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Já o conjunto de cartões categorizado como barreiras foi assim nomeado por reunir os comentários das estudantes sobre as principais dificuldades enfrentadas por mulheres que escolhem seguir carreiras em STEM e/ou que causam a sub-representação feminina nessas áreas. Entre os empecilhos apontados, destacou-se que questões histórico-culturais alimentam

preconceitos enraizados e estereótipos que demarcam uma segmentação das carreiras por

gênero.

É… acho que vai muito dessa percepção de que a mulher teria uma habilidade natural pra atividades que exigem atenção, afeto, mas não pra racionalidade, né? Que é um atributo considerado masculino. É tanto que é muito difícil encontrar um homem que faça uma atividade relacionada a isso, a afetividade, e mulheres que entram em áreas assim. (Grupo Focal Online)

Eu acho que é algo muito decorrente culturalmente, né? De não termos mulheres ingressando nisso, por elas acharem que também não é algo destinado a elas, né? E assim, muitas mulheres não cogitam entrar em áreas de exatas e acho que vai muito disso. (Grupo Focal Online)

Acho que meninas aprendem desde cedo que exatas e científicas não é assunto para elas. (Grupo Focal Online)

O acesso tardio das mulheres à educação foi também apontado pelas adolescentes como uma das raízes históricas do preconceito existente. Por esse fato, as mulheres enfrentaram dificuldades para acessar o mercado de trabalho, com especial restrição a áreas consideradas masculinas. Essa trajetória histórica desemboca na realidade evidenciada nos dias de hoje pela baixa ocupação feminina em postos de trabalho em STEM.

[...] Aquela questão mais cultural, mais histórica, que há muito tempo, tipo, era só um homem fazia faculdade e os três pilares, digamos assim, os cursos mais concorridos, faculdade era engenharia e medicina, se eu não me engano, e teve outro também, mas esqueci agora. Isso era só o curso para homem, tecnicamente. Então, eu acho que toda essa questão histórica afetou muito o que a gente vive hoje também. (Grupo Focal Online)

[...] Eu acho que a inclusão das mulheres no meio de trabalho... elas terem acesso ao estudo, foi muito tardia. Eu acho que naquela época a sociedade não tinha isso de pensar na mulher como... como uma, um bom exemplo no trabalho, vamos dizer assim. Eu acho que eles só pensavam nela em casa. (Grupo Focal Online)

Ainda no que tange as barreiras enfrentadas por mulheres em STEM, as participantes do grupo focal online deram especial enfoque ao que denominaram de falta de

representatividade. Para elas, a escassez de modelos femininos nesse campo limita as

projeções de futuro de jovens mulheres em seus processos de escolha de carreira.

Eu acredito bastante que seja a falta de representatividade, que é algo que desmotiva muito e a questão do preconceito que muitas nós sofremos com essa área, a questão que alguns diminuem o nosso trabalho e acho que esses pontos levam muito as meninas a não escolher essas áreas. (Grupo Focal Online)

[...]Eu acho que acontece muito de não ter a representatividade. Tipo, a gente acha que a gente não tem, sei lá, capacidade porque a gente não vê outras pessoas igual a gente lá, outras mulheres e também porque não tem um apoio. (Grupo Focal Online)

A baixa ocupação feminina nos postos de trabalho em STEM atribui a esse campo a aparência de um ambiente hostil as mulheres, inclusive em termos de validação de competências e espaço no mercado de trabalho, o que finda por contribuir também para o afastamento de jovens mulheres dessas áreas.

[...] Fui procurar uma vez saber para fazer engenharia e eu vi que no mercado de trabalho tem muitos homens em engenharia, muitos. E eu fiquei meio que, eu vou dizer até assustada, porque é uma área que eu acho muito interessante, eu acredito que hoje esteja melhor, mas na minha família, por exemplo, eu tenho muitos familiares homens que são engenheiros, mas eu não lembro, assim de cabeça, de ter alguma mulher que tenha entrado nessa área. Então acho que esse fato também atrapalha, às vezes, do mercado de trabalho ser mais aberto aos homens, vamos dizer assim. A gente vê que não tem, como Ada falou, uma representatividade, não tem uma mulher ali presente, eu acho que isso atrapalha muito, isso traz com que a gente, às vezes, mantém um pé atrás e não vá além. (Grupo Focal Online)

Ainda entre as barreiras apontadas, a falta de apoio da família e do meio social esteve presente na fala das adolescentes como fator dificultador na escolha por carreiras em STEM. Nessa medida, a reprodução do preconceito e dos estereótipos no contexto familiar, social e até mesmo escolar, tendem a alimentar a ideia de uma divisão de competências e habilidade ainda pautada por gênero.

[...] a escassez que tem de mulheres nessa área e também o fato da área ser difícil e elas não terem o apoio… é… muitas vezes elas não tem o apoio, tipo, da própria família sobre isso, entendeu? É complicado. [...] Apoio da família, das pessoas que ao redor, da mídia talvez. (Grupo Focal Online)

[...]as meninas principalmente acabam desistindo por falta de incentivo também, é… tanto da família, como dos amigos e acaba, anh, preconceito que tá já enraizado que é tipo matemática, engenharia é pra área de homem. (Grupo Focal Online)

[...]Eu acho que tudo parte da consciência de que tem esse estereótipo de que mulheres não tendem a ir pra essas áreas, né? E quando existe a compreensão disso, eu acho que é muito importante para os homens entenderem que é… não é obrigação deles, mas seria muito bom se eles contribuíssem dessa forma, né? De incentivar, já que são poucas mulheres que se sentem validadas e capazes de entrar nisso. (Grupo Focal Online)

Tanto na aplicação quanto no momento de análise de dados do grupo focal online, percebeu-se uma notável convergência na fala dos sujeitos de pesquisa sobre os entraves enfrentados por mulheres no universo STEM, identificadas tanto no momento de escolha de carreira, quanto na realidade de atuação nessas áreas em si. As interações e referências entre os discursos demostraram considerável nível de concordância sobre o assunto, evidenciado ainda pelas alusões e citações mútuas, sempre em caráter de concordância e complementação.