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Acessibilidade Espacial

No documento A cidade e o idoso (páginas 79-83)

5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO

5.1.1 Acessibilidade Espacial

O tema “acessibilidade espacial” está se tornando cada vez mais comum em nosso

país, e refere-se à possibilidade de plena integração entre as pessoas e os ambientes, sem segregá-las e permitindo que as atividades sejam realizadas com êxito, por todos os diferentes usuários. Garantir a acessibilidade para todos é uma tarefa difícil, pois deve-se abranger as necessidades espaciais de pessoas com as mais diferentes restrições, ou seja, pessoas com limitações em desempenhar atividades devido às suas condições físicas associadas às características dos ambientes.

Este levantamento será complementado com as recomendações propostas no tocante à:

Orientação e Informação, Deslocamento, Uso e Comunicação, os quatro componentes

exigidos, segundo Bins Ely e Dischinger (2004), para que os espaços sejam considerados acessíveis:

Orientação e informação estão relacionadas com a compreensão dos ambientes,

permitindo que um indivíduo possa situar-se e deslocar-se a partir das informações dadas pelo ambiente, sejam elas visuais, sonoras, arquitetônicas, entre outras. Por exemplo, quando não se consegue identificar todo um ambiente a partir de seus diferentes pontos, a presença de mapas e placas informativas contribui para a orientação do usuário.

Deslocamento corresponde às condições de movimento e livre fluxo que devem ser

garantidas pelas características das áreas de circulações, tanto no sentido vertical como no horizontal. A implantação de pisos regulares e antiderrapantes, a presença de corrimãos e patamares em escadas e rampas, presença de faixa de mobiliário fora das áreas de circulação etc., são exemplos de características que contribuem com este componente.

O uso é o componente que está relacionado com a participação em atividades e

utilização dos equipamentos, mobiliários e objetos dos ambientes, e é garantido a partir de características ergonômicas adequadas aos usuários e de uma configuração espacial que permita ao usuário sua aproximação e presença, como no caso de mesas para jogos com espaço para cadeiras de rodas.

Comunicação corresponde à facilidade de interação entre os usuários com o

ambiente, e pode ser garantido a partir de configurações espaciais de mobiliários de estar ou de tecnologias assistivas, como terminais de informação computadorizados, para o caso de pessoas com problemas auditivos e de produção lingüística.

Estes quatro componentes trabalham sobre o conceito de Deficiência a partir do Programa Brasil Acessível (Caderno 2: Construindo uma Cidade Acessível), que define as características que identificam uma pessoa com restrição de mobilidade e, a partir desta identificação, apoiada também na NBR 905027, apresentar as propostas de intervenção para áreas utilizadas por pessoas com dificuldade de locomoção ou de pessoas da 3ª Idade.

A Lei nº 5.296/04, art. 5. Inciso I (Quadro 4), relaciona e define os diferentes tipos de Deficiência Física. A partir desta relação, são apontadas as recomendações técnicas para tornar a utilização dos espaços públicos mais adequados às pessoas com necessidades especiais.

Quadro 4 – Relação e definição dos diferentes tipos de deficiências físicas

Tipo da Deficiência Definição da Deficiência

Deficiência Física

Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função básica, apresentando-se sob forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, triplegia, triparesia, hemiplagia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzem dificuldades para o desempenho de funções

Deficiência Auditiva Perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500hz, 1.000hz, 2.000hz e 3.000hz.

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Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que fixa os padrões e critérios que visam a propiciar às pessoas deficientes, condições adequadas e seguras de acessibilidade autônoma a edificações, espaço, mobiliários e equipamentos urbanos.

Deficiência Visual

Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos em que a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.

Deficiência Mental

Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestações antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: 1. Comunicação. 2. Cuidado Pessoal. 3. Habilidades Sociais. 4. Utilização dos Recursos da Comunidade. 5. Saúde e Segurança. 6. Habilidades Acadêmicas. 7 Lazer. 8. Trabalho.

Deficiência Múltipla Associação de duas ou mais deficiências Fonte: Brasil (2004).

Nos últimos 150 anos presenciamos uma revolução profunda na mobilidade urbana. O transporte nas cidades era feito por veículos movidos por tração animal (charretes e bondes). Repentinamente, considerando o tempo histórico, surgiram os bondes elétricos, trens urbanos, metrôs, ônibus, automóveis e bicicletas. A escala urbana alterou-se e as cidades passaram a ser planejadas em função desses novos equipamentos sobre rodas.

Estruturadas em função da era industrial, as grandes cidades hoje, e certamente num futuro próximo, representarão o espaço dos serviços: serviços de alta tecnologia e avanços científicos onde as inovações e a cultura terão papel de destaque.

Essa nova configuração determinará uma complexa multiplicidade funcional, onde o isolamento entre as funções, conforme preconizava o ideal modernista de cidade, estabelecido pela Carta de Atenas (Habitar, Trabalhar-Estudar, Lazer e Circular) ficará, talvez, apenas como um dado histórico do urbanismo.

Evidentemente que os postulados modernistas procuravam disciplinar o caos urbano gerado pela industrialização e os seus objetivos foram, em parte, atingidos, tornando-se, no mínimo, inadequado em face das novas realidades geradas pelo conhecimento humano.

A cidade do século XXI verá o fim do sistema pendular casa/trabalho ou casa/escola. Serão apenas parte de um sistema multipolar de interesses dentro de uma simultaneidade e diversidade de funções onde a figura dos fluxos deixa de ser representada por eixos, passando a ser uma rede, na qual o eixo original continuará a ser importante mas não mais hegemônico.

Talvez fatos ainda persistentes na sociedade automotiva, como quando o fluxo de veículos é sensivelmente reduzido durante as férias escolares, melhorando o trânsito nas

cidades, seja ampliado, provocando um novo desenho urbano que leve em conta posturas mais democráticas ao reduzir distâncias e tempos, ao superpor tarefas e funções, ao tornar mais desfrutável cada momento, aproveitando o tempo do ócio da sociedade pós-industrial e economizando esforços, energias e recursos, enfim ser um ambiente sustentável.

Mas, além de importante, nunca é demais lembrar, que no interior da “rede” mencionada acima vivem seres humanos com sonhos, problemas cotidianos, necessidade de trabalho e educação, lazer e refúgio, tratamento de saúde, de viver enfim, o que exige espaços adequados para todas as atividades da vida humana.

Neste capítulo, abordaremos a questão da acessibilidade de uma forma mais ampla, como o direito de todos de usufruírem os benefícios que a vida urbana oferece, bem como parâmetros para orientar a intervenção em equipamentos habitacionais, de lazer e saúde. Com este objetivo, além da consulta bibliográfica, procedeu-se a um conjunto de levantamentos de dados, para efetuar avaliações e termos de comparações28. As pesquisas de campo foram realizadas nos seguintes locais (quadro 5):

Quadro 5 – Locais para pesquisa de campo da Tese.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

O objetivo das pesquisas foi o de avaliar a situação dos idosos que caminhavam nestas localidades verificando as condições de mobilidade (tempo para percorrer determinada distância, distância percorrida, tipo da caminhada, frequência/dia e condições físicas), e da estrutura física (passeios, equipamentos, pontos de apoio etc.) existentes nestes lugares.

28 Ver Apêndices A, B, C e D.

Rio de Janeiro-RJ:

 Av. Atlântica, entre o Clube Marimbás (Posto 6 – Praça Cel. Eugênio Franco, 2 e a Av. Princesa Isabel. 4,5km.

 Bairro Peixoto. Área compreendida entre as ruas Figueiredo Magalhães,

Santa Clara, Tonelero e Henrique Oswald. Brasília-DF.

 Habitações Individuais Geminadas, W3 Sul, entre o Eixo Monumental e a

Via de Ligação L4 Sul. 4km. Natal-RN:

 Calçadão da Av. Roberto Freire, entre o Praia Shopping e a Rua Sólon de Miranda Galvão. 2km.

O principal objetivo deste levantamento foi o de obter informações seguras para se projetar futuras áreas (quadras, praças, passeios etc.), para idosos. Estas informações servirão de parâmetros, comparativamente com outras quadras, praças e passeios, para propor e dimensionar, da forma mais adequada possível, espaços e equipamentos para pessoas da terceira idade.

Não foi possível a realização de pesquisa semelhante em Brasília, principalmente no setor de Habitações Individuais Geminadas. Além de substancialmente mutiladas, as quadras não possuem uma pista de caminhada que proporcione uma grande aglutinação de pessoas idosas e onde fosse possível identificar, como em Copacabana, características de um determinado grupo populacional numa atividade coletiva.

No Bairro Peixoto, os idosos permanecem mais em atividade de lazer contemplativo, em geral tomando banho de sol sem praticar outro tipo de exercício. Os poucos entrevistados afirmaram que utilizam o calçadão da Av. Atlântica para caminhar quando conseguem que algum parente ou amigo os ajudem a atravessar a movimentada, e perigosa, Rua Tonelero.

Nesta localidade, na realidade um enclave de Cobacabana entre duas montanhas, é possível desfrutar de um ambiente acolhedor sem as atribuladas atividades urbanas de Copacabana propriamente ditas. Hospitais, hotéis, clínicas de repouso têm procurado o Bairro Peixoto para se instalar, principalmente nas imediações de Praça Edmundo Bittencourt. É significativa a população de pessoas idosas que procuram este local para viver sem abrir mão da oferta de serviços que Copacabana proporciona.

A utilização da mesma metodologia no Calçadão da Av. Roberto Freire, em Natal, RN, foi no sentido de conferir, comparar e compatibilizar os números obtidos em Copacabana, com os de outras localidades.

No documento A cidade e o idoso (páginas 79-83)