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Stemarias: o uso da gamificação para inserção de jovens mulheres nas áreas STEM

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE PROCESSOS

INSTITUCIONAIS

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE PROCESSOS INSTITUCIONAIS

ACÁCIA JÉSSICA MAIA DE MOURA

STEMARIAS: O USO DA GAMIFICAÇÃO PARA INSERÇÃO DE JOVENS MULHERES NAS ÁREAS STEM

NATAL/RN 2020

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ACÁCIA JÉSSICA MAIA DE MOURA

STEMARIAS: O USO DA GAMIFICAÇÃO PARA INSERÇÃO DE JOVENS MULHERES NAS ÁREAS STEM

Dissertação apresentada ao curso de Pós-graduação em Gestão de Processos Institucionais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Gestão de Processos Institucionais.

Orientadora: Profa. Dra. Patrícia Borba Vilar

Guimarães.

Coorientadora: Profa. Dra. Adriana Carla

Silva de Oliveira.

NATAL/RN 2020

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Moura, Acácia Jéssica Maia de.

STEMarias: o uso da gamificação para inserção de jovens

mulheres nas áreas STEM / Acacia Jessica Maia de Moura. - Natal, 2020.

123f.: il. color.

Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Gestão de Processos

Institucionais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2020.

Orientadora: Profa. Dra. Patrícia Borba Vilar Guimarães. Coorientadora: Profa. Dra. Adriana Carla Silva de Oliveira.

1. Mulheres - Dissertação. 2. Trabalho - Dissertação. 3. STEM - Dissertação. 4. Papéis de Gênero - Dissertação. 5. Gamificação - Dissertação. I. Guimarães, Patrícia Borba Vilar. II. Oliveira, Adriana Carla Silva de. III. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 331-055.2

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ACÁCIA JÉSSICA MAIA DE MOURA

STEMARIAS: O USO DA GAMIFICAÇÃO PARA INSERÇÃO DE JOVENS MULHERES NAS ÁREAS STEM

Dissertação apresentada ao curso de Pós-graduação em Gestão de Processos Institucionais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de

Mestre em Gestão de Processos Institucionais.

Aprovada em: 05 / 10 / 2020

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ Profa. Dra. Patrícia Borba Vilar Guimarães

Orientadora - UFRN

________________________________________________ Prof. Dr. José Guilherme da Silva Santa Rosa

Membro interno - UFRN

________________________________________________ Profa. Dra. Cínthia Costa Kulpa

Membro externo – UFRGS

________________________________________________ Profa. Dra. Adriana Carla Silva de Oliveira

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Dedico essa pesquisa a todas as mulheres que forjaram quem hoje sou, e em especial, a minha Vó Mundinha, minha doce e eterna cúmplice.

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AGRADECIMENTOS

É chegado o momento de finalmente encerrar mais um ciclo importante da minha vida, alcançar o título de mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tenho orgulho de dizer que a trajetória até aqui me proporcionou ganhos não apenas acadêmicos, mas pessoais e profissionais. Essa caminhada foi repleta de muitas alegrias e preenchida pelas melhores companhias, dentro e fora de sala de aula. Nesse momento, gostaria de agradecer sinceramente a todos que contribuíram direta e indiretamente para esta conquista.

Primeiramente agradeço a Deus, por me abençoar com a fé e perseverança que permitiram que eu chegasse até aqui. Obrigada, Senhor, por mais uma vez se fazer presente na minha vida.

A toda minha família, em especial a minha amada esposa Camila Cirne, que não mediu esforços para me ajudar e sem a qual não seria possível alcançar essa conquista. Obrigada, meu amor, por todo apoio, carinho e paciência.

A minhas irmãs, Clícia e Maria Emília, pelo amor incondicional e por sempre acreditarem e apostarem em mim.

A todos os meus amigos, e em especial Isaac Newton e Suzane Borba, meus companheiros de aventura e minha família quando os meus não estão por perto.

A minha orientadora, Profa. Patrícia Borba, por toda confiança e incentivo. Sempre serena e com um sorriso no rosto. Sua sabedoria e sensatez são admiráveis.

A minha coorientadora, Profa. Adriana Carla Silva de Oliveira, por todas as valiosas contribuições e pela generosidade em dividir seus conhecimentos.

Ao professor José Guilherme da Silva Santa Rosa, que participou da qualificação e que, desde então, contribuiu tão positivamente para conclusão dessa pesquisa.

A professora Cínthia Costa Kulpa, pela gentileza e disponibilidade em integrar a banca examinadora.

A minha coordenadora, Lanissa Cristina F. de Medeiros Carvalho, e aos Pró-reitores, Prof. Dr. Edmilson Lopes e Prof. Dr. José Pereira, pelo apoio e pelo incentivo na minha busca por aprimoramento e qualificação profissional.

A todas as minhas colegas de profissão da Divisão de Assistência Social e Ações De Permanência - DASAP, Andreza, Brunila, Izala, Luciana, Maiara e Roza, pelo estímulo e suporte diários.

A minhas amigas da Coordenação de Políticas Estudantis – COPE /EAJ, Nazaré, Elaine, Ana e Marta, por todos os anos de trabalho e companheirismo.

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As estudantes da EAJ que contribuíram diretamente com esta pesquisa e sem as quais não seria possível a realização deste estudo. Minha admiração a vocês que, apesar de tão jovens, demonstram uma visão tão madura sobre o mundo e sobre a condição das mulheres em nossa sociedade. Certamente vocês contribuirão para construção de um futuro mais justo entre os gêneros.

Aos professores e servidores que compõem o Programa de Pós-Graduação em Gestão de Processos Institucionais, por investirem seus saberes e seu tempo na nossa qualificação. Muito obrigada pelos ensinamentos e pelas experiências trocadas dentro e fora da sala de aula.

Aos meus colegas da turma 2018.2 do MPPGI, por tornarem essa trajetória mais leve, divertida e prazerosa. Partilhar da companhia e dos conhecimentos de cada um de vocês fez toda a diferença.

Por fim, quero agradecer a todos aqueles que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho.

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“Foi pelo trabalho que a mulher cobriu em grande parte a distância que a separava do homem; só o trabalho pode assegurar-lhe uma liberdade concreta.”

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RESUMO

Este projeto tem como objetivo geral, promover a inserção feminina nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, pela proposição de um protótipo de jogo voltado para jovens mulheres que buscará ampliar seu conhecimento sobre modelos femininos nesses campos. Ao longo deste estudo, esses ramos do conhecimento foram denominados a partir do acrônimo STEM (em inglês Science, Technology, Engineering, and Mathematics). A pesquisa tem caráter exploratório e aplicado, pois procurou promover embasamento teórico, seguido pela proposição de uma solução prática para problemática apresentada. Nessa direção, este projeto apresenta, primeiramente, o referencial teórico, elaborado a partir de livros, artigos, e dados que embasaram o entendimento de fatores relacionados à inserção de mulheres nas áreas STEM. Inicialmente, foi delineada a condição histórica das mulheres no mundo do trabalho e as disparidades de gênero nesse contexto. Em um segundo momento, foi retratada a situação das mulheres em relação à qualificação profissional em nível universitário, em especial sua ocupação nos cursos das áreas STEM. Posteriormente, foram apresentados fatores correlatos à interação de jovens mulheres com STEM, com especial enfoque sobre a influência em meio à ausência de modelos femininos nessas áreas. Uma vez realizado o levantamento bibliográfico, foi adotado o método Design Participativo, aplicado junto a sete alunas do ensino médio da Escola Agrícola de Jundiaí, com o objetivo de dar subsídios à elaboração do conteúdo do protótipo de jogo. Os dados gerados na pesquisa apontaram que o fortalecimento da representatividade e do empoderamento feminino em STEM são meios de estímulo à inserção de jovens mulheres nessas áreas. A partir dos resultados levantados, foi possível o emprego da gamificação e desenvolvimento do protótipo de jogo apresentado ao final deste estudo.

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ABSTRACT

This project has the general objective of promoting female insertion in the areas of science, technology, engineering and mathematics, by proposing a prototype of a game aimed at young women that will seek to expand their knowledge about female models in these fields. Throughout this study, these branches of knowledge were named after the acronym STEM (in English Science, Technology, Engineering, and Mathematics). The research has an exploratory and applied character, as it sought to promote a theoretical basis, followed by the proposition of a practical solution to the problem presented. In this direction, this project presents, first, the theoretical framework, elaborated from books, articles, and data that supported the understanding of factors related to the insertion of women in the STEM areas. Initially, the historical condition of women in the world of work and the gender disparities in this context were outlined. In a second step, the situation of women in relation to professional qualification at the university level was portrayed, especially their occupation in courses in the STEM areas. Subsequently, factors related to the interaction of young women with STEM were presented, with a special focus on the influence of the absence of female models in these areas. Once the bibliographic survey was carried out, the Participative Design method was adopted, applied to seven high school students at the Escola Agrícola de Jundiaí, with the objective of providing subsidies to the elaboration of the content of the game prototype. The data generated in the research pointed out that the strengthening of female representation and empowerment in STEM are means of stimulating the insertion of young women in these areas. From the results obtained, it was possible to use the gamification and development of the game prototype presented at the end of this study.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Quadro de Lembretes... 59 Figura 2 – Diagrama de Afinidades... 63

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Contingente de mulheres economicamente ativas na França no início do século XX ... 27 Gráfico 2 –

Gráfico 3 –

Contingente de mulheres economicamente ativas na Inglaterra em meados do século XX... Rendimento médio mensal da população ocupada no Brasil no terceiro trimestre de 2019... 28 30 Gráfico 4 – Gráfico 5 – Gráfico 6 – Gráfico 7 – Gráfico 8 – Gráfico 9 – Gráfico 10 – Gráfico 11 –

Distribuição por sexo entre os vinte maiores cursos em número de matrícula... Representatividade feminina nos cursos STEM no Brasil... Ingressantes nas cinco instituições com mais alunos na área de computação por sexo... Percentual de mulheres concluintes em cursos STEM no Brasil... Representatividade Feminina na Força de Trabalho STEM no Brasil em 2015... Impacto da presença de modelos femininos em STEM... Fontes de referências de mulheres em STEM... Projeção de carreira nas áreas STEM...

34 36 36 37 38 45 61 61

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LISTA DE SIGLAS CAPES CBO CONSUNI COPE COVID-19 DP EAJ EBTT IBGE INEP LGBTQ+ MEC MPPGI OBR ONU PNAD PNADC/T PROAE RN SIGAA STEM TAGVRI TCLE TI UECIA UFRN

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Classificação Brasileira de Ocupação

Conselho Universitário

Coordenação de Políticas Estudantis

Coronavirus Disease 2019

Design Participativo Escola Agrícola de Jundiaí

Ensino Básico, Técnico e Tecnológico Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Queer Ministério da Educação

Mestrado Profissional em Gestão de Processos Institucionais Olimpíada Brasileira de Robótica

Organização das Nações Unidas

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral Pró-reitoria de Assuntos Estudantis

Rio Grande do Norte

Sistema Integrado de Gestão de Atividades

Science, Technology, Engineering and Mathematics

Termo de Autorização para Gravação de Voz e Registro de Imagens Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Tecnologia da informação

Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 16

1.1CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA ... 16

1.2 JUSTIFICATIVA ... 19

1.3 OBJETIVOS ... 22

1.3.1 Objetivo Geral ... 22

1.3.2 Objetivos Específicos ... 22

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 23

2.1 TRABALHO: FUNDANTE DO SER SOCIAL, VIA DE LIBERTAÇÃO ... 23

2.2 DISPARIDADES DE GÊNERO NO TRABALHO: UMA BREVE RETOMADA HISTÓRICA ... 25

2.3 AVANÇOS E LIMITES NOS CAMINHOS À QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DAS MULHERES NO BRASIL ... 31

2.4 SUB-REPRESENTAÇÃO FEMININA EM STEM: ALGUNS FATORES DETERMINANTES ... 39

2.4.1 A ausência de modelos femininos em STEM e seus efeitos ... 44

2.5 NINACODE: UMA INICIATIVA DE PROMOÇÃO DA INCLUSÃO FEMININA EM STEM.... ... 47

3 METODOLOGIA ... 48

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MÉTODO DA PESQUISA ... 48

3.2 GAMIFICAÇÃO ... 49

3.3 DESIGN PARTICIPATIVO ... 51

3.4 GRUPO FOCAL ONLINE ... 53

3.5 DIAGRAMA DE AFINIDADES ... 54

3.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 55

3.6.1 Coleta dos Dados ... 55

3.6.2 Análise dos Dados ... 60

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 64

4.1 VISÃO SOBRE MULHERES EM STEM ... 64

4.2 SOBRE AS BARREIRAS ... 65

4.3 SOBRE AS SOLUÇÕES ... 67

4.3.1 Sobre o Empoderamento ... 69

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4.4 EXPECTATIVAS SOBRE O JOGO ... 72

4.5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 75

4.6 DESENVOLVENDO O PROTÓTIPO DO JOGO ... 80

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 82

REFERÊNCIAS ... 85

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1 INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta a contextualização do tema abordado, o problema de pesquisa, além de expor os objetivos geral e específicos e a justificativa deste estudo.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA

Em uma perspectiva histórica, mulheres e homens nunca partilharam o mundo em igualdade de condições. Na atualidade, mesmo diante de uma evolução da condição feminina, as mulheres permanecem por arcar com pesadas desvantagens, construídas e alicerçadas em uma sociedade ainda demarcada pela desigualdade de gênero. A trajetória das mulheres no mundo do trabalho foi, na mesma medida, caracterizada por disparidades de gênero. Por longos períodos, foi relegado as mulheres o lugar de subserviência ou mesmo servidão. A elas, se destinavam todo trabalho menos nobre, além de ser negado o direito à vida pública (BEAUVOIR, 1949; SAFFIOTI, 1976; ALVES; PITANGUY, 1991).

Apesar da histórica presença da mulher no mundo laboral, mudanças mais significativas em termos de crescimento do percentual feminino entre a população economicamente ativa aconteceram apenas no século XX. Contudo, este crescimento não representou por si um desenvolvimento real no quesito trabalho para as mulheres, ao simbolizar, na mesma medida, um ferrenho processo de precarização a partir da reestruturação produtiva, que encontrou na feminização do trabalho, forma de reordenação das relações laborais, caracterizadas neste contexto pela flexibilização e informalização (NOGUEIRA, 2004).

Na contemporaneidade, o marco da persistente desigualdade entre homens e mulheres no mundo do labor fica evidente, entre outros fatores, pela média de remuneração de cada um desses grupos da população. No Brasil, no ano de 2019, a média salarial das mulheres foi de 78,4% em relação aos homens1.

Em um sentido mais amplo, o desequilíbrio das relações de gênero se manifesta, ainda, mediante o fato de que áreas de poder como a Política, a Economia, as Engenharias e as Ciências Exatas, permanecem predominantemente ocupadas por homens. Essa realidade

1 BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia Estatística -

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua Trimestral - PNADC/T. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pnadct/tabelas. Acesso em: 22 fev. 2020.

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tem sofrido críticas na perspectiva de que, para promoção do desenvolvimento humano e construção de economias mais justas e inclusivas, a paridade de gênero nas diversas áreas da vida social é meio indispensável ao progresso da sociedade moderna2.

Esforços tem sido empregados no sentido de promover mudanças sociais mais profundas que possibilitem o desenvolvimento de uma sociedade mais justa para gerações futuras. Um exemplo desse empenho se encontra materializado no documento “Reformando Nosso Mundo: Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, formulado pela ONU no ano de 2015. O referido texto se configura como um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, estruturado a partir de 17 objetivos e 169 metas, que visam o alcance do desenvolvimento sustentável nas dimensões econômica, social e ambiental, de forma equilibrada e integrada. Tais objetivos e metas buscam, essencialmente, concretizar os direitos humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento feminino. (ONU, 2016).

A agenda apresenta, portanto, como seu Objetivo 5, alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Entre as metas dispostas a partir deste objetivo, se encontram “5.5 Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública”, além do propósito de “5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres” (ONU, 2016).

Em paralelo, as atuais teorias sobre crescimento econômico prenunciam que a capacidade das nações em promover prosperidade material de forma sustentável é determinada pela capacidade de sua força de trabalho em gerar e manipular novas tecnologias. Nessa medida, o fortalecimento do capital humano pressupõe acúmulos na forma de educação e treinamento no trabalho. Sobre essa realidade, duas tendências são verificadas. A primeira delas é a crescente demanda mundial por educação em nível terciário. A segunda é a “[...] preocupação, por parte de governantes e administradores, com a educação e o trabalho nas atividades de aplicação direta de ciência e tecnologia, porque são atividades que rendem melhores frutos em termos de crescimento econômico.” (CUSTODIO; BONINI, 2019, p. 83). Países com economias fortemente baseadas nas atividades STEM, apresentam melhor desempenho em indicadores, como criação de empregos e inovação tecnológica. Dados apontados pela U.S. Bureau of Labor Statistics, evidenciam que as áreas tecnológicas serão

2 GENEBRA. WORLD ECONOMIC FORUM. Global Gender Gap Report 2020. Disponível em:

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campo de maior crescimento em número de empregos até 2030 (MICROSOFT, 2018). Entretanto, algumas características marcam a força de trabalho nessas áreas, entre elas, a reduzida participação feminina.

De acordo com dados da Unesco3, menos de 30% dos profissionais do mundo da área de Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática – conhecidas como STEM4 - são mulheres. Em um cenário de acelerado crescimento de demanda por profissionais com qualificação STEM e consequente aumento salarial, a partir da relação oferta x procura, as mulheres figuram como coadjuvantes nesse mercado proeminente. Diversos estudos descobriram que mulheres atuantes nestes campos publicam menos, recebem menos por suas pesquisas e não progridem tanto quanto os homens em suas carreiras5. Em termos de formação, no Brasil, entre os anos de 2009 e 2017, os cursos superiores correspondentes as áreas STEM, tiveram média de ocupação feminina de apenas 30%, destoando de uma ocupação universitária feminina total de cerca de 60% em 2017 (OKAWATI E BONINI, 2019).

A questão que surge a partir deste cenário e enquanto problema desta pesquisa é:

considerando a necessidade de superação da desigualdade de gênero no mundo do trabalho, e em especial, nas proeminentes carreiras STEM, como é possível promover a inserção de jovens mulheres nesse campo?

Mediante o referido problema de pesquisa, o caminho tomado por este estudo se inicia com o delineamento de fatores que contribuem para o afastamento de jovens mulheres dos campos STEM (por meio de pesquisas e dados já existentes sobre o tema), seguido pela busca da elaboração de formas de tratamento para tais questões. Parte-se, portanto, da hipótese de que é possível traçar um panorama que permita uma melhor compreensão das causas que influenciam o distanciamento feminino das áreas STEM, e a partir disto, propor formas de enfrentamento a esta realidade. Nessa medida, para consecução do objetivo geral desse estudo, definiu-se como público alvo jovens mulheres estudantes do ensino médio, considerando esta fase como momento de escolha de carreira.

Para tanto, em termos de metodologia, a presente pesquisa se configura como exploratória, na medida em que se busca maior familiaridade com o tema (GIL, 2002), além

3 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. UNESCO. Institute of Statistics. Womens in science. Disponível

em: http://uis.unesco.org/en/topic/women-science. Paris. Acesso em: 17 mar. 2020.

4 STEM é um acrônimo em inglês usado para designar as quatro áreas do conhecimento: Ciências, Tecnologia,

Engenharia e Matemática (em inglês Science, Technology, Engineering, and Mathematics).

5 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. UNESCO. Institute of Statistics. Womens in science. Disponível

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de assumir o caráter de pesquisa aplicada, ao propor a elaboração de uma solução prática ao problema em questão (FLEURY; WERLANG, 2016).

Para este fim, este estudo foi estruturado com base em um referencial teórico, através do qual se buscou delinear a condição histórica das mulheres no mundo do trabalho e as disparidades de gênero presentes nesse contexto. Em seguida, abordou-se a situação das mulheres em relação a qualificação profissional em nível universitário, com especial atenção aos índices de ocupação feminina dos cursos das áreas STEM. Posteriormente, retratou-se fatores que influenciam a relação de meninas e mulheres com ciência e tecnologia, dando principal enfoque aos aspectos socioculturais, balizados pelos papéis de gênero e reafirmados pela ausência de modelos femininos nesses campos. Uma vez munida do arcabouço teórico, a pesquisadora lançou mão do método Design Participativo, a fim de promover subsídios para elaboração do produto proposto pelo projeto, conforme previsto no contexto do mestrado profissional. Enquanto estudo de abordagem qualitativa, os dados foram coletados a partir da técnica de grupo focal online, aplicada junto a um grupo de sete alunas do ensino médio da Escola Agrícola de Jundiaí.

1.2 JUSTIFICATIVA

Superar a desigualdade de gênero, notadamente no mundo do trabalho, é corroborar para o adiantamento de questões sociais significativas. Para que as mulheres possam assumir a condição de agente de mudança com voz ativa, se faz necessário o fortalecimento e consolidação do seu potencial de liberdade e autonomia.

[...] Há provas abundantes de que, sempre que as disposições sociais diferem da prática tradicional da propriedade masculina, as mulheres conseguem tomar iniciativas nos negócios e na economia com grande êxito. Está claro que o resultado da participação feminina não é meramente a geração de renda para as mulheres, mas também a provisão dos benefícios sociais decorrentes de status mais elevado e da independência feminina (incluindo a redução das taxas de mortalidade e fecundidade, que acabamos de discutir). Assim, a participação econômica das mulheres é tanto uma recompensa em si (com a redução associada do viés contra o sexo feminino na tomada de decisões familiares) como uma grande influência para mudança social em geral. (SEN, 2010, p. 261.)

Aspectos como instrução e rendimentos exercem contribuição significativa para transformação da situação das mulheres na sociedade. À medida que se afirma a valorização feminina em termos de trabalho e remuneração, outros avanços são alcançados sobre

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desenvolvimento humano de forma geral (não sofrer fome, doença ou outras privações relativas). Nessa medida, o incremento no que se refere a instrução, trabalho e remuneração femininos, é tanto um ganho em si, como uma grande influência para o avanço social geral.

Em uma sociedade onde o reconhecimento social se dá pelas vias do trabalho e do sucesso profissional, não garantir às mulheres o acesso a saberes transversais ao mundo laboral é reafirmar sua condição de subordinação, na medida que os avanços tecnológicos invadem os mais diversos campos de atuação profissional, de forma direta ou indireta. Ademais, sem a inclusão do talento de metade da população mundial, não será possível o progresso econômico e social pretendido para toda a sociedade, além de comprometer os avanços econômicos possíveis a partir de maior prosperidade compartilhada, meio para o alcance dos objetivos de desenvolvimento propostos internacionalmente.

Diante deste cenário, faz-se mister frisar que a exclusão de mulheres das áreas STEM não é algo natural e, sim parte de um processo construído historicamente. Esta realidade é reflexo de um longo processo cultural constituído e afirmado socialmente. Por muito tempo, crianças foram educadas sob o preconceito de que meninos são naturalmente melhores em matemática e ciência, enquanto meninas são melhores em linguagens. Este processo cultural, aparentemente sutil, marca estereótipos prejudiciais que levaram a uma disparidade histórica no desempenho de meninas e meninos em todo o mundo.

A cultura machista instituída e legitimada na atual sociedade é responsável por ditar normas, aqui retratadas como papéis de gênero, que são reproduzidas sem que haja questionamentos ou reflexão crítica. Essa reprodução acontece entre os grupos sociais, mídias, em instituições de ensino, chegando de forma determinante também ao mundo do trabalho. Expectativas desde que cor de roupa usar, ou mesmo que profissão seguir, são circunscritas pela condição do sexo biológico dos indivíduos. Estas cercam e limitam alternativas e potencialidades, ao passo que demarcam o que é próprio de homens e mulheres. À medida que se preestabelecem tais papéis, os estímulos ficam limitados apenas ao que é próprio do gênero.

Razões históricas explicam a menor presença feminina em áreas tradicionalmente ocupadas por homens, especialmente nos setores das engenharias e na pesquisa tecnológica aplicada. Não se pode superar, do dia para a noite, marcos culturais que impuseram às mulheres restrições no universo de escolhas profissionais socialmente chanceladas. Os grupos sociais tendem a fazer escolhas baseadas na tradição e na experiência acumulada. […] A ideologia da natureza feminina, que nos associa aos atributos de docilidade e submissão, criou uma cortina de fumaça que obscureceu as formas de viver das mulheres. (MELO; LASTRES; MARQUES, 2003, p. 27.)

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A proposta de uma leitura crítica sobre este debate, perpassa a desnaturalização dos papéis de gênero, compreendendo-os não como naturais, mas como uma construção histórico-social que culminou no estabelecimento de uma cultura sexista.

Nessa medida, e diante de toda a problemática apresentada, o movimento de ‘desconstrução’ de uma realidade historicamente estruturada é processo que demanda um olhar que vá além do senso comum compartilhado em sociedade.

Para o alcance de mudanças significativas no que se refere a desigualdade de gênero, se faz necessário compreender que fatores contribuíram para esta realidade de tanta disparidade. Para tanto, nesse estudo, se explana a condição histórica da mulher no mundo do trabalho, encontrando no debate de gênero raízes que fizeram brotar a histórica condição de subordinação da mulher neste contexto. Ressalta-se, ainda, o papel central do trabalho no desenvolvimento humano, enquanto via de reconhecimento social e intelectual.

Posteriormente, esse estudo aponta os caminhos traçados pelas mulheres na busca por qualificação profissional e, neste contexto, a baixa ocupação feminina nos cursos de formação STEM. A partir deste fato, propõe-se uma reflexão acerca dos fatores socioculturais que interferem na formação de meninos e meninas e como essa formação, balizada pelos papéis de gênero, se relaciona com o desenvolvimento de capacidades e escolhas profissionais, além de delimitar espaços a serem ocupados por cada gênero no mercado de trabalho. Nessa direção, foi identificado que, entre as raízes socioculturais da sub-representação feminina em STEM, a ausência de modelos femininos nesses campos é fator de significativa relevância para o afastamento de jovens mulheres dessas áreas.

Ao transcender ideais pré-estabelecidos sobre o lugar que mulheres e homens devem ocupar e/ou papéis que devem exercer como algo natural e intrínseco, avança-se na compreensão de que o gênero não predetermina as competências dos indivíduos. Na mesma medida, observar questões que se relacionam com o distanciamento feminino dos campos STEM, é forma de considerar os fatores que interferem e determinam a relação das mulheres com essa área, ao invés de responsabilizá-las pela baixa ocupação desses espaços. Diante disto, torna-se evidente a necessidade de fomento à inserção de jovens mulheres nas áreas tecnológicas para que no futuro, estas mulheres possam se inserir nos mais diversos espaços de trabalho sem que seu gênero determine limites à sua atuação.

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1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Promover a inserção feminina em STEM por meio da proposição de um protótipo de jogo voltado para jovens mulheres estudantes do ensino médio, que apresentará informações sobre modelos femininos nesses campos.

1.3.2 Objetivos Específicos

 Realizar levantamento bibliográfico sobre as temáticas de gênero no mundo do trabalho e da formação profissional, com especial enfoque a ocupação de mulheres nas áreas STEM;

Elencar fatores que influenciam a não adesão feminina as áreas STEM;

 Conhecer, selecionar e empregar ferramentas oriundas do método Design Participativo, a serem aplicadas junto a estudantes do gênero feminino do ensino médio da Escola Agrícola de Jundiaí;

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo é destinado a apresentação do levantamento bibliográfico realizado, a partir da literatura científica e de dados relativos ao tema, no intuito de compreender os fatores que se relacionam com o problema de pesquisa, bem como o contexto em que esse estudo está inserido.

2.1 TRABALHO: FUNDANTE DO SER SOCIAL, VIA DE LIBERTAÇÃO

O trabalho ocupa, historicamente, lugar de centralidade na vida humana, permanecendo na atualidade como grande impulsionador do desenvolvimento humano. No labor, os indivíduos encontram vias para sua reprodução material e social, além de desenvolver suas capacidades intelectuais. O caráter essencialmente social do trabalho é ponto de partida para compreensão sobre a vida em sociedade, bem como sobre o desenvolvimento da sociabilidade humana.

Marx (1996) apresenta a compreensão de que o trabalho é mediador essencial da relação homem/natureza, e assinala assim, a passagem do ser meramente biológico para o ser social. Na interação com a natureza externa, mediada pela transformação das mais diversas matérias-primas em recursos úteis a sua própria vida, o ser humano modifica sua própria natureza, desenvolvendo potencialidades nela antes adormecidas. O trabalho demarca ainda, a condição de humano a partir do seu caráter essencialmente teleológico, como argumenta o referido autor.

O que distingui, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho, obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto, idealmente. (MARX, 1996, p. 298.)

Em sua interação teleológica, os indivíduos produzem valores de uso através do metabolismo universal determinado pela sua relação com a natureza, apropriação necessária a satisfação das necessidades humanas. Nessa medida, Holanda (2002, p. 14.) afirma que “formas mais desenvolvidas da práxis humana passaram a existir desde que o trabalho se tornou social, ou seja, desde que para realizar determinadas atividades o homem passou a necessitar da cooperação de mais pessoas”. Compreende-se, portanto, que a atividade laboral é fonte de aperfeiçoamento das habilidades humanas, na mesma medida em que proporciona o

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desenvolvimento de sua sociabilidade. O trabalho ocupa, portanto, lugar de desenvolvimento intelectual, moral e social.

De acordo com Heller (1989), o ser humano se objetiva na vida cotidiana das mais diversas formas, através do trabalho, da linguagem, dos hábitos, da política etc. Dialogando com a obra marxista, a referida autora apresenta o trabalho como via de objetivação humana no desenvolvimento de sua sociabilidade, pela universalidade, pela consciência e pela liberdade, apresentando-se ainda como forma de realização das potencialidades natas do ser humano. Pelas vias do trabalho, se garante a auto reprodução humana, na medida em que, de maneira indireta, se reproduz a sociedade. Estabelece-se, portanto, uma relação direta entre a reprodução física e o desenvolvimento das mais altas formas de genericidade.

Nesse sentido, pode-se concluir que por meio do trabalho os indivíduos desenvolvem suas capacidades, bem como sua sociabilidade, além de prover suas necessidades materiais. Isso atribui ao trabalho lugar de centralidade na vida humana, o que não é menos determinante nas relações de gênero. De acordo com Beauvoir, mesmo após conquistar algumas liberdades cívicas (como o direito ao voto, por exemplo), tais liberdades permanecem abstratas, à medida que não são acompanhadas de autonomia econômica.

Beauvoir (1949, p. 449.) afirma que:

Foi pelo trabalho que a mulher cobriu em grande parte a distância que a separava do homem; só o trabalho pode assegurar-lhe uma liberdade concreta. Desde que ela deixa de ser parasita, o sistema baseado em sua dependência desmorona; entre o universo e ela não há mais necessidade de um mediador masculino. [...] produtora, ativa, ela reconquista sua transcendência; em seus projetos afirma-se concretamente como sujeito; pela sua relação com o fim que visa, com o dinheiro e os direitos que se apropria, põe a prova sua responsabilidade.

Dentro do contexto de uma sociedade capitalista, o trabalho se apresenta como principal mercadoria e mecanismo de geração de valor (CARDOSO, 2011). Nessa medida, ao adentrar o mundo do trabalho, a mulher desloca seu lugar nessa sociedade, ainda que de forma iminente.

A inserção nos diversos espaços de trabalho é ainda um limite imposto às mulheres, que enfrentam desafios desde sua organização familiar à sua instrução formal. Os papéis de gênero atribuídos a mulher e ao feminino determinam limites claros sobre quais lugares ela pode ocupar dentro do mercado de trabalho. A expansão do uso da tecnologia nas mais diversas áreas evidencia fortemente essa realidade. O mercado de trabalho, que vem avançando tecnologicamente, é também espaço de afirmação da presença das mulheres

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enquanto sujeitos capazes de se desenvolver e obter sucesso em um patamar equânime ao realizado pelos homens.

2.2 DISPARIDADES DE GÊNERO NO TRABALHO: UMA BREVE RETOMADA HISTÓRICA

Partindo do conceito genérico de trabalho, enquanto categoria fundante do ser social e espaço de promoção material e intelectual da humanidade, será lançado um olhar sobre a relação entre as mulheres e esse mundo do trabalho, considerando as especificidades dessa relação, muitas vezes ignoradas, subjugadas ou naturalizadas.

É sabido que as mulheres nunca estiveram alheias ao trabalho. É possível reconhecer em todas as épocas e lugares sua contribuição para subsistência familiar ou mesmo criação de riquezas sociais, como apontado por Saffioti (1976). Buscando analisar essa relação, é possível se deparar com uma realidade historicamente colocada, onde mulheres na cultura da Grécia antiga ocupavam lugar de subserviência ou mesmo servidão, sendo comparada a posição do escravo, executoras de trabalhos manuais e extremamente desvalorizados (ALVES; PITANGUY, 1991). À mulher estava delegado todo trabalho menos nobre, além da sua função primordial na garantia da reprodução da espécie humana. “[...] A mulher não só gerava, amamentava e criava os filhos, como produzia tudo aquilo que era diretamente ligado à subsistência do homem: fiação, tecelagem, alimentação.” (ALVES; PITANGUY, 1991, p.12). Ao passo que aos homens cabiam as funções “fora de casa”, onde eram desenvolvidas as atividades de status nobre, ligadas a política, as artes e a filosofia.

A participação da mulher na esfera extradomiciliar esteve historicamente ligada à ocorrência de guerras, e por esta razão, ao afastamento masculino. Ainda de acordo com Alves e Pitanguy (1991, p. 16), durante os primeiros séculos da Idade Média, as mulheres gozavam de alguns direitos (garantidos por lei e por costumes) que lhes permitiam o acesso a quase todas as profissões, bem como o direito à propriedade e à herança. Isso se deve ao fato de que durante a Idade Média havia uma disparidade na distribuição demográfica por sexo, predominando o contingente feminino adulto. Os homens estavam constantemente afastados pelo envolvimento em guerras, longas viagens ou ainda dedicados ao monasticismo. As mulheres, portanto, na ausência dos homens, assumiam a responsabilidade sobre os negócios de família, sendo necessário, por exemplo, entender de contabilidade. Apesar desta incipiente inserção no mundo do trabalho “fora de casa”, muitas mulheres permaneciam dedicadas as

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atividades entendidas como indústria doméstica (produção de alimentos e tecelagem, por exemplo) para garantia ou complementação da renda familiar.

Mesmo diante da possibilidade de ocupar alguns postos de trabalho titularizados pelos homens, é importante salientar que:

[...] o trabalho feminino sempre recebeu remuneração inferior ao do homem. Esta desvalorização, por outro lado, provocou a hostilidade dos trabalhadores homens contra o trabalho da mulher, pois a competição rebaixava o nível salarial geral. Assim, em determinados períodos, sugiram restrições à participação da mulher no mercado de trabalho, como em Londres, no ano de 1344, quando a corporação de alfaiates proibiu seus membros de empregarem mulheres que não fossem suas esposas ou filhas. (ALVES; PITANGUY, 1991, p. 18.)

A condição das mulheres na sociedade a este período era de exclusão sobre as decisões sociais, estando elas a mercê de disposições políticas que não as comtemplavam.

No período renascentista, a condição da mulher na sociedade, e em especial no campo do trabalho, sofre retrocessos:

[...] É justamente durante esse período, quando o trabalho se valoriza como instrumento de transformação do mundo pelo homem, que o trabalho da mulher passa a ser depreciado. Alijada concretamente de determinadas profissões, tece-se também todo uma ideologia de desvalorização da mulher que trabalha. (ALVES; PITANGUY, 1991, p. 26.)

Em todo caso, é possível reconhecer que, nas economias pré-capitalistas, o trabalho da mulher esteve presente, pois nesses períodos, a família existia não apenas como unidade familiar doméstica, mas como unidade de produção, onde mulheres e crianças ocupavam papel econômico de suma importância.

Sendo a família a unidade econômica por excelência nas sociedades pré-capitalistas, a atividade trabalho é também desempenhada pelas mulheres das camadas menos privilegiadas. Embora não se possa falar em independência econômica da mulher (esta é uma noção individualista que nasce com o capitalismo), pois o trabalho se desenvolvia no grupo familiar e para ele, o mundo econômico não era estranho à mulher. (SAFFIOTI, 1976, p. 33.)

É possível afirmar, portanto, que não houve afastamento da mulher da esfera do trabalho ao longo da história, mas sim formas diversas de inclusão na mesma.

A mudança dos moldes de produção demarcadas pela revolução industrial marca também mudanças no trabalho das mulheres. As tarefas, antes executadas em domicílio, são transferidas para o espaço das fábricas, fazendo crescer exponencialmente o contingente de mão-de-obra operária feminina, submetida a terríveis condições de trabalho (extenuantes jornadas de trabalho, entre 14 e 18 horas diárias, além de considerável diferença salarial em

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relação aos homens). Para além, às mulheres eram delegadas tarefas subordinadas, considerando que “a deterioração da formação profissional feminina, que vinha se processando a partir do Renascimento, vem delegar-lhe, em geral, as tarefas menos qualificadas e mais subalternas da produção fabril.” (ALVES; PITANGUY, 1991, p. 38.)

O contingente feminino que trabalhava nas fábricas teve especial crescimento durante os períodos das grandes guerras. Na França, durante a Primeira Guerra Mundial, como nos aponta Saffioti (1976, p. 45.), o número de mulheres economicamente ativa sofreu grande elevação, como evidenciado no Gráfico 1.

Esse aumento, entretanto, não se manteve após o fim da guerra, regredindo o trabalho feminino aos níveis anteriores.

Gráfico 1 – Contingente de mulheres economicamente ativas na França no início do século XX

Fonte: SAFFIOTI, 1976.

Repetindo o mesmo movimento, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, na Inglaterra o contingente de mulheres trabalhadoras voltou a crescer em um percentual de 40%, (vide Gráfico 2). Diante da ausência de mão-de-obra masculina em virtude da guerra, as mulheres foram provocadas a trabalhar, mesmo que em tempo parcial. Alguns anos após a guerra, o emprego da força de trabalho feminina sofre redução para novamente elevar-se a partir da década de 1960, quando na Inglaterra as mulheres representavam aproximadamente um terço da população economicamente ativa.

Entretanto, é importante salientar quais posições essas mulheres ocupavam no mercado de trabalho. “Acontece que a qualificação de sua força de trabalho ou já se esvaíra

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completamente ou se encontrava desatualizada. Nestas circunstâncias, são as mulheres levadas a aceitar posições subalternas e precariamente remuneradas” (SAFFIOTI, 1976, p. 47.).

Gráfico 2 – Contingente de mulheres economicamente ativas na Inglaterra em meados do século XX

Fonte: SAFFIOTI, 1976.

No Brasil, em meados do século XIX, a partir do processo de urbanização e expansão industrial no país, é possível notar participação substancial das mulheres no mercado de trabalho. Em meio ao movimento de substituição da mão-de-obra escrava pela força de trabalho de homens e mulheres imigrantes, era significativa a presença de mulheres e crianças, enquanto força de trabalho abundante e barata (RAGO, 2009).

Excluídas das indústrias metalúrgicas, de calçados e mobiliário, as mulheres ocupavam nesse período, quase metade dos postos de trabalho na indústria de fiação e tecelagem, com aproximadamente 49,95% do corpo operário têxtil, ramo que possuía escassa mecanização. Entretanto, essa presença no mercado de trabalho e em alguma medida na vida pública pressupunha muitos impedimentos e dificuldades para as mulheres dessa época.

As barreiras enfrentadas pelas mulheres para participar do mundo dos negócios eram sempre muito grandes, independentemente da classe social a que pertencessem. Da variação salarial à intimidação física, a desqualificação intelectual ao assédio sexual, elas tiveram sempre de lutar contra inúmeros obstáculos para ingressar em um campo definido – pelos homens – como “naturalmente masculino”. Esses obstáculos não se limitavam ao processo de produção; começavam pela própria hostilidade com que o trabalho feminino fora do lar era tratado no interior da família. Os pais desejavam que as filhas encontrassem um “bom partido” para casar e assegurar o futuro, e isso batia de frente com as aspirações de trabalhar fora e obter êxito em

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suas profissões. Não socializar informações importantes era uma boa estratégia, e os homens se valiam dela procurando preservar seu espaço na esfera pública e desqualificar o trabalho feminino. (RAGO, 2009, p. 581.)

Diante da hostilidade imposta e em um processo semelhante ao europeu, a presença da força de trabalho feminina no Brasil sofre oscilação. O anterior crescimento do percentual de mulheres nos postos de trabalho, chegando a 76% da força de trabalho nas fábricas no ano de 1872, é seguido por um processo de expulsão progressiva das mulheres e substituição pela mão de obra masculina, reduzido a 23% da força de trabalho no ano de 1950.

Rago (2009) aponta ainda que se pregava que o trabalho da mulher fora de casa destruiria a família, pois a mulher deixaria de ser mãe dedicada e esposa carinhosa se trabalhasse fora do lar, ou mesmo que o trabalho provocaria o desinteresse pelo casamento e pela maternidade. Ao que se pode notar, a incorporação das mulheres ao mercado de trabalho e à esfera pública de modo geral, trouxe à tona temas da vida privada, como adultério, virgindade, casamento e prostituição. “Enquanto o mundo do trabalho era representado pela metáfora do cabaré, o lar era valorizado como o ninho sagrado que abrigava a ‘rainha do lar’ e o ‘reizinho da família’” (RAGO, 2009, p. 588.). Entre críticas de ordem moral e profissional, a ocupação do mercado de trabalho pela figura feminina se configura, portanto, como ato de constante resistência e luta pela emancipação das mulheres.

O período entre as décadas de 1920 e 1980 no Brasil marca novamente uma crescente participação feminina. De acordo com Nogueira (2004, p. 67.), as mulheres a essa época, além de trabalharem na indústria (especialmente têxtil, como apresentado anteriormente) ocupavam posições ditas como tradicionalmente femininas, atuando no magistério, no comércio, na enfermagem, no setor de telefonia e ainda nos serviços pessoais como cabeleireiras, lavadeiras e manicures.

A segunda metade do século XX foi marcada pelo processo de reestruturação produtiva, resultado da crise dos modelos de produção capitalista anteriores (fordismo/taylorismo). A flexibilização do trabalho, a informalização (trabalho sem registro em carteira) e uma consequente perda das conquistas trabalhistas caracterizam novas faces do mundo do trabalho. Um dos traços centrais dessa reordenação das relações laborais é o intensivo crescimento do trabalho feminino, ao que Nogueira (2004) denomina de

feminização do trabalho, o que se evidencia também na realidade brasileira, guardadas

algumas especificidades. No Brasil, tal processo é mais evidente a partir da década de 1990. O crescimento do percentual feminino entre a população economicamente ativa não representa, por outro lado, um desenvolvimento real no mundo do trabalho para mulheres,

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pois traz consigo um ferrenho processo de precarização. Dentre os dados apresentados por Nogueira (2004, p. 71.) que evidenciam esse fato, pode-se destacar que “[...] a mulher é majoritária em todos os setores de atividades cuja remuneração está estipulada em até dois salários-mínimos e de modo inverso à medida que os valores salariais vão elevando-se”. Outra característica que corrobora com a disparidade de gênero no trabalho se refere a duração da jornada de trabalho, quanto menor a jornada, maior a presença feminina.

O marco da desigualdade entre homens e mulheres no mundo do labor também fica evidente a partir da média de remuneração de cada um desses grupos. No Brasil, em pesquisa realizada pelo IBGE no último trimestre de 20196, o valor médio de salário entre as mulheres é significativamente menor que entre os homens em todas as regiões do país, como mostra o Gráfico 3. Ou seja, a acentuação da participação feminina no espaço produtivo tem sido marcada pela precariedade e pela desigualdade de gênero.

Gráfico 3 – Rendimento médio mensal da população ocupada no Brasil no terceiro trimestre de 2019

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua Trimestral - PNADC/T – 2019.

A trajetória feminina na vida laboral nos permite observar que a presença da mulher no mundo do trabalho ao longo da história é marcada pela precariedade. O atual cenário que impõe maior informalidade e intensificação dessa precarização, nos permite perceber que a

6 BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia Estatística -

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua Trimestral - PNADC/T. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pnadct/tabelas. Acesso em: 22 fev. 2020.

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fragilidade das relações de trabalho e a exacerbação da exploração da classe trabalhadora, atinge de forma ainda mais contundente as mulheres trabalhadoras, acentuando assim a desigualdade de gênero.

Na perspectiva da promoção da igualdade de gênero, se faz mister repensar a condição da mulher nos diversos espaços da vida social, e em especial, na esfera trabalho, reconhecida neste estudo como fonte de reprodução material, social e intelectual.

A Agenda 2030 (ONU, 2016) para promoção do desenvolvimento sustentável, elaborada pela Organização das Nações Unidas no ano de 2015, traz como quinto dos dezessete Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, o alcance da igualdade de gênero. O documento reconhece que a igualdade de gênero é base necessária para a construção de um mundo pacífico, próspero e sustentável, considerando, em especial, seu caráter multiplicador.

Nesta perspectiva, compreende-se que o avanço do humano enquanto sociedade não será viável sem o pleno desenvolvimento e exercício das capacidades de metade da população mundial em esferas como a Política, as Ciências, a Economia, e as diversas áreas de tomada de decisão e exercício de poder.

2.3 AVANÇOS E LIMITES NOS CAMINHOS À QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DAS MULHERES NO BRASIL

Aspecto relevante ao se pensar a condição da mulher na sociedade e, especificamente, no mundo do trabalho, se refere ao processo de qualificação do público feminino. Historicamente, o acesso à educação formal aconteceu para meninas e mulheres de forma tardia em relação ao público masculino. No caso do Brasil, de acordo com Beltrão e Alves (2009), a preocupação com a formalização da educação feminina acontece apenas na primeira metade do século XIX, a partir da Independência e consequente configuração mais complexa da sociedade brasileira (imigrações internacionais e maior diversificação econômica). “[...] Os primeiros legisladores do Império estabeleceram que o ensino primário deveria ser de responsabilidade do Estado e extensivo às meninas, cujas classes seriam regidas por professoras.” (BELTRÃO; ALVES, 2009, p. 127.)

Ao público feminino cabia a educação primária, fortemente embasada em conteúdo moral e social, objetivando o fortalecimento do papel da mulher como esposa e mãe. A educação secundária ficava massivamente restrita a formação em cursos de magistério, voltados para formação de professoras para os cursos primários. Todavia, durante quase todo

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o século XIX, as mulheres permaneceram excluídas dos graus mais elevados de instrução. Mesmo com o decreto imperial de 1881, que facultou a mulher a matrícula em cursos de nível superior, é importante frisar que a exclusão feminina dos cursos secundários inviabilizou o ingresso efetivo de mulheres nas universidades até a primeira metade do século XX.

Custódio e Bonini (2019) apontam que as mulheres, no Brasil passaram a ocupar vagas nas universidades de forma significativa apenas na década de 1960. A esse período e as décadas que o seguem, é possível observar, como afirmam Melo, Lastres e Marques (2004), que a taxa de participação das mulheres do mercado de trabalho sofre significativa crescente (o emprego feminino cresceu em 92% entre as décadas de 1970 e 1980). Entre 1985 e 1995, a taxa de crescimento do emprego das mulheres foi de 3,68%, superando os 2,37% de crescimento do emprego total (MELO, 2000 apud MELO; LASTRES; MARQUES, 2004). A relação qualificação x empregabilidade permite observar que o aumento da população feminina economicamente ativa tem relação direta com o crescimento do seu nível de qualificação.

Apesar do ingresso mais tardio nas universidades, no Brasil, no ano de 2001, as mulheres já representavam 56,3% do total de alunos matriculados e 62,4% do total de alunos que concluíram o ensino superior (CUSTODIO; BONINI, 2019). Países da Europa ocidental e Estados Unidos só alcançaram esse percentual de participação no ano de 2010. Em 2017, a participação feminina nas universidades brasileiras correspondia a 57% dos postos em cursos nas universidades, realidade semelhantes a países em maior grau de desenvolvimento como Itália e Austrália. A média global é de 52%.

De acordo com o Censo da Educação Superior elaborado pelo INEP7, no ano de 2018, 57% dos alunos matriculados em cursos de graduação (presencial e à distância), foram do sexo feminino. No estado do Rio Grande do Norte, esse quantitativo é um pouco menor (53,8%), mas ainda assim, mais expressivo que o quantitativo do sexo masculino. No tocante ao número de concluintes, afirma-se a mesma tendência, 60,5% dos alunos concluintes dos cursos de graduação no país, em 2018, são do sexo feminino. No Rio Grande do Norte, as concluintes do sexo feminino correspondem a 57% do total no mesmo período.

As mulheres, que adentraram na força economicamente produtiva a priori com baixa qualificação e remuneração (em caráter de complementação da renda familiar), passam na

7 INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Sinopse

Estatística da Educação Superior 2018. Brasília: Inep, 2019. Disponível em: http:portal.inep.gov.br/basica-censo-escolar-sinopse-sinopse. Acesso em: 20 fev. 2020.

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história recente a alcançar melhores qualificações, especialmente através do ingresso nas universidades.

No Brasil, a formação em nível superior tem grande relevância no mercado de trabalho, seja pela maior valorização de trabalhadores mais qualificados, seja em razão do nível de remuneração mais elevado. Pesquisa realizada pelo IBGE8 aponta que no último trimestre de 2019, a média salarial da população ocupada com instrução de nível superior ou equivalente, foi de R$ 4.925,00 reais, maior média salarial sobre a relação população ocupada x nível de instrução (a média nacional entre todos os níveis de instrução é de R$ 2.261,00 reais).

Entretanto, a ocupação dos cursos nas universidades, e consequentemente do mercado de trabalho, não acontece de forma isonômica entre homens e mulheres no que diz respeito a inserção nas diversas áreas de conhecimento e, portanto, nos campos de atuação profissional. Soares, Melo e Bandeira (2014), em seu estudo sobre o trabalho das mulheres brasileiras a partir dos censos demográficos de 1872 a 2010, afirmam sobre o censo 2010 que:

[...] Havia, neste censo, a expectativa de mudanças nas estatísticas de nível superior concluído segundo as áreas de concentração e sexo, visto que vinte anos atrás as mulheres passaram a ser maioria no ensino superior. No entanto, os 11 resultados foram modestos, mantendo a formação feminina concentrada nas áreas de Educação, Humanidades e Saúde. Dessa maneira, presume-se que as mudanças no mercado de trabalho também foram (e serão) tímidas, visto que não se confirmou uma “revolução” nas carreiras como se poderia imaginar. (SOARES; MELO; BANDEIRA, 2014, p. 10.)

A questão lançada a partir deste quadro se refere ao efeito dessa realidade no mercado de trabalho. As estatísticas educacionais evidenciam um avanço na escolaridade feminina, entretanto, um progresso concentrado em áreas que são nichos femininos há décadas.

O Censo da Educação Superior de 2017, realizado pelo INEP9, aponta que, em se

tratando de paridade de gênero na educação superior, apesar de as mulheres representarem cerca de 60% entre alunos matriculados e concluintes em todo país, a distribuição entre os cursos ocorre de forma dissonante entre os estudantes do gênero feminino e masculino. O

8 BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia Estatística -

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua Trimestral - PNADC/T. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pnadct/tabelas. Acesso em: 22 fev. 2020.

9 INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Censo da

Educação Superior - Divulgação dos Principais Resultados. Brasília: Inep, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/setembro-2018-pdf/97041-apresentac-a-o-censo-superior-u-ltimo/file. Acesso em: 13 mar. 2020.

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Gráfico 4 evidencia como a distribuição por sexo entre os 20 maiores cursos em número de matrículas acontece de forma heterogênea entre homens e mulheres.

Cursos como pedagogia, que consta como o primeiro em matrículas femininas, ocupa a 19ª posição em número de matrículas masculinas. No sentido inverso, cursos como engenharia civil e engenharia de produção ocupam as posições 3ª e 7ª entre os homens, e 12ª e 19ª entre mulheres, respectivamente. Os cursos de graduação nas áreas de engenharia mecânica, engenharia elétrica, análise e desenvolvimento de sistemas (tecnólogo), sistemas de informação e ciência da computação, que ocupam posições significativas no ranking de matrículas masculinas, nem mesmo versam entre os 20 cursos com mais ocupação feminina.

Gráfico 4 - Distribuição por sexo entre os vinte maiores cursos em número de matrícula

Fonte: Censo da Educação Superior 2017 - INEP

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Fonte: Censo da Educação Superior 2017 - INEP

Esses dados permitem atentar para o fato de que:

[...] a participação feminina no nível superior, apesar de ultrapassar a masculina, distribui-se heterogeneamente pelas áreas do conhecimento, configurando uma sub-representação das mulheres no conjunto de carreiras STEM. Correspondentemente, as mulheres apresentam reduzida atuação na força de trabalho STEM. (CUSTODIO; BONINI, 2019, p. 84.)

A implicação advinda deste fato é que a falta de diversidade na ocupação das diversas áreas da ciência se manifesta como um limite ao desenvolvimento desses saberes.

Okawati e Bonini (2019) em estudo a partir da base de dados do censo de educação superior do INEP entre os anos de 2009 e 2017, apontam que uma característica marcante dos cursos STEM em nosso país é a reduzida participação de estudantes do sexo feminino. De acordo com o Gráfico 5, durante o período pesquisado, essa participação girou em torno de 30%. Segundo os referidos autores, a baixa ocupação feminina nos cursos STEM ocorre em diversos países, excetuando-se a China, onde essa tendência foi invertida.

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Gráfico 5 - Representatividade feminina nos cursos STEM no Brasil

Fonte: Okawati e Bonini, 2019.

Outro dado que afirma a mesma tendência sobre a presença de mulheres nos cursos STEM diz respeito ao percentual de mulheres matriculadas nas cinco instituições brasileiras com maior número de alunos na área de Computação. É possível observar, como demonstra o Gráfico 6 a seguir, que a presença feminina no ano de 2016 variou entre 12% e 22% do total de alunos ingressantes.

Gráfico 6 - Ingressantes nas cinco instituições com mais alunos na área de computação por sexo

Fonte: Gênero e Número10

No que se refere ao percentual de conclusão feminina nos cursos STEM no Brasil, Bonini, Okawati, Custódio e Silva (2019, p. 03.), em estudo realizado a partir do Censo do

10 NICOLIELO, Bruna. Mulheres reprogramam o gênero dos cursos superiores de tecnologia no Brasil.

Gênero e Número. 15 nov. 2017. Disponível em: http://www.generonumero.media/mulheres-reprogramam-o-genero-dos-cursos-superiores-de-tecnologia-no-brasil/. Acesso em: 19 mar. 2020.

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Ensino Superior do INEP, apontam que, apesar do crescimento de 65,3% do número total de concluintes em cursos STEM entre 2009 e 2017 (passando de 129.863 para 214.820 estudantes concluintes), esse aumento não se replicou entre o número de concluintes do gênero feminino. Obedecendo a uma tendência global, no Brasil, a proporção de mulheres entre os concluintes nos cursos STEM girou em torno de 30% no mesmo período, como apontado no Gráfico 7, apesar das mulheres representarem maioria na população universitária geral.

Gráfico 7 – Percentual de mulheres concluintes em cursos STEM no Brasil

Fonte: Bonini; Okawati; Custódio; Silva, 2019.

Para fins de análise da força de trabalho feminina atuante em postos caracterizados como ocupações STEM no Brasil, Bonini, Okawati, Custódio e Silva (2019) realizaram ordenamento de empregos STEM a partir da Classificação Brasileira de Ocupações - CBO de acordo com critérios internacionalmente estabelecidos. A partir desta classificação, os autores verificaram que, entre os empregados que constituem a força de trabalho STEM em nosso país, a participação feminina nestes postos variou de 20,4% a 24,6% entre as regiões brasileiras no ano de 2015, como demonstrado no Gráfico 8.

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Gráfico 8 - Representatividade Feminina na Força de Trabalho STEM no Brasil em 2015

Fonte: Bonini; Okawati; Custódio; Silva, 2019.

A realidade posta a partir deste cenário, tanto em termos de formação, quanto em termos de ocupação de postos de trabalho, demonstra que, em nosso país, as mulheres tem atuado com menor intensidade nos campos STEM. Em contrapartida, de acordo com U.S. Bureau of Labor Statistics, as áreas tecnológicas terão maior crescimento em número de empregos até 2030 (MICROSOFT, 2018). Nesse sentido, a sub-representação feminina nessas áreas finda por comprometer o potencial da força laboral STEM, uma vez que o talento de uma parcela significativa da sociedade permanece excluída de áreas onde a criação e aprimoramento de novas tecnologias apresentam-se como meio de desenvolvimento e prosperidade econômica. Para além, no atual contexto em que o uso dessas tecnologias perpassa as relações sociais e laborais, se faz mister que as mulheres estejam capacitadas para garantir uma inserção social mais igualitária entre os gêneros.

A partir deste panorama, pode-se concluir que, mesmo com acesso incondicional aos diversos cursos de nível superior, as mulheres se afastam de alguns campos de conhecimento, e portanto, de áreas específicas de atuação profissional. Suas preferências ainda recaem sobre ramos voltados ao cuidado, à saúde e às ciências humanas. A ascensão educacional das mulheres não confirma, por si só, uma mudança significativa na expansão das possibilidades de carreira. Surge, a partir disto, a necessidade de buscar compreender quais barreiras, diretas e indiretas, influenciam na não inserção de mulheres em carreiras consideradas masculinas, a exemplo das áreas STEM.

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2.4 SUB-REPRESENTAÇÃO FEMININA EM STEM: ALGUNS FATORES DETERMINANTES

A trajetória assimétrica vivenciada por mulheres e homens no que diz respeito ao acesso à educação e ao mercado de trabalho contribuíram para atual realidade de uma persistente desigualdade de gênero. De acordo com o relatório Global Gender Gap Report

202011, os índices de participação feminina em espaços de poder como a Política, a Economia e a Ciência, evidenciam significativas diferenças entres os gêneros ainda na atualidade.

No tocante às ciências, e em específico as áreas STEM, a sub-representação feminina é uma realidade ainda presente e significativa, como retratado no item anterior. A busca pela compreensão deste fato motivou muitos estudos que descrevem diferentes explicações para este fenômeno. Aspectos biológicos/cognitivos, pedagógicos, políticos/culturais, e sociais estão entre os diferentes fatores investigados pela literatura especializada, na perspectiva de compreender a realidade das mulheres nas áreas de ciência e tecnologia.

Fatores biológicos são tradicionalmente utilizados na fundamentação das diferenças entre os sexos. Entretanto, é válido ressaltar que, estes fundamentos muitas vezes partem de uma naturalização de normas e estereótipos de gênero que são, na verdade, construções históricas e sociais. De acordo com Louro (1997), esta construção social, produzida sobre as características biológicas, não deve ser desprezada nesta análise.

No contexto do debate da relação gênero e STEM, em especial no que se refere as medidas de ocupação feminina e masculina dessas áreas, bem como as habilidades relativas às ciências exatas, não é incomum o apelo ao argumento de que homens são natural e biologicamente mais hábeis para esses campos. Entretanto, estudos recentes sobre gênero e cognição apontam para negação desse argumento ao evidenciar diferenças mínimas entre os sexos nesse quesito.

Dados empíricos recentes refutam a ideia de que os fatores biológicos determinam aptidões ou habilidades inatas a cada um dos sexos. A exemplo disto, em dados apontados por Saini (2017 apud SANTOS JUNIOR, 2020), nas décadas de 1970 e 1980 nos Estados Unidos, a proporção de mulheres com alto talento em matemática era de uma mulher para cada treze homens. Pesquisas de 2014 demonstram que essa proporção variou entre quatro e dois homens para cada mulher com alto talento matemático. Essa drástica mudança em um intervalo de quatro décadas, além de negar o argumento biológico sobre as capacidades

11 GENEBRA. WORLD ECONOMIC FORUM. Global Gender Gap Report 2020. Disponível em:

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