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Revista do Programa de Direito da União Europeia, n° 4

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Academic year: 2017

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PROGRAMA DE DIREITO

DA UNIÃO EUROPEIA

Módulo Europeu

Programa Jean Monnet

Organizadora

Paula Wojcikiewicz Almeida

(2)

MÓDULO EUROPEU DO PROGRAMA JEAN MONNET

(3)

Rio de Janeiro | RJ | Brasil | CEP: 22250-900 55 (21) 3799-5445

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MÓDULO EUROPEU DO PROGRAMA JEAN MONNET DA FGV DIREITO RIO

ORGANIZADORA

(5)

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Fechamento da 1ª edição em fevereiro de 2015

Este livro consta na Divisão de Depósito Legal da Biblioteca Nacional.

Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade dos autores.

Coordenação: Sacha Mofreita Leite, Thaís Teixeira Mesquita e Rodrigo Vianna Capa: Thales Estefani — Atualização da FGV DIREITO RIO

Diagramação: Leandro Collares – Selênia Serviços Revisão: Vânia Maria Castro de Azevedo

Ficha catalográica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen / FGV

Revista do Programa de Direito da União Europeia: módulo eu-ropeu do Programa Jean Monnet da FGV DIREITO RIO. – N.4 (2015) –. – Rio de Janeiro: FGV DIREITO RIO, 2015.

192 p.

Organizadora: Paula Wojcikiewicz Almeida. Inclui bibliograia.

ISBN: 978-85-63265-45-6

1. União Europeia – Periódicos. 2. Direito internacional público – Periódicos. I. Almeida, Paula Wojcikiewicz. II. Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas.

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I — APRESENTAÇÃO DA OBRA 7

II — ARTIGOS 11

A POLÍTICA CULTURAL DA UNIÃO EUROPEIA COMO FATOR DE

INTEGRAÇÃO COMUNITÁRIA E PROMOÇÃO DO MULTICULTURALISMO 13

AlexAndre dAntAs

HARMONIZAÇÃO FISCAL INTERNACIONAL: ANÁLISE COMPARATIVA DA PROPOSTA DE DIRETIVA EUROPEIA COM (2011) 121/4 E SUA POSSÍVEL

ADAPTAÇÃO NO CONTEXTO DO MERCOSUL 35

AnA sofiA CArdoso Monteiro

A RELAÇÃO ENTRE A INFLAÇÃO INSTITUCIONAL EUROPEIA E O FENÔMENO DO DÉFICIT DEMOCRÁTICO: UMA ANÁLISE DA CONDIÇÃO

SOCIOECONÔMICA GREGA NA CRISE DO EURO 53

HelenA CHerMont BrAndão

A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA UNIÃO EUROPEIA: DO SILÊNCIO INICIAL DOS TRATADOS À ADESÃO À CONVENÇÃO EUROPEIA

DE DIREITOS HUMANOS 77

ivAn viAnnAde freitAs

A DECISÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA NOS CASOS C‑71/11 E C‑99/11: UMA ANÁLISE DA CONDIÇÃO DO REFUGIADO NO

DIREITO EUROPEU 101

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nAtáliA CoutinHo Pontes

MECANISMOS DE COOPERAÇÃO JURÍDICA EM MATÉRIA CIVIL PARA OBTENÇÃO DE PROVAS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO REGIONAIS:

ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DA UNIÃO EUROPEIA E DO MERCOSUL 151

Pietro de BiAse d. diAs

A RELAÇÃO ENTRE UNIÃO EUROPEIA E A QUESTÃO PRIORITÁRIA DE

CONSTITUCIONALIDADE DO DIREITO FRANCÊS 165

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Apresento ao leitor o quarto volume da Revista do Programa de Direito da União Europeia. O livro constitui uma publicação dos trabalhos de conclusão de curso dos alunos inscritos e selecionados no Módulo Europeu do Programa Jean Monnet de Direito da União Europeia da FGV DIREITO RIO. A FGV DIREI-TO RIO é uma das poucas Instituições de Ensino Superior do Brasil eleitas para contar com o apoio institucional e inanceiro da Comissão Europeia.

O Programa de Direito da União Europeia é um curso inovador, realizado no âmbito do Programa Jean Monnet, capitaneado pela Comissão Europeia, que se insere no objetivo do bloco de estimular o ensino, a pesquisa e a re-lexão de temas relacionados à integração europeia em instituições de ensino superior dentro e fora da União. É com este objetivo que é publicado o quarto volume da Revista, que conta com trabalhos de alunos internos e externos à FGV DIREITO RIO.

O Programa possui a duração de um semestre e é ministrado nas insta-lações da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro. O curso possui enfoque no Direito Institucional da União Europeia, bem como em áreas substantivas como Direito da Sociedade da Informação, Direito Am-biental e Direito da Concorrência da União Europeia. A interdisciplinaridade constitui a maior riqueza e atratividade do curso, e se relete igualmente na presente publicação.

Os trabalhos ora apresentados relacionam-se com os assuntos tratados durante o curso, mas não se limitam a eles. A presente edição traz sete contri-buições acerca de temas importantes e atuais da integração europeia.

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A segunda contribuição, da aluna Ana Soia Cardoso Monteiro, traz uma análise comparativa da proposta de diretiva europeia COM (2011) 121/4 e sua possível adaptação no contexto do Mercosul. Entendendo a relevância da pos-sível diretiva, assim como as tendências globais do intercâmbio de políticas institucionais, seu trabalho analisa a possível implementação de uma harmoni-zação tributária análoga, no contexto do Mercosul, especialmente vislumbran-do o impacto signiicativo desse estuvislumbran-do na tomada de decisão de investivislumbran-dores interessados no cenário latino-americano.

O terceiro artigo é de autoria da aluna Helena Chermont Brandão. Neste trabalho, a autora analisa se o grande número de instituições para a consoli-dação do direito comunitário europeu é condição sine qua non à existência do déicit democrático, além de propor uma relexão acerca da relação direta en-tre estes dois fenômenos, tendo como exemplo a condição econômico-social da Grécia no “olho do furacão” da crise do euro.

O trabalho do aluno Ivan Vianna de Freitas versa sobre como se deu a evo-lução dos direitos fundamentais no âmbito das comunidades europeias, atual União Europeia. O artigo expõe a omissão dos tratados originários da UE sobre o tema e explica o porquê de tal silêncio. Em seguida, explora a evolução juris-prudencial no sentido de assegurar os direitos fundamentais no bloco, e o faz demonstrando tanto os casos julgados pelas cortes constitucionais nacionais quanto os pelo Tribunal de Justiça da UE. Dedica-se, também, a explorar a Carta Europeia de Direitos Fundamentais, o processo de adesão da UE à Con-venção Europeia de Direitos Humanos e como esse processo se coaduna com o Direito Internacional dos Direitos Humanos.

A aluna Jéssica Luciano Gomes faz uma análise da condição do refugiado no direito europeu com base nas decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia nos casos C-71/11 e C-99/11, com o intuito de compreender a atuação do bloco sob temas como direitos humanos e a integração da sociedade civil europeia, cujo papel tornou-se secundário no processo de integração se com-parados a questões comerciais, inanceiras e políticas.

A aluna Natália Coutinho Pires busca analisar, em seu artigo, a política migratória da União Europeia, mais especiicamente a política de concessão de asilo e seus mecanismos, bem como importantes aspectos do fenômeno que implica o aumento do luxo de migrantes em direção ao bloco, em especial aqueles necessitados de proteção internacional, e como tem sido dada uma resposta à questão.

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em matéria civil por meio da análise do caso Hoge Raad der Nederlanden julga-do pela corte Europeia em 2011. Além disso, o autor faz uma breve comparação entre o diploma europeu e o protocolo de Las Leñas, de modo a abrir uma re-lexão acerca da aplicabilidade deste último pelos Estados-Partes do Mercosul. A última contribuição, da aluna Livia Ferreira, buscou analisar o modelo de controle de constitucionalidade francês e a aprovação, em 2008, da Lei Cons-titucional que inseriu no ordenamento jurídico francês a Questão Prioritária de Constitucionalidade, mecanismo que confere aos litigantes a prerrogativa de contestarem a constitucionalidade de uma disposição legislativa que julguem ser violadora de seus direitos e liberdades constitucionais, criando assim um modelo de controle de constitucionalidade repressivo. O estudo contribui com a análise das características da QPC e suas relações com o já existente controle de convencionalidade — que examina a compatibilidade entre compromissos internacionais e a lei interna, avaliando a possibilidade de compatibilização.

Todos os tópicos abordados demonstram que o quarto volume da Revista do Programa de Direito da União Europeia vem igualmente contribuir para o estudo do direito do bloco no Brasil, favorecendo a difusão e pesquisa de te-mas relevantes e atuais cuja importância aigura-se crescente.

No término dessa apresentação, gostaria de agradecer a todos que, direta ou indiretamente, tornaram possível a elaboração deste livro, em especial, os estagiários do Centro de Justiça e Sociedade (CJUS da FGV DIREITO RIO), bem como os alunos que se destacaram no curso em virtude da qualidade de seus trabalhos que ora são publicados e os professores convidados que parti-ciparam e enriqueceram o Programa.

Paula Wojcikiewicz Almeida Coordenadora do Módulo Europeu do Programa Jean Monnet

de Direito da União Europeia da FGV DIREITO RIO.1

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AlexAndre dAntAs1

Resumo

A Europa há muito tempo tem congregado vasta diversidade cultural; bas-ta observar as grandes civilizações que no seu seio se desenvolveram. Nes-te sentido, partindo da constatação desta diversidade, esNes-te artigo objetiva primeiramente analisar como se dá a integração cultural entre os Estados--Membros da União Europeia. Secundariamente, tentar-se-á entender como as políticas culturais desenvolvidas pelo bloco agem de forma prática na in-tegração comunitária e na promoção do multiculturalismo. Os dois objetivos se integram na tentativa de provar a veracidade da hipótese: a cultura é forte fator de integração comunitária e promoção do multiculturalismo, quando são observadas as políticas culturais desenvolvidas pela UE. Expande-se, com isso, a noção de União Europeia para além dos motivos econômicos. Para tornar o artigo mais bem fundamentado, será realizado acoplamento entre o presente estudo jurídico e o Cinema, uma vez que este último oferece recur-sos intelectivos complementares. Assim, o ilme português de título “Um ilme falado” será utilizado, tendo em vista que congrega toda a riqueza cultural europeia e propõe, a partir de suas imagens, construções teóricas que serão elucidadas posteriormente.

Palavras‑chave

União Europeia, Direito e Cinema, Política Cultural, Multiculturalismo, Direito Comunitário.

Introdução

Encontrando origem na Grécia, o conceito de cultura passou por diferentes sig-niicações durante a história da humanidade. No meio desse processo, a cultura

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europeia se colocou como molde civilizatório2. Isso se fez possível tendo em vista o fato de que a Europa, desde muito tempo, já possuía produção cultural relevante a ponto de inluenciar o globo.

É por meio dessa constatação que a riqueza cultural europeia pode ser utilizada como fator de integração. Indo, portanto, além do modelo de coope-ração entre os Estados somente por motivos econômicos, à medida que for-talece os laços entre os Estados-Membros da UE. Ainda mais depois da crise econômica de 2008, cujos efeitos ainda se fazem presentes até hoje.

Neste cenário, são veriicados outros meios necessários na construção do bloco europeu para além das já estabelecidas relações econômicas3, o que so-lidiica a superação do modelo proposto primeiramente pela Comunidade Eu-ropeia do Carvão e do Aço4.

O que vale ser destacado é que a integração aqui defendida deve ser feita em moldes democráticos através de uma cidadania cultural5, que se propõe a elencar a população como propulsora da construção do bem cultural6 comum. E é aí que se ixa a questão que será analisada, já que a aceitação e o intercâm-bio entre as diversas culturas europeias na construção de uma memória7 única se põe como de difícil execução.

Dada a análise genérica do tema a ser trabalhado, cabe destacar que o mesmo se justiica e se faz importante averiguada a relevância do debate mul-ticultural, ainda mais em tempos de crescente globalização. Compreender o respeito e o diálogo cultural na construção de um Direito Comunitário bem sucedido é de fundamental valia no fortalecimento de laços supranacionais. Entender o funcionamento na União Europeia, modelo de integração para o globo, dentro desse contexto, torna possível a aplicação do que foi estudado para outras partes do mundo.

De forma paralela e complementar, faz-se importante ressaltar que será utilizada uma obra cinematográica para aperfeiçoar o estudo. Tal obra, de

2 CHAUI, Marilena. Cultura e democracia. In: Crítica y emancipación: Revista latinoamericana de Ciencias Sociales. Ano 1, Nº 1, pp. 53-76, p. 55. Buenos Aires: CLASCO, 2008. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/CyE/cye3S2a.pdf>. Acesso em: 25 de maio de 2014.

3 HABERMAS, J. Sobre a Constituição da Europa. São Paulo: UNESP, 2012.

4 Estabelecido pelo Tratado de Paris em 1951, foi o modelo incipiente de integração econô-mica europeia.

5 CHAUI, Marilena, op. cit., p. 66.

6 FRIGO, Manlio. Cultural property v. cultural heritage: A ‘battle of concepts’ in international law?, International Review of the Red Cross, 2004, Vol. 86, N. 854, pp. 367-378. Disponível em <http://www.icrc.org/eng/assets/iles/other/irrc_854_frigo.pdf>. Acesso em: 25 de maio de 2014.

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nome “Um ilme falado”8, possibilitará o vislumbramento, por meio de outro ponto de vista, das explanações teóricas jurídicas que serão seguidamente postas.

Assim sendo, iguram dois objetivos. O primeiro se ixa na veriicação da riqueza cultural europeia por meio do Cinema, com posterior análise da forma que se dá a integração cultural entre os Estados-Membros da UE. O segundo e consequente procura entender a aplicação prática das políticas culturais no bloco para a construção do Direito Comunitário europeu9 como um todo. O que se depura, no meio da persecução desses objetivos, é a hipótese de que a cultura serve como fator de integração e promoção do multiculturalismo, sen-do as políticas culturais da UE aliadas nesse processo.

Procurando atender aos objetivos estipulados, far-se-á, primeiramente, um estudo detido sobre o ilme já citado, com seguida constatação da riqueza cultural europeia. Posteriormente, haverá justiicativa teórica para o uso do Ci-nema na construção do presente artigo; procurar-se-á, em meio a isso, estabe-lecer ligação entre o Direito e o Cinema, tornando legítima a utilização de um ilme no processo de construção intelectiva.

O debate do multiculturalismo aparece logo após, bem como os problemas decorrentes de sua implementação. Aí podem ser citadas, a priori, as imigra-ções10 que vêm endossar o conturbado processo de realização de um discurso cultural único na Europa. De maneira correlata, será construída escrita detida sobre as diretrizes legais da União Europeia em torno da cultura, bem como as políticas culturais que são desenvolvidas por meio de vários programas. Por im, será proposta solução no sentido de construir discurso possível em torno da promoção multicultural e fortalecimento comunitário por meio da cultura.

1. “Um ilme falado” e a constatação da diversidade cultural

europeia

Fato consideravelmente banal de se compreender é a riqueza cultural euro-peia, uma vez que países de forte identidade cultural ali se fazem presentes. O interessante é, por outra via, chegar a essa mesma conclusão sensibilizado por imagens e diálogos. É exatamente o que se pretende fazer por meio de “Um ilme falado”.

8 Filme de produção portuguesa, sob direção de Manoel de Oliveira.

9 CAMPOS, João Mota. Manual de Direito Comunitário. 2ª Ed. Brasileira, Curitiba: Juruá Edito-ra, 2008.

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O referido ilme é de produção portuguesa, datado de 2003 e dirigido por Manoel de Oliveira11. Como forma de traçar breve sinopse, temos que uma professora de história, acompanhada de sua ilha, ingressa em um cruzeiro ob-jetivando encontrar seu marido, que está em Bombaim. É nessa jornada que ela passa por várias cidades propulsoras da herança cultural histórica12 da Europa, servindo o trajeto realizado pela protagonista de fundamental valia para as constatações seguidamente postas.

Rosa Maria, a protagonista, passa por vários lugares, dentre eles Atenas, Nápoles e Marselha. São nessas passagens que se pode veriicar a diversidade presente na Europa, seja pelas formas arquitetônicas, seja pelas línguas. Cons-tata-se, pela sensibilização visual, que a Europa é um grande berço cultural, congregando variados povos e tendo a herança das grandes civilizações que ali se desenvolveram. Nas palavras de Demétrio Magnoli, a Europa possui “uma herança ou, mais precisamente, um conjunto de heranças superpostas, forma-das pela atividade forma-das sociedades e pelas ideias inventaforma-das pelos homens”13.

Na segunda parte do ilme, o aspecto linguístico ica demarcado. As cenas que mostram o jantar do comandante do navio com as personagens que foram incorporadas à trama tornam nítido tal aspecto. Isso quando podemos presen-ciar a conversa entre as personagens em diversas línguas, o que demostra que a Europa abarca no seu seio diversidade linguística considerável, demarcando, mais uma vez, sua riqueza cultural. Ao longo do ilme, percebem-se falas em português, italiano, grego, inglês e francês.

Outro quesito que comprova a diversidade cultural da Europa é a religião. A cena em que mãe e ilha, cristãs romanas, visitam as acrópoles gregas e en-contram um padre ortodoxo, que as explicam o politeísmo dessa civilização, demarca bem tal aspecto. Podemos veriicar, por meio das poucas persona-gens da cena, a rica multiplicidade religiosa presente em território europeu.

Assim sendo, pôde ser veriicado, por meio da sensibilização artística do ilme utilizado, que a Europa congrega diversidade cultural relevante. Obser-vando a variedades de povos, línguas, religiões, dentre outros quesitos rela-tivos à cultura, torna-se essencial aplicar tal riqueza na integração regional e fortalecimento do entendimento dos Estados-Membros da União Europeia como bloco.

11 Cineasta português considerado como o mais velho em atividade. Recebeu, em 2008, o Prêmio Mundial do Humanismo. Dentre os 32 longas-metragens pela carreira, destacam-se, além do utilizado no presente artigo, “Cada um com seu cinema”, “O convento” e “Singula-ridades de uma rapariga loura”.

12 CONTRERA, Ximena I. Léon. Um ilme falado: a história e o Mediterrâneo na obra de Manoel

de Oliveira. 2012. 254f. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Filosoia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

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Como já relatado, foi utilizado uma obra cinematográica para entender as constatações feitas. Cabe, agora, elaborar quadro teórico no sentido de forne-cer encadeamento lógico para a utilização do Cinema como ponte de inferên-cia de estudos jurídicos.

2. Acoplamento estrutural Direito e Cinema

Complexos e incontáveis processos de formação estrutural demarcam a socie-dade, sendo tal complexidade o problema básico atual dos sistemas sociais. É vivenciado um momento de contingência constante, ou seja, há a possibilidade de fácil conversão dos fatos do mundo.

Niklas Luhmann, nesse contexto, elenca o Direito como propulsor da es-tabilidade temporal, social, e material das expectativas de comportamento. O que está normatizado elencará as probabilidades das ações humanas. Logo, é desenhado um quadro de um subsistema, assim deinido por Luhmann.

O Direito, que é esse subsistema social, é autopoiético14. Ao tornar clarivi-dente a certiicação de tal airmação, temos que o Direito se autoproduz com base no seu modelo criacional positivista, gerando um sistema de retroalimen-tação.

Adiante, asseguremos que os sistemas presentes no todo social se comu-nicam e dessa forma não vivem isoladamente. Assim sendo, o Direito, por mais que seja autopoiético, se faz presente na comunicação com outros sistemas. É no esclarecimento de tal airmativa que Luhmann airma que “a sociedade é o sistema abrangente de todas as comunicações, que se reproduz autopoietica-mente, na medida em que produzem, na rede de conexão recursiva de comu-nicações [...]15”.

Partindo do pressuposto de que o Direito é um subsistema que se comu-nica e se relaciona com outros subsistemas é que podemos alcançar a locali-zação do Cinema em meio a presente explanação teórica. Em outras palavras, constatamos que não deve haver restrição do sistema jurídico a um aparelho positivo que elenca condutas. Justamente pelo fato de ele possuir um caráter sensível que, quando acionado, possibilita a acedência de outras comunica-ções, o que provocará, por im, mais comunicações.

Paralelamente a esse processo, tendo em vista a matriz conceitual luhman-niana, pode-se entender que a comunicação dos subsistemas instrumentaliza-da pelo acoplamento estrutural torna possível a reprodução sistêmica unívoca.

14 Termo de origem observada na biologia para aferir a capacidade dos seres vivos se autor-reproduzirem. Foi adaptado para o contexto das ciências sociais na década de 80, consis-tindo em um método de observação social por LUHMANN, Niklas. El derecho de la socieda-de. 2ed, México: Heder; Universidad Iberoamericana, 2005.

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Dessa maneira, o acoplamento entre Direito e Cinema permite a reconstrução e ressigniicação do próprio Direito por meio da Arte. Veriica-se, portanto, um processo primordial no qual o Direito pode ser revisto partindo de uma pers-pectiva diferente, lançando um olhar mais sensível sobre si mesmo e sobre o mundo. A utilização da imagem-movimento16 sensibiliza as consciências, dado que funciona como forma de linguagem, o que desemboca em uma aferição do Direito de forma mais precisa.

Partindo do panorama que ingressa na tentativa de explicar a possibili-dade de união do Direito com a Arte, temos que o recurso à sensibilização da imaginação e estética possibilita a transformação e enriquecimento estrutural do Direito. Inferimos, portanto, como medida conclusiva, que:

Consciências sensibilizadas pelo cinema mobilizam a linguagem e com ela certos sentidos condensados para produzir comunicação ju-rídica a partir da comunicação, direta ou indireta, da arte acerca do direito17.

Tendo em vista a justiicação feita em torno do acoplamento estrutural entre Direito e Cinema, endossemos o fato de que tal linguagem artística, como ponte comunicacional, torna-se suicientemente aplicável ao tema aqui em de-bate. Observar a riqueza cultural da Europa por meio da própria Arte, e a partir disso aplicar aos estudos jurídicos é estruturalmente fortiicante. Pode-se en-tender o fenômeno fruto do trabalho partindo de vieses distintos, mas comple-mentares. Portanto, a utilização do ilme “Um ilme falado” é cabível e aplicável, dado que faz valer um ponto de vista distinto e aperfeiçoado, sendo, ainda, comprovante fático da transdisciplinariedade aqui empregada.

3. O debate multicultural no processo de integração comunitária

da UE

Comprovada a riqueza cultural europeia já tão referida, deve-se debater a uti-lização dessa riqueza como meio de integração. Em outras palavras, compre-ender como a União Europeia se aproveita desse aspecto para se fortalecer é o objetivo central do presente capítulo.

Há de se expor, prima facie, o que vem a ser o multiculturalismo, que aco-berta toda a pluralidade posta. Podemos entender multiculturalismo como

sen-16 DELEUZE, Gilles. A imagem movimento. Cinema 1. Tradução Rafael Godinho. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004.

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do uma maneira de explicar a aceitação do diverso em tempos atuais18; tempos estes que se caracterizam pela ligação e aproximação de países culturalmente distintos. Agrega, portanto, aceitação e bom convívio entre estados multina-cionais, bem como a inclusão de grupos minoritários, como imigrantes, homos-sexuais e mulheres.

É nesse contexto de multiculturalismo que a UE deveria agir, no intuito de fazer valer e aceitar o rico universo de seu povo, apropriando-se disso como maneira de fortalecer-se como bloco. Aliadas nesse processo de promoção do multiculturalismo estão as políticas de reconhecimento19, que são as ações que as instituições públicas devem tomar no sentido de incluir as minorias e promover os Direitos Humanos. É a instrumentalização do multiculturalismo em termos executórios.

Na expectativa de justiicar a promoção do multiculturalismo por meio das políticas de reconhecimento, podemos expor alguns argumentos princi-pais. Primeiramente, temos que a cultura possibilita o olhar sensível a temas e é determinante na diplomacia entre os países20. Por isso, pode funcionar como

soft power21na tentativa de propiciar comunicação entre os diversos valores

europeus e trazer uma diplomacia cultural22. Dessa forma, na medida em que os Estados-Membros da UE se comunicam e aproximam seus laços diplomáticos por meio da cultura, conlitos futuros podem ser dirimidos e uma boa convi-vência no bloco pode ser perpetrada, o que endossa a integração comunitária. Posteriormente, há de se alegar que, em termos econômicos, aceitar e promover a heterogeneidade cultural é mais lucrativo se compararmos com os custos decorrentes da permanência da discriminação nos estados-nação23. De

18 NEUENSCHWANDER M., Juliana. Direitos humanos e o (im?) do multiculturalismo. In: BELLO, Enzo. Ensaios críticos sobre Direitos humanos e Constitucionalismo. Caxias do Sul (RS): Educs, 2012, pp.171-191, p. 174.

Disponível em: <http://www.ucs.br/site/midia/arquivos/Ensaios_criticos_sobre_direitos_hu-manos.pdf>. Acesso em: 18 de abril de 2014.

19 TAYLOR, Charles. The politics of recognition. Priceton: Priceton University Press, 1992. 20 WEEKS, Gregory; STOEV, Stefan. Bringing Cultures Together Through the Arts to

Faci-litate Cultural Diplomacy in the Context of the European Project. The 2011 International Conference on Cultural Diplomacy in the EU “Crisis, Conlict, and Culture: The Role of Cul-tural Diplomacy in the European Project”. Bruxelas: 2011, p.1. Disponível em: <http://www. culturaldiplomacy.org/culturaldiplomacynews/participa nt-papers/2011-12-cdeu/Bringing--Cultures-Together-Through-the- Arts-to-Facilitate-Cultural-Diplomacy-in-the-Context-of--the- European-Project-Dr.-Stefan-Stoev.pdf>. Acesso em: 25 de maio de 2014.

21 Termo desenvolvido por Joseph S. Ney para designar a inluência política de um estado frente a outro por meio da cultura e ideologia. Contrasta-se com hard power, tendo em vista que este se resume ao fato de um país exercer sua inluência usando como base a tecnologia militar, o PIB etc.

22 WEEKS, Gregory; STOEV, Stefan, op. cit., p.3.

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<http://bookshop.europa.eu/en/cultural-diversitypbQ-forma exempliicativa, foi realizada pesquisa que comprovou como mínimos os gastos na promoção educacional bilíngue24. Por outro lado, a discrimina-ção custa caro, na medida em que a produtividade das empresas diminui. Isso, levando em consideração que os funcionários em exercício são de grupos fa-vorecidos, mas não apresentam, necessariamente, melhor potencial produtivo que mão de obra imigrante, por exemplo, que é descartada, por ser grupo minoritário25. Além disso, a diversidade representa múltiplos interesses. Haja vista, quando uma empresa possui funcionários múltiplos, consegue oferecer produtos e serviços de maior qualidade, bem como apresenta melhor solução para possíveis problemas, tendo em vista a diversidade de visões26.

De forma resumida, temos que aceitar que a diversidade em território eu-ropeu é vantagem econômica, política, social, diplomática. Destacam-se, por-tanto, as palavras de Klaus-Dleter Borchardt:

[...] A ideia não é dissolver os Estados-Membros frente a UE, mas sim que eles contribuam com suas qualidades particulares. É precisamen-te essa variedade de caracprecisamen-terísticas e identidades nacionais que em-presta à UE sua autoridade moral, que, por sua vez, é usada em bene-fício da UE como um todo27.

Entretanto, existem certas diiculdades no que concerne à implementação de um discurso multicultural único europeu. A matriz geral desse problema se dá na contraposição entre respeitar as culturas internas e construir uma iden-tidade cultural europeia. Em outras palavras, é um desaio congregar a cultura de todos os países como medida de integração comunitária.

Um primeiro problema observado se concentra em torno do cerceamento da livre prestação de serviços sob justiicativa de ordem cultural interna. De acordo com o artigo 56 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) é princípio da União Europeia a livre prestação de serviços. Contudo, a

MAM13004/? CatalogCategoryID=ANIKABstUgUAAAEjCJEY4e5L>. Acesso em: 25 de maio de 2014.

24 GRIN, Fronçois. On the Costs of Cultural Diversity. Genebra: Ph. Van Parijs (ed.) Cultural Diversity versus Economic Soli darity, De Boek, 2004, pp.189-202apud ibid., pp. 3 — 4. 25 HEATH, A.; CHEUNG, S. Ethnic Minorities in Western Labour Markets. Proceedings of the

British Academy 137. Oxford: Oxford University Press for the British Academy apud ibid., p. 5.

26 COX, Taylor. Creating the Multicultural Organiza tion: A Strategy for Capturing the Power of Diversity. San Fran cisco, CA: Jossey-Bass, 2001 apud ibid., p. 6.

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jurisprudência entende que esse princípio deve ser contido em casos que afete a cultura interna de cada país28. O que acaba originando “feudos” culturais cria-dos com objetivos latentes de ordem econômica. Quer-se dizer que, por moti-vos econômicos, algum país pode frear a livre circulação de serviços de outro sob falsa justiicativa de ordem cultural. Em meio a isso, surge uma dúvida já citada: como desenvolver um aprofundamento das relações da UE, atingindo aí um aspecto cultural comum, se é possível criar uma barreira dita cultural com fundo exclusivamente econômico?

No que tange ao direito das minorias dentro do bloco, alguns problemas também são observados29. Um deles foi o recente debate em torno da proibi-ção do uso de véus na França30, o que comprova certo atrito na aceitação da diversidade religiosa no local. Em questões de minorias linguísticas, há o pro-blema na Espanha, onde o castelhano se sobrepõe frente aos outros idiomas cooiciais31, que são falados em espaços delimitados.

Além desses exemplos, ainda se observam os ciganos, que são desampa-rados juridicamente, como também alguns povos que ainda tentam sua inde-pendência, por exemplo, os lamengos na Bélgica. Em nível mais generalizado, a xenofobia que acompanha os luxos migratórios ratiica certa diiculdade da promoção do multiculturalismo no continente Europeu.

Discursos de chefes de Estados também vêm diicultar a incorporação da diversidade cultural na Europa como fator de integração e fortalecimento dos/ entre os Países-Membros da UE. Nesse sentido, o primeiro-ministro James Ca-meron, em 2011, declarou o im da política multicultural da Grã-Bretanha32. Em 2010, Ângela Merkel explicitou a diiculdade que era a convivência dos alemães para com os trabalhadores estrangeiros33. Isso só comprova a diiculdade que ainda existe em atentar ao plural.

28 TJCE, 25 de julho de 1991, Collectieve Antennevoorziening Gouda, caso C-288/89. 29 LIMA, Sarah. União Europeia e Multiculturalismo: a construção de uma nova ordem mundial.

In: CONPEDI, 19., 2010. Fortaleza. Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI. Florianópo-lis: Fundação Boiteux, 2010, pp. 3564 — 3571, p. 3568. Disponível em: <http://www.conpedi. org.br/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3113.pdf>. Acesso em: 18 de abril de 2014. 30 ERLANGER, Esteven. France enforces ban on full-face veils in public: The New York

Ti-mes, Vénissieux, 11 de abril de 2011. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2011/04/12/ world/europe/12france.html>. Acesso em: 04 de junho de 2014.

31 JAMÓN, Ruan. Por una ley de lenguas (de una maldita vez): El pais, Madrid, 07 de maio de 2013. Disponível em: <http://elpais.com/elpais/2013/04/19/opinion/1366392862_518367. html>. Acesso em: 04 de junho de 2014.

32 WRIGHT, Oliver; TAYLOR, Jerome. Cameron: my war on multiculturalism: The independent, Londres, 05 de fevereiro de 2011. Disponível em: <http://www.independent.co.uk/news/ uk/politics/cameron-my-war-on-multiculturalism-2205074.html>. Acesso em: 04 de junho de 2014.

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Sob esta égide, mesmo se comprovando teoricamente a importância do multiculturalismo no processo de construção de uma União Europeia mais for-te e conscienfor-te, são observadas algumas diiculdades. Seja pelo discurso de alguns chefes de Estado, seja pela discriminação religiosa, linguística etc. Po-líticas devem ser tomadas no sentido de dirimir a distância entre os países e os povos.

4. As diretrizes legais e as políticas implementadas

No objetivo de desenvolver um aspecto cultural único na Europa, com con-sequente retaliação de alguns dos problemas apontados do capítulo anterior, vale dizer que a União Europeia caminha no sentido de estabelecer diretrizes legais e políticas públicas. Só em 1992, apesar dos esforços desde a década de 1970, o Tratado de Maastricht, no artigo 128, apontou a igura da cultura como fator determinante na construção europeia, que veio a ser endossada e melhor estruturada nos tratados seguintes.

Tratando dos textos legais atuais que estipulam a importância do quesito cultural na vida comunitária da UE, podem ser encontrados alguns dispositivos. Têm-se o Título XVIII (Artigo 167) 34 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE), que ressalta a contribuição da União na promoção da cultura dos Estados-Membros, com respeito às particularidades de cada país; estipula algumas ações a serem tomadas no objetivo de propiciar cooperação entre os Estados-Membros; bem como elenca atribuições ao Parlamento e ao Conselho Europeu relativas ao assunto. O Conselho, inclusive, conforme esti-pula o artigo 207, n° 4, a do TFUE, é o único responsável por negociar acordos

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nos domínios cultural e audiovisual, quando esses acordos forem passíveis de prejudicar a diversidade linguística e cultural da União.

Além disso, ainda é possível encontrar alguns artigos que, ao menos in-diretamente, tratam do tema: artigos 36 e 165, n° 1 do TFUE, e artigo 2º, n° 3 do TUE-Lisboa. Eles abordam, respectivamente, a restrição de importações e exportações em casos que visem a não preservação do patrimônio cultural; a perseguição de uma política educacional que promova a diversidade cultural e linguística; e o fato de a União respeitar a diversidade cultural e linguística, cui-dando do seu patrimônio histórico. Em termos práticos, as diretrizes legais es-tipulam divulgação da cultura europeia, realização de intercâmbios, conserva-ção do patrimônio cultural, criaconserva-ção artística como um todo e cooperaconserva-ção com países externos à UE. A Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia, no preâmbulo e no seu artigo 22, também consolida o entendimento do bloco na matéria aqui trabalhada, ao defender o respeito à diversidade linguística, cultu-ral e religiosa, bem como a preservação dessa diversidade.

Fato que deve ser enfatizado é que na construção do Direito Comunitário europeu, alguns princípios devem ser seguidos: aplicabilidade direta35, ou seja, uma norma comunitária sendo publicada já passa a valer, não necessitando internalização dos ordenamentos jurídicos nacionais; primazia do Direito Co-munitário36, ou seja, o Direito da UE é superior aos próprios direitos nacionais; e o efeito direto37, que revela o fato de o bloco produzir efeitos no patrimônio jurídico dos indivíduos.

O que ica assentado é que os princípios caminham na instauração de um Direito supranacional. Entretanto, deve-se agregar a isso o conceito de com-petências legislativas38: competência exclusiva, competência de apoio e com-petência partilhada. A primeira comcom-petência são matérias nas quais somente a União pode legislar, a segunda se refere àquela na qual a União apoia a ação dos Estados-Membros e a terceira ocorre quando União e estados comparti-lham a competência pelo princípio da subsidiariedade39.

35 Previsto no artigo 288 do TFUE.

36 Estabelecido jurisprudencialmente pelo TJCE, 15 de julho de 1964, Flamino Costa contra E.N.E.L., caso C-6/64. O reenvio prejudicial ajuda na consolidação desse princípio, na me-dida em que concilia os diversos tribunais nacionais entre si e entre o próprio Direito do bloco. Funciona no caso de um juiz ter dúvidas sobre a aplicação do Direito Comunitário e a partir disso remeter o caso ao TJUE.

37 Estabelecido jurisprudencialmente pelo TJCE, 05 de fevereiro de 1963, Van Gend & Loos contra Administração Fiscal neerlandesa, caso C-26/62.

38 GOMES, Eduardo. União Europeia e Multiculturalismo - O Diálogo entre a Democracia e os Direitos Fundamentais. Curitiba: Juruá Editora, 2010, p. 20.

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A importância de fazer esse resgaste se dá na medida em que identiica-mos as políticas culturais como competência regida pela subsidiariedade. Des-sa forma, a União só adotará medidas culturais quando os Estados-Membros não conseguirem alcançar os objetivos perseguidos por toda a UE, como ob-servado no art. 6°, c, do TFUE. Resumidamente, temos que a integração comu-nitária, no que se refere à cultura, se dá no âmbito da competência partilhada.

A política cultural, ainda, é esboçada em algumas frentes básicas40. São a divulgação cultural, a preservação do patrimônio cultural, as trocas e a criação cultural. Elas se unem na execução de alguns programas que visam, em última medida, ao respeito às identidades nacionais dos países e ao fortalecimento da noção multicultural em território europeu. Os programas culturais incipientes, que se estenderam pela década de 1990, são os Programas Rafael41, Caleidos-cópio e Ariane. Já em 1997 havia preocupação sobre a continuidade e efetivi-dade dos programas que existiam e seriam realizados42.

O programa Caleidoscópio agiu no sentido de apoiar as manifestações culturais, sempre divulgando a história e a cultura entre os países europeus, abrangendo as áreas do teatro, dança, música, ópera, pintura, fotograia etc. Teve origem em 1990 e reforçou suas bases em 1993, estipulando novas ações na tentativa de estabelecer um conceito cultural comum. Financiou, ao todo, 518 projetos43, dentre eles “A Capital Europeia da Cultura” 44, que obtém suces-so até os dias de hoje.

O programa Ariane apoiou a produção editorial, totalizando a realização de 767 traduções de obras de referência45. Seus objetivos principais eram pro-pagar a literatura por meio da tradução e estabelecer uma cooperação entre os países no setor editorial.

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40 LAUREANO, Abel. A política cultural da união europeia e a lógica de protecção das diversi-dades culturais dos Estados-membros. In: Derecho y cambio social. Ano XI, n°36, pp. 1 — 36, pp. 12 — 13. Peru: Sudamérica, 2014. Disponível em: <http://www.derechoycambiosocial. com/revista036/A_POLITICA_CULTURAL_DA_UNIAO_EUROPEIA.pdf>. Acesso em: 25 de maio de 2014.

41 PARLAMENTO EUROPEU E CONSELHO. 13 de outubro de 1997. Programa Rafael. Decisão n° 2228/97/CE.

42 CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. 22 de setembro de 1997. Sobre o futuro da acção cultu-ral europeia. Decisão 97/C 305 /01.

43 ANDRADE, Miguel de. Das redes culturais à União Europeia. Lisboa: Escola Superior de Teatro e Cinema, 2007, p. 16.

44 Este projeto objetiva eleger, pelo período de um ano, uma cidade europeia, que mostrará à Europa todo o seu desenvolvimento e riqueza cultural. Isto permite melhor conhecimento mútuo entre os cidadãos europeus sobre sua própria cultura. No ano de 2014, as cidades eleitas são Riga, na Letônia, e Umeå, na Suíça.

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Já o programa Rafael complementou as políticas no campo da preserva-ção do patrimônio, incluindo aí museus, coleções, arquivos e livrarias. Conse-guiu apoiar 360 projetos, que visaram à preservação e valorização do patrimô-nio, com um orçamento de 30 milhões de euros46.

Na virada do milênio, foram executados programas planiicados: Progra-ma Cultura 200047, e o Programa Cultura (2007-2013)48. O Plano de mobilidade de pessoas e obras49 também foi posto em prática, mas tinha o objetivo espe-cíico de promover a circulação de obras e mobilidade de pessoas, não sendo, portanto, planiicado.

O Programa Cultura 2000 perdurou por 7 anos e englobou um orçamento de 236,5 milhões de euros50, subsidiando projetos de todas as áreas. Foi tido como o projeto mais ambicioso até o momento, justamente por objetivar a pro-moção de uma área cultural comum, regida pela partilha e pelos diálogos entre os países. A partir desse programa, se vislumbrou de forma mais nítida a cultura como forte fator de integração, devido a sua exímia execução observada nos festivais, workshops, conferências, visitas guiadas etc.

Seguindo os mesmos moldes do Programa Cultura 2000, foi estabelecido o Programa Cultura (2007-2013). Teve como ponto de partida a constatação dos erros do programa que o precedeu51, para que assim pudesse corrigir os proble-mas passados. Objetivou, genericamente, a circulação de obras e produções ar-tísticas por toda a Europa, favorecendo o diálogo multicultural. O principal lema do programa foi a cooperação na construção de um real espaço cultural comum, o que desembocou em um conceito mais sólido de identidade europeia.

A par das iniciativas que partem dos órgãos da União Europeia, existem grupos independentes que executam projetos de incentivo ao crescimento e integração cultural. Um desses grupos é o MEDIA e MEDIA Mundus, que es-timulam a produção cinematográica em território europeu, seja oferecendo cursos e inanciando projetos, seja divulgando o cinema europeu para além de suas fronteiras. A Operação Kino52, que surge galgada no MEDIA Mundus,

46 Ibid., p.17.

47 PARLAMENTO EUROPEU E CONSELHO. 14 de fevereiro de 2000. Programa Cultura 2000. Decisão nº 508/2000.

48 PARLAMENTO EUROPEU E CONSELHO. 12 de dezembro de 2006. Programa Cultura

(2007-2011). DECISÃO n.º 1855/2006/CE.

49 CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. 19 de dezembro de 2002. Plano de mobilidade de pes-soas e obras. Resolução 2003/C 13/03.

50 ANDRADE, Miguel de, op. cit., p. 18.

51 Conforme o texto que instituiu o Programa Cultura (2007-2013), as críticas ao Programa Cultura 2000 giravam em torno do fato de que o mesmo possuía muitos objetivos a serem perseguidos se comparado ao orçamento limitado. Foi, apesar de abrir espaço no destaque à relevância da cultura no cenário europeu, considerado disperso.

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procura desenvolver a escassa produção cinematográica na região dos Balcãs por meio de investimento. Além do MEDIA, ainda existem, a título de citação, o

Magic net, que permite interação entre companhias de teatro de diversos paí-ses; e alguns prêmios realizados como forma de incentivo53: Prêmio Arquitetura Contemporânea da UE54, Prêmio Europa Nostra da UE55, Prêmio de Literatura da UE56, dentre outros. Demais projetos no âmbito do cinema, teatro, literatura, artes plásticas são desenvolvidos no intuito de traçar diálogo entre os países europeus. A Mostra de Cinema Europeu57 é um exemplo, ocorrendo inclusive no Brasil e reunindo ilmes de toda a Europa em uma exibição que passa por vários cantos do mundo, com o intuito de divulgar a cultura europeia para fora do bloco. Isso ajuda no entendimento de uma noção cultural europeia única.

Fato é que muito se investe na/pela cultura europeia, cerca de 4,5% do PIB58. Desde 2007, o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) investiu 780,2 milhões na proteção do patrimônio cultural, e na execução servi-ços culturais como um todo, conforme dados de 201359. Novos projetos, para o período de 2014-2020, já estão devidamente estipulados60. Buscam intensiicar as políticas já realizadas, bem como solucionar problemas de integração vivi-dos em tempos de avançada tecnologia e globalização.

Vale destacar que a consolidação da integração cultural na UE não se re-sume somente no campo dos projetos desenvolvidos. Decisões do TJUE nos mostram que o Tribunal entende, através de suas decisões, que a cultura é forte fator de integração comunitária. Em decisão de 2002, quando ainda era TJCE, foi decidido que os membros estatais deveriam oferecer determinados tipos de isenções iscais para serviços culturais realizados61 por grupos ou indivíduos em particular. Outra decisão, em 2003, pune a Itália por favorecer nacionais e residentes no acesso aos locais culturais, como museus e monumentos, quan-do deveria haver igual tratamento frente aos estrangeiros. No entendimento do Tribunal, houve infração dos princípios do Direito Comunitário62, consoli-dando a defesa da não discriminação. Ainda, em comunicado de imprensa em 2007 partindo do caso United Pan-Europe Communications Belguim SA e

ou-53 Ibid., p. 5.

54 Realizado pelo Prêmio de Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe, que congratula os arquitetos mais criativos da Europa na atualidade.

55 Atribuído a projetos que se qualiicam na preservação do patrimônio cultural europeu. 56 Visa destacar a produção literária europeia, recebendo, os autores, apoio na tradução de

suas obras.

57 Cf. http://www.anoeuropeudoscidadaos.gov.pt/mostra-de-cinema-europeu. 58 COMISSÃO EUROPEIA, op. cit., p.3.

59 Ibid., p. 6.

60 IGLESIAS, Maria; KERN, Philippe, MONTALTO, Valentina. Use of structural funds for cultural projects. Bruxelas: União Europeia, 2012, p.43.

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tros contra Bélgica, o TJUE reforçou seu entendimento em matéria de cultura quando airmou categoricamente que “[...] o Tribunal de Justiça recorda, em primeiro lugar, que uma política cultural pode constituir uma razão imperiosa de interesse geral que justiica uma restrição à livre prestação de serviços.”63, voltando a reforçar esse entendimento no caso Comissão Europeia contra Rei-no da Bélgica64. Isto indica que o TJUE compreende a política cultural como quesito de força estruturante na construção do bloco europeu, bem como acei-ta o diverso nesse processo.

Neste quadro, por mais que existam problemas de ordem estrutural na aplicação de um Direito comunitário com base na integração cultural e pro-moção do multiculturalismo, a União Europeia vem desenvolvendo projetos bastante consideráveis. O entendimento do TJUE também consolida avanço na localização da cultura como fator de integração e promoção do multicul-turalismo. Em última medida, há fortalecimento da identidade supranacional europeia, o que acarreta na consolidação das relações diplomáticas tanto entre os Estados-membros quanto entre a UE e os demais países do globo.

Conclusão

O que vale primeiro evidenciar é a capacidade de integração que os 28 Esta-dos-membros da União Europeia possuem. Sendo, de forma principiante, uma integração econômica; hoje, pode e se estende até o campo cultural. Campo esse que, por sua sensibilidade, facilita as relações diplomáticas.

Entretanto, como observado, diiculdades são vivenciadas nesse proces-so de integração cultural. Os embates religioproces-sos, os discurproces-sos dos chefes de estado, a difícil situação dos imigrantes são questões que comprovam tal di-iculdade. Partindo disso, podem ser almejadas as diretrizes e políticas im-plementadas, que surgem no intuito de dissolver alguns desses problemas e promover uma real integração.

Os diversos programas citados se mostram como de fundamental valia, sendo eicazes na preservação, divulgação e criação cultural. Em primeira medida, endossam a noção de identidade europeia, aceleram a produção ar-tística e integram o povo europeu em torno da sua riqueza cultural. Em última medida, conduzem a população no respeito ao diverso e contribuição com as diferenças.

Isto pode ser airmado, tendo em vista o fato de que as políticas e as diretri-zes em matéria de cultura apresentam signiicado prático na vida da comunida-de europeia. Basta observamos os números alcançados com os programas comunida-

de-63 TJCE, 13 de dezembro de 2007, United Pan-Europe Communications Belguim SA e outros contra Bélgica. Comunicado de imprensa n°. 93/07.

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senvolvidos, como também a real aplicação das diretrizes esboçadas no TFUE, na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia e no TUE pelo TJUE.

Com relação especiicamente às diretrizes, veriica-se que elas estabe-lecem um campo de solidez jurídica, facilitando e prontiicando a aplicação prática das políticas públicas. Isto quando estipulam uma série de deveres e objetivos, tais como conservação do patrimônio cultural; respeito às diversas línguas e religiões; divulgação da cultura europeia a nível interno e mundial; dentre outros.

O entendimento do TJUE por meio dos casos citados também consolida o espaço de ixação da cultura como elemento preponderante no desenvol-vimento europeu como um todo. Efetiva, em certa medida, o formalizado pe-las diretrizes do TFUE, do TUE e da Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia. A atividade do Tribunal neste sentido é de fundamental valia para a normalização da concepção individual da população quanto à necessidade de se ter, em última instância, uma sociedade plenamente multicultural.

O conceito de hermenêutica diatópica65 deve permear os programas pos-tos em prática e as diretrizes, para que estes apresentem ainda maior eicácia. Dessa forma, os países europeus acabam reconhecendo a incompletude de suas culturas e, a partir disso, assumem que se fortalecem quando incorpora-das a demais culturas. Nesse sentido, quando esse processo de hermenêutica se pôr a nível supranacional, e os países se apoiarem em um conceito único de União Europeia, a cultura será fator ainda mais importante no processo de estabelecimento de boa convivência e fortalecimento econômico, social, diplo-mático etc.

Utilizando-se do ilme, podemos observar na prática esse processo de her-menêutica. A protagonista que está sempre na busca por reconhecer e enten-der a cultura próxima demarca tal fato durante as cenas. Além disso, existe uma cena, já citada, em que personagens de diferentes nacionalidades europeias conseguem travar diálogo brando, mesmo que em diferentes línguas. O objeti-vo da solução aqui exposta é exatamente esse: estimular a compreensão mútua entre os Estados-Membros na UE na busca por fortalecer os laços comunitários e promover o multiculturalismo. Pois quando a hermenêutica se comprova na prática, o multiculturalismo é consequentemente vivido, dado que as nações se comunicam e os Direitos Humanos, não excluindo aí as minorias, são vividos.

Portanto, temos, resumidamente, que a hermenêutica diatópica deve se aliar aos programas existentes e à existência fática das diretrizes em matéria de cultura nos tribunais no combate aos problemas enfrentados atualmente, com o intuito de fazer com que cada vez mais a cultura seja fator de

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ção. O Cinema, ao esboçar, pela sensibilização de suas cenas, a hermenêutica aqui defendida, se faz valer como campo do conhecimento facilmente acopla-do ao Direito.

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MERCOSUL

AnA sofiA CArdoso Monteiro1

Resumo

A cooperação econômica adotada pelos atuais blocos internacionais tem apre-sentado diferentes graus de integração, sendo o mais signiicativo deles aque-le demonstrado pela União Europeia, uma coalisão político-econômica que, desde 2005, tem uniformizado boa parte das decisões judiciais por meio de estruturas supranacionais. Em 2012, a Comissão Europeia, com o objetivo de erradicar as disparidades ainda existentes entre legislações nacionais, sem li-mitar, contudo, o exercício da competência legislativa de seus Estados, publica a proposta para uma diretiva, que desde 2001 já era discutida no bloco. Ela relacionava-se à aplicação e implementação de uma Base Tributária Comum e Consolidada, o que principalmente afetaria as atividades de multinacionais com operações vinculadas a mais de um Estado-membro. Na hipótese de adoção da medida, custos com transações que viessem a envolver a incidência de preços de transferência2 ou a possibilidade de uma dupla tributação3, nos moldes do

1 Graduanda em Direito pela Faculdade Nacional de Direito - Universidade Federal do Rio de Janeiro, bem como em Economia e Relações Internacionais pelo Instituto Brasileiro de Mer-cados e Capitais — IBMEC, possui experiência na prática do Direito Internacional Privado através da atuação em escritório de planejamento tributário internacional, além da vivência acadêmica durante curso de Gestão Tributária Internacional prestado junto à Universidade Castilla la-Mancha, na Espanha. Tem outros artigos publicados na seara do direito com-parado. Presta seus agradecimentos à Professora Doutora Paula Wojcikiewicz Almeida e ao atual orientador Professor Doutor José Maria Gomes pelo constante diálogo, e pelas enriquecedoras contribuições para a expansão do conhecimento em face da escassez de literatura e proissionais brasileiros, neste tão importante campo do conhecimento, que é a interseção entre as áreas do direito, da economia e das relações internacionais. O conteúdo e as opiniões emitidas no presente artigo são de exclusiva responsabilidade de seu autor. 2 Segundo Hermes Marcelo Huck (1997, p. 367) o preço de transferência é expressão

prove-niente do inglês transfer price que é o preço de um produto ou serviço manipulado para mais ou para menos nas operações de compra e venda internacionais, quando um mesmo agente é capaz de controlar ambas as pontas da operação, tanto a vendedora quanto a compradora. Assim, são transferidos para os paraísos iscais ou para locais, onde a tributa-ção será menor, os lucros da operatributa-ção.

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regime anterior, seriam reduzidos, facilitando a cooperação e manutenção da transparência entre os órgãos de arrecadação tributária, além da melhor re-cepção e circulação de investimentos internacionais diretos nos Estados-mem-bros. Entendendo a relevância da possível diretiva, assim como as tendências globais do intercâmbio de políticas institucionais, esse estudo analisa a possí-vel implementação de uma harmonização tributária análoga, no contexto do Mercosul, especialmente vislumbrando o impacto signiicativo desse estudo na tomada de decisão de investidores interessados no cenário latino-americano. Assim, defende-se a importância de uma possível harmonização iscal do bloco como estímulo ao retroinvestimento do capital empresarial, antes exaurido nos custos originados a partir de suas assimetrias internas, tornando o mercado mais atraente e estável para a recepção do investimento internacional direto.

Palavras‑chave

Investimentos Internacionais, Direitos (FDI), Harmonização iscal, Direito Comunitário, Mercosul, União Europeia. CC(C)TB, Direito Comparado.

A internacionalização do direito pavimenta o caminho para a internacionalização da economia.

Mireille Delmas‑Marty

Introdução

Desde o surgimento do termo nacionalidade, que trazia o inédito signiicado de pertencer a um território e não aos demais, os problemas com os não perten-centes dessa recém-criada nação já existiam e estavam principalmente centra-dos na aplicação do direito no espaço, elucidada por problemas no relaciona-mento entre nacionais e não nacionais.

Apesar do inicial repúdio social, principalmente nas civilizações antigas que adotavam uma política ostracista de fechamento ao estrangeiro este re-lacionamento, na maioria das vezes, passava a estreitar-se, na medida em que as economias se expandiam, se aproximavam, e reconheciam algum grau de complementariedade entre si.

Essa complementariedade motivou a criação do direito internacional, que ao contrário do senso comum, não se originou concomitantemente à criação dos Estados Nacionais, e sim à relativização da soberania desses Estados, que passaram a perceber que a cooperação os beneiciaria economicamente.

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Existe então uma endogeneidade explícita entre as internacionalizações da economia e do direito, na medida em que a primeira motiva a necessidade da segunda, que por sua vez estimula a expansão da primeira. Assim, o rol de obs-táculos enfrentados por estas tímidas e precursoras interações internacionais passou a necessariamente contrabalancear conceitos de expansão e proteção.

Isto é, em que medida diferenças linguísticas e monetárias, custos de transporte e, principalmente, custos com tributação4, poderiam ser tratados de forma a inluenciarem o desenvolvimento, sem o risco de este cair nas mãos daqueles que não pertenciam verdadeiramente à nação.

Este dilema entre expansão e proteção talvez seja a principal ponderação feita por todos os planos de política externa, assim como pela maioria dos in-vestidores no campo privado.5

Hoje, certamente não restam dúvidas de que o ponto de equilíbrio des-sa ponderação é o desenvolvimento. Para des-satisfazer nosso contexto teórico, usaremos a deinição de desenvolvimento utilizada por Luiz Carlos Bresser--Pereira6, ainda em 2003, como sendo “um processo social global, em que as estruturas econômicas, políticas e sociais de um país sofrem contínuas e pro-fundas transformações”.

Uma possível interpretação dessa deinição é que a dissociação das es-truturas políticas, econômicas e sociais não é benéica ao objetivo do volvimento, o que nos faz chegar ao papel da tributação na busca pelo desen-volvimento. E mais ainda, nos faz pensar acerca do papel que os elementos de cooperação — após assumirem a forma de estruturas mais dinâmicas e com-plexas, originando o que hoje chamamos de blocos de cooperação econômica e política, sendo a união entre Estados com interesse em comum de proteger e expandir suas transações domésticas7 — têm no desenvolvimento das econo-mias domésticas que representam.

4 Em Integração Normativa e a tradução das tradições Jurídicas inIntegração Normativa: o direito em um contexto multicultural e multilíngue. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013 (ps. 80-81), o Professor Evandro Menezes de Carvalho ressalta a relevância das diversidades linguísticas e culturais, inclusive apontando como marco do início dos tempos modernos a adoção de uma língua comum para as relações internacionais entre os Estados.

5 Conforme apontam estudos feitos pela OCDE, em Tax Incentives for Investment — A Global Perspective: experiences in MENA and non-MENA countries. OECD: 2007 (p. 5), dentre as principais preocupações de investidores estratégicos, quando questionados acerca do que seriam obstáculos ao investimento no exterior, ainda em 2003, duas principais respostas incluíam os parâmetros de estabilidade político-econômica dos Estados, assim como a cor-rupção, transparência, e demais questões relacionadas à segurança jurídica, nela inclusa principalmente a questão tributária.

6 BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Desenvolvimento e crise no Brasil — História, economia e política de Getúlio Vargas a Lula. São Paulo: Editora 34, 2003.

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Com a falta de critérios preixados para a formação desses blocos, o apa-rato geográico acabou tendo um peso signiicativo na evolução das integra-ções internacionais, do que viria a ser chamado de regionalismo. Como bem colocou Jamile Diz, em suas relexões sobre o processo de formação desses blocos, o surgimento do regionalismo como um mecanismo de oposição às livres forças de mercado também está ligado ao fato de que, através dele, o grupo de Estados-membros também seria capaz de defender o bloco diante de eventuais pressões protecionistas feitas pelos mercados extrarregionais.8

Essa interação econômica e política, ora de expansão, ora de proteção dos mercados, também se estendeu às suas fronteiras, inspirando o trânsito livre de cidadãos e empresas, o que trouxe a noção de um compromisso, quando não supranacional, intergovernamental — origem de uma importante assimetria en-tre os blocos, como veremos a seguir.9

É exatamente no contexto em que se vê a oposição da supranacionalidade com relação a uma mera cooperação intergovernamental que entram os casos da União Europeia e do Mercosul, estruturas comunitárias extremamente im-portantes no desenvolvimento de seus Estados-membros.

O contraste da estrutura minimalista10 do Mercosul com o forte e exemplar arcabouço institucional da União Europeia traz uma relexão interessante, prin-cipalmente com relação à tendência comum delagrada no comportamento atual dos dois blocos, quanto ao que tange um processo de integração regional com ênfase em políticas de incentivo às empresas multinacionais, ocorrido na última década.

É neste ponto de encontro entre os “projetos irmãos” que fomentaremos a discussão central ensejada neste artigo, mesmo que historicamente exista uma distinção signiicativa tanto na razão de ser de cada bloco, quanto na periodi-cidade de sua evolução econômica.11

Ou seja, enquanto a União Europeia expandiu-se mais rápida e eiciente-mente do que o Mercosul, conseguindo irmar, através da Zona do Euro, uma moeda comum, e inclusive criando uma fonte de jurisprudência única e reper-cussão geral (através dos julgamentos executados pelos tribunais europeus), o Mercosul esquivou-se do modelo europeu desde o início, evitando transformar--se na “Catedral Gótica Comunitária” que via crescer do outro lado do atlântico. Contudo, não foram apenas as intenções limitadas na sua criação que atra-vancaram uma maior e mais estruturada integração e organização institucional

8 DIZ, 2012, p.13-15 9 VENTURA, 2003, p. 7-8.

10 No sentindo de uma estrutura organizacional mínima, e que deixa a desejar com relação à complexa rede de instituições e burocracias comunitárias adotadas pela União Europeia. 11 O que vale ressaltar, em nenhum momento deveria ser usado como barreiras à evolução de

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Tabela comparativa de autoria própria.

Referências

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