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Conexões entre trabalhadores: alternativas para além do discurso hegemônico de grupos e equipes.

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Academic year: 2017

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CONEXÕES ENTRE TRABALHADORES: ALTERNATIVAS

PARA ALÉM DO DISCURSO HEGEMÔNICO DE

GRUPOS E EQUIPES

Lília n W e be r*

Ca r m e m Ligia I och in s Gr isci* *

Resumo

C

om est e ar t igo, obj et iva- se ir além do discur so de gr upos e equipes de t rabalho, avan-çando o debat e r elat ivo às conexões ent r e t rabalhador es, a par t ir de quest ionam ent os desper t ados pelos r esult ados alcançados por um a pesquisa t eór ico- em pír ica desenvolvida com chefi as int er m ediár ias em um hospit al. As noções de equipe e de gr upo concebidas pelo discur so ger encial hegem ônico são apr esent adas e pr oblem at izadas, t endo em v ist a o dist anciam ent o ent r e o discur so e a pr át ica no cot idiano or ganizacional. Considera- se que as equipes par ecem funcionar com o um a “ cont enção” às possibilidades de r elações espont âneas, com o “ gr upos dom est icados”. Por ém , const at a- se que out ras for m as de conexão ent r e os t ra-balhador es vão acont ecendo. Pensa- se em alt er nat ivas de agenciam ent os colet ivos no cont ext o em que o t rabalho im at er ial adquir e r elevância inédit a. Desconst r uindo a noção de equipe com o t ot alidade e unidade, r edes ent r e os t rabalhador es são t ecidas, ofer t ando um m ínim o de apoio e solidar iedade, afet o e auxílio t écnico.

Pa la v r a s- ch a v e : Equipe. Gr upo. Conexões no t rabalho. Trabalho im at er ial. Discur so ger encial.

Connections among Workers: a discussion about groups and team work

Abstract

T

his ar t icle aim s t o go beyond t he discour se of gr oups and w or k t eam s advancing discussion

concer ning connect ions am ong em ployees, fr om quest ions raised by t he r esult s obt ained by a t heor et ical and em pir ical r esear ch conduct ed w it h m iddle m anager s in a hospit al. The concept s of t eam and gr oup conceived by t he hegem onic discour se m anagem ent ar e pr e-sent ed and pr oblem at ized in view of t he gap bet w een discour se and pract ice in or ganizat ional rout ine. I t is considered t hat t he t eam s m ay work as a “ cont ainm ent ” relat ionship t o t he possibilit y of spont aneous as “ dom est icat ed gr oups”. How ever, it appear s t hat ot her for m s of connect ion am ong t he w or ker s ar e happening. Alt er nat ives in t he cont ext of collect ive assem blages in w hich im m at er ial labor acquir es unpr ecedent ed r elevance ar e consider ed. Deconst r uct ing t he not ion of t eam as a t ot alit y and unit y, net w or ks ar e w oven am ong w or ker s, offer ing a m inim um of suppor t and solidar it y, affect ion and t echnical assist ance.

Ke y w or ds: Team . Gr oup. Connect ions at w or k. I m m at er ial w or k. Manager ial discour se.

* Dout or a em Adm inist r ação pelo Pr ogr am a de Pós- Gr aduação em Adm inist r ação da Univer sidade

Feder al do Rio Gr ande do Sul – PPGA/ UFRGS. Pr ofessor a da Faculdade de Desenvolvim ent o do Rio Gr ande do Sul, Por t o Alegr e/ RS/ Br asil. Ender eço: Rua Luis Afonso, 84, Cidade Baixa. Por t o Alegr e/ RS. CEP: 90.050- 310. E- m ail: lilian@lw eber .com .br

* * Dout ora em Psicologia pela Pont ifícia Universidade Cat ólica do Rio Grande do Sul – PUC/ RS. Professora

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Introdução

O

t rabalho especializado, execut ado individualm ent e e subm et ido a r ígido cont r

o-le hier ár quico, t em sido subst it uído por um m odo de t rabalhar que enfat iza o t rabalho coor denado r ealizado por equipes, às quais se delega cer t o poder de decisão, o que visa acelerar e m elhorar o pr ocesso de t rabalho. Assim , o m odelo do t rabalho em equipe t em ocupado lugar de dest aque nas pr át icas or ganizacionais, veiculado por um discur so que o caract er iza com o pleno de qualidades, capaz de r es-ponder fl exivelm ent e às exigências do m er cado ( ALBUQUERQUE; PUENTE- PALACI OS, 2004) .

Nesse cenár io, equipes adquir em difer ent es confi gurações e denom inações. Podem ser fi xas ou t em por ár ias, a fi m de at ender a pr oj et os específi cos; denom inadas de células de pr odução, equipes de alt a per for m ance, m inifábr icas, equipes sem iau-t ônom as, auiau-t oger idas ou equipes de aliau-t o desem penho, gr upo de solução de pr oble-m as ou cír culos de qualidade, dent r e out ras possibilidades. I ndependent e da for oble-m a e da nom enclat ura, são declaradas com o a est rat égia m ais efi caz para o sucesso das or ganizações, na at ualidade e no fut ur o, com o elem ent o fundam ent al da const r ução de efi cácia ( BOHLANDER; SNELL, 2009; DUHÁ, 2007; I VANCEVI CH, 2008; MOSCO-VI CI , 2001; PUENTE- PALACI OS; SEI DL; SI LVA, 2008; WATERS; BERUMOSCO-VI DES, 2009) . Sendo assim , o t rabalho em equipe t or nou- se obj et o de est udo para a academ ia. Foram desenvolvidas t eor ias acer ca de sua const it uição e funcionam ent o, per m it indo a pr escr ição dos m odos de ger enciá- lo e aper feiçoá- lo. Nesse pr ocesso, a equipe foi difer enciada do gr upo, com um ent e por m eio de at r ibut os valorat ivos, sendo a equipe designada com o um a form a superior de organização do colet ivo, conform e se const at a, por exem plo, na lit erat ura ant er ior m ent e r efer enciada.

Nest e cont ext o, é im por t ant e esclar ecer que a const it uição de equipes adquir e signifi cados dist int os em difer ent es set or es. É pr eciso considerar as singular idades ao com pr eender, por exem plo, o t rabalho de um a equipe de saúde, ou de analist as de sist em as em um a m ult inacional, ou de oper ár ios em um a em pr esa aut om obilíst ica, ou de publicit ár ios em um a m egalópole et c. O que se afi r m a nest e ar t igo, cont udo, é um a t endência à adoção de equipes com o m odelo pr ivilegiado de or ganização do t ra-balho e suas im plicações gerais, par t icular m ent e o hiat o ent r e o discur so e a pr át ica.

No discur so, são associadas ao t rabalho em equipe vant agens r elacionadas à cooperação, à solidar iedade e ao bem - est ar dos t rabalhador es, as quais, raram ent e, se concr et izam no cot idiano, sobr et udo por que se confr ont am com am bient es de t ra-balho sabidam ent e com pet it ivos e individualist as, além de est r ut uras or ganizacionais cent ralizadas e cont roladoras. Tal discrepância t em sido assinalada em est udos em píri-cos, em difer ent es or ganizações, r ealizados por aut or es com o Ber nar do et al. ( 2011) , Bernardo ( 2009) , Nardi ( 2006) , Nassif e Ant onello ( 2006) , Mair ( 2005) , dent re out ros.

Trat a- se, por t ant o, de lidar com um a per spect iva, em r elação ao t rabalho em equipe, que, em bora dom inant e, deve ser pr oblem at izada. A difer enciação feit a na lit erat ura ent re equipe e grupo cont em plaria, apenas, um j ogo de palavras denom inando a m esm a pr át ica, ou r evelar ia o j ogo de for ças subj acent e? E com o t al, acar r et ar ia consequências pessoais aos t rabalhador es? Haver ia algo por explicit ar a r espeit o do t rabalho em equipe? Dist ant e do discur so hegem ônico que apr isiona as noções de equipe e gr upo, com o pensar as possibilidades do colet ivo no at ual cont ext o do t ra-balho im at er ial? É possível encont rar no colet ivo r elações aut ênt icas que per m it am ar t icular r edes cooperat ivas e pr odut ivas? Nor t eado por t ais quest ões, est e ar t igo t em com o obj et ivo pr opor um a r efl exão sobr e o que se afi r m a sobr e o t rabalho em equipe, sobr e o que se t em encont rado nas pr át icas que levam esse nom e e sobr e out ras possíveis conexões de t rabalhador es, com pondo colet ivos que ext rapolem as for m as dit adas pela gest ão.

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int er net . Além dist o, t al t em a é am plam ent e r epr oduzido na t elevisão e nas falas de gest or es ( BERNARDO, 2009) . Grande par t e desse cont eúdo consist e na com pilação de diver sos aut or es, nem sem pr e cit ados com o font e e que, ainda assim , assum em um a função de divulgação dos “ novos m odelos”, exer cendo papel nor m at ivo em pr o-cessos de gest ão. Cont rapondo- se a essa per spect iva, são apr esent ados aut or es que, em suas pesquisas, encont raram um dist anciam ent o ent r e o discur so hegem ônico na lit erat ura ger encial sobr e o t rabalho em equipe e a pr át ica. Avança- se a discussão t eór ica com a r efl exão sobr e out ras possibilidades de pensar o colet ivo, ext rapolando as at uais pr escr ições nor m at izadoras e apr oxim ando da noção do t rabalho ar t iculado em r edes, dem andado no paradigm a do t rabalho im at er ial.

A revisão t eórica sust ent a a com preensão de algum as quest ões despert adas pelos result ados alcançados por um a pesquisa desenvolvida com chefi as int erm ediárias em um hospit al universit ário público. Essa pesquisa, um est udo de caso a ser apresent ado após a discussão do referencial t eórico, t eve com o obj et ivo analisar de que m odo t ais chefi as vivenciavam e davam sent ido às suas experiências de gest ão no cot idiano de t rabalho. Dent re out ras considerações, que ext rapolam os obj et ivos do present e art igo, as chefi as analisaram suas experiências de t rabalho em equipe e os diferent es arranj os possíveis para o desenvolvim ent o do t rabalho. Esses result ados serão apresent ados e discut idos e, concluindo o art igo, serão t ecidas as considerações fi nais.

Trabalho em Grupo – Trabalho

em Equipe: variações do mesmo tema?

I nicialm ent e, cabe apr esent ar as or igens das palavras equipe e gr upo. Segun-do Pir ilo e Chaves ( 2002, p.352) , a palavra “ equipe” or igina- se Segun-do t er m o esquif, que designava um a fi la de bar cos am ar rados uns aos out r os e puxados por hom ens ou cavalos; e t al im agem t raduzir ia o t rabalho em equipe, no qual est ar ia im plícit a a ideia de subj ugo. Já o t er m o “ gr upo” pr ovém do it aliano gr oppo, vocábulo ut ilizado para designar, em Belas Ar t es, vár ios indivíduos pint ando ou esculpindo. Zanella e Per eira ( 2001) encont raram duas out ras indicações sobr e a or igem do t er m o gr upo: um a, descendent e do pr ovençal gr op, signifi car ia nó, e a out ra, do ger m ânico kr uppa, r epr esent ar ia a for m a ar r edondada. Tr ês possíveis or igens que r em et em a noções de igualdade e enlace ent r e os m em br os.

O uso difer enciado das denom inações gr upo e equipe t em sido pr opost o ou apr esent ado em com pilações por diver sos aut or es, t ais com o Biehl ( 2004) , Duhá ( 2007) , I vancevich ( 2008) , Levi ( 2011) e Mar ras ( 2000) . Na per spect iva desses au-t or es, considera- se gr upo o ar ranj o de indivíduos que, m esm o com par au-t ilhando espaço com um , execut am at ividades separadam ent e, m ant endo r esponsabilidades isoladas. Os com por t am ent os cooperat ivos, quando acont ecem , são at r ibuídos ao acaso. O ent r osam ent o ent r e os indivíduos é considerado superfi cial, sem que est ej am neces-sar iam ent e pr eparados para o t rabalho em conj unt o. Duhá ( 2007, p.14) apr esent a a ideia de que “ um gr upo não pr ecisa se engaj ar em um t rabalho ver dadeiram ent e colet ivo que r equeira esfor ço conj unt o e coor denação. Não é pr eciso que exist a um a siner gia ent r e as pessoas, fazendo com que o seu desem penho sej a apenas a som a dos desem penhos individuais de seus int egrant es”.

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é de nat ur eza essencialm ent e r elacional, de int eração e alianças afet ivas. A equipe buscar ia um obj et ivo com um , clara e explicit am ent e for m ulado, para o qual cada um se esfor ça e usa suas habilidades. Casado ( 2002) afi r m a que o foco da defi nição de equipe é a r esponsabilidade pelo alcance dos r esult ados. O t im e, por sua vez, r eunir ia os aspect os em ocionais do gr upo com a r esponsabilidade pelo r esult ado da equipe.

Per cebe- se que, para esses aut or es, a difer enciação ent r e gr upo, equipe e t im e r efer e- se a graus ou est ágios em um a escala evolut iva pela qual passar ia o colet ivo à m edida que suas int erações fossem “ am adur ecendo”. Tal dist inção r elaciona- se, por t ant o, a um sent ido operacional dos t er m os, à designação inst r um ent al da m aneira com o o colet ivo opera em r elação às dem andas or ganizacionais.

Considerando que equipes ser iam gr upos que t er iam evoluído, o esfor ço para desenvolvê- las, por m eio de exer cícios exper im ent ais ( I VANCEVI CH, 2008) ou por polít icas de gest ão dos r ecur sos hum anos ( BI EHL, 2004) , j ust ifi ca- se pelas vant agens com pet it ivas alm ej adas. O t rabalho em equipe, pelo aum ent o da int egração das ha-bilidades individuais e da sensação de confi ança est abelecida, pr opiciar ia a r edução da r ot at ividade e das falt as, a m elhor ia da qualidade do t rabalho e da pr odut ividade, bem com o m aior rapidez de r espost a às m udanças t ecnológicas. Dest a for m a, possi-bilit ar ia a m axim ização dos r esult ados, com indivíduos com pr om et idos e envolvidos na solução de pr oblem as, sem a necessidade de aum ent ar os r ecur sos ( BI EHL, 2004; BOHLANDER; SNELL, 2009; MARRAS, 2000; MI LKOVI CH; BOUDREAU, 2006; MOSCO-VI CI , 2001) . Sendo assim , o t rabalho em equipe r epr esent ar ia um a das t écnicas m ais signifi cat ivas da Adm inist ração Est rat égica de Recur sos Hum anos, t endo acar r et ado um consider ável aum ent o de invest im ent os nos últ im os anos ( DUHÁ, 2007) .

A obt enção de t ais vant agens, ent r et ant o, dem anda a r em odelagem do sist em a de t rabalho. Milkovich e Boudr eau ( 2006) dest acam que a m udança de enfoque do in-divíduo para equipe necessit a m odifi cação nas habilidades dos t rabalhadores em geral, bem com o a r evisão de t odos os pr ocessos e a for m a de conduzi- los. Nesse sent ido, r essalt a- se o papel da liderança, que deve passar do chefe cont r olador ao par ceir o, coor denador aber t o ao diálogo, capaz de cr iar clim a de int egração e de equilíbr io. O líder, confor m e Biehl ( 2004) , pr ecisa ser capaz de cr iar clim a de int egração e de equi-líbr io, condição essencial para est im ular a cr iat ividade do gr upo. Essa m udança t em com o pano de fundo a inst auração do aut ocont r ole na equipe, em que “ os pr ópr ios m em br os se encar r egam de aj ust ar event uais desvios que ocor r em ent r e eles, sej a t écnico sej a com por t am ent al” ( MARRAS, 2000, p.314) .

Bohlander e Snell ( 2009, p.147) , t am bém , dest acam a alt eração da relação ent re gerent e e funcionários com o um a das difi culdades para im plem ent ação do t rabalho em equipe. Por um lado, “ os gerent es acham difícil adapt ar- se ao papel de líder em vez de supervisor e, às vezes, sentem - se am eaçados pelo crescente poder do tim e e pela redução do poder da gerência”. Por out ro lado, pode ocorrer de os t rabalhadores apresent arem difi culdades em assum ir at ribuições que t radicionalm ent e seriam do supervisor, com o, por exem plo, cont rolar e punir colegas. Milkovich e Boudreau ( 2006) m encionam que Taylor j á ident ifi cava a difi culdade dos colegas realizarem esse t ipo de função. Porém , defendendo a aut onom ia da equipe, afi rm am que t ais difi culdades podem ser superadas. Mar x ( 1997) m enciona que, dent r e as r efer idas m udanças para operar com equipes, é pr eciso elim inar o cont r ole por post os de t rabalho; associar o t r einam ent o for m al ao saber pr át ico; cr iar a função de um facilit ador ; considerar com o client e os diver sos set or es da or ganização; r edefi nir indicador es de desem penho; e ger ir a incer t eza no cot idiano de t rabalho.

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exige a cr iação aut or izada pelo com ando do gest or de m ecanism os de im pedim ent o à expansão da concor r ência pr edat ór ia ent r e colegas. I sso por que a aut onom ia no t ra-balho pode ser confundida com liber dade para ações individuais ou, ent ão, passapor t e para defesas de causas pr ópr ias ou de pequenos gr upos infor m ais. O im por t ant e é o gest or, na qualidade de r epr esent ant e da em pr esa, não valor izar os acor dos e pact os que elevam as cr enças e obj et ivos individuais, em det r im ent o dos com uns às pessoas, à or ganização e ao colet ivo. ( BI EHL, 2004, p. 140) .

As pr eocupações sobr e a possibilidade da equipe adquir ir efet iva aut onom ia r evelam aquilo que o discur so ger encial pr ocura ocult ar, ist o é, que o t rabalho cole-t ivo é pr oducole-t ivo, m as deve ser incencole-t ivado em um concole-t excole-t o de aucole-t onom ia lim icole-t ada, r espondendo a obj et ivos pr edet er m inados. Obser va- se, assim , um a dissonância ent r e o discur so e a pr át ica, a ser discut ida a seguir.

Problematizando o Trabalho em Equipe:

dissonâncias entre o discurso e a prática

Est udos em pír icos assinalam a exist ência de hiat os ent r e o discur so ger encial e as pr át icas efet ivadas no cot idiano de t rabalho ( BERNARDO, 2009; HELOANI , 2003; MAI R, 2005; NASSI F; ANTONELLO, 2006) . As diver sas equipes pesquisadas pelos r efer idos aut or es m ost ram um a r ealidade dist ant e daquelas descr it as com o r edut os de solidar iedade, sat isfação, confi ança, com unicação e afet o. Sob a égide da “ et i-quet a” do t rabalho em equipe subj azem conceit os e pr econceit os sobr e aut onom ia, confi ança, r esponsabilidade, par t icipação e cooperação. Pode- se pensar, com Heloani ( 2003, p.122) , que se t rat am de “ velhas t eor ias, vest idas de for m a m ais at raent e e escolt adas por t écnicas sedut oras e pr et ensam ent e cient ífi cas”.

Pesquisador es deparam - se com equipes essencialm ent e inst r um ent ais, sobr e-t udo os cír culos de cone-t r ole da qualidade ( CCQs) . Nessas equipes, a ênfase ese-t á na solução de pr oblem as, sendo valor izada a com unicação hor izont al, desde que est r i-t am eni-t e r elacionada a i-t em as per i-t ineni-t es ao alcance do obj ei-t ivo. Algum as em pr esas chegam a explicit ar assunt os que “ não são perm it idos”, com o polít ica salarial, benefícios e ações disciplinar es ( GUI MARÃES, 2006; HELOANI , 2003) .

Os int egrant es de t ais equipes, pelo discur so apr esent ado, dever iam ader ir volunt ar iam ent e, assim com o poder iam suger ir novos CCQs por iniciat iva pr ópr ia. Na prát ica, cont udo, a m aioria das equipes é im plem ent ada por prescrição, com m em bros indicados pela ger ência e fi nalidades m uit o específi cas. A par t icipação, além de lim i-t ada em seus i-t em as, i-t am bém não apr eseni-t a car ái-t er deliberai-t ivo, visi-t o que a equipe apenas suger e alt er nat ivas para os pr oblem as, fi cando a car go da ger ência a decisão propriam ent e dit a. Dessa form a, para m uit os t rabalhadores, part icipar de um program a de CCQ signifi ca m ais um fardo, um a sobrecarga, m esm o que sej am associadas form as de r ecom pensas, fi nanceiras e/ ou sim bólicas ( GUI MARÃES, 2006) . Bar r os ( 1997) j á analisava que, nessas equipes, as pr evisibilidades são colocadas em pr im eir o plano, obt urando pot encial cr iat ivo e pr oduzindo suj eit os ser ializados.

O t rabalho r ealizado nessa confi guração ar t ifi cialm ent e const r uída r evela a for m ação de um agr upam ent o, um a r eunião de t rabalhador es v iv enciando um a agr egação ( m ecânica) de r esponsabilidades, m assifi cados, sem ident idade colet iva. Ber nar do ( 2009) considera que o que se cham a de equipe encont ra- se t ão longe do que ist o poder ia r epr esent ar que os t rabalhador es r ealm ent e não a ident ifi cam com o t al, r efer indo- se a seu t rabalho com o “ post o de t rabalho” e não com o “ célula” ou “ equipe”, confor m e r epet em seus ger ent es. A per cepção dos t rabalhador es r em et e ao am bient e fabr il clássico, podendo- se pensar que se caract er iza com o um am bient e e um t rabalho or ganizado de m aneira “ r et aylor izada”.

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de for m a que r ecr im inações m út uas e at r ibuição de culpa ent ram em cena quando a m et a não é alcançada. O cont r ole passa a operar ent r e colegas, sej a em r elação aos r esult ados, aos hor ár ios, à pr esença- ausência no t rabalho ou à dist r ibuição das t ar e-fas; e est im ulam - se cobranças m út uas, nas quais os m em bros sinalizam advert ências, com o, por exem plo: “ nós, enquant o gr upo, não podem os per m it ir que você se at enha ao t em po de t rabalho est ipulado” ( MAI R, 2005, p. 41) .

Ar bix ( 1998) lem bra que as equipes de ext ração t oyot ist a, pr incipal m odelo dessa organização de t rabalho, est ão cent radas na t ransferência parcial das at ividades dos super visor es e ger ent es para os pr ópr ios t rabalhador es. Na per cepção de Mair ( 2005, p.65) , os t rabalhador es assim or ganizados sofr em com o que ela considera o fi m pr ecipit ado da hierar quia, de for m a que a “ discussão de acor dos deixam os ner-vos à fl or da pele, desper diçam um t em po pr ecioso e pr olongam indefi nidam ent e as t om adas de decisão”.

Ent r et ant o, com o é possível se opor a t al pr opost a apr esent ada com o “ cheia de qualidades” pelo discur so hegem ônico? Heloani ( 2003) assinala que, no m odelo t aylorist a- fordist a, havia m aior possibilidade do t rabalhador resist ir m ais abert am ent e a t ais condições e est abelecer um a r elação m ais t ranspar ent e no que diz r espeit o à venda do t rabalho. No m odelo fl exível, ist o se per de, t endo em vist a que o cont r ole social m ost ra- se cam ufl ado e m ais int enso.

Considera- se que esse m odo de or ganizar o t rabalho, em colet ivos ar t ifi ciais, com r egras im post as, r elacionam ent os superfi ciais e em sit uações cont r oladas, incen-t iva a “ ar incen-t e de fi ngir ”, incen-t or nando as r elações nas or ganizações um “ incen-t eaincen-t r o pr ofundo” ( SENNETT, 2003) . Nele, os indivíduos são obrigados a m anipular suas aparências, bem com o seus com por t am ent os, usando m áscaras de cooperação com sor r isos cat ivant es com o par t e da apt idão social.

Nesse cont ext o, os t rabalhador es são, ao m esm o t em po, convidados a int egrar as equipes auxiliando- se m ut uam ent e e a subm et er em - se a cr it ér ios individualizados evidenciados na avaliação de desem penho, na rem uneração, na prem iação diferenciada das m elhor es ideias, no est ím ulo à delação de colegas que se oponham ao pr oj et o or ganizacional. Result a disso que, se há com panheir ism o ent r e t rabalhador es, ele ocor r e, m uit as vezes, apenas pelo r eceio da dem issão, para at ingir as m et as e, assim , evit ar algum a punição individual ou colet iva. O fort alecim ent o dos laços ent re m em bros da equipe é pr ej udicado, t am bém , pelas m udanças const ant es de equipes, quando or ganizadas por pr oj et os, e pela int eração com t rabalhador es aut ônom os, m uit as vezes t em por ár ios de em pr esas t er ceir izadas. Os t rabalhador es devem dem onst rar adapt abilidade, passando de equipe em equipe, est abelecendo níveis “ adequados” de apr oxim ação- dist anciam ent o, sabendo que a qualquer m om ent o a equipe pode m udar, o pr oj et o pode ser alt erado e o r esult ado é o que int er essa ( SENNETT, 2003) . A organização fl exível apresent a, a cada m om ent o, exigências paradoxais ( NAR-DI , 2006) . Ver gara e Alves ( 2008) , por exem plo, com pilam um a sér ie de paradoxos da or ganização do t rabalho fl exível no que se r efer em a: cooperação ver sus com pet ição; individualidade ver sus confor m idade; liber dade de expr essão ver sus inibição de sent i-m ent os. Ao r essalt ar ei-m t ais cont radições, os aut or es assinalai-m a ii-m possibilidade de seguir pensando e idealizando cont ext os har m ônicos, devendo explicit ar as am bigui-dades exist ent es no cot idiano or ganizacional. O panoram a apr esent ado no discur so do t rabalho em equipe pr ecisa, por t ant o, ser pr oblem at izado.

Há de se considerar, inclusive, que com o advent o das novas t ecnologias, alt e-rações condizent es à noção de t em po dest acaram a aceleração, a pr em ência do aqui e agora, a abolição da per spect iva de longo prazo, passando a vida a ser com pr im ida no pr esent e. O ar r efecim ent o de um a per spect iva de fut ur o acar r et a o enfraquecim ent o das r elações de longo prazo, de vínculos sólidos e duradour os baseados em confi ança e solidar iedade, dando lugar a r elacionam ent os efêm er os e inst ant âneos ( BAUMAN, 2007) . As t ransform ações no código m oral cont em porâneo t razem com o consequências o individualism o, a fr ouxidão do laço social, a cr iação de um a cult ura do nar cisism o, dent r e out ras ( BAUMAN, 2007; NARDI , 2006; SENNETT, 2003) .

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-gurações de car r eira est im ulam os t rabalhador es a não per m anecer em em um m esm o local por m uit o t em po, t r ocando de em pr esas, em const ant es viagens ou const it uindo equipes que são com post as e r ecom post as a cada pr oj et o, o que im possibilit a o de-senvolvim ent o do com pr om isso m út uo, da confi ança e lealdade. “ Esses laços sociais levam t em po para surgir, enraizando- se devagar nas fendas e brechas das inst it uições. [ ...] As r edes inst it ucionais m oder nas se caract er izam pela ‘for ça de laços fracos’” ( SENNETT, 2003, p.24- 25) .

A noção de for ça dos laços fracos foi pr opost a por Granovet t er ( 1983; 1973) . Para esse aut or, a for ça dos laços é at r ibuída confor m e a fr equência do cont at o, a qualidade e a int ensidade da r elação. Ele at r ibui for ça aos laços fracos considerando que t ais r elações m ost ram - se út eis na m edida em que os laços fracos, quando es-t abelecidos com o pones-t es enes-t r e gr upos e/ ou cír culos sociais difer enes-t es, possibilies-t am m aior circulação de inform ações do que seria possível no grupo de convívio de pessoas m uit o pr óxim as e com int er esses com uns e que, geralm ent e, com par t ilham das m es-m as infor es-m ações. Ent r et ant o, os laços fracos não devees-m ser considerados super ior es aos for t es. Segundo Granovet t er ( 1973) , am bos os laços t êm suas especifi cidades e auxiliam o indivíduo a int egrar- se no convívio social. Os cont at os est abelecidos por laços for t es car r egam grande m ot ivação para auxiliar e são m ais facilm ent e aciona-dos, dem onst rando cr edibilidade e infl uência. Est es, ent r et ant o, t êm sido r elegados a segundo plano em pesquisas e nos discur sos ger enciais, por não ser o que se espera na at ualidade. É o que analisa, m ais r ecent em ent e, Jack ( 2005) em suas pesquisas sobr e a infl uência das r edes sociais para em pr eendedor es. Seus r esult ados indicam que a efet ividade de um a r ede int er pessoal depende t ant o de laços for t es quant o de fracos por pr om over em acessos a font es diver sas.

A dissem inação do t rabalho em equipe faz com que, dent re as qualifi cações para t rabalhar em econom ia fl exível – com o apt idões básicas ver bais e m at em át icas, saber lidar com t ecnologia –, incluam - se caract eríst icas com o saber ouvir, ensinar aos out ros e a ar t e da facilit ação em equipe. As habilidades pessoais e de r elacionam ent o – em um det er m inado j ogo de r elações a ser em est abelecidas – passam a ser consideradas t ão im por t ant es quant o as habilidades t écnicas para a função. É celebrada a sensibili-dade e, acim a de t udo, com o se viu, a adapt abilisensibili-dade às cir cunst âncias ( NARDI , 2006; SENNETT, 2003) , o que im pact a, pr ofundam ent e, na saúde m ent al dos t rabalhador es ( METZGER, 2011) .

Em bora se per ceba a fragilização nas r elações int er pessoais, est as, paradoxal-m ent e, adquir eparadoxal-m paradoxal-m aior iparadoxal-m por t ância no paradoxal-m oparadoxal-m ent o eparadoxal-m que o t rabalho iparadoxal-m at er ial adquir e r elevância inédit a. Nesse paradigm a, as r elações e as t r ocas ent r e os t rabalhador es não são apenas um m eio, m as consist em na m at ér ia pr im a para a pr odução. Sendo assim , anuncia possibilidades de agenciam ent os colet ivos por m eio dos quais os t rabalhador es encont ram br echas, m esm o que r est r it as, que lhes per m it em ar t icular r edes de cooperação e pr odução.

O t rabalho im at er ial pr oduz infor m ação, conhecim ent o, ent r et enim ent o, im a-gem e, para t ant o, envolve com unicação, cr iat ividade, afet ividade, int eração hum ana, cooperação, qualidades iner ent es ao t rabalhador, que ext rapolam o plano do saber. A font e para a pr odução im at er ial é a cr iat ividade colet iva, que se agencia m edian-t e fl uxos ( GRI SCI , 2006; LAZZARATO; NEGRI , 2001) . As r edes subsedian-t iedian-t uem a linha de m ont agem com o m odelo de or ganização da pr odução, alt erando as for m as de cooperação e com unicação. Dessa for m a, a cooperação e a ar t iculação de colet ivos encont ra- se na base dos pr oj et os da econom ia infor m acional, const it uindo- se com o valor cent ral ( PERRONE, 2003) .

Em cada for m a de t rabalho im at er ial a cooperação é t ot alm ent e iner ent e ao t rabalho. O t rabalho im at erial envolve de im ediat o a int eração e a cooperação sociais. Em out ras palavras, o aspect o cooperat ivo do t rabalho im at er ial não é im post o e or ganizado de fora, com o ocor r ia em for m as ant er ior es de t rabalho, m as a cooper ação é t ot alm ent e

im anent e à pr ópr ia at ividade labor al. ( HARDT; NEGRI , 2005, p.314- 315. Gr ifo dos

aut or es) .

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Na at ualidade, pelo desenvolvim ent o das t ecnologias da infor m ação e com unicação, a cooperação não se m ost ra m ais dependent e da pr oxim idade física, t or nando as dis-t âncias m enos r elevandis-t es, podis-t encializando pr ocessos de desdis-t er r idis-t or ialização, dis-t ípicos da econom ia m undializada ( HARDT; NEGRI , 2005) .

Apesar das com unicações on- line ser em , em geral, br eves e apr essadas ( SEN-NETT, 2003) , m ost ram - se com o um a possibilidade de const r ução de novos colet ivos, ar t iculando singular idades. Talvez, as vias digit ais possam ser os “ novos cor r edor es”, r evelando pot encialidade para acolher novas e im pensadas conexões, no âm bit o pr o-dut ivo – que, nest a per spect iva, t om a a vida com o um t odo. Pode- se pensar, ainda, na viabilidade de, ext rapolando o âm bit o da or ganização, t ais colet ivos conect ados a dist ância e por int er esses pr ópr ios cr iar em novas r elações que se desviam dos j ogos de poder locais e da com pet it ividade ent r e par es. Nessa nova confi guração do m undo do t rabalho, a despeit o do apar ecim ent o de out ras for m as de cont r ole, m ais sut is e pot ent es ( GRI SCI , 2006) , se apost a que out ras liber dades possam ser anunciadas aos indivíduos em colet ivos.

Pensando Possibilidades Relativas ao Coletivo de

Trabalhadores e suas Conexões nas Organizações

O t rabalho sem pr e guar dou um a caract er íst ica gr upal e, desde os exper im ent os da West er n Elet r ic, “ sabe- se que a dinâm ica dos gr upos sobr epuj a as m ais det alhadas pr escr ições de t rabalho individualizado” ( FLEURY, 1997, p.13) . Nos m odelos for m ais, são encont radas br echas para cer t a or ganização espont ânea. Ber nar do ( 2009) , por exem plo, m enciona os “ grupos de com pet ição de m elhores ideias” que, apesar do m aior int er esse ser da em pr esa, algum as equipes de t rabalhador es or ganizam - se confor m e seus int er esses pessoais. Nessa m esm a linha de raciocínio, Heloani ( 2003) afi r m a que o t rabalho em equipe t or na- se um benefício ao t rabalhador quando há possibilidade de adesão espont ânea ou quando o t em a e o obj et ivo do t rabalho cor r espondem às suas funções. Há de se considerar, inclusive, a afi r m ação de Biehl ( 2004, p. 134) : “ o gr upo faz par t e do t rabalho, não se suj eit ando apenas ao m anej o est r ut ural do gest or ou de um nom e que sej a escolhido para defi ni- lo, pois a colet ividade ocor r e de qualquer for m a”.

O discur so hegem ônico do t rabalho em equipe busca pr oduzir e est abelecer um a ver dade que fundam ent e as pr át icas do t rabalho colet ivo. Por ém , out r os m odos de t rabalhar insur gem . As conexões ent r e as pessoas no am bient e de t rabalho ext ra-polam o pr escr it o, const it uindo out r os colet ivos, ent endidos com o pot encialidades em vias de at ualização a par t ir de suas m ult iplicidades ( BARROS, 2007) . Essa per spect iva com pr eende um plano de r elações e de cr iação que não se r eduz à t radicional dicot o-m ia na qual o colet ivo t eo-m sido usado coo-m o uo-m a dio-m ensão eo-m oposição à individual. Trat a- se de com pr eender o funcionam ent o do colet ivo por m eio de agenciam ent os.

Agenciar é est ar no m eio, sobr e a linha de encont r o de dois m undos. Agenciar- se com alguém , com um anim al, com um a coisa – um a m áquina, por exem plo – não é subst it uí- lo, im it á- lo ou ident ifi car- se com ele: é cr iar algo que não est á nem em você nem no out ro, m as ent re os dois, nest e espaço- t em po com um , im pessoal e part ilhável que t odo agenciam ent o colet ivo r evela. ( ESCÓSSI A; KASTRUP, 2005, p.303) .

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( KASTRUP, 2003, p.53) . A aut ora considera a rede com o um a versão em pírica e at uali-zada do r izom a, conceit o evocado quando se t rat a do pr im ado da linha sobr e a for m a.

Rizom a é um a pr opost a de Deleuze e Guat t ar i ( 1995) que a apr esent am a par t ir de seus pr incípios de conexão e het er ogeneidade, pelos quais se explicit a que qual-quer pont o pode ser conect ado a qualqual-quer out r o; de m ult iplicidade, que o defi ne pela abst ração e não com o um a t ot alidade; pelo pr incípio de r upt ura a- signifi cant e, que o difer encia das est r ut uras e o sit ua em const ant es m ovim ent os; pelos pr incípios da car t ografi a, que r em et e à invent ividade; e da decalcom ania, que m ar ca sobr e o m apa car t ografado o que est á feit o e auxilia em sua com pr eensão, pela cr iação t em por ár ia de cer t a est abilidade dos m ovim ent os e neut ralização das m ult iplicidades.

O r izom a conect a um pont o qualquer com out r o pont o qualquer e cada um de seus t raços não r em et e necessar iam ent e a t raços de m esm a nat ur eza [ ...] O r izom a não se deixa r econduzir nem ao uno nem ao m últ iplo. [ ...] Ele não é feit o de unidades, m as de dim ensões, ou ant es de dir eções m ovediças. Ele não t em com eço nem fi m , m as sem pre um m eio pelo qual ele cresce e t ransborda. ( DELEUZE; GUATTARI , 1995, p.32) .

Essa per spect iva per m it e t om ar o gr upo em sent ido difer ent e ao do discur so ger encial hegem ônico, apr esent ando- o com o um disposit ivo ent endido com o o que t ensiona, desloca para out r o lugar, pr ovoca out r os agenciam ent os. Dessa for m a, o grupo confi gura- se pelas hist órias que nele se cruzam e sua const ant e processualidade.

Fr ent e a essa per spect iva, suger e- se que os gr upos considerados com o et apa “ subdesenvolvida” da equipe sej am com preendidos com o agrupam ent os caract erizados com o “ gr upos suj eit ados”, coisifi cados, obt urados em si m esm o, num a m assa indis-t inindis-t a. Os gr upos assim confi gurados “ r ecebem sua lei do exindis-t er ior, são caracindis-t er izados pela hierar quia, pela or ganização ver t ical ou piram idal, conj uram qualquer inscr ição de m or t e e dissolução, pr eser vam m ecanism os de aut oconser vação, fundados na ex-clusão de out r os gr upos, operando por t ot alizações e por unifi cação” ( BARROS, 2007, p.256) . Schvar st ein ( 2006) denom ina isso “ gr upo- obj et o”. Para ele, o at ravessam ent o da inst it uição t om a esse gr upo de m aneira absolut a, de for m a que ele t ende a apenas r epr oduzir a or dem est abelecida, apegando- se às nor m at izações. O que lhe confer e unidade é ext er ior, e as caract er íst icas individuais de seus par t icipant es t endem a ser apagadas, obser vando- se um a dissociação dos aspect os afet ivos.

De m odo diver so, o gr upo- suj eit o apr esent a m aior for ça int er na, não apenas subm et endo- se à or ganização. Obser va- se o com pr om isso com a t ar efa, m as t am bém ent r e os m em br os que m obilizam pr ocessos de r efl exão sobr e os pr ocessos int er nos e sua r elação com a or ganização. Apr esent a, igualm ent e, m aior possibilidade de in-venção com o um a pot ência inst it uint e ( SCHVARSTEI N, 2006) . Nas palavras de Bar r os ( 2007) , o gr upo- suj eit o

pr opõe- se a pensar suas posições, abr indo- se à alt er idade e aos pr ocessos cr iat ivos, conj uram as t ot alizações e unifi cações, per m it em que sua pr át ica os leve ao confr ont o com seus lim it es, sua fi nit ude, não buscam garant ias t ranscendent ais e se defi nem por um aum ent o em seus coefi cient es de t ransver salidade. ( BARROS, 2007, p.256) .

Nesse m odo, as possibilidades de confl it o com out r os gr upos e m esm o int er na-m ent e não são descar t adas. As difer enças são r econhecidas, aceit as e t rabalhadas. Exist e a aber t ura para com par t ilhar as singular idades, bem com o o cont at o com o inesperado, sem exigência de garant ias pr évias.

Grupo- suj eit ado e grupo- suj eit o não confi guram dualidades m ut uam ent e exclu-dent es, m as são concebidos com o polos, ent re os quais qualquer grupo oscilaria. Faz- se necessár io, ent r et ant o, o est ím ulo à concepção de gr upo que oper e com o r esist ência aos m odos individualizant es e pr escr it ivos de r elações, superando a “ t ot alização, a unidade, a generalização, a int im ização e a ident idade [ que] acabou por t ransfor m á- lo em m ais um dent r e out r os indivíduos” ( BARROS, 2007, p.22) .

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infor m am , cr iam t er r it ór ios e dest er r it or ializam com espant osa rapidez. No cor r edor, pulsa a pot ência de const r uções subj et ivas. Possibilit am - se novas r ot as e linhas de fuga, um espaço de cr iat ividade e invent ividade.

A exper iência do desenvolvim ent o de colet ivos fora dos ar ranj os pr escr it os das equipes de t rabalho foi encont rada em pesquisa desenvolvida com chefi as int er m edi-ár ias de um hospit al, confor m e se descr ever á e analisar á a seguir.

Pesquisa com Chefias Intermediárias de um

Hospital Universitário Público: alguns elementos

para a problematização acerca do trabalho em equipe

A pesquisa t eór ico- em pír ica, cuj os r esult ados levaram à pr oblem at ização apr e-sent ada no pr ee-sent e ar t igo, foi r ealizada com chefi as int er m ediár ias de um hospit al geral univer sit ár io público, de grande por t e e alt a com plexidade. As chefi as foram convidadas a par t icipar de um a pesquisa que t eve com o obj et ivo analisar as vivências e os sent idos at ribuídos às experiências de gest ão no cot idiano de t rabalho. Para t ant o, desenvolveu- se um est udo de caso ( YI N, 2001) , cuj a am plit ude ext rapola o obj et ivo do pr esent e ar t igo. Cabe infor m ar que o pr ocesso de pesquisa r ealizou- se por m eio de pesquisa docum ent al, em ar quivos obt idos na ár ea de Recur sos Hum anos do hos-pit al; do acom panham ent o de um gr upo for m ado para est e est udo; e de ent r evist as individuais sem iest r ut uradas, am bos r ealizados pela pesquisadora. Os r esult ados e discussões r elat ivos ao pr esent e ar t igo r est r ingem - se ao gr upo e às ent r evist as r ea-lizados confor m e det alhado a seguir.

Part iciparam da pesquisa chefi as int erm ediárias, conform e denom inação recebida por esses pr ofi ssionais cont rat ados do hospit al, cuj a posição no or ganogram a era de ger ência m édia, com função for m alizada at ravés do pagam ent o de um abono salar ial denom inado “ função grat ifi cada”. Do t ot al de 91 chefi as, nessa condição, vinculadas t ant o às ár eas adm inist rat ivas quant o à enfer m agem , 23 par t iciparam da pesquisa: 11 int egraram o gr upo e 12 foram ent r evist adas individualm ent e. Os par t icipant es, de am bos os sexos, escolar idade super ior, idade ent r e 27 e 61 anos, com t em po de hospit al variando de 2,5 a 35 anos, aderiram volunt ariam ent e à pesquisa, após convit e enviado a t odas as chefi as at ravés do em ail cor porat ivo.

O gr upo, considerado com o espaço pr iv ilegiado para discussão, r ealizou- se nas dependências do hospit al. Cada encont r o t eve um a hora e m eia de duração, em r euniões sem anais, no decor r er de set e sem anas. Nele, as chefi as int er m ediár ias discut iram t em as per t inent es ao seu cot idiano, incent ivadas por alguns disposit ivos, com o a fot ografi a e at ividade de elaboração de car t azes. As ent r evist as individuais sem iest r ut uradas, t am bém r ealizadas nas dependências do hospit al, t iveram duração variável de 30 m inut os a t rês horas e, excet uando- se a quest ão inicial que foi: “ com o é ser chefe no hospit al?”, foram nort eadas por quest ões baseadas na produção do grupo.

Em t odo o pr ocesso, foram t ecidas considerações r elacionadas às vivências e aos sent idos de ser chefe int er m ediár io hospit alar. Dest acam - se, no pr esent e ar t igo e por sua r elevância no cont ext o geral dos r esult ados, aquelas r elat ivas às vivências e aos sent idos at r ibuídos pelas chefi as int er m ediár ias ao t rabalho em equipe e às análises sobr e ar ranj os alt er nat ivos para o desenvolvim ent o do t rabalho e o alcance da efi ciência esperada.

A par t ir das quest ões levant adas nesse pr ocesso, foi r ealizada um a busca por im agens ofer t adas na int er net , em r econhecido sit e de busca, o Google, para cada um dos t er m os – gr upo e equipe. Tal pesquisa t eve com o obj et ivo sondar, em um a busca sim ples a dados da int er net , os sent idos dos t er m os associados às im agens, ext rapolando o discur so ver bal.

Apresentação e Discussão dos Resultados

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out ras chefi as do m esm o ser viço que, a pr incípio, dever iam unir- se em t or no de obj e-t ivos com uns. Essas chefi as idene-t ifi cam que e-t ais equipes, raram ene-t e, conse-t ie-t uem fone-t e de int egração de habilidades e cooperação para agilidade do pr ocesso de t rabalho, t am pouco per m it em o incr em ent o da sensação de confi ança. Tais chefi as avaliam que, a despeit o da pr opost a para o t rabalho em equipe, esse é um gr upo de colegas com os quais há difi culdade de encont rar apoio. As falas dos par t icipant es da pesquisa são ilust rat ivas:

[ ...] eu faço a m inha par t e e fi co feliz por t er feit o. Se os out r os [ colegas, t am bém chefes com ponent es da m esm a equipe] não fi zer em , não posso fazer nada. Mas isso dói! [ Ent r evist adora: vocês não discut em est as decisões no gr upo de chefi as?] Não, nem em sonho! [ ...] Eu não t enho a m esm a liber dade com o nosso pessoal aqui in-t er no [ da equipe] do que in-t enho com o pessoal de ouin-t ras ár eas. É um a pena. Sinin-t o falt a dest a r ede t écnica, ser ia um a sust ent ação. Mas acho at é que é um a r egra as pessoas não se apr oxim ar em m uit o, por que na m edida em que t u t e apr oxim a, cr ia um gr upo e fi ca com for ça... e aqui há anos os chefes grandes dest r uíram ist o... ( fala de par t icipant e da pesquisa, em ent r evist a) .

[ ...] não vej o que há solidar iedade com quem a gent e t rabalha. Não int eragem no nível necessár io para um a m udança. Se a pessoa t em um est r esse, isso é com ela... não exist e espaço nem for m al, nem infor m al com os colegas... cada um lida com seu pr oblem a ( fala de par t icipant e da pesquisa, em ent r evist a) .

[ ...] os nossos colegas são assim , aquelas pessoas que pensam que poder iam est ar no seu lugar... m as o nosso chefe gost a e alim ent a ist o ( fala de par t icipant e da pes-quisa, em ent r evist a) .

I nt er essant e not ar que t ais considerações apar eceram nas ent r evist as e não durant e a r ealização do gr upo. Nest e, houve m aior facilidade em quest ionar a r elação e as difi culdades est abelecidas com out r os pr ofi ssionais, sobr et udo da ár ea m édica, que não com punham dir et am ent e suas equipes. O confl it o pr esent e nas equipes, com os m ais pr óxim os, era m inim izado nas falas no gr upo, sobr et udo por que t odos par t icipant es com punham equipes pr óxim as um as das out ras e t al afi r m at iva poder ia causar cert o const rangim ent o. Cont udo, os dados sist em at izados das ent revist as eram levados à discussão do grupo, conform e com binado previam ent e com os ent revist ados, e o t em a foi colocado em paut a, suscit ando o debat e de acor do com o for t alecim ent o dos vínculos e da confi ança no gr upo.

Dessa for m a, o gr upo de chefi as int er m ediár ias confi r m ou que não era a equipe que lhes ofer t ava sust ent o com o t rabalhador, ist o é, o apoio necessár io t ant o t écnico quant o afet ivo, am bos im pr escindíveis para o bem - est ar e efet ividade nas ações ( BERNARDO et al., 2011) . As r elações de apoio para as chefi as int er m ediár ias par t icipant es da pesquisa eram conquist adas nos m ais difer ent es set or es, escolhidas por eles, cr iando r edes de t rabalho alt er nat ivas. Dessa for m a, analisa- se a r elevância dos cont at os dit os infor m ais por possibilit ar em a r ealização do t rabalho e a obt enção de sat isfação e r econhecim ent o.

Essas r edes, nas or ganizações cent ralizadoras, t endem a ser com bat idas, consideradas com o desvios. No ent ant o, a possibilidade de que acont eçam r evela- se com o font e de saúde e pot encial de pr odução para os suj eit os nelas envolvidos. Or-ganizações em que não há por osidade nos m odos de or ganizar o t rabalho, bem com o no est abelecim ent o de r elações são pot encialm ent e pat ogênicas, considerando que o t rabalho pr escr it o não cede espaço para o r eal e a cr iat ividade ( LANCMAN; SZNE-LWAR, 2004) . No hospit al em quest ão, const at ou- se que as relações est abelecidas nas conexões infor m ais eram per cebidas com o essenciais para sobr evivência no t rabalho. Por um lado, elas facilit avam a pr ópr ia execução do t rabalho; por out r o, as r elações de afi nidade possibilit avam laços de solidar iedade. As chefi as int er m ediár ias est abe-leciam um a difer ença ent r e o pessoal e pr ofi ssional; cont udo, era consenso que as afi nidades pr om ovem out r o encadeam ent o, m ais facilit ado, no pr ocesso de t rabalho. E assim com ent avam :

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culda-des que a gent e t em que viver aqui, que não são poucas [ ...] t em os m ais coisas boas do que r uins... acho que a gent e t em am igos aqui dent r o, colegas que a gent e pode cont ar a qualquer m om ent o... ( fala de par t icipant e da pesquisa, no gr upo) .

A par t ir da sinalização dos par t icipant es dest a pesquisa é que se pr opõe a r efl exão sobr e as alt er nat ivas encont radas pelos t rabalhador es para r ealizar em seus t rabalhos, que nem sem pr e cabem nos for m at os pr escr it os. É sabido que t rabalhar é um a ação colet iva, e que raram ent e se desenvolve de m aneira individual. As or ga-nizações que, durant e m uit o t em po, insist iram no m odelo individual, t êm seguido a t endência de agrupar os t rabalhadores, incent ivando o colet ivo; e, para t ant o, alm ej am ir além do gr upo, for m alizando o t rabalho em equipe. Ser á que assim t êm alcançado seus obj et ivos?

Ao r esgat ar suas or igens, é possível t er m aior clar eza dos sent idos que per-m eiaper-m os t er per-m os gr upo e equipe. Aléper-m dist o, suas difer enças siper-m bólicas t or naper-m - se m ais evident es a par t ir da visualização de im agens usuais para am bos os t er m os. Nas diver sas im agens ofer t adas para cada um dos t er m os, not a- se que exist e a r epet ição de t em as, indicando a pr evalência de sent ido.

Dent r e as im agens disponibilizadas para a palavra equipe ( Figura 1) , os t em as que se r epet iram est avam r epr esent ados em cenas que r em et iam a t rabalho; ao aum ent o do desem penho e da pr odut ividade; à com posição dos m em br os na en-gr enagem geral do sist em a pr odut ivo; e à int een-gração de for ças para consecução de obj et ivos. São com uns as im agens em que alguns m em br os ser vem com o supor t e para os dem ais, par t icular m ent e em confi gurações piram idais, fi cando im plícit a a noção de subj ugo. Cabe dest acar, t am bém , as im agens que m ost ram anim ais em sit uações colet ivas. Bast ant e com uns na pesquisa r ealizada, o uso do t em a anim ais t rabalhando colet ivam ent e é r ecor r ent e com o m et áfora da equipe, anunciando um a cont radição em seu discur so.

Figu r a 1 – M osa ico de I m a ge n s sobr e Equ ipe

Font e: com posição a par t ir de im agens do Google I m ages – “ equipe” ( 2011) .

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obser vadas nos cont ext os em pr esar iais. Novam ent e, o m osaico r epr esent a t em as pr evalent es da font e de pesquisa, no conj unt o geral de im agens ofer t adas.

Figu r a 2 – M osa ico de I m a ge n s sobr e Gr u po

Font e: com posição a par t ir de im agens do Google I m ages – “ gr upo” ( 2011) .

Assim , a difer enciação ent r e os t er m os fi ca r efor çada. Quando equipe e gr upo são usados com o equivalent es, m ascara- se o sent ido par t icular de cada um . De m odo geral, nos am bient es de t rabalho, o uso do t er m o equipe e seu signifi cado de siner gia, r edut o de solidar iedade, cooperação e pr odut ividade t em pr evalecido, em bora não cor r esponda ao que acont ece na pr át ica, com o se ver á m ais adiant e.

Essa perspect iva é reforçada pela aproxim ação da noção de equipe com colet ivos anim ais, confor m e se anunciou na apr esent ação da Figura 1. O t rabalho em equipe é r efer ido com o um a est rat égia im por t ant e pela pot encialização da capacidade de decisão, r esponsabilidade, m obilização da apr endizagem , enfi m , capacidades cogni-t ivas que, a pr incípio, dever iam sicogni-t uar seus m em br os em um pacogni-t am ar difer enciado dos inset os e de suas r espost as inst int ivas. Além dist o, nos colet ivos anim ais, há um pr ocesso de t ot alização e indifer enciação de indivíduos. Cont udo, t ais colet ivos são inst r um ent alm ent e efi cient es, at ingindo os r esult ados pr opost os. Dest a m aneira, a cont radição no discur so, r evela as int enções do que se pr om ove na pr át ica.

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Figu r a 3 – Con e x õe s Possív e is

Font e: r ecor t e de r evist a por chefi a int er m ediár ia par t icipant e de pesquisa ( BONS FLUÍ DOS, 2004, p.16- 17) .

As conexões est abelecidas no cont ext o do t rabalho possibilit am a ar t iculação indissociada de pr odução e afet os. Tal caract er íst ica é válida, sobr et udo, no cont ext o at ual, baseado na econom ia infor m acional em que se dest aca o t rabalho im at er ial ( HARDT; NEGRI , 2005; LAZZARATO; NEGRI , 2001) .

Considerações Finais

Os colet ivos sem pr e fi zeram par t e da or ganização do t rabalho. Cont udo, por suas inst abilidades, pela possibilidade de gerar oposição à em pr esa e t or nar- se um a for ça incont r olável, foram supr im idos do conj unt o de pr át icas for m ais do m odelo ger encial hegem ônico, que durant e m uit o t em po pr ior izou o t rabalho r ealizado indi-vidualm ent e. Foram m udanças ocor r idas na esfera econôm ica, com a ascensão da econom ia infor m acional e do t rabalho im at er ial, além do aum ent o da com pet it ividade, que im pulsionaram as alt erações nesse panoram a.

As equipes eclodiram , ent ão, com o r espost a às dem andas por m aior efi ciência. Pr oduziu- se um discur so para acom panhar sua int r odução nos espaços de t rabalho, vendendo- as com ot im ism o e posit ividade. Mais que ist o, est abeleceram - se nor m at i-zações para seu funcionam ent o, com base em pr escr ições de com o t or nar o colet ivo focado e pr odut ivo, obt endo- se o m áxim o de vant agens.

As equipes passaram a operar com o “ cont enção” às possibilidades de r elações espont âneas ent r e os indivíduos. Nest e sent ido, é que se pode analisar a dist inção feit a ent r e equipes e gr upos no discur so ger encial hegem ônico. Os gr upos apar ecem com o “ for m a”, um conj unt o de indivíduos, com o baixo nível de int eração, e as equipes defi nidas com o “ funcionam ent o”, em que se encont ram fort es associações, produção de sinergia, com prom et im ent o com as m et as e result ados. Os grupos, dom est icados com o equipes, com t odo cabedal de r egras que as fundam ent am , podem agora ingr essar no am bient e or ganizacional, sem am eaçá- lo, e com por as “ est rat égias de sucesso”.

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const rangim ent os à com pet ição, t al qual um gr upo- suj eit o. Cont udo, não é ist o que se obser va e que os est udos t êm apont ado. Decor r em daí im por t ant es consequências aos indivíduos que se deparam com as incoer ências ent r e discur so e pr át ica, além da vivência de um cot idiano r eplet o de dem andas paradoxais.

As conexões for m alizadas seguem os discur sos pr opost os. Ent r et ant o, os in-div íduos encont ram br echas e, de m aneiras singular es, buscam alt er nat ivas para conexões efet ivam ent e sat isfat ór ias at ravés das r edes de cooperação. Esses colet ivos cooperat ivos são acionados j ust am ent e por que são r equisit os à pr odução do t rabalho im at er ial. As possibilidades de t rabalho colet ivo am pliam - se no cont ext o da econom ia infor m acional e do t rabalho im at er ial, que se baseia, pr incipalm ent e, nas capacidades com unicat ivas e r elacionais dos t rabalhador es. O t rabalho que acont ece por m eio de r edes e fl uxos, dem anda a cooperação, envolvendo um a for ça de t rabalho capaz de or ganizar- se e as suas r elações.

É r econhecida a efi cácia das pr át icas discur sivas na subm issão de m odos de t rabalhar e de ser. Por ém , t am bém se adm it e que de m odos difer ent es, out ras for m as de conexão ent r e os t rabalhador es vão acont ecendo. Est e ar t igo busca avançar nessa discussão ao pr opor que, sobr et udo nas esferas ger enciais, a noção de equipe com o t ot alidade e unidade sej a desconst ruída, perm it indo que um a concepção m ais inform al de redes ent re os t rabalhadores sej am não apenas t ecidas, m as valorizadas. O colet ivo que se const it ui é pr odut ivo e apr esent a pot ência para r esist ir às t ent at ivas de capt ura em m odelos est abelecidos. A par t ir da capacidade de se r einvent ar const ant em ent e, não se fi xa no funcionam ent o da equipe, nem na for m a do gr upo com o pr essupõe o discur so hegem ônico.

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Ar t igo r e ce bido e m 3 1 / 0 5 / 2 0 1 1 .

Imagem

Figu r a  1 –  M osa ico de  I m a ge n s sobr e  Equ ipe
Figu r a  2  –  M osa ico de  I m a ge n s sobr e  Gr u po
Figu r a  3  –  Con e x õe s Possív e is

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