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Representações sociais das disciplinas antropologia da religião e ética, por estudantes da Universidade Católica de Brasília

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Academic year: 2017

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Escola de Saúde

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Psicologia

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS DISCIPLINAS

ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO E ÉTICA, POR ESTUDANTES

DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

AUTOR:

MARIA JOSÉ PEREIRA CAETANO

ORIENTADOR: PROF. DR. VICENTE DE PAULA FALEIROS

(2)

MARIA JOSÉ PEREIRA CAETANO

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS DISCIPLINAS ANTROPOLOGIA

DA RELIGIÃO E ÉTICA, POR ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE

CATÓLICA DE BRASÍLIA

Dissertação apresentada no Programa

Stricto Sensu, em Psicologia, na

Universidade Católica de Brasília, como pré-requisito para a obtenção do título de Mestre em Psicologia, na Linha de Pesquisa: Cultura Contemporânea e Relações Humanas, com eixo temático em Representação Social.

Orientador: Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros.

Coorientação: Profa. Dra. Marta Helena de Freitas.

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7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

C128r Caetano, Maria José Pereira.

Representações sociais das disciplinas antropologia da religião e ética, por estudantes da Universidade Católica de Brasília. / Maria José Pereira Caetano – 2015.

204 f.; il.: 30 cm

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2015. Orientação: Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros

1. Psicologia Social. 2. Estudantes. 3. Representação Social. 4. Ensino-aprendizagem. 5. Religião. 6. Ética. I. Faleiros, Vicente de Paula, orient. II. Título.

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

A meus pais Irene Caetano Pereira e Antônio Delfino Pereira (in memorian), que sempre lutaram para que todos os filhos recebessem uma educação ética pautada no respeito e na retidão. Principalmente à minha mãe que, durante todo o mestrado, me apoiou e suportou em todos os momentos de ausências, bem como todos os meus familiares: irmãs Dimitilde, Déborah, Damiane, irmãos Dilermando, Duarth, sobrinhos, cunhados, cunhadas, a minha gratidão a todos.

Ao meu esposo Luismar, por acompanhar todo o Mestrado e o processo de elaboração e discussão da dissertação, e à minha filha querida Sophia, pelo apoio e compreensão de ter uma mãe ausente, mas aguentou pacientemente sem reclamar. Ambos sempre estavam por perto dando-me forças para realizar este sonho tardio de obter o título de mestre. Amo vocês!

Aos amigos-irmãos kayrosianos, compadres e os da Fraternidade da Anunciação, obrigada pelas palavras de apoio e incentivo.

As amigas Rosamália, Érica e Michelline, pela troca de angústias e a partilha de conhecimentos ao longo do Mestrado.

Aos coordenadores do Núcleo de Formação Geral, professores e professoras da Universidade Católica de Brasília, por motivar e participar de alguma maneira deste processo de formação continuada.

Agradeço carinhosamente aos estudantes que se dispuseram a responder aos formulários de pesquisa e sua participação para a realização desta dissertação.

A todos os professores do Mestrado em Psicologia que contribuíram para a construção deste percurso em minha vida, a Profa. Dra. Marta Helena de Freitas, que sempre esteve à disposição para a coorientação e especialmente, ao meu orientador Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros pela paciência, sabedoria, respeito e compreensão, principalmente pelos ensinamentos na Teoria das Representações Sociais. Além da sua experiência de vida, fonte de inspiração. Obrigada por tudo!

Aos professores Dr. Alexander Hochdorn, Dr. Carlos Rodrigues Brandão e Profa. Dra. Lêda Gonçalves de Freitas, por aceitarem participar da minha banca examinadora e pela amizade e companheirismo!

(7)

EPÍGRAFE

Não tenho ensinamento nenhum a transmitir... tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum. Mas conduzo um diálogo.

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RESUMO

O presente estudo trata de uma pesquisa empírica, que objetivou compreender e descrever as representações sociais das disciplinas de Antropologia da Religião e Ética por estudantes da Universidade Católica de Brasília - UCB, respondendo a seguinte questão: como as representações sociais das disciplinas de Antropologia da Religião e Ética são construídas, comunicadas, objetivadas e ancoradas no contexto pessoal, social e técnico-profissional do estudante. As hipóteses de estudo são: a) as disciplinas de Antropologia da Religião e Ética cumprem o seu papel institucional de formação humanística na percepção dos estudantes; b) os estudantes das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética consideram estas como desnecessárias em sua formação humana e profissional. Os formulários de pesquisa foram aplicados pela internet na ferramenta Google Docs, com uma amostra de conveniência de 452 estudantes universitários, com idade variando entre 18 e 58 anos de idade, de ambos os sexos e cursos superiores diversificados, os quais formaram dois grupos: 272 estudantes para disciplina de Antropologia da Religião e 180 para a disciplina de Ética. O referencial teórico adotado foi a abordagem da Teoria das Representações Sociais, com enfoque estrutural a partir dos autores Serge Moscovici e Jean-Claude Abric. Utilizamos a metodologia qualitativa-quantitativa para a coleta de informações, empregando um questionário semiestruturado para o levantamento do perfil sociodemográfico, as representações e os procedimentos da associação livre de palavras, com os termos indutores „antropologia da religião‟ e „ética‟; e a Escala Tipo Lickert para consulta de opinião marcando as afirmações em níveis de concordância. O tratamento e análise dos dados foram realizados por dois softwares: Ensemble de Programmes Permettant L’analyse dês Evocations Evoc-2003 e Statistical Package for Social Science version 20 – SPSS. As análises quantitativas dos resultados evidenciam, que a primeira hipótese é referendada pelos estudantes, e estes percebem a importância das disciplinas Antropologia da Religião e de Ética, no processo de formação humanística e ensino-aprendizagem, como demonstram os resultados das questões 14-17. Os resultados para a segunda hipótese apresentam rejeição nas questões 18 e 20 e em parte confirmada pela questão 19, para a disciplina de Antropologia da Religião. E são totalmente rejeitados pelos estudantes da disciplina de Ética. A análise qualitativa fica ilustrada com as falas dos estudantes, que explicitaram as suas percepções sobre as disciplinas, enquanto os dados quantitativos foram descritos e analisados, usando as afirmações colhidas pela Escala do Tipo Lickert.

As discussões dos resultados indicam que as representações sociais das disciplinas Antropologia da Religião e Ética dos estudantes têm os seus conteúdos ancorados em dois eixos: a) Primeiro eixo, voltado às relações humanas e crenças: estudar-compreender, respeito-tolerância, diversidade, homem-humanidade, alteridade-ética, Deus e história; b) Segundo eixo: voltado para a formação pessoal e valores: caráter-conduta, cidadania-direitos, honestidade, moral normas-leis, refletir-agir, respeito, sociedade e valores. Estes conteúdos se objetivam nas práticas culturais e sociais.

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ABSTRACT

This study is an empirical research that aimed to understand and describe the social representations of the disciplines Ethics and Anthropology of Religion by students of the Catholic University of Brasilia, answering the question: how social representations of the disciplines Ethics and Anthropology of Religion are built, communicated, objectified and anchored in personal, social and technical-professional context of the student. The study hypotheses are: a) the Anthropology of Religion and Ethics disciplines fulfill its institutional role of humanistic education in the perception of the students; b) the students of Anthropology of Religion and Ethics consider them as unnecessary in their human and professional training. The survey forms were applied by the internet in Google Docs tool, with a convenience sample of 452 college students, aged between 18-58 years, of both sexes and diversifiers undergraduate courses, which formed two groups: 272 for Anthropology of Religion and 180 for Ethics. The adopted approach was the Theory of Social Representations, with a structural approach to the authors Serge Moscovici and Jean-Claude Abric. It was used the qualitative and quantitative methodology for collecting information with a semistructured questionnaire for raising: sociodemographic profile, the representations, and the procedures of words free association, with inductors terms for 'Anthropology of Religion' and 'Ethics'; and Lickert Scale to opinion consultation marking the assertions in accordance levels. The treatment and data analysis were performed by two softwares: Ensemble de Programmes Permettant L’analyse dês

Evocations Evoc-2003 and Statistical Package for Social Science version 20 –

SPSS. The quantitative analysis of the results has evidenced that the first hypothesis is endorsed by students who realize the importance of the Anthropology of Religion and Ethics disciplines in the process of humanistic and teaching-learning training, as shown by the results of questions 14-17. The results for the second hypothesis showed rejection on 18 - 20 issues and have confirmed partially by the question 19, for the Anthropology of Religion discipline and are totally rejected by Ethics discipline students. The qualitative analysis was permeated by the speeches of the students who expressed their perceptions of the disciplines, while quantitative data were described and analyzed, using the affirmatives made by Likert type scale. The discussions of the results indicate that the social representations by the students of the disciplines Anthropology of Religion and Ethics have their contents anchored on two axes: a) First axis is geared to human relationships and beliefs: study-comprehend, respect-tolerance, diversity, man-humankind, otherness-ethics, God and History; b) Second axis is geared to personal formation and character-conduct values, Citizenship-rights, honesty, moral, norms-laws, reflect-act, respect, society and values. These contents are objectified in cultural and social practices.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Diagrama estrutural da pesquisa

Quadro 01 – Distribuição entre etnia e cultura religiosa, elaborado a partir do Censo Demográfico 2010, IBGE.

Quadro 02 - Distribuição entre religião, idade e nível de instrução dos jovens, Censo Demográfico 2010, IBGE.

Figura 02 – Distribuição de frequência e Ordem Média das Evocações do software EVOC, adaptado de Pereira (2005).

Figura 03 – Descrição das características e funções dos sistemas internos de uma representação social, adaptação de Sá (2002).

Figura 04– Núcleo central das representações sociais da disciplina Antropologia da Religião.

Figura 05 – Ancoragem e os objetivos específicos da disciplina AR.

Figura 06 - Processos de ancoragem e objetivação, das representações sociais da disciplina „antropologia da religião‟.

Figura 07– Núcleo central das representações sociais da disciplina de Ética.

Figura 08 – Ancoragem e os objetivos específicos da disciplina Ética

Figura 09 - Processos de ancoragem e objetivação, das representações sociais da disciplina de „Ética‟.

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Quadro 04 – Resultados de verificação da hipótese número 01, para a disciplina de Ética.

Quadro 05 - Resultados de verificação da hipótese número 02, para a disciplina de AR.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Categoria Convivência, referente à disciplina de Antropologia da Religião.

Gráfico 02 - Categoria participação, referente à disciplina de Antropologia da Religião.

Gráfico 03 - Categoria Conteúdo, referente à disciplina de Antropologia da Religião.

Gráfico 04 - Categoria avaliação, referente à disciplina Antropologia da Religião.

Gráfico 05 - Categoria convivência, referente à disciplina Ética.

Gráfico 06 - Categoria participação, referente à disciplina Ética.

Gráfico 07 - Categoria conteúdo, referente à disciplina Ética.

Gráfico 08 - Escala da disciplina Antropologia da Religião em porcentagem.

Gráfico 09 - Escala da disciplina de Ética em porcentagem.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Perfil religioso dos 452 participantes

Tabela 02 – Distribuição de Frequências e o cruzamento das variáveis religião e idade dos participantes.

Tabela 03 – Distribuição das variáveis religião e gênero dos 452 participantes.

Tabela 04 – Perfil sociodemográfico dos estudantes das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética.

Tabela 05 – Conteúdo e estrutura das representações sociais da disciplina Antropologia da Religião.

Tabela 06 – Lista das palavras mais evocadas para a disciplina Antropologia da Religião.

Tabela 07 – Conteúdo e estrutura das representações sociais da disciplina de Ética.

Tabela 08 – Lista das palavras mais evocadas para a disciplina de Ética.

Tabela 09 - Afirmações dos estudantes com frequências sobre a percepção e interação social na disciplina Antropologia da Religião.

Tabela 10 – Afirmações dos estudantes com frequências sobre formação crítico-político e social na disciplina Antropologia da Religião.

Tabela 11 - Afirmações dos estudantes com frequências sobre consciência critico-política e valores na disciplina Antropologia da Religião.

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Tabela 13 - Afirmações dos estudantes com frequências sobre a percepção e interação social na disciplina de Ética.

Tabela 14 - Afirmações dos estudantes com frequências sobre formação crítico-político e social na disciplina de Ética.

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LISTA DE SIGLAS

ALP - Associação Livre de Palavras

Cerap – Centro de Reflexão e Ação Pastoral

Consepe – Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Crear – Centro de Reflexão em Ética e Antropologia da Religião Dipas – Diretoria de Programas de Pastoral

EHSS – École des Hautes Études em Sciences Sociales

EVOC - Ensemble de Programmes Permettant L’analyse dês Evocations.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – popularmente LDB NFG – Núcleo de Formação Geral

OME - Ordem Média das Evocações Proex – Pró-Reitoria de Extensão RS - Representações Sociais

SPSS – Statistical Package for Social Science

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TRS – Teoria das Representações Sociais

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO ... 17

CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA... 25

1.1 O CONTEXTO ACADÊMICO DAS DISCIPLINAS DE ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃOEDEÉTICANAUCB ... 25

1.2 CONCEPÇÕES DE ÉTICA E MORAL, NA TEORIA E NAS FALAS DOS PARTICIPANTES. ... 31

1.3 CONCEPÇÕES DE RELIGIÃO E RELIGIOSADE ENTRE OS JOVENS...38

1.4 A RELIGIÃO E A JUVENTUDE UNIVERSITÁRIA...43

CAPÍTULO II - AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ... 52

2.1ATEORIADASREPRESENTAÇÕESSOCIAIS ... 56

2.1.1 A Teoria das Representações Sociais Serge Moscovici ... 57

2.1.2 A Teoria das Representações Sociais Jean-Claude Abric ... 60

2.2ATEORIADASREPRESENTAÇÕESSOCIAIS,ENFOQUECULTURAL ... 62

2.3ATEORIADASREPRESENTAÇÕESSOCIAISNOBRASIL ... 64

CAPITULO III O PERCURSO METODOLÓGICO ... 66

3.1CAMINHOMETODOLÓGICONATRS ... 67

3.1.1 Procedimentos da triangulação metodológica na TRS ... 69

3.2OSPARTICIPANTESDAPESQUISA ... 74

3.3OSINSTRUMENTOSPARAAGERAÇÃODOSDADOS. ... 76

3.4CAMINHOSPARAOLEVANTAMENTODOSDADOS. ... 79

3.5PROCEDIMENTOSDETRATAMENTOEANÁLISEDOSDADOS. ... 80

3.5.1 Processamento da análise das evocações dos participantes ... 81

CAPITULO IV - CONTEÚDO E ESTRUTURA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS DISCIPLINAS. ... 87

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS ESTUDANTES ... 87

(17)

4.3ANÁLISEDAPALAVRAINDUTORA„ÉTICA‟ ... 107

4.4ANÁLISEQUANTITATIVA:DISCIPLINAANTROPOLOGIADARELIGIÃO ... 120

4.5ANÁLISEQUANTITATIVA:DISCIPLINAÉTICA ... 129

4.6DADOSCOMPARATIVOSENTREANTROPOLOGIADARELIGIÃOEÉTICA 138 CONCLUSÕES ... 142

CONSIDERAÇÕES E SUGESTÕES FINAIS ... 153

REFERÊNCIAS ... 156

APÊNDICE A FORMULÁRIO DE PESQUISA DISCIPLINA ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO ... 161

APÊNDICE B – FORMULÁRIO DE PESQUISA DISCIPLINA DE ÉTICA ... 167

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE ... 173

APÊNDICE D – DADOS DISCIPLINA ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO ... 175

APÊNDICE E – DADOS DISCIPLINA DE ÉTICA ... 179

APÊNDICE F – DADOS DISCILINAS: ANTROPOLOGIA E ÉTICA ... 183

ANEXO A – PLANO DE ENSINO DISCIPLINA ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO ... 185

ANEXO B PLANO DE ENSINO DISCIPLINA ÉTICA ... 187

ANEXO C PARECER CONSUSTANCIADO DO CEP ... 189

ANEXO D - TERMO DE COMPROMISSO ... 194

ANEXO E RELATÓRIOS DO SOFTWARE EVOC: TABRGFG ‘ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO’ ... 195

ANEXO F RELATÓRIOS DO SOFTWARE EVOC: RANGMOT - ‘ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO’ ... 196

ANEXO G RELATÓRIOS DO SOFTWARE EVOC: TABRGFG - ‘ÉTICA’ ... 199

ANEXO H RELATÓRIOS DO SOFTWARE EVOC: RANGMOT - ‘ÉTICA’ ... 200

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APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

Este estudo foi motivado pelas inquietações surgidas em sala de aula, no exercício da atividade docente na condução do processo de ensino-aprendizagem das disciplinas de Antropologia da Religião e Ética, com a preocupação de compreender a percepção que os estudantes têm das referidas disciplinas e como estas contribuem para formação integral (cidadania, pesquisa e técnico-profissional) dos educandos.

A partir destas inquietações e curiosidades, elaboramos este estudo na perspectiva de investigar as representações sociais por estudantes das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, da Universidade Católica de Brasília (UCB), à luz da abordagem da Teoria das Representações Sociais, a qual compreende o significado e sentido das atividades humanas em seus contextos culturais e sociais. Partindo do princípio de que o homem é um ser psicossocial, organizador do cotidiano pela sua capacidade de produzir uma multiplicidade de conhecimentos teóricos e empíricos para orientar e interpretar a vida social.

O propósito investigativo do estudo é verificar como os acadêmicos compreendem as disciplinas em análise e como avaliam os seus processos de ensino-aprendizagem, uma vez que estas têm como meta desenvolver competências e habilidades pessoais, profissionais e cidadãs, como estão descritas em forma de atitudes e valores nos conteúdos pedagógicos das disciplinas (ANEXOS A e B).

A análise da proposta educativa das disciplinas, seus objetivos, contribuições e conteúdos, evidencia sua preocupação com os processos cognitivos e psicossociais, com a formação humana, em que o sujeito seja capaz de refletir sobre as questões que envolvem a subjetividade, a cultura e a sociedade, de forma crítica, participativa e eticamente. Como o processo de ensino-aprendizagem das disciplinas está sendo representado psicologicamente e socialmente pelos estudantes que as cursaram e as cursam? É, pois, a indagação de fundo que buscamos responder na investigação realizada.

(19)

social, como escola, religião, trabalho, cultura); a interação desses processos propiciará ao sujeito lentes para ver, construir, elaborar e interpretar a vida social.

Nesta perspectiva, a investigação científica envolveu dois eixos: a) verificar o que o sujeito vê e b) perceber o que a Universidade deve ver, ou seja, como o estudante representa ou percebe a sua intervenção no processo de ensino-aprendizagem das disciplinas. Oportunamente se oferecerá à comunidade acadêmica informações sobre como os estudantes ancoram os conteúdos das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética.

Definidos estes direcionamentos psicológicos e sociológicos, a pesquisa deu ênfase às seguintes questões: quais são as representações sociais da disciplina de Antropologia da Religião? Quais são as representações sociais da disciplina de Ética? Como os estudantes representam as disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética em contexto pessoal, acadêmico, profissional e social? Quais são os discursos elaborados para comunicar e ancorar as representações sociais das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética? As disciplinas Antropologia da Religião e Ética dialogam com os princípios estruturantes da educação superior: ensino, pesquisa e extensão? Como os estudantes avaliam as disciplinas pesquisadas?

A fundamentação teórico-metodológica escolhida foi a Teoria das Representações Sociais, com recorte na abordagem da Psicologia Social proposta por Moscovici (2010, 2012), Jodelet (2001, 2006), Abric (2001) e Doise (2001, 2011). Estes psicólogos sociais em suas pesquisas contribuem para compreender o processo de articulação entre o indivíduo e a sociedade, na elaboração e comunicação de signos antropológicos, psicológicos e sociais.

Os signos comunicam e representam a dinâmica da vida social, por meio dos objetos que explicam a existência social, as necessidades individuais e sociais em cada realidade, e como os incorporamos em nossos sonhos, desejos, expectativas, valores, sentimentos, normas, interditos, princípios e idealizações nos diversos contextos culturais e socio-históricos, conforme as obras dos autores citados.

(20)

A representação social, neste sentido, produz conhecimentos empíricos, teóricos ou ambos. Para Jovchelovicht (2011), o seu estudo estabelece um elo entre saberes e contextos, por ser psicológica e socialmente construída, formando uma triangulação que compreende o Eu – o Outro – e o Objeto em seus contextos sociais. É o subjetivo interagindo e comunicando com o intersubjetivo – interobjetivo, e assim construindo um sistema de representação para expressar uma percepção, acerca de um fato que integra e explica uma realidade pessoal ou coletiva da vida. Como um banco de dados que o ator social sempre recorre para ancorar as suas escolhas e tomadas de posições, Abric (2001).

No levantamento de pesquisas realizadas sobre o tema investigado, não encontramos trabalhos com a abordagem da Teoria das Representações Sociais no bojo do processo de ensino-aprendizagem na UCB; entretanto, as disciplinas de formação humanística desta universidade já foram objeto de investigação.

Por meio de um estudo de caso, as disciplinas de formação humana foram pesquisadas em 2002, pelo Prof. Vicente Paulo Alves, que investigou as disciplinas Ciência da Religião e Antropologia da Religião, que faziam parte do eixo de formação básica da Universidade Católica de Brasília. O resultado deste trabalho está publicado na obra “A religião e o seu ensino: prática de ensino e relação interpessoal com os alunos”, em 2004.

As disciplinas de formação humanística Ciência da Religião e Antropologia da Religião foram reestruturadas e substituídas por Antropologia da Religião e Ética. Diferenciam no conteúdo curricular, entretanto, permanecem com o objetivo de desenvolver um processo educacional que corresponda aos princípios estruturantes da UCB.

(21)

Em razão disso, compreende-se como de suma importância conhecer e entender o conteúdo das representações que os estudantes fazem das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, em seu contexto acadêmico, profissional e social. Esta análise poderá constituir-se numa fonte de compreensão e reflexão dos desafios e limites encontrados no processo educativo por meio da Teoria das Representações Sociais, como revelam as pesquisas de Sousa & Villas Bôas (2011) no campo educacional.

Tais estudos deixam claras as possibilidades das representações sociais de evidenciar processos educativos ainda não desvelados por outros referenciais teóricos, na medida em que elas permitem tanto a análise de contextos mais singulares, como é o caso, por exemplo, do cotidiano escolar, como daqueles mais amplos, relacionados às políticas educacionais. (p. 274).

Entende-se o tema proposto na presente pesquisa como inovador ao propor conhecer quais são as representações sociais das referidas disciplinas, por parte dos estudantes, uma vez que, revisando a literatura sobre o estudo das representações sociais no meio acadêmico, encontramos pesquisas que analisam os processos de formação docente, principalmente no âmbito das licenciaturas: como: “Representações sociais de alunas de pedagogia sobre o trabalho docente: estágio e experiência” (ENS, 2011) e “Representações sociais dos professores formadores: o sentido do trabalho docente e a profissionalização”

(

ABDALLA, 2011

)

“A educação superior e as políticas de formação docente: representações sociais por parte de estudantes de licenciatura” (MACHADO, 2014).

Entretanto, a investigação no presente estudo não está delimitada no âmbito de licenciaturas ou bacharelados de cursos específicos, mas fazer uma análise plural sem distinção entre os estudantes das disciplinas de formação geral da UCB, objetivando compreender o conteúdo das representações sociais a partir do olhar dos estudantes que cursaram e cursam as disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética. Ou seja, busca-se conhecer as operações mentais e sociais que os estudantes universitários organizam para categorizar e representar estas disciplinas.

(22)

-tempo”, “servem só para a instituição ganhar dinheiro”, “existem porque a universidade é católica”.

Estas disciplinas são colocadas no rol das que têm menos valor científico, com o status inferior em relação às demais disciplinas específicas dos cursos. Estas observações diretas são apenas empíricas e presenciadas nas salas de professores e nos corredores da UCB. Isso conduz às seguintes hipóteses: as disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética cumprem o seu papel institucional de formação humanística na percepção dos estudantes; os estudantes das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética consideram estas como desnecessárias em sua formação humana e profissional.

Estas hipóteses determinaram a investigação de como os estudantes percebem a relevância das disciplinas do eixo humanístico na formação humana e ética do jovem universitário, tal como Marques (2013, p. 229) enfatiza: “no mundo cada vez mais complexo e competitivo, exige-se que no curso superior os profissionais tenham desenvolvido integridade ética, bem como a competência intelectual”.

Como ressalta Paulo Freire (2010), não somos sujeitos determinados, mas condicionados e por tal motivo podemos transformar a realidade em que vivemos por meio da nossa participação social, tendo como meta a construção da cidadania De acordo com o autor, para que isto aconteça faz-se importante a reflexão que o docente e o discente realizam sobre a práxis no processo educativo.

Ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina a aprender (FREIRE, 2010, p.23).

(23)

uma comunidade que dialogam, solidarizam e trocam saberes, como nos brinda num de seus poemas.

Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto

durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

(CORALINA, 2014). Destaque nosso.

Para entender o processo de representação social das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, estruturamos a pesquisa no seguinte diagrama.

Figura 01 – Diagrama estrutural da pesquisa

Fonte: Elaboração da autora

Representações sociais das disciplinas Antropologia da Religião e Ética, por estudantes da Universidade Católica de Brasília.

Como as representações sociais das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética são estruturadas no contexto pessoal, social e técnico-profissional do estudante?

As disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética cumprem o seu papel institucional de formação humanística na percepção dos estudantes.

Os estudantes das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética consideram estas como desnecessárias em sua formação humana e profissional.

Analisar, à luz da Teoria das Representações Sociais, as representações sociais das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética elaboradas por estudantes da Universidade Católica de Brasília.

OBJETIVO GERAL PROBLEMA

HIPÓTESES

(24)

Na busca de compreender a organização do processo de apreensão e representação que os estudantes elaboram das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, estabelecemos como objetivos específicos a alcançar:

a) identificar as representações sociais das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética de estudantes destas disciplinas;

b) explicar os processos de objetivação e ancoragem das representações sociais de Antropologia da Religião e Ética, por meio da Teoria das Representações Sociais;

c) descrever como os estudantes que cursaram e cursam as disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética avaliam as propostas estabelecidas nos programas de ensino em relação ao desenvolvimento de habilidades pessoais, sociais e técnico-profissionais, na Teoria das Representações Sociais;

d) caracterizar a avaliação das propostas dos programas de ensino em relação ao desenvolvimento de habilidades pessoais, sociais e técnico-profissionais realizada pelos estudantes das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, na abordagem da Teoria das Representações Sociais.

Como as representações sociais são fruto do exercício prático e rotineiro, o seu conteúdo embrenha-se na vida social, influenciando o indivíduo em suas relações sociais, assim conhecer um pouco mais as disciplinas pesquisadas por meio da fala dos estudantes, pode ser um instrumento importante para o processo de ensino-aprendizagem das disciplinas de formação geral, que leva em consideração o desenvolvimento humano, ético científico, social e emancipador.

Deste modo a perspectiva teórica das TRS, foi utilizada na interpretação dados coletados para compreender o complexo processo de elaboração das representações sociais das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, por meio das contribuições de Moscovici (2010, 2012), dialogando com os pressupostos teóricos dos pesquisadores Jodelet (2001, 2006) e Abric (2001).

O perfil metodológico deste estudo foi definido como um estudo quali -quantitativo, considerando a abertura que a abordagem da Teoria das Representações Sociais possibilita, combinando-se procedimentos e técnicas de pesquisa na coleta e interpretação dos dados.

(25)

perfil psicológico e social dos sujeitos pesquisados, uma vez que o método qualitativo buscará obter informações mais explicativas e interpretativas do fenômeno pesquisado, enquanto que o método quantitativo possibilitará um levantamento predominantemente estatístico e descritivo.

Desta maneira, a pesquisa foi um estudo transversal descritivo quali -quantitativo, sendo o universo da pesquisa composto de 272 participantes para a disciplina de Antropologia da Religião e 181 partícipes para a disciplina de Ética, que responderam a um questionário de associação livre de palavras e com questões abertas e fechadas. Os dados obtidos foram processados eletronicamente com a utilização de dois softwares, o Ensemble de Programmes Permettant L’analyse dês

Evocations (EVOC-2003) e o Statistical Package for Social Science (SPSS para

Windows).

A estruturação deste estudo está organizada em quatro capítulos.

O primeiro capítulo faz uma breve contextualização das disciplinas de formação geral na Universidade Católica de Brasília, a configuração do conteúdo das disciplinas concatenado com os depoimentos dos participantes da pesquisa.

O segundo capítulo dialoga com as várias contribuições da Teoria das Representações Sociais ao longo de sua história.

O terceiro capítulo relata o processo metodológico do estudo, como a caracterização dos participantes, instrumentos, procedimentos para a coleta das informações, a apresentação e análise dos dados empíricos com os resultados e discussões.

O quarto capítulo discute e apresenta os resultados sobre os conteúdos e estruturas das representações sociais, das disciplinas de Antropologia da Religião e Ética.

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CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

Neste capítulo contextualiza como as disciplinas de formação geral Antropologia da Religião e Ética foram instituídas na UCB, descrevendo as suas configurações curriculares, os papéis que têm na estrutura institucional e ainda situá-las como o objeto da pesquisa.

Em um subitem do Capítulo I analiso os pensadores que teorizam a respeito da Ética, enquanto ciência, e como os conteúdos dos autores que são trabalhados em sala de aula aparecem em muitos depoimentos dos participantes, ressaltando o quanto a disciplina de Ética é salutar para a formação e a dignidade humana.

Também neste capítulo dedico uma parte para dialogar com as diversas ciências, enfocando a importância da interdisciplinaridade para o estudo do tema Religião.

Por fim, último busco articular a configuração religiosa da juventude universitária da UCB em contraste com os dados obtidos na pesquisa dos dados do Censo Demográfico Brasileiro de 2010.

1.1 O CONTEXTO ACADÊMICO DAS DISCIPLINAS DE ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO E DE ÉTICA NA UCB

As disciplinas Antropologia da Religião e Ética originaram-se historicamente das disciplinas de Teologia I e II e de Ética que se tornaram obrigatórias em todos os cursos da UCB em 1996, conforme decisão homologada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão - Consepe (ALVES, 2004). Conforme a proposta apresentada pela reitoria da UCB e sua equipe, estas disciplinas deveriam atender ao Projeto Pedagógico Institucional na comunidade acadêmica, promovendo os valores humanos, éticos e cristãos nas relações interpessoais, nas condutas e nas decisões da instituição, com o objetivo de formar bons cidadãos e excelentes profissionais (DEGASPERI et al., 2002).

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comprometida com o desenvolvimento de uma educação voltada par a participação cidadã, a confessionalidade, a formação religiosa, a competência e a sensibilidade solidária:

A UCB é uma universidade confessional, que oferece a seus alunos a possibilidade de uma educação diferenciada, baseada numa educação religiosa que prioriza os valores humanos e transcendentes, fundados num autêntico diálogo inter-religioso (sic) e numa compreensão integral da pessoa humana e da sociedade. (ALVES, 2004, p. 73).

Em seus documentos estruturantes, a universidade define que os princípios norteadores da formação humanística de seus estudantes estão fundamentados no respeito à dignidade humana e na liberdade de expressão (ALVES, 2004), sendo de responsabilidade das disciplinas Teologia I e II, e Ética desenvolverem o processo educativo de seus discentes pautado no compromisso social e político, coordenadas pelo Centro de Reflexão e Ação Pastoral (Cerap) e orientação da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), segundo o organograma institucional de 1999.

No entanto, em 2000, as disciplinas Teologia I e II foram substituídas respectivamente pelas disciplinas Ciência da Religião e Antropologia da Religião, integradas à Diretoria de Programas de Ação e Reflexão Pastoral, constituindo um núcleo de reflexão permanente com estudos e pesquisas sobre as disciplinas Ciência da Religião, Antropologia da Religião e Ética. E em 2001, criou-se o Programa de Acompanhamento das disciplinas Ciência da Religião, Antropologia da Religião, Ética e Comunidades Eclesiais de Base, coordenadas pela Diretoria de Programas de Ação e Reflexão Pastoral, conforme dados do Relatório de 2001 da Proex (DEGASPERI et al., 2002).

Esta nova configuração das disciplinas de formação humanística da UCB foi pesquisada em 2002, pelo Prof. Vicente Paulo Alves, que investigou as disciplinas Ciência da Religião e Antropologia da Religião. O resultado deste trabalho foi publicado em 2004, na obra “A religião e o seu ensino: prática de ensino e relação interpessoal com os alunos”.

A pesquisa realizada por Alves (2004) foi um estudo de caso, com a participação de estudantes e professores:

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respondidos. O roteiro indagava sobre a preparação das aulas, atualização do professor, empatia, insights, autoritarismo, fragmentação, comunicação, sensibilidade humana, convivência e aprendizagem cooperativa.

b) Com os professores, a entrevista foi a técnica de coleta de coleta de dados escolhida, ouvindo 16 participantes.

Os resultados obtidos neste levantamento com os estudantes e professores das disciplinas de Ciência da Religião e Antropologia da Religião na UCB foram confrontados com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96 (BRASIL, 2006), que determina os procedimentos do Ensino Religioso na educação básica e superior. Seguem as principais conclusões da pesquisa:

a) A educação religiosa das universidades confessionais deve preparar os estudantes para a vivência dos princípios de liberdade, verdade, reflexão crítica da realidade, inserção social e participação social;

b) O grande desafio para as disciplinas pesquisadas é lidar com estudantes que estão abertos a esse processo de formação, em contraposição à resistência e fechamento de outros, dicotomia que persiste principalmente entre aqueles que visam uma colocação no mercado de trabalho;

c) Quando o professor conhece o conteúdo e o expõe de forma clara, traça caminhos de aproximação da turma, estabelecendo relações afetivas de amizade e confiança entre aluno e professor;

d) As disciplinas pesquisadas devem procurar uma nova prática pedagógica e metodológica que desenvolva uma comunicação libertadora, o diálogo franco e amigo para superar a relação dominadora entre professor e aluno;

e) Os estudantes ressaltam que a importância da disciplina de educação religiosa está em desenvolver os fundamentos religiosos, combater preconceitos, propiciar competências e habilidades para relacionar-se de maneira mais humana com as pessoas.

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As disciplinas desenvolvidas pelo Crear têm como pressuposto articular a missão institucional da UCB como uma universidade confessional com os conteúdos pedagógicos de Antropologia, Cultura, Religião e Ética (UCB, 2014), logrando que os seus estudantes ao final do curso tenham um conhecimento antropológico crítico-reflexivo capaz de orientar sua vida pessoal e profissional, com competência e capacidade de se posicionar diante dos desafios éticos da atualidade, e principalmente os da sociedade brasileira, por meio das discussões epistemológicas que seguem:

a) Indissociabilidade das três funções básicas de toda universidade: formação das pessoas (ensino), investigação (pesquisa) e serviço à comunidade (extensionalidade), abrindo-se para todos como lugar de experiência religiosa, de estímulo à busca do transcendente, de diálogo entre razão e fé, e de preocupação com as implicações éticas do conhecimento e da pesquisa, favorecendo um espaço para o cultivo prioritário da ética sobre a técnica, o primado da pessoa sobre as coisas, na certeza de que o conhecimento só serve à humanidade se estiver revestido dessa consciência (UCB, 2014);

b) O conhecimento científico do fenômeno religioso no mundo globalizado e da nova consciência religiosa que está em formação neste contexto, analisando os possíveis encontros e desencontros entre fé religiosa e razão moderna, procurando compreender e aprofundar a relação que existe entre cultura e religião, desde as origens através da história da antropologia e da sua compreensão (UCB, 2014);

c) Verificar a interpretação que os diversos fenômenos religiosos dão a respeito da condição humana, a partir de uma reflexão sobre a religiosidade do povo brasileiro, tendo presente a sua formação judaico-cristã e afro-indígena (UCB, 2014);

d) Estimular os acadêmicos a participar efetivamente da construção de um

ethos1 comum que favoreça a convivência pacífica das pessoas, o espírito de

solidariedade, o desenvolvimento sustentável e a salvaguarda do planeta (UCB, 2014).

Este breve histórico das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética permite compreender as diretrizes institucionais em que se ancora a sua proposta de propiciar ao estudante a condição de protagonista do seu próprio conhecimento,

1Ética vem de Ethos que significa lugar habitual, morada. Ethos designa a morada do homem, o

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como cidadão e profissional inserido em sua realidade social, como sujeito que pensa e constrói a sua própria realidade.

Tal contextualização faz-se relevante, uma vez que o processo educativo está conectado “às condições sociais, históricas, políticas, econômicas e psíquicas, imprescindíveis à sua constituição, emergência, sobrevivência e convívio no contexto da sociedade na qual está inserido” (LIMA, 2012, p. 196).

Ao considerar que o processo de formação acadêmica deve desafiar o jovem universitário a ser cidadão, pesquisador e profissional, acreditando que as disciplinas pesquisadas podem contribuir para uma educação integral, sentimo-nos provocados e motivados a compreender as suas representações sociais.

A partir do estudante, sujeito envolvido nesta práxis, sentimo-nos desafiados a buscar apreender as dimensões do “como”, “por que”, “o que” e “para que” são formadas as representações sociais das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, na UCB.

Analisando os objetivos gerais das disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, percebemos implicitamente os pressupostos que fundamentam uma representação social, quando expressam uma pedagogia que cultiva uma educação globalizante, articulando o sujeito, sua identidade e a cultura, tal como os Planos de Ensino (ANEXOS A e B), respectivamente descrevem:

a) possibilitar aos estudantes, a partir do estudo da Antropologia, uma melhor compreensão da pessoa humana, enquanto ser social e culturalmente identificado; do fenômeno religioso, das culturas e das culturas religiosas, em vista do exercício da cidadania;

b) analisar criticamente as questões éticas da atualidade que possibilitem aos estudantes posicionamentos éticos ante os desafios pessoais e coletivos da contemporaneidade.

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perda de tempo e de esforços, como relata Oliveira, gestor do Crear, em homepage da Universidade Católica de Brasília (UCB, 2014, p. 6).

O maior desafio ou dificuldade encontrado no CREAR é a exata compreensão por parte de boa parte de professores e por parte de algumas direções de Cursos do significado e da importância das disciplinas Antropologia da Religião e Ética para a missão e a visão de futuro da UCB [...] Em conversas com as Direções de Cursos, nota-se que ainda prevalece uma visão negativa das disciplinas. Tal visão parece nascer da concepção mercadológica da educação, segundo a qual as disciplinas voltadas para a formação humana do futuro profissional são desnecessárias.

Quanto ao exposto por Oliveira (UCB, 2014) sobre o posicionamento dos docentes em relação às disciplinas de formação humana, a pesquisadora Marques (2013) mostra que este pensamento é muito comum no meio universitário, no qual se reduz o ensino superior à transmissão de conhecimentos, conteúdos e habilitação técnica para a inserção no mercado de trabalho, contrariando as novas exigências de formação integral do tripé ensino, pesquisa e extensão.

No entendimento de Marques, as instituições de ensino superior que trabalham com a temática de valores e o sagrado devem motivar os docentes e gestores a compreender a necessidade das disciplinas do eixo humanístico como um instrumento para a construção de uma formação humana a partir de ações práticas que envolvam a “generosidade, solidariedade e empatia em meio ao desenvolvimento de competências e habilidades técnicas, provocando nestes jovens o desenvolvimento de suas capacidades humanas plenas” (2013, p. 224).

Oliveira (UCB, 2014) também comenta a posição dos estudantes, reiterando que estes rechaçavam as disciplinas, porém foi preciso que o Crear adotasse uma estratégia político-pedagógica de selecionar profissionais com formação específica na área, motivar discussões e temáticas da contemporaneidade que envolvessem as disciplinas. Com esta mudança tática os estudantes passaram a aceitá-las, diminuindo a rejeição, como verificado nas avaliações semestrais que os estudantes fazem das matérias de Antropologia da Religião e de Ética.

Por parte dos estudantes já houve no passado bastante rejeição das disciplinas. Porém, ultimamente, nota-se maior aceitação. Nas avaliações feitas no final dos últimos semestres aumentou o número de estudantes que apresentam uma visão positiva das disciplinas e as consideram importantes para o próprio futuro profissional. (UCB, 2014, p.6).

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para a formação de profissionais conhecedores e comprometidos com as necessidades da sua comunidade, do seu país e da comunidade internacional” (MARQUES, 2013, p. 226).

Em 2013, o Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia de Religião foi extinto, quando se iniciou um processo de reestruturação no interior da UCB. A partir de então, as disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética deixaram de ser coordenadas pela Diretoria de Programas Comunitários e Pró-Reitoria de Extensão, e passaram a integrar o âmbito da Reitoria, criando-se o Núcleo de Formação Geral (NFG), setor responsável pelo planejamento e execução das disciplinas de formação humanística Antropologia da Religião e Ética, na UCB.

Diante dos desafios encontrados pelas disciplinas de Antropologia da Religião e de Ética, com as respectivas vicissitudes aqui mencionadas, percebemos a necessidade de um estudo mais aprofundado das mesmas, e realizado com os sujeitos que constituem o seu foco, os estudantes.

1.2 CONCEPÇÕES DE ÉTICA E MORAL, NA TEORIA E NAS FALAS DOS PARTICIPANTES.

A universidade é uma instituição social, fundada na universalidade de conhecimentos e práticas, representa um microcosmo produtor de cultura que influencia a vida de milhares de jovens e adultos, ávidos por novos saberes e experiências. Para os jovens, o ingresso no ensino superior retrata um momento de transição para a vida adulta e profissional, em que os valores éticos e morais serão exigidos em todos os espaços em que estiverem inseridos. Assim, o objetivo deste item é articular as concepções de ética e moral na teoria com as falas dos participantes da pesquisa, na realidade universitária.

Atualmente, vários autores têm discutido a ética como uma saída para os grandes problemas da humanidade que envolvem as questões ambientais, econômicas, políticas, religiosas e sociais. Para que esta discussão deixe de ser apenas teórica, deve ser enfrentada por todos os indivíduos e instituições, tornando-a um objeto de estudo nos tornando-ambientes tornando-actornando-adêmicos.

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seja, o objetivo deste item é referenciar à teoria e às falas dos participantes da pesquisa.

A ética é uma elaboração cultural de práticas, fatos e atos para a convivência humana, ou seja, produz um “modo de ser”. Mas, também é uma ciência que estuda o comportamento moral dos homens em sociedade (SÁNCHEZ-VÁZQUEZ, 2010). O autor dialoga com os aportes das ciências humanas e sociais, para conhecer e compreender as diferentes formas do comportamento humano.

Sánchez-Vázquez dissocia o estudo da ética de uma filosofia meramente especulativa acerca da moral e da aproximação das ciências que lhe retiram conclusões proveitosas para fundamentar os seus próprios interesses. Analisando a ética como um fenômeno presente na vida social do homem, ou seja, o mundo moral, sem reduzi-lo a princípios absolutos ou apriorísticos, porém, aprofundando a análise em “suas raízes na própria existência histórica e social do homem” (2010, p. 27).

A ética científica vazqueana se traduz numa filosofia imanentista e racionalista do mundo e do homem, descartando os aspectos extramundanos, super-humanos e irracionais, que são próprios da filosofia especulativa. Assim, aconselha que todas as questões que envolvam a ética devem ser avaliadas juntamente com as contribuições da filosofia, epistemologia, linguagem, lógica e das várias ciências, evitando-se os juízos especulativos e estigmatizados (SÁNCHEZ-VÁZQUEZ, 2010).

A proposta vazqueana de conceber a ética como uma ciência que investiga o comportamento moral do homem como histórico, social e prático, é muito relevante para esta pesquisa que busca uma compreensão da disciplina de Ética no meio acadêmico, que se expressa no comportamento humano, pois os participantes desse estudo são atores sociais inseridos em uma comunidade, com as seguintes implicações:

a) praticam atos morais nas suas relações com os outros, os quais apresentam elementos subjetivos e psíquicos, constituídos de motivações, impulsos, atividades da consciência com finalidades, selecionam meios, escolhem alternativas, elaboram juízos de aceitação ou rejeição, constituindo-se em respostas e saídas para um comportamento moral (SÁNCHEZ-VÁZQUEZ, 2010);

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processo subjetivo (SÁNCHEZ-VÁZQUEZ, 2010). É o que se depreende do relato do participante 126, segundo o qual a Ética é consciência moral, ou seja, não distingue ética e moral, pois estas existem desde sempre ordenando a realidade:

PARTICIPANTE 126 (Ética): A consciência moral, que desde sempre pronuncia juízos morais sem hesitação, e reivindica autoridade para submeter a críticas contínuas as instituições e formas de vida social que ela mesma ajudou a criar. As concepções como as de dever, responsabilidade e vontade, tomadas como objetos últimos de aprovação e desaprovação moral, já estão dadas e já se encontram há muito tempo em operação.

Este relato exemplifica o conceito de moral presente em nossa realidade e o discutido por Sánchez-Vázquez (2010) como um conjunto de normas que são livremente e conscientemente aceitas por um grupo social, com dois atributos o normativo (ideal) e o fatual (real). Estes dois campos normativo e fatual estão intimamente interligados na formação da consciência individual e social.

A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal (Op. Cit., p.84).

O desafio da disciplina de ética é estudar o comportamento moral dos homens em sociedade. Compreendendo a configuração da subjetividade humana que leva a aceitação e interiorização da norma e o seu processo de efetivação social (SÁNCHEZ-VÁZQUEZ, 2010).

Nesta empreitada a disciplina de ética busca apoio em outras epistemologias para apreender e investigar o seu objeto de estudo, o comportamento moral dos homens, que se manifesta em diversas realidades como psicológica, social, política, filosófica, econômica, religiosa e jurídica.

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Para Boff (2009) o fundamento da ética está no ethos que organiza o espaço físico e o espaço humano, acerca da vida, do universo, do destino, estatuindo princípios e valores. Este autor estabelece que as fontes históricas da ética originam-se nas religiões, na razão, no afeto, no conflito entre afeto e razão, na irradiação da ternura e do vigor.

Boff defende que estas fontes devem promover princípios e valores, ligados à vida, ao cuidado, às relações cooperativas, e à cultura da não violência e da paz. É uma ética global que inclui a família humana com o “ethos que ama, cuida, se responsabiliza, se solidariza e se compadece” (2009, p. 32).

Neste sentido, Dussel (2007) propõe uma ética crítica, reflexiva e libertadora, da sociedade capitalista, questionando e os seus valores fundamentados no mercado e no consumo, fazendo com que todos os animais e a natureza estejam a seu serviço. A sua análise destina-se a cultivar nos sujeitos o desejo de transformar a realidade opressora a partir de sua própria consciência, criando novos conhecimentos e discursos, em prol de uma vida melhor.

O sujeito humano é o ponto de partida e continua sendo referência e conteúdo da consciência cognoscente [...] do mundo [...] da linguagem, dos instrumentos e valores culturais, de todos os sistemas performativos, da discursividade ou da comunidade de comunicação (nós nos comunicamos e argumentamos para „viver melhor‟). (DUSSEL, 2007, p. 528).

Boff (2009) e Dussel (2007), em suas considerações, propõem uma ética inserida e transformadora do indivíduo e da sociedade, mas associando as ideias destes autores ao pensamento Spinoza (2013), que ressalta a importância da esperança para aumentar a potência dos indivíduos em desenvolver paixões positivas como alegria, liberdade, coragem e amor. A discussão destas concepções no contexto acadêmico pode levar os estudantes a transpor as limitações como „não é possível mudar a realidade‟, „desde que o mundo é mundo as coisas estão assim‟ e „tudo está em ordem e funcionando para que mudar‟ que são impostas pela moral.

Este comportamento moral instituído pela ordem social baseada na economia de mercado propõe um modelo de sociedade baseado no comodismo, individualismo e na competição voraz defendendo posições como: „tudo deve ficar como está‟, do „vale tudo‟ e do „salve-se quem puder‟, com intuito de fragmentação do ator social.

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conhecimento humano: a paixão e afecção, que impedem as pessoas de pensar e desenvolver o seu intelecto plenamente, pois se preocupam com o eu em detrimento do outro.

A moral para manter e preservar, a sua hegemonia sobre as relações sociais impõe imagens ou representações, que retratam universos passíveis de múltiplas interpretações, gerando equívocos e ou perpetuando situações, as deixam os indivíduos desprovidos de vontade, racionalidade, autonomia e liberdade, em uma dada realidade.

Quanto maior é o número de coisas a que uma imagem ou um afeto está referido, tanto maior é o número de causas pelas quais ela pode ser estimulada e reforçada [...] tanto mais vezes ele se torna vívido, e tanto mais ocupa a mente (SPINOZA, 2013, p. 223).

Estas palavras de Spinoza estão refletidas nos relatos dos participantes em que distinguem ética, moral e comportamento no contexto cultural:

PARTICIPANTE 147 (Ética): Para mim, apesar de todas as definições que podem haver de Ética, no final, todas envolvem de modo geral o comportamento do indivíduo, que pode ser ou não ético, porém cada pessoa é afetada pela cultura de seu povo e/ou seu país, onde há a discussão sobre o que é ou não moral, mas essa intervenção cultural pode fazer com que este tenha seus próprios conceitos sobre o que é ético - e moral - para ele.

PARTICIPANTE 125 (Ética): Reflexão e tomada de decisão. Reflexão é o ponto importante da ética é algo que vem de dentro para fora, depende de cada pessoa e como ela vai agir de acordo com sua decisão diante de qualquer coisa.

A formação ética é imprescindível na vida humana, pois é a lente crítica capaz de questionar a moral dada, que instaura modelos muitas vezes inadequados, geradores de enfermidades do ânimo (ansiedade, angústia, medo), e de infortúnios, aniquilando a potência dos indivíduos, privando-os de agir, conhecer e viver plenamente a sua liberdade.

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PARTICIPANTE 53 (Ética): Consciência: Baseado na razão, onde existe a necessidade de uma reflexão aprofundada visto que ela está voltada mais para uma reflexão interior (caráter pessoal) do que a preocupação com um supervisionamento de outros. Princípios: sendo aqueles que regulamentam a vida do homem, baseado nesses que o Homem irá se embasar para crescer, desenvolver para criação de um caráter.

PARTICIPANTE 55 (Ética): Acredito que o estudo da ética é importante para analisar as ações da sociedade e do indivíduo, de modo a realizar um juízo de valor sobre o que é certo e errado. Assim, essa disciplina tende a moldar o caráter do indivíduo e definir as diretrizes da sociedade, em busca do bem comum.

A ética spinoziana é uma proposta de uma cosmologia inspirada na coragem e fortaleza, como um avatar2 que transcende a si mesmo na busca de superar a moral fundamentada no medo, no perigo e nas imposições. Pois, quando ordenamos nossos pensamentos e imaginações, considerando e refletindo “aquilo que cada coisa tem de bom, para que sejamos, assim, sempre determinados a agir segundo o afeto da alegria” (SPINOZA, 2013, p. 222). Temos condições de elaborar e praticar boas ações, uma vez que, estas ocuparam as nossas mentes.

O ator social que ordenar os seus pensamentos, conforme os ensinamentos de Spinoza (2013) conseguirá comandar a sua vida pelo segundo gênero de conhecimento que é a razão e deixará de ser comandado pelos desejos desenfreados. A razão possibilita a compreensão de si, de seus afetos e de uma espiritualidade, sendo capaz de perceber a sua existência que é o corpo e a essência que é dada pela mente definindo o modo de pensar e se tornar eterno.

Dessa forma, não há espaço para devaneios e sentimentos que inviabilizam a potência do ser humano, como aqueles estudantes apáticos, sem intuição e sem eternidade, os quais não compreendem as suas essências e as suas singularidades. Levá-los a perceber e questionar esta situação é o papel da ética, como ilustram os depoimentos a seguir:

PARTICIPANTE 164 (Ética): O respeito e a subjetividade são, na minha opinião, os termos chave para a ética, pois apenas quando todos tiverem o respeito a subjetividade uns dos outros é que poderemos falar de uma sociedade não mais exclusivista e sim agregativa as diferenças, e isso é o mais importante na ética.

PARTICIPANTE 99 (Ética): O Eu é mais importante, porque os costumes, a consciência, as normas ou qualquer outro fator de conduta, precisa da aprovação do próprio indivíduo, ou a renúncia do próprio eu em favor do próximo, mesmo que esse próximo seja um anônimo, como uma

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sociedade ou tribo. A permissão ou submissão do eu é que faz ética ser praticável.

O desenvolvimento de uma conduta de alteridade ética, que estimula a construção de corpos singulares e potentes que têm o “o poder de determinar a existência das coisas pelo tempo e de concebê-los segundo a duração” (SPINOZA, 2013, p. 228), assim como conceber por si mesmos conceitos, noções, ideias, paixões adequadas e positivas para aumentar as suas potências, são elementos que devem estar articulados aos conteúdos de Ética trabalhados em sala de aula. Esses aspectos são retratados em diversos depoimentos, como os que seguem:

PARTICIPANTE 139 (Ética): Altruísmo: a ética ensina você se pôr no lugar do outro, e dessa forma ajudar ao próximo. Respeito: o respeito pelo próximo é um fator fundamental para viver em uma sociedade baseada na ética.

PARTICIPANTE 175 (Ética): Empatia (conhecer e colocar-se no lugar de outra pessoa) e questionamento (questionarmos em relação a nossas atitudes, pensando nas consequências para nós mesmos e sociedade).

Segundo Spinoza (2013), a intuição é uma maneira de compreender os corpos em sua essência, respeitando as diferenças. Quanto mais compreendemos as coisas singulares, mais nos aproximamos deste gênero do conhecimento e a nossa maior virtude.

Quem conhece as coisas por meio desse gênero de conhecimento passa à suprema perfeição humana e, consequentemente, é afetado da suprema alegria, a qual vem acompanhada da ideia de si mesmo e de sua própria virtude. Logo, desse terceiro gênero de conhecimento provém a maior satisfação que pode existir. (SPINOZA, 2013, p. 229).

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A disciplina de Ética deve possibilitar ao estudante compreender as suas ações e os seus pensamentos, livrando-o do conhecimento fundado em paixões gananciosas e violentas que produzem o sofrimento. Daí a importância das ideias de Spinoza (2013) para dissipar as condutas do „vale tudo‟ e libertar-se de todas as prisões que nos violam. Precisamos reinventar a todo o momento as nossas relações e proporcionar em nossas vidas bons encontros para melhorar as nossas potências, evitando os sentimentos ruins que nos tornam seres impotentes e comandados.

Em Spinoza o amor intelectual de Deus é causa e efeito de tudo o que existe, ou seja, expressa a sua substância e essência, o qual cria e ama a si mesmo, os humanos por ter neles a sua essência criadora e semelhança. Este amor não tem que ser necessariamente uma divindade sagrada, mas que pode ser chamado de Natureza, Energia, Potência ou Razão, “quer esteja referido a Deus, quer esteja referido à mente, esse amor pode ser corretamente chamado de satisfação do ânimo, o qual não se distingue, na realidade, da glória” (2013, p. 233).

Esta forma de amor de Spinoza (2013) é que necessitamos aprimorar nas relações uns com os outros, cultivando a nossa singularidade para conseguir respeitar as diferenças e garantir que todos possam realmente viver plenamente a liberdade da mente dada pelo conhecimento e pela intuição. A sala de aula constitui um espaço e um tempo de cultivar este amor, por meio de bons encontros reflexivos para aumentar a potência adormecida dentro de nós.

1.3 CONCEPÇÕES DE RELIGIÃO E RELIGIOSADE ENTRE OS JOVENS

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Os autores mencionados caracterizam o campo religioso compreendendo a vida religiosa, as religiões e a religiosidade. Enfatizam a religião como uma instituição social com papéis preestabelecidos, presente na vida sociocultural dos indivíduos elaborando significados e significantes, cuja finalidade é a produção de simbologias que se comunicam e se expressam nas atitudes, comportamentos, percepções e sentimentos do sujeito, orientando-o em seu agir, seja individualmente ou coletivamente.

A pluralidade religiosa é uma realidade mundial, igualmente presente em todos os setores da vida social brasileira. Pode-se associá-lo ao pensamento durkheiminiano de que a ciência precisa compreendê-lo enquanto objeto científico e não relegá-lo ao simples juízo de valor para superficialmente avaliar as religiões como falsas ou verdadeiras.

Para Durkheim (1996), todas as religiões têm a função estruturante: fornecer respostas para a essência e a existência humana, com o escopo de manter os membros de um grupo coesos em torno de um sistema de crenças em que o sagrado e o profano estruturam e prescrevem uma série de valores morais e éticos que direcionam a vida dos fiéis rumo à harmonia social e à solidariedade, visando a manutenção e a vitalidade coletiva em torno de um grupo social.

A teoria sociológica da religião de Durkheim (1996) enfatiza a religião como uma força externa objetivada em um sentimento que contagia a coletividade, inspirando seus membros, projetando-os para fora de suas consciências quando experimentado organiza e objetiva, a vida em torno de uma força cósmica sagrada, que seguem suas próprias leis. Portanto, a função da religião é cultivar valores morais que ajudem os indivíduos a cumprir os papéis estabelecidos pela sociedade, mantendo-a forte, coesa e em paz, por meio do sentimento religioso que transmite uma rede de sentidos e signos partilhados socialmente, com o apoio de outras instituições como a família e a educação.

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Na abordagem antropológica de Geertz (2008) a religião é concebida como cultura fundamentada em um sistema simbólico caracterizado por duas dimensões, uma subjetiva e outra objetiva:

a) A primeira diz respeito às orientações gerais como a visão de mundo, as ideias mais abrangentes que englobam os princípios de ordem primária, que ajudam o indivíduo a se colocar no mundo, a compreender e explicar a sua própria existência baseada em postulados ontológicos, metafísicos e cosmológicos;

b) A segunda estabelece componentes morais e éticos para o indivíduo se posicionar socialmente perante o grupo. Segundo o autor, estas dimensões estão presentes nos diversos grupos religiosos brasileiros e como estes se posicionam e se influenciam, individualmente ou enquanto grupo, diante dos fatos econômicos, políticos e sociais em nosso país.

A corrente antropológica cultural propõe que a religião atue para conservar e estabelecer duradouras determinações que acabam parecendo realistas e motivadoras para a vida privada; entretanto, a face objetiva das religiões é a mais percebida, uma vez que transcende a dimensão pessoal e está fundada no ethos e na moral, produz valores e estilos de vida que orientam a postura social que o crente deve seguir em sua coletividade.

Em outras palavras, a dimensão objetiva estabelece o cânon3 com as

permissões e os interditos próprios de cada grupo religioso, pois o fiel não está solto no mundo. A sua conduta social deve estar em conexão com os ditames de sua religião; portanto, a sua práxis religiosa deve estar inserida em todas as suas ações e intervenções no cotidiano (GEERTZ, 2008), assim o católico, evangélico, protestante, espírita, umbandista etc. deve atuar e viver segundo os pressupostos de sua tradição religiosa.

Em Geertz (2008) as disposições referidas anteriormente objetivam orientar o crente a postar-se, inserir-se e simbolizar-se no mundo. A religião coletiviza comportamentos, condutas, emoções e sentimentos, e tais componentes formam uma representação cultural e social coparticipada, percebida no Censo Demográfico Brasileiro de 2010, em que 92% dos indivíduos se identificam e assumem uma identidade religiosa, cuja finalidade “é o reconhecimento de peculiaridades próprias

3 Cânon, regra geral de onde se inferem regras, padrões, modelos, normas especiais.

Imagem

Tabela 02  –  Distribuição de Frequências e o cruzamento das variáveis religião e idade dos  participantes
Figura 02  –  Distribuição de frequência e Ordem Média das Evocações do software EVOC,  adaptado de Pereira (2005).
Tabela  04  –   Perfil  sociodemográfico  dos  estudantes  das  disciplinas  de  Antropologia  da  Religião e de Ética
Tabela 05 –  Conteúdo e estrutura das representações sociais da disciplina Antropologia da  Religião
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