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O Espaço Urbano

No documento A cidade e o idoso (páginas 141-149)

5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO

5.5 A CIDADE PARA O IDOSO: LAZER

5.5.2 O Espaço Urbano

Os espaços urbanos, iguais aos espaços arquitetônicos, podem estar dispostos, espacialmente, à maneira de ilhas, sem relacionar-se com os espaços vizinhos ou, de outra

forma, se bem interrelacionados, possibilitarem a sua observação e leitura, ao se passar de um para outro.

A intenção de seu desenho pode buscar detalhar seu encadeamento, ressaltar um edifício especial dentro do espaço ou sugerir uma direção importante de movimento. Assim como os espaços arquitetônicos, os espaços urbanos podem ser concebidos apropriadamente, como habitações e corredores: “[...] a cidade como casas, as casas como cidade” (ARTIGAS, 1989). De uma forma abstrata, como canais e depósitos de reserva de espaços, formando uma hierarquização de tipos espaciais fundamentados em sua extensão.

No desenho urbano, esta hierarquia decorre desde a escala do pequeno, recintos íntimos sobre os grandes espaços urbanos, culminando no vasto espaço da natureza na qual está implantada a cidade.

As categorias do espaço urbano derivam da escala de distâncias próprias da visão humana. Assim, espaços urbanos até 25 metros criam uma sensação de intimidade (dentro desta distância poderemos distinguir um rosto humano). Era a escala das nossas belas ruas residenciais antigas.

Já os grandes espaços urbanos não devem exceder 140m, no máximo, sem parecer exorbitante, a menos que sejam introduzidos elementos intermediários que proporcionem uma escala mais adequada ao ser humano. Poucas quadras urbanas e praças excedem esta distância. Por outro lado, New York, como já foi visto, possui um desenho urbano com as maiores quadras entre as grandes cidades (250m X .60m) 48.

Os grandes espaços ou vistas podem funcionar como pano de fundo de um monumento principal. Mas além de 1.200m, quando perde-se a referência visual humana, a vista ou composição espacial deve incorporar outros elementos. Para a escala humana ficar bem definida, uma exigência fundamental é o fechamento físico real ou articulação com as formas urbanas. Este, quando fechado, é igual ao interior de uma taça, um tubo ou uma recipiente qualquer: está sempre constituído por superfícies materiais.

Mas, até que ponto é necessário o fechamento?

Numa praça nos achamos suficientemente fechados por todos os lados sempre que a nossa atenção se concentre sobre o espaço como uma entidade. Já numa avenida, quando o fechamento só acontece em dois dos lados, a percepção do espaço deve ser compreendida como um conduto de espaço.

48

O Central Park de New York possui uma dimensão de 4.000m X 800m. Mas é todo dimensionado na escala humana através da criação de espaços menores, intercalados por massas de vegetação, lagos, áreas de lazer, playgrounds e locais para apresentações artísticas, que lhe conferem um aspecto de intimidade.

Quando circulamos por uma cidade, orientamos nosso ponto de vista por um ou outro caminho de acordo com o que nos atrai. Não obstante, o nosso campo de visão frontal, normal, a vista que percebemos quando se olha em linha reta para frente, nos proporciona uma imagem principal do espaço onde nos encontramos.

Nosso campo de visão frontal define num espaço o grau de fechamento – sensação de espaço – que percebemos. A sensação, seja uma rua ou um espaço livre, fica completamente determinada pela relação entre a distância visual e a altura construída, vista segundo nosso campo de visão frontal.

Quando a altura de uma fachada é igual à distância que dela nos encontramos (relação 1:1), a linha de coroamento da fachada se encontra formando um ângulo de 45º a partir de nosso ponto de vista horizontal frontal, conforme desenho abaixo, posto que o edifício é mais alto que o limite superior de nosso campo de visão frontal (30º), nos sentimos como confinados (Desenho 14).

Desenho 14 – Visão humana (vertical) 1:1

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quando a altura da fachada é igual à metade da distância que dela nos encontramos (1:2) coincide com os limites de nossa visão normal. Esse é o umbral de corte, o limite inferior em que aparece a sensação de confinamento (Desenho 15).

Desenho 15 – Visão humana (vertical) 1:2

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quando a altura da fachada é igual a 1/3 de nossa distância ao edifício, percebe-se a parte superior segundo um ângulo de 18º. Nessa distância podemos distinguir os objetos proeminentes para além do recinto com o qual compartilhamos dentro do mesmo espaço (Desenho 16).

Desenho 16 – Visão humana (vertical) 1:3

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quando a altura da fachada é de ¼ da nossa distância ao edifício vemos a parte superior segundo um ângulo de 14º e o espaço perde sua capacidade de confinamento, ficando as fachadas periféricas como bordas, e a sensação de zona aberta, não fechada (Desenho 17).

Desenho 17 – Visão humana (vertical) 1:4

Os arquitetos renascentistas obtiveram, assim, uma sensível regra para compor as proporções entre largura e altura de uma praça urbana.

A altura da fachada é uniforme. A proporção entre a largura e a altura não pode exceder 1/3. Não sendo observada esta proporção as paredes de fundo ficarão muito baixas e o espaço se filtra. O confinamento espacial é também função da continuidade na superfície das paredes: o jogo de fachadas dos edifícios deve subordinar-se aos espaços que formará (é a regra que possibilitou a unidade da Praça São Marcos, em Veneza. Mesmo construída em diferentes épocas e etapas mantém uma impressionante unidade arquitetônica).

O fechamento espacial pode ser atenuado, adotando-se uma boa quantidade de aberturas nas paredes (cheios e vazios na proporção de 1:1) ou por variações na linha superior dos edifícios.

Estes paradigmas devem permitir como ponto de partida. Alguns espaços urbanos obtiveram um bom desenho com um confinamento apenas parcial: uma abertura ao longo de uma rua movimentada. O Rockffeler Center de New York ocupa um pequeno espaço relacionando-se com os altíssimos edifícios agrupados em seu entorno. As esquinas são prismas abertos de ar e luz que proporcionam vistas além do espaço confinado. As aberturas entre as edificações, neste caso, reduzem o que de outro modo seria uma acachapante opressão devido à altura dos edifícios.

Com certeza o desenho de um espaço urbano agradável demanda, acima de tudo, simplicidade em formas e detalhes. Por exemplo, imaginando-se um espaço urbano visto em condições de uma brilhante iluminação: os detalhes resultam mais aparentes que o conjunto. Num dia nublado, à tarde, com uma fraca ou tênue iluminação, perceberemos menos os detalhes e mais o conjunto.

A grande vantagem de se pensar em termos de espaços urbanos é que podemos abarcar uma miríade de elementos urbanos, à maneira de entidades, que resultarão mais valiosos em conjunto que isolados.

A atenção ao espaço urbano pode ser estendida ao desenho de um “modelo” de

espaços na escala da cidade – formação de uma rede de canais e terrenos livres que entrelaçam os distritos separando-os em uma textura inteligível para os seus usuários. Na planificação da estrutura espacial de uma cidade deve-se ter o cuidado de projetar espaços grandes e pequenos atendendo suas respectivas finalidades. As praças muito grandes e avenidas extensas podem resultar inapropriadas ao dissociar, por exemplo, um bairro quando sua intenção era unificá-lo.

5.5.3 Praças

Para grande número de cidades, uma grande praça pública municipal é suficiente se existirem outras menores, nos bairros, com funções de menor importância. Inclusive o custo de implantação e manutenção é menor (MASCARÓ. 1987).

Uma grande praça pode ter edifícios focais proeminentes em seus extremos. Assim como esculturas em seu centro. Pode atuar como base para destacar um ou mais edifícios importantes. O Rockffeler Center e o Empire State Building são vistos de qualquer ponto de Nova Iorque. No Rockffeler Center, encontram-se edifícios agrupados em torno de um espaço relativamente pequeno, mas sempre repleto de gente. Nunca se perde contato e a noção do conjunto (Figuras 38 e 39). Já o Empire State, um ícone à distância, desaparece à medida que nos aproximamos dele. Sua base carece da distinção necessária para o reconhecimento do entorno que poderia ser obtido com uma pequena praça em frente a ele.

Figura 38 – Plano Geral do Rockeffeller Center

Fonte: rockefeller-center-new-york-new-york ([2011]).

Figura 39 – Visão Aérea do Rockeffeller Center

No documento A cidade e o idoso (páginas 141-149)