w w w . r b o . o r g . b r
Artigo
de
Atualizac¸ão
Lesão
de
Turco:
diagnóstico
e
tratamento
夽
Ana
Paula
Simões
da
Silva
∗,
Leandro
Girardi
Shimba,
Luiz
Henrique
Boraschi
Vieira
Ribas,
Alexandre
Simmonds
de
Almeida,
Vinicius
Naves
e
Aires
Duarte
Júnior
FaculdadedeCiênciasMédicasdaSantaCasadeSãoPaulo,PavilhãoFernandinhoSimonsen,SãoPaulo,SP,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem2demaiode2013 Aceitoem16dejulhode2013
On-lineem16demarçode2014
Palavras-chave:
Articulac¸õestarsianas/lesões Ossosdometatarso
Fraturasósseas Luxac¸ões
r
e
s
u
m
o
EstetrabalhotemporobjetivosalertarosmédicossobreaexistênciadalesãodeTurcoe discorrersobreostratamentosexistentesdescritosnaliteraturamundial.Foifeito levan-tamentobibliográficodalesãodeLisfrancedalesãodeTurcode1985a2013nasbases dedadosScieloePubmed.Dos193artigos,foramexcluídososcomlesãoosteoligamentar daarticulac¸ãodeLisfranc,osportraumasdealtaenergia,osrelatosdecaso.Foram sele-cionadospacientesatletasprofissionaisouamadores,comlesãoligamentarexclusivada articulac¸ãodeLisfranc(lesãodeTurco),aqualfoidiagnosticadapelahistória,peloexame físico,pelasradiografiasepelaressonânciamagnética.Comofatoresdeexclusão,pacientes nãoatletasecomlesõesósseasassociadas(10).Deacordocomaclassificac¸ãodalesão,os pacientesforamtratadoscruentaouincruentamenteesubmetidosaumprotocolo-padrão dereabilitac¸ão.Dos10pacientes,cincoforamsubmetidosatratamentoconservadorecinco atratamentocirúrgico,pordiferentestécnicasemateriaisdesíntese.Obtiveram-sedois resultados ruins,um satisfatório,cinco bonsedoisexcelentes.Concluímosqueo diag-nósticocorretoinfluenciadiretamentenotratamentoenoresultadofinalobtidoequeo desconhecimentodalesãoéoprincipalresponsávelpelosubdiagnósticodalesãodeTurco. Hánecessidadedeestudosprospectivosrandomizadosquecomparemostiposdesíntesee aevoluc¸ãodoscasostratadosparaumadefinic¸ãodomelhortratamentoparatallesão.
©2014SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Todososdireitosreservados.
Turco’s
injury:
diagnosis
and
treatment
Keywords:
Tarsaljoints/injuries Metatarsalbones Bonefractures Dislocations
a
b
s
t
r
a
c
t
TheaimofthisstudywastoalertdoctorstotheexistenceofTurco’sinjuryanddiscusthe existingtreatmentsthathavebeendescribedintheworldwideliterature.Abibliographic surveyofLisfranc’sinjuryandTurco’sinjurycoveringfrom1985to2013wasconductedin theSciELOandPubMeddatabases.Amongthe193articles,thoserelatingtobone-ligament injuriesoftheLisfrancjointandhigh-energytraumawereexcluded,aswerethecasereports. Thepatientsselectedwereprofessionaloramateurathleteswhosolelypresentedaligament
夽
TrabalhorealizadonoGrupodeTraumatologiadoEsportedoDepartamentodeOrtopediaeTraumatologiadaFaculdadedeCiências MédicasdaSantaCasadeSãoPaulo,PavilhãoFernandinhoSimonsen.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:apaulass@gmail.com(A.P.S.daSilva).
injurytotheLisfrancjoint(Turco’sinjury),whichwasdiagnosedfromthehistory,physical examination,radiographsandmagneticresonanceimages.Non-athleticpatientsandthose withassociatedboneinjurieswereexcluded(10).Accordingtotheinjuryclassification,the patientsweretreatedbymeansofeitheranopenoraclosedprocedureandthenastandard rehabilitationprotocol.Outofthe10patients,fiveunderwentconservativetreatmentand fiveunderwentsurgicaltreatmentusingdifferenttechniquesandsynthesismaterials.We obtainedtwopoorresults,onesatisfactory,fivegoodandtwoexcellent.Weconcludethat thecorrectdiagnosishasadirectinfluenceonthetreatmentandonthefinalresultobtained, andthatlackofknowledgeofthisinjuryisthemainfactorresponsibleforunderdiagnosing Turco’sinjury.Thereisaneedforrandomizedprospectivestudiescomparingthetypesof synthesisandevolutionoftreatedcases,inordertodefinethebesttreatmentforthisinjury. ©2014SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
Aarticulac¸ãode Lisfranc,outarsometatarsal, éassim cha-madaem homenagemaomédico francêsJacquesLisfranc, quefoioprimeiroadescreverumaamputac¸ãoatravésdessa articulac¸ão.1–4Essecomplexoéformadoporelementosósseos
(basedosmetatarsos, cuneiformesecuboide)eligamentos que dão estrutura e suporte ao arco transverso do medi-opé. Entre o cuneiforme medial e o segundo metatarso existeumforteligamentooblíquochamadoligamentode Lis-franc,que,associadoaoefeitodeencaixemaisproximaldo segundometatarso,constituioprincipalestabilizadordessa articulac¸ão.1,3,5–8
Acomplexaanatomiadeossoseligamentosdessaregião, associadaaosmúltiplospadrõesemecanismosdelesão,torna ainterpretac¸ãoradiográficaeodiagnósticoumdesafio, prin-cipalmentenoatendimentodeemergência.9
Asfraturas-luxac¸õesdaarticulac¸ãodeLisfrancsãolesões incomunsdopéeocorremaumataxade1:55.000a60.000 anualmente, oque correspondea 0,1%a 0,9%de todas as fraturas.Aproximadamenteumterc¸odessaslesõesnãoé diag-nosticado,oquepodelevaradorcrônicanopéacometido, osteoartroseedeformidades.1,3,10–13
Entreosdiversosmecanismosdelesõesdescritos,omais comum éuma flexão plantar sobre os metatarsos, associ-adoaoestresse rotacional.9 Dessaforma,éimportante que
os médicos se familiarizem com os tipos de apresentac¸ão da fratura-luxac¸ãode Lisfranc,especificamente adiscutida nestetrabalho,denominadalesãodeTurco,jáqueo diagnós-ticoeaintervenc¸ãoprecocesãoessenciaisparaummelhor prognóstico.14,15AlesãodeTurcoéumalesãocujomecanismo
detraumaenvolvebaixaenergiaecausaapenasruptura liga-mentar,com ou semaluxac¸ão dessaarticulac¸ão, eocorre especialmenteematletas.9
Esta lesão, portanto,se caracteriza pelaaberturade até 5mm doespac¸o intermetatarsal doprimeiroedosegundo metatarsosepodevariar,segundoaclassificac¸ãodeNunley eVertullo,dosestágiosIaIV.16
Anatomiaebiomecânica
Oentendimentodaanatomiadocomplexotarso-metatarsal é essencial para que seja possível avaliar, diagnosticar
etrataraslesõesdessaarticulac¸ão.Aestabilidadedesse com-plexo é obtida por meio de uma arquitetura óssea e um suporteligamentar.Oprimeiro,osegundoeoterceiro meta-tarsossearticulamcomoscuneiformesmedial,intermédio e lateral, nessa ordem, e o quarto e o quinto metatarso se articulam com o cuboide. O segundo metatarso, além de estar entre o primeiro e o terceiro metatarsos, tem a superfície de contato aumentada com os ossos que o cir-cundam, já que a cunha intermédia está localizada mais proximalmentedoqueascunhasmedialelateral,formaum encaixedotipochave-fechaduraeaumenta,dessaforma,a estabilidade.17,18
Alémdoestruturadoarcabouc¸oósseo,existeumsuporte ligamentar. Osossosdometatarsoestão unidospelos liga-mentosintermetatarsaisdorsaiseplantares,assimcomoos cuneiformeseocuboide,porémnãoexisteligamentoqueuna abasedoprimeiroaosegundometatarsal.Háaindaumarede variável de ligamentos longitudinaiseoblíquosquesegura osquatroúltimosmetatarsaisnoscuneiformesenocuboide nosaspectosplantaredorsal,alémdedoisligamentos lon-gitudinaisqueancoramoprimeirometatarsonocuneiforme medial.17,18
O maior ligamento e o mais forte do complexo tarso--metatársico é o denominado ligamento de Lisfranc, cuja origemsedánasuperfícielateraldocuneiformemedialese inserenoaspectomedialdabasedosegundometatarsal17,18
(fig.1).
Fisiopatologia
Aslesõesde Lisfrancpodemsercausadaspormecanismos diretosouindiretos.Traumasdiretosnodorsodopésãorarose podemcomplicarporcontaminac¸ão,comprometimento vas-cularesíndromecompartimental.Aslesõespormecanismos indiretos são responsáveis pelo maior número de casos e resultamtanto deumaforc¸arotacionalaplicada aoantepé comoretropéfixoquantodeumacargaaxialemumpéfixo eemflexãoplantar.14
A causa mais comum de trauma indireto des-crita na literatura é o acidente automobilístico, que representa aproximadamente 40% a 45% das lesões.17
Figura1–Representac¸ãodaanatomiaósseadomédioe retropénaqualseobservaencaixetipo“chave-fechadura” dosegundometatarsocomascunhas.Emdestaqueo ligamentodeLisfranceaidentificac¸ãodosmetatarsos (IaoV).
Diagnóstico
Ahistóriaclínicaeoexamefísicobemfeitosãofundamentais para o diagnóstico. O paciente geralmente revela o meca-nismode trauma erefere umador no mediopé que varia muitoem intensidade. Geralmenteassintomáticoao cami-nhar,apresentadoraocorrer,aosaltareaoutrosmovimentos esportivos.Alocalizac¸ãodospontosdolorososéimportante. Doràpalpac¸ãoentreabasedoprimeiroedosegundo metatar-saiséumachadoimportantemesmosemlesõescomdiástase doespac¸ointermetatarsal.12,15–17
Testesprovocativostambémpodemserdegrandeajuda. Osdoistestesmaisfrequentementeusadossãoa compres-sãolateraleotestedeestabilidadeaxialentreoprimeiroe segundometatarsais,quesãopositivosquandoreproduzem dornomédiopé.Shapiroetal.19concluíramqueosdoistestes
sãopositivosquandohárupturadoligamentodeLisfranc.Há aindaumtesteespecíficoparalesõestarsometatarsais,que consistenapronac¸ãopassivacomabduc¸ãodoantepécomo retropéfixo.Essamanobraproduzirádornolocaldoligamento lesado.
Radiografiasbem feitas tambémsão fundamentais para o diagnóstico. As incidências anteroposterior (AP), perfil (P) e oblíqua (O) devem ser feitas, se possível com carga. A comparac¸ãocom radiografiasdo pécontralateral podem serúteisparadetectarlesõessutis.NaincidênciaAPaface medialdocuneiformeintermédiodeveestaralinhadacoma facemedialdosegundometatarsal.Naincidênciaoblíqua,o parâmetrodenormalidadeéafacemedialdocuboide,que deveestaralinhadacomafacemedialdoquartometatarsal. Noperfilobservamosapresenc¸adeluxac¸ãoousubluxac¸ão anterior ouposteriordas articulac¸õestarsometatarsais.Em casosdedúvidas,devemaindaserobtidasradiografiasAPe Pcom carga,o quepodeajudaraevidenciar umadiástase entreoprimeiroeosegundometatarsalnaincidênciaAP.Na incidênciaPcomcargaobserva-seaquedadoarcoplantarou subluxac¸ãodorsal.11,12,14–17
Classificac¸ão
Aclassificac¸ãousadaparaalesãodeTurcoéapropostapor NunLeyeVertullo,especificamenteparalesõesnomediopéde atletas.Essaclassificac¸ãodivideaslesõesemtrêsestágios.Na entorseestágioIdoligamentodeLisfrancnãohádiástaseou perdadoarcoplantar.NaentorseestágioIIháumadiástase de2mma5mmporcausadafalhadoligamentodeLisfranc, porémnãoháperdadoarcoplantar.NoestágioIIIhá diás-taseentreoprimeiroeosegundometatarsoseperdadoarco plantar16(fig.2).
Materiais
e
métodos
Foramlevantadosartigoscientíficosquediscutemalesãode LisfrancealesãodeTurcopropriamenteditade1985a2012 nasbasesdedadosScieloePubmed,comosseguintes des-critores: “Lisfranc joint”, “tarsometatarsal joint”, “injuries”, “fracture”, “dislocation”,“treatment”and“outcome”. Foram encontrados193artigos,dosquaisexcluíram-seoscomlesão osteoligamentardaarticulac¸ãodeLisfranc,osportraumade alta energia eos relatos de caso, os quais foram confron-tados com casos levantadosnum típico hospital-escola de umagrandecidadeentre2006e2011quanto atratamento empregado,seguimento, avaliac¸ãopós-operatóriaeretorno aatividadepré-lesãoeorganizadosporatividadeesportiva, idade,ladoacometido,classificac¸ão,tratamentoeseguimento (tabela1).
Para inclusão nesse estudo,foram selecionados pacien-tesatletasprofissionaisouamadores,comlesãoligamentar exclusivadaarticulac¸ãodeLisfranc(lesãodeTurco),aqualfoi diagnosticadapelahistória,peloexamefísico,pelas radiogra-fiasepelaressonânciamagnética.Comofatoresdeexclusão, pacientes não atletas e lesões ósseas associadas. Chegou--se a 10 pacientes: seis homens (60%) e quatro mulheres (40%), média de idade de 35 anos (20 a 61), lado acome-tidooitoesquerdos(80%)edoisdireitos(20%),avaliadospela classificac¸ãodeNunleyeVertullo,16quatrotipoI(40%),
Entorse do ligamento de Lisfranc
Não há diástase
Lesão no ligamento
de Lisfranc Diástase de
2-5mm
Diástase e perda do arco plantar
Estágio I Estágio II
Estágio III
Diástase, sem perda do arco plantar
Diástase de 2-5mm Lesão no ligamento
de Lisfranc
Figura2–Classificac¸ãodeNunleyeVertullo.16
Ospacientesforamtratadosconservadoramenteou cirur-gicamente,conformeaclassificac¸ãodalesão.
Todos foram submetidos a um protocolo-padrão de reabilitac¸ãodonossogrupo,queconsistiaemquatroaseis semanasdeimobilizac¸ãocomórteseesemcarga,fisioterapia analgésicaetreinodogestoesportivo.
Para analisaros resultados,empregamos umaavaliac¸ão subjetivaquelevaemconsiderac¸ão adoreodesempenho napráticaesportiva,consideradosruins,satisfatórios,bons eexcelentes.Resultados ruinsforamconsideradosos paci-entesque apresentavam dore nãoretornaram aoesporte; resultadossatisfatóriosforamconsideradosquandoos paci-entes mantinhamdor, mas retornaram àprática esportiva emnívelderendimentoabaixodonívelpré-lesão;resultados bonsforamaquelesqueapresentavamdor,porémretornaram
à práticaesportivaemumnívelsimilar aonívelpré-lesão; resultadosexcelentesforamaquelesemqueospacientesnão apresentavamdoreretornaramaoesporteemumníveligual aodapré-lesão.
Nosseguimentosforamfeitasradiografiasnasincidências A,PeO,comcargaparaavaliac¸ãodaevoluc¸ão.
Resultado
Após análise criteriosa individualizada de cada prontuário (paciente),foramestratificadososcasoscombasenotipode tratamento, nascomplicac¸ões pós-operatórias, nos resulta-dos, notempodeseguimentoenos sinaisradiográficos de artrose.
Tabela1–Distribuic¸ãode10pacientesportadoresdalesãodeTurcoeorganizadosconformegênero,atividadeesportiva, ladoacometido,classificac¸ão16etratamento
Caso Gênero Idade Data Atividadeesportiva Ladoacometido Classificac¸ão Tratamento
1 Masculino 20 2007 Beisebol Direito II Cirúrgico
2 Masculino 31 2010 Futebol Esquerdo II Cirúrgico
3 Masculino 27 2007 Beisebol Esquerdo III Cirúrgico
4 Masculino 24 2011 FutebolRecreativo Esquerdo I Conservador
5 Masculino 44 2011 Futebol Esquerdo I Conservador
6 Masculino 28 2006 Futebol Esquerdo III Cirúrgico
7 Feminino 61 2009 Caminhada Esquerdo I Conservador
8 Feminino 31 2009 Caminhada Esquerdo II Conservador
9 Feminino 61 2007 Golf Esquerdo II Cirúrgico
Tabela2–Distribuic¸ãode10pacientesportadoresdalesãodeTurcoconformeotipodetratamento,areabilitac¸ão,as complicac¸õesapresentadaseoretornoàatividadeesportiva
Caso Tipodetratamento Complicac¸õespós-operatórias Resultado Seguimento(meses) Artrose
1 Raficom2parafusosparalelos(PF) Infecc¸ãosuperficialpeleedeiscência dasutura
Bom 61meses Não
2 Raficom1parafusooblíquo(PF) Infecc¸ãosuperficialpele,reduc¸ãonão anatômica
Ruim 34meses Sim
3 Raficom2parafusosdivergentes (PF)e1fiodeKirschner
Ausente Bom 59meses Não
4 Conservador Ausente Excelente 18meses Não
5 Conservador Ausente Bom 17meses Não
6 Raficom2parafusosparalelos(PF) Ausente Satisfatório 76meses Sim
7 Conservador Ausente Bom 36meses Sim
8 Conservador Ausente Ruim 37meses Não
9 Raficom2parafusosparalelos(PF) Ausente Bom 60meses Sim
10 Conservador Ausente Excelente 51meses Não
Rafi,reduc¸ãoabertaefixac¸ãointerna;PF,parafusosdepequenosfragmentosde3,5mm.
OspacientescomlesãotipoI(4,5,7e10)foramtratados deformaconservadoraconformenossoprotocolo-padrão,os 5e7evoluíramcombomresultadoeos4e10comexcelente resultado.
Os pacientes com lesão tipo II (1,2 e9) foram subme-tidosatratamento cirúrgico, o1eo 9foramtratadoscom reduc¸ão abertae fixac¸ãointerna (Rafi) com dois parafusos paralelosdepequenosfragmentos(3,5mm)passadosumda cunhamedialparaabasedosegundometatarso eo outro dacunhamedialparaacunhaintermédia.Noseguimento, ambosapresentarambomresultado,porémo1evoluiucom deiscência de sutura e infecc¸ão superficial de pele e sem artroseeo9semcomplicac¸õesdaferidaoperatória(FO)ecom sinaisradiográficosdeartrose.Opaciente2foitratadocom Raficomumparafusooblíquodepequenosfragmentos(PF) passadodacunhamedialparaabasedosegundometatarso, evoluiucominfecc¸ãosuperficialdepelenopós-operatórioe noseguimentoapresentouumresultadoruim,oqual atribuí-mosàreduc¸ãonãoanatômicaobtidanacirurgia.Evoluiucom artrose.Opaciente8,tambémcomlesãotipoII,foitratadode formaincruenta,porcausadodiagnósticotardioeda evidên-ciaradiográfica deanquilosedomédiopé,eapresentouum resultadoruim.
Ospacientes com lesõestipo III (3 e 6) foram submeti-dosatratamentocirúrgico,o3foisubmetidoaRaficomdois parafusosesponjososderoscaparcialdepequenos fragmen-tosdivergentes,umdacunhamedialparaabasedosegundo metatarsoeoutrodacunhamedialparaaintermédia, associ-adoafiodeKirschnerdosegundo metatarsopara acunha intermédia. Na evoluc¸ão apresentou bom resultado e sem artrose.FoisubmetidoàretiradadofiodeKirschnercomseis semanas.Opaciente6foitratadocomRafieparafusos para-lelos,comevoluc¸ãosatisfatóriaeartrose(tabela2).
Discussão
Segundoaliteratura,maisde20%das fraturas-luxac¸õesde Lisfrancnãosãodiagnosticadasnaavaliac¸ãoinicial,3,4oque
torna a suspeic¸ão e o diagnóstico precoce um prerrequi-sitoparaocorretomanejodessalesão.Paraevitarsequelas em longo prazo e impotência funcional dessa articulac¸ão,
o consenso advogaa reduc¸ão anatômica e a estabilizac¸ão articular para um adequado seguimento e uma adequada recuperac¸ão.20–24GeralmenteasleõesdeLisfrancsão
decor-rentesdetraumadealtaenergia.3Oacidenteautomobilístico
é a principal causa dessas lesões. Na nossa casuística, o mecanismo detraumamaiscomumfoiodebaixaenergia. Oprincipalduranteapráticaesportivaéaflexãoplantarsobre osmetatarsos,associadacomestresserotacional,em concor-dânciacomodescritonoartigooriginaldeTurco.15
Odiagnósticoéobtidopeloexamefísicominucioso,que demonstrapacientescomdificuldadeouatéimpossibilidade desuportarcarganomembroacometido,comdor{apalpac¸ão natopografiadaarticulac¸ãoentreoprimeiroesegundo meta-tarsaiseeventualmenteedemaesudoreselocal.Édegrande importânciaafeituraderadiografiascomcarga,nasposic¸ões frente,perfileoblíquadopéacometido.Emcasodedúvida, estáindicadaaressonânciamagnéticaparaodiagnóstico.
Foiusadaaclassificac¸ãodescritaporNunleyeVertullo16
para interpretac¸ão e a classificac¸ão das lesões, que guiou também o tratamento. Não háconsenso naliteratura com relac¸ãoaotratamento:reduc¸ãoabertaoufechadacomouso defiosouparafusos,posicionamentodosparafusoseaprópria indicac¸ão da artrodese.Em nossacasuística nenhum paci-entefoisubmetidoaartrodese.Esseéofim previsívelpara aslesõesnãoreduzidasadequadamenteassociadoounãoa falhadasíntese,ounãodiagnosticados,queevoluíramcom artrosesintomática.Porémhouveumcaso(paciente8)noqual odiagnósticonãofoifeitonoatendimentoinicialemoutro servic¸o.Deuentradaemnossoservic¸ocomumaevoluc¸ãode doismesesdalesãoeoptou-sepelotratamentoconservador. Opacienteevoluiucomartroseeanquilose,porémsem sinto-masquejustificassemumaartrodese.
Conforme publicado em trabalhos recentes, a reduc¸ão anatômicaeafixac¸ãointernasãoosfatoresessenciaispara umbom resultadoterapêuticonas lesõestiposII eIIIpela classificac¸ãodeNunleyeVertullo,oqueestáem concordân-ciacomosnossosresultados,comoevidenciadonopaciente 2,comoqualnãofoiobtidaareduc¸ãoanatômicaeopaciente evoluiucomresultadoruim.7,25–31
daspartesmolesetambémporcausadatendênciaaoseu desvioinicial.22
AslesõesgrauIIeIIIadmitemváriastécnicaseabordagens, quevariamdeacordocomaexperiênciaeapreferênciado cirurgiãoepodemserreduc¸ãofechadaefixac¸ãopercutânea comfiosouparafusos,32reduc¸ãoabertaefixac¸ãointernacom
osmesmosmateriais20,24,17,33eatéartrodeseprimária.30
Perugiaetal.34em2003fizeramtratamentodestetipode
lesãocomreduc¸ãofechadaefixac¸ãointernacomparafusos esponjosos de4mmpercutâneos em42 pacientes,12 com lesõespuramenteligamentarese30osteoligamentarescom seguimentopróximode58meses.Osresultadosforam ava-liados pelo Aofas midfoot functional score com a média de 81pontos.Nessetrabalhonãoforam diferenciadoso trata-mentoeosresultadosobtidosparaospacientescomlesões exclusivamenteligamentares(lesãodeTurco)elesões oste-oligamentares(fratura-luxac¸ão de Lisfranc).Além disso, os autoresnãomencionamnaevoluc¸ãodeseuscasosaartrose, oretornoaotrabalhoeadorresidual.
Perezetal.,24Rammeltetal.25eTanetal.26usaramreduc¸ão
abertaefixac¸ãointernacomfiosdeKirschner(2,5a3,5mm) porumaouduasviasdeacesso.Emseutrabalho,detodasas complicac¸õespossíveis(infecc¸ão,perdadareduc¸ão,necrose depele),Perezetal.24 apresentaramumcasodeinfecc¸ãoe
trêscomnecrosedepelenumseguimentode76meses. Ram-meltetal.25mostraramumcasocomnecrosedepeleeum
cominfecc¸ão.Tanetal.,26emumseguimentode36meses,
evi-denciaram10artrosesdaarticulac¸ãotarsometatársica,porém todosvoltaramaotrabalhoe11(dos12pacientes) apresenta-rammelhoriatotalouparcialda dor. Nenhumdosautores apresentouperdadereduc¸ãoemseusseguimentoseas sín-tesesforam retiradascom oitosemanas depós-operatório. Temosumcasoemquefoiusadasíntesemista(parafusoefio), noqualofiofoiretiradocomseissemanasdepós-operatório. Nãohouvecomplicac¸õeseobtivemosumbomresultado.
A grande maioria dos autores7,25,27–30,33,34 usa reduc¸ão
aberta e fixac¸ãointerna com parafusos de pequenos frag-mentos. Apenas Mulier et al.31 fizeram o tratamento com
parafusos de grandes fragmentos (4,5mm). Em seu estudo feitocom16 pacientesecomumseguimentode30meses, foiretiradoomaterialdesínteseem12semanas,após evi-dênciade consolidac¸ão ósseae/ou cicatrizac¸ão ligamentar. Apresentaram como resultado: dois pacientes com distro-fiasimpático-reflexa,15queevoluíramcomartroseprecoce dessaarticulac¸ãoedoiscasos,pelagravidadedalesão,foram submetidosaartrodeseprimária.Emconcordânciacoma lite-ratura,usamosRaficomparafusosdepequenosfragmentos.
Dos trabalhos em que os pacientes com lesões osteoli-gamentares daarticulac¸ão de Lisfrancforam submetidos à reduc¸ãoabertaefixac¸ãointernacomdois parafusos,Arntz etal.7tiveramcomoresultadoscom34pacientes:20
evoluí-ramcomartrosesemnecessidadedeartrodese,21voltaram aotrabalhoe29tiverammelhoriatotalouparcialdador.Kuo etal.28tiveramproblemascomafixac¸ão(solturadomaterial
desínteseeperdadereduc¸ão)em12deseus48pacientesque evoluíramcomartrose,porém apenasseisnecessitaramde artrodese.
LyeCoetzee,29 emseuestudo,submeteramospacientes
comlesãopuramenteligamentar(20casos)areduc¸ãoaberta efixac¸ãointernacomdoisparafusos.Apresentaramfalhada
sínteseem16casose15evoluíramcomartrose.Desses,cinco foramreabordadosesubmetidosaartrodese.Dos20 pacien-tes tratados, apenasseis voltaramao trabalho.Dos nossos 10casosdelesõespuramenteligamentares,cincoforam cirúr-gicosequatroforamsubmetidosaRaficomdoisparafusos. Desses,umevoluiucominfecc¸ãoedeiscênciadasutura (paci-ente1),porémapresentoubomresultadoesemartrose.Dois apresentarambonsresultadoseumdelesevoluiucomartrose assintomática(paciente9)eooutrosemartrose(paciente3). Eoúltimo(paciente6)apresentouresultadosatisfatóriocom artroseassintomática.
Não usamoso escoreAofasna nossaavaliac¸ãopornão serummétododeavaliac¸ãosatisfatóriaematletas.Poresse motivo,sugerimosaavaliac¸ãodescritanosmateriaise méto-dos,queestratificaosresultadosemruim,satisfatório,bome excelenteesuacorrelac¸ãoclínica.
Conclusão
Odiagnósticocorretoinfluenciadiretamentenotratamento enoresultadofinalobtidoeodesconhecimentodalesãoéo principalresponsávelpelosubdiagnósticodalesãodeTurco esuascomplicac¸ões.Hánecessidadedeestudosprospectivos randomizadosquecomparemostiposdesínteseeaevoluc¸ão doscasos tratadoscom asmesmas paraumadefinic¸ãodo melhortratamento.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
1.EnglanoffG,AnglinD,HutsonHR.Lisfranc
fracture-dislocation:afrequentlymisseddiagnosisinthe emergencydepartment.AnnEmergMed.1995;26(2):229–33.
2.CassebaumWH.Lisfrancfracture-dislocations.ClinOrthop RelatRes.1963;30:116–29.
3.PereiraCJ,EspinosaEG,MirandaI,PereiraMB,CantoRS. Avaliac¸ãodotratamentocirúrgicodafraturaluxac¸ãode Lisfranc.ActaOrtopBras.2008;16(2):93–7.
4.MyersonMS,FisherRT,BurgessAR,KenzoraJE.Fracture dislocationsofthetarsometatarsaljoints:endresults correlatedwithpathologyandtreatment.FootAnkle. 1986;6(5):225–42.
5.DePalmaL,SantucciA,SabettaSP,RapaliS.Anatomyofthe Lisfrancjointcomplex.FootAnkleInt.1997;18(6):356–64.
6.BurroughsKE,ReimerCD,FieldsKB.Lisfrancinjuryofthe foot:acommonlymisseddiagnosis.AmFamPhysician. 1998;58(1):118–24.
7.ArntzCT,VeithRG,HansenJrST.Fracturesand
fracture-dislocationsofthetarsometatarsaljoint.JBoneJoint SurgAm.1988;70(2):173–81.
8.VuoriJP,AroHT.Lisfrancjointinjuries:traumamechanisms andassociatedinjuries.JTrauma.1993;35(1):40–5.
9.UmansHR.Imagingsportsmedicineinjuriesofthefoot andtoes.ClinSportsMed.2006;25(4):763–80.
11.FaciszewskiT,BurksRT,ManasterBJ.Subtleinjuriesofthe Lisfrancjoint.JBoneJointSurgAm.1990;72(10):1519–22.
12.HarwoodMI,RaikinSM.ALisfrancfracture-dislocationina footballplayer.JAmBoardFamPract.2003;16(1):69–72.
13.HardcastlePH,ReschauerR,Kutscha-LissbergE,Schoffmann W.Injuriestothetarsometatarsaljoint.Incidence,
classification,andtreatmentJBoneJointSurgBr. 1982;64(3):349–56.
14.PerronAD,BradyWJ,KeatsTE.OrthopedicpitfallsintheED: Lisfrancfracture-dislocation.AmJEmergMed.
2001;19(1):71–5.
15.TurcoVJ.Diastasisoffirstandsecondtarsometatarsalrays:a causeofpaininthefoot.BullNYAcadMed.1973;49(3):222–5.
16.NunleyJA,VertulloCJ.Classification,investigation,and managementofmidfootsprains:Lisfrancinjuriesinthe athlete.AmJSportsMed.2002;30(6):871–8.
17.ThompsonMC,MorminoMA.Injurytothetarsometatarsal jointcomplex.JAmAcadOrthopSurg.2003;11(4):260–7.
18.DesmondEA,ChouLB.Currentconceptsreview:Lisfranc injuries.FootAnkleInt.2006;27(8):653–60.
19.ShapiroMS,WascherDC,FinermanGA.RuptureofLisfranc’s ligamentinathletes.AmJSportsMed.1994;22:687–91.
20.HuntSA,RopiakC,TejwaniNC.Lisfrancjointinjuries: diagnosisandtreatment.AmJOrthop(BelleMeadNJ). 2006;35(8):376–85.
21.LovedayD,RobinsonA.Lisfrancinjuries.BrJHospMed (Lond).2008;69(7):399–402.
22.MyersonMS.Thediagnosisandtreatmentofinjurytothe tarsometatarsaljointcomplex.JBoneJointSurgBr. 1999;81(5):756–63.
23.MyersonMS,CerratoR.Currentmanagementof tarsometatarsalinjuriesintheathlete.InstrCourseLect. 2009;58:583–94.
24.PérezBlancoR,RodríguezMerchánC,CanosaSevillanoR, MunueraMartínezL.Tarsometatarsalfracturesand dislocations.JOrthopTrauma.1988;2(3):188–94.
25.RammeltS,SchneidersW,SchikoreH,HolchM,HeineckJ, ZwippH.Primaryopenreductionandfixationcompared withdelayedcorrectivearthrodesisinthetreatmentof tarsometatarsal(Lisfranc)fracturedislocation.JBoneJoint SurgBr.2008;90(11):1499–506.
26.TanYH,ChinTW,MitraAK,TanSK.Tarsometatarsal (Lisfranc’s)injuries–Resultsofopenreductionandinternal fixation.AnnAcadMedSingapore.1995;24(6):816–9.
27.HenningJA,JonesCB,SietsemaDL,BohayDR,AndersonJG. Openreductioninternalfixationversusprimaryarthrodesis forlisfrancinjuries:aprospectiverandomizedstudy.Foot AnkleInt.2009;30(10):913–22.
28.KuoRS,TejwaniNC,DigiovanniCW,HoltSK,BenirschkeSK, HansenJrST,SangeorzanBJ.Outcomeafteropenreduction andinternalfixationofLisfrancjointinjuries.JBoneJoint SurgAm.2000;82(11):1609–18.
29.LyTV,CoetzeeJC.Treatmentofprimarilyligamentous Lisfrancjointinjuries:primaryarthrodesiscompared withopenreductionandinternalfixation.Aprospective, randomizedstudy.JBoneJointSurgAm.2006;88(3):514–20.
30.RajapakseB,EdwardsA,HongT.Asinglesurgeon’s experienceoftreatmentofLisfrancjointinjuries.Injury. 2006;37(9):914–21.
31.MulierT,ReyndersP,DereymaekerG,BroosP.SevereLisfranc’ injuries:primaryarthrodesisorORIF?FootAnkleInt. 2002;23(10):902–5.
32.CoetzeeJC.MakingsenseofLisfranc’injuries.FootAnkle Clin.2008;13(4):695–704.
33.ClantonTO,McGarveyW.Athleticinjuriestothesofttissues ofthefootandankle.In:CoughlinMJ,MannRA,SaltzmanCL, editors.Surgeryofthefootandankle.8thed.Philadelphia: Mosby;2006.p.1520–7.
34.PerugiaD,BasileA,BattagliaA,StopponiM,DeSimeonibus AU.FracturedislocationsofLisfranc’jointtreatedwithclosed reductionandpercutaneousfixation.IntOrthop.