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A Evolução da Casa Brasileira

No documento A cidade e o idoso (páginas 102-108)

5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO

5.2 A CIDADE PARA O IDOSO: HABITAÇÃO

5.2.2 A Evolução da Casa Brasileira

Ao analisar as exigências mais comuns para se planejar a habitação para os idosos, sentimos e necessidade de se fazer uma rápida retrospectiva histórica da casa brasileira, como reflexo de uma situação social, pondo em destaque a posição do idoso. Evidentemente, a retrospectiva deverá se pautar por uma tipologia de habitação considerada normal, seja de caráter social ou de padrão mais alto, dada a dificuldade de uma análise mais profunda de habitações subnormais, como favelas e mocambos, por exemplo, embora estas não deixem de ser levadas em conta. Tal metodologia preocupa-se com o fato de que, ao se propor habitações para idosos, estas devam possuir características e exigências de habitabilidade, ou seja, construções atendendo a requisitos de normas técnicas.

43 O longo período sem investimentos (1990 a 2004) no setor de rodovias federais, principalmente, levou grande

parte dos engenheiros da área a se aposentarem ou procurarem outras atividades. Com a retomada dos investimentos na recuperação e construção de rodovias, o país foi obrigado a recrutar antigos profissionais (aposentados, principalmente) para realizar projetos, execução e fiscalização de obras rodoviárias. (Relatório CONFEA, 2009).

5.2.2.1 A Casa Oitocentista

A habitação burguesa é um modelo de casa originado no século XIX, caracterizado pela tripartição em espaços de prestígio, isolamento e rejeição, mais difundidos como social, íntimo e serviços (Desenho 7). O espaço de Rejeição é formado pelo banheiro, cozinha e dependência de empregada. O Espaço Íntimo são os quartos e sala de refeições. A sala de visitas é o local de prestígio, a principal parte da casa, onde se recebem visitas (habitação como vitrine de prestígio social). A loja, espaço de trabalho, é um anexo da casa (LEMOS, 1989).

A família tradicional burguesa era do tipo nuclear (família extensa), formada por pai, mãe e muitos filhos. O pai trabalhava em casa e era o responsável pelo sustento da família. Empregados domésticos eram responsáveis pelo funcionamento da casa e ficavam isolados propositadamente pelos patrões, inicialmente nas senzalas e, depois, com a urbanização, no sótão, parte superior dos sobrados. Era um modelo baseado nos sistemas de produção agrícola feudal. (LEMOS, 1989).

Desenho 7 – Casa oitocentista

5.2.2.2 A Casa Moderna

A Casa Moderna no Brasil tem como principal característica a introdução, no ambiente interno da habitação, das chamadas “áreas molhadas” (cozinha, banheiro e serviços) (LEMOS, 1989). Antes consideradas áreas subalternas, curiosamente, hoje, determinam o nível das habitações unifamiliares e multifamiliares, sendo, no caso dos sanitários, uma verdadeira mania nacional.

Mas a evolução foi lenta. Com a urbanização essas áreas primeiro foram edificadas em edículas (um anexo ao corpo principal da casa, onde ficavam área e dormitórios de serviços e sanitários.). Só depois foram sendo, aos poucos, introduzidas no corpo principal da casa. Geralmente um sanitário para toda a família e, posteriormente, a adoção dos sanitários privativos para cada dormitório (as chamadas suítes) quando a situação financeira do proprietário permitia.

Outra novidade foi a “Sala para TV”, um local onde as famílias possam usufruir desse

moderno meio de comunicação. Esse ambiente passou a ser o centro da habitação, antes localizado nas salas de refeição (Desenho 8).

Desenho 8 – Casa Moderna

A habitação moderna caracteriza-se pela bipartição dia/noite. Os quartos e os banheiros são espaços de uso íntimo e noturno (repouso). A cozinha centralizada, não mais isolada do corpo da casa, e a sala de estar são o coração do funcionamento diurno da casa (convívio). Os empregados, reduzidos a apenas um ou dois, são alojados em Edículas (anexo onde também era instalada a área de serviço). Em função da redução no tamanho dos ambientes das casas, deixa de existir o local para o trabalho.

Era também uma família do tipo nuclear, centralizada no pai e nas mães, com menos filhos que a família burguesa, devido à queda de fecundidade, a partir do início do século XX. O pai trabalhava fora, normalmente como funcionário de uma empresa (serviços, comércio ou indústria), e era o responsável pelo sustento da família. A mulher passou a substituir, em parte, a empregada doméstica, ficando responsável por parte do funcionamento da casa. Era um modelo baseado numa sociedade de produção industrial, o homem como mão-de-obra produtiva. (LEMOS, 1989).

5.2.2.3 A Casa Contemporânea

A habitação contemporânea (Desenho 9), tanto a habitação social quanto aquela

denominada de “alto padrão”, vem repetindo estas duas fórmulas há décadas. As variações

são mínimas. Em geral, caracteriza-se pela anexação, ou até eliminação, das dependências de empregados, no máximo existindo um banheiro de serviço para atender a uma nova forma de

empregados domésticos, os diaristas, ou o chamado “quarto reversível”, que tanto pode servir

a um empregado, caso exista, como para um outro membro da família, principalmente quando existem filhos de sexo diferentes. Entretanto, mesmo que agora tendam a habitar estes espaços, grupos domésticos cujo perfil difere cada vez mais da família nuclear tradicional, o desenho desta habitação continua imutável, sob a alegação de que se chegou a um resultado

Desenho 9 – Casa Contemporânea

Fonte: Casa Contemporânea (2011, p.23).

[...] arquitetura trata de um sujeito, o homem, que por definição e fatalidade é de natureza cambiável, evolutiva. Ele é primeiro solteiro, depois casal, depois família, com número indeterminado de filhos, depois dispersão dos filhos pelos seus casamentos... Enfim a morte, de tal maneira que a moradia feita para uma família não existe: o que existem são vários tipos de moradia para sucessivas idades. (LE CORBUSIER apud TRAMONTANO, 2007).

Dessa afirmação, deve ser colocada a questão de novos grupos domésticos existentes, muitas vezes em apenas certos períodos do ciclo de vida familiar, alternada ou simultaneamente. Indaga-se então se a esta flexibilidade não deveria corresponder uma flexibilidade do espaço? Nova família nuclear. Família monoparental. Uniões livres. Pessoas vivendo sós. Coabitação sem vínculos conjugais ou de parentesco. E a presença, como nunca na história, das pessoas idosas.

A compartimentação do espaço interno com funções definidas, que pressupõe a noção de “cômodos”, data dos séculos XV e XVII, constituindo um momento relativamente curto na história da habitação, enfatizada pelo Movimento Moderno já no século XX. Não estaríamos hoje diante de novas alternativas de qualificação do espaço, em uma sociedade tendendo a superequipar-se, onde o equipamento qualificaria os espaços permitindo a sobreposição de funções. (TRAMONTANO, 2007).

No Brasil, o prestígio de uma residência e, por extensão, do seu proprietário, é determinado pelo número de cômodos com funções bem definidas: sala de “almoço”, sala de

“jantar”, sala “de TV”, jardim de “inverno” etc. O surgimento da informática neste espaço talvez exija a sala do “computador”. As atividades que ele propõe deveriam ser isoladas em

um compartimento próprio ou integrado ao lazer de vários indivíduos do grupo doméstico? Mas, mesmo o computador, como já aconteceu com a TV, em função de um processo de miniaturização, tem possibilitado a cada membro da família possuir o seu equipamento, assim como o telefone celular, aumentando a individualização e o isolamento, revertendo um quadro que apontava para a eliminação da compartimentação no interior das residências.

A crescente necessidade de independência dos indivíduos está dando origem a espaços individuais privados que, ao mesmo tempo, podem comunicar-se entre si por meio de um espaço interno comum, com um acesso direto para o exterior. Tal configuração poderia indicar que a habitação contemporânea pode tornar-se um agrupamento de pequenas habitações individuais com um apoio (tipo banheiro e cozinha, por exemplo) comum? Não

seria uma forma avançada (e planejada) dos “cortiços” tão comuns nas nossas cidades?

A introdução de novos elementos de comunicação: TV a cabo, internet, celulares etc. indicam um novo tipo de espaço (onde o trabalho volta a ser feito no espaço da habitação) de

uso extremamente individual, o cyber espaço, “ante-câmara do mundo”, o local onde se

busca, individualmente, um contato com o mundo.

Todas estas questões foram levantadas no sentido de se procurar estabelecer, metodologicamente, os parâmetros ou padrões, para projetar a casa do idoso. Para fundamentar ainda mais esta pesquisa, procedeu-se a uma análise, no Brasil e no exterior, de tipologias bem sucedidas que, ao longo da história, demonstraram a sua conformidade para com os objetivos para os quais foram projetados.

No âmbito dos espaços internos da habitação, o que vemos por aqui é uma insistência na reprodução ad nauseam da casa burguesa (ou casa grande), em doses diminutas e, em função de um preconceito de partida, não nos permitimos experimentar ou ensaiar novas formas de viver. Por que não admitir espaços de asseio que se assemelhem à famigerada área de serviço, desconectando-a da cozinha (resquícios de um passado escravista e, depois, de uma sociedade que oprimiu a mulher)? Ou repensar a exagerada quantidade de banheiros multiplicados pelo número de dormitórios, acrescidas ainda de um banheiro social, ou lavabo, que remonta às casas coloniais, nas quais o visitante ficava do lado e fora ou apartado da família? Ou rever a excessiva compartimentação dos espaços que separam a vida, mesmo

dentro do ambiente familiar? Estas e outras questões compõem, hoje, a problemática habitacional brasileira.

No documento A cidade e o idoso (páginas 102-108)