R E S S O N Â N C I A NUCLEAR MAGNÉTICA N O S D I S R A F I S M O S E S P I N A I S
MÁRCIA REGINA DE SOUZA *, JOSÉ PÍNDARO PEREIRA PLESE* *, HAMILTONMATUSHITA***, ORILDOCIQUINI***
RESUMO - Foi avaliada por ressonância nuclear magnética a incidência de malformações da medula espinal em 38 crianças com espinha bífida. Destas, 22 apresentavam espinha bífida aberta e 16 espinha bífida oculta. Medula presa foi detectada na maioria dos pacientes. Siringomielia foi encontrada em 13 casos. A transição occipitocervical foi estudada em 11 pacientes com meningomielocele e malformação de Chiari foi encontrada em 8. A análise da casuística permitiu comprovar que existe número significativo de malformações assintomáticas detectadas pela RNM.
PALAVRAS-CHAVES: medula espinhal, malformação, espinha bífida, ressonância magnética.
Magnetic resonance imaging of spinal dysraphism
SUMMARY - We studied by magnetic resonance imaging the incidence of associated malformations in a group of 38 patients with diagnosis of spina bifida followed in our outpatient clinic. Twenty-two children were born with spina aperta and 16 with spina bifida occulta. Tethered cord was found in the majority of patients of both groups. Syringomyelia was found in 13 patients. The craniocervical region was studied in 11 patients with diagnosis of spina bifida aperta; Chiari malformation was found in 8. The results point to the fact that asymptomatic malformations detected by MRI techniques are frequent in patients with spina bifida.
KEY WORDS: spinal cord, malformation, spina bifida, magnetic resonance imaging.
Espinha bífida (EB) é termo genérico aplicado a grande variedade de malformações que acometem a medula espinal, raízes espinais, seus envoltórios e a coluna vertebral, consequentes a falha da neurulação. Após os estudos de Lemire5
, este conceito foi ampliado e atualmente engloba grande espectro de malformações que vão desde lesões neurológicas incompatíveis à vida até pequenas alterações somente detectadas por neuroimagem1,3
. Classicamente as EB são divididas em duas formas clínicas, a espinha bífida aberta (EBA) e a espinha bífida oculta (EBO). Na variedade aberta, o defeito é franco e presente ao nascimento; na oculta a malformação é inaparente e não acompanhada, geralmente, de alterações clínicas ao nascimento. Num passado não muito distante a incidência de outras malformações do sistema nervoso central associadas a EB eram conhecidas através de estudos anatomopatológicos5
. Com o aperfeiçoamento das técnicas neurorradiológicas e principalmente com o surgimento da ressonância nuclear magnética (RNM), estas têm sido detectadas com maior frequência mesmo em pacientes assintomáticos.
O propósito deste estudo é correlacionar os achados da RNM ao quadro clínico de 38 pacientes com EB seguidos pelo grupo de neurocirurgia pediátrica da Disciplina de Neurocirurgia do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina de São Paulo.
Disciplina de Neurocirurgia (DNC), Departamento de Neurologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP): *Médica Colaboradora da DNC; **Professor Associado da DNC; ***Médico Assistente do Serviço de Neurologia de Emergência da Divisão de Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da FMUSP. Aceite: 19-outubro-1993.
CASUÍSTICA
A casuística em que se baseia este estudo consta de 38 pacientes com EB A ou EBO, submetidos aavaliação porRNM da coluna vertebral.
A análise da Fig 3 nos mostra que por RNM se identificou em 90% dos casos do grupo A e em 100% do B, baixa implantação do cone medular, isto é, que ele se situava em nível inferior a L2-L3. A presença de siringomielina ou hidromielia foi detectada em 8 casos do grupo Ae em 5 do grupo B. Nos 11 pacientes em que se estudou a transição occipitocervical, malformação de Chiari foi encontrada em 8, um deles apenas sendo sintomático. Quatro pacientes do grupo B apresen-tavam diplomielia, em três tendo sido detectado esporão ósseo.
estar baseada no fator etiológico. Assim, a posição topográfica baixa do cone medular, acarretada por adesões dele à dura-máter após a correção de EBA, teria evolução clínica diferente das causadas por lipomas e pela diastema-tomielia3
.
A revisão da casuística de McLone e Naidich6
mostra claramente que as crianças com IBC após correção de EBA desenvolveram sinais de deterioração neurológica em alta incidência
(53%), com escoliose progressiva. Este dado
também foi observado em nossa casuística.
O mecanismo fisiopatológico dessa esco-liose e IBC nos pacientes com EBA corrigida ainda é controverso. A maioria dos autores é de opinião que a IBC agiria em sinergismo com as alterações ósseas existentes, com o desbalanço da musculatura em diferentes graus de função plena, com lesões cordonais posteriores e com a presença de malformações associadas, como a de Chiari e a siringomielia4
REFERENCES
1. Azimullah PC, Smit LM, Rietved-Knol E, Valk J. Malformations of the spinal cord in 53 patients with spina bifida studied by magnetic resonance imaging. Child's Nerv Syst 1991,7:53-66.
2. Garceau GJ. The filum terminale syndrome (the cord traction syndrome). J Bone Joint Surg 1953, 35A: 711-716. 3. Hirsch JF, Kanh P. Lumbosacral lipomas with spina bifida. Child's Nerv Syst 1988, 4:354-360.
4. Just M, Schwarz M, Emert JA, Higher HP, Voth A, Pfannentiel P. Magnetic resonance imaging of dysraphic myelodysplasia. Child's Nerv Syst 1988, 4: 149-153.
5. Lemire RJ. Embryology of the central nervous system. In Davis JA, Dobbin J (eds). Scientific foundations of paediatrics. New York: Harper & Row, 1975.
6. McLone DG, Naidich TP. The tethered spinal cord. In McLaurin RL, Schut L, Venes JL, Epstein F (eds). Pediatric Neurosurgery Ed 2. Philadelphia: Saunders, 1989, p 71-96.
7. Plese JPP, Cury VHSS. Disrafismo espinal. In Diament A, Cypel S (eds). Neurologia Infantil Lefèvre. Ed 2. Rio de Janeiro: Atheneu, 1989, p 673-693.
8. Reigel DH. Spina bifida. In McLaurin RL, Schut L, Venes JL, Epstein F (eds). Pediatric Neurosurgery. Ed 2.Philadelphia: Saunders, 1989, p 35-52.