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ARTIGO
ORIGINAL
Evaluation
of
human
milk
titratable
acidity
before
and
after
addition
of
a
nutritional
supplement
for
preterm
newborns
夽
,
夽夽
Cibelle
Iáskara
do
Vale
Pereira
a,∗,
Juliana
Fernandes
dos
Santos
Dametto
b,ce
Janaína
Cavalcanti
Costa
Oliveira
aaUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(UFRN),MaternidadeEscolaJanuárioCicco(MEJC),Natal,RN,Brasil bUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(UFRN),Natal,RN,Brasil
cUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(UFRN),DepartamentodeNutric¸ão,Natal,RN,Brasil
Recebidoem20deagostode2015;aceitoem14dedezembrode2015
KEYWORDS
Newborn; Humanmilk; Titratableacidity; Dietarysupplements; Metabolicbone diseases
Abstract
Objective: ToevaluatetheinitialDornicacidityinrawhumanmilk,afterpasteurizationand
afterheatinganddilutionofadietarysupplementforpreterminfants.
Methods: Aquantitative,descriptive,andexperimentalstudywascarriedoutwitha
conveni-encesampleatthehumanmilkbankataBrazilianpublicmaternity,withspecializedcarefor
pregnantwomenandnewbornsatrisk.Theeligibilitycriteriafor thestudy sampleincluded
93frozenrawhumanmilkinsuitablecontainerswithvolumes≥100mLandinitialDornic
aci-dity≤8◦ Dornic(◦D).Milkacidityofhumanmilkwasmeasuredinfourstages:inrawhuman
milk (initial);afterpasteurization;after theheatingofpasteurizedmilkanddilutionofthe
supplement;andafterthirtyminutesofsupplementation.
Results: Theinitialaciditywas3.8◦D±1.3(95%CI:3.56---4.09)withnosignificantdifference
inDornicacidityinpasteurizedmilk,whichwas3.6◦D±1.2(95%CI:3.36---3.87).Thedilution
ofthe supplementin pasteurizedmilk thatwas heatedsignificantlyincreasedmean Dornic
acidity to18.6◦D±2.2(95% CI:18.18---19.11),which remainedhigh after thirtyminutes of
supplementationat17.8◦D±2.2(95%CI:17.36---18.27),consideringp<0.05.
Conclusions: ThestudyobservednosignificantdifferencesinDornicacidityofrawhumanmilk
andpasteurizedhumanmilk;however,thedilutionofahumanmilksupplementationcaused
asignificantincreaseinacidity.Furtherinvestigationsarenecessaryontheinfluenceofthis
finding onthequalityofsupplementedmilk anditsconsequencesonthehealthofpreterm
infants.
©2016PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofSociedadeBrasileiradePediatria.Thisis
anopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/
by-nc-nd/4.0/).
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2015.12.008
夽 Comocitaresteartigo:PereiraCI,DamettoJF,OliveiraJC.Evaluationofhumanmilktitratableaciditybeforeandafteradditionofa
nutritionalsupplementforpretermnewborns.JPediatr(RioJ).2016;92:499---504.
夽夽TrabalhodesenvolvidonaUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(UFRN),Natal,RN,Brasil.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:cibelleiaskara@yahoo.com.br(C.I.Pereira).
PALAVRAS-CHAVE
Recém-nascido; Leitehumano; Acideztitulável; Suplementos nutricionais; Doenc¸asósseas metabólicas
Avaliac¸ãodaacideztituláveldoleitehumanoanteseapósadic¸ãodeumsuplemento nutricionalpararecém-nascidopré-termo
Resumo
Objetivo: AvaliaraacidezDornicinicial noleitehumanocru,apóspasteurizac¸ão,e
aqueci-mentoediluic¸ãodeumsuplementonutricionalpararecém-nascidosprematuros.
Métodos: Estudoquantitativo, descritivo,experimental, comamostragemporconveniência,
feitonoBancodeLeiteHumanodeumamaternidadepúblicabrasileira,comassistência
espe-cializadaàsgestanteserecém-nascidosderisco.Oscritériosdeelegibilidadedas93amostras
doestudoincluíram leiteshumanos cruscongeladosem embalagensapropriadas, com
volu-mes≥100mLeacidezDornicinicial≤8◦Dornic(◦D).A acidezDornic dosleites humanosfoi
mensuradaemquatromomentos:noleitehumanocru(inicial);apóspasteurizac¸ão;após
aque-cimentodoleitepasteurizadoediluic¸ãodosuplemento;eapóstranscorridos30minutosde
suplementac¸ão.
Resultados: Aacidezinicialfoide3,8◦D±1,3(IC3,56-4,09)enãoapresentoudiferenc¸a
signifi-cativaemrelac¸ãoàacidezDornicnoleitepasteurizado,quefoide3,6◦D±1,2(IC3,36-3,87).A
diluic¸ãodosuplementonoleitepasteurizadoeaquecidoaumentousignificativamenteamédia
daacidezDornica18,6◦D±2,2(IC18,18-19,11),aqualsemanteveelevadaem17,8◦D±2,2
(IC17,36-18,27)após30minutosdadiluic¸ão,considerandop<0,05.
Conclusões: OestudodemonstrouqueaacidezDornicdoleitehumanocrueadoleitehumano
pasteurizadonãoapresentaramdiferenc¸assignificativas,porémadiluic¸ãodosuplementode
leitehumanopromoveuelevac¸ãosignificativadaacidez.Maioresinvestigac¸ões dainfluência
desse achado sobre a qualidade do leite suplementado e suas consequências na saúde de
prematurossãonecessárias.
©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadeBrasileiradePediatria.Este
´
eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/
by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão
Avanc¸os tecnológicos do século XX permitiram, na área
da neonatologia, a criac¸ão das Unidades de Tratamentos IntensivosNeonatais(UTIN) efavoreceram asobrevidade recém-nascidosprematuros(RNPT)edemuitobaixopeso.1
Realidade que impôs inúmeros desafios ao cuidado dessa populac¸ão, que requer maior atenc¸ão em relac¸ão ao seu crescimento,desenvolvimentoenutric¸ão.2
Notocanteaosaspectosdietéticos,aOrganizac¸ão Mun-dial de Saúde aconselha o uso de leite da própria mãe também para prematuros, pois, além de ser mais bem tolerado por sua fácil digestibilidade, tem elevada quali-dadenutricionalepromovebenefíciosaobinômiomãe-filho pela prática do aleitamento materno.3 Ainda, auxilia na
protec¸ão imunológica contra infecc¸ões, sepse e entero-colite necrosante, favorece o desenvolvimento mental do prematuro4 e, em longo prazo, parece modular fatores
derisco para doenc¸as cardiovasculares,4 constitui-se uma
opc¸ão de impacto dentre as estratégias para reduc¸ão da mortalidadeinfantil.5
Quantoàcomposic¸ãonutricional,oleitematerno(LM)de prematuroé inicialmentemaisconcentradoem proteínas, lipídios,minerais(comosódio,cálcioefósforo),eletrólitos e propriedadesimunológicas, comparadoao leite de mãe derecém-nascidotermo;porém, nofim doprimeiromês, asdiferenc¸as decrescem,fazem-noassemelhar-seaoleite demãesderecém-nascidotermo.6,7 E,sendoreduzidasas
reservasnutricionais de prematuros, em contraposic¸ão às
suaselevadasdemandasmetabólicas,umsuporte nutricio-nalinadequadopodelevaraefeitosadversosepermanentes emseucrescimentoedesenvolvimento.3
Por isso, tem sido indicada a suplementac¸ão do leite humano a fim de corresponder aos requerimentos nutri-cionais dessa populac¸ão e prevenir ou tratar doenc¸as ósseasmetabólicasnessesindivíduos,3,8práticanutricional
já difundida na neonatologia.9 Dentre os suplementos de
leite humano mais usados noBrasil, destacam-se aqueles àbasedehidrolisadosdeproteínadosorodeleitebovino, acrescidosdevitaminasemineraisdiversos,especialmente decálcio,fósforoepotássio.10
Apesarderecomendac¸õesparaasuplementac¸ãodoleite da própria mãe do prematuro, se a nutriz não conse-gue suprirademandadobebê,propõe-seaadministrac¸ão deleitedeBancodeLeiteHumano(BLH).5,11 Nessecaso,o
alimentopassaporrigorosocontroledequalidadeantesde serdistribuído.Dentreasanálisesfeitas,estáamensurac¸ão da acidez Dornic (AD). Variac¸ões dentro da faixa de 1 a 8 graus Dornic (◦D) classificam o alimento ao consumo; enquanto valores maiores desqualificam-no do ponto de vista microbiológico e também podem influenciar a dis-ponibilidade biológica de seus nutrientes, a exemplo do cálcio,12,13imprescindívelnamineralizac¸ãoósseade
recém--nascidosprematuros.14,15
AacidezDornicinicial doleitehumano é determinada porsuacomposic¸ãoquímica,comcontribuic¸ãoespecialdas proteínas,dosfosfatos,citratosedodióxidodecarbono,16,17
essescomponentes,aoalterarsuasconcentrac¸õesnoleite humano,podecausarmodificac¸õesnessaacidez.16 Porém,
aindanãoexistemestudossobreaavaliac¸ãodaacidez Dor-nicnoleitehumano suplementado, alémdeque aspectos sobrea eficácia e seguranc¸ados suplementos nutricionais paraleitehumanodestinadosaprematurosaindanãoestão totalmenteesclarecidos,9oquejustificaesteestudo.
Diantedessaproblemática,opresenteestudoobjetivou avaliar a acidez Dornic inicial noleite humano cru, após pasteurizac¸ãoeapósaquecimentoediluic¸ãodeum suple-mentousadoparacomplementaranutric¸ãodeprematuros demuitobaixopesoe/ouemtratamentodedoenc¸asósseas metabólicas, a fim de verificar se há flutuac¸ões no com-portamentodavariávelacidezDornicfrentetaisetapasde manipulac¸ãodoalimento.
Métodos
Oestudofoidotipoquantitativo,descritivo,experimental, comamostragemporconveniência,desenvolvidonoBLHde referênciaestadualnaMaternidadeEscolaJanuárioCicco, emNatal,RioGrandedoNorte,queintegraoSistemaÚnico de Saúde e presta assistência especializada a gestantes, parturienteserecém-nascidosderisco.Osprincipais bene-ficiadoscomo LHcoletado e pasteurizadonolocalsãoos prematurosinternadosnaUTINdohospitalenasenfermarias dealojamentoconjunto.
O estudo foi aprovado pela Comissão de Pesquisa da maternidade-escolaepeloComitêdeÉticaemPesquisado HospitalUniversitárioOnofreLopes,docomplexohospitalar daUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(UFRN).
A coleta de amostras foi precedida da assinatura do Termo de Autorizac¸ão Institucional e ocorreu durante 24dias,durante turnovespertino, entreagostoeoutubro de2014.
Adeterminac¸ãodonúmerodeamostrasocorreupormeio dasimulac¸ãodetamanhosamostraisemrelac¸ãoaotamanho do efeitoinvestigado, tomaram-sepor base dois parâme-trosfixos:alpha=0,05(5%deprobabilidadeestatísticapara rejeitarahipótesenula)epoderestatístico=0,8(poderdo testededetectarumefeitogenuíno,verdadeiro,casoele exista). E, sem prever direc¸ão, investigou-se a diferenc¸a entreasmédiasapartirdeanálisebicaudal.Encontrou-se queparaumefeitoesperadode0,5(efeitomédiosegundo Cohen)haveriaanecessidadedecoletarumnúmero amos-tralmínimode34elementos.
Os critérios de elegibilidade do estudo incluíram 104amostrasdeLHcrusdenutrizesquefizeramaordenha em domicílio, na sala de coleta de LH da maternidade--escola ou no próprio BLH; recebidos para pasteurizac¸ão congeladosemfrascosdevidrocomtampasplásticas,com volumes >100 mL e AD inicial<8 ◦D. Já os critérios de
exclusãoforamaocorrênciaderepetic¸ãodeamostras (pro-venientesdeumamesmadoadora)eonãocumprimentodas etapasprevistaspelametodologiadoestudocomumadada amostra.Ocorreram11perdasamostraisefoide93ototal estudado.
Para a determinac¸ão daacidez DornicdoLHfoi usada comosoluc¸ãotitulanteohidróxidodesódioN/9(NaOHN/9 ---soluc¸ãoDornic).Cada0,01mLgastoparaneutralizar1mLde LHcorrespondeua1◦ D(umgrau Dornic).Paraadetecc¸ão
do pontode viragem foi adicionada uma gota da soluc¸ão
indicadoradefenolftaleínaemsoluc¸ãohidroalcóolicaa1%, queseapresentavainicialmente comosoluc¸ãotranslúcida e,apósaviragemdopHdomeio, assumiucolorac¸ão rosa--clara,oqueindicouamudanc¸a.Emseguida,procedeu-seà leituradovolumedetitulantegastonoacidímetro.12,13
OsuplementonutricionaladicionadoaoLHfoiuma fór-mulacomercial em póde nutrientespara recém-nascidos derisco, àbase de proteínaextensamente hidrolisadado sorodeleitebovino,maltodextrina,vitaminaseminerais, deumtipoúnico,paratodasasavaliac¸õesfeitasnoestudo. Conformeoprotocolodoservic¸odenutric¸ãoedietéticada maternidade,oLHfoiaquecidoa37◦Cantesdadiluic¸ãodo suplemento multicomponente. Seguiu-se a recomendac¸ão dofabricante de diluic¸ão do produto (1g/20mL de LH), porémna quantidadeproporcional de0,05gpara 1mLde LHusadonasmensurac¸ões.
Quando se trata de RNPT de muito baixo peso, cujos reflexos de succ¸ão e deglutic¸ão são retardados devido à imaturidadedosistemaneurológico,inviabiliza-sea contí-nuaerápidaadministrac¸ãodadieta,oleitesuplementado nãoéinteiramenteconsumidodeimediato.Pequenas pau-sasduranteaadministrac¸ão dadietasãorequeridascomo medidas para evitar refluxo e/ou broncoaspirac¸ão, tanto nocaso deoferecimentoporcopodosadordireto na boca doprematuroquantopormeiodesondagástricapara aque-lesquenãoapresentamcondic¸õesdealimentar-seviaoral. Contemplando a consequência desse tempo em que o leite suplementado está à espera da finalizac¸ão da administrac¸ão e as etapas de sua manipulac¸ão prévia, a AD dos leites humanos inclusos na pesquisa foi mensu-radaem quatromomentos, a fim decaracterizar de suas possíveisflutuac¸ões:no leitehumano cru (acidez inicial); após pasteurizac¸ão; após aquecimento do leite humano pasteurizadoe diluic¸ãodo suplementonutricional;e após transcorridos30minutosdesuplementac¸ãodoLH.
Oprimeiromomento(obtenc¸ãodaADdoLHcru) baseou--se na coleta de dados das amostras por meio de consulta aos documentos do BLH, já que a atividade é desenvolvida e registrada cotidianamente pelos profissio-nais do local. As pesquisadoras foram responsáveis pela execuc¸ãodasmensurac¸õesreferentesaosegundo,terceiro equartomomentosdoestudo.
Osdadoscoletadosdasamostrasforamtranscritospara umformulário específico e armazenados em planilhasdo programa Microsoft Excel® (Microsoft Excel®, V 2010. Microsoft®, WA, EUA). A AD das amostras nos respectivos momentosdapesquisafoiaferidaemtriplicata,adotou-se amédiaaritméticadosvaloresobtidos apartirdaanálise individualdecadaalíquota.Paraostestesestatísticosforam usadasasmédiasdaADnosdevidosmomentosestudados.
O testeestatístico Anova, de umcritério,foi aplicado para averiguar a variabilidade entre as médias de cada etapa da pesquisa, e, em seguida, foi feito o pós-teste deTukeyparacomparac¸õesmúltiplas.Onívelde significân-ciafoiestabelecidoem5%.
Resultados
Tabela1 Média,desviopadrão,erropadrãodamédiaevariac¸õesacimaeabaixo deintervalodeconfianc¸a95%daacidez
Dornicdosleiteshumanosemcadaetapadoestudo
Grupos Média Desvio
padrão
Erropadrão
demédia
95%abaixodointervalo
deconfianc¸a
95%acimadointervalo
deconfianc¸a
AcidezDornicnoleitecru
(inicial)
3,8a 1,3 0,14 3,56 4,09
AcidezDornic
pós-pasteurizac¸ão
3,6a 1,2 0,13 3,36 3,87
AcidezDornicpós-aquecimento
eadic¸ãodesuplemento
18,6b 2,2 0,23 18,18 19,11
AcidezDornicapós30minutos
desuplementac¸ão
17,8c 2,2 0,23 17,36 18,27
a,b,cLetrasdesiguaisrepresentamdiferenc¸aestatisticamentesignificante(p<0,05).
Já o pós-teste revelou que não houve diferenc¸a significante (p>0,05) entre AD no LH cru e AD pós--pasteurizac¸ão. No entanto, as médias de acidez Dornic no LH cru apresentaram diferenc¸a estatisticamente sig-nificante (p<0,05) das médias das etapas de AD pós--aquecimento doleite humano pasteurizado e adicionado do suplemento nutricional e da AD após transcorridos 30minutosdasuplementac¸ão.
Ainda, encontrou-se diferenc¸a entre as médias da AD pós-pasteurizac¸ão,daADpós-aquecimentodoleitehumano pasteurizadoeadicionadodosuplementoedaADapós trans-corridos30minutosdesuplementac¸ão,comoseobservana tabela1.
Discussão
Oleiteé umsistematamponantecombaixaconcentrac¸ão deíon hidrogêniolivre(H+).Emvirtudedotampão decor-rente da sua composic¸ão intrínseca, pequenas mudanc¸as detectadasnosvaloresdepH sãoprecedidas deelevac¸ões consideráveisnaacidezDornic.12,18
Acercadarelac¸ãoentreessesdoisparâmetrosquímicos, demodogeral, avalia-sequeaADémaissensívelao con-teúdototaldesolutosnoLHequequantomaisbaixoopH, maioréaacidezDornicdoalimento.SendoopHvariávelde acordocomteorenergéticodoLH,sugere-sequeaAD tam-béméinfluenciada diretamentepeloconteúdolipídico do alimento.Leitescommaioresconcentrac¸õesdegorduratêm chanceaumentadadedesenvolverumaacidezelevada.18
Apasteurizac¸ãodoLHcomelevadaacideznãoobjetiva melhorarsuaqualidade.18Porisso,éimportanteconhecerse
houvecrescimentobacterianoprévioaesseprocessamento, uma vez que aquele produz fermentac¸ão e acidificac¸ão do leite, leva à reduc¸ão dos componentes nutricionais e imunológicos inerentesao alimento e desqualificandoseu uso.12,13,19
OLHacidificadopodenãosuprirasnecessidades nutri-cionais específicas dos prematuros de muito baixo peso ouimunologicamentevulneráveis. Aelevac¸ão daacideze aliberac¸ãodeprótonsadvindosdaionizac¸ãodoácidolático emmeioaquosoprovocamadesestabilizac¸ãodasproteínas solúveisemicelasdecaseínaefavorecemsuacoagulac¸ão; aumentamaosmolaridade;alteramoflavor(saboreodor) e reduzem o valor imunológico do alimento. Esse ataque catiônico, ao desestabilizar a caseína em suspensão no
LH, dificulta a disponibilizac¸ão do conteúdo de cálcio e fósforo que se encontra associado quimicamente àquela ecompõeasmicelasestáveis,ficaaabsorc¸ãodesses mine-raisdependentedoprocessodedigestãodasproteínas.19---21
Nesteestudo,aADencontradanoleitecru(3,8◦D±1,3) não apresentou diferenc¸a estatística com a AD no leite pasteurizado(3,6◦D±1,2).Issosugerequeosleites analisa-dosapresentavam-seaptosaoconsumodosrecém-nascidos, semmaioresinterferênciasdosvaloresdaADinicialsobreo conteúdonutricionaldoalimento.
Já após a adic¸ão do suplemento nutricional no leite pasteurizado e aquecido a 37◦Cobservou-se umaumento significativo da média da AD (18,6◦D±2,2, p<0,05). Tal elevac¸ãofoimantidamesmoapóstranscorridos30minutos dadiluic¸ão(17,8◦D±2,2,p<0,05).Ambasasmédias supe-raramo limite de8◦
Dpreconizado parao consumo doLH pelosrecém-nascidos.
Considerandoaimportânciadaacidezapresentadapelo LH que influencia em sua qualidade nutricional, deve-se enfatizar que sobrecargas ácidas ou básicas resultam em acidoseoualcalosemetabólicaeseuusopodecausar ente-rocolitenecrosanteemneonatoprematuroedemuitobaixo pesoaonascer.18
É importante ressaltar ainda que o LH (seja cru ou pasteurizado e congelado) pode sofrer lipólise, liberar maiores quantidades de ácidos graxos livres e contri-buir para a elevac¸ão da acidez, como interpretam Novak e Cordeiro.22 Consequentemente, esses componentes em
maior concentrac¸ão no leite, aliados às ofertas elevadas demineraiscomoocálcio,pormeiodossuplementos, pro-piciariam a formac¸ão desabões insolúveis, maisumfator contrárioàabsorc¸ãodomineralpeloorganismo.6Ainda,é
coerente evidenciarque apesarde serum mesmo evento [aelevac¸ãodaacidezDornic],quandopromovidoporcausas diversas,talcomoaocorrênciadelipólise;oincrementode componentesacidificantespelasuplementac¸ãodoLH;ouo desenvolvimentodaacidezpormeiodaformac¸ãodoácido láctico resultantedeatividade bacteriana, nãoé possível afirmarque asconsequênciassejam asmesmas, especial-mente quantoa interferir na biodisponibilidade docálcio enometabolismodosprematurosreceptores.Assim, estu-dosmaisaprofundadossobreoassuntosãorequeridospara esclareceressasquestões.
secundária à manipulac¸ão do pó, provocar alterac¸ões na osmolaridadedoalimentoerepercutirnaabsorc¸ãodeseus nutrientes.23Quantoaisso,reconhecem-secomolimitac¸ões
dopresenteestudoaausênciadetestemicrobiológicopara afastar a hipótese de contaminac¸ão pelo suplemento e tambémo desconhecimentoprévio daacidezdoproduto, condic¸ões que poderiam influenciar a interpretac¸ão dos resultadosaquiencontrados.
Por outro lado, estudosdestacaram quea elevac¸ão da osmolaridadenoLHcausadapelaadic¸ãodesses suplemen-tosestariarelacionadaaodesenvolvimentodeenterocolite necrosante em prematuros pelo incremento no conteúdo de solutos, que também é reforc¸ado pela atividade da amilase humana. A enzima, presente e ativa no leite humanopasteurizado,agesobreoscarboidratos(dextrinas) constituintes do suplemento, degrada-os em monossaca-rídeos e oligossacarídeos, em osmolaridade em maior ou menor tempo, conformea fonte docarboidratoe modula oaumentodaosmolaridade.24,25
Contudo, a suplementac¸ão do LH oferecido ao RNPT ganha importância mediante constatac¸ões de que o leite maternodesuasnutrizes,mesmoqueapresentecomposic¸ão diferenciadaemrelac¸ãoaoleitedemãesderecém-nascidos atermo,aindaapresentaconteúdoinsuficientedeproteína, cálcioefósforo.23,26
Em revisão sistemática feita pela Cochrane Database of Systematic Reviews, concluiu-se que a suplementac¸ão multicomponentedoLHparaRNPTestavaassociada aum ganhoponderal, de comprimentoe de perímetro cefálico maisrápido, apesar denãoter observado efeitos sobre a mineralizac¸ãoósseadogrupoemquestão.27
Já em estudo feito em 2010 na unidade de terapia intensivadeumhospitalemPortoAlegre,Brasil,foram com-paradosdoisgruposde19RNPT:umgruporecebeuapenas LHe o outrorecebeu oLHsuplementadocom FM85® for-tifier milk (FM 85®, Nestlé, Munique, Alemanha). Ambos osgruposforamacompanhadosquantoàsavaliac¸ões antro-pométricasindividuaiseamineralizac¸ãoósseafoiavaliada pormeiodadensitometriaósseadecorpointeirocomraios X de dupla energia (DEXA --- Dual Energy X-ray Absorpti-ometry) e exames laboratoriais de controle da fosfatase alcalina,cálcio,fósforo,alémdecálcio efósforourinário. Osresultadosrevelaramnítidamelhorianogrupo suplemen-tado em relac¸ão aonão suplementado, incluindotambém adiminuic¸ãodafosfatasealcalina naquele,oque sinaliza melhorhomeostasemineralnessasituac¸ão.28
Muitos estudos sobre a suplementac¸ão do LH para prematuros com déficits na mineralizac¸ão óssea têm sido desenvolvidos a fim de demonstrar as consequên-cias dessa conduta para essa populac¸ão específica.6,8,9,19
Porém,osresultadosaindasãoconflitantes,oraapontamo favorecimento damineralizac¸ão,oranãoapresentam res-postas significativas quando comparados com o LH sem suplementac¸ãoe/oufórmulasespecíficasparaprematuros. Todavia, deve-se ponderar que asmetodologias emprega-dasparaavaliartaisdesfechossãobemdiversificadas---vão desdea investigac¸ão‘‘clássica’’ baseadaem dados antro-pométricos,raios X e análisebioquímica séricadecálcio, fósforo, fosfatase alcalina, paratormônio, metabólitos da vitaminaD,cálcioefósforonaurina;oumaisrecentemente, pormeiodoDEXA,dificultaacomparac¸ãodosachados. Tam-bém,osdiferentestiposdesuplementac¸õesfeitasnoLHe
o númeroamostral (geralmente reduzido) sãoempecilhos paraconclusõesconsistentesapartirdosestudosjáfeitos.28
Postoisso,destaca-searelevânciadopresenteestudo, quepropôsaobservac¸ãodascaracterísticasacidobásicasdo LHsuplementadoinvitro,quediminuemasinfluências pro-porcionadaspelaatividademetabólicainvivo,quepodem setornar fatores deconfusão na interpretac¸ão dos resul-tadosacercadasmodificac¸õesfísico-químicasdoalimento após a suplementac¸ão. Doutromodo, a metodologiaaqui adotadanãopermitiuaavaliac¸ãodiretadasconsequências doaumentodaacidezDornicnoleitehumanosuplementado sobreabiodisponibilidadedocálcioefósforo,tampoucoa compreensãodeseusefeitossobreasaúdeeometabolismo dosprematurosdemuitobaixopesoe/ouemtratamentode doenc¸asósseasmetabólicas.
Portanto,considerandoosresultadosapresentadospelo presenteestudo,quemostraraminexistênciadediferenc¸a significativaentre a acidez Dornic inicial do LHcru e do LH pasteurizado e revelaram a significativa acidificac¸ão doleitehumanosuplementado(usadopararecém-nascidos prematurosdemuitobaixopesoe/ouemcasosdedoenc¸as ósseasmetabólicas), diante dasespeculac¸õesdeque essa acidificac¸ãoapresentada pelo LHsuplementadopode difi-cultara absorc¸ãodenutrientescomo ocálcio, ressalta-se que ainda não há suficiente suporte da literatura cientí-ficaparaconsolidartalafirmac¸ão.Porisso,maioresestudos, incluindometodologiasquepermitampesquisara ocorrên-ciadasdoenc¸asósseasmetabólicasemprematurosdemuito baixopesoreceptoresdeLHsuplementadoenão suplemen-tado,com e semelevac¸ão daAD doleiteconsumido,são recomendados,afimdedemonstraraeficáciaeseguranc¸a dessasuplementac¸ão,aindanãototalmenteesclarecidas.
Consequentemente, tais estudos são imprescindíveis tambémpara apontarqual a composic¸ão ótimade suple-mentos para LH usado para alimentar esses prematuros. Como permanecem questionáveis as consequências da suplementac¸ãodoLH,suaindicac¸ão/prescric¸ãorequer sem-prerigorcrítico.
Ainda,frenteaosresultadosaquidiscutidos, vale enfa-tizar o contraponto entre o descarte inicial de amostras deLHque é feitoem BLHsporapresentarem acidez Dor-nic>8◦D,interpretadacomoaumentonaproduc¸ãodeácido lático devido a contaminac¸ão biológica do alimento, e a elevac¸ão desse parâmetro no LH causada pela adic¸ão do suplementonutricional.Issosugerequeamostrascom aci-dez Dornic elevada descartadas pelos BLH nem sempre seriamjustificadasporelevadacontaminac¸ão,podemantes serprovenientesde alterac¸õesdacomposic¸ão químicado próprioalimento,comojápropostoporestudoanterior. Por-tanto,maioresdiscussõesparecemsernecessárias,afimde proporsaídas para minimizar o descartenos BLHs deLHs supostamenteprópriosparaconsumo.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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