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3.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.6.1 Coleta dos Dados

A primeira etapa desse estudo se deu através da pesquisa bibliográfica e documental. Por meio desse procedimento, realizou-se um estudo sistemático a partir de livros do acervo da UFRN, artigos publicados em periódicos eletrônicos, disponíveis no portal CAPES/MEC e na base de dados Scielo, além de teses e dissertações do repositório institucional da UFRN, entre outras fontes. Em termos de pesquisa documental, foram consultadas as bases de dados

do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – IBGE, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP e do Portal de Dados Abertos da UFRN.

A pesquisa bibliográfica e documental realizada permitiu a construção do referencial teórico deste estudo, por meio da sistematização de conteúdos que versam sobre a inserção de mulheres nas áreas STEM e as produções relacionadas, além de uma apropriação da literatura que trata das categorias em questão, embasando-as, nesse momento, nos autores que as referenciam. Nesse sentido, buscou-se uma compreensão sobre a categoria trabalho, a trajetória e realidade das mulheres a partir desta categoria e, em especial, a interação desse público com as áreas STEM, seja no momento da formação, seja no mercado de trabalho STEM. As informações levantadas por meio da pesquisa documental permitiram delinear o atual cenário no que se refere aos índices de ocupação acadêmica feminina das áreas STEM, além de situar a persistente condição de desigualdade de gênero no mundo do trabalho.

Concluída a pesquisa bibliográfica e documental, a pesquisadora, munida da fundamentação teórica, imprescindível a continuidade do estudo, debruçou-se sobre os procedimentos necessários a aplicação da técnica de coleta de dados escolhida: o grupo focal

online. De acordo com os autores anteriormente citados, para realização do grupo focal online, a etapa que segue a definição do tema a ser explorado, corresponde a seleção e

recrutamento dos participantes em potencial.

Considerando os objetivos do projeto, deliberou-se que o público a ser pesquisado teria perfil homogêneo, sendo composto por jovens mulheres estudantes do ensino médio. A partir desta definição e a fim de afunilar as inúmeras possibilidades, elegeu-se um lócus de pesquisa para recrutamento das participantes. O local escolhido foi a Escola Agrícola de Jundiaí- EAJ, enquanto instituição de ensino médio integrada a UFRN. Dois fatores contribuíram para esta decisão nessa fase da pesquisa. O primeiro deles diz respeito ao público-alvo deste estudo, ou seja, jovens mulheres estudantes do ensino médio. O segundo relaciona-se com o fato de a pesquisadora, enquanto servidora da UFRN, ter ocupado o cargo de assistente social da EAJ entre os anos de 2013 e 2019, havendo, portanto, desenvolvido estreita relação com a instituição desde então. Devido a sua lotação na Coordenação de Políticas Estudantis – COPE, a pesquisadora atuou junto ao público discente durante o período citado, vislumbrando, assim, seu potencial de colaboração para este estudo.

Criada no ano de 1949 e localizada na Fazenda Jundiaí, município de Macaíba/RN, a EAJ é reconhecida organização de formação em Ensino Básico, Técnico e Tecnológico- EBTT, no estado do Rio Grande do Norte. A escola, que é pioneira no oferecimento da formação de ensino médio correspondente ao ensino técnico profissionalizante, recebe

estudantes de diversos municípios do estado e de outras regiões. No ano de 1967, por força do Decreto n° 61.162, a EAJ foi incorporada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, passando no ano de 2007, através da Resolução n°11/2007 – CONSUNI, a condição de Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias - UECIA integrada à estrutura acadêmica e administrativa da UFRN. A UECIA/EAJ conta com quatro cursos de nível médio/técnico - único campus da UFRN com oferta de nível médio -, além de quatro cursos de graduação e três cursos de pós-graduação. Atualmente, os cursos de ensino médio oferecidos pela instituição são exclusivamente na modalidade integrado ao ensino técnico14.

Com a definição do local de pesquisa, pretendia-se a realização do recrutamento de participantes de forma presencial de uma amostra voluntária de cinco a dez alunas. Entretanto, em decorrência da deflagração da pandemia da COVID-1915, as atividades presencias da EAJ foram suspensas em março de 202016, a fim de atender as recomendações de isolamento social. Por essa razão, a fase de engajamento de participantes, que seria realizado na própria escola, tornou-se inviável. Como alternativa ao recrutamento presencial, a pesquisadora realizou contato via redes sociais com o Coletivo EAJoanas17, formado por alunas

secundaristas da própria EAJ. Nesse momento, o projeto e seus objetivos foram apresentados de forma sucinta, seguido do convite a participação na pesquisa. Uma das integrantes do coletivo atuou como porta-voz para o contato com as demais, e a partir disto, sete alunas se voluntariaram a contribuir, disponibilizando seus contatos de WhatsApp, através do qual foi encaminhado convite individual.

Após o aceite inicial das estudantes, por questões éticas que perpassam o processo de pesquisa, foi solicitada a anuência via Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –TCLE (Apêndices A e B), bem como do Termo de Autorização para Gravação de Voz e Registro de Imagens (vídeo) – TAGVRI (Apêndices C e D). Entretanto, duas particularidades estiveram presentes nesse momento. Primeiro, o fato de seis das sete estudantes serem menores de 18 anos. Por essa razão, foi necessário contactar os responsáveis legais das adolescentes para que

14 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Escola Agrícola de Jundiaí. Disponível em:

http://www.eaj.ufrn.br/site/. Acesso em: 17 mar. 2020.

15 MOREIRA, Ardilhes; PINHEIRO, Lara. OMS declara pandemia de coronavírus. 11 mar. 2020. Disponível

em: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/11/oms-declara-pandemia-de-coronavirus.ghtml. Acesso em: 17 mar. 2020.

16 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Portaria nº 452/2020-R, de 17 de março de

2020. Suspensão das atividades relacionadas à UFRN – Gabinete do Reitor. Disponível em: https://www.progesp.ufrn.br/storage/documentos/VZELIqq9lUQEZAw0dtPH5SvgKbFIcUL9OiIDjZ11.pdf. Acesso em: 04 abr. 2020.

17 COLETIVO EAJOANAS. Natal, 2020. Facebook: eajoanas. Disponível em:

autorizassem formalmente a participação das mesmas na pesquisa. A segunda particularidade enfrentada nesse processo foi a impossibilidade de autorização via assinatura de termo físico, considerando o caráter remoto em que a pesquisa foi realizada. Como alternativa a esse impasse, foram elaborados modelos de TCLE e TAGVRI de forma que as autorizações pudessem ser encaminhadas a pesquisadora via WhatsApp. O contato com os responsáveis se deu também através do WhatsApp. Todas os consentimentos e autorizações dos responsáveis e da aluna maior de 18 anos foram recebidos pela pesquisadora antes da realização do grupo focal online.

Em momento também prévio à realização do grupo focal online, foi elaborado um questionário de background (Apêndice E) (SANTA ROSA; MORAES, 2012) destinado ao delineamento do perfil geral das estudantes participantes e à instrumentalização da pesquisadora, na condição de moderadora da atividade. O objetivo foi coletar informações iniciais para servir como base as etapas seguintes da pesquisa e dar início ao processo de empatia entre a pesquisadora e as usuárias em potencial do produto almejado. Esse questionário foi aplicado ainda com a finalidade de situar “quem está falando” no momento da discussão em grupo (dados como idade, escolaridade, familiaridade ou afinidade com o tema etc.). A aplicação desse instrumento se deu através da ferramenta virtual Google Forms e as informações levantadas permitiram a elaboração de uma Ficha de Identificação para cada umas das participantes, o que possibilitou, posteriormente, a associação das falas de cada estudante a sua realidade.

Considerando ainda o caráter remoto do grupo focal online, a ferramenta virtual escolhida para sua realização foi o Google Meet18, por meio do qual é possível realizar videoconferências em grupo, garantindo assim a interação entre a pesquisadora e as participantes simultaneamente. Além disso, a ferramenta permite a gravação de áudio e vídeo da reunião, recurso indispensável ao momento posterior de análise dos dados da pesquisa. Outra característica relevante para escolha desse aplicativo foi a possibilidade das participantes acessarem a sessão clicando em um link gerado pela moderadora, sem a necessidade de instalação de nenhum software. O link da reunião foi criado e enviado as participantes no dia anterior a realização do grupo, junto a um quadro de lembretes e orientações simples sobre a atividade (Figura 1).

O grupo focal online foi realizado no dia 19 de junho de 2020, com duração de 01 hora e 20 minutos. Na ocasião, participaram do encontro virtual a pesquisadora, sete alunas do

ensino médio da Escola Agrícola de Jundiaí, além da orientadora e coorientadora deste projeto. A reunião foi coordenada pela pesquisadora, que assumiu papel de moderadora do grupo, na função de fomentar as discussões e direcioná-las ao cumprimento dos objetivos do estudo.

A pesquisadora, ainda na qualidade de moderadora do grupo focal online, elaborou o roteiro de discussão (Apêndice F) que serviu como guia ao trabalho de mediação do debate em grupo. O encontro foi iniciado com apresentação da pesquisa e de seus objetivos, bem como sua vinculação ao projeto Ninacode. Na sequência, a moderadora informou as participantes as instruções sobre a dinâmica do debate, principiada pelas perguntas disparadoras do roteiro de discussão, seguida das colocações, em ordem espontânea, de cada uma das estudantes. A partir deste momento, foi solicitada autorização para gravação de áudio e vídeo da reunião, informando que as autorizações formais (tanto da aluna maior de 18 anos, como dos responsáveis das alunas adolescentes) já haviam sido recebidas pela pesquisadora.

Figura 1 - Quadro de Lembretes

Após a apresentação e orientações práticas sobre a reunião, iniciou-se o debate a partir das questões disparadoras lançadas pela moderadora. Os questionamentos foram desenvolvidos com o intuito de estimular a elaboração do pensamento de cada uma das participantes, bem como promover a interação de ideias, percepções e crenças, permitindo, assim, a troca de experiências e opiniões e o melhor alcance das impressões das estudantes, mesmo em caso de consenso. Nessa medida, todas as participantes foram estimuladas a emitirem suas opiniões.

As perguntas levantadas pelo roteiro de discussão propuseram-se, primeiramente, a compreender o nível de familiaridade e a percepção das participantes em relação as mulheres atuantes nas áreas STEM, se estas figuras estão presentes em suas vidas e de que forma. A partir dessa percepção, indagou-se as partícipes sobre quais barreiras enfrentadas por mulheres em STEM elas se identificam e, na opinião delas, quais as formas de mitigá-las. As estudantes foram ainda estimuladas a opinar sobre de que forma conhecer mais mulheres atuantes nas áreas STEM impactaria seu processo de decisão de carreira, bem como de suas colegas em faixa etária semelhante. Finalmente, levantou-se o debate sobre a pertinência de um jogo que apresentasse as informações apontadas por elas como relevantes e quais suas expectativas sobre um jogo que se propõe a falar sobre mulheres em STEM.