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REALE, Miguel. Teoria do direito e do estado

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Miguel Reale

D e s d e o s e u a p a r e c i m e n t o , e m 1 9 4 0 , Teoria do Direito e do Estado s e p r o j e t o u c o m o u m a

o b r a c l á s s i c a t a n t o d o p e n s a m e n t o j u r í d i c o c o m o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o b r a s i l e i r o . P o d e - s e d i z e r q u e u m a d a s o r i g i n a l i d a d e s d e s t e l i v r o c o n s i s t i u e m m o s t r a r , d e m a n e i r a c o m p l e m e n t a r , o q u e h á d e j u r í d i c o n a P o l í t i c a e o q u e h á d e p o l í t i c o n o D i r e i t o , c o r r e l a ç ã o e s s a q u e v e i o s e a p r i m o ­ r a n d o d e e d i ç ã o p a r a e d i ç ã o , s e m p e r d a d e s e u f e c u n d o e n f o q u e o r i g i n á r i o .

Q u a n d o o m e s t r e p a u l i s t a p u b l i c o u a p r e ­ s e n t e o b r a , p e r c e b e u - s e i n c o n t i n e n t i o s e u s e n t i d o p o l ê m i c o c o m o monismo jurídico d e H a n s K e l s e n , e n t ã o n o a u g e d e s u a i d e o l o g i a , g r a ç a s à c o n h e c i d a i d e n t i f i c a ç ã o d o E s t a d o c o m o D i r e i t o , o b j e t o d e s u a Teoria Geral do Estado. M a i s ta r d e o m e s m o K e l s e n , e x i l a d o n o s E s t a d o s U n i d o s d a A m é r i c a , v í t i m a d o e s t a t a l i s m o n a z i s t a , v i r i a a p u b l i c a r o u t r o l i v r o , c u j o t í t u l o j á d e n o t a a b r a n d a m e n t o e m s e u r i g o r i s m o m o n i s t a , Teoria Geral do Direito e do Estado. B a s t a a l e m b r a n ç a d e s s e s f a t o s p a r a m o s t r a r c o m o a o b r a d e R e a l e s e s i t u a n o c e n t r o d o s p r o b l e m a s j u r í d i c o - p o l í t i c o s d e n o s s o t e m p o , v e r s a n d o t e s e s q u e a t é h o j e c o n s t i t u e m o c e r n e d a Teoria do Estado.

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r e s u l t a v a , o u t r o s s i m , d e s u a p r o f u n d a a n á l i s e d o pluralism o jurídico, a o u t r a v e r t e n t e d a c o m ­

p r e e n s ã o d o D i r e i t o e d o E s t a d o , d a q u a l i r i a m r e s u l t a r d i v e r s a s f o r m a s t a n t o d e s i n d i c a l i s m o c o m o d e i n s t i t u c i o n a l i s m o .

C o l o c a d o e n t r e o m o n i s m o e o p l u r a l i s m o j u r í d i c o s , R e a l e c o m p r e e n d e u q u e a s q u e s t õ e s n ã o p o d i a m s e r r e s o l v i d a s s e m u m a a m p l a v i s ã o s o c i o l ó g i c a e , m a i s p a r t i c u l a r m e n t e , s e m u m a a n á l i s e d o Poder, a n a l i s a d o t a n t o n o â m b i t o d a n o r m a j u r í d i c a q u a n t o e m f u n ç ã o d a t o t a l i d a d e d o o r d e n a m e n t o e s t a t a l , o q u e o l e v o u a d e s e n ­ v o l v e r t e m a s q u e s e t o r n a r a m c l á s s i c o s , c o m o o d a “j u r i s f a ç ã o d o p o d e r ” o u d a “ g r a d u a ç ã o i n t e r - s i s t e m á t i c a e t r a n s i s t e m á t i c a ” d a s r e g r a s d o D i r e i t o .

T r a t a - s e , c o m o s e v ê , d e u m a o b r a d e C i ê n c i a P o l í t i c a e d e C i ê n c i a J u r í d i c a , v i n c u l a d a à s m a i s v i v a s i n q u i e t a ç õ e s d e n o s s a é p o c a n o q u e s e r e f e r e a o d e s t i n o d a Democracia, a o v a l o r d o i n d i v í d u o e d a s o c i e d a d e c iv i l ( v i s t a c o m o u m a p l u r a l i d a d e d e i n t e r e s s e s g r u p a l i s t a s d i a l e t i - c a m e n t e i n t e r - r e l a c i o n a d o s ) p e r a n t e o E s t a d o , c u j o s f i n s s ã o e s t u d a d o s c o m o b j e t i v i d a d e , s e m p r e c o n c e i t o s i n d i v i d u a l i s t a s e c o l e t i v i s t a s .

O b r a , e m s u m a , i n d i s p e n s á v e l t a n t o a o s e s t u d o s d e T e o r ia d o E s t a d o c o m o d e S o c i o l o g i a P o l í t i c a o u d e C i ê n c i a d o D i r e i t o , s e n d o u m d e s e u s r e c o n h e c i d o s m é r i t o s a b u s c a d e i n t e g r a - l i d a d e , o e x a m e d a s c o r r e l a ç õ e s e x i s t e n t e s e n t r e a s q u e s t õ e s b á s i c a s q u e e x i g e m a a t e n ç ã o d o s o c i ó l o g o , d o j u r i s t a o u d o p o l i t i c ó l o g o , c o m o d i m e n s õ e s c o n c r e t a s d a v i d a h u m a n a .

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Miguel Reale

5a edição, revista

2000

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ISBN 8 5 -0 2 -0 3 0 8 7 -6

Dados Internacionais de C atalogação na Publicação (C IP)

(Câm ara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

R eale, Miguel,

1910-Teoria do direito e do Estado / Miguel R eale. — 5. ed. rev. — São Paulo : S araiva, 2000.

1. Direito - Teoria 2. Estado - Teoria I. Título.

C D U -3 4 0 .1 1

9 9 -5 3 9 8 -34 2 .2

çmsz*.

Avenida Marquês de Sào Vicente, 1697 — CEP 0113&-904 — TeF: PABX (0XX11) 3613-3000 — Barra Funda Caixa Postal 2362 — Fax: (0X X 11) 861-3308 — Fax Vendas: (0XX11) 861-3268 — S. Paulo - SP Endereço Internet: http://www.saraiva.com.br__________ __________________

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PRINCIPAIS OBRAS DO AUTOR

O B R A S F IL O S Ó F IC A S

A tu a lid a d e s d e um M u n do A n tig o , 1936, José Olympio; 2.a ed.,

1983, UnB. A D o u trin a K a n t n o B rasil, 1949, USP. F ilosofia em S ão

Paulo, 1962, Ed. Grijalbo. H o rizo n tes d o D ireito e d a H istó ria , 1956;

2.a ed., 1977; 3.a ed., 2000, Saraiva. In trodu ção e N o ta s a o s “C a d ern o s

d e F ilo so fia ”d e D io g o A n to n io F eijó, 1967, Ed. Grijalbo. E x p eriên cia e C ultu ra, 1977, Ed. Grijalbo. E stu d o s d e F ilosofia e C iên cia d o D ireito ,

1978, Saraiva. O H om em e seu s H o rizo n tes, 1980, Convívio; 2.® ed.,

1997, Topbooks. A F ilosofia na O b ra d e M a c h a d o d e A ssis, 1982, Pio­

neira. V erdade e C on jetu ra, 1983, Nova Fronteira; 2.a ed., 1996, Funda­

ção Lusíada,Lisboa. In tro d u ç ã o à F ilosofia, 1988; 3 a ed., 1994, Sarai­

va. O B e lo e ou tros V alores, 1989, Academia Brasileira de Letras. E stu ­ d o s d e F ilosofia B ra sileira , 1994, Inst. de Fil. Luso-Brasileira, Lisboa.

P a ra d ig m a s d a C ultura C o n tem porân ea, 1996, Saraiva.

O B R A S D E F IL O S O F IA D O D IR E IT O

F u n d a m en to s d o D ir e ito , 1940, Ed. própria; 3.a ed., 1998, R e­

vista dos Tribunais. F ilo so fia d o D ir e ito , 1953; 19.a ed., 1999, Sarai­

va. T eoria T rid im e n sio n a l d o D ir e ito , 1968; 5.a ed., 1994, Saraiva. O D ir e ito c o m o E x p e riê n c ia , 1968; 2.a ed., 1992, Saraiva. L iç õ e s P r e li­ m in a re s d e D ir e ito , 1973, Bushatsky; 4.a/2 4 .a ed., 1999, Saraiva, uma

ed. portuguesa, Livr. A lm edina, 1982. E s tu d o s d e F ilo so fia e C iê n ­

c ia d o D ir e ito , 1978, Saraiva. D ir e ito N a tu r a l/D ir e ito P o s itiv o , 1984,

Saraiva. N o v a F a se d o D ir e ito M o d e rn o , 1990; 2.a ed., 1998,

Sarai-' va. F on tes e M o d e lo s d o D ir e ito , 1994, Saraiva.

O B R A S D E P O L ÍT IC A E T E O R IA D O E ST A D O

O E s ta d o M o d e rn o , 1933; 3.a ed., José Olym pio; 4 a ed., UnB.

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O c a p ita lis m o In te rn a c io n a l, 1935, José Olym pio; 2.a ed., 1983,

U nB. T eoria d o D ir e ito e d o E s ta d o , 1940, Livr. Martins Ed.; 4.a ed.,

1984; 5.a ed., 2000, Saraiva. P a rla m e n ta rism o B r a s ile ir o , 1* e 2.a

ed., 1962, Saraiva. P lu ra lis m o e L ib e r d a d e , 1963, Saraiva; 2.a ed.,

1998, Ed. Expressão e Cultura. I m p e r a tiv o s d a R e v o lu ç ã o d e M a r ç o ,

1965, Livr. Martins Ed. D a R e v o lu ç ã o à D e m o c r a c ia , 1969, C onví­

vio; 2.a ed., 1977, Livr. Martins Ed. P o lític a d e O n tem e d e H o je ,

1978, Saraiva. L ib e r d a d e e D e m o c r a c ia , 1987, Saraiva. O E sta d o

D e m o c r á tic o d e D ir e ito e o c o n f lito d a s I d e o lo g ia s , 1998; 2.a ed., 1999, Saraiva.

OBRAS DE DIREITO POSITIVO

N o s Q u a d r a n te s d o D ir e ito P o s itiv o , 1960, Ed. M ichelany. R e ­ v o g a ç ã o e A n u la m en to d o A to A d m in is tr a tiv o , 1968; 2.a ed., 1980,

Forense. D ir e ito A d m in is tr a tiv o , 1969, Forense, c e m A n o s d e c i ê n ­

c ia d o D ir e ito n o B ra sil, 1993, Saraiva. Q u e s tõ e s d e D ir e ito , 1981,

Sugestões Literárias. T eoria e P r á tic a d o D ir e ito , 1984, Saraiva. P o r

u m a C o n stitu iç ã o B r a s ile ir a , 1985, R evista dos Tribunais. O P r o je to d e c ó d ig o c i v i l , 1986, Saraiva. O P r o je to d o N o v o c ó d i g o c i v i l , 2.a

ed., 1999, Saraiva. A p lic a ç õ e s d a c o n s titu iç ã o d e 1 9 8 8 , 1990, Fo­

rense. T em as d e D ir e ito P o sitiv o , 1992, R evista dos Tribunais. Q u e s ­

tõ e s d e D ir e ito P ú b lic o , 1997, Saraiva. Q u e s tõ e s d e D ir e ito P r iv a d o ,

1997, Saraiva.

OBRÁS LITERÁRIAS

P o e m a s d o A m o r e d o T em po, 1965, Saraiva. P o e m a s d a N o ite ,

1980, Ed. Som a. F ig u ra s d a In te lig ê n c ia B r a s ile ir a , 1984, Tempo

Brasileiro; 2.a ed., 1997, Siciliano. S o n e to s d a V erdade, 1984, N ova

Fronteira. V ida O c u lta , 1990, M assao Ohno. F a ce O c u lta d e E u c lid e s

d a C u n h a, 1993, Topbooks. D a s L e tr a s à F ilo so fia , 1998, A cadem ia Brasileira de Letras.

OBRAS DIVERSAS

A tu a lid a d e s B ra sile ira s, 1937, José Olympio; 2.a ed., 1983, UnB.

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M e m ó ria s, v. 1 ,1 9 8 6 ; 2.a ed., 1987; v. 2 ,1 9 8 7 , Saraiva. D e T an credo a C o llo r , 1992, Siciliano. D e O lh o s n o B r a s il e n o M u n d o , 1997,

Expressão e Cultura. V a ria çõ es, 1999, Ed. G RD.

PRINCIPAIS OBRAS TRADUZIDAS

F ilo so fia d e l D ir itto , trad. Luigi B agolini e G. R icci, 1956,

Torino, G iappichelli. 11 D ir itto c o m e E s p e r ie n z a , com ensaio introd.

de D om enico Coccopalm erio, 1973, M ilano, Giuffrè. T eoria T rid i­

m e n sio n a l d e l D e re c h o , trad. J. A . Sardina-Paramo, 1973, Santiago de C om postela, Imprenta Paredes; 2.a ed., Universidad de C hile, Valparaíso (na coletânea “Juristas Perenes”); 3.a ed. reestruturada,

trad. A n g eles M ateos, Madrid, T ecnos, 1997. F u n d a m e n to s d e l

D e re c h o , trad. Julio O. Chiappini, 1976, B uenos A ires, Depalm a.

In tro d u cc ió n a l D e re c h o , trad. Brufau Prats, 1976; 10.a ed., 1991,

Madrid, Ed. Pirâmide. F ilo so fia d e l D e re c h o , trad. M iguel A ngel

Herreros, 1979, Madrid, Ed. Pirâmide. E x p e rié n c e e t C u ltu re, trad.

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ÍNDICE GERAL

P r in c ip a is o b r a s d o a u t o r... VII

P r e fá c io à 5 “ e d i ç ã o... XVII

P r e fá c io à 3 .a e d i ç ã o... XIX

P r e fá c io à 2.° e d i ç ã o... XXI

P r e fá c io à l . a e d i ç ã o... XXIII

PRELIMINARES METODOLÓGICAS

Ca pít u l o I

A CONCEPÇÃO CULTURALISTA DO ESTADO E O PROBLEM A M ETODOLÓGICO

Três direções fundamentais... 3

Estado, Direito e Cultura... 8

Dogmática e Ciência do Direito... 11

Novos rumos da Dogmática Jurídica... 16

O antiformalismo jurídico... 23

A solução culturalista tridimensional... 28

PARTE I

O PODER E O PROCESSO DE POSITIVAÇÃO DO DIREITO

Ca pít u l o II PRINCÍPIOS D A FORM AÇÃO JURÍDICO-ESTATAL O Estado como fenômeno de integração... 41

A teoria da integração de Rudolph Smend... 44

Crítica da doutrina de Sm end... 48

(15)

As doutrinas orgânicas do Estado... 56

Posição de Spencer e da Escola Positiva Italiana... 59

Princípios de Petrasizki e de Pontes de Miranda... 63

Explicação psicossociológica da integração... 65

Conclusão preliminar... 69

Ca pít u l o III PRETENSÕES D O OBJETIVISM O JURÍDICO C O NTR A O PODER A posição de Durkheim... 71

A doutrina de Duguit sobre o poder e a regra de Direito... 73

O “anarquismo de cátedra” de Duguit... 76

Leis normativas e leis construtivas segundo D uguit... 78

A doutrina de Kelsen sobre a soberania como expressão da positi-vidade jurídica... 79

Anulação ou jurisfação do poder?... 83

Integração e juridicidade do poder... 89

Ca pít u l o IV ORDEM JURÍDICA E PODER Estática e dinâmica sociais... 91

Representações jurídicas e Direito Natural... 94

Processo de positivação do Direito... 100

O poder segundo a doutrina de Georges Burdeau... 104

O bem comum como fundamento da soberania e do D ireito... 107

Poder de fato e poder de Direito... 115

Poder e dinâmica do Direito... 118

(16)

O tríplice aspecto do Estado e a Filosofia do D ireito... 127

O Estado e o seu conteúdo social... 131

Estado e N ação... 133

Soberania e Teoria Jurídica do E stado... 136

Concepção política ou sócio-jurídico-política da soberania... 138

As distinções de Hauriou... 142

O problema da continuidade do Estado... 144

A soberania à luz da História e do Direito... 150

Concepção política e concepção jurídica da soberania... 152

O problema da titularidade da soberania e a doutrina da soberania do Estado... 157

A doutrina da soberania do Estado... 163

Natureza da representação política... 166

A soberania e as Constituições... 172

Ca pít u l o VI O PLUR A LISM O D A S SO BER A N IA S E D O S O RD EN AM EN TO S JURÍDICO-ESTATAIS Evolução do poder e do Direito segundo a Escola Sociológica.... 176

Crítica da doutrina sociológico-jurídica... 183

A soberania como categoria histórica de ordem jurídica... 188

A soberania como forma especial do fenômeno genérico do poder.... 192

A pluralidade dos centros de objetividade jurídica... 198

Independência e supremacia... 202

A Revolução Francesa e a unidade do Direito Positivo... 205

Sobre o primado do Direito Internacional... 209

PARTE III E ST A D O E D IR E IT O Ca pít u l o VII A D O U TR IN A D A ESTATALIDADE D O DIREITO Considerações iniciais... 217

A estatalidade do Direito segundo H obbes... 221

O radicalismo de Rousseau... 224

(17)

A doutrina da estatalidade segundo Jhering... 231

A tese da estatalidade segundo John Austin... 235

O estatalismo jurídico de Jellinek... 238

O estatalismo jurídico de Jellinek a K elsen... 243

A essência do problema da estatalidade do Direito... 247

A doutrina da autolimitação da soberania e os direitos públicos subjetivos... 251

Crítica da doutrina da autolimitação... 257

Ca pít u l o VIII CONCEPÇÕES PLURALISTAS DO ESTADO E DO DIREITO Razões do pluralismo jurídico... 265

Posição de Gierke... 271

Duguit e a concepção do Estado funcional... 272

O Estado segundo as doutrinas sindicalistas... 278

Soberania e pluralismo corporativista... ... 282

O institucionalismo de Hauriou... 288

O pluralismo de Santi Romano... 297

Ca pít u l o IX A TEORIA D A G R A D U A Ç Ã O D A POSITIVIDADE JURÍDICA Nova colocação dos dados do problem a... 303

A doutrina de Del Vecchio sobre a graduação da positividade jurí­ dica ... 307

O Estado como lugar geométrico da positividade jurídica... 314

Integração dos ordenamentos jurídicos... 319

Primado interno do Direito estatal... 323

O Estado moderno como pressuposto da ordem jurídica positiva.. 329

O Direito estatal e a Ciência do D ireito... 332

Ca pít u l o X ANÁLISE DO PODER DO ESTADO O poder de decidir sobre a positividade jurídica... 339

A soberania como poder de decidir... 343

(18)

Poder de decidir e poder de legislar... 349

A pessoa jurídica fundamental... 353

Soberania e liberdade... 358

APÊNDICE POSIÇÃO D A TEORIA DO ESTADO NO S DOM ÍNIOS DO SA BER POLÍTICO Caráter sistemático da Teoria do Estado em perspectiva histórica. 367 Natureza tridimensional do Estado... 374

Discriminações e correlações no campo do saber político — Filo­ sofia Política e Teoria do Estado... 378

A Política do Direito e a mediação do poder — Filosofia Política e Filosofia Jurídica... 385

Divisão tripartita da Teoria Geral do Estado... 388

índice dos autores c ita d o s... 397

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PREFÁCIO À 5.a EDIÇÃO

Esgotado há vários anos o presente livro, cuja reedição era soli­ citada por ilustres colegas para fins didáticos, resolvi publicá-lo, in-troduzindo-lhe algumas alterações decorrentes dos estudos por m im elaborados após 1972. Apesar de novas referências bibliográficas, verifico que a obra não perdeu atualidade, vendo antes confirmadas várias de suas teses, sobretudo no que se refere à graduação pluralista dos ordenamentos jurídicos, ou ao estudo, ao m esm o tempo, jurídi-co -sociológijurídi-co e polítijurídi-co da soberania em jurídi-correlação dialética jurídi-com a positividade do Direito.

Com o o demonstraram C elso Lafer e Ronaldo Poletti, no sim pósio

intitulado M ig u e l R e a le na U nB (Brasília, 1981), minhas concepções

sobre o Poder e o Direito ainda apresentam aspectos cuja relevância as pesquisas mais recentes da Ciência Política ou da Teoria do Estado têm confirmado, sobretudo em razão do pluralismo m etodológico apresen­ tado com o m ais próprio à análise dos problemas do Estado.

Observo, outrossim, que, desde a 4 .a edição, de 1984, graças à colaboração de A lcides Tomasetti Júnior e da Editora Saraiva, foram traduzidos os inúmeros textos que, nas edições anteriores, figuravam em inglês, alemão, italiano, francês ou m esm o castelhano, a fim de que o livro possa melhor atender à situação dos estudantes atuais, do­ tados de reduzido conhecim ento de línguas estrangeiras. D esse modo, atender-se-á também à finalidade propedêutica de um trabalho, sem cujo conhecim ento não se tem idéia completa da teoria tridimensional do Direito, a qual é, concomitante e necessariamente, a teoria tridi­ mensional do Estado.

N a presente edição, as alterações maiores são feitas no últim o

capítulo sobre o p o d e r d o E s ta d o , que deixa de ser p o d e r d e im p é rio

para passar a ser visto cada vez m ais com o p o d e r d e d e c id ir em

termos de funcionalidade.

M i g u e l R e a l e

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PREFÁCIO À 3.a EDIÇÃO

Poucas palavras desejo antepor à presente edição. Ela surge uma lécada após a segunda, esgotada há m uitos anos, para atender a pedi-los de alguns mestres que a adotam com o um dos textos básicos de

leo ria d o E s ta d o , em nossas Faculdades de Direito.

Tive a tentação de refundir este trabalho, mas con fesso que pre-raleceram as razões de sua unidade sistem ática, tal com o foi origina-iamente concebido, com o um a síntese dialética superadora dos con-rastes entre os partidários da redução da Teoria do Estado à S ociolo-;ia Política, ou a Teoria pura do Direito. A ssim com o essa polêm ica té hoje ainda não foi superada, tam bém perm anecem vivas as exi-;ências postas por quem busca soluções unitárias e integrantes. Este ivro enquadra-se nessa terceira posição, acorde com o sentido geral ie toda a minha obra, infensa a quaisquer explicações unilaterais ou bstratas, desvinculadas da concretitude da experiência histórica.

A cresce que, nestes últim os anos, verdade seja dita, não surgi­ am doutrinas novas e revolucionárias, que tenham determinado alte-ações radicais no plano da Teoria Geral do Estado ou da Política, anto no m undo dem ocrático com o no com unista. A s alterações lavidas, ligadas, por exem plo, à teoria da informação ou à cibem éti-a, ou ao tecnicism o neopositivistéti-a, vieram colocar sob nova luz al-;uns aspectos fundamentais das doutrinas anteriores, tal com o se cha assinalado, nesta edição, com rem issão aos ensaios onde mais liretamente trato do assunto.

A recente “teoria dos m odelos”, à qual penso ter trazido algum a

ontribuição, nas páginas de O d ir e ito c o m o e x p e riê n c ia , confirma,

liás, a orientação firmada nesta obra, no sentido de uma com preen-ão o p era cio n a l da rea lid a d e so c ia l, seg u n d o o p rin c íp io de omplementariedade.

São Paulo, fevereiro de 1970.

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P

REFÁCIO À 2.a EDIÇÃO

O transcurso de duas décadas é prazo suficiente para que um autor se reconheça em condições de apreciar, com maior objetivida­ de, os valores positivos ou negativos de sua obra, verificando o que nela ainda seja suscetível de atenção. D aí a responsabilidade que assum o ao anuir nesta segunda edição.

Os reiterados apelos recebidos por parte de estudiosos da m até­ ria, por estar esgotado o livro há m ais de três lustros, bem com o as referências que tem ele continuado a merecer em obras de Teoria do Estado ou de Direito Constitucional, animaram-me a rever o traba­ lho, atualizando-o em pontos essenciais, inclusive com m ais recente bibliografia.

Apesar dos acréscim os e do A pêndice que versa matéria de or­ dem sistem ática, preferi conservar a estrutura primitiva da obra, a qual, digo-o sem falsa m odéstia, antecipou-se a vários desenvolvi­ m entos havidos na Ciência Política ou no Direito Público, com o, por exem plo, no que se refere à discrim inação tripartita da Teoria do Estado, só há poucos anos m ais amplamente desenvolvida por Hans Nawiasky; à correlação entre o problema da positividade jurídica e o Poder, então apenas esboçada em um artigo de Georges Burdeau, cujo Tratado nesse ponto coincide com várias das sugestões por m im oferecidas; o caráter sistem ático ou sintético da Teoria do Estado, com igual reflexo na apreciação da soberania; e, por fim , a conexão entre o Poder e a lei de integração social, à cuja luz adquiriu signifi­ cação nova a teoria da “graduação da positividade jurídica”, proposta por D el Vecchio em um de seus Ensaios sobre o Estado.

E claro que, nestes vinte anos, a teoria tridimensional do D irei­ to e do Estado — cujos traços marcantes nesta obra já se firmavam — ganhou corpo e plasticidade, até se converter no tridimensionalismo esp ecífico e dinâm ico, tal com o em outros estudos tenho enunciado

(cf. F ilo so fia d o d ir e ito , 1953/1957, e A s p e c to s d a te o r ia trid im e n ­

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Daí a necessidade de ajustar m elhor certas passagens à situação atual de m eu pensam ento, sobretudo no que se refere à concepção do Estado com o realidade histórico-cultural.

M ais do que nunca a problemática do Poder se põe no centro dos interesses e das preocupações do hom em contemporâneo, e, se algum mérito possui este trabalho, é o de, em 1940, no limiar da segunda Grande Guerra, ter reproposto a m editação sobre o Poder com o tema, não só político, m as jurídico, numa época em que ainda prevalecia na Teoria Geral do Estado o perigoso equívoco de pensar que se salva o D ireito quando tim idam ente se faz abstração da força, quando esta deve ser analisada com serena objetividade, para poder ser inserida com o m om ento inelim inável no processo da nom ogênese jurídica.

São Paulo, Natal de 1959.

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PREFÁCIO À l.a EDIÇÃO

Esta obra não é um tratado de Teoria Geral do Direito, nem de Teoria Geral do Estado, mas representa uma introdução a uma e a outra ordem de indagações, sendo-lhes, ao m esm o tem po, um com ­ plem ento na parte dedicada àquelas matérias que não se contêm in­ teiramente no âmbito dessas duas ciências.

Para alguns, para aqueles que adotam as doutrinas m onistas, o título deste livro pode parecer redundante*, e dirão que, se a ordem estatal e a ordem jurídica se identificam , não há com o fazer distinção entre Teoria do Estado e Teoria do Direito.

Já pelo título, portanto, este trabalho tom a posição, distinguin­ do claramente Direito e Estado. Mostrar com o se distinguem , e com o se relacionam , eis um dos objetivos fundamentais dos ensaios que apresentamos.

N ão quisem os, porém, nos limitar ao plano dos primeiros prin­

cípios, nem discutir a tese apenas in a b s tr a c to . Preferim os colocar a

questão m ais sobre o plano concreto da história, analisando o Estado e o Direito com o realidades culturais, em função do espaço e do tempo, à luz de dados preciosos da S ociologia e das necessidades técnicas da Jurisprudência.

D essa orientação múltiplas conseqüências advieram, especial­

mente quanto ao conceito de p o s itiv id a d e ju r íd ic a , cujo estudo foi

feito em íntima conexão com o fenôm eno do poder em geral e da soberania em particular.

* Um lustro após este prefácio, Hans Kelsen publicava a sua G eneral theory

o fla w an d State, sinal evidente do abrandamento operado em seu monismo jurídi­

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O problema da soberania, que ainda é o central da Teoria do Estado e do Direito Público, m ereceu a nossa especial atenção, pois estam os convencido de que esse assunto trasborda dos lim ites do Direito Constitucional.

A s conclusões a que chegam os sobre a so b e ra n ia e a p o s itiv id a d e

d o D ire ito permitiram-nos apreciar, de um ponto de vista talvez novo, a questão sempre palpitante das relações entre o Estado e o Direito, expondo e analisando os princípios das doutrinas monistas e pluralistas, cujas divergências se alargam pelos quadrantes da Ciência Jurídica de nossos dias; indagando, finalmente, do exato valor das teorias inter­ mediárias e da teoria da gradação da positividade jurídica.

E sse o filão que procuramos seguir no desenvolver de nossas pes­ quisas. Entretanto, não refugim os do estudo de vários problemas par­ ticulares de grande relevo, quer de Teoria do Direito, quer de Teoria do Estado, ou até m esm o de Direito Público, pois um dos m eios de aferir a procedência das doutrinas consiste em aplicá-las a casos concretos ou especiais, isto é, à vista da fecundidade de seus resultados.

Estam os certo de que os estudiosos do Direito não deixarão de reconhecer o significado de pura contribuição científica que dem os a esta obra, visando especialm ente certas questões pouco versadas pe­ las letras jurídicas do País, e que estão em verdadeiro estado de efer­ vescência m esm o entre aqueles povos que se colocam na vanguarda de nossa ciência.

M aio de 1940.

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Ca p í t u l o

I

A CONCEPÇÃO CULTU

RALISTA DO ESTADO

E O PROBLEM A M ETODOLÓGICO

T R Ê S D IR E Ç Õ E S F U N D A M E N T A IS

1. Entre o exagero daqueles que confundem o Estado com a

própria realidade social, e nos apresentam o Direito com o um sim ­ ples tegum ento das relações de convivência, e o exagero daqueles que fazem abstração da sociedade, para só apreciar o mundo jurídico com o um mundo puro de normas, há uma posição de justo equilí­ brio, a que se prende a doutrina culturalista do Estado e do Direito.

N ão nos referim os, porém , à concepção cultural dos neo-idea­ listas, que já tivem os ocasião de expor e criticar em um de nossos

livros1, mas sim ao c u ltu ra lism o r e a lista , que não alimenta a vã es­

perança de alcançar subjetivamente a noção do Direito, nem tampouco ignora que as normas jurídicas, embora suscetíveis de formulação abstrata, correspondem sem pre a realidades objetivas e se consti­

tuem sobre um su b stra c tu m de ordem sociológica, o qual, em última

análise, se integra em um processo de normatividade concreta.

A s múltiplas direções que se observam neste período de fecun­ do renascim ento das especulações filosófico-jurídicas podem , até certo ponto, ser reduzidas a três direções fundamentais: à técnico-formal, à sociológica e à culturalista.

A primeira abrange todas as teorias que não só distinguem, com o separam Sociologia e Direito, afirmando que a Ciência Jurídica tem

o seu objeto próprio que são as n o rm a s, as regras de organização e de

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conduta postas por um sistem a legal segundo uma ordem de com pe­ tência. Segundo os técnico-jurídicos, deve-se separar o Direito ou a Jurisprudência de toda e qualquer outra ciência particular que apre­

cie o c o n te ú d o das relações jurídicas ou indague dos f in s das regras

em sentido ético-político.

Esta orientação, que culmina na chamada escola do D ire ito P u ro

de Hans K elsen, de Verdross, de Merkl etc., representa o resultado de uma longa série de estudos elaborados desde o últim o quartel do século passado, e se distingue pelo rigor m etodológico que pretende imprimir aos estudos do Direito, reduzindo a C iência do Direito à Técnica do Direito2.

Por m otivos bem com preensíveis, esta doutrina não encontrou adeptos entusiastas no setor do Direito Privado, no qual se contém grande parte da questão social, com o observou sabiamente Gianturco, pois os civilistas, na época em que ela alcançou a extremada posição de H ans K elsen, já haviam ven cid o um a dura batalha contra o “legism o” da E scola da E xegese, colocando a lei em contacto direto com as transformações sociais.

Entretanto, a repercussão desses estudos foi enorme no campo do Direito Público, especialmente nos domínios do Direito das Gentes, nem faltou uma Escola técnico-jurídica, do maior relevo, no plano do Direito Penal, reunindo nomes com o os de Arturo Rocco, Manzini e Massari3.

E ssa corrente de pensam ento não considera, de maneira algu­ ma, inútil o estudo das causas das relações jurídicas ou do crime, nem condena a observação da realidade social e dos fins da convi­

2. Deixamos de expor os princípios da doutrina técnico-jurídica, pois dela já tratamos em Fundam entos do d ireito, cit., cap. V, e apreciaremos mais tarde os pontos que interessam diretamente a este trabalho. Note-se que Verdross deixou de ser kelseniano.

3. M anzini, por exem plo, distingue, cuidadosamente, “a doutrina da criminalidade, descrita no seu estado atual, na história, nos elementos causais, na eficácia da reação coletiva que encontra, e na sua profilaxia social” e o Direito Penal, que é “a ciência de normas imperativas, que nada tem de comum com as leis naturais e sociais, nem se propõe a descrever fatos ou relações, nem a estudar rela­ ções de causalidade social”. Trattato di diritto pen ale italiano, Turim, 1920,1, p. 1 1

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vência quando da feitura das normas. Entende, porém, que aquele estudo e esta observação não constituem objeto da C iência Jurídica, mas de ciências perfeitamente distintas com o a Sociologia, ou a Po­

lítica s tr ic to sen su . O jurista, afirmam eles, já tem uma tarefa muito

grande, uma tarefa im ensa que é o estudo sistem ático do Direito v i­ gente. O Direito ou é norma, ou não sabem o que seja. O que outros

consideram D ir e ito c o m o f a to s o c ia l, ou denom inam D ir e ito n a tu ­

ra l, são sim plesm ente fatos sociais ou exigências éticas, são dados de que o estadista se serve para promulgar o Direito. O objeto único

da ciência é a n o rm a na plenitude de sua força lógica.

É devido a essa posição m etodológica que, por exem plo, o ilus­ tre M anzini chega à conclusão de que a lei penal deve ser aplicada em toda a sua com preensão, quer beneficie, quer prejudique ao réu. N em m esm o nos casos de dúvida, nota N oé A zevedo, manda ele concluir a favor do imputado. “Em caso de dúvida deve ser escolhida a interpretação que seja mais consentânea com o objeto jurídico da

lei, e não aquela que seja m ais favorável ao imputado. A regra in

d u b io p r o reo refere-se à prova e não à interpretação”4.

2. Pois bem , ao lado dessa doutrina, com o força paralela, de­

senvolve-se outra corrente de pensam ento, que também reúne nom es dos mais ilustres com o Duguit, Ehrlich, Ferri, Gurvitch etc.

Estes autores, não obstante as divergências e peculiaridades de suas teorias, estão acordes em reconhecer que não é possível estudar o Direito com o sim ples coordenação de normas, com o sistema de pre­ ceitos normativos. O Direito tem sim autonomia, mas é autônomo com o ramo ou capítulo da Sociologia, não tem valor sem conexão com os

dados que o sociólogo apresenta. N ão há ju r is ta s p u ro s, porque só

pode haver ju r is ta s s o c ió lo g o s. N ão há com o imaginar uma ciência de

normas sem a conceber com o ciência do conteúdo das normas.

O direito é, antes de mais nada,f a to s o c ia l, realidade psicossocial

em perene transformação, e as n o rm a s não subsistem , nem são pos­

síveis, sem a realidade de que resultam com o conclusões necessárias que se im põem a todos, tanto aos governantes com o aos governados.

4. Noé Azevedo, As garantias da liberdade individual em fa c e d as novas

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Dizer o que é o Direito com o norma é, no fundo, dizer com o o Direito surge, com o se elabora nos recessos da consciência coletiva ou com o se constitui na m assa dos espíritos, é dizer que tais e tais condições objetivas deram nascim ento a uma regra de conduta e exi­ giram, pela pressão da convicção generalizada, que um poder se or­ ganizasse para o seu respeito, a sua garantia e a sua atualização.

A análise das normas, a apreciação sistem ática das regras que

logicam ente se concatenam nos códigos, é té c n ic a que acompanha

a ciência e se subordina a ela, não podendo haver nada de mais artifi­

cial do que colocar uma ciência, que estuda o Direito c o m o f e n ô m e ­

n o s o c ia l, ao lado de uma outra que estudaria o direito com o f e n ô ­ m e n o ju r íd ic o , ou seja, com o n o rm a .

Esta separação seria p ossível, continuam os juristas-sociólogos, se o direito fosse uma criação da m ente, e pudesse ser obtido m e­ diante um a sim ples dedução de dois ou três princípios evidentes, axiom áticos. M as esta idéia não pode encontrar hoje cultores, desde que se demonstrou que o direito é um organismo que vive, que o direito tem uma história.

N essa ordem de idéias, chegam eles à conclusão — embora nem sempre a exponham claramente — que o Direito, com o ciência, é um capítulo da Sociologia, mas que se distingue dos dem ais ramos da ciência social pela natureza de seus processos e pela técnica que lhe é peculiar, ou seja, p elo ângulo visual sob o qual são focalizados o s problemas.

3. A não ser nas suas p osições m ais extremadas, nunca se man­

tiveram rigorosam ente fiéis aos seus princípios as duas correntes de pensam ento que acabamos de recordar em largos traços.

Se compulsarmos as obras jurídicas dos técnicos, verificamos que, a todo instante, considerações de ordem social e ética penetram, às es­ condidas, em sua argumentação para dar colorido ou conteúdo às inter­ pretações da lei. Para alguns trata-se talvez de uma questão de palavras,

pois não deixam de estudar o su b stra ctu m sociológico quando interpre­

tam os dispositivos legais, só que fazem questão cerrada de notar que tratam da matéria “não com o juristas, mas com o sociólogos”...

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ético-sociais da convivência e com elem entos econôm icos — possui

também um v a lo r ló g ic o , tem, com o dizem os técnicos, uma f o r ç a

ló g ic a que exige um a determinada solução, e não outra, em face dos fatos concretos.

Foi notando essas con cessões recíprocas que em inentes juristas contem porâneos colocaram o problema do Direito em seus verda­ deiros termos, depois de observar, com grande sabedoria, que tudo

está em se saber d is tin g u ir sem se p a r a r .

O direito é fenôm eno social e é norma. Im possível é pretender separar um do outro. N ão há relação social algum a que não apresente

elem entos de juricidade, segundo o velho brocardo, u b is o c ie ta s ib i ju s ,

mas, por outro lado, não é m enos verdade que não existem relações

jurídicas sem su b stra c tu m social e, então, se disse: u b i ju s , ib i s o c ie ta s .

Gény, que é uma grande expressão de equilíbrio na Ciência do

Direito, escreveu que o jurista deve observar o d o n n é e o c o n s tr u it e,

sobre esta distinção, assentou ele uma outra (que não nos parece igual­ m ente aceitável) entre C iência e Técnica do Direito, pois a distinção

entre d a d o e c o n stru íd o só pode ter um valor relativo, im plicando

ambos em uma parte de ciência e em uma parte de técnica5.

D e qualquer forma, Gény ligou intim amente um estudo ao ou­ tro, e é neste sentido que devem ser conduzidas as pesquisas segundo o culturalismo jurídico, ou, com o preferem dizer outros, segundo a “concepção institucional do D ireito”, embora esta expressão não seja de todo aceitável.

Em verdade, o institucionalism o, que foi a princípio uma expli­ cação parcial do mundo jurídico, relativa tão-som ente à vida dos gru­ pos (sindicatos, associações, fundações etc.) e a certas situações so­ ciais que representam feixes de direito dotados de certa estabilidade (a propriedade, por exem plo) o institucionalism o já se apresenta hoje com o uma verdadeira teoria geral do Direito.

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O próprio Renard, que mais se ligara à orientação predominan­ tem ente grupalista de Hauriou, reconheceu, em trabalho filosófico, a necessidade de alargar o alcance e o objetivo do institucionalism o, com o já havia sido feito por J. D elos desde 1931. A liás, o antigo mestre de Nancy atribui a D elos o mérito de ter notado, em primeiro lugar, que a instituição estava destinada “a alargar sua base, a deixar de ser uma parte diversa da filosofia do direito para se transformar numa teoria geral do direito”6.

ESTADO, DIREITO E CULTURA

4 . N ão obstante reconheçam os os grandes méritos da concep­

ção institucional, preferim os empregar o termo “culturalismo jurídi­ co ”, porque põe m ais evidência à ação criadora do hom em subordi­ nando a natureza a seus fins, partindo da própria natureza.

O culturalismo, tal com o o entendem os, é um a c o n c e p ç ã o d o

D ir e ito q u e s e in teg ra n o h isto ric ism o c o n tem p o râ n e o e a p lic a , n o estu d o d o E sta d o e d o D ireito , o s p rin c íp io s fu n d a m e n ta is d a A x io lo g ia , ou seja, d a te o ria d o s v a lo r e s em fu n ç ã o d o s g ra u s d e ev o lu ç ã o so c ia l.

A lém do mais, o institucionalism o não efetuou uma análise mais

profunda da própria razão de ser da instituição {d a id é ia d e o b r a a

r e a liz a r ) e, em linhas gerais, não reconhece que, se o direito tem um caráter institucional, é porque todo direito representa uma aprecia­ ção de fatos e de atos segundo uma tábua de valores que o hom em deseja alcançar tendo em vista o valor fundamental do justo7.

Segundo a concepção tridim ensional, o D ireito é síntese ou

integração de s e r e de d e v e r s e r , é fato e é norma, pois é o f a t o inte­

grado na n o rm a exigida p elo v a lo r a realizar.

6. Cf. Renard, La ph ilosoph ie d e Vinstitution, Paris, 1939, p. 249. Em nosso livro F undam entos do direito, escrito quando ainda não havíamos lido a obra de Renard, observamos a superioridade da posição de Delos. Folgamos em registrar aqui o atraso da crítica...

7. Sobre estes pontos, cuja análise nos conduziria além da Teoria Geral do Direito, vide Miguel Reale, F undam entos do direito, cit., cap. 8, e Filosofia do d i­

reito , 10. ed., cit., 1982, onde o culturalismo jurídico assume a feição de

“tridimensionalidade específica”. Cf., outrossim, Miguel Reale, Teoria tridimensional

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De acordo com esta doutrina, não confundim os o Estado com o conjunto de suas leis, com o sistem a geral das normas, nem nos co lo ­ cam os entre os que — por horror ao form alism o — descam bam para uma concepção exclusivam ente sociológica da com unidade estatal, esquecendo os elem entos próprios à Ciência Jurídica.

O Estado é uma realidade cultural, isto é, uma realidade consti­ tuída historicam ente em virtude da própria natureza social do ho­ m em , mas isto não im plica, de forma alguma, a negação de que se deva também levar em conta a contribuição que consciente e volun­ tariamente o hom em tem trazido à organização da ordem estatal.

Afirm am os a concepção tridimensional do direito porque não nos parece possível com preender o direito sem referibilidade a um sistem a de valores, em virtude do qual se estabeleçam relações de hom em para hom em com exigibilidade bilateral de fazer ou de não fazer alguma cousa.

O D ireito é, essencialm ente, ordem das relações sociais segun­ do um sistem a de valores reconhecido com o superior aos indivíduos e aos grupos. Os valores sobre que se fundamenta o mundo jurídico

são de duas espécies: uns são p r im o r d ia is , ou melhor, conaturais ao

hom em , tal com o o v a lo r d a p e s s o a h u m a n a , que é o valor-fonte da

idéia do justo; outros são valores a d q u ir id o s por m eio da experiência

h is tó r ic a , ao p a s s o q u e o s p r im e ir o s sã o p r e s s u p o sto s d o s ordenamentos jurídicos ainda quando estes os ignoram.

É p elo grau de respeito e de garantia assegurado ao valor da pessoa que avaliam os o processo da ordem jurídica positiva.

Contra, pois, os juristas-sociólogos que fazem todos os valores jurídicos surgir espontaneam ente da vida social (Duguit) quando não

os consideram expressões de idéias existentes o b je tiv a m e n te na con s­

ciência coletiva (Durkheim e D avy), o realism o culturalista reconhe­ ce que a experiência histórica revela certos valores que a condicionam, e adquire outros variáveis, porquanto os valores que se prendem à essência da pessoa humana constituem condição da própria expe­ riência jurídica8.

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5. D e conform idade com a concepção tridim ensional do Direito e do Estado, evita-se o erro do form alism o, e se com preende o verda­ deiro valor da lei e da função de governo.

O direito, consoante a lição de mestres insignes, é uma abstra­ ção, mas uma abstração que corresponde a uma realidade concreta. N este ponto, estão de acordo juristas co m o L u igi R aggi, Vitor Emanuel Orlando, J. D elos, Santi Rom ano e m uitos outros. Penso,

todavia, que se deve ir mais longe, afirmando a c o n c r e titu d e d o p r o ­

c e s s o n o rm a tiv o , do qual é p ossível abstrair o elem ento lógico-for-mal (o suporte ideal representado p elos “ju ízos norm ativos”), desde que se reconheça a sua necessária referibilidade a fatos e a valores, sem os quais o D ireito se esvazia de conteúdo e de sentido.

D elos, em um admirável ensaio sobre a teoria da instituição, observa que “as realidades jurídicas encobrem fatos sociológicos;

estes são o s u b stra c tu m , a substância interna dos fatos e das ativida­

des jurídicas”9.

Criticando o cunho sociológico que certas v ezes é acentuado por alguns institucionalistas, Volpicelli declara que não é possível

sacrificar os dois elem entos essenciais do Direito, a e stru tu ra f o r m a l

e a ju n ç ã o n o rm a tiv a .

O Direito, diz ele, “é, com certeza, organização social, mas não o próprio corpo social em sua realidade em pírica e material, porém na sua forma ideal e em sua normatividade” 10.

V idealism e et 1’experience, Paris, 1922, sobretudo p. 155 e s. Ainda mesmo que

os valores todos fossem adquiridos, a Sociologia não poderia resolver o problema do Direito, pois — consoante demonstração definitiva de Del Vecchio — seria sempre necessário um conceito do ju ríd ico para distinguir e conhecer o fa to ju rí­

dico. Cf. Filosofia d el derecho, trad. de Recaséns Siches, Barcelona, 1929, v. 1.

9. J. Delos, A rchives d e ph ilosoph ie du d ro it e t d e Sociologie ju ridiqu e, 1931, 1-2, p. 145.

10. Volpicelli, Corporativism o e scienza giuridica, Florença, 1934, p. 40, comp. Luigi Raggi, D iritto am m inistrativo, v. 4, Pádua, 1935, p. 86, e V. E. Orlando, N ote

à dottrina generale dello Stato d e Jellinek, trad. de Petrozziello, Milão, 1921, v. 1,

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De acordo com esses autores, o ju r íd ic o não é nada m ais do que o s o c ia l que recebeu uma fo r m a , em virtude da intervenção da auto­ ridade.

Com preende-se, dessarte, que não se deve admitir que o Estado esteja subordinado a leis rígidas, da m esm a natureza daquelas que regem os fenôm enos do mundo físico ou b iológico. Todas as tentati­ vas feitas para reduzir o D ireito a uma geom etria de normas ou a um m ecanism o de pesos e contrapesos têm falhado a seu objetivo, e só serviram para fazer esquecer o real significado ético de todas as de­ term inações jurídicas.

O culturalismo evita, por outro lado, as pretensões dos so ció lo ­ gos que procuram transformar o D ireito em um capítulo da S ociolo­

gia, pois o D ireito, se não é apenas n o rm a , tam bém não é apenas/ato

so c ia l: é, ao contrário, síntese de matéria e forma, integração do que é e do que deve ser, ou, com o escrevem os em nosso livro sobre os

Fundamentos do Direito, este é síntese de s e r e de d e v e r s e r , exigin ­

do um a com preensão unitária da realidade histórico-social, de ma­ neira que o elem ento lógico-form al seja apreciado no sistem a dos valores de uma cultura.

É claro que esta concepção do Direito im plica profundas altera­ ções de ordem m etodológica, com o vam os apreciar.

DOGMÁTICA E CIÊNCIA DO DIREITO

6. N ão é de mero interesse acadêm ico a questão relativa ao va­

lor da D ogm ática com o ciên cia ou com o arte.

A discussão deste problem a envolve indagações de alto alcan­ ce, não sendo pequenas as divergências entre os diversos autores.

U ns, e são os que atentam m ais ao elem ento formal do Direito, identificam D ogm ática e C iência do Direito, declarando que a ciên­ cia que tem por objeto a form ação ou a elaboração das leis não é a C iência jurídica propriamente dita, mas a Política ou a Teoria Geral

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do Estado. O trabalho do jurista não compreenderia, dessarte, a inda­ gação das causas e dos m otivos das normas, a não ser com o elem en­ to auxiliar de exegese na aplicação das leis aos casos concretos.

Outros, ao contrário, procurando achegar a Ciência do Direito às chamadas C iências Naturais, distinguem Ciência do Direito de D ogm ática, considerando a primeira uma ciência verdadeira, e a se­ gunda uma arte ou a explanação de uma arte.

7. “A dogm ática jurídica” , lecionava Pedro L essa, “encerra um

conjunto de preceitos, formulados para a realização de fins determi­ nados; é a explanação de uma arte. Confundi-la com a ciência im ­ porta desconhecer um dos m ais vulgares elem entos de lógica”. Ca­ racterizando a C iência jurídica com o aquela que “tem por objeto o conjunto orgânico das condições de vida e desenvolvim ento do indi­ víduo e da sociedade, dependentes da vontade humana e que é n eces­ sário sejam garantidas pela força coercitiva do Estado”, concluía o

saudoso professor dizendo que “as le is devem ser formuladas de acor­

do com a teoria científica do D ireito” 1'.

Outro ilustre jurista pátrio, Pontes de Miranda, que pretende dar cunho essencialm ente científico-naturalista às suas pesquisas, depois de afirmar que “para a ciência do Direito o que importa é o

S ein , o s e r , e não o S o lle n , o dever ser”, declara que “toda a preo­ cupação do cientista do D ireito deve ser a objetividade, a análise dos fatos, a investigação das relações sociais” e que “na Ciência do D i­ reito — inconfundível com a D ogm ática Jurídica que é a pesquisa dos preceitos e princípios em função de sua discrim inação ou signi­

ficação lógicas — deve primar o m é to d o in d u tiv o d a s c iê n c ia s n a tu ­

ra is, reservando-se à d e d u ç ã o um papel posterior e secundário” 12.

Pontes de Miranda confia no progresso da C iência Jurídica, que

um dia poderá dispensar os “c o r p o s d e lib e r a n te s que são supérfluos

violentos, subjetivos, da proclam ação das verdades científicas”, pois

“progressivam ente se avança para a d e m o c r a tiz a ç ã o d o s p r o c e s s o s

11. Pedro Lessa, E studos d e filosofia do direito, 1911, p. 46 e s.

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d e r e v e la r o d ir e ito ’', sendo que as “assem bléias políticas atuais são correspondentes aos Estados do período que atravessamos” e “m odi­ ficam -se aos poucos, com sensível perda do valor opinativo ou auto­ ritário” 13.

Esta aspiração corresponde, aliás, à sua doutrina sobre a reali­ zação automática do Direito, de sorte que este poderia existir até

m esm o nas s o c ie d a d e s p e r f e ita s com o forma da existência dentro

dos círculos sociais, com o forma de adaptação dos hom ens à vida.

8. É entre os escritores da escola técnico-jurídica que se encon­

tra m ais ou m enos pronunciada a identificação de Ciência Jurídica e D ogm ática, dizendo eles, em resum o, que a C iência Jurídica — na acepção rigorosa da expressão — é a ciência dogm ática e sistem áti­

ca do D ireito, a qual se realiza em três tem pos que são: a in te r p re ta ­

ç ã o , a c o n s tr u ç ã o e a s is te m a tiz a ç ã o .

C om preende-se bem esta posição especial em virtude da distin­ ção que, em geral, é feita entre o D ireito com o fato social e o Direito com o norma. N o primeiro caso, o fato jurídico constitui objeto da Teoria Social do D ireito (Jellinek), da História do Direito (Som m er), da S ociologia Jurídica etc.

A C iência Jurídica propriamente dita não deve cogitar, dessarte, da série causai dos fatos jurídicos, mas tão-som ente do Direito en­

quanto s is te m a d e n o rm a s ju r íd ic a s .

Por outras palavras, a C iência Jurídica ocupa-se com a ordem

jurídica e, m ais ainda, com a o rd e m ju r íd ic a p o s itiv a , ou seja, tem

circunscrito o seu cam po de pesquisa ao D ireito Objetivo em vigor

em um Estado, ao que é d e v e r s e r enquanto é, e não ao que d e v e s e r

“in a b stra c to " , ao constituído e não ao constituendo. Segundo esta doutrina, portanto, a C iência Jurídica por excelência é a Dogm ática, a qual sempre pressupõe um ordenamento jurídico legal com o dado im prescindível.

Essa maneira de ver, a única aliás com patível com o form alism o dos pretensos juristas puros, encontra ainda hoje um número avulta-do de adeptos, até m esm o no m eio de culturalistas de mérito com o é o caso de Gustav Radbruch. O em inente mestre alem ão diz que a

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verdadeira e característica C iência Jurídica é essencialm ente siste­

mática e dogm ática, e a define com o “a c iê n c ia d o s e n tid o o b je tiv o

d o d ir e ito , ou d e q u a lq u e r o rd em ju r íd ic a p o s itiv a ”, discriminando estes seus pontos essenciais:

1.°) o seu objeto é constituído pela ordem jurídica positiva, pelo D ireito positivo;

2.°) não se ocupa com a vida do Direito; ocupa-se com as n o r ­

m a s ju r íd ic a s , e não com outros fatos que possam interessar ao m un­ do do Direito;

3.°) é uma ciência do sentido o b je tiv o e não do sentido s u b je ti­

v o do D ireito14.

9. Parece-nos que há exageros de parte a parte, tanto entre os

que identificam a Ciência Jurídica com a Dogm ática, quanto entre os outros que atribuem à Dogm ática um papel secundário, de mera apli­ cação de elem entos fornecidos pela C iência Jurídica.

A concepção da D ogm ática com o uma “arte”, ou “a explanação de um a arte”, im p ed e-n os d e penetrar no verdadeiro objeto da D ogm ática e é tão errônea com o a teoria que levanta uma barreira entre a C iência e a T écnica do Direito.

Cumpre distinguir dois m om entos na pesquisa do Direito, um

em conexão ou continuidade lógica com o outro: o d a e la b o r a ç ã o

cie n tífic a d o s p r in c íp io s e e stru tu ra s q u e fu n d a m e c o n d ic io n a m o s is te m a d a s n o rm a s p o sitiv a s', o d a in te r p re ta ç ã o , c o n s tr u ç ã o e s is ­ te m a tiz a ç ã o d a s n o rm a s d e d ir e ito p o r ta l m o d o p o s itiv a d a s .

Esses dois m om entos só podem ser separados por abstração, pois, na realidade, se interpenetram e intim am ente se ligam , de tal sorte que não há interpretação de texto de lei que não traga a resso­ nância dos fatos da vida concreta, nem apreciação de fatos que não sofra a refração do sistem a legal vigente. E is por que dam os um sentido relativo à distinção de G ény entre o “dado” e o “construído”.

D e maneira geral, porém, podem os dizer que a Ciência Jurídica tem com o início um contacto com os fatos, não para subir dos fatos

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até as normas — o que seria aplicar a indução no Direito com o se aplica nas ciências naturais — , mas para alcançar as leis e os princí­ pios com preensivos do fato social. Expliquem o-nos:

Embora as valorações não possam ser consideradas indepen­ dentes dos fatos, pois há sempre uma série de acontecim entos com o

su b stra c tu m dos dispositivos legais, a doutrina é hoje unânime em

reconhecer que é im possível passar do m u n d o d o s f a to s ao mundo do

d e v e r s e r ju r íd ic o . A norma não resulta apenas dos fatos, mas da atitude espiritual (adesão, reação etc.) assumida pelo hom em em face de um sistem a de fatos. Os fatos, por conseguinte, são causa indireta, condição material da lei que tem a sua fonte direta nos valores que atuam sobre a psique humana, sobre o espírito15.

Dessarte, não pode o jurista passar dos fatos à norma (e não há

norma jurídica que não exprima um d e v e r s e r , ainda m esm o quando

“é ” no sistem a do direito positivo), assim com o o físico passa dos fatos à lei (e não há lei nas ciências naturais que seja imperativa, isto é, que eticam ente obrigue), m as pode analisar os fatos para fixar os princípios científicos que devem presidir à feitura das leis, e, após a lei decretada, orientar a dinâm ica do direito positivo, preenchendo-lhe as inevitáveis lacunas.

D ir-se-á que essa é m issão da Política, da Sociologia Jurídica etc., mas a C iência Jurídica co-im plica a P olítica16 e, se a feitura das leis é problema P olítico por excelência, ou seja sócio-jurídico-políti-co, é bom lembrar que não pode deixar de ser questão técnica e for­ m alm ente jurídica.

A Dogm ática, portanto, deve ser entendida com o f a s e d a c i ê n ­

c ia d o D ir e ito , correspondente ao m om ento culm inante da Jurispru­ dência, àquele no qual os resultados da pesquisa — as normas e os

15. Daí a Improcedência do positivismo jurídico quando afirma, como no caso de Brugi, que “no vasto domínio da Jurisprudência, os fatos são a gênese das normas jurídicas”. Introduzione a lie scienze giu ridiche e sociali, Florença, 1891, p. 16. Quem admite que do fato puro e simples se origina o Direito não pode deixar de aceitar as conclusões de Spinoza sobre o “direito natural” que têm os peixes maiores de comer os menores, chegando, assim, à destruição do próprio Direito. Cf. Pekelis,

II diriíto com e volontà costante, Pádua, 1931, p. 78.

16. Vide o cap. V desta monografia e o meu livro O direito com o experiência,

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