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Conceituação e Dimensionamento dos Equipamentos

No documento A cidade e o idoso (páginas 108-116)

5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO

5.2 A CIDADE PARA O IDOSO: HABITAÇÃO

5.2.3 Conceituação e Dimensionamento dos Equipamentos

As principais tipologias habitacionais, encontráveis, por exemplo, nas periferias das grandes cidades do mundo inteiro, permanecem aproximadamente as mesmas há décadas. O Movimento Moderno europeu do entre-guerras constituiu o primeiro e único momento em toda a história da Arquitetura em que o desenho e a produção de espaços de morar foram integralmente revistos, analisados de acordo com critérios claramente formulados, cujos resultados nortearam – e ainda norteiam – boa parcela de projetos de habitação em todo o mundo ocidentalizado (Figura 37).

Figura 37 – Edifício residencial HILEA (São Paulo)44.

Fonte: Edifício residencial HILEA (São Paulo) (2009, p.34).

44Equipamento implantado em São Paulo (Brasil), destinado à moradia de idosos de alta faixa de renda. Os custos de operação e manutenção inviabilizaram o empreendimento, que foi estatizado pelo Governo do Estado e transformado na Fundação Lucy Montoro e destinado a idosos de todas as faixas de renda. Conta com ambulatório, apartamentos individualizados, área de lazer, mini-shopping (inclusive cinema), área de ginástica com piscina semi-olímpica, área de fisioterapia, salão de eventos, estacionamento privativo.

No entanto, os arquitetos Modernos previram uma habitação prototípica, que correspondia a um homem, a uma cidade, a uma paisagem, igualmente prototípicos em sua formulação. Criaram um arquétipo, o da habitação-para-todos, baseado em uma concepção biológica do indivíduo, mas a abrangência das proposições que ele continha foi sendo gradativamente desconsiderada pela lógica técnico-financeira dos empresários da construção, que preferiram apropriar-se apenas de elementos e conceituações economicamente rentáveis. É este arquétipo Moderno da 'habitação-para-todos', mesclado aos princípios da repartição burguesa oitocentista parisiense, que veio sendo reproduzido ad infinitum, em todo o mundo de influência ocidental, durante todo o nosso século, com pequena variação local, destinado a abrigar, basicamente, a família nuclear. Porém, estudiosos de diferentes horizontes têm apontado na mesma direção quando o assunto é a metrópole do século XXI: seu habitante parece ser um indivíduo que vive, principalmente, sozinho, que se agrupa eventualmente em formatos familiares diversos, que se comunica à distância com as redes às quais pertence, que trabalha em casa, mas exige equipamentos públicos para o encontro com o outro, que busca sua identidade através do contacto com a informação. O que tem a dizer a Arquitetura diante deste quadro, se é que o tema Habitação já não lhe escapou de vez por entre os dedos para tornar-se atribuição de investidores e usuários que não possuem outra referência senão os modelos citados? Segundo quais critérios formularão novas propostas para o desenho deste espaço?

Dentro do quadro acima, está posto o acentuado envelhecimento populacional, desafio que o século XX colocou para o século 21: um acréscimo de 20 anos na expectativa de vida. No caso brasileiro, representa uma cifra que ultrapassa a população de muitos países: 22 milhões de idosos, segundo o Censo de 2010.

Neste trabalho, já foram vistas as determinações legais, além da opinião de especialistas, sobre a tipologia a ser adotada para abrigar idosos. Por outro lado, o Censo de 2010 verificou uma média por família em torno 3,09/pessoas, muitas delas chefiadas por idosos. Destes, 37% ainda ajudam financeiramente aos filhos.

Analisando-se os 11 países, já estudados neste trabalho (Alemanha, Bélgica, Brasil, Canadá, Espanha, EUA, França, Holanda, Itália, Reino Unido e Suécia), os quais detêm juntos, 19% dos 578 milhões de idosos do mundo, verifica-se os seguintes tipos de habitação para Idosos (Quadro 16):

Quadro 17 – Tipos de habitação para idosos

Forma de Habitação % Observações

Morando com Família 11 Como chefe da família ou amparado por ela. Clínicas Especializadas 4 Idosos com algum tipo de enfermidade.

Residências com Apoio 2 Hotéis especializados para idosos de alta renda e/ou estabelecimentos estatais e/ou filantrópicos para os demais. Residências Próprias 83 Habitações Unifamiliares e Multifamiliares.

Total 100

Fonte: Organização das Nações Unidas (2008).

Observa-se, pelo quadro, que o idoso, com todas as suas limitações físicas, prefere morar sozinho. A questão, tão somente, é como estabelecer uma tipologia que atenda, adequadamente, esta preferência.

No caso brasileiro (3,09 pessoas/família), poderia ser formado os seguintes arranjos:  Idoso(a) morando sozinho(a).

 Casal de Idosos.

 Casal de Idosos mais um parente (filho ou filha).

 Idoso(a) viúvo(a), ou separado(a) com dois parentes (sexos iguais).  Idoso(a) viúvo(a), ou separado(o) com dois parentes (sexos diferentes).

A prefeitura de São Paulo criou um programa habitacional para a 3ª Idade, estabelecendo:

 Habitações multifamiliares, edifícios de até 4 pavimentos, com unidades tipo kitinete para idosos que vivem só, com 24.00m², seguindo a seguinte distribuição de espaço: Sala/Quarto (14.40m²); Cozinha (4.80m²); Banheiro (4.80m²).

 Habitações unifamiliares, casas, ou multifamiliares, apartamentos, em edifícios de até 4 andares com elevadores, para famílias de idosos casados, mais um parente, com 45.00m², seguindo a seguinte distribuição de espaço: Varanda (7.32m²); Sala (12.00m²); Dormitórios (2) (9.00m², cada); Cozinha (4.80m²); Banheiro (2.88m²).  No caso de habitações unifamiliares em casas térreas, adotou-se pequenos conjuntos

de até 200 casas, mais praça, pequeno comércio, lavanderia, quadra de bocha.

Analisando-se a proposta da prefeitura de São Paulo (Desenho 10), poderemos considerar:

1. O padrão das casas atende à proposta do Programa Minha Casa Minha Vida, que determina 35.00m² para casas e 45.00m² para apartamentos.

2. A Taxa de Conforto é próxima da europeia que estabelece 25.00m²/Pessoa. (Instituto Habitacional e de Reabilitação Urbana –Lisboa)

Atualmente, recomenda-se que os conjuntos habitacionais não ultrapassem 1.000 unidades habitacionais, mesmo assim, divididos em pequenos conjuntos de 200 unidades para facilitar a administração, manutenção e operação destes conjuntos.

Considerando a exigência legal de 5% de habitações para idosos, o conjunto de 1.000 unidades teria 50 destinadas a idosos. E na subdivisão para 200 unidades, 10. Evitando-se, assim que o idoso habite guetos só com pessoas da 3ª idade.

Os pequenos conjuntos têm a vantagem de poderem ser implantados, de forma mais fácil e econômica, em pequenas áreas, dentro da malha existente, evitando a propagação do grande problema da estrutura urbana do país que é o espalhamento das cidades de porte médio. 200 casas poderiam abrigar até 600 habitantes, em 2HA, pela média familiar brasileira. Com uma densidade de 300 a 350 habitantes por hectare, a mais recomendada, no parcelamento urbano brasileiro, geralmente implanta-se 30 lotes por HA. O que representa 100 habitantes por HA, caso todos estejam ocupados, considerando-se a atual média familiar de 3,09 pessoas/família, e apenas uma habitação por lote.

Segundo Mascaró (1996), “[...] considerando o padrão de moradia mais econômico, a densidade mais adequada variou entre 300 e 350 habitantes por hectare, sendo o mínimo 40 habitantes por hectare para permitir uma utilização adequada da infraestrutura urbana”.

Desenho 10 – Casa para idoso ou casal de idosos.

O padrão de quadra de 127,2 X 127,2, utilizando-se lotes de padrão alto (15 X 30) é possível implantar habitações para 111 moradores, sendo 10 para idosos, em lotes de 15 X 15m (Desenho 11 e 12). Note-se que, na mesma quadra, implantou-se uma praça de vizinhança de 80 X 100m (8.000m²), onde se poderia alojar mais 80 pessoas. Sem contar pequenos espaços destinados a lojas de apoio (padaria, farmácia etc.) nas extremidades superiores da quadra. Este mesmo padrão de quadra, utilizando o padrão econômico de 45.00m² para apartamentos, poderia alojar até 700 habitantes, mantendo-se a quadra e as áreas de apoio.

[...] essas densidades, por sua vez, permitem ainda se ter uma boa qualidade ambiental na cidade – região subtropical úmida – ambiências urbanas agradáveis microclimaticamente quando associadas a perfis heterogêneos ou a afastamentos laterais entre edificações – no caso de regiões subtropicais – pois favorecem a insolação no inverno e a ventilação permanente no recinto urbano e nos ambientes dos edifícios que a ele se abrem, contribuindo para retirar a poluição aérea. (MASCARÓ, 1996).

Desenho 11 – Quadra para inserção de idosos45.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

45As dimensões da Quadra 127, 2 X 127,2 foram estabelecidas tendo em vista a resistência física dos idosos obtidas nas pesquisas de campo em Copacabana, para percorrer 1km ou 1.000m. Andando 2 (duas) voltas em torno da Quadra pode-se percorrer 1.017,6m. Como variação da proposta de Ildefonso Cerdá para Barcelona, foi deslocado o espaço livre do interior daquela Quadra para o perímetro externo da presente proposta, resultando um espaço, aberto, livre, dotado de equipamentos, ou seja, uma praça de vizinhança. Defronte à praça foram implantados os lotes 5 X 30 (5% do total dos lotes da Quadra) para habitação de idosos. Sem abandonar o tradicional partido xadrez, secularmente adotado em diferentes culturas, apenas foi introduzida uma pequena modificação no sentido de torná-la mais humanizada.

Desenho 12 – Quadra para inserção de idosos (detalhe da praça de vizinhança)46.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Tais afirmações também são válidas para outros climas do Brasil, como no semi-árido, onde a arquitetura funciona com ventilação natural. Voltando à Mascaro (1996):

As densidades são, também, eficientes do ponto de vista energético ao aproveitar os aspectos favoráveis ao clima local. Foi confirmado também o mesmo resultado para climas frios, estabelecendo uma forte conexão existente entre a forma urbana e o uso racional de energia.

O resultado formal do uso de densidades recomendadas tanto do ponto de vista econômico como ambiental-energético talvez não seja o idealizado pelas teorias (Teoria da Concentração Urbana, por exemplo) sobre o tema. Cidades compactas de centro densamente desenvolvido é, sem dúvida, uma grande atração para arquitetos e urbanistas, mas também para turistas que, romanticamente, vêem nelas lugares ideais para viver e experimentar a vitalidade e variedade da vida urbana. Entretanto, a cidade compacta pode se tornar superlotada e sofrer a perda da qualidade de vida com menos espaços abertos, maior

46A praça foi dimensionada com o objetivo de atender à população idosa, mas nada impede de ser utilizada por outras faixas etárias.

congestionamento e poluição, podendo chegar a ser o tipo de lugar onde a maioria das pessoas não gostaria de viver. Não é bom esquecer que a maioria das teses sobre adensamento urbano parte de países europeus, densamente povoados, situação bem diferente do Brasil, país continental e, ainda, para ser povoado em várias de suas regiões. Ressalte-se que as ideias que justificam a cidade compacta tiveram pouco impacto na Inglaterra onde, no pós-guerra, houve inúmeros movimentos de saída da cidade em favor das periferias.

No caso aqui considerado, uma quadra urbana onde possam ser alojados idosos, obedecendo a recomendação legal de destinar 5% dos lotes para este segmento da população, optou-se por um lote de 5 X 30 e uma casa com aproximadamente 60m², para um casal de idosos ou idoso morando sozinho. Essas casas foram implantadas em frente a uma quadra de vizinhança e seu entorno é composto por residências unifamiliares, em lotes de 15 X 30, com índice de aproveitamento máximo de 1 e Taxa de Ocupação de 50%, configurando uma casa de no máximo 450m² e mínima de 225m², destinada a famílias de características diversas e com possibilidade de interagir com os moradores idosos.

A dimensão da Quadra possibilita que, dando apenas duas voltas no seu entorno, o idoso possa completar 1km de caminhada e controlar o seu espaço/tempo de deambulação diária. A praça conta com vários equipamentos de apoio (quadra de voleibol, quadra de bocha, áreas de conversação, áreas de jogos de mesa, ponto de ônibus etc.), às atividades de lazer, tanto do ponto de vista ativo como contemplativo.

As dimensões da Quadra (127,2 X 127,2m) aproximam-se das dimensões das quadras de Ildefonso Cerdá (113 X 113m), obedecendo o partido xadrez, mas dimensionadas de acordo com a pesquisa de campo realizada em Copacabana, observando principalmente a capacidade física de pessoas entre 65 e 85 anos de idade, não excluindo evidentemente, pessoas com idade abaixo ou acima desse patamar.

5.3 O DESENHO UNIVERSAL

O Desenho Universal conceitua aquilo que é aplicável ou comum a todos os propósitos, condições e situações (Housing for the Lifespan of all People). No intuito de se encontrar, no futuro, um padrão universalmente aplicável às residências e equipamentos, muitos itens, das casas atuais podem e devem ser universalmente usáveis. O conceito de desenho universal aumenta a quantidade de habitações utilizáveis, permitindo que pessoas permaneçam em suas próprias casas na velhice.

Diante deste quadro, é fundamental a definição do indivíduo a quem se quer atender, com desenhos voltados para aquele padrão onde não se leva mais em conta os valores médios, em termos físicos, da população, padrão este que vem se modificando ao longo do tempo, principalmente na população brasileira.

Na nossa sociedade, hoje, há grande contingente de indivíduos com incontáveis dificuldades físicas, representando milhões que se encontram fora da “média”: crianças, idosos ou adultos com alguma restrição física, impossibilitados de ser parte integrante do padrão para o qual, geralmente, eram aplicados os parâmetros de desenho e construção.

Muitas são as pessoas sobrevivendo a acidentes graves, doenças permanentes e uma parcela cada vez maior de idosos que, com o passar do tempo, vão apresentando alguma restrição de movimentos. Estas pessoas com dificuldades, às vezes banais, ou transitórias, como ossos fraturados, doenças osteo-articulares, sequelas ou gravidez; sabem como é penoso tentar viver normalmente em ambientes que não estão preparados para as suas dificuldades. É necessário que os ambientes construídos para acomodar estas pessoas tenham que mudar para acompanhar as necessidades atuais do mundo e da população.

No documento A cidade e o idoso (páginas 108-116)