta pela SH com intermédio da Casa Paulista. O âmago foi a Área Central do Município de São Paulo e ocorreu em 2012 o Chamamento Público n° 004 com o intento de receber as instruções referentes a oferta de unidades habitacionais de interesse social. Para tal, foram cadastradas 32 empresas no total e ao término do prazo das instruções, cinco delas executaram o proposto.

Não obstante, a Companhia tem enfrentado desafios para a promoção da habitação social, seja na promoção habitacional, “[...] seja na prestação de serviços e no fomento do desenvolvimento urbano” (SH; CDHU, 2020, p. 20).

Nesse sentido e para fazer frente aos desafios citados anteriormente, conforme a SH e CDHU (2020), novos meios foram adotados. Entre eles, alto aporte de recursos por meio do governo federal com a CAIXA, uma vez que a CDHU zelava disponibilização dos terrenos,

dos projetos e trabalhos de cunho social para levantar o público-alvo, entre outros pontos, associados aos subsídios SH/FPHIS através da Casa Paulista.

De acordo com a SH e CDHU (2016), a Companhia foi ampliado horizontes para a obtenção de aportes financeiros para suas atividades, como a captação de fonte internacional por meio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ademais, a CDHU (2016) ressalta um ponto relevante sobre sua atuação, visto que essa se estende além da habitação, por meio: da recuperação urbana e ambiental; e do zela por melhoria na qualidade de vida nos centros urbanos do estado de São Paulo. Junto ao BID, há o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Litoral Paulista, onde estão “[...] previstos valores no montante de US$70 milhões” (SH; CDHU, 2020, p. 20) com o intento de promover urbanização de favelas, recuperação socioambiental e moradias para reassentamento habitacional no município do Guarujá

Desde o final de 2019, a CDHU vem empreendendo esforços na formatação de propostas para parcerias público privadas, visando a consecução de projetos de impacto regional e socioambiental, tendo sido já formatadas 5 propostas (que foram submetidas à Plataforma Digital de Parcerias do Governo do Estado de São Paulo, sendo uma com parecer favorável) e uma em preparação. São projetos de habitação, desenvolvimento urbano, implantação de parque urbanos e recuperação ambiental, num montante de 40,8 mil novas moradias 3,5 mil urbanizações, em valores da ordem de R$ 7 bilhões. (SH; CDHU, 2020, p. 20).

No intuito de esclarecer a parte estrutural, a Figura 9 demonstra a Estrutura Institucional do Setor Habitacional no estado de São Paulo.

Figura 9- Estrutura Institucional do Setor Habitacional

Fonte: adaptado de CDHU (2016).

A partir do exposto, ficou claro que, junto à história da CDHU, o estado de São Paulo necessitava de maior autonomia financeira para executar sua política habitacional, como o percentual do ICMS ad hoc. Medidas de recálculo a partir do referido ICMS como a política de subsídios possibilitaram melhoria para a situação de pagamento para os mutuários. Medida que é mantida até o ano final (2020) do recorte temporal deste estudo.