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Auto-estima de mulheres que sofreram violência.

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Academic year: 2017

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AUTO-ESTI MA DE MULHERES QUE SOFRERAM VI OLÊNCI A

Lucila Am ar al Car neir o Vianna1 Gr aziela Fer n an da Teodor o Bom fim2 Gisele Ch icon e3

Est udo qualit at ivo m ost r ando r esult ados de oficinas de aut o- est im a r ealizadas com usuár ias ( m ulher es que foram violent adas sexualm ent e) e profissionais da área da saúde, com o obj et ivo de elevar a aut o- est im a dessas m u lh er es e sen sibilizar os pr of ission ais qu e as at en dem . For am u t ilizadas t écn icas da Pr ogr am ação Neur olingüíst ica ( PNL) , que possibilit ar am t r azer à t ona ex per iências v iv idas, cont r ibuindo par a um a r eleit ur a e m inim ização dos fat or es causais da baix a aut o- est im a. Nas oficinas for am abor dados t em as com o: o noj o, m edo e fr ut o do est upr o; im agem e local; m or t e; v ingança; apoio e solidar iedade; v iolência dom ést ica e o m au at endim ent o às vít im as. As hist órias foram t ranscrit as e analisadas, m ant endo a fidelidade dos cont eúdos. Responder am pela baix a aut o- est im a ex per iências v iv enciadas no lar e j unt o a pessoas pelas quais se nut r ia af eição e ad m ir ação, e aq u elas ad v in d as p r in cip alm en t e d a v iolên cia sof r id a. As av aliações ap on t ar am as oficinas com o opor t unidade de r eflex ão, r et om ada da v ida nor m al e r econst r ução da aut o- est im a, t ant o par a as v ít im as da v iolência com o par a os pr ofissionais da saúde que as at endem .

DESCRI TORES: aut o im agem ; m ulher es; v iolência; est upr o

SELF- ESTEEM OF RAPED W OMEN

This qualit at ive st udy shows t he result s of workshops held wit h healt h workers and public healt h users ( r aped w om en) , aim ed at r aising t hese w om en’s self- est eem and cr eat ing aw ar eness am ong healt h w or k er s w ho at t end t hem . Neur o- Linguist ic Pr ogr am m ing t echniques w er e used t o br ing back life ex per iences, w hich cont r ibut ed t o a r e- r eading and t o m inim ize causal fact or s of low self- est eem . Them es lik e r epugnance, fear and t he fruit of rape; im age and place; deat h; revenge; support and solidarit y; dom est ic violence and bad care delivery t o vict im s were addressed during t he m eet ings. The st ories were t ranscribed and analyzed, preserving cont ent fidelit y. Experiences lived at hom e and wit h loved and adm ired people, and m ainly experiences result ing from t he rape were responsible for t he low self- est eem . The evaluat ions indicat ed t he workshops as an opport unit y t o r eflect , t o r et ur n t o nor m al life and t o r econst r uct self- est eem , for t he r aped w om en as w ell for t he healt h w or k er s w ho deliv er car e t o t hem .

DESCRI PTORS: self concept ; w om en; v iolence; r ape

AUTOESTI MA DE LAS MUJERES QUE SUFRI ERON VI OLENCI AS

Est e est udio cualit at ivo m uest ra result ados de oficinas de aut oest im a realizadas con usuarias ( m uj eres que sufrieron violencia sexual) y profesionales de inst it uciones de salud, con obj et o de elevar la aut oest im a de esas m uj eres y sensibilizar los profesionales que las asist en. Con las t écnicas de la Program ación Neurolinguíst ica, sur gier on ex per iencias v iv idas, fav or eciendo nuev a lect ur a y m inim ización de los fact or es causales de la baj a aut oest im a. En los encuent r os, fuer on t r at ados t em as com o: asco, m iedo y el fr ut o de la v iolación; im agen y local; m u er t e; v en gan za; apoy o y solidar iedad; v iolación dom est ica y la m ala at en ción a las v ict im as. Las h ist or ias f u er on copiadas y an alizadas, m an t en ien do la f idelidad del con t en ido. La r espon sabilidad por est e pr oblem a de baj a aut oest im a v ino de ex per iencias negat iv as v iv idas en el hogar y con per sonas de nuest r o cir culo de afect o e adm ir ación, pr incipalm ent e las que sur gier on con la v iolación. Las ev aluaciones m ost r ar on que las oficinas const it uyen un m edio de reflexión, ret orno de la vida norm al y reconst rucción de la aut oest im a, t ant o par a las v ict im as de v iolencia sex ual com o par a los pr ofesionales que las asist en.

DESCRI PTORES: au t oim agen ; m u j er es; v iolen cia; v iolación

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I NTRODUÇÃO

E

st e p r o j et o n a sceu d a p er cep çã o e d a experiência da pesquisadora e seu grupo de pesquisa ao assist ir m ulheres nas unidades básicas de saúde e ao prom over oficinas de aut o- est im a com alunos, f u n ci o n á r i o s e cl i e n t e s. Os r e su l t a d o s d e ssa s p esq u i sa s p er m i t em a f i r m a r q u e o i m p a ct o d a s condições sociais sobr e a saúde das m ulher es est á est r eit am ent e ligado à discr im inação e à r epr essão sexual, ou à violência sexual; esses est udos t am bém apontaram a baixa auto- estim a com o fator prim ordial desencadeado pelas sit uações de exclusão, abandono e privação e de am eaça vivenciadas nas relações, com conseqüências negat ivas na qualidade de vida( 1- 2).

Segundo a hierarquia de Maslow, nós, seres h u m a n o s, a p ó s a sa t i sf a çã o d a s n e ce ssi d a d e s f i si o l ó g i ca s, t e m o s n e ce ssi d a d e s d e se g u r a n ça relacionadas ao abrigo e à prot eção ao nosso físico, f a m íl i a , l a r e co m u n i d a d e ; e m se g u i d a v ê m a s necessidades de est im a r elacionadas ao ego–am or p r ó p r i o , a u t o e st i m a , a u t o r e sp e i t o , co n f i a n ça -n e ce ssi d a d e d e r e co -n h e ci m e -n t o , a p r e ci a çã o e adm iração( 3). A sat isfação das necessidades de aut o-est im a leva o indivíduo a se sent ir confiant e ( no seu valor, for ça, capacidade e adequação) , m ais út il e necessár io ao m undo. A não sat isfação pr oduz no indiv íduo sent im ent os de infer ior idade, fr aqueza e i m p o t ê n ci a . A p e r si st ê n ci a d e sse s se n t i m e n t o s d e se n ca d e a r á f r a ca sso s n a su a t r a j e t ó r i a o u pr ocessos pat ológicos v ar iados( 4). As necessidades básicas est ão ent r elaçadas e o bem - est ar depende da segurança: quant o m ais seguros nos sent im os no am bient e em que est am os circunscrit os, nossa aut o-est im a o-est ar á sen d o alim en t ad a p ela con f ian ça e respeit o e, consequent em ent e, m ant endo- se elevada. Acident es e v iolência decor r em da ação ou d a o m i ssã o h u m a n a , v i n cu l a d a a ce r t o s condicionant es, incluindo- se os aspect os sociais, que causam dano à saúde e estariam no grupo das “ Causas Ex t e r n a s” q u e e n g l o b a m a s ca u sa s a ci d e n t a i s: t r â n si t o , t r a b a l h o , q u e d a s, e n v e n e n a m e n t o s, afogam ent os, ent r e out r as; e, causas int encionais: agressões e lesões autoprovocadas. Se, por um lado, os acident es se apresent am num a curva diret am ent e p r o p o r ci o n a l a o d e se n v o l v i m e n t o t e cn o l ó g i co e urbano, a violência aum ent a na hist ória hum ana, e está diretam ente ligada às questões com portam entais e sit uacionais dos indivíduos( 5).

É fundam ent al t er clar eza que a difer ença entre os gêneros é o elem ento que vai organizar todas as d esi g u al d ad es en t r e h o m en s e m u l h er es n o s e sp a ço s p ú b l i co e p r i v a d o , r o m p e n d o co m a a r g u m e n t a çã o t r a d i ci o n a l q u e t e n t a e x p l i ca r a difer ença m asculina e fem inina pela m at er nidade e que repousa nos valores dom ést icos para a m ulher. No ent ant o, insist ir na difer ença enquant o essência f em i n i n a é m a n t er a r el a çã o d e p o d er en t r e o s gêneros. A m ulher vem conquistando, cada vez m ais, se u s d i r e i t o s n a s ú l t i m a s d é ca d a s, p o r é m , perm anecem ainda relações desiguais entre os sexos, dando origem a sérios problem as, sendo o m ais grave d e l e s a m o r t e p o r a ssa ssi n a t o , m u i t a s v e ze s result ant e da violência sexual cont ra a m ulher( 1).

O p r o ce sso d e a q u i si çã o d a i d e n t i d a d e f em in in a, q u e a p sicolog ia t em id en t if icad o com o en igm a da fem in ilidade e, den t r o desse cam po, a d e p e n d ê n ci a t e m si d o u m a d a s q u e st õ e s m a i s d eb at i d as p el o m ov i m en t o f em i n i st a, t en d o si d o ident ificada com o um dos m aiores obst áculos para o avanço das m ulheres. As coisas parecem m ais claras quando nos referim os à dependência econôm ica, ou às condições de vida necessár ias par a desfr ut ar de au t on om ia. Por ém , o t er r en o se t or n a m ov ed iço quando aparece a realidade da dependência afetiva( 6).

As aut or as quest ionam : a aut o- est im a das m u l h e r e s t e m r e l a çã o co m su a d e p e n d ê n ci a / independência financeira e/ ou afetiva? O hom em pode se co n si d e r a r t ã o su p e r i o r à m u l h e r e p o r i sso v iolent á- la sex ualm ent e?

O co n cei t o d e d ep en d ên ci a co st u m a in clu ir d if er en t es t ip os d e f en ôm en os, en t r e eles a q u e l e q u e si g n i f i ca su b m i ssã o , o u se j a , a incapacidade da m ulher se m ant er, condicionando- a em função do out r o; e a dependência que faz com que a m ulher se aj ust e ao que out ra pessoa espera d e l a p o r m e d o d o a b a n d o n o . Po r o u t r o l a d o , a dependência pode advir da necessidade que se t em de out r a pessoa par a cobr ir as car ências afet iv as. Enquanto a dependência é um a trava para a libertação das m ulher es, a car ência é iner ent e à condição do ser social. Ou sej a, a necessidade afet iva não pode ser confundida com a ausência da autonom ia que tem post o as m ulher es num a r elação de subm issão no espaço público e privado( 1).

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m ulheres está radicado no fato em que são educadas para que out ros e out ras dependam delas, relegando su a s n e ce ssi d a d e s a f e t i v a s a se g u n d o p l a n o . É ex at am ent e aqui que acont ece a v iv ência do v azio int er ior com o sensação de car ência e confusão que as faz se sent ir em débeis, fr acas e t ender a est ar com pulsivam ent e dependendo de out ra pessoa.

Por violência contra a m ulher se entende todo agravo causado pelo hom em , que t enha ou pode t er com o result ado um dano ou sofrim ent o físico, sexual ou psicológico, inclusive as am eaças de t ais at os, a coação ou a pr iv ação ar bit r ár ia da liber dade, t ant o se p r o d u zi d a s n a v i d a p ú b l i ca q u a n t o n a v i d a pr iv ada( 1).

Vem se agravando a incidência de violência sexual, ou sej a, do estupro* contra as m ulheres, que

deix a seqü elas f ísicas e psicológicas e as v ít im as ficam m ais vulneráveis a out ros t ipos de violência, à p r o st i t u i çã o , a o u so d e d r o g a s, à s d o e n ça s se x u a l m e n t e t r a n sm i ssív e i s, à s d o e n ça s ginecológicas, aos dist úrbios sexuais, à depressão e ao suicídio.

O abuso sex ual ainda est á ligado a out r os problem as com port am ent ais com o uso excessivo de álcool e ou t r as d r og as e sex o d esp r ot eg id o com m u l t i p l i ci d a d e d e p a r ce i r o s( 7 - 8 ). To r n a n d o - se

fundam ent al a art iculação ent re as áreas da saúde, educação e segur ança, suger indo ações conj ugadas en t r e as t r ês esf er as i n st i t u ci o n ai s e o s g r u p o s or gan izados de m u lh er es qu e t r abalh am con t r a a violência, ou sej a, a im plant ação de program as que v isem a sen sibilização dos pr ofission ais das ár eas envolvidas com a quest ão.

No Brasil, os crim es sexuais ainda são pouco d en u n ci a d o s e o n ú m er o r ea l d e ca so s é m u i t o superior ao que chega ao conhecim ent o da Polícia e do Judiciário. O Minist ério da Saúde reconhece que m en os de 1 0 % dos casos de v iolên cia sex u al são notificados na Delegacia. O cenário de violência sexual no país tem graves repercussões para a saúde pública e os direit os hum anos das m ulheres e adolescent es, a p o n t a n d o p a r a a n e ce ssi d a d e d e r e d u çã o d a s barreiras adm inist rat ivas e cult urais exist ent es para o pleno acesso aos serviços de saúde( 9).

A m aioria dos serviços de saúde carece de profissionais t reinados no reconhecim ent o dos sinais da v iolência. Esse diagnóst ico r equer um gr upo de apoio, que ext rapola os serviços de saúde, para que os p r ob lem as id en t if icad os sej am r esolv id os e os

t r aum as r esult ant es desse t ipo de v iolência sej am m ais facilm ente superados. Além disso, cabe ao setor da saúde acolher as vít im as, buscando m inim izar a d o r e e v i t a r o u t r o s a g r a v o s. Ju st i f i ca - se o desenvolvim ento das oficinas de auto- estim a, que vêm fort ificar as m ulheres e aj udá- las a se desvencilhar d o t r a u m a so f r i d o . Co m o e x e m p l o d e t r a b a l h o conj unt o de diversos profissionais da área da saúde, pode ser cit ado o que v em sendo desenv olv ido na Casa de Apoio à Mulher Professor Dom ingos Deláscio, desde 1999.

Foi const r uído o obj et o dest e est udo com o sendo a m elhoria da aut o- est im a das m ulheres, por m eio de oficinas que com plem ent ariam a assist ência r e ce b i d a n a Ca sa , a l é m d e f o ca l i za r a l g u m a s p r em i ssas i n t er l i g ad as, o u sej a, a su b m i ssão , a v iolên cia d om ést ica e, em p ar t icu lar, a v iolên cia sex ual que t em cont r ibuído par a a det er ior ação da q u al i d ad e d e v i d a e saú d e d e g r an d e p ar t e d as m ulheres brasileiras. Assim , esse est udo t eve com o obj et ivo apresent ar a oficina com o ferram ent a para aux iliar as m ulher es na r econst r ução de sua aut o-estim a e sensibilizar os profissionais da área da saúde.

METODOLOGI A

A realização desta pesquisa foi precedida pela apr eciação e apr ov ação do pr oj et o pelo Com it ê de Ét ica em Pesquisa da Univ er sidade Feder al de São Paulo e as par t icipant es inscr it as for am infor m adas do obj et ivo e que sua part icipação seria volunt ária.

Este estudo é de natureza qualitativa, porque se propõe a trabalhar com pessoas, com atores sociais em r elação e com gr upos específicos ( usuár ias de serviços de saúde e profissionais da área da saúde) , e “ ... esses suj eit os de invest igação, prim eiram ent e, são const ruídos t eoricam ent e enquant o com ponent es do obj et o de est udo”( 10). É, port ant o, nesse cam inho

q u e f o r a m u t i l i za d o s i n st r u m e n t o s d a p e sq u i sa qualit at iv a par a r esponder pelo obj et iv o pr opost o, par a analisar o pr ocesso de aut o- est im a, lançando m ão d a i n t er d i sci p l i n ar i d ad e en t r e o s d i f er en t es cam pos de saberes ( t ransversalizados pelas relações d e g ê n e r o ) , u t i l i za n d o a h i st ó r i a d e v i d a . Essa m o d a l i d a d e , q u e n a sce b a si ca m e n t e co m a con t r ib u ição d a An t r op olog ia, d a Sociolog ia e d a Co m u n i ca çã o , p e r m i t e a p r o f u n d a r o e st u d o d o fenôm eno e com preender a com plexidade dos fatores

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q u e in t er v êm n a “ cu lt u r a d a b aix a au t o- est im a”, p r i n ci p a l m en t e en t r e a s m u l h er es q u e so f r er a m violência; const ruindo ent re elas e as pesquisadoras relação de confiança em que expõem sua sit uação e su as ex per iên cias de v ida, possibilit an do assim a r e f l e x ã o e a e x p e ct a t i v a d e m u d a n ça d e com por t am ent o em r elação à pr ópr ia aut o- est im a. Há, ain d a, a r ef er ên cia t eór ico- m et od ológ ica d as r elações de int er subj et iv idade que per m eiam t odos os suj eit os sociais que dela part iciparam , bem com o a relação ent re as pesquisadoras e os suj eit os.

En f i m , a cr ed i t a - se q u e a v a l i d a d e d est e est udo est á na sua capacidade de dar concret ude ao obj et o abst rat o em t odas as suas dim ensões, nest e caso, por m eio das difer ent es oficinas de t r abalho, d o s g r u p o s f o ca i s e d o p r o ce sso d e a v a l i a çã o qualit at iv a.

São relat ados result ados de cinco grupos de m u l h e r e s ( o f i ci n a s) , ca d a u m co m ci n co a se i s en con t r os, in iciad os com m u lh er es q u e sof r er am violência e que procuraram aj uda na Casa de Saúde da Mulher Pr of. Dr. Dom ingos Deláscio da Unifesp. Em ca d a g r u p o , p a r t i ci p a r a m , a i n d a , ci n co funcionár ias que nor m alm ent e r ecebem e pr est am assist ência às m ulheres, levando à sensibilização das pr ofissionais.

Pa r t i n d o d a p r e m i ssa d e q u e , t r ad i ci o n al m en t e, em n ossa cu l t u r a, os m en i n os recebem desde cedo m ais est ím ulos posit ivos que as m en i n as, o q u e v ai r ef l et i r n a f o r m ação d a su a per sonalidade e na const r ução da sua aut o- est im a, lan çou - se m ão de Soeir o qu e af ir m a “ se f icar m os m u it o t em p o sem est ím u los p osit iv os d as n ossas plat éias, se não ouv ir m os o som dos aplausos por um bom período, cert am ent e nos sent irem os m al. A t e n d ê n ci a é p a r a n o s d e p r i m i r m o s e f i ca r m o s in segu r os qu an t o à n ossa capacidade. As plat éias host is ou indifer ent es causam um est r ago bast ant e grande na nossa aut o- est im a”( 11).

O m esm o au t o r o f er eceu su b síd i o s q u e levaram ao uso das técnicas de dram atização, a partir do psicodram a para as oficinas com as part icipant es n o en t en d i m en t o d a p r ó p r i a r ea l i d a d e p a r a q u e e n co n t r a sse m m e l h o r e s r e sp o st a s à s n o v a s situações( 11). Além disso, as oficinas basearam - se nos

princípios da Program ação Neurolingüíst ica ( PNL)( 12-13) que com preende t rês idéias:

- “ neuro”, que reconhece t odos os com port am ent os a partir dos processos neurológicos da visão, audição, olf at o, p alad ar, t at o e sen sação, p ois o m u n d o é

percebido at ravés dos cinco sent idos, “ com preensão da inform ação ant es da ação” ;

- “ lin gü íst ica”, ou sej a, a lin gu agem para or den ar pen sam en t os e com por t am en t os e a com u n icação ent re os indivíduos;

- “ program ação”, referent e à organização de idéias e ações para produzir result ados.

Finalm ente a PNL adota atitude de curiosidade e f asci n ação em v ez d e p ar t i r d e p r essu p o st o s, t r a ze n d o d e v o l t a a e x p e r i ê n ci a su b j e t i v a e expressando a nat ureza da experiência int erior( 12).

Est r at égias da dr am at ização e da linha da vida foram usadas para que as m ulheres pudessem trazer as suas experiências desde a infância, refletindo sobre elas, possibilit ando releit ura que perm it isse a elabor ação de nov os conceit os sobr e sua condição de ser m ulher.

Assim foram est abelecidos m ódulos de: - aut o- aj uda para levant am ent o de problem as pelas p r ó p r i a s m u l h e r e s, q u e n ã o n e ce ssa r i a m e n t e deveriam est ar ligados à violência sofrida;

- e m e r sã o d a a l t a a u t o - e st i m a co m o u m d o s elem ent os necessários para o exercício da cidadania; - avaliação por m eio das experiências vividas pelas part icipant es e narradas nas oficinas.

Foram ut ilizados j ogos de aproxim ação com os com ponent es de cada gr upo, j ogos de palavr as, narrativa da história de vida utilizando argila, desenho e recortes de j ornais e revistas, trocas de inform ações sobre a identidade e sentim entos de cada participante e ex er cícios par a m aior obj et iv idade e v alor ização pessoal.

A reflexão e a ação das pesquisadoras foram subsidiadas por bibliografias sobre a t em át ica, sobre grupos de psicodram a e dram at ização( 11,14), sobre a

PNL( 1 2 - 1 3 ), a l é m d a p a r t i ci p a çã o e m g r u p o s d e

psicodram a e PNL.

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a n á l i se , p o r é m , m a n t e n d o a f i d e d i g n i d a d e d a s caract eríst icas do cont eúdo de cada hist ória de vida. Bu scou - se com pr een der as sem elh an ças e a s d i f e r e n ça s d a s e x p e r i ê n ci a s d e v i d a co m a s par t icipant es das oficinas por m eio da análise das hist órias de vida, que t eve com o base um t rabalho o n d e o s d e p o i m e n t o s v i v o s o r g a n i za v a m a experiência da part icipant e( 15). Fundam ent ada num a

lógica int er na que r esponde as pr incipais quest ões d a p esq u isa, f or am u t ilizad as p alav r as- ch av e d as part icipant es, que possibilit aram o encadeam ent o do processo investigado, no caso desta pesquisa, a baixa aut o- est im a.

RESULTADOS

Sobr e as m ulher es

As m ulher es que par t icipar am das oficinas de aut o- est im a apresent avam est at ura e com pleição física dent ro do padrão das m ulheres brasileiras ( em t o r n o d e 1 , 6 0 m e 5 5 q u i l o s) , t i n h a m a p a r ên ci a agr adáv el e se v est iam de m an eir a discr et a, n ão cham an do at enção nem se m ost r an do de m aneir a sensual. Cur iosam ent e, a m aior ia delas t inha pele clara e cabelos escuros e longos, que estavam soltos p or ocasião d o ag r av o; er am m oças com u n s q u e trabalhavam e/ ou estudavam , um a delas apresentava leve deficiência m ent al.

Os e x e r cíci o s d e PNL a j u d a r a m a s part icipant es das oficinas de aut o- est im a a exporem so b r e o p o r q u ê e q u a i s si t u a çõ e s q u e a s incom odavam e, com isso, encarar aspectos que ainda não tinham sido relatados, enfrentando e m inim izando pr oblem as ao inv és de fugir deles, sendo possív el d est acar alg u n s sen t im en t os ex p r essos a seg u ir, assim com o as falas para m elhor análise do conteúdo.

- O noj o, o m edo e o fruto do estupro

Após t odo o t r aum a sofr ido na sit uação de est upro, observou- se que a segunda grande am eaça, além d o m ed o q u e en v olv e a sit u ação em si e a probabilidade de adquirir doenças, é o m edo de t er g e r a d o u m a cr i a n ça – f r u t o d o a co n t e ci m e n t o t r aum át ico, que não v ai ser v ist o com o um filho e sim com o alg o q u e sem p r e r elem b r a e r eit er a a agr essão, o sen t im en t o de im pot ên cia e n oj o em relação ao agressor, assim com o qualquer obj eto que

possa lem brar o fat o, com o nos seguint es relat os.

... fico em pânico cada vez que vou fazer exam e de HI V.

... graças a Deus não engravidei, porque não agüent aria

ficar com aquela coisa.

... fiquei com t ant o noj o da m inha roupa que j oguei fora.

- I m agem e local

Com o em todo traum a sofrido, e no caso do est upr o em par t icular, associa- se algum det alhe da cena, que a m ente passa a rej eitar em outras pessoas, em ou t r as ocasiões, em ou t r os lu gar es e qu e, n a m aior ia d as v ezes, se t or n a d if ícil id en t if icá- lo e m inim izá- lo sem aj uda t écnica.

... t enho horror a hom em grande e m oren.

... não posso ver hom em com cam isa xadrez.

... não posso ver j ardineiro ( no condom ínio fechado em

que m ora, inform aram que havia sido um j ardineiro) .

... procuro sem pre est ar at ent a quando est ou no pont o

de ônibus, olhando para os lados, reparando em quem se aproxim a.

... ando pelo m eio da rua, não passo m ais j unt o do m uro

que pode t er um port ão e m e arrast aram para dent ro.

A v ít im a t ende a generalizar, ut ilizando na sua narrativa quantificadores universais com o “ todos” e “ sem pr e”, qu e dev em e podem ser t rabalh ados, lim it ando- se àquela sit uação vivida( 13).

- Medo da m ort e

Sem dúv ida, o m edo da m or t e é o gr ande r e sp o n sá v e l p e l a f a l t a d e r e a çã o d a s m u l h e r e s v iolent adas, e t am bém a sit uação que m ais as faz lem br ar da agr essão. O m edo pode in ibir r eações que poderiam até m esm o evitar a violência sofrida( 16).

. . . foi hor r ív el: aquele hom em m e segur av a e m e

am eaçava o t em po t odo com um a faca.

... estava voltando para casa, quando o fulano m e pegou

pelo braço e m e am eaçando com a faca m e arrast ou para um

t erreno baldio.

- O prazer da vingança

Essa r e a l m e n t e é u m a ch a v e p a r a se t rabalhar o t raum a do est upro: de um m odo geral, as m ulher es deix ar am t r anspar ecer at é um a cer t a sa t i sf a çã o a o sa b e r d o “ f i m ” q u e f o i d a d o a o est upr ador.

... m eu pat rão disse que j á deu sum iço no cara.

... fiquei aliviada quando fui dar queixa e o policial

(6)

- Apoio e solidariedade

As v ít i m a s e st a v a m se n sív e i s à s d e m o n st r a çõ e s d e a p o i o e so l i d a r i e d a d e q u e r e ce b e r a m , e d e m o n st r a r a m q u e p a ssa r a m a valorizar m ais as at it udes posit ivas das pessoas para com elas( 3).

. . . m eu pai é m uit o ocupado, m as depois do que

acont eceu ele saía m ais cedo do escrit ório e passava as t ardes ao

m eu lado, segurando m inha m ão e dizendo: pode dorm ir que

est ou aqui. Foi o m elhor que podia acont ecer.

...quando saiu o result ado dos exam es e não deu nada,

foi m uit o bom , e com a aj uda do m eu “ gat inho” ( nam orado)

consegui superar a crise, a revolt a e a depressão que sent ia.

... foi m uit o im port ant e cada sorriso, cada palavra dit a

por MO ( funcionária da recepção da casa de Saúde Dr. Dom ingos

Deláscio) no m om ent o da angúst ia e do t r aum a, foi o m ais

confort ant e e m arcant e, não só para m im , m as para t odas as

out ras m eninas que chegaram aqui à procura de aj uda.

O t raum a não só pode ser curado, m as com o r i e n t a çã o e a p o i o a p r o p r i a d o s, p o d e se r t r ansfor m ador( 16). O t r aum a t em pot encial par a ser um a das forças m ais significat ivas para o despert ar e a evolução psicológica, social e espirit ual. O m odo com o se lida com o t raum a influencia, em m uit o, a qualidade de vida.

O últim o relato fala ainda sobre a im portância do acolhim ent o adequado às m ulheres que sofreram violências, o que j ust ifica novam ent e a im port ância d o d esen v olv im en t o d as of icin as t am b ém com os profissionais da saúde que atendem as vítim as, com o form a de sensibilização e conscient ização.

- O est upro dent ro de casa

Nu m d os casos d e v iolên cia cau sad o p or fam iliar, foi explícito o sentim ento da j ovem de que a fam ília a via com o culpada, por provocar o indivíduo. Nesse caso, a m elhor ia da aut o- est im a dem andou um trabalho m ais árduo e ao m esm o tem po delicado, pois não se pôde cont ar com o apoio fam iliar, pelo contrário. A superação do traum a foi trabalhada com o desafio. Além de est arem vulneráveis à violência nas r u as, d e u m m o d o g er al , as m u l h er es so f r em a opressão dom ést ica e são, m uit as vezes, vít im as da agressão velada, m olestação e/ ou abuso de fam iliares e am igos, o que, além de causar um traum a, poderá per m anecer por v ár ios anos, ainda deix a a dúv ida da culpa( 1).

- Mau at endim ent o

I n f e l i zm e n t e a m a i o r i a d o s h o sp i t a i s e p r of ission ais ain d a n ão est ão p r ep ar ad os p ar a o at endim ent o a essas pacient es.

... o at endim ent o foi out ro est upro, Fiquei num a m aca

no corredor, chorando, t oda m achucada e dolorida, e a m édica veio

com aquilo ( especulo) e dizia fica quieta que eu preciso te exam inar

e colet ar m at erial para exam e.

A v i o l ê n ci a d o m é st i ca e / o u se x u a l , enfatizando o estupro com o um a constante em todas as cu l t u r as, e sen d o o m ai s i n ci d en t es, q u an d o relacionado ao uso excessivo de álcool e outras drogas

( 1), leva todos os profissionais envolvidos a encararem

o d e sa f i o d e r e cr i a r a l i n g u a g e m d a sa ú d e , redim ensionando o espaço da doença e das pessoas, que v iv em cada um a a sua hist or ia em difer ent es cont ext os, com diferent es necessidades, porém , com iguais direitos de opinar sobre a form a com o querem ser t rat adas e aj udadas na sit uação vivida.

Sobre as oficinas

Nas oficinas foi possível observar que essas m u l h er es, d a m esm a m an ei r a q u e o s al u n o s d e g r a d u a çã o d e e n f e r m a g e m , f r u t o d e p e sq u i sa an t er ior( 3 ), r esp on d er am p ela b aix a au t o- est im a,

ex p er iên cias v iv en ciad as n o lar e cau sad as p elos irm ãos, pais e por pessoa pela qual se nutria afeição e adm iração na infância. Foram evidenciadas aquelas lem branças negat ivas advindas da violência sofrida. Foi possív el not ar que a com pr eensão e a a ce i t a çã o p o r p a r t e d o n a m o r a d o , m a r i d o , co m p a n h ei r o e t o d o a p o i o d o s f a m i l i a r es f o r a m f a ci l i t a d o r e s n a r e t o m a d a d a v i d a n o r m a l e reconst rução da aut o- est im a para essas m ulheres.

As a v a l i a çõ e s i n d i v i d u a i s a p o n t a r a m a s oficinas com o oport unidade para reflexão, m udanças de at it ude e a per spect iva de novos cam inhos. Um dos pontos positivos desta pesquisa foi a oportunidade de preparar três m ulheres atendidas na casa de Saúde da Mulher da Unifesp que estavam m otivadas a serem m ult iplicadoras das Oficinas de Aut o- est im a em suas com u n idades.

(7)

conv encendo- a de sua im por t ância no acolhim ent o das vítim as na Casa, num m om ento tão desalentador. Acr e d i t a - se q u e e st a p e sq u i sa , co m a s o f i ci n a s d e a u t o - e st i m a , d e v a co n t i n u a r p a r a o ap r im or am en t o d o m ét od o d e av aliação d a au t o-estim a antes e após cada ciclo, ou sej a, no tocante à

“ m inim ização do fant asm a” da sit uação do est upro, além de ofer ecer su bsídios par a ou t r os gr u pos de ap oio às m u lh er es q u e sof r er am v iolên cias com o form a de aj udá- las a enfrent ar m elhor a sit uação e tam bém com o form a de preparo aos profissionais que lidam com essas m ulheres.

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

1. Vianna LAC, Oliveira EM. A violência com eça na gravidez. FEBRASGO; 1 9 9 8 .

2. Vianna LAC, Bom fim GFTB, Chicone G. Aut o- est im a dos alunos de graduação em enferm agem . Rev Bras Enferm agem 2002 set em br o/ out ubr o, 55( 5) : 503- 8.

3. Maslow A. Mot ivacion y personalidad. Ba: Sagit ário; 1970. 4. Andrade D, Ageram i ELS. A aut o- est im a em adolescent es com e sem fissuras de lábio e/ ou de palat o. Rev Lat ino- am Enferm agem 2001 novem bro; 9( 6) : 37- 41.

5. Mello Jorge MHP, Gawryszewski VP, Lat orre MRDO. Análise d os d ad os d e m or t alid ad e. Rev Saú d e Pú b lica 1 9 9 7 ; 3 1 ( Suppl 4) : 5- 25.

6 . Eich en b au m EL, Or b ach S. Qu é q u ier en las m u j er es? Madrid: Ed. Revolucion; 1987.

7. Minist ér io da Saúde ( BR) . Pr ev enção e t r at am ent o dos agr av os r esult ant es da v iolência sex ual cont r a m ulher es e adolescent es. Brasília ( DF) : Minist ério da Saúde; 1999. 8. Weaver K, Maddaleno M. Yout h violence in Lat in Am érica: cur r ent sit uat ion and v iolences pr ev ent ion st r at egies. Rev Panam Salude Publica 1999; 5( 4/ 5) : 388- 43.

9. I PAS BRASI L [ página na int ernet ] . Rio de Janeiro: I PAS; c2 0 0 1 - 2 0 0 6 . [ at ualizada em 2 7 fev er eir o 2 0 0 6 ; acessada em 2 0 0 5 ] . Galli B, Adesse L. Reduzindo bar r eir as par a o exercício dos direit os hum anos e a aut o- det erm inação sexual e reprodut iva das m ulheres em sit uação de violência sexual, [ 2 t elas] . Disponív el em : ht t p: / / w w w .ipas.or g.br / ar quiv os/ v iolen cia_ bia2 0 0 5 _ 2 . pdf.

1 0 . Mi n ay o MCS. O d esaf i o d o con h eci m en t o. Pesq u i sa qualit at iv a em saúde. São Paulo ( SP) : UCI TEC ABRASCO; 2 0 0 0 .

11. Soeiro, AC. Realidade em ocional: aj udando o hom em a con qu ist ar a r ealidade desej ada. São Pau lo ( SP) : Sen ac; 1 9 9 9 .

1 2 . O’co n n o r J, Sey m o u r J. I n t r o d u ção à p r o g r am ação neur olingüíst ica: com o ent ender e influenciar as pessoas. São Paulo ( SP) : Sum m us Edit orial; 1995.

13. Andréas S, Faulkner C. PNL a nova t ecnologia do sucesso. 6ª ed. Rio de Janeiro ( RJ) : Cam pus; 1995.

14. Soeiro AC. Psicodram a e psicot erapia. São Paulo ( SP) : Ágor a; 1 9 9 5 .

15. Bourdieu P. O poder sim bólico. São Paulo ( SP) : Bert rand Brasil; 1989. Coleção m em ória e sociedade.

16. Levine PA, Frederick A. O despert ar do t igre: curando o t raum a. São Paulo ( SP) : Sum m us; 1999.

Referências

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