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Entre angústia e desamparo.

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Academic year: 2017

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RESUMO Em sua discussão, o autor diz que a angústia é o m otor da

análise e de seu progresso: em si m esm a é abertura para os enigm as do interior. O desam paro, por sua vez, indica que a vida psíquica continua a ser vivida fora de si, na desesperada abertura para um outro que não responde. Então, na análise, se uma mobiliza, o outro paralisa. O am or ( com preendido em sua parte não narcísica) é “ agarrar-se” aos objetos do m undo exterior, é abertura m antida para o outro e, nesse ponto, hom ogênea do estado de desam paro do bebê.

Palavras - chave : angústia, desam paro, borderline, alteridade, Winnicott.

ABSTRACT Betw een an xiety an d h elplessn ess. In th is paper th e

au th or states th at an xiety is th e en gin e of both an alysis an d its progress: in itself it is an opening to the puzzles of the interior. Helplessness, on the other hand, points out that psychic life is still being lived out of oneself, in a desperate opening to an unrespon-sive other. So, under the analysis point of view, w hile one m obi-lizes, the other paralyses. Love ( out of its narcissistic part) is “to cling” to objects of the external w orld, it is an opening to the other and, at that point, homogeneous to the baby’s state of helplessness.

Ke y w o rds : anxiety, helplessness, borderline, otherness, Winnicott.

À

guisa de introdução, eu desejaria evocar um artigo de Winnicott publicado em 1974, póstum o, portanto, um a vez que Winnicott m orreu em 1971. Sabe-se que esse artigo foi concebido por ele nos últim os m om entos de vida, e tem por título “Fear of breakdow n”, traduzido por “La crainte de l’effo n d rem en t” [ O tem o r d o co lap so ] (N ouvelle Revue de Psy chanaly se, n. 11, Gallim ard, 1975) .

Psicanalista, professor da Universidade de Paris VII, m em bro da Association Psychanalytique de France ( APF) .

Tradução de Pedro Henrique Bernardes Rondon

ENTRE ANGÚSTIA E DESAMPARO

*

Ja cq u e s An d ré

* In États de détresse, dir. de Jacques André e Cather ine Chabert, Paris, PUF,

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BREAKDOW N

Um a introdução com Winnicott, então, m as tam bém desencontrada de sua ar-gum entação, talvez até m esm o contra ela.

Suponh am os, escreve Winnicott, que paciente e analista desejem realm en te ter m in ar a análise — o que dá a entender que, ao contrário do que “natural-m en te” sería“natural-m o s levad o s a p en sar, está lo n ge d e ser se“natural-m p re esse o caso. A dificuldade está em que não há fim para a análise se não se tiver ido até o “fundo do poço”. Ora, o fundo do poço, no caso dos pacientes borderline aos quais Winnicott faz alusão aqui — com o na quase-totalidade de seus trabalhos escritos — é aquilo que ele denom ina colapso na transferência.

Inicialm ente, duas palavras sobre borderline ( ou estado-lim ite) , um a vez que a unicidade do vocábulo é inversam ente proporcional à m ultiplicidade das con-cepções. Por esse term o Winnicott designa pacientes cujas angústias são de natureza psicótica ( fragm entação, anulação, queda sem fim ...) , ao m esm o tem -po que um a construção psiconeurótica suficientem ente elaborada lhes perm ite enfrentar as injunções da realidade.

Colapso, portanto. Esse term o traduz breakdown. É a idéia de um enguiço, de um a ruptura de m ecanism o; term o que, em inglês, pode tam bém descrever a saúde que se altera, a razão que se ensom brece ou um a irrupção brusca de lágrim as. Esta últim a conotação am eaça inflectir excessivam ente a versão fran-cesa do term o: rapidam ente desliza-se de “s’effondrer” [ desm oronar] para “fondre en larm es” [ desm anchar-se em lágrim as] , quando a “queda” do breakdown pode ainda term inar no silêncio, no vazio, no branco...

No coração dessa experiência de desm oronam ento surge aquilo que Winnicott denom ina prim itive agonies, que habitual e literalm ente se traduz por “agonias prim itivas”. Em francês, com preende-se m elhor o term o se a etim ologia não ficar esquecida: “agon” é a luta, o com bate. A “agonia prim itiva” condensa a idéia do desam paro, do desam paro extrem o, e a de um com bate, de um a pri-m eira resposta contraposta ao perigo.

Quer digam os agonia ou desam paro, é preciso observar que o que esses term os procuram circunscrever é um espaço psíquico situado além da angústia. Será que se trata de um além qualitativo, designando um afeto de outra nature-za, ou de um além quantitativo, significando a form a extrem a da angústia? Deixarem os a questão em aberto.

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ponto é crucial, é então o equivalente daquilo que a rem em oração, a suspensão do recalcam en to, é n a fo rm a clássica do tratam en to. Para dizer as coisas em term os gerais, e portan to de m an eira ao m esm o tem po apressada e in exata, d a m esm a m an eira q u e a an álise d as p sico n eu ro ses se caracterizaria p ela su spen são do recalcam en to das represen tações in con scien tes, a do registro borderline ser ia especificam en te m arcada pelo... será preciso dizer pelo su rgi-m en to de afetos in con scien tes até en tão, ou pela ocorrên cia de afetos jargi-m ais exp erim en tad o s?

Fica então estabelecido: dar conta de um tratam ento é um a tarefa im possí-vel, porquanto a todo relato inevitavelm ente vai faltar a atualidade, o ato da transferência. Mas com facilidade podem os im aginar que a tarefa se com plique ainda m ais quando a atualização transferencial se dá m ais sobre os afetos do que sobre as representações. A este propósito é notável que toda a obra de Donald Winnicott seja resultado de um a reflexão sobre a prática analítica e que ao m esm o tem po esta fique, no final das contas, pouco descrita por ele. Aliás, esta é um a das razões que im pelirão Margaret Little a prestar testem unho de com o era o jeito de Winnicott em sessão, ao publicar um relato de sua própria análise com ele.1

A dificuldade da tese sustentada por Winnicott não está apenas no obstáculo da reconstituição da seqüência clínica. É tam bém teórica: para o paciente, algo se produziu no passado e não foi experim entado. Com o a transferência, que por definição é repetição, poderia ser repetição daquilo que não teve lugar? Com o se “lem -brar” — as aspas aqui são indispensáveis — daquilo que não foi experim enta-do? Com o com preender que possa ser buscada — e de m aneira com pulsiva, por-tanto particularm ente insistente — a ausência de um a experiência? Em cada um a destas form ulações a teoria é am eaçada pela aporia. Qualquer coisa de com parável à im pressão deixada pelo diálogo O sofista, de Platão, um a vez que se trata aqui de dissertar sobre o ser do não-ser.

Com o escapar à fascinação sofística pela aporia? Um analisando em busca, à espera de algum a coisa que teve lugar m as que não foi experim entada... Isso só pode ser

concebido se esta “ algu m a coisa” deixou u m vestígio, u m a in scrição psíqu i-ca. Qu e m arca ( n ecessariam en te positiva) para aqu ilo qu e n ão tem ...? Com o toda apor ia, esta daqu i exerce u m dom ín io do qu al só é possível livrar-se por u m deslocam en to m ín im o. Um a precisão parece-m e n ecessária: aqu ilo qu e n ão teve lu gar, n ão teve lugar na história, produziu-se fora da categoria da historicidade.

1 LITTLE, Margaret I. “Un tém oignage. En analyse avec Winnicott”, in N ouvelle Révue de Psychanalyse,

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Com o com preender psicanaliticam ente o fato com um de que as lem branças da infância raras vezes rem ontam além dos dois anos? Som os tentados a usar o bom senso: um tem po m uito afastado, um a m aturidade ainda insuficiente da faculdade da m em ória. Mas é possível considerar as coisas de outro m odo e form ular a seguinte hipótese: um a vez que a criança, a criança bem nova, pode bem ou m al m anter a ilusão da coincidência entre o desejo e sua realização ou, em term os freudianos, um a vez que o ego-prazer prim itivo está convencido de que governa com o senhor, para que lem brar? Aliás, lem brar de quê? Quando a satisfação, com a ajuda da alucinação, leva a m elhor, nada passa, nada se perde. A m em ória é um a coisa, a lem brança é outra. Para existir com o categoria psí-quica, independentem ente do ponto de vista cognitivista, a lem brança, que é sem pre lem brança de objeto, ou de relação de objeto, pressupõe que o objeto se con stitu a, isto é: se perde, u m a vez qu e é verdade qu e só h á objeto perdido. A raridade das lem branças, especialm ente da infância, em certos pacientes borderline, é assim, em si mesma, sinal do caráter incerto que a própria noção de objeto tem para eles. É tam bém indicador das exigências a-históricas do ego prim itivo.

Não é raro que, no curso de um tratam ento, um analista seja siderado pelo seguinte fato: os acontecim entos do tratam ento, os m om entos de análise pro-priam ente ditos, aqueles em que algum a coisa se des-liga por m eio da interpre-tação, esses m om entos não se constituem em lem branças para o paciente, nem a análise em história. Assim , pela m esm a razão, é insatisfatório dizer que o paciente esquece, um a vez que o esquecim ento é irm ão da lem brança. Algo tem lugar, algo que se inscreve psiquicam ente, m as segundo m odalidades que não são aquelas da tem poralidade aberta da história. Que relação haverá entre esse dispositivo particular e a questão, m uitas vezes crucial, do afeto nesses trata-m entos? Eis aí o enigtrata-m a.

A explicação que Winnicott propõe para dar conta dessa “algum a coisa que teve lugar e que não foi experim entada” consiste, num prim eiro tem po, em invocar a integração falha do ego. Exceder as capacidades de integração do ego não é aquilo que é próprio de todo fenôm eno inconsciente? Mas não é exata-m ente assiexata-m que Winnicott entende a coisa. Dando precisão à falha eexata-m questão, ele a apresenta com o associada à imaturidade do ego. O term o, por si só, convoca a perspectiva do desenvolvim ento e nos afasta do registro libidinal.

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being. De qualquer m odo, de delim itar um espaço psíquico que não se define com o pulsional, com o sexual. Para os pacientes borderline, subm etidos a regres-são particularm ente intensa dentro do m ovim ento da análise, Winnicott vai falar de “regressão à dependência”, m as vai recusar com vigor que essa depen-dência seja qualificada de “oral”, que se m isture libido aí onde só reinaria a ordem prim ária da necessidade.

Esse retorno à necessidade evoca a autoconservação do prim eiro dualism o freudiano, m as com um a diferença essencial: a conservação, segundo Winnicott, não é auto. “O bebê não existe”, escreve Winnicott; entendam : não existe sem o am biente. Não há continuidade do ser sem um a continuidade dos aportes do am biente.

Por que “am biente” e não a mãe ou o seio? Sem dúvida porque esses dois term os são portadores de um a carga pulsional que Winnicott procura exata-m ente deixar de lado. Uexata-m a vez tudo isto dito, uexata-m a vez assegurada a necessida-de necessida-de um a existência própria, então a m ãe, ou o m aternal, ponecessida-de se reintroduzir no vocabulário do bei ng, por m eio de expressões com o a good enough m other ou a preocupação m aterna prim ária.

Que etiologia propor, agora, para a psicopatologia break down? A argum en-tação de Winnicott, reduzida à sua fórm ula m ínim a, está contida nesta frase: “ Algum a coisa para o paciente elaborou-se onde a continuidade do ser foi interrom pida pelas reações do paciente à usurpação dos fatores do am bien-te.” A frase perm ite fazer um a prim eira observação. É tentador evocar as ca-rências, faltas e outras falhas do am biente do lactente para dar conta do ulte-rior breakdown n a con tinu idade da existên cia. Todas essas palavras Win n icott utiliza quando a ocasião se oferece. Mas o que ele teoriza, de fato, é sensivel-m ente diferente, talvez sensivel-m essensivel-m o o inverso: não está do lado da falta, da falha m as, ao contrário, do excesso, do trop [ dem asiado] . Ao com entar Winnicott, indo além daquilo que ele próprio sustenta, no fundo não há jam ais carências. A “carência” é um ponto de vista do observador. Para o bebê que sofre, trata-se de “usurpação” [“em piétem ent”] . A idéia, acentuada pela etim ologia da tradução francesa, é a da invasão, de um transbordam ento, do “ passar por cim a” , e não de “ falta de” . Segue-se um a dificuldade na língua, da qual não é fácil sair: a relação entre o excesso da usurpação e aquilo que resulta daí: o vazio, o branco, “ aquilo que não foi experim entado” , que só podem os m esm o designar pelos term os do negativo.

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processo de introjeção/ identificação com o objeto prim ário? “Eu sou” deveria então ser entendido com o abreviatura ( constitutiva do narcisism o) de um “eu sou o seio”?2

Um a das razões que fazem com que sejam os sem pre leitores de Freud pro-vém decerto do caráter não sistem ático de sua obra. Não que a sistem atização não seja tentada de tem pos em tem pos, m as a tentativa sem pre fracassa. A argu-m entação hesita, abre uargu-m a pista que não consegue seguir, desenvolve conclu-sões em contradição com as prem issas. Em sum a, algo fica indefinidam ente problem ático, na m edida im possível de um “saber” sobre o inconsciente. Donald Winnicott, crítico do dogm atism o kleiniano, tam bém não vai escapar, no final de sua vida, à tentação de fechar em sistem a o conjunto de suas hipóteses m etapsicológicas. Mas no essencial, não é assim , e o artigo sobre “La crainte de l’effondrem ent” é exem plo disso.

Winnicott propõe um a ilustração clínica, infelizm ente sucinta, daquilo que está procurando apreender. Em boa lógica w innicottiana, esperaríam os vê-lo evocar um a m ãe not good enough, um a m ãe a quem falta o abraço, cujo holding deixa a desejar. E acontece algo m uito diferente, para o que a tradução de breakdown por effondrem ent não é satisfatória. “Enguiço” seria um term o m ais apro-priado à idéia. O afeto que “espera” para ser experim entado pela paciente pela prim eira vez, é o sentim ento de vazio. Poder perm itir-se ficar acim a do vazio, ser afetado por este, é a isso que a transferência vai dar ensejo. Sendo experi-m entado, o afeto eexperi-m questão pode taexperi-m béexperi-m ser verbalizado; a representação na transferência descortina a representação de palavras. A paciente diz: “Nada acon-tece nesta análise”: ela diz a repetição transferencial de nada.

A partir daí, ela pode re-apresentar a si m esm a, e ao m esm o tem po consti-tuir-se com o passado, a fonte infantil cujo “ vestígio” é o vazio de afeto ( ou o afeto de vazio) . Entre a paciente, m enina, e seu pai, nada acontecia tam bém . À sua fem inilidade, ele não tinha a oferecer nenhum estím ulo m asculino. Sabe-m os as respostas, quase clássicas, opostas a esse vazio terrificante deSabe-m ais para que se corra o risco de experim entá-lo: não com er, ou com er sem parar, m as tam bém nada aprender ou ainda engravidar, ao sabor dos destinos singulares.

Desde a com unicação de Hélène Deutsch, no início dos anos 30, sobre as personalidades as if,3 essa problem ática do vazio, do branco, do nada, ocupa lugar nada desprezível na literatura psicanalítica. O prim eiro passo ( teórico)

2 Para um m aior desenvolvim ento, cf. ANDRÉ, J. “ L’unique objet” , in États lim ites ( J. André, C.

Chabert, J.-L. Donnet, P. Fédida, A. Green, D. Widlöcher) , Petite Bibliothèque de Psychanalyse, Paris, PUF, 1 9 9 9 . [ No Brasil, “ O objeto ú n ico” , Cadernos de Psicanálise – SPCRJ, Rio de Jan eiro, v. 1 5 , n . 1 8 , p. 67-85, 1999, tradução de Pedro Henrique Bernardes Rondon] .

3 O artigo de H. Deutsch está reproduzido em seu livro La psychanalyse des névroses, Paris, Payot,

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tinha sido dado por Freud, ao instalar o princípio de nirvana com o indissociável da pulsão de m orte, no m ais recôndito da vida psíquica.

Se voltarm os à paciente de Winnicott: seu pai está lá, ele está lá, e depois nada. No m eu m odo de ver, negligenciam os a singularidade dessa disposição se seguirm os m uito apressadam ente o m ovim ento da língua, descrevendo-a em term os negativos. N ada não é nada, se posso perm itir-m e o paradoxo. Ser nada ( para...) , ser objeto do não-investim ento ( ou do desinvestim ento — sem dúvi-da é preciso refinar a distinção entre os dois) . Para um a tal m odúvi-dalidúvi-dade de relação, a palavra “sedução” parece-m e a m ais inadequada possível, porquanto nada é m enos certo. O que haverá de m ais “siderante”, m ais cativante, m ais capaz de im obilizar psiquicam ente, o que haverá de m ais próxim o do seducere do que o nada de investim ento de que o indivíduo é “objeto”? Ser não- amado... Mais do que ao sentido das palavras, é preciso que nos atenham os aqui à sintaxe e positivem os com o puderm os o negativo.

Sem prolongar por m ais tem po o debate com Winnicott, é preciso contudo observar, a partir do exem plo clínico que ele propõe, que é bem difícil isolar o registro do ser, da continuidade do ser, e m antê-lo afastado da dim ensão pulsional. O próprio Winnicott faz eco a essa dificuldade quando acentua que a pior coisa que pode acontecer a um pequeno ser, não é tanto a deficiência do am biente, m as a esperança despertada e sem pre frustrada. Aproxim am o-nos de Freud, da angústia de perda com preendida com o perda do am or, e em particular do sen-tido que essa angústia adquire a partir de Inibição, sintoma e angústia.

HILFLÖSIGKEIT

Para com eçar, algum as palavras acerca do enigm a de um m om ento de trata-m ento. Tudo indicava, na dinâtrata-m ica desta análise, o provável surgitrata-m ento de utrata-m am or de transferência, se não na versão “fogo no teatro” que Freud descreveu em seu artigo de 1915, mas numa forma pouco mediatizada e, portanto, inquietante. A minha surpresa foi então ainda m aior ao ver instalar-se, no lugar do am or, um afeto bem oposto: o desam paro. Desam paro branco, silencioso sob as palavras esvaziadas, abolindo o m ovim ento das representações, esvaziando a análise ao ponto de am eaçá-la de interrupção. Tudo se passa com o se o branco, o vazio, o liso... fossem para o afeto aquilo que o silêncio ( pleno, desta vez) , a evitação, o constrangim ento, são para a representação, isto é: indicação de seu recalcam ento. O desam paro, em psicopatologia, encontra seu prim eiro term o em Freud:

Hilflösigkeit. Um a vez que não pode ser entendido fora da referência a Hilfe, a

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uso: état de détresse [ situação de desam paro] . Ela sublinhava ao m esm o tem po a constituição de um sentido específico do term o em Freud, em desacordo em relação ao usual: a designação do estado do lactente im potente quanto a reali-zar, por seus próprios m eios, a ação específica capaz de pôr fim à tensão interna da necessidade. A opção das Oeuvres complètes ( PUF) de traduzir por um neologis-m o: désaide [ des-ajuda] ( irm ão do neologism o de Lacan: désêtre) , acentua ainda m ais a tecnicidade do term o e seu caráter de conceito em Freud. Désaide sem dúvida tem o m érito de chegar àquilo que visa: afastar o psicologism o, m as tem , por outro lado, o inconveniente de desafetar o term o, exatam ente quando a questão do afeto aparece no cerne da reflexão de Freud quando se trata de Hilflösigkeit, pelo m enos em algum as de suas ocorrências.

Hilfe, Hilflösigkeit... am paro, estado de falta de ajuda, essas palavras têm sua história, um a história tingida de religiosidade — o que pôde levar alguns a traduzirem Hilflösigkeit por déréliction. A palavra Hilfe representa um papel im por-tante na tradução da Bíblia proposta por Lutero.4 A ajuda, a única

verdadeira-m ente digna desse noverdadeira-m e é a ajuda de Deus. Jó é, por excelência, o personageverdadeira-m hilflös [ sem ajuda] . Quanto ao substantivo Hilflösigkeit, ao que parece, significati-vam ente só surge no século XVIII, Século das Luzes, de Kant, da crítica da razão, justo quando a ajuda de Deus não é m ais bastante para que o hom em se assegu-re dos fundam entos de seu pensam ento.

Não se trata aqui de um a sim ples excursão histórico-sem ântica, não nos afastam os de Freud, tanto que seu texto traz o vestígio dessa interrogação que o precede. Evocar a psicogênese freudiana da religião leva no m ais das vezes a lem brar a reflexão de Totem e tabu, sua construção em torno do com plexo pater-no: am bivalência de sentim entos, desejos de m orte, identificação, sentim ento de culpa, nostalgia do pai m orto e, enfim , idealização da qual resulta a figura de Deus. Um a seqüência com o essa é hom ogênea à organização neurótica ( m ais precisam ente: obsessiva) e o tem or da castração qualifica aí a form a predom i-nante da angústia.

Há outra m aneira de ver em Freud, freqüentem ente m isturada à prim eira, que vai encontrar sua expressão plena em O futuro de uma ilusão e no Mal- estar na civilização, m as cujos prim eiros sinais são contem porâneos de Totem e tabu, por exem plo em Uma lembrança de infância de Leonardo da Vinci. Freud escreve:

“A religiosidade reconduz biologicam ente à persistente incapacidade de ajudar a si m esm o (Hilflösigkeit) e à persistente necessidade de ajuda do bebê hum ano que,

um a vez que m ais tarde reconheceu seu abandono e sua fraqueza reais ante as

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grandes potências da vida, sente sua situação com o a sentiu em sua infância e procura recusar o caráter sem esperança dessa situação por m eio da renovação regressiva das potências protetoras infantis.”5

Essa “renovação regressiva das potências infantis” leva Freud, em O futuro de uma ilusão, a conceber as religiões de outro m odo que não com o form ações, com o sim bolizações do com plexo paterno. Não são m ais as ações com pulsivas, os rituais expiatórios, que retêm sua atenção, m as sim a força de ilusão das religiões, sua capacidade de apresentar com o realizados os desejos m ais anti-gos, em sum a a com unhão que há entre a idéia religiosa e a idéia delirante.

A religião, sob sua face neurótica, é a obra de um filho que desejou a m orte do pai. Sob sua face psicótica, que consiste sobretudo em abolir a m orte na fantasia da vida eterna, a religião é filha de um filho ( e m ais do que isso, som ente de um filho de sexo m asculino) no Hilflösigk eit, defrontado com a desm edida das potências parentais, e não encontrando ele próprio outra respos-ta à im potência torespos-tal à qual sua prem aturação o reduz, senão a onipotência ( noção religiosa, antes de ser psicanalítica) , senão o ilim itado, o “oceanism o” de seu narcisism o.

Essa excursão religiosa tinha por objetivo apenas levar-nos à questão cen-tral, a das angústias do início da vida, e conduzir-nos a um a distinção que podem os tentar refinar, entre angústia e desam paro.

Tentando apreender aquilo que form a a essência da angústia, Freud, ao lon-go de Inibição, sintom a e angústia, dá-nos evidências das incertezas que o habitam acerca desse assunto. A tentativa m ais visível de apreender o conjunto da ques-tão da angústia sob o registro da angústia de castração, fracassa, especialm ente por causa das m ulheres, um a vez que é verdade que para Freud, a existência de um com plexo de castração nas m ulheres nunca chegará a significar a presença de um a angústia de m esm o nom e. Portanto, ele é levado, num m ovim ento regressivo, a “tornar a descer” da angústia de castração para form as m ais ele-m entares, atravessando as fases iniciais da vida, até a angústia da perda do aele-m or do objeto, da qual dirá que é, ao m esm o tem po, angústia do lactente e variante fem inina da angústia.

O m ovim ento freudiano para o qual eu desejaria cham ar a atenção vai ainda além disso, além da angústia de perda do am or. Na últim a extrem idade do cam inho, se podem os falar assim , encontram os aquilo que Rank designou “an-gústia do nascim ento”. Sobre isto, a atitude de Freud é dupla: na falta de um a inscrição psíquica suficiente, ele recusa àquilo que resulta do traum a do

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m ento o caráter de verdadeira angústia. Mas atribui-lhe, pelo contrário, um valor de protótipo som ático e o traum a do nascim ento descreve as prim eiras vias de facilitação ( especialm en te respiratória e cardíaca) qu e as an gú stias u lter iores voltarão a segu ir. Aqu ilo qu e tem im portân cia para n ossos propó-sitos situ a-se a m eio cam in h o, en tre o protótipo do n ascim en to e a an gú stia de perda do am or.

Esse m om ento interm ediário corresponde a um a fase do desenvolvim ento do ser hum ano, m as lucrarem os se não o confundirm os com esta, à m edida que ele é suscetível de repetir-se ao sabor da vida e de suas circunstâncias traum á-ticas: por exem plo, na análise rapidam ente evocada, por ocasião da am eaça de irrupção do am or de transferência. Este m om ento é o do Hilflösigkeit, m ais pre-cisam ente do Hilflösigkeit psíquico, com o Freud o precisa na Conferência XXXII, “Angústia e vida pulsional”. A incapacidade de ajudar a si m esm o psiquica-m ente, o psiquispsiquica-m o epsiquica-m estado de desapsiquica-m paro... O inevitável correlato dessa posição é a prevalência do outro, o prim ado do outro, do N ebenm ensch, do ser próxim o, conform e o vocabulário freudiano do Projeto.

A argum entação de Inibição, sintom a e angústia é particularm ente tortuosa. Im -porta-nos m enos seguir os seus m eandros do que salientar aquilo que, ainda que perm an ecen d o ap en as co m o in d icação , p erm ite p en sar a q u estão d o desam paro n o tratam en to. Freu d procu ra estabelecer u m a espécie de escala: ao m esm o tem po das idades, dos perigos e das an gú stias. Perigo de castra-ção para a fase fálica, perigo de perda do am or para a prim eira in fân cia, aos q u ais co rresp o n d em as an gú stias já n o m ead as. Mas q u an d o se trata d e

Hilflösigkeit psíqu ico, digam os do desam paro psíqu ico, para ten tar restitu ir

algu m a coisa da experiência an alítica, en tão n ão é m ais possível distinguir o perigo do afeto específico que lhe corresponde. O desam paro é ao m esm o tem po o perigo e o im pacto psíquico desse perigo. O desam paro não é desam -paro de... A an gú stia é sem pre an gú stia de... Certo, desde Freu d tem os razão de fazer lem brar qu e o própr io da an gú stia é ser “ sem objeto” . Mas esse “ sem objeto” n ão sign ifica a não-existência, a não-constituição deste. É antes a m arca de um objeto em reticências; a angústia contém a espera de seu objeto, a abertura para este.

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O que no m eu m odo de ver aponta para a originalidade do desam paro em relação à an gú stia, n atu ralm en te sem cristalizar aqu ilo qu e os distin gu e, é qu e ela in dica qu e a vida psíqu ica perm an eceu , qu e con tin u a a ser vivida fora de si, n a desesperada abertu ra sobre o ou tro, para o ou tro. Um ou tro qu e n ão respon de ( ou qu e respon de m al) . Sem dú vida é preciso evitar caracte-rizar dem ais a situ ação psicopatogên ica in icial, m esm o se à sem elh an ça do “ n ada acon tece” da pacien te de Win n icott, a in diferen ça, o desinvestim en to ( e a patologia narcísica que apontam ) parecem m ais m arcantes aqui do que a expressão do ódio.

Essa predom inância do fora-de-si, do “espaço psíquico externo”, se m e per-m iteper-m essa forper-m ulação aproxiper-m ativa, induz uper-m deslocaper-m ento que se tornou clássico da literatura borderline: a possibilidade de um a dinâm ica do tratam ento, contra a am eaça do interm inável, passa decisivam ente pela análise da con-tratransferência. Mas o “fora-de-si” em questão leva tam bém o enquadram ento ( m uito próxim o aqui daquilo que Winnicott denom ina “am biente”) a repre-sentar um papel de analisando. Um rápido exem plo, de um paciente no qual a irrupção do desam paro m arcava-se não apenas pela anulação da vida de repre-sentação, um a espécie de deserto doloroso, m as tam bém por um a m ultiplica-ção das faltas a sessões. Essa descontinuidade efetiva, ataque m anifesto contra a análise, viria a revelar-se no fim das contas com o a condição de possibilidade de sua continuação. E isso por um m ecanism o perfeitam ente inconsciente: ele nunca avisava quanto a suas ausências que, aliás, ele não decidia realm ente, e que podiam im por-se a ele no m om ento de bater à porta do analista. Avisar teria sido um a form a de anular a sessão, m ais precisam ente teria decerto perm itido ao analista liberar seu pensam ento para dedicar sua atenção a outra coisa. Não avisar, ao contrário, perm itia ao paciente continuar a existir na espera psíquica da qual era objeto por parte do analista. Tudo se passa, então, com o se o espaço psíquico do analista fosse para o paciente o único lugar, fora-de-si, capaz de garantir um a continuidade m ínim a de vida psíquica. O gesto propriam ente analítico num tal caso, quando a hora não é para interpretação, consiste em propor um a resposta diferente daquela que até então lhe tinha sido endereçada pela vida e que a palavra “paciência” resum e. Palavra sim ples que expressa m al a com plexidade que recobre.

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Freud, antes de Winnicott, relaciona o desam paro psíquico com o estádio inicial da vida, em que o ego ainda é im aturo. A coisa parece ser da alçada do sim ples bom sen so, n o en tan to parece-m e con ter u m a espécie de arm adilh a. O registro do ser, do existir, do being, é con cebido por Win n icott com o o registro psíqu ico or igin al, pr im ár io, a base da edificação. E é bem difícil n ão estar de acordo, tan to a coisa parece eviden te. Não é preciso ser, an tes de poder fazer? Aliás, isso é tão evidente que pode ser observado e sobre isto Winnicott tom a em prestada a prim eira idéia, até na m inúcia das palavras, da etnógrafa Margaret Mead.6

Vou levantar um a hipótese diferente: tudo aquilo que se m anifesta na ordem do existir ( a im aturidade do ego não tem idade) tem valor de sintom a, consti-tui portanto um a resposta e não a evidência de um estado prim ordial. Entre as significações desse sintom a equívoco, há a indicação de que o espaço psíquico é um espaço fora-de-si. A interioridade fica sendo privilégio do outro. Aqui não é questão de perseguição ou de angústia persecutória, m ovim ento que consiste em pôr para fora aquilo que não se suporta dentro. É antes questão do caráter problem ático da própria constituição do dentro. Um a configuração assim faz com que determ inadas pacientes paradoxalm ente possam viver de m aneira bas-tante satisfatória um a gravidez, porquanto esta faz existir fisicam ente, no ato, um espaço interior que o psiquism o por si só não consegue “alargar”.

Contra o fundo de um dispositivo com o esse, não faltam as am eaças de despersonalização. O ato sexual pode exem plarm ente ser a ocasião para isso, o ato que de form a brutal confronta o sujeito com o coração do problem a: a existência psíquica de um só. Aqui seria preciso poder descrever com bastante fineza aquilo que separa a m aneira esquizóide de ausentar-se, de um a resposta neurótica pela frigidez.

Evocar o núcleo psicótico seria bem côm odo, m as então estaríam os falhan-do precisam ente naquilo que convém distinguir. A figura de alienação psíquica da psicose nasce da circunstância de que um outro é eu. Na configuração “lim ite” à qual m e refiro, o único eu é um outro, um outro fora-de-si.

Podem os form ular a hipótese seguinte: para poder ser, e ser suficientem ente para que o m al-estar não se torne ulteriorm ente a form a privilegiada do sofri-m ento psíquico, é preciso que a identificação cosofri-m o objeto prisofri-m ário ( digasofri-m os: o seio) , que essa identificação/ introjeção ( difícil de distinguir) disponha de base suficiente. Ser tem com o condição de possibilidade um “eu sou o seio ( logo) eu sou”, fórm ula ( infraverbal) da qual serei levado a fazer a fantasia fundadora do prim eiro narcisism o.

6 D. Winnicott, Jeu et réalité, Paris, Gallim ard, 1975, p. 111 ss. Para Margaret Mead, L’un et l’autre sexe

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O triunfo m aníaco do bebê com o m ajestade ( “eu sou o seio!”) só é possível se o am biente perm itir essa ilusão. O aporte de Winnicott nesse ponto, o da onipotência e do objeto encontrado/ criado, com o se sabe, é essencial. Sem esquecer os precursores: Ferenczi, fala do “m eio” [entourage] e de seu “ tato” . Todas estas são observações que lhe ocorrem em contato com um a experiência clínica próxim a daquela com que Winnicott se defronta. Entretanto, as opção de um e de outro são diferentes: quando um fala de ruptura na continuidade do ser devida à usurpação, o outro evoca a linguagem adulta da paixão. Um fala de necessidade; o outro não sai da sexualidade.

Depois, há o precursor inevitável: o próprio Freud, especialm ente através de determ inados desenvolvim entos do Projeto de 1895. Aquilo que em Winnicott se denom ina “am biente”, “m eio” em Ferenczi, em Freud é Verständigung ( com unica-ção) ; entre o adulto que socorre e os gritos de apelo à ajuda por parte da criança no H i lf lösi gk ei t . Acerca desse encontro, Freud pensa que é a fonte pri-m eira da pri-m oralidade. De pri-m an eira pri-m ais ipri-m plícita, in dica sobretu do qu e o psiquism o está fadado a constituir-se na relação com o outro.

Essa pista aberta por Freud não virá a ser m uito seguida por ele, m as tam -bém nunca será abandonada. Não está longe de confundir-se, na seqüência da obra, com a idéia renovada da sedução. A “com unicação” do parágrafo sobre a experiência de satisfação de 1895, a consideração do par dissim étrico adulto/ bebê, de fato só será reencontrada em seguida sob os auspícios da sedução, digam os do am or que se m istura aos cuidados, para nos aterm os a um a fórm ula que não se afina m uito com com unicação.

A idéia da criança, entregue em seu Hilflösigkeit ao arbítrio da sexualidade adulta, é explicitam ente form ulada em 1896 em A etiologia da histeria. Mas essa psicogênese da perversão situa-se fora do cam po de nossa interrogação. Muito m ais interessante é a evolução da idéia sob a pena de Freud, tal com o se form u-la principalm ente em três oportunidades: nos Três ensaios, em Uma lembrança de Leonardo da Vinci e no Esboço de 1938,7 portanto, até o final. Distinta desta vez da perversão singular, a idéia é então a de um a sedução extensiva ao “com ércio” entre o adulto e a criança, na inextricável m istura de cuidados e de am or ( in-cluída a sexualidade inconsciente) . Sabem os a extensão dada recentem ente por Jean Laplanche a esse tem a. A idéia da sedução leva a pensar que a “usurpação”, a desadaptação da criança que esta im plica, longe de ficar no interior da área da necessidade, participa da vida pulsional.

Voltem os um pouco atrás. “Eu sou o seio, eu sou...” Nos casos em que o narcisism o se constituiu inicialm ente sobre um a base sólida, no final será

pos-7Trois essais sur la vie sexuelle, Gallim ard, 1987, p. 166; Un souvenir d’enfance de Léonard de Vinci, op.cit., p.

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sível dispensar-se de se m ostrar exageradam ente im paciente, exigente dem ais. Ao contrário daquilo que é evidenciado por um a experiência clínica em que prevaleça a dor de existir. Para este últim o caso, tornou-se banal destacar a fragilidade dos investim entos objetais, com o se toda a libido estivesse m onopo-lizada por um trabalho do gênero “barragem contra o Pacífico”, para reparar as brechas que não param de se abrir num envelope narcísico jam ais construído.

Qualquer que seja a pertinência dessas form ulações, convém notar que na m aioria das vezes estão em sintonia com a problem ática m anifesta do paciente. Desde que o ego esteja no centro da atenção, a distância entre a palavra do analisando e o com entário teórico corre sem pre o risco de estreitar-se. No entanto, não é porque estejam em prim eiro plano, que o ego e o narcisism o são os únicos. O que acontece do lado do objeto, tal quando se reproduz algum a coisa disso na situação analítica, na transferência? Lá onde as patologias do narcisism o predom inam , o objeto, esse m isto sem pre transicional de dentro/ fora, externo/ interno, me/ not me, em geral resulta de um a elaboração incerta. Será por falta, com o quase sem pre se dá a entender, ou por excesso? Um exces-so de fora, excesexces-so de alteridade, de estraneidade, dificilm ente m etabolizável. A clínica dita borderline parece-m e caracterizar-se de início por sua capacida-de capacida-de im por a estranheza, a estraneidacapacida-de daquilo que significa “o outro”. No fundo, com a psicose é m ais sim ples e m ais claro ( o que não quer dizer m ais fácil) : lá, ao m enos, o processo prim ário predom ina. O inconsciente, no psicótico, é algo fam iliar.

Nada disso acontecia com essa paciente que atendo face a face, e que expõe num a palavra a radical estraneidade daquilo que, digam os, “nos reúne”... Mui-to raram ente ela m e olha nos olhos, e quando o faz é com rapidez e com um a intensidade difícil de sustentar. E diz: “Não consigo olhar alguém nos olhos, eu não sei quando com eçar, quando parar.” Donde, bem poderia ser que o objeto propriam ente dito, o ob- jectus, seja o recalcado por excelência. Recalcado pela paciente, eventualm ente pelo terapeuta quando a resposta clínica proposta tom a a form a da “aliança terapêutica”.

AMOR/ DESAMPARO

Espera-se o am or de transferência, chega o desam paro... O que será que leva de um ao outro? Acredita-se que sejam opostos, eles se revelam intercam biáveis.

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estam os m ais privados de proteção contra o sofrim ento, e é quando perdem os o objeto am ado ou seu am or, que estam os m ais infelizes e no Hilflösigkeit” .8 Para rim ar com am or, sofrim ento e infelicidade, com o traduzir Hilflösigkeit senão por desam paro? O am or ( com preendido em sua parte não narcísica) é “agarrar-se” aos objetos do m undo exterior, abertura m antida para o outro e sua alteridade e, nesse ponto, hom ogênea do estado de desam paro do pequeno ser hum ano. Um a hom ogeneidade de m ovim ento que não é um a identidade. “Am or” é um a palavra retrospectiva, com o um destino do Hilflösigkeit.

Jacques André 18, rue Didot 75014 Paris FR

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