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A SITUAÇÃO DO IDOSO NO BRASIL DE HOJE.

No documento A cidade e o idoso (páginas 56-60)

3 O IDOSO NA SOCIEDADE E NAS CIDADES

3.2 A SITUAÇÃO DO IDOSO NO BRASIL DE HOJE.

Três grandes instituições nacionais estão pesquisando e apresentando dados sobre a situação do idoso no Brasil: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais Aplicadas e a Fundação Perseu Abramo. Estima-se que 11% da população, algo entre 19 e 21 milhões de pessoas, compõe o quadro da população brasileira com mais de 60 anos. O Brasil, até 2.020, deverá ser o sexto país do mundo em número de idosos. Espera-se que dentro de cinco anos o país conte com mais de 45.000 pessoas com mais de 100 anos de idade, segundo Camarano; Kanso; Mello ([2002]).

Os especialistas do IPEA apontam os avanços da qualidade de vida (saúde, educação e habitação), verificados no século XX, ao lado da queda na taxa de fertilidade no Brasil nos últimos 10 anos, entre 2000 e 2010 (a taxa de fertilidade por mulher caiu de 3,8 filhos para 1,8 filhos per capita), como os principais causadores do processo de envelhecimento populacional (CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]) (Tabela 2).

Tabela 2 – Evolução do número de idosos no Brasil

Ano Nº de Idosos Nº de idosos com 80 anos ou mais

1950 2.210.318 209.180

2000 14.536.029 1.832.105

2050 55.555.895 3.065.000

Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]).

Tal situação provocará enormes dificuldades para os programas de previdência social, notadamente aposentadorias, segundo alguns especialistas do mercado financeiro (por

exemplo, Raul Veloso), que apresenta um quadro de falência da previdência social (Tabela 3), muito embora, para vozes discordantes, estas estatísticas revelam, no fundo, desejos velados de privatização do setor por organismos transnacionais. Não estariam sendo levados em conta fundos de previdência, como o FINSOCIAL, o Fundo de Amparo ao trabalhador (FAT), o FGTS, entre outros que cobririam com folga os gastos previdenciários.

Tabela 3 – Evolução do número de contribuintes e aposentados do INSS:

Ano Contribuintes Aposentados

2008 34.600.000 22.700.000

2032 (Previsão) 43.400.000 47.700.000

2050 (Previsão) 43.900.000 61.700.000

Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]).

Como pode ser verificado, o fenômeno do envelhecimento deverá trazer grandes problemas sócio-econômicos, caso nada seja feito para saná-lo. As previsões é de que o país deverá apresentar índices de desenvolvimento econômico entre 4,5% e 7,5% ao ano, durante algum tempo, aumentando os níveis de emprego e renda e, com isto, equilibrando as contas da previdência. Poderá haver um colapso na previdência social se o número de beneficiários for superior ao de contribuintes.

No quadro abaixo (Tabela 4), podemos observar o crescimento do número de idosos no Mundo (desenvolvido e subdesenvolvido), relativamente ao Brasil.

Tabela 4 – População com mais de 60 anos.

Situação por países 1970 % 2005 % 2025 %

Mundo 31,9 8,4 672,4 10,4 1.192,6 15,1

Países em Desenvolvimento 165,4 6,2 428,3 8,2 849,6 12,8

Países Desenvolvidos 146,5 14,5 244,1 20,2 342,9 27,5

Brasil 5,5 5,7 16,5 8,8 35,1 25,4

Fonte: Organização das Nações Unidas (2008). *Números absolutos (em milhões) e percentuais.

Com base nos dados acima, percebe-se que, em 1970, a percentagem de idosos no Brasil era menor que a do mundo, dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento. Em 2005, já supera a dos países em desenvolvimento. E, em 2025, a previsão é de que a percentagem do número de idosos no país será superior à do mundo e à dos países em desenvolvimento e se aproximará da dos países desenvolvidos.

Em 2002, reunida em Madrid, a Organização Mundial de Saúde, preocupada com o

a necessidade dos idosos terem uma vida saudável e ativa, estabelecendo medidas na área de saúde para promover uma melhor qualidade de vida para a terceira idade, em que estejam presentes a independência, a participação social, a assistência, a auto-realização e a dignidade. Por outro lado, por ser um tipo de população que, na sua maioria, está aposentada e dispõe de tempo livre, a principal medida tomada pelas autoridades envolvidas com o assunto foi estabelecer, ao lado das preocupações com a saúde, ações concretas no sentido de criar condições para preencher o tempo de ócio dos idosos: ou seja, uma política de lazer em todas as áreas onde fosse possível atender essa demanda. Outra preocupação essencial é a questão do abrigo: seja no caso das tipologias habitacionais ou o local, no espaço rural ou urbano, principalmente, pois estamos vivendo uma época de urbanização acentuada em todas as partes do mundo. Saúde, habitação e lazer com participação ativa na vida social, são os aspectos a serem abordados no presente trabalhos tendo como objeto grupos da terceira idade.

Segundo o IBGE (2010), os idosos têm procurado cada vez mais os centros urbanos, devido à infraestrutura urbana, notadamente nos serviços de saúde ou nas atividades cotidianas, onde podem dispor de serviços de abastecimento, lazer e convívio, e aproveitando as oportunidades de contato para desenvolver novas oportunidades, melhorando a sua qualidade de vida. Sendo assim, torna-se imperativo analisar as suas necessidades quanto ao uso do espaço privado que atende as suas necessidades individuais e também quanto ao uso dos espaços públicos urbanos, parte da infraestrutura urbana necessária para garantir a qualidade de vida nas cidades.

Deve ser ressaltado ainda que o envelhecimento é também uma questão de gênero. Existe uma feminização da velhice. Considerando a população idosa como um todo, observa- se que 55% dela é formada por mulheres. Quando desagregada pelos subgrupos de idade, a diferença entre essas proporções aumenta, principalmente entre idosos. A proporção do contingente feminino é mais expressiva quanto mais idoso for o segmento, fato explicado pela mortalidade diferencial por sexo. Isso leva à constatação de que o “mundo dos muitos idosos é um mundo de mulheres” (Carstensen; Pasupathi; Mayr, 2000). A prevalência de mulheres também se tornou mais expressiva ao longo das décadas. Houve um aumento no período entre 1940 e 1960, embora com uma queda acentuada nas décadas seguintes.

As mulheres estão mais presentes nas cidades. Nas zonas rurais, a predominância é masculina. Este fato é explicado pela maior participação das mulheres no fluxo migratório. Isso implica necessidades distintas de cuidados para a população idosa. A predominância masculina nas áreas rurais pode resultar em isolamento e abandono das pessoas idosas (CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).

Lloyd-Sherlock (2009) afirma que, mesmo que a velhice não seja universalmente feminina, ela possui um forte componente de gênero. Mulheres idosas experimentam maior probabilidade de ficarem viúvas e em situação socioeconômica desvantajosa. Embora o perfil esteja sendo alterado pela entrada cada vez mais acentuada de mulheres jovens no mercado de trabalho, a maioria das idosas brasileiras de hoje nunca tiveram um trabalho remunerado durante a vida adulta. Ressalte-se que, embora vivam mais do que os homens (em média sete anos, segundo o Censo de 2010 do IBGE), passam por um período maior de debilitação física antes de morrer do que eles. Já homens mais velhos têm maiores dificuldades de se adaptar à saída do mercado trabalho, segundo Simões (2007).

A composição da população idosa por cor e raça não se diferenciou da distribuição da população como um todo, em que há predominância da população de cor branca, seguida pela parda. Dos 22 milhões de idosos, segundo o Censo de 2010, 13.354.000 se consideraram brancos (60,7%), 6.764.000 (30,7%) se consideraram pardos, e 1.540.000 (7%) se consideraram pretos. Amarelos e índios representam apenas 1,2% da população de idosos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).

Comparadas aos homens, as mulheres idosas apresentam uma proporção mais elevada de brancas e um menor número de pardas e pretas, fato que pode ser explicado pelos diferenciais de mortalidade por raça. Deve-se também verificar a possibilidade da existência de um problema de enumeração nas informações desagregadas por cor/raça por serem essas resultantes de autodeclaração (CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).

Outro fator a ser levado em consideração diz respeito às influências que as questões de gênero e etnias podem provocar nas tipologias habitacionais. Em geral, as mulheres aceitam viver coletivamente, sem maiores preconceitos, com mais facilidade que os homens, normalmente mais propensos ao isolamento (CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).

No documento A cidade e o idoso (páginas 56-60)