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A cidade e o idoso

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Academic year: 2017

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CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

RONALD LIMA DE GÓIS

A CIDADE E O IDOSO:

PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO

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A CIDADE E O IDOSO:

PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Tese apresentada à Coordenação do Curso de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção de título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo.

Área de Concentração: Urbanismo, Projetos e Políticas Físico-Territoriais.

Linha de Pesquisa: Política e Projeto Territorial e Urbano.

Orientador: Drª. Françoise Dominique Valéry.

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A CIDADE E O IDOSO:

PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Tese apresentada à Coordenação do Curso de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção de título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo.

Área de Concentração: Urbanismo, Projetos e Políticas Físico-Territoriais.

Linha de Pesquisa: Política e Projeto Territorial e Urbano.

Aprovado em: 06 de fevereiro de 2012.

BANCA EXAMINADORA

Drª. Françoise Dominique Valéry (Orientadora), UFRN

Drª. Gleice Azambuja Elali (Examinadora), UFRN.

Dr. Márcio Moraes Valença (Examinador), UFRN.

Dr. Fábio Oliveira Bitencourt Júnior (Examinador), UFRJ.

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Agradeço à Françoise Valéry, pelas orientações, apoio e incentivo. Agradeço à Alahyse Paiva pela ajuda nos desenhos desta Tese. Agradeço à minha família, pelo apoio.

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Envelhecer é o preço que todos têm de pagar se quiserem continuar vivendo.

Érico Veríssimo

Se consideramos que não são os arquitetos os responsáveis pelas transformações sociais, mas pelo desenho das soluções – que são políticas e que serão encontradas por todos – devemos sempre estar aptos e dedicados para que, diante das oportunidades construídas, não hesitarmos no cumprimento integral dos nossos papéis.

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Diz respeito ao estudo da cidade em função dos impactos que serão causados na sua estrutura em decorrência do processo de envelhecimento da sociedade humana, principalmente no Brasil. Os enfoques mais importantes são aqueles relacionados com os problemas de acessibilidade, habitação e lazer, questões que mais afetam as pessoas com mais de 60 anos de idade. Além da análise dos problemas inerentes ao tema serão apresentadas propostas de intervenção urbana para que as cidades se tornem mais adequadas ao convívio das pessoas idosas. Para fundamentar este estudo foi efetuada uma revisão sobre diferentes teorias sobre a cidade, posteriormente um painel sobre a presença do idoso na sociedade, incluindo o Brasil, e nas cidades, objetivando uma visão, a mais ampla possível, sobre a forma como os idosos foram tratados ao longo da história. Com o objetivo de estabelecer paradigmas e parâmetros na abordagem do tema, procedeu-se a uma série de observações sistemáticas sobre o espaço urbano em diferentes cidades, no exterior e no Brasil, com trabalhos efetuados para inclusão social do idoso no espaço urbano, tais como Amsterdam, Barcelona, Brasília, Luanda e Rio de Janeiro, cidade considerada pela ONU, como laboratório físico-territorial urbano adequado às pessoas da terceira idade. A partir daí procurou-se obter, além de pesquisa bibliográfica e observações da experiência de outros países, a realização de pesquisa de campo e análise de Normas oficiais, a fundamentação teórica para estabelecer orientações quanto a maneira de planejar e projetar um espaço urbano mais adequado aos idosos.

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This thesis concerns the study of the city and impacts that will be caused in its structure due to the aging process of the human society, mainly in Brazil. The most important focus will be those related to problems of accessibility, leisure, housing, health and labor, issues that most affect people over 60 years of age. Beyond the analysis of inherent problems to the subject, proposals will be made for urban intervention that the cities become more suitable for the living of the elderly. To support this study, a review of different theories about the city was carried out, then a panel about the presence of the elderly in society, including Brazil, and in the cities, aiming at a vision, as broad as possible, on how the elderly were treated throughout history. In order to establish paradigms and parameters in the approach to the subject, a series of systematic observations on the urban space in different cities proceeded, in Brazil and abroad, with works aiming the inclusion of the elderly in urban areas, such as Amsterdam, Barcelona, Brasilia, Luanda and Rio de Janeiro, a city considered by the UN as physical and territorial urban laboratory suitable for the elderly. From there we tried to obtain, in addition to literature and observation of other countries’ experiences, the conduct of field research and official standards analysis, the theoretical basis for establishing guidelines on how to plan and design a more appropriate urban space for the elderly.

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Quadro 1 – Etapas Metodológicas 18

Quadro 2 – As 10 principais Megalópoles do Mundo 19

Gráfico 1 – Faixas etárias da População Idosa no Mundo 21

Tabela 1 – Faixas etárias da População Idosa no Brasil 22

Gráfico 2 – Pirâmides Etárias entre 1960 e 2010, no Brasil. 23

Figura 1 – Plano de Mileto 38

Quadro 3 – Vantagens e desvantagens das formas Xadrez e Radial 39

Figura 2 – Plano de Cerdá, para Barcelona 40

Figura 3 – Dimensões das quadras de Ildefonso Cerda 40

Figura 4 – Esquina padrão do Plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona 40 Figura 5 – Esquina onde o edifício valoriza o espaço urbano, ao proporcionar abrigo ao

pedestre 41

Figura 6 – Quadra tipo do Ensenble de Barcelona (Ildefonso Cerda) 41 Figura 7 – Esquina marcada como ponto de referência para as atividades urbanas e

humanas 42

Figura 8 – Esquina como espaço para as mais diversas atividades de lazer e convivência

humana 42

Figura 9 – Esquina como ponto de encontro de diferentes tipos humanos 42 Figura 10 – Esquina como fator de valorização do patrimônio construído 43

Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43

Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura 13 – Centro da Cidade de Tapiola (vista da área comercial) 48 Figura 14 – Cidade de Tapiola (transporte público de passageiros) 49

Figura 15 – Vista aérea de Tapiola 49

Tabela 2 – Evolução do número de Idosos no Brasil 55

Tabela 3 – Evolução do número de contribuintes e aposentados do INSS 56

Tabela 4 – População com mais de 60 anos 56

Figura 16 – Plano dos 3 Canais (Amsterdam-Holanda), onde são implantados os Hofjes, ou

“Abrigos”. 62

Figura 17 – Planta básica de um Hofje 62

Figura 18 – Hofje de Amsterdam (aspectos externos) 63

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Figura 22 – Vista geral de Copacabana, Rio de Janeiro 67

Figura 23 – Idosos indo à praia em Copacabana 67

Figura 24 – Idosos no Calçadão de Copacabana 68

Figura 25 – Foto do Bairro Peixoto 68

Figura 26 – Visão aérea do Bairro Peixoto, enclave do bairro de Copacabana 69 Figura 27 – Planta: Habitações Individuais Geminadas (Brasília) 71

Figura 28 – HIG: Habitações Individuais Geminadas 72

Figura 29 – HIG: Habitações Individuais Geminadas 73

Figura 30 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas 73 Figura 31 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas 74 Figura 32 – Mutilações do Plano de Lúcio Costa (HIG) para Brasília 75

Figura 33 – Mutilações ao projeto proposto às HIG 75

Figura 34 – Outras formas de mutilações ao projeto proposto às HIG 76 Figura 35 – Outro tipo de mutilação ao projeto proposto às HIG (gabarito da edificação) 76 Quadro 4 – Relação e definição dos diferentes tipos de deficiências físicas 79

Quadro 5 – Locais para pesquisa de campo da Tese 81

Figura 36 – Problema de acessibilidade para pessoa da 3ª idade 83

Quadro 6 – Análise-Síntese do Ambiente 86

Quadro 7 – Limitação quanto à orientação e informação 87

Quadro 8 – Limitação quanto ao Deslocamento 88

Desenho 1 – Passeio com recuo para banco e espaço para cadeirante 90 Desenho 2 – Circulação em desnível para idosos e ciclistas 90

Quadro 9 – Limitação quanto ao Uso 91

Quadro 10 – Limitação quanto à Comunicação 92

Quadro 11 – Síntese das diretrizes para áreas de estar com componentes de acessibilidade 93

Quadro 12 – Circulação para pedestres 93

Quadro 13 – Caminhada e ciclismo 94

Quadro 14 – Áreas de alongamento com critérios de acessibilidade 94

Quadro 15 – Quadras esportivas 94

Desenho 3 – Pista de circulação para cadeirantes e pedestres 95

Desenho 4 – Lixeiras 95

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Desenho 7 – Casa Oitocentista 102

Desenho 8 – Casa Moderna 103

Desenho 9 – Casa Contemporânea 105

Figura 37 – Edifício residencial HILEA (São Paulo) 107

Quadro 17 – Tipos de habitação para idosos 109

Desenho 10 – Casa para idoso ou casal de idosos 110

Desenho 11 – Quadra para inserção de idosos. 112

Desenho 12 – Quadra para inserção de idosos (detalhe da praça de vizinhança) 113 Quadro 18 – Tipologia de atendimento a idosos, em instituições 122

Desenho 13 – Visão humana (horizontal e vertical) 135

Desenho 14 – Visão humana (vertical) 1:1 142

Desenho 15 – Visão humana (vertical) 1:2 143

Desenho 16 – Visão humana (vertical) 1:3 144

Desenho 17 – Visão humana (vertical) 1:4 144

Figura 38 – Plano Geral do Rockeffeller Center 147

Figura 39 – Visão Aérea do Rockeffeller Center 147

Quadro 19 – Tipos de habitação para idosos nos EUA 150

Figura 40 – Tipos de parcelamento urbano para Parques 158

Figura 41 – Parque Eclético: Jardim Botânico (Rio de Janeiro) 161 Figura 42 – Parque Eclético: Quinta da Boa Vista (Rio de Janeiro) 162 Figura 43 – Parque Moderno: Parque do Flamengo (Rio de Janeiro) 164 Figura 44 – Parque Moderno: Lagoa do Abaeté (Salvador) 164 Figura 45 – Parque Contemporâneo: Parque da Costa Azul (Salvador) 166 Figura 46 – Parque Contemporâneo: Parque do Mindú (Manaus) 167

Desenho 18 – Área de estar completa 169

Desenho 19 – Cortes da área de estar 170

Desenho 20 – Área de estar simples 170

Desenho 21 – Piscina para idosos 171

Desenho 22 – Salão de danças para idosos 172

Desenho 23 – Anfiteatro ao ar livre 173

Desenho 24 – Mesa de jogos ao ar livre 173

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Desenho 28 – Quadra de bocha 175

Desenho 29 – Detalhes da quadra de bocha 176

Figura 47 – Esquema de Galeria Aberta 178

Figura 48 – Av. Guararapes (Recife), na década de 40 179

Figura 49 – Av. Guararapes (Recife) 179

Figura 50 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 179

Figura 51 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 180

Figura 52 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 180

Figura 53 – Centro de Luanda (capital de Angola) 180

Figura 54 – Centro de Luanda (Angola) 181

Figura 55 – Edifício Galeria em Mossoró (RN) 181

Figura 56 – Edifícios em Mossoró (RN) 181

Figura 57 – Acesso da Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália) 182 Figura 58 – Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália) 183

Desenho 30 – Calçada em esquina 184

Desenho 31 – Calçada mínima 185

Desenho 32 – Calçada com banca de jornais 186

Desenho 33 – Calçada com restaurante e bar 187

Desenho 34 – Calçada com ponto de ônibus em poste multi-uso 188

Desenho 35 – Calçada como galeria aberta 189

Figura 59 – Passarela elevada para pedestres 192

Figura 60 – Passarela elevada 192

Desenho 36 – Galeria (passarela) subterrânea 193

Figura 61 – Galeria subterrânea 194

Desenho 37 – Evolução das quadras urbanas 198

Desenho 38 – Proposta para o dimensionamento de praças e quadras 201 Desenho 39 – Dimensionamento de praças e quadras (corte esquemático) 202

Quadro 20 – Zonas Turísticas Homogêneas 206

Desenho 40 – Proposta para urbanização de áreas de praias 208 Desenho 41 – Corte esquemático para urbanização de praias 209

Desenho 42 – Detalhe da rampa de acesso à praia 209

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Desenho 46 – Quiosques de praia (cortes) 213

Desenho 47 – Quiosques de praia (fachadas) 213

Desenho 48 – Posto de salvamento 214

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ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CEPAL Comissão Econômica para America Latina.

CIAM Congresso Internacional de Arquitetos Modernos

FIFA Federação Internacional de Futebol Associado.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.

ISTED Institut des Sciences et des Techniques de L’Equipement et de L’Environnement pour Le Devellopement.

OMS Organização Mundial de Saúde.

ONU Organização das Nações Unidas.

RDC Resolução da Diretoria Colegiada (ANVISA).

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1 INTRODUÇÃO 16

2 TEORIAS SOBRE A CIDADE 30

2.1EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FORMA URBANA 36

2.2NOVAS FORMAS URBANAS: A CIDADE JARDIM, A CARTA DE ATENAS E O

NOVO URBANISMO 43

2.3O NOVO URBANISMO 47

2.3.1 O Novo Urbanismo na Europa 48

2.3.2 Urbanismo no Brasil de Hoje 50

3 O IDOSO NA SOCIEDADE E NAS CIDADES 53

3.1 O IDOSO NA HISTÓRIA: UM BREVE PAINEL. 53

3.2 A SITUAÇÃO DO IDOSO NO BRASIL DE HOJE. 55

4 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS 59

4.1 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO EXTERIOR 59

4.2 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO BRASIL 66

4.2.1 Copacabana, Rio de Janeiro: esquinas, praças e praia. 66 4.2.2 Brasília: Superquadras e Habitações Individuais Geminadas. 70

5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO 78

5.1 A CIDADE PARA O IDOSO: ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE URBANA 78

5.1.1 Acessibilidade Espacial 78

5.1.2 A Questão do Transporte Urbano 82

5.2 A CIDADE PARA O IDOSO: HABITAÇÃO 96

5.2.1 Como o idoso vive hoje no Brasil 100

5.2.2 A Evolução da Casa Brasileira 101

5.2.2.1 A Casa Oitocentista 102

5.2.2.2 A Casa Moderna 103

5.2.2.3 A Casa Contemporânea 104

5.2.3 Conceituação e Dimensionamento dos Equipamentos 107

5.3 O DESENHO UNIVERSAL 114

5.3.1 Princípios do Desenho Universal 115

5.4 CLÍNICAS OU ESTABELECIMENTOS PARA IDOSOS 117

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5.4.4 Exigências Específicas 118

5.4.5 Programa Arquitetônico Mínimo 119

5.4.6 Formas de Assistência 120

5.4.7 Pessoal de Apoio 120

5.4.8 Para os Cuidados aos Residentes 120

5.4.9 Alternativas para o Atendimento ao Idoso 121

5.4.10 A Casa Segura 122

5.4.11 A Casa do Futuro 134

5.5 A CIDADE PARA O IDOSO: LAZER 134

5.5.1 Visão Humana 135

5.5.2 O Espaço Urbano 140

5.5.3 Praças 146

5.5.4 Espaço Aberto. 148

5.5.5 Terrenos Acidentados 148

5.5.6 As Necessidades Espaciais dos Idosos 151

5.5.7 Espaços de Lazer 153

5.5.8 O Espaço Público 155

5.5.9 Espaço Urbano e o Idoso: O lazer na 3ª Idade 156

5.5.9.1 Parques Urbanos 157

5.5.9.2 Passeios Públicos 176

5.5.9.3 Praças 194

5.5.9.4 Praias 205

5.5.9.5 Pontos de Encontro 215

6 CONCLUSÕES 221

REFERÊNCIAS 226

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1 INTRODUÇÃO

É um fato comprovado estatisticamente o aumento da população idosa no país e no mundo. Os avanços da ciência e da medicina no século XX acrescentaram cerca de 20 anos na expectativa de vida das populações de um modo geral. Dados da Organização das Nações Unidas confirmam que chega a cerca de 10,4%, o total de idosos no mundo (ONU, 2008). No Brasil, o Censo de 2010 confirmou que 11% da população de 185 milhões de habitantes (20,35 milhões) é de pessoas com mais de 60 anos de idade (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).

Não apenas este crescimento populacional como também o aumento da expectativa de vida tem feito com que a população idosa aumente a demanda, em função do tempo disponível, por uma maior participação na prática de atividades sociais urbanas como o lazer; pela idade e surgimento de doenças próprias desta fase da vida, por serviços de saúde, pela reconfiguração da estrutura familiar (novos casamentos, incorporação de outros parentes no seio da família etc.), por tipologias habitacionais alternativas aos asilos convencionais e pela permanência no mercado de trabalho devido aos incentivos oferecidos pelo Estado brasileiro que, em função das pressões econômicas e financeiras exercidas contra o sistema de previdência social, incentiva os idosos a adiarem as suas aposentadorias.

41,6% dos idosos que trabalham o fazem em negócios próprios. 7,6% são proprietários de empreendimentos que empregam outras pessoas. Destes, 19,3 são idosos. Apenas 8,4 com carteira assinada. 5.5% apenas de pessoas da terceira idade possuem atividades informais. 83% estão nas cidades e 17,2% na zona rural. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010)

O problema se agrava quando se verifica, segundo o IBGE, que 29% dos desempregados urbanos estavam entre 15 e 17 anos e 26% entre 18 e 19 anos. Ou seja, pessoas que precisam entrar no mercado de trabalho e encontram vagas ocupadas, cada vez, mais por pessoas idosas.

Este trabalho objetiva analisar o impacto causado na estrutura urbana com o envelhecimento da população. Propor a estruturação, no meio urbano, de forma adequada à terceira idade em função das modificações fisiológicas, psicológicas, sociais e econômicas nesta fase da vida, de equipamentos nas áreas de acessibilidade, habitação e lazer.

Para tanto, a metodologia adotada contempla 3 etapas para abordagem do tema:

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como a cidade deve ser estruturada para atender este segmento populacional em processo cada vez mais veloz de crescimento.

2ª. Pesquisa de Campo, primeiro a partir de uma prática de observações sistemáticas realizadas no país (Brasília e Rio de Janeiro) e no exterior (Amsterdam e Barcelona), de como os idosos vivenciam o espaço privado e público. Pesquisa direta com idosos abordando a sua visão das questões urbanas que os afetam diretamente. Montagem, aplicação e tratamento dos dados coletados.

3ª. São analisadas as etapas anteriores a partir da fundamentação teórica e das pesquisas de campo no sentido de estabelecer parâmetros para as propostas de intervenção objetivando a adoção de medidas práticas para tornar mais adequada para a população da terceira idade, estruturas urbanas nas áreas de acessibilidade, habitação e lazer.

Nesta etapa são feitas análises de estruturas urbanas de cada setor relacionado, enfatizando aspectos como acessibilidade, estruturas físicas, distribuição no espaço urbano, mobiliário urbano, estágio de manutenção e necessidades de intervenção no sentido da conservação ou adoção de novas propostas.

É importante, entretanto, conceituar o que é idoso e distinguir os tipos de idosos.

Conceitualmente, o envelhecimento representa a dinâmica da passagem do tempo e a velhice a forma como a sociedade define as pessoas idosas. Envolve estudos biológicos, psicológicos e sociológicos. Mais recentemente, considera também, questões ambientais. A biologia do envelhecimento estuda o impacto da passagem do tempo nos processos fisiológicos ao longo do curso de vida e da velhice. A psicologia do envelhecimento, por sua vez, se concentra nos aspectos cognitivos, afetivos e emocionais relacionados à idade e ao envelhecimento, enfatizando o desenvolvimento humano. A sociologia baseia-se em períodos específicos do ciclo de vida e concentra-se nas circunstâncias sócio-culturais que afetam as pessoas idosas. Os estudos ambientais procuram identificar os espaços e ambientes adequados para uma vivência tranquila para os idosos, como os espaços urbanos, questões de acessibilidade, habitação e lazer. (BRASIL, 2003).

Pela Lei 10.741, de 01/10/2003 (Estatuto do Idoso), é considerado idoso pessoas a partir de 60 anos de idade. Quanto aos tipos de idosos, dois são considerados:

1. Idosos que se aposentam e mantêm a capacidade de cuidar de sí próprio, proporcionando-lhes um lugar tranquilo e protegido em que possam receber atenções e cuidados.

2. Idosos que necessitam de maiores cuidados, por não conseguirem cuidar de si próprios devendo permanecer em estruturas geriátricas ligadas ao sistema da rede hospitalar. (BRASIL, 2003)

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Quadro 1 – Etapas Metodológicas

Etapas Relação das Etapas Metodologia Adotada

1ª Etapa Conceituação e Fundamentação Teórica Análise da Documentação Coletada e Tabulação

2ª Etapa Pesquisa de Campo: Exterior e País

Observações Sistemáticas no Exterior (Amsterdam e Barcelona) Observações Sistemáticas no País (Brasília e Rio de Janeiro) Entrevistas.

Passeios e Caminhadas com Idosos

3ª Etapa Propostas de Intervenção Análise das Etapas Anteriores e Conclusões

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Dois temas de grande significado e complexidade permearão o debate e as preocupações de governantes e planejadores durante o século XXI: a constatação e consolidação irreversível de sermos uma civilização urbanizada e o surgimento de um novo desafio, gerado pelos avanços na ciência e na medicina no século passado: o envelhecimento das populações. Aqueles avanços mencionados possibilitaram o incremento de 20 anos, em média, na expectativa de vida do ser humano (KALACHE, 2005).

Quanto às cidades, o processo de globalização da economia, capitaneados pelos países centrais, notadamente os EUA e aqueles da União Europeia, tem provocado um cenário inédito nas relações humanas no mundo. Jamais na história da humanidade verificou-se uma homogeneização de procedimentos, seja nas artes, nos costumes ou na cultura em geral como estamos vivenciando no nosso tempo. Nunca houve a predominância de uma língua (inglês) como vemos agora, nas relações entre as nações. Nunca ao longo da história da humanidade, usou-se de forma tão uniformizada um mesmo paradigma tecnológico e as cidades nunca foram tão parecidas como no século XXI, principalmente na pobreza ou mesmo miséria de suas periferias.

Esta globalização da economia, segundo a Organização das Nações Unidas, trouxe um acentuado processo de miséria em todo o mundo quando, ainda segundo a ONU, 800 milhões de pessoas foram jogadas na mais completa miséria e passam fome. O corolário mais evidente desse processo é o incremento da violência e da intolerância, representado pelos atos terroristas seja de Estados ou de grupos.

No urbano, esse processo de globalização se apresenta, de forma muito frequente, numa arquitetura de grandes edifícios cujo envoltório é feito de vidro espelhado que proliferam em cidades como Manaus ou em cidades de estados do Nordeste brasileiro onde as condições climáticas são opostas às das localidades para as quais a tecnologia desse tipo de edificações foi concebida, gerando formidáveis problemas ambientais, notadamente no consumo de energia, numa época de consideráveis restrições ao uso de combustíveis fósseis.

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temperado, implantando-os irracionalmente em países de clima tropical, tipificando-os como

edifícios “inteligentes”, deturpando assim, o próprio conceito de inteligência.

Entretanto, a questão não fica restrita apenas à construção de edifícios inadequados. Nas reuniões internacionais (1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Habitat/Vancouver, em 1976 e 2ª Conferência das Nações Unidas sobre o Habitat/Istambul, em 1996) realizadas sobre o habitat humano, países ricos reagem ao conceito de que a habitação é um direito. Tentam na prática, impedir que governos de países, como o Brasil, Índia, entre outros, invistam na produção de moradias e na infraestrutura das cidades, e deixem de pagar os elevados juros das dívidas externas, condenando à decadência física e funcional as cidades dos países pobres.

Com essa abordagem procuramos demonstrar a enorme influência com que os fatores de ordem econômica interferem na questão urbana.

Constatando, no entanto, segundo dados oficiais, que atualmente, segundo a ONU, 50% da população mundial é urbanizada, com previsão de que em 2030 essa proporção cresça para 60%, o foco dos grandes investidores internacionais voltou-se para as cidades, principalmente naquelas localizadas em países periféricos, espaço das grandes concentrações urbanas. Das 10 megalópoles previstas até 2015 pelos organismos internacionais, ONU inclusive, 08 estarão nos países em desenvolvimento e apenas 02 (Tóquio e Nova Iorque) em países ricos (Quadro 2). Tóquio será a grande cidade do mundo rico.

Quadro 2 – As dez principais Megalópoles do Mundo

Cidade País População (em milhões)

Tóquio Japão 37,0

Nova Delhi Índia 22,0

São Paulo Brasil 20,3

Munbai Índia 20,0

Cidade do México México 19,5

New York EUA 19,4

Xangai China 16,6

Calcutá Índia 15,5

Daca Bengladesch 14,7

Karachi Paquistão 13,1

Fonte: Weinberg; Betti (2011)

(21)

sua situação econômica consolidada, fato este que só agrava os problemas, tornando-os bastante vulneráveis.

Organismos multilaterais que financiam investimentos em países emergentes, como o

Banco Mundial, trabalham com o conceito de “Cidade Produtiva”, objetivando a integração

das populações locais através de programas de regularização fundiária, a palavra de ordem do momento (Programa de Simplificação Cartorial e Regularização Fundiária), onde os beneficiados com os programas de regularização da terra, a partir do fato de contar com um endereço e ser proprietário do seu lote ou de sua casa, quando essa existir, pois a prioridade é de que a regularização da terra, possa retribuir, ao banco, os capitais investidos, na forma de impostos ou taxas de comunicações, água, esgoto e energia. (daí o modelo neoliberal de privatizações de empresas estatais exatamente nos setores essenciais de infraestrutura urbana). A prioridade é sempre a via produtiva onde a cidade seja o foco e o comando das ações dirigidas para a produção, a paz social e a eficácia da produção. A produção da casa e do abrigo só possível, de forma legal, com a posse da terra, pode ser realizada de outras maneiras, desde a autoconstrução até processos industrializados de construção. Sempre ao sabor dos interesses do capital. A questão urbana, no entanto é mais ampla, e o seu tempo mais longo, enquanto os investidores desejam um retorno rápido do dinheiro investido.

Annik Osmond (2009) informa o seguinte: Os impostos, taxas e tarifas cobrados, geralmente muito altos (quando não calculados de forma desonesta como aconteceu, via Agências Reguladoras, com as tarifas de energia elétrica no Brasil), provocaram em grande parte, em alguns países asiáticos, a destruição completa da sua estrutura econômica. Os casos mais conhecidos são os de Jakarta, Indonésia, onde a cidade e a economia foram destruídas. Na República do Mali, 7º país da África em extensão territorial, cujo território, organizado de acordo com suas tradições e cultura foi fatiado pelo Banco Mundial em 703 municípios, sem levar em conta a realidade local, o resultado foi a falência da estrutura econômica do país.

Não devemos esquecer o caso da crise imobiliária dos EUA onde, na impossibilidade de honrar as prestações, mutuários abandonaram bairros inteiros gerando uma das maiores crises da história do sistema capitalista (2009/2010).

Diante de um conceito como o de “Cidade Produtiva”, como incluir cidadãos, como os idosos que, aparentemente, não são mais “produtivos”.

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Gráfico 1 – Faixas etárias da População Idosa no Mundo

Fonte: Organização das Nações Unidas (2008).

A combinação entre o aumento da expectativa de vida e a queda na taxa de natalidade reflete avanços generalizados no combate a doenças e a melhora da qualidade de vida mesmo nas regiões mais pobres do globo. Tal fato apresenta às gerações futuras o desafio de atender às demandas crescentes de uma população composta de um número cada vez maior de idosos. No Brasil, para citar o nosso exemplo, a população de idosos já chegou a 21 milhões (11% da população). Na Inglaterra, em 2008, o número dos que têm 65 anos ou mais ultrapassou, pela primeira vez na história, o de jovens com menos de 16 anos.

No início da existência do homem na terra, a vida durava entre 20 e 35 anos e a média era arrastada para baixo por uma alta taxa de mortalidade durante a infância e a juventude (Camerano, 2007). Por volta de 1900, a expectativa de vida subia para 45 anos ou 50 anos nos países industrializados e começava a se elevar no resto do mundo. Um século depois, um homem comum pode esperar viver até os 65 anos, na média, ou ultrapassar os 80 anos de idade em algumas economias avançadas. Estudiosos do assunto, como Anne Baro, Monique Bunel e Romain Sevestre, calculam que um homem que chega aos 60 anos sem maiores problemas de saúde, geralmente conseguirá atingir ou mesmo superar os 80 anos.

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Tabela 1 - Faixas etárias da População Idosa no Brasil

Idade. (Evolução) 2000 * %

2010 * %

60 a 64 anos 2,71 3,49

65 a 69 2,11 2,61

70 a 74 1,62 2,04

75 a 79 1,05 1,41

80 a 84 0,61 0,92

85 a 89 0,32 0,45

+ 90 0,15 0,24

Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]). Nota: *Do total da População. 2009.

A edição de 2007 do Estudo Econômico e Social da ONU, adotou o tema

Desenvolvimento em um Mundo que Envelhece. No documento, a ONU mostra que a

expectativa de vida no Japão, a mais alta entre os países desenvolvidos, deve passar dos atuais 82 anos (registro feito entre 2000 e 2005), para 88 anos entre 2045 e 2050. O mesmo acontecerá, no mesmo período, para Austrália, Canadá e Nova Zelândia quando os atuais 80 anos sofrerão uma evolução para 85 anos. Os EUA, também no mesmo período, passarão dos atuais 77 anos para 82 anos em média.

Para os países em desenvolvimento, o relatório das Nações Unidas traz promessa de mutações ainda maiores, como os sete anos a mais que serão conquistados na América Latina (72 para 79 anos) e nos países da África, com os piores índices de desenvolvimento humano do planeta, quando os atuais 49 anos terão uma evolução para 65 anos em 2050.

A distribuição etária da população mundial tende a se afastar da antiga estrutura piramidal. A base será mais estreita em relação ao corpo, que terá de suportar um topo cada vez mais alargado por uma massa de cidadãos com mais de 65 anos de idade (Gráfico 2). Ainda, segundo a ONU (2008), “[...] a não ser que o crescimento econômico possa ser acelerado de modo sustentável, essa tendência continuará a impor pesadas demandas às populações em idade de trabalho para manter um fluxo de benefícios aos grupos mais velhos”. A ONU conclui seu relatório afirmando: “[...] ainda que o envelhecimento da população seja inevitável, suas consequências dependem das medidas adotadas para enfrentar os desafios que

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Gráfico 2 – Pirâmides Etárias entre 1960 e 2010, no Brasil

Fonte: Weinberg; Betti (2011).

Para os dirigentes do Banco Mundial os problemas urbanos estão resumidos a três grandes temas: 1. O crescimento urbano, inclusive do ponto de vista demográfico, e sua gestão; 2. Mudanças Climáticas; e 3. Crise Econômica e Financeira.

A ação do Banco Mundial, no sentido de combater esses problemas, objetiva alcançar a produção, a paz social e a eficácia da produção citadina (OSMOND, 2009).

Entretanto, começam a surgir críticas a essa visão do problema urbano, colocado pelo Banco Mundial. Para alguns autores (Baro, Bunel, entre outros), principalmente urbanistas e pesquisadores, pertencentes ao Institut des Sciences et des Techniques de l’Equipement et de

l’Environnement pour le Développement (ISTED)1, a questão demográfica não é o mal maior. Tecnologias já são conhecidas para resolver muitos dos problemas ambientais e a crise financeira já foi equacionada na ação do socorro aos bancos, promovida pelos governos dos países mais atingidos. Essa ação só é possível hoje, devido os Tesouros Nacionais controlarem 30% do dinheiro circulante, fato que na crise de 1929 não foi possível, pois os Estados nacionais controlavam menos de 5% do dinheiro em circulação. Só uma ação governamental, leia-se estatal, evitou, na presente crise, a derrocada geral (VIANA, 2010).

A problemática urbana hoje é consequência direta das desigualdades sociais. Só o acesso das populações à terra, à habitação, aos serviços urbanos (saúde, água, esgoto, educação, transportes e lazer), e a implantação de políticas de valorização do patrimônio urbano e sócio-ambiental poderão reduzir os graves problemas urbanos, notadamente nas cidades costeiras por receberem os maiores contingentes migratórios.

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Retornando ao problema urbano específico do presente trabalho, a inserção do idoso na estrutura urbana e destacando a situação brasileira, embora a questão seja universal, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que, em 2040, teremos mais de 52 milhões de idosos ou 27% da população.

Alexandre Kalache, brasileiro que é conselheiro da área de envelhecimento global da Academia de Medicina de Nova Iorque e ex-chefe do Programa de Envelhecimento da Organização Mundial de Saúde, afirma que “Para se preparar para uma sociedade que está envelhecendo rápido como a brasileira é necessário haver um esforço coletivo, pois o

fenômeno terá impacto em todas as profissões” (KALACHE, 2005). A saúde será a mais requisitada dessas áreas e as transformações já estão em curso. Só para ilustrar o fato, o Brasil conta com 330.000 médicos; destes, 45.000 (13%) são pediatras, existem apenas 816 geriatras (2,4%), 68% deles na região sudeste. Isto num país onde a taxa de fertilidade, em uma década, caiu de 4,5 filhos por mulher para 1,08 filhos por mulher (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Adquirir o conhecimento necessário para lidar com pessoas com mais de 60 anos será um desafio e a palavra de ordem é a prevenção. Este fato demonstra que os cuidados com a saúde tendem a se estender para áreas fora da medicina.

A OMS lançou, em 2005, um documento (Guia Global: A Cidade Amiga dos Idosos)2, no qual estabelece as diretrizes para a construção de um ambiente saudável, para um mundo que se urbaniza e envelhece, a partir de 08 linhas de ação:

1. Espaços abertos e prédios. 2. Transporte.

3. Habitação.

4. Participação social.

5. Respeito e inclusão social. 6. Participação cívica e emprego. 7. Comunicação e informação.

8. Apoio comunitário e serviço de saúde.

Pensando em uma população saudável, o foco deve ser tanto aumentar a longevidade, quanto melhorar a condição de vida, com isso o campo se alarga da geriatria para a gerontologia. Profissionais, como arquitetos especializados em ambientes seguros para idosos,

2 Programa das Nações Unidas, por meio da Organização Mundial de Saúde (OMS), criado e coordenado pelo

médico brasileiro Alexandre Kalache (2005), com o objetivo de implantar um Guia das Cidades Amigas dos

Idosos, fixando diretrizes para a humanização do espaço urbano, tendo em vista o aumento da população idosa

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serão de fundamental importância nesse campo de atividade. Analisar a questão urbana, dentro de uma perspectiva histórica, e propor métodos e parâmetros, na estruturação de equipamentos, para uma cidade onde pessoas idosas, com bom nível de independência em suas atividades, possam ter uma melhor qualidade de vida, são os objetivos desse trabalho.

Um dos grandes temas da atualidade, e que preocupa urbanistas, sociólogos, geógrafos e filósofos em geral, é a questão do espaço público, sua apropriação por entidades particulares e populações marginalizadas, além de sua decadência a partir dos centros urbanos, extendendo-se até as periferias das grandes cidades.

Compreendido desde a antiguidade clássica como o espaço da “ação política”, ou ao

menos da “possibilidade da ação política na contemporaneidade”, esses espaços vêm a cada

dia, com o gigantismo das metrópoles ou descasos dos agentes políticos, sendo destruídos ou substituídos pelo enclausuramento ou construção de espaços segregados, como os shopping centers, os condomínios fechados e até mesmo dos chamados parques temáticos, criados mais para o espetáculo e o entretenimento, constituindo o exemplo de uma nova configuração espaço-tempo a que se denomina Metápolis (ASCHER, 1995), ou seja, uma nova relação entre cidade-tempo e espaço da mobilidade, objetivando uma progressiva redução do tempo necessário entre desejo e satisfação, ou seja, fenômeno urbano que, ultrapassando a escala metropolitana, desliga-se de qualquer suporte territorial para basear-se em redes de interconexões compostas por transportes visíveis e meios de comunicação invisíveis. Estruturas ou espaços, pertencentes à cidade ou não, que permitem à metrópole o seu funcionamento cotidiano. São novos paradigmas de algumas cenas cotidianas

arquitetonizadas”, ou seja, de caráter eminentemente estético e, ao mesmo tempo, esquecidos pela cultura arquitetônica cuja preocupação básica é o espaço interno.

Ângelo Serpa (2004) afirma que o abandono do espaço público e a segregação de populações situadas na periferia tanto das cidades como do sistema capitalista trazem, como corolário inevitável, os altos índices de violência tão comuns e constantes em todas as cidades do mundo, gerando uma reação, de concepção neoliberal, na produção de “um novo espaço”, destinado aos setores de rendas média e alta do extrato social.

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São os chamados “projetos urbanos estratégicos”, quando estes agentes públicos e privados estabelecem uma ação de longo prazo que, no fundo, representa a apropriação do espaço público por segmentos políticos e corporativos. (SERPA, 2004).

Olivier Mongin3 escreve sobre a consciência europeia no período sombrio entre as duas grandes guerras. Afirma que a cidade é uma questão de convívio. Portanto, de política. A grande ameaça contemporânea para as cidades é o que ele chama de fluxo tecnológico. As conexões em rede que interromperam a vivência que era possível exercitar às portas, umbrais, esquinas e praças. Vizinhos não se falam mais, eles se conectam. Para isto, não precisam, necessariamente, serem vizinhos. É esta solidão, travestida de ganho, que o autor aborda na sua obra.

Rem Koolhass4 introduz o conceito de “urbano generalizado”, fato decorrente do crescimento demográfico das entidades urbanas fora da Europa. Num quadro totalmente diverso de 1930, por exemplo, quando apenas 10% da população era urbanizada, atualmente estamos na metade e, em 2025, 2/3 dos humanos habitarão zonas urbanas. Segundo Mongin (2010):

[...] nenhuma das megalópoles será europeia, elas estarão na América Latina, no Sudeste Asiático e na África Subsaariana, numa extensão territorial e humana que aponta para um caos de características imprevisíveis. O que aumentará este caos será o peso das “conexões” (hub) no mundo da rede, das novas tecnologias, das ligações entre cidades globalizadas, porque entrar em rede parece ser mais importante do que se relacionar com a proximidade.

O tráfego pesado e o isolamento dos habitantes em espaços murados, ou numa visão mais ampla, isolamento caracterizado pela falta de acesso ao trabalho, à educação, ao lazer e ao convívio, associados à falta de infraestruturas mais elementares como vias urbanizadas, por exemplo, que possibilitem o transporte público adequado e torne possível incorporar ao contexto urbano as periferias das grandes cidades.

Há a necessidade de se evitar megalópoles verticais, de firme hierarquia, que isolam os mais necessitados dos centros de decisão e a produção de um urbanismo com escala mais humana, lutando contra cenários urbanos mais contemporâneos, aqueles que colocam os lugares sob a pressão mais ou menos suportável dos fluxos de toda ordem, que desvalorizam o espaço público em benefício do privado, que privilegiam as separações mais do que as

3 Antropólogo, historiador e filósofo francês, no seu livro: A Condição Urbana: A Cidade na Era da

Globalização. São Paulo: Estação Liberdade, 2010. Cujo título remete à Condição Humana, de André Malraux, de 1933.

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junções de uma convivência necessariamente conflituosa, ou seja, a poli: a cidade na escala humana.

Talvez seja necessário estabelecer, ou criar, novas utopias. A utopia faz parte da tradição da cidade. É nela que se pensa em primeiro lugar. A de Jerusalém, da Babilônia Antiga, ou mesmo a polis grega, espaço onde podia-se conversar, conviver, mesmo revelando desacordos e diferenças. Deixemos de lado, no entanto, Thomas More, o autor de Utopia, que acreditava ser possível desenhar sobre uma mesa a cidade onde outros iriam viver.

Talvez o sonho, enfim a Utopia, hoje, significa inscrever os espaços no tempo e no espaço, praticando o que alguns autores chamam de sub-urbanismo, (o contraponto do sobre-urbanismo, das conexões em rede) exigindo que a percepção do lugar, do local, preceda o Programa. (MONGIN, 2010).

Vive-se primeiro em um lugar, um espaço conhecido e sensorial, numa paisagem que

representa uma narrativa comum. “[...] a cidade é a coisa humana por excelência”, já afirmava Claude Lévi-Strauss. Uma mistura de experiência vivida com sonho, natureza com cultura, de objetivo com subjetivo.

Constata-se, na escalada da violência urbana que acomete todas as grandes cidades e, particularmente, as cidades brasileiras, os alvos preferidos do crime organizado são

exatamente aqueles considerados como “ilhas de segurança”, como atestam os assaltos constantes a condomínios residenciais fechados e shopping centers, comprovando a tese de Jane Jacobs (2003, p.379), de que o fator que garante maior segurança no espaço urbano é a presença de pessoas nas ruas.

Este trabalho pretende colocar uma questão nova no debate: a presença no espaço urbano de uma nova categoria de pessoas antes não existentes, ou existentes de forma muito reduzida e não nas proporções hoje constatadas em decorrência do aumento de anos na expectativa de vida.

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Apenas 5% são pobres. Desempenho muito melhor do que a população em geral, que conta com 20% de indivíduos na faixa de pobreza. Até o início da idade moderna, a velhice estava restrita ao ambiente familiar e privado, vivendo sob dependência e sem desempenhar papel muito importante na sociedade. Olivier Mongin (2010) diz que “no cenário atual, passou a ser vista como uma questão pública, já que o Estado e outras organizações privadas assumiram a gerência da velhice, tentando homogeneizar suas representações.” Mudaram-se as ideias referentes ao envelhecimento, principalmente aquelas vinculadas pela mídia. “É preciso

derrubar e expulsar ‘modelos’ vividos no passado para se inserir nos jeitos diferentes de hoje”

(MONGIN, 2010).

O idoso, atualmente, está inserido nas discussões de políticas públicas, na organização de novos mercados de consumo, nas novas formas de lazer, não apenas para ser bem atendido, mas muito mais para ser preparado para viver a sua condição de idoso. Interessa ao Estado e empresas que o idoso seja consumidor e produza renda, além de estimulá-lo a cuidar de sua saúde, reduzindo despesas para os cofres públicos ou planos de saúde.

Quanto mais a terceira idade investir em seu corpo, com cuidados com a saúde, tanto mais benefícios ele proporcionará a si mesmo, às empresas, às entidades e ao Estado. São necessários investimentos para produzir novos significados e ensinar novos estilos de vida para os integrantes da terceira idade e os idosos. Os estilos de vida anteriores, na visão de organismos multilaterais como a OMS e o Banco Mundial, devem ser desconstruídos por serem inadequados para os dias de hoje. A velhice deve ser bem sucedida, vigorosa e sem sofrimentos. Atingir esse alvo passa pelo consumo de diversos produtos, pela busca de técnicas de rejuvenescer, pelos cuidados com o corpo e a saúde e, ainda, pela reinvenção do corpo: plásticas, silicones, botox e ingestão de produtos que curam e emagrecem. Passa, assim, o idoso a ser uma nova categoria cultural, o único responsabilizado pelos cuidados de si mesmo, pela sua participação social.

Numa sociedade cada vez mais urbanizada, coloca-se hoje, à disposição dos idosos e da terceira idade, espaços para atividades (academias) e programas de ensino (Universidade da Terceira Idade) voltados para faixas etárias, onde ficam classificados e aprendem como devem ser.

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quinze dias de férias gratuitas para casais idosos. Mantiveram-se os empregos e criou-se um programa de atenção à terceira idade. No Brasil, a gratuidade nos transportes interestaduais de ônibus e tarifas diferenciadas nos aviões seguiu o mesmo caminho, conforme o Artigo 39, da Lei 10.741 (BRASIL, 2003). Mas pode-se citar também, os Centros de Convivência dos Idosos, Grupos da Terceira Idade, Escolas Abertas, Universidades da Terceira Idade, os já citados programas turísticos, clubes que oferecem atividades físicas e diversões, lojas de produtos de embelezamento para uma velhice saudável, tratamentos médicos, complementos alimentares e outros tantos.

O Poder Público criou uma Política Nacional do Idoso, orientada pelo Estatuto do

Idoso (Lei 10.741/2003), através do qual assegura os direitos, a autonomia, a integração e a

participação desta categoria com sua cultura e educação para a cidadania. Proporciona-se todo um comportamento moderno que desafia estas pessoas a se envolverem nas atividades e adotarem novas formas de consumo e estilo de vida, sob pena de serem acusados de

‘culpados’ se ficarem relegados ao abandono e à dependência.

Mas, pelas considerações iniciais feitas a respeito da vida urbana, de uma civilização globalizada e urbanizada, fica uma indagação: como o idoso poderia se beneficiar de todas as conquistas citadas, obtidas até agora, num espaço urbano caótico e agressivo que, pelo menos teoricamente, não proporcionará a sua completa integração em termos de espaços, acessibilidade, edificações, públicas e privadas adequadas, de lazer, moradia adequada, transportes e vivência comunitária?

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2 TEORIAS SOBRE A CIDADE

A cidade ocidental moderna tem sido pensada sob distintas matrizes teóricas, com diferentes graus de abstração e generalização. Busca-se formular um breve panorama de algumas concepções que marcam o pensamento sobre a cidade. Trata-se, portanto, de um recorte, o que implica na eleição de alguns paradigmas, na exclusão de outros, ante a impossibilidade de contemplar todos os autores e tendências.

No caso do presente trabalho, A Cidade e o Idoso, não foi identificada, por parte dos autores citados, uma preocupação específica com a problemática do idoso e as suas relações com o espaço urbano. Todos os estudos, em várias disciplinas (psicologia, sociologia, entre outras), até então, desenvolviam estudos e teorias que organizavam o desenvolvimento humano sem levar em conta a velhice.

Só com a intensificação do processo de urbanização da humanidade e a carga de estresse aí embutida, considerando-se ainda o aumento na expectativa de vida das pessoas, novas linhas de investigação foram surgindo, inclusive a da Gerontologia, que passa a se interessar por temas como: plasticidade (capacidade de mudança em face de experiência e uso), adaptação, seleção e otimização de recursos e habilidades (referenciados pelas teorias de Paul Baltes), sabedoria, dependência aprendida, seletividade emocional (Laura Carstensen), hormesis (estressores de pouco impacto que beneficiam o organismo e o preparam para enfrentar estressores de maior impacto); modelos teóricos para mensurar a

velhice bem sucedida (Rowe e Kahn) e a velhice acompanhada por incapacidades e fragilidades (Linda Fried). A partir daí, surgiram as primeiras abordagens sobre o idoso e as

suas relações com o ambiente, entre eles o ambiente urbano.

O esforço do presente trabalho vai no sentido de entender primeiro o que é a cidade, à luz de diferentes teorias, e posteriormente, estudar, à luz da Gerontologia e de outras ciências, a inserção do idoso no ambiente urbano.

As diferentes teorias sobre a cidade estudam o ambiente urbano dentro de uma visão mais ampla, não necessariamente destacando aspectos como gênero, faixa etária, etnia etc. É compreensível não se falar em idosos quando grande parte das teorias conhecidas terem sido apresentadas quando este problema não existia em face da pouca ou baixa expectativa de vida. Portanto, procura-se aqui entender primeiro a cidade para, posteriormente, entender a terceira idade e o impacto que esta causará no ambiente urbano.

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portanto, parte integrante de processos sociais mais amplos. Para os autores, a cidade expressa a miséria e a degradação da classe trabalhadora na Inglaterra (ENGELS, 1976), retomadas depois em O Capital (Marx, 1867). Para eles “[...] a história de qualquer sociedade até os

nossos dias é a história da luta de classes” (MARX, 1998, p. 39). Deriva dessa concepção o papel histórico e estratégico que os autores imputam à cidade industrial do século XIX, como lócus da luta de classes. Berço da burguesia e de sua ascensão revolucionária, a cidade é também o espaço onde se evidencia a exploração dos trabalhadores e onde, dialeticamente, tal operação será superada, por meio da revolução operária. A cidade capitalista, nessa perspectiva, tem concretude histórica.

A ótica de Max Weber (1864-1920) é diferente. Ele concebe a cidade como do tipo-ideal, demarcando um campo teórico diferenciado. Para ele, interessa explicitar a origem e o desenvolvimento do capitalismo moderno e da racionalidade que o atravessa em todas as suas esferas, destacando o papel que a cidade desempenha na emergência desse processo. Em The

City (1922), está sua observação mais sistemática sobre o fenômeno urbano. Estes escritos

foram, posteriormente, incorporados à obra Economia e Sociedade, sob o título A dominação

não legítima (1910/1921), onde ele aborda as diferentes tipologias de cidades. Ali ele reúne

uma variedade de estudos sobre a antiguidade, sobre a ética protestante, o espírito do capitalismo e a moral econômica das grandes religiões. Ele procura ainda pesquisar a política econômica urbana, tal como se desenvolveu na cidade medieval, e visava compreender o papel da cidade no desenvolvimento do capitalismo moderno. Na sua forma típica ideal, ainda segundo Weber, a cidade caracteriza-se por constituir-se como mercado e possuir autonomia política, enfatizando ser o modelo medieval o seu tipo ideal de cidade.

Émile Durkheim (1858-1917) só indiretamente se interessa pela cidade. Focou seus estudos mais na morfologia social. Analisa a sociedade a partir da disposição, em determinado território, de uma massa de população de certo volume e densidade, concentrada nas grandes cidades ou dispersas nos campos, que, servida por diferentes vias de comunicação, estabelece diferentes tipos de contato. Portanto, é no contexto da anatomia da sociedade, em seus aspectos nitidamente estruturais, que a cidade aparece como substrato da vida social, acumulando e concentrando parcelas significativas da população.

Contrapondo-se aos preceitos teóricos e o alto grau de abstração e generalidades presentes nos pensamentos de Marx, Engels, Weber e Durkheim, aparece a metodologia largamente empiricista da Escola de Chicago, de onde surgiu o conceito de ecologia urbana.

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Park, Ernest Burguess e Roderick Mackenzie, promovendo um estudo detalhado dos fenômenos sociais que corriam nos setores urbanos das metrópoles. Na época, houve um aumento populacional repentino na cidade de Chicago e esta não estava preparada para receber todo este contingente populacional, gerando uma serie de problemas sociais, como criminalidade, bolsões de pobreza, desemprego e comunidades segregadas. A Escola de Chicago, primeira do mundo a oferecer um curso de sociologia, inaugura uma reflexão inédita, tratando-a como variável isolada, e, pelo feito, recebendo os créditos pela criação da

sociologia urbana. Embora numa postura crítica, recebeu influências de Durkheim e Spencer

e, na sua fundação, recebeu o apoio financeiro de John D. Rockfeller (REISSMAN, 1972). Manuel Castells contesta esta sociologia que advoga a ideia da existência de um urbano em si mesmo. Para Castells, não é uma postura científica, mas ideológica. Mesmo procedente, essa crítica não invalida a importância dessa abordagem que se orienta pelos conceitos da ecologia humana. A teoria de Robert Park, principal mentor intelectual da Instituição sobre a ecologia humana e as áreas naturais, pressupõe uma analogia entre o mundo vegetal e animal, de um lado, e o mundo dos homens, do outro, apoiando-se muitos nos conceitos de Charles Darwin e sua Teoria da Evolução, quando introduz conceitos como competição, processo de dominação, processo de sucessão, para explicar tal similaridade. A cidade é apreendida por meio de um referencial de análise analógico à ecologia animal. Daí ser identificada como Escola Ecológica.

Louis Wirth, outro expoente da Escola, afirma que a cidade produz uma cultura urbana para além de seus limites espaciais. A cidade, atuando além dos seus limites físicos, propaga um estilo de vida urbano e torna-se o lócus do surgimento do urbanismo como modo de vida. Esta premissa é totalmente inovadora.

Transformando Chicago em um “laboratório social”, fato que marca o empirismo que

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A matriz principal da sociologia francesa considera o urbano como espaço socialmente produzido, assumindo diferentes configurações de acordo com os vários modos de organização socioeconômica e de controle político onde está inserido. É uma abordagem semelhante à da “new urban sociology”. A interação entre as relações de produção, consumo, troca e poder que se manifesta no ambiente urbano ganha mais importância na abordagem francesa. Esse enfoque expressa o descontentamento dos neomarxistas franceses com a ideia vinda da Escola de Chicago de que haveria um urbano por si mesmo, a partir do qual era possível explicar uma série de fenômenos sociais.

Castells, Lojkine, Ledrut e Lefebvre apresentam novos paradigmas para a reflexão sobre a cidade. Politiza-se a questão urbana, e novos agentes passam a interferir no processo: os movimentos sociais urbanos, os meios de consumo coletivo, a estruturação social do território na sociedade capitalista e o papel do Estado na urbanização. Lojkine (1981) discute a questão do Estado na sociedade de capitalismo avançado, com base na hipótese de que a urbanização, como uma forma desenvolvida da divisão social do trabalho, é um dos maiores determinantes do Estado do Bem-estar Social. Ele analisa o papel do Estado na urbanização capitalista, a relação da política urbana e suas dimensões na luta de classes e a questão dos movimentos sociais urbanos diante do Estado.

Henri Lefebvre (1969) traz um novo enfoque sobre a cidade, concebendo-a como reino da liberdade e do novo urbanismo. Em que pese a sua notoriedade como um dos maiores teóricos do marxismo contemporâneo, tem suas últimas obras, no campo urbanístico, criticadas, tanto por Castells (1977), quanto por Ledrut (1976), que afirmam que o autor

expulsa o marxismo do campo das lutas de classes para o da “cultura”, formulando assim,

uma concepção ideológica do urbano. Na ótica de Lefebvre, o urbano não representa apenas a transformação, pelo capitalismo, do espaço em mercadoria, mas também a arena potencial do cotidiano vivido como jogo, como Festa. Considera simplista a concepção que coloca, de um lado, a empresa e a produção e, de outro, a sociedade e o consumo, o que não permite desvendar a verdadeira dimensão do espaço. É uma clara resposta às críticas de Castells e Ledrut.

Lefebvre conceitua ainda os espaços a partir de uma trilogia: espaço percebido (perçu), correspondente à “prática espacial” que assegura a continuidade numa relativa coesão. A prática espacial é diferente, conforme os conjuntos espaciais próprios de cada formação social. O espaço concebido (conçu) é correspondente às “representações do

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representação. É o espaço dos habitantes, dos utentes, que tentam se apropriar do espaço pelas imagens e símbolos que o acompanham.

Aníbal Quijano, sociólogo peruano, inicia a reflexão latino-americana sobre a urbanização e o desenvolvimento, no início dos anos sessenta, a partir do conceito de

“Colonialidade do Poder”. Ante o dispositivo de poder que gera o sistema mundo moderno-mundo colonial e que é reproduzido estruturalmente no interior de cada estado nacional, Quijano entende que “[...] a espoliação colonial é legitimada por um imaginário que estabelece diferenças incomensuráveis entre o colonizador e o colonizado”. As noções de

“raça” e de “cultura” operam aqui como um dispositivo taxonômico que gera identidades opostas. O colonizado aparece como o “outro da razão”, o que justifica o exercício de um

poder disciplinador por parte do colonizador. A maldade, a barbárie e a incontinência são

marcas “identitárias” do colonizado, enquanto a bondade, a civilização e a racionalidade são

próprias do colonizador. O conceito de “colonialidade do poder” amplia e corrige o conceito de Michel Foucault (1979) de “poder disciplinar”, ao mostrar que os dispositivos pan-óticos erigidos pelo Estado moderno inscrevem-se numa estrutura mais ampla, de caráter mundial, configurada pela relação colonial entre centros e periferias devido à expansão europeia.

O confronto entre uma sociologia urbana de cunho ecológico, com origem nos EUA, e uma sociologia preocupada com o urbano de forma mais abrangente, como defendida por intelectuais europeus, principalmente franceses, despertou, no Brasil, o interesse de alguns pensadores para trabalhar a sociologia urbana como disciplina especializada. Já na década de 1940, estudava-se no país por meio de pesquisas e reflexões sobre pequenas comunidades urbanas, tendo como parâmetro os trabalhos desenvolvidos pelos antropólogos americanos Donald Pierson e Charles Wagley. 5

A sociologia urbana brasileira, entendida como “ciência do urbano”, passa a existir de

fato a partir de 1968 com a obra Desenvolvimento e Mudança Social: formação da sociedade

urbano-industrial no Brasil, de Juarez Brandão Lopes, a primeira grande iniciativa de

reflexão sociológica sobre a relação entre desenvolvimento industrial, falência do modelo patrimonial e urbanização. O trabalho de Lopes, os estudos latino-americanos, principalmente a partir da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), incentivaram vários sociólogos brasileiros na década de 1960, como Francisco de Oliveira, Paul Singer, Maria

5 Os antropólogos norte-americanos Donald Pierson e Charles Wagley, em meados do século XX, escreveram

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Célia Paoli, Luis Pereira, Lucio Kowarick, entre outros, a se aprofundarem sobre o tema. Todos, entretanto, rejeitaram criticamente a Teoria da Marginalidade, demonstrando que esta resulta não de um problema de integração social, mas de uma questão mais ampla, estrutural:

a preservação da pobreza é produzida através de mecanismos que nada têm de “marginais” ao

sistema.

Introduzem, ainda, conceitos sobre “periferização” e “espoliação urbana”, chamando atenção para a dimensão política na urbanização, quando denunciam a dupla espoliação da classe trabalhadora: como força de trabalho subjugada pelo capital e como cidadãos submetidos à lógica da expansão metropolitana que lhes negava o acesso aos bens de consumo.

Com relação à escola de Chicago, é fato consumado que ela exerceu grande influência entre os pensadores brasileiros. Por sua vez, os preceitos da sociologia urbana francesa marcaram os anos de 1980 como pano de fundo teórico dos estudos sobre as contradições urbanas e, acima de tudo, o grande tema da época: os movimentos sociais urbanos. Apoiada no pensamento marxista, a sociologia urbana francesa desenvolveu, juntamente com a teoria da marginalidade, importantes estudos a respeito da cidade.

Atualmente, os estudos urbanos brasileiros, apesar de continuarem importando paradigmas, desenvolvem um grande esforço para investigar e explicar as particularidades da realidade urbana brasileira6. A temática da globalização, da violência, das drogas e do crime organizado estão presentes nos estudos sobre as metrópoles brasileiras. A discussão sobre uma cidade dividida, dual, em que o espaço dos ricos contrapõe-se ao dos pobres, resultantes da globalização das economias urbanas, além de novos desafios que são postos como questões dos espaços públicos, da acessibilidade aos bens de consumo urbano, pelas populações mais pobres ou, então, por um campo sociológico novo, não verificado anteriormente, mas pela quantidade de indivíduos nele incluído, em permanente crescimento e pela complexidade espacial e socioeconômica contida no seu bojo, passa a preocupar e interessar diferentes áreas de estudos: a questão do envelhecimento da população.

A estrutura e a forma do espaço urbano que deverão ser produzidas para inclusão social dessa nova categoria sociológica, nos aspectos de acessibilidade, habitação e lazer, entre outras exigências, exigiu um estudo, o mais abrangente possível, sobre a evolução da

6 Entre os anos 1980 e o período atual, foram intensificados os estudos urbanos no Brasil a partir da fundação de

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forma dos sítios urbanos ao longo da história para fundamentar e procurar estabelecer paradigmas e parâmetros adequados para este novo desafio.

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FORMA URBANA

No presente capítulo abordaremos a evolução da forma urbana e a importância das diferentes configurações do espaço urbanizado na tarefa de promover as relações de troca e o funcionamento dos serviços que mantêm a vida urbana. Historicamente, arquitetos e urbanistas trabalham suas propostas obedecendo a um conceito humanista, geral, priorizando o ser humano sem tratamentos específicos por gênero ou faixa etária. Quando muito se preocupam é com o espaço das crianças, dimensionando-o a partir das demandas da escala infantil, como fez Lúcio Costa em Brasília, ao estabelecer critérios, no planejamento das super-quadras, mais voltados para este segmento etário da população (COSTA, 1995).

Atendendo às crianças, nas suas demandas espaciais, com folga, acreditava Costa, estariam atendidas as demais faixas etárias. “Para as crianças, tudo, para os idosos nada” (VERAS, 1994). A cidade sempre foi planejada, intencional ou empiricamente, tendo como base a figura humana. Só após o advento do automóvel este passou a ser a medida urbanística básica. Os idosos, até pela sua pouca importância em termos quantitativos, nunca foram levados em conta no planejamento urbano. Atualmente este quadro mudou, ou encontra-se em mutação. A grande quantidade de pessoas com idade acima de 60 anos é uma realidade cada vez mais presente e tem suscitado, nos planejadores, uma maior atenção com esta faixa etária da população ao elaborar os seus projetos. Não apenas play-grounds, mas salão de danças, pistas adequadas e especializadas para caminhada de idosos, áreas de estar com jogos de salão, piscinas adequadas para idosos, quadras de brocha etc., passam a ser implantados no espaço público. Mas como dimensioná-los? É o que este trabalho pretende mostrar a partir da evolução da forma urbana e como ela se apresenta hoje.

A estrutura da cidade é formada, basicamente, por 4 elementos: ruas, praças, quarteirões e lotes. Através do sistema viário fluem as relações de troca e os serviços que mantêm a vida urbana. Por maiores que sejam as variações, basicamente todos os sistemas viários se enquadram em três tipos – xadrez ou grelha, radial e o orgânico, ou espontâneo.

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Das mais antigas formas, o “traçado em xadrez” é o mais utilizado ao longo da história. Inventada há mais de 4.000 anos, mas batizada somente em 473 a.C. pelo arquiteto e urbanista grego Hipodamos, autor do paradigmático plano da cidade de Mileto, a ‘quadrícula ortogonal’ (grid) assumiu diferentes dimensões e formatos

variáveis ao se disseminar pelo mundo (MUNFORD, 1996).

A variação mais comum é quando assume a forma retangular (passando a ser chamada de grelha). Geralmente implantadas e mais adequadas para sítios planos, este tipo de urbanização contrapõe-se ao padrão irregular e tortuoso encontrado em diversas cidades que, por necessidade de defesa e proteção contra ataques inimigos, eram implantadas em áreas montanhosas ou de relevo acidentado. É o caso, por exemplo, do período colonial brasileiro, quando a forma urbana, como um todo, foi influenciada por questões econômicas e ideológicas, que visavam instrumentalizar as cidades e construções com elementos de controle e defesa do território, e a dominação da população, via cobrança de impostos.

Com o correr do tempo, com o advento da independência do país em setembro de 1822, não só a necessidade de defesa da costa quanto da cidade construída no interior, foi reduzida. As cidades passaram a ser implantadas, a partir do século XIX, tendo em vista outros parâmetros. Aspectos de ordem econômica, custos de construção, dificuldade de mão-de-obra, entre outros fatores, passaram a influenciar a escolha do sítio, pois não se tinha a necessidade de se implantar cidades sobre um relevo íngreme, principal característica do período anterior.

Sítios menos acidentados passaram a ser escolhidos e o solo começou a ter valor comercial, item que passou a influenciar, decisivamente a organização da forma urbana. A partir do final do século XIX e início do século XX, surgem no interior do país, principalmente nas regiões sul e sudeste, várias cidades com o milenar traçado xadrez.

O Brasil assumia a liderança na exportação de café e outras matérias primas desde o início até meados do século XX, quando surgiram várias cidades, decorrentes deste tipo de economia, utilizando o traçado xadrez (Bauru e Marília em São Paulo, Londrina no Paraná) e, depois no Centro-Oeste (Catalão, Gurupi, Goianésia) aí já influenciadas pela economia agropecuária e a construção de Brasília (WILHEIM, 1969).

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aos poucos sofrendo desvalorização. Exemplo, O Plano de Mileto7 (figura 1), que contempla as quadras ortogonais, na forma xadrez, modelo de urbanização que influenciou e influencia arquitetos e urbanistas de várias épocas (Quadro 3).

Figura 1 – Plano de Mileto.

Fonte: Gouveia (2003, p.25).

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Tabela 1 - Faixas etárias da População Idosa no Brasil  Idade.  (Evolução)  2000 *  %  2010 * %  60 a 64 anos  2,71  3,49  65 a 69  2,11  2,61  70 a 74  1,62  2,04  75 a 79  1,05  1,41  80 a 84  0,61  0,92  85 a 89  0,32  0,45  +    90  0,15  0,24
Gráfico 2  – Pirâmides Etárias entre 1960 e 2010, no Brasil
Figura 4  – Esquina padrão do Plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona.
Figura 5  – Esquina onde o edifício valoriza o espaço urbano, ao proporcionar abrigo ao pedestre
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Referências

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