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Educação jurídica no âmbito da transnacionalização das relações humanas: recontextualização curricular do Direito Internacional em cursos de Direito no Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ANELIZE MAXIMILA CORRÊA

EDUCAÇÃO JURÍDICA NO ÂMBITO DA TRANSNACIONALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES HUMANAS: RECONTEXTUALIZAÇÃO CURRICULAR DO DIREITO

INTERNACIONAL EM CURSOS DE DIREITO NO BRASIL

Pelotas 2018

(2)

ANELIZE MAXIMILA CORRÊA

EDUCAÇÃO JURÍDICA NO ÂMBITO DA TRANSNACIONALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES HUMANAS: RECONTEXTUALIZAÇÃO CURRICULAR DO DIREITO

INTERNACIONAL EM CURSOS DE DIREITO NO BRASIL

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas, na linha de Pesquisa Currículo Profissionalização e Trabalho Docente, como requisito parcial a obtenção do título de Doutora em Educação.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Cecilia Lorea Leite

Pelotas 2018

(3)

C823e Corrêa, Anelize Maximila

CorEducação jurídica no âmbito da transnacionalização das relações humanas : recontextualização curricular do direito internacional em cursos de direito no Brasil / Anelize

Maximila Corrêa ; Maria Cecilia Lorea Leite, orientadora. — Pelotas, 2018.

Cor256 f. : il.

CorTese (Doutorado) — Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Pelotas, 2018.

Cor1. Educação jurídica. 2. Currículo. 3.

Recontextualização. 4. Direito internacional. 5. Relações humanas transnacionalizadas. I. Leite, Maria Cecilia Lorea, orient. II. Título.

CDD : 370

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ANELIZE MAXIMILA CORRÊA

EDUCAÇÃO JURÍDICA NO ÂMBITO DA TRANSNACIONALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES HUMANAS:recontextualização curriculardo Direito Internacional em

Cursos de Direito no Brasil

Tese aprovada, como requisito parcial, para obtenção do grau de Doutor em Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Pelotas.

Data da Defesa: 28 de setembro de 2018

Banca Examinadora:

_______________________________________________________ Profa. Dra. Maria Cecilia Lorea Leite (Orientadora)

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

_______________________________________________________ Prof. Dr. Mauro Del Pino (PPGE-UFPel)

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

_______________________________________________________ Profa. Dra. Marta Nörnberg (PPGE- UFPel)

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

_______________________________________________________ Prof. Dr. Renato Duro Dias (PPGD- FURG)

Doutor em Educação pela Universidade Federal de Pelotas – UFPel

_______________________________________________________ Prof. Dr. Guilherme Camargo Massaú (PPGD - UFPel)

(5)

Dedico este trabalho

a todos os Juanitos, Pierres, Marias e Mercedes... que transnacionalizaram suas vidas e serviram de exemplo

(nestes meus 25 anos dedicados ao Direito Internacional) de que nada, nem mesmo as fronteiras são capazes de limitar os sonhos...

aos meus alunos, este trabalho é por vocês e para vocês

à memória de uma italiana forte, que cruzou o oceano com uma filha pequena, para manter uma família que tinha sido apartada em razão da emigração. Cá estou, três gerações depois, falando da transnacionalização das relações humanas, porque ela teve coragem de enfrentar o novo, de não se satisfazer com o pouco, de acreditar nos seus sonhos e de ir em busca da sua felicidade.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Universidade Federal de Pelotas, por muito... Por tudo. À Faculdade de Educação e seu Programa de Pós-Graduação em Educação pelos novos horizontes, pelas experiências e valores que em mim se enraizaram e vão comigo de volta para "minha casa"... O retorno às aulas na Faculdade de Direito veio recheado de outro olhar, de outro sabor.

À minha orientadora pela confiança, pela parceria e, sobretudo, pelo exemplo de dedicação e seriedade científica. Por me ajudar a "descortinar a venda" e me permitir ver a Educação Jurídica com outros olhos. Olhos cheios de entusiasmos, de vivacidade e esperança. Aos meus colegas do Terceiro Departamento da Faculdade de Direito, por viabilizarem minha substituição e, como consequência, a licença para me dedicar a este projeto.

Aos professores e gestores dos cursos de Direito da FURG e da UFPel, pela disponibilidade, gentileza e desprendimento. Vocês ao abrirem suas "portas" para esta pesquisa, contribuíram para que possamos pensar juntos em uma Educação Jurídica de qualidade e apta a atender às necessidades da vida, que cada vez mais se desterritorializa.

Aos meus amigos e colegas que comigo compartilharam sonhos e ousadias nesses quatro anos. Muito obrigada pela parceria e pelos valiosos exemplos de vida, de foco, de determinação e coragem. Tenho muito orgulho de vocês.

Aos meus afetos, que trouxeram e mantiveram a cor e o calor na minha vida, mesmo quando, nestes tempos, esta parecia se resumir a uma tela azul.

Aos meus filhos, por nunca terem deixado (cada um em sua perspectiva) de acreditar em mim, mesmo quando nem eu sabia do que era capaz.

Muito, muito obrigada.

Pelotas, 13 de agosto de 2018.

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CORRÊA, Anelize Maximila. Educação jurídica no âmbito da transnacionalização das relações humanas: recontextualização curricular do Direito Internacional em cursos de Direito no Brasil. Tese de Doutorado em Educação - Programa de Pós Graduação em Educação, UFPel, Pelotas, 2018.

RESUMO: Esta pesquisa discute a formação jurídica proporcionada aos estudantes de Direito de Universidades Federais brasileiras quanto ao Direito Internacional, em geral; e ao Direito Internacional Privado, em particular; conteúdos necessários para os profissionais do Direito garantirem o acesso pleno à Justiça por parte dos sujeitos que, em face das dinâmicas contemporâneas mundializadas, forçosa ou voluntariamente, migraram para locais distintos daqueles que possuem vínculo jurídico de nacionalidade; ou estabeleceram relações jurídicas que transpõem as fronteiras do Estado onde estão domiciliados. Em face desse contexto, com base na teoria sociológica de Basil Bernstein (1993; 1996; 1998), neste trabalho, (1) identificamos a intensificação da transnacionalização das relações humanas, pelos movimentos migratórios e das medidas de cooperação jurídica internacional; (2) analisamos as normativas que regulam a Educação Jurídica no Brasil, desde a criação dos cursos de Direito, em 1827, até a proposta de novas diretrizes curriculares nacionais; (3) apuramos os Projetos Pedagógicos de Cursos do Sistema Federal de Ensino e identificamos o posicionamento, enfoque e a carga horária destinada ao Direito Internacional; (4) analisamos os Projeto Pedagógicos Institucionais e os Projetos Pedagógicos de Curso das Universidades Federais de Pelotas (UFPel) e do Rio Grande (FURG), selecionados pelo enfoque e carga horária do Direito Internacional, e as modificações que se operaram nos respectivos Campos Recontextualizadores Pedagógicos; (5) realizamos entrevistas semiestruturadas (TRIVIÑOS,1997) com gestores e professores dos cursos estudados. Com essa trajetória de pesquisa, constatamos que, (a) na história da Educação Jurídica brasileira, existe um vínculo de exclusão do Direito Internacional como componente curricular obrigatório durante regimes autoritários, sendo recuperado em 1994, de forma genérica, com as DCNs; (b) que a Educação Jurídica brasileira, mesmo após a reinserção do Direitro Internacionals mantém uma abordagem territorialista; (c) que as Universidades Federais tratam da temática com diferentes perspectivas e destinação de carga horária; (d) que o tratamento das relações humanas transnacionalizadas é desenvolvido exclusivamente pelo Direito Internacional; (e) que as relações humanas transnacionalizadas são invisíveis para a maioria dos docentes dos cursos jurídicos estudados; (f) que a interdisciplinaridade, mesmo prevista pelos campos recontextualizadores oficiais e pedagógicos, não se recontextualiza nas práticas pedagógicas; (g) que a construção dos currículos dos cursos decorre de arenas de poder (Apple, 1989; Bernstein, 1998); (h) que a Educação Jurídica necessita contemplar o Direito Internacional em sua plenitude, incluindo o Direito Internacional Público e o Privado, com uma destinação de carga horária compatível com a amplitude e complexidade dos temas abordados por estas disciplinas; (i) que a abordagem a ser desenvolvida pelo Direito Internacional deve aproximá-lo da realidade social. Os resultados desta tese indicam que os cursos de Direito estudados ao privilegiarem uma postura territorialista, não favorecem o enfrentamento das relações humanas transnacionalizadas, contribuindo para a manutenção de posturas afastadas do acesso aos Direitos Humanos aos sujeitos cujas relações transpõem as fronteiras dos Estados nacionais.

Palavras-chave: Educação Jurídica; Currículo; Recontextualização; Direito Internacional; Relações Humanas Transnacionalizadas.

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CORRÊA, Anelize Maximila. Educación jurídica en el ámbito de la transnacionalización

de las relaciones humanas: recontextualización curricular del Derecho Internacional en cursos de Derecho en Brasil. Tesis Doctorado en Educación - Programa de Postgrado en

Educación, UFPel, Pelotas, 2018.

RESUMEN: Esta investigación discute la formación jurídica proporcionada a los estudiantes de Derecho de las Universidades Federales brasileñas respecto el Derecho Internacional, en general; y el Derecho Internacional Privado, en particular; cuyos contenidos son necesarios para los profesionales del Derecho garantizaren el acceso pleno a la justicia a los sujetos que, delante de las dinámicas contemporáneas mundializadas, forzosa o voluntariamente, emigraron a lugares distintos de sus vínculos jurídicos de nacionalidad; o establecieron relaciones jurídicas que transponen las fronteras del Estado de su domicilio. En ese contexto, con base en la teoría sociológica de Basil Bernstein (1993; 1996; 1998), en esta tesis, (1) identificamos la intensificación de la naturaleza transnacional de las relaciones humanas, por los movimientos migratorios y las medidas de cooperación jurídica internacional; (2) analizamos las normativas que regulan la Educación Jurídica en Brasil, desde la creación de los cursos de Derecho, en 1827, hasta la propuesta de nuevas directrices curriculares nacionales; (3) apuramos los Proyectos Pedagógicos de Curso del Sistema Federal de Enseñanza e identificamos el posicionamiento, enfoque y la carga horaria destinada al Derecho Internacional; (4) analizamos los Proyectos Pedagógicos Institucionales y los Proyectos Pedagógicos de Curso de las Universidades Federales de Pelotas (UFPel) y de Rio Grande (FURG), seleccionadas por el enfoque y carga horaria ofrecidos al Derecho Internacional y las modificaciones que se operaron en los respectivos Campos Recontextualizadores Pedagógicos; (5) realizamos entrevistas semi-estructuradas (TRIVIÑOS, 1997) con gestores y profesores de los cursos estudiados. Con esta trayectoria de investigación, constatamos que, en la historia de la Educación Jurídica brasileña, (a) existe un vínculo de exclusión del Derecho Internacional como componente curricular obligatorio durante regímenes autoritarios, siendo recuperado en 1994, genéricamente, con las Directrices Curriculares Nacionales; (b) que la Educación Jurídica brasileña mismo después de la reinserción del Derecho Internacional mantiene un abordaje territorialista; (c) que las Universidades Federales tratan de la temática con diferentes perspectivas y carga horaria; (d) que el abordaje acerca de las relaciones humanas transnacionalizadas es desarrollado exclusivamente en la asignatura de Derecho Internacional; (e) que las relaciones humanas transnacionalizadas son invisibles para la mayoría de los docentes de los cursos jurídicos estudiados; (f) que la interdisciplinaridad, prevista en los Campos Recontextualizadores Oficiales y Pedagógicos, no se recontextualiza en las prácticas pedagógicas; (g) que la construcción curricular de los cursos resulta de arenas de poder (APPLE, 1989; BERNSTEIN, 1998); (h) que la Educación Jurídica necesita contemplar el Derecho Internacional en su plenitud, incluyendo el Derecho Internacional Público y al Privado, con una destinación de carga horaria compatible con la amplitud y complexidad de los temas abordados por estas disciplinas; (i) que el enfoque a ser desarrollado por el Derecho Internacional debe acercarse a la realidad social. Los resultados de esta tesis indican que los cursos de Derecho estudiados, al privilegiar el abordaje territorialista, no favorecen la asistencia a las relaciones humanas transnacionalizadas, contribuyendo al mantenimiento de posturas alejadas del acceso a los Derechos Humanos a los sujetos cuyas relaciones transponen las fronteras de los Estados nacionales.

Palabras clave: Educación Jurídica; Currículo; Recontextualización; Derecho internacional; Relaciones Humanas Transnacionalizadas.

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CORRÊA, Anelize Maximila. Legal Education in the context of transnationalized human relations: the recontextualization of International Law in undergraduate programs in Brazil. Doctoral Thesis in Education - Graduate Program in Education, UFPel, Pelotas, 2018. ABSTRACT: This research discusses the legal training provided to law students of Brazilian universities regarding International Law, in general; and Private International law, in particular; contents which are necessary for legal professionals to guarantee full access to justice for those individuals who, because of contemporary globalized dynamics, have forcefully or voluntarily migrated to places different from those with which they have legal ties of nationality, or have established legal relationships beyond the borders of the country where they are domiciled. In this context, based on Basil Bernstein's sociological theory (1993, 1996, 1998), in this research (1) we identify the intensification of the transnationalization of human relations, migratory movements and international legal cooperation measures; (2) we analyze the regulations applied to Legal Education in Brazil, from the creation of Law courses, in 1827, until the proposal of new national curriculum guidelines; (3) we study the Pedagogical Projects of Programs of the Federal Education System and we identify the positioning, emphazis and the credit hours assigned to International Law; (4), we analyze the Institutional Pedagogical Project and the Pedagogical Projects of Universidade Federal de Pelotas (UFPel) and Universidade Federal do Rio Grande (FURG), chosen because of their emphasis on International Law and amount of credit hours assigned to it, and the modifications that have been carried out in each Pedagogical Recontextualizing Field; (5) we conducted semi-structured interviews (TRIVIÑOS, 1997) with managers and professors of both undergraduate courses. The findings of this research are: (a) in the history of Brazilian Legal Education, International Law was excluded as a compulsory component of the curriculum during authoritarian regimes, and it was resumed in 1994, in a generic way, with the national curriculum guidelines; (b) Brazilian Legal Education follows a territorialist sense; (c) Federal Universities approach the subject with different perspectives and credit hours; (d) the approach of transnationalised human relations is developed exclusively by the disciplines of International Law; (e) the transnationalised human relations are invisible to most professors of both Law programs; (f) interdisciplinarity, even if established by official and pedagogical recontextualizing fields, is not recontextualized in pedagogical practices; (g) the construction of the curriculum in both cases was a result from power arenas (APPLE, 1989; BERNSTEIN, 1998); (h) Legal Education needs to fully contemplate both Public and Private International Law, with no less than 120 hours of study, with credit hours compatible with the breadth and complexity of the subjects addressed by these disciplines; (i) the approach of International Law should be closer to social reality. We conclude that, by favoring a territorialist perspective, undergraduate Law programs do not benefit the confrontation of transnationalized human relations, contributing, as a consequence, to the maintenance of xenophobic and discriminatory behavior and the denial of Human Rights for those whose relations are not limited by the borders of the countries.

Keywords: Legal Education; Curriculum; Recontextualization; International Law; Transnationalized Human Relations.

(10)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 19

2 RELAÇÕES HUMANAS TRANSNACIONALIZADAS ... 27

2.1 A transnacionalização das relações humanas e o Direito Internacional ... 27

2.2 As migrações internacionais como dimensão das relações humanas transnacionalizadas . 31 2.3 O Direito Internacional dos Direitos Humanos enquanto limitador da soberania estatal .. 33

2.4 A Cooperação Jurídica Internacional ... 37

3 A EDUCAÇÃO JURÍDICA E A ABORDAGEM DAS RELAÇÕES HUMANAS TRASNACIONALIZADAS ... 48

3.1 Da construção do discurso recontextualizador oficial: do Império à contemporaneidade . 48 3.2 Panorama do Direito Internacional nas Universidades Federais Brasileiras ... 66

4 SITUANDO E JUSTIFICANDO A PESQUISA ... 84

4.1 Os antecedentes desta pesquisa: um estudo imagético ... 85

4.2 Da escolha do locus da pesquisa ... 93

4.3 Basil Bernstein: Apontamentos para a definição de um percurso teórico metodológico . 103 5 O CAMPO RECONTEXTUALIZADOR PEDAGÓGICO DOS CURSOS DE DIREITO DA FURG E DA UFPEL ... 118

5.1 O Curso de Direito da FURG ... 119

5.1.1 As mudanças curriculares e sua relação com o Contexto Recontextualizador Oficial . 123 5.1.2 O regime acadêmico e duração do Curso da Furg ... 126

5.1.3 O currículo vigente ... 126

5.1.4 Os Eixos ... 129

5.1.5 O Eixo Profissionalizante ... 129

5.1.6 A FURG e a Flexibilização Curricular ... 133

5.1.7 O PPP e a interdisciplinaridade ... 134

5.1.8 A dimensão atribuída ao componente curricular Direito Internacional no currículo do curso de Direito da FURG ... 135

5.1.9 O Processo de Reforma Curricular as Relações Humanas Transnacionalizadas e seus Reflexos sobre o Direito Internacional e Componentes Curriculares Conexos ... 138

5.1.10 Da presença de conteúdos típicos de Direito Internacional Privado nas disciplinas de Direito Civil e Processual Civil da FURG... 143

(11)

5.2.1. As mudanças curriculares e sua relação com o Contexto Recontextualizador Oficial 153 5.2.2 O regime acadêmico e a duração do Curso de Direto da Universidade Federal de Pelotas

... 155

5.2.5 Ciclo Institucional (Eixo Profissionalizante) ... 157

5.2.6 A UFPel e a flexibilização curricular ... 158

5.2.7 A UFPEL e a interdisciplinaridade ... 159

5.2.8. A dimensão atribuída ao componente curricular Direito Internacional no currículo do curso de Direito da UFPel ... 160

5.2.9 Componentes Curriculares Conexos ... 162

5.2.10 Da presença de conteúdos típicos de Direito Internacional Privado nas disciplinas de Direito Civil e Processual Civil da UFPel ... 163

5.3 Comparativo entre os "Campos Recontextualizadores Pedagógicos" da FURG e da UFPel ... 166

5.3.1 Regime acadêmico, duração dos cursos e flexibilização curricular ... 171

5.3.2 Composição dos currículos vigentes e dos eixos e o tratamento reservado ao Direito Internacional ... 175

5.3.3 A interdisciplinaridade ... 179

6 O PROCESSO DE RECONTEXTUALIZAÇÃO NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: OS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE DIREITO DA FURG E DA UFPEL ... 182

6.1 Da pesquisa ... 183

6.2 O currículo do curso de Direito da FURG "em movimento" ... 185

6.2.1 A flexibilização curricular ... 185

6.2.2 A interdisciplinaridade ... 191

6.2.3 As mudanças curriculares ... 194

6.2.4 Perfil discente ... 198

6.2.5 O fazer docente dos professores de Direito Internacional ... 200

6.2.6O fazer docente de Professores de Direito Civil e Processual Civil ... 205

6.3 O currículo do curso de Direito da UFPel "em movimento" ... 209

6.3.1 A flexibilização curricular ... 209

6.3.2 A interdisciplinaridade ... 214

6.3.3 As mudanças curriculares/recontextualização ... 218

6.3.4 O fazer docente dos professores de Direito Internacional ... 221

(12)

6.4 Os currículos em movimento - uma análise comparativa... 227 7 CONSIDERAÇÕES ... 230 REFERÊNCIAS: ... 242 Anexo A - Texto referência para a audiência pública sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Direito ... 248 ANEXO B - RESOLUÇÃO CNE.CES N° 9, DE 29 DE SETEMBRO DE 2004 ... 254

(13)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Relação da cooperação jurídica internacional com os ramos do Direito ... 46

Figura 2 – Desenho produzido por ingressante da UFSC ... 87

Figura 3 – Desenho produzido por concluinte da UFSC ... 88

Figura 4 - Relações da macroestrutura com a inserção do Direito Internacional no Campo Recontextualizador Oficial ... 105

Figura 5 - Movimento Migratório ... 107

Figura 6 - Recontextualização ... 110

Figura 7 - Relações do Direito Internacional com outros ramos do Direito ... 112

Figura 8 - Quadro Sequência Lógica ... 126

Figura 9 - Relações Interdisciplinares entre Direito Civil e o Direito Internacional ... 147

Figura 10 - Relações Interdisciplinares entre Direito Internacional e Direito Processual Civil ... 149

Figura 11 - UFPel - Relações do Direito Internacional com Direito Civil ... 164

Figura 12 - UFPel - Relações do Direito Processual Civil ... 165

Figura 13 - Enquadramento currículo original UFPel ... 168

Figura 14- Regulamentação oficial equadramento ... 170

Figura 15 - Enquadramento no Regime Acadêmico - FURG e UFPel ... 172

Figura 16 - Flexibilização curricular ... 173

Figura 17 - Relações Direito Internacional e Demais Componentes... 178

(14)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Lei 11 de agosto de 1827 ... 49

Tabela 2 - Reforma Leôncio de Carvalho - Decreto 7247 de 1879 ... 50

Tabela 3 - Lei 314 de 30 de outubro de 1895 ... 51

Tabela 4 - Reforma Rivadavia Corrêa - Decreto 8662 de 05 de abril de 1911 ... 52

Tabela 5 - Decreto nº 11.530 de 1915 ... 52

Tabela 6 - Parecer 215/1962 do CFE... 55

Tabela 7 - Resolução nº 3 do Conselho Federal de Educação de 1972 ... 56

Tabela 8 - Portaria MEC 1886/94 ... 60

Tabela 9 - Resolução nº 9/2004 do CNE/CES ... 61

Tabela 10 - Proposta de Novas Diretrizes Curriculares - CNE/2018 ... 62

Tabela 11 - Perspectiva formativa de acordo com a proposta de novas Diretrizes Curriculares - CNE/2018 ... 64

Tabela 12 - UFSC - Componentes Curriculares Obrigatórios ... 91

Tabela 13 - UFSC - Componentes Curriculares optativos ... 91

Tabela 14 - Comparação Direito Internacional ... 94

Tabela 15 - Comparativo FURG e UFSC ... 99

Tabela 16 - Componentes Curriculares Optativos FURG e UFSC ... 100

Tabela 17 - Unipampa - Eixo de Formação Específica em Direito Internacional ... 101

Tabela 18 - Comparativo entre as Cargas Horárias de Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado nas Universidades da Região Sul ... 101

Tabela 19 - FURG - Perfil dos Estudantes ... 120

Tabela 20 - Perfil dos graduandos - Diretrizes Curriculares Nacionais e Projeto Político Pedagógico da FURG ... 121

Tabela 21 - Competências e habilidades dos egressos ... 122

Tabela 22 - FURG - composição da carga horária - mudanças curriculares ... 125

Tabela 23 - Eixo profissionalizante - Diretrizes Curriculares Nacionais e Projeto Político Pedagógico da FURG ... 130

Tabela 24 - Comparação da Composição da Carga Horária por Disciplina Teórica do Eixo de Formação Profissional ... 131

Tabela 25 - FURG - Disciplinas Optativas ... 134

(15)

Tabela 27 - Disciplinas Conexas Obrigatórias nos PPPs ... 139

Tabela 28 - Comparativa entre os PPPs da FURG ... 142

Tabela 29 - Disciplinas Conexas Optativas nos PPPs DA FURG ... 142

Tabela 30 - FURG Comparativo - PPPs - Direito Civil ... 143

Tabela 31 - FURG PPP 2012 - Direito Processual Civil ... 147

Tabela 32 - Perfil dos Egressos (Graduandos) ... 151

Tabela 33 - Competência e Habilidades dos Egressos ... 152

Tabela 34 - UFPEL - Perfil do Cidadão Formado pelo Curso de Direito ... 153

Tabela 35 - UFPel - Composição da Carga Horária ... 155

Tabela 36 - UFPEL - Curso de Direito - Currículo Vigente ... 155

Tabela 37 - Eixo Profissionalizante ... 157

Tabela 38 - Composição da Carga Horária das Disciplinas Teóricas do Ciclo Institucional (Profissionalizante) da UFPEL ... 158

Tabela 39 - UFPel - Disciplinas Optativas ... 159

Tabela 40 - UFPEL - Direito Internacional no PPC ... 162

Tabela 41 - UFPEL - Disciplinas Conexas Optativas no PPC ... 162

Tabela 42 - UFPEL - Direito Civil no PPC ... 163

Tabela 43 - UFPel dos Componentes Curriculares de Direito Processual Civil ... 165

Tabela 44 - Criação das Universidades e dos cursos de Direito ... 166

Tabela 45 - Primeiro Currículo FURG e Portaria 215/62 ... 169

Tabela 46 - Composição da Carga Horária ... 173

Tabela 47 - Duração do Curso ... 174

Tabela 48 - Classificação ... 175

Tabela 49 - Comparação da composição da carga horária ... 176

Tabela 50 - Destinação de Carga Horária e Interdisciplinaridade ... 179

(16)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Transnacionalidade ... 28

Gráfico 2 - Pedidos de cooperação jurídica internacional ... 40

Gráfico 3 - Áreas de incidência dos pedidos de cooperação jurídica internacional ... 51

Gráfico 4 - Áreas de incidência de cooperação jurídica nas pesquisas ... 52

Gráfico 5 - Inserção do Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Norte ... 52

Gráfico 6 - Carga horária geral destinada ao Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Norte ... 69

Gráfico 7 - Carga horária geral destinada ao Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Nordeste ... 71

Gráfico 8 - Carga horária geral destinada ao Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Nordeste ... 72

Gráfico 9 - Inserção do Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Sudeste 74 Gráfico 10 - Carga horária geral destinada ao Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Sudeste ... 75

Gráfico 11 - Inserção do Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Centro Oeste ... 76

Gráfico 12 - Carga horária geral destinada ao Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Centro Oeste ... 77

Gráfico 13 - Inserção do Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Sul .... 78

Gráfico 14 - Carga horária geral destinada ao Direito Internacional nas Universidades Federais da Região Sul ... 79

Gráfico 15 - Sistematização da forma Inserção do Direito Internacional nas Universidades Federais ... 80

Gráfico 16 - Direito Internacional nas Universidades Federais ... 81

Gráfico 17 - Sistematização da Carga Horária destinada ao Direito Internacional nas Universidades Federais ... 82

(17)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CNE – Conselho Nacional de Educação

CES – Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação PPC – Projeto Pedagógico dos Cursos

COEPE – Conferência de Ensino, Pesquisa e Extensão

COEPEA –Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Administração CONARE – Conselho Nacional para os Refugiados

CPC – Código de Processo Civil

DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais

DRACJI/MJ – Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça

FAE – Fundação de Assistência ao Estudante FURG –Universidade Federal do Rio Grande LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação MEC – Ministério da Educação

MERCOSUL –Mercado Comum do Sul OCC – Organização Curricular do Curso ONU – Organização das Nações Unidas PPC – Projeto Pedagógico dos Cursos PPI – Projetos Pedagógicos Institucionais PPP – Projeto Político Pedagógico

PSDCP – Pacto Sobre Direitos Civis e Políticos PSJCR – Pacto de São José da Costa Rica QSL – Quadro de Sequência Lógica STF – Supremo Tribunal Federal

UFABC – Universidade Federal do ABC UFAC – Universidade Federal do Acre UFAL – Universidade Federal de Alagoas UFAM – Universidade Federal do Amazonas

UFAPE – Universidade Federal do Agreste de Pernambuco UFBA – Universidade Federal da Bahia

(18)

UFCAT – Universidade Federal de Catalão

UFCG – Universidade Federal de Campina Grande UFDPar– Universidade Federal do Delta do Parnaíba UFERSA – Universidade Federal do Semi-Árido UFES – Universidade Federal do Espírito Santo UFF – Universidade Federal Fluminense

UFG – Universidade Federal de Goiás

UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados UFJ – Universidade Federal de Jataí

UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora UFLA – Universidade Federal de Lavras UFMA – Universidade Federal do Maranhão UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso UFOB – Universidade Federal do Oeste da Bahia UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto UFOPA – Universidade Federal do Oeste do Pará UFPA – Universidade Federal do Pará

UFPB – Universidade Federal da Paraíba UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UFPel – Universidade Federal de Pelotas UFPI – Universidade Federal do Piauí UFPR – Universidade Federal do Paraná UFR – Universidade Federal de Rondonópolis UFRA – Universidade Federal Rural da Amazônia UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRR – Universidade Federal de Roraima

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFS – Universidade Federal do Sergipe

(19)

UFSCar – Universidade Federal de São Carlos UFSM – Universidade Federal de Santa Maria UFT – Universidade Federal do Tocantins UFU – Universidade Federal de Uberlândia UFV – Universidade Federal de Viçosa UnB – Universidade de Brasília

UNIFAP – Universidade Federal do Amapá

UNIFESPE – Universidade Federal do Estado de São Paulo UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e do Sudeste do Pará UNIPAMPA – Universidade Federal do Pampa

UNIR – Universidade Federal de Rondônia

UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí

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1 INTRODUÇÃO

Esta tese insere-se na linha de pesquisa "Currículo, Profissionalização e Trabalho Docente" do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A pesquisa que propomos trata da Educação Jurídica sob o ponto de vista da recontextualização curricular do Direito Internacional, no âmbito da transnacionalização das relações humanas. Em face das particularidades do contexto contemporâneo e das consequentes demandas jurídicas de uma realidade social irrestrita à territorialidade dos Estados, mostra-se necessário refletir sobre a formação jurídica nos cursos de Direito. A preocupação central deste movimento de pesquisa, assim, é investigar como a Educação Jurídica contempla componentes curriculares, tendo em conta as dinâmicas sociais contemporâneas, no contexto do Direito Internacional.

Muitas realidades demandam dos Estados ações integradas de cooperação jurídica internacional, seja em temas como crime internacional, extradição, transferência para execução de penas; seja em questões relativas a vínculos patrimoniais e relacionamentos comerciais ou à vida diária de famílias, como a cobrança de alimentos, adoção internacional, casamento, divórcio, sequestro interparental, ações sucessórias, envolvendo núcleos familiares que possuem domicílio em Estados distintos. Assim, as relações ligadas a qualquer uma das áreas do conhecimento jurídico, ganham um diferencial ao se desenvolverem para além das fronteiras territoriais dos Estados. Nesse contexto, medidas são necessárias, também, para impulsionar processos judiciais que devam alcançar pessoas, produzir provas ou gerar efeitos, fora das fronteiras do Estado onde a jurisdição está sendo/foi provocada. Possibilita-se, dessa forma, o acesso pleno à justiça.

Apesar dessa realidade social, marcada por constantes fluxos entre os países, a Educação Jurídica não tem acompanhado os processos globais de ampliação da área de atuação do Direito (ENGELMANN, 2012). Os cursos de Direito ainda estão consideravelmente restritos às questões jurídicas nacionais, enquanto, cada vez mais, os problemas locais são interdependentes do global e vice-versa.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Direito, implantadas por meio da Resolução CNE/CES 09/2004,estabelecem componentes curriculares obrigatórios, a serem desenvolvidos pelos cursos de Direito no Brasil, dentre os quais o Direito Internacional. A inclusão, no entanto, dá-se de forma genérica, sem caracterizá-lo como Direito Internacional Público ou Direito Internacional Privado.

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O Direito Internacional, enquanto gênero, apresenta dois campos distintos de atuação. O Direito Internacional Público, que se volta ao estudo das relações interestatais, à solução das controvérsias, às organizações internacionais, à responsabilização internacional do Estado (MELLO, 2001; MAZZUOLI, 2013). E o Direito Internacional Privado, que diferentemente de seu congênere, é direcionado à solução das questões jurídicas privadas (relações humanas) que apresentam vínculo com outros Estados. Este preocupa-se em definir as questões de competência jurídica internacional; a cooperação jurídica internacional; o reconhecimento dos direitos adquiridos no exterior; as questões de nacionalidade e a condição jurídica migratória; a delimitação da lei aplicável às questões jurídicas privadas que apresentam conexão com mais de um sistema jurídico (ARAUJO, 2006; JAYME, 1995).

Este movimento de pesquisa, assim, insere-se em um contexto em que se retoma a discussão de um novo marco regulatório para o ensino do Direito no Brasil. O tema está, desde 2017, em pauta no Conselho Nacional de Educação: a modificação/criação de novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Direito. No entanto, das propostas de novo marco regulatório para os cursos de Direito, não se observa qualquer modificação no que tange ao Direito Internacional, nem ao enfrentamento jurídico para as relações humanas transnacionalizadas.

Partimos da hipótese, de que a Educação Jurídica no Brasil apresenta um enfoque territorialista, deixando as questões relacionadas à transnacionalização das relações humanas para serem abordadasexclusiva e limitadamente no componente curricular identificado como Direito Internacional. Apesar de ser um componente curricular obrigatório nos cursos de Direito brasileiros, como existem diferentes abordagens entre o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado, podemos encontrar importantes distinções na forma como os cursos lidam com essas relações humanas.

O Direito Internacional Privado instrumentaliza e possibilita a concretização dos Direitos Humanos, especialmente o direito à igualdade, à tolerância, à diversidade, à não discriminação e o de acesso à justiça. Como esses direitos foram e são reconhecidos pelos Direito Internacional dos Direitos Humanos, negar a aplicação do Direito Internacional Privado pode implicar na violação do respeito à dignidade humana, à igualdade, ao acesso à justiça e ao devido processo legal. Consideramos na linha de pensamento de Ramos (2018, p. 65) que os Estados que renegam o direito dos demais, não reconhecendo a jurisdição estrangeira e repelindo a cooperação jurídica internacional, são Estados que ao rechaçar o

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Direito Internacional Privado com intenção de aplicar seu direito interno, adotam uma postura xenófoba.

O Direito Internacional Privado regulamenta as questões relativas à competência jurisdicional para solução das relações humanas que se vinculam a mais de uma ordem estatal e que demandam solução jurídica. Onde ingressar com o processo judicial? Que país é competente? Como reconhecer um direito adquirido fora do Estado? Como possibilitar a tramitação regular de um processo que necessite, para se perfectibilizar, de atos fora das fronteiras dos Estados? A cooperação e auxílio entre os Estados permite a concretização e efetividade do acesso à justiça e do reconhecimento dos direitos adquiridos no estrangeiro. Esse é objeto de atuação do Direito Internacional Privado. Sem saber manejar com esses mecanismos, que cada vez mais são internacionalizados, restringe-se o acesso à justiça, o acesso aos Direitos Humanos, à regulação da vida para além das fronteiras do Estado.

Esse ramo do Direito, com a nova concepção que passa a ter, é fundamental para que as relações humanas que se transnacionalizam não venham a ser restringidas pela limitação de direitos, intolerância e xenofobia, e para que se permita concretizar, ao lidar com situações plurilocalizas, uma sociedade não excludente que se paute pelos Direitos Humanos. (RAMOS, 2018).

Em face desse contexto, precisamos analisar como a Educação Jurídica aborda estas questões. Como contempla o Direito Internacional, se o aborda em sua plenitude, incluindo o Direito Internacional Privado. Frisamos que a Educação Jurídica é importante instrumento a contribuir para a eliminação de uma posturas territorialistas e xenófobas afastadas dos Direitos Humanos, e assim favorecendo o respeito à dignidade humana, à igualdade, ao acesso à justiça e ao devido processo legal.

Há de se problematizar, também, se os demais componentes curriculares dos cursos de graduação em Direito, abordam as relações humanas transnacionalizadas. O Direito Internacional, em geral, e o Direito Internacional Privado, em particular, não devem reservar para si a exclusividade no trato das questões jurídicas transnacionalizadas. Junto ao Direito Internacional Privado, estão todos os demais ramos do direito interno dos Estados, considerando que sua individualização, em relação àqueles, refere-se apenas quanto à presença de elemento extranacional na relação jurídica. Por conta dessa crucial diferença, estudar como se recontextualiza o Direito Internacional nas faculdades de Direito brasileiras mostra-se fundamental: Conforme relatado, as instituições poderão abordar temas

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completamente distintos, dependendo da forma e da opção pelo Direito Internacional que realizarem.

Nesse contexto, ressaltamos a pertinência de desenvolver este estudo sob o olhar do campo do currículo. Os cursos com currículos rígidos são construídos a partir de componentes curriculares fixos e bastantes demarcados entre si, denominados, na teoria bernsteiniana, como "currículos de coleção"1. Essa característica, por promover o isolamento das disciplinas, não favorece uma Educação Jurídica capaz de abarcar, de forma interdisciplinar, questões humanas que possuem uma dimensão transnacional.

A experiência profissional da pesquisadora contribui para justificar este movimento de pesquisa. Na condição de professora de Direito Internacional, vivencia, nas suas práticas pedagógicas diárias, em duas instituições de ensino (uma pública e outra comunitária), dificuldades relacionadas ao isolamento do referido componente curricular. Por consequência, identifica a necessidade de fomentar nos graduandos a percepção da existência de vínculos com os demais componentes. Assim, com essa abordagem, os acadêmicos poderão responder às demandas plurilocalizadas, ou seja, que transpõem as fronteiras estatais. Tais questões decorrem do que, neste trabalho, optamos por chamar de "transnacionalização das relações humanas". Essa expressão representa os temas que movimentam a vida internacional, os quais não podem ficar alheios ao olhar do Direito e, como consequência, da Educação Jurídica.

Considerando a natureza da pesquisa, adotamos uma abordagem qualitativa (FLICK, 2005). Esse tipo de abordagem caracteriza-se por fornecer ao investigador um caminho, um percurso, para chegar à compreensão de uma situação específica; no nosso caso, a recontextualização do Direito Internacional em currículos de cursos de Direito.

Entre os vários percursos metodológicos que uma investigação qualitativa pode utilizar, optamos por realizar a análise dos documentos oficiais e pedagógicos e das entrevistas semiestruturadas, realizadas com gestores e docentes dos cursos pesquisados, fundamentados na teoria sociológica de Bernstein (1993; 1996; 1998). Examinamos os seguintes documentos: as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o Curso de Direito, editadas por meio da Resolução nº 9/2004 do Conselho Nacional de Educação - Câmarade Educação Superior (CNE/CES); as normativas2 que definiram historicamente os currículos dos cursos de Direito; a proposta de novas DCNs para o curso de Direito apresentadas pelo

1

Os “currículos de coleção” caracterizam-se por apresentar fortes fronteiras entre as disciplinas, conforme conceito de Basil Bernstein (1996).

2

Lei 11 de agosto de 1827; reforma Leôncio de Carvalho: Decreto 7247 de 1879; Lei 314 de 1895; reforma Rivadavia Corrêa: Decreto 8662 de 1911; Decreto 11530 de 1915; Reforma Francisco Campos: Decreto 21.241 de 1932; Parecer 215 de 1962 do CFE; Resolução 3 de 1972 do CFE; Portaria MEC 1886 de 1994.

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CNE à audiência pública realizada em 02/07/2018; os Projetos Pedagógicos de Curso dos 44 Cursos de Direito das Universidades Federais; os Projetos Pedagógicos de Curso, ou documentos equivalentes,que definiram historicamente os currículos dos cursos de Direito da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel); os Projetos Pedagógicos Institucionais e os Projetos Pedagógicos de Curso, de ambos os cursos; as ementas das disciplinas que integram o currículo pleno dos cursos de Direito em estudo.

Além desse exame documental, utilizamos os aportes teórico-metodológicos de Bernstein (1993; 1996; 1998) para a análise das entrevistas semiestruturadas, realizadas com os gestores dos dois cursos estudados (FURG e UFPel), e com os professores responsáveis pelas disciplinas selecionadas: Direito Internacional, Direito Civil e Direito Processual Civil.

O tipo de entrevista, conhecida como semiestruturada (TRIVIÑOS, 1997), caracteriza-se pelo planejamento de questionamentos básicos que caracteriza-serão apoiados em teorias e hipótecaracteriza-ses que se relacionam ao tema da pesquisa. O processo é aberto: A partir das respostas dos sujeitos da pesquisa, novos questionamentos surgirão. Nesse movimento, o foco principal será colocado pelo investigador-entrevistador. Uma das principais vantagens dessa estratégia metodológica, conforme Triviños (1997), é a de manter o investigador sempre consciente e atuante durante a coleta dos dados.

Na coleta dos dados e no processo de análise correspondente, abrangendo os documentos e as entrevistas, foram considerados, como principal referência, os conceitos de "recontextualização curricular", "discurso pedagógico", "classificação", "enquadramento", "currículo de coleção e de integração", com base na teoria de Basil Bernstein (1993; 1996; 1998). A utilização dos relevantes aportes de Bernstein como estratégia teórico-metodológica é proposta por pesquisadores reconhecidos, como Morais e Neves (2007); Grazier e Navas (2011); Leite (2003); Dias (2014); Navas (2008).

Nesse contexto, insere-se a problemática da presente tese, que visa responder às seguintes questões: De que forma os currículos dos cursos de Direito no Brasil tratam os componentes de Direito Internacional? Como se dá o processo de recontextualização das temáticas vinculadas às demandas jurídicas decorrentes das relações humanas transnacionalizadas? Para dar conta desse problema, a presente investigação tem como objetivo geral compreender a recontextualização curricular do Direito Internacional com foco na transnacionalização das relações humanas no currículo de cursos de graduação em Direito de Instituições Federais de Ensino Superior.

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Como objetivos específicos, temos: discutir as mudanças na concepção do Direito Internacional a partir da intensificação da transnacionalização das relações humanas; identificar como a transnacionalização das relações humanas, em geral, e do Direito Internacional, em particular, estiveram presentes nas normativas oficiais no percurso da história da Educação jurídica brasileira, e como se inserem nas atuais diretrizes curriculares nacionais para os cursos de Direito; apurar o enfoque e tempo de dedicação destinado ao estudo do Direito Internacional nos PPCs dos cursos de graduação em Direito das Universidades integrantes do Sistema Federal de Ensino Superior; identificar como a transnacionalização das relações humanas são abordadas nos Projetos Pedagógicos de Curso de duas graduações em Direito; averiguar, nos currículos em ação, a dimensão atribuída ao componente curricular Direito Internacional; e investigar como/se os demais componentes curriculares recontextualizam aspectos relativos ao Direito Internacional, tendo como referência principal a transnacionalização; compreender se os cursos enfatizam ou não uma concepção predominantemente territorialista do Direito.

Este trabalho está estruturado em cinco capítulos. Inicialmente, no Capítulo 2, realizamos uma contextualização das relações humanas transnacionalizadas e discutimos sobre as consequentes transformações necessárias no Direito Internacional para permitir o acesso à justiça e à solução jurídica adequada. Assim, com ênfase especial nas migrações internacionais, cooperação jurídica internacional na órbita civil e nos Direitos Humanos, abordamos, nesse Capítulo, o Direito Internacional, as diferenças entre os seus ramos: Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado, e a relevância de ambos para a busca de soluções jurídicas para as relações humanas que se desterritorializam.

No Capítulo 3, voltamo-nos para a análise de como a Educação Jurídica aborda as relações humanas transnacionalizadas, em geral, e o Direito Internacional, em particular. Assim, debruçamo-nos sobre a forma como se deu a inserção do Direito Internacional no currículo dos cursos jurídicos do Brasil, desde a sua criação até o contexto contemporâneo. Nesse ponto, analisamos as alterações no campo oficial que normatizaram a Educação Jurídica no Brasil. Inicialmente, por meio de regras definidoras de um currículo pleno e nacionalmente unificado; e posteriormente, com a concepção de currículo mínimo até chegar às atuais Diretrizes Curriculares do Curso do Direito, a Resolução CNE/CES 9/2004, e às discussões que têm sido realizadas acerca das novas diretrizes (CNE, 2018).

Com esse percurso, averiguamos que, na atualidade o Direito Internacional é um componente curricular obrigatório, a partir das diretrizes curriculares definidas no "Campo

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Recontextualizador Oficial". No entanto, é denominado genericamente como tal. Fez-se necessário, assim, diante das diferenças existentes entre o Direito Internacional Público e o Privado, verificar como no "Campo Recontextualizador Pedagógico" dá-se sua inserção em Cursos de Direito no Brasil. Para tanto, delimitamos nossa pesquisa aos cursos de Direito das Universidades Federais.

Dessa forma, na segunda seção do terceiro capítulo, analisamos como nos cursos de graduação em Direito das Universidades integrantes do Sistema Federal de Ensino Superior é desenvolvido o estudo do Direito Internacional; tanto em relação ao tempo de dedicação destinado a esse componente dentro da integralização do currículo, quanto ao enfoque (se trabalham com o Direito Internacional Público e com o Direito Internacional Privado separadamente; ou apenas com um componente genérico).

No Capítulo 4, demonstramos, na primeira seção do Capítulo, os antecedentes deste trabalho, que estão relacionados à investigação "Imagens da Justiça, Currículo e Educação Jurídica".

Na segunda seção são especificados os critérios que foram utilizados para a definição do corpus e escolha dos cursos de Direito, onde realizamos a parte empírica da pesquisa. Dessa forma apontamos e justificamos os critérios que utilizamos para selecionar dois cursos, entre os 44 cursos analisados, para serem estudados. Assim, optamos por um curso que contempla uma carga horária mínima e uma visão generalista do Direito Internacional e outro com uma carga horária alta e com o Direito Internacional bipartido em Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado. Na terceira seção desse capítulo, realizamos abordagem teórico-metodológica com base na sociologia da educação de Basil Bernstein (1993; 1996; 1998) apontando suas contribuições ao desenvolvimento desta tese.

No Capítulo 5, voltamo-nos ao estudo do "Campo Recontextualizador Pedagógico" dos cursos de Direito da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Para tanto, realizamos uma análise documental à luz da teoria de Basil Bernstein (1993; 1996; 1998), em relação aos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) e os Projetos Pedagógicos Institucionais (PPIs). A intenção foi avaliar a missão e vocação das instituições, as disposições sobre flexibilização curricular, à interdisciplinaridade e o perfil discente e dos egressos. Ainda, abordamos os processos das mudanças curriculares e sua relação com as modificações que se operaram no contexto recontextualizador oficial; duração dos cursos; composição dos currículos; inserção do Direito Internacional; e a abordagem das relações humanas transnacionalizadas.

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Ao término do Capítulo, analisamos de forma comparativa os dois cursos de Direito em estudo especialmente quanto: aos processos de mudanças curriculares; regime acadêmico; flexibilização curricular; duração do curso; composição do currículo vigente; composição dos eixos; tratamento reservado ao Direito Internacional; a interdisciplinaridade; perfil discente e dos egressos; com fundamento, principalmente, nos conceitos bernstenianos de "classificação" e "enquadramento" (BERNSTEIN, 1996).

No Capítulo 6, voltamos nossa atenção para o currículo dos cursos de Direito da FURG e da UFPel "em ação". Apuramos como as definições curriculares do "Campo Recontextualizador Pedagógico" recontextualizam-se nas "Práticas Pedagógicas" dos cursos de Direito em estudo, especialmente em relação ao Direito Internacional e às relações humanas transnacionalizadas.

Para isso, foi necessário averiguar como, nas "Práticas Pedagógicas", concretizam-se a flexibilidade curricular e a interdisciplinaridade, particularmente a partir da visão dos gestores e do fazer docente dos professores de "Direito Internacional", "Direito Civil" e "Direito Processual Civil". Com esta intenção foram entrevistados os gestores, diretores e coordenadores, de ambos os cursos investigados, e doze professores das disciplinas mencionadas. Estas foram selecionadas por estarem intimamente relacionadas com o recorte que realizamos das relações humanas transnacionalizadas dentro do chamado eixo profissionalizante.

Os contextos e as particularidades das mudanças curriculares e do perfil discente, também contribuíram para que pudéssemos ter elementos para identificar como o Direito Internacional e as relações humanas transnacionalizadas se concretizaram nos currículos dos cursos de Direito da FURG e da UFPel.

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2 RELAÇÕES HUMANAS TRANSNACIONALIZADAS

A vida não se limita às fronteiras dos Estados: transpõe-se das mais diversas formas. Os sujeitos viajam, contratam, interagem presencial ou virtualmente com pessoas em/de outros Estados. As pessoas migram, os bens circulam, as famílias formam-se, desmancham-se. A vida transnacionaliza-desmancham-se.

Neste capítulo, abordamos como a transnacionalização das relações humanas demanda uma nova leitura do Direito Internacional, especialmente quanto: às medidas de cooperação jurídica internacional, seus tipos e nuances (sobretudo na área civil); às migrações internacionais e o acesso à justiça, como Direito Humano. Consideramos que esses são elementos ilustrativos e significantes da transnacionalização das relações humanas, apesar de não serem exclusivos. Essas relações serão objeto de análise sob a ótica da Educação Jurídica, no plano do "Campo Recontextualizador Oficial", e, posteriormente, nos "Campos Recontextualizadores Pedagógicos" e nas práticas pedagógicas dos cursos estudados, nos capítulos seguintes.

2.1 A transnacionalização das relações humanas e o Direito Internacional

Como as fronteiras estatais não estabelecem barreiras às relações entre os indivíduos, gera-se a necessidade de adequação do direito e dos mecanismos jurídicos disponíveis à realidade social. A crescente relativização das fronteiras leva os sujeitos a desenvolverem laços com outros Estados e com pessoas de outras nacionalidades. Assim, adquirem direitos e, como consequência, provocam litígios que, em outros tempos, não eram comuns (FLEURY, 2008).

Constatamos que a transnacionalização das relações humanas repercute em diversas áreas do conhecimento, associando-se com variadas áreas do Direito: Penal, Civil, Contratual, Ambiental, Família, Consumidor, Tributário, Previdenciário, além das relacionadas aos Direitos Humanos e ao Direito Internacional, as quais pela própria natureza lidam com essas relações.

Em pesquisa realizada no Banco de Teses da Capes, foram coletadas3 154 teses e dissertações produzidas entre 2013 e 2017, nos campos da Educação e do Direito, sobre a temática da transnacionalidade. Destas, trinta e sete (incluindo teses e dissertações)

3

Dados coletados em 07 dezembro de 2017 no Banco de Teses e Dissertações da CAPES para o termo "transnacionalidade", relativos às áreas da Educação e do Direito. Disponível em http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/

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apresentavam alguma relação com a área de interesse deste trabalho. As demais, em sua maioria, estavam vinculadas a Programas de Pós-Graduação4 que abordam, em uma das suas linhas de pesquisa, a transnacionalidade. No entanto, tais trabalhos não apresentam relação com a temática específica tratada nesta tese. Ao analisarmos as pesquisas publicadas, verificamos que estes vinculam a transnacionalidade com diversos campos do conhecimento jurídico. O Gráfico 1 representa, a partir da incidência dos estudos científicos localizados, a pertinência do estudo do currículo dos cursos de Direito sobre a transnacionalidade das relações humanas.

Gráfico 1 - Transnacionalidade

Fonte: Corrêa (2018). Levantamento e tratamento de dados da autora com base do Banco de Teses e Dissertações da CAPES

O termo transnacionalidade é construído pelo acréscimo do prefixo "trans" ao substantivo "nacionalidade". Para Cruz (2010, p. 56), o prefixo "trans" denota a emergência de um novo significado construído reflexivamente, a partir da transferência e transformação dos espaços e modelos nacionais". Portanto, entendemos que as relações humanas transnacionalizadas são as que se constituem como consequência de um movimento de globalização. Esta desconstrói a dimensão geográfica do Estado. As relações humanas, eivadas de elementos transnacionais, passam a se desenvolver em todas as dimensões

4

PPG em Direito da Univali, em Itajaí.

16% 11% 5% 8% 3% 5% 5% 8% 3% 3% 3% 5% 8% 5% 3% 3% 5%

TRANSNACIONALIDADE

Direito Ambiental Direito Constitucional Direito Empresarial Direito Internacional Direito Penal Economico Direito Penal Internacional Direito Penal Tributário Direito Penal Ambiental Economia

Arbitragem Imigração Direitos Humanos

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territoriais do globo. Com isso, conceitos de Estado e soberania transformam-se (MORAIS, 2011). A concepção clássica, assim, mostra-se inadequada quando estamos diante de vínculos nacionais, identitários e mercadologicamente difusos (BAUMAN, 1999; MAZZUOLI, 2013).

Portanto, o Estado no século XXI pode ser caracterizado por três variáveis (OLIVEIRA, 2003). A primeira está relacionada com a abertura do espaço público estatal a outros atores, fazendo com que o Estado perca seu protagonismo comum em outros períodos históricos. A segunda variável vincula-se com a difusão e alcance dos novos tipos de comunicação, instantâneas, tornando as identidades, comportamentos e culturas mais universais, em oposição a um mundo fechado e restrito às fronteiras dos Estados.

A terceira variável está relacionada à complexidade dos temas da agenda global, como o caso da proteção dos Direitos Humanos, as preocupações ambientais, as crises financeiras internacionais, o terrorismo, as diversas conformações do tráfico internacional (drogas, armas, mulheres, menores), a situação dos refugiados, migração, xenofobia, racismo e intolerância religiosa. Essas questões passam a interessar aos indivíduos, que percebem as vinculações desses temas com sua vida e bem-estar.

As mudanças de concepção do Estado passam por uma modificação no Direito Internacional. Apesar de não serem tão comuns quanto hoje, as relações que transcendem fronteiras não decorrem do atual momento histórico; existem desde que o seres humanos começaram a viver em comunidades. No entanto, não restam dúvidas que o incremento e complexibilização dessas relações neste século recolocam e reposicionam o Direito Internacional, especialmente o Direito Internacional Privado, e como consequência, o seu estudo.

As diferenças entre o Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público são significativas. O Direito Internacional Privado, nessa perspectiva, preocupa-se com o indivíduo e o alcance de seus direitos para além das fronteiras do Estado com o qual mantém o vínculo político jurídico da nacionalidade. Assim, trata-se de um direito que garante o direito à diversidade (JAYME, 1995), no tocante à proteção da identidade cultural.

É esse ramo que se volta à indicação do direito aplicável (seja nacional ou estrangeiro) a uma questão jurídica que tenha vínculos que transponham as fronteiras do Estado territorial (DOLINGER, 2000; BATALHA, 1977). Nesse sentido, respeita a diversidade, exerce a tolerância (GOLDSHIMIDT, 1948; DOLINGER, 2000) em relação ao não nacional. Afinal, este poderá viver e ter sua vida regulada pelo direito que mais se aproxima de sua realidade, de sua cultura.

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Apesar das distinções entre os ramos do Direito Internacional, há de se considerar que ambos modificaram-se como consequência do processo de globalização (VARELA, 2018). Por muito tempo, as diferenças entre o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado produziam a seguinte caracterização: Direito Internacional Privado como um ramo do direto interno dos Estados. Como consequência, ao nomear o direito enquanto "internacional", falar-se-ia necessariamente do Direito Internacional Público (VARELA, 2018; ACCIOLY, 1998), posto que este era um direito considerado verdadeiramente internacional.

O aperfeiçoamento de medidas interestatais de cooperação jurídica, de padronização de regras de competência jurisdicional e de leis aplicáveis, tem transformado o Direito Internacional Privado, que outrora ficou limitado ou predominantemente regulado pelas regras internas dos Estados, num direito cada vez mais internacional. De acordo com Ramos (2018, p. 46), a nova globalização, que caracterizou as últimas décadas do século XX e este início do século XXI, reforça que as temáticas tratadas pelo Direito Internacional Privado, que são por si só transfronteiriças, e consequentemente internacionais, merecendo e necessitando de uma regulamentação também internacional.

As soluções para estas questões transnacionalizadas, que transpunham as fronteiras dos Estados, eram dadas pelas regras internas de cada Estado. Exemplificativamente, quando havia necessidade de chamar para participar de um processo alguém que vivesse em outro país, ou que fosse necessário a produção de algum tipo de prova em outro Estado para permitir a concretização do direito. As regras internas de Direito Processual Civil determinavam como deveria se pedir este "favor" ao estado estrangeiro, por meio do que se chama tecnicamente de "cartas rogatórias". Quando as regras de cooperação entre os Estados de fato se internacionalizam, essa cooperação passa a ser dotada de regulamentos internacionais próprios, que agilizam, concretizam e possibilitam de forma direta o acesso à justiça de forma mais eficaz.

Esse Direito Internacional Privado, que se reinventa, traz dos Direitos Humanos a tolerância, o respeito à igualdade, à diversidade e o acesso à justiça como valores fundantes. Ramos (2018, p. 64) argumenta:

A soma desses valores (previsibilidade e segurança jurídica, acesso à justiça, igualdade e tolerância) consolida, no século XXI, o Direito Internacional Privado na era dos direitos humanos, ou seja, um ramo do direito que objetiva a gestão da diversidade normativa e jurisdicional, pautada na promoção da dignidade humana e da justiça material, para todos os envolvidos nos fatos transnacionais.

Assim, como forma de interpretar as diferentes conformações que envolvem e caracterizam esta mudança de concepção do Estado, optamos, inicialmente, para fins de

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contextualizar a relevância das questões relacionadas às relações humanas transnacionalizadas, por voltar-nos para dois aspectos em especial: a limitação produzida na soberania dos Estados por conta do reconhecimento internacional dos Direitos Humanos; e o incremento das medidas de cooperação jurídica internacional. Questões como as migrações internacionais permeiam essas duas áreas.

2.2 As migrações internacionais como dimensão das relações humanas transnacionalizadas

As migrações internacionais, que se constituem de uma das principais questões sociojurídicas que caracterizam o século XXI (MARTINI, 2005; REIS, 2004; VENTURA; ILLES, 2012; SASSEN, 2006; 2007a; 2007b), representam, na atualidade, um fenômeno de vastas proporções, com impactos e reflexos diversos: sociais, políticos, econômicos e também jurídicos. Podemos afirmar – apenas para uma ideia aproximada da dimensão do fenômeno, que 244 milhões de pessoas encontram-se envolvidas no processo de migrações internacionais. Dados de 2015, do relatório5 da Organização das Nações Unidas (ONU) para as Migrações, revelam que houve, em 15 anos, um incremento de 41% com relação ao número de migrantes (ONU, 2015). Os aspectos sociais desse fenômeno são notórios, simplificadamente simbolizados por contingentes populacionais, que, descontentes com suas condições materiais de vida, ou em face das situações de contundente violação aos Direitos Humanos em seu locus de origem, buscam, em outros destinos, o resgate de sua dignidade.

Assim, as migrações internacionais, sejam estas espontâneas ou forçadas (refúgio), são importante dimensão das relações humanas que se transnacionalizam. O estudo das migrações e dos direitos dos migrantes, do ponto de vista dos Direitos Humanos e da regulamentação interna dos Estados, constitui-se numa importante foco de atenção do Direito Internacional, dentro de uma especialização que podemos vir a chamar no futuro de "Direito Migratório".

Essa temática, por sua própria natureza, perpassa o estudo do Direito Internacional dos Direitos Humanos, do Direito Internacional dos Refugiados, do Direito Internacional Público. De acordo com a doutrina francesa6, sendo objeto de estudo detalhado pelo Direito Internacional Privado.

5

Disponível em http://www.un.org/en/development/desa/population/migration/index.shtml, acesso realizado em 20 de janeiro de 2018.

6

Nesta linha, Dolinger (2000) e Ramos (2018) consideram o estudo da nacionalidade e da condição jurídica migratória como objeto típico do Direito Internacional Privado.

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Que direitos possuem os não nacionais? O que diferencia os direitos dos refugiados dos direitos dos migrantes? Qual a definição jurídica para refugiado? Como ocorre no Brasil a adequação das normativas internas7 à regulamentação internacional8? Como se dá a interação entre essas regras? Em que consiste o princípio do non-refoulement9 aplicável aos refugiados? O que configura uma pessoa como merecedora do reconhecimento do status de refugiado?

E os migrantes chamados "espontâneos" ou "voluntários", que restrições sofrem? Quais as hipóteses de recepção no território dos Estados? Que tipo de autorização será possível? Qual o objetivo da migração? Que direitos terão na sua permanência? Quais as hipóteses de serem compelidos a sair compulsoriamente do território do Estado onde fixaram residência? Qual o tratamento especial destinado a grupos de migrantes, em face de sua nacionalidade, decorrente de tratados internacionais específicos10 ou de regulamentação interna própria11? Estas, dentre outras, são algumas das questões que são abordadas pelo Direito Internacional e configuram expressão da transnacionalização das relações humanas.

A suficiência do estudo do Direito Internacional, relativamente ao direito dos refugiados e ao direito dos migrantes, é essencial para que estes sujeitos tenham seus direitos reconhecidos e respeitados. Como consequência estes poderão minimizar situações de discriminação e ter o direito à identidade cultural preservada, e garantido o direito de acesso à justiça e ao devido processo legal.

As políticas migratórias brasileiras estiveram centradas nos interesses do Estado. Assim, a abertura ou recrudescimento de fronteiras para os migrantes, com adoção de regras migratórias mais rígidas ou mais flexíveis, atenderam, no decorrer da história brasileira, aos interesses de povoação e de mão de obra (BRASIL, 1890; 1911; 1930; 1938; 1969; 1981).

Em movimentos anteriores de pesquisa (CORRÊA, 2005; 2009; CORRÊA; BATISTA, 2015), chamávamos a atenção para a necessidade de substituição da anterior normativa migratória: o Estatuto do Estrangeiro, em face de sua inadequação com a ordem constitucional estabelecida. O Brasil tem atualmente uma nova lei migratória, que provocou a

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Lei n. 9474/1997 e resoluções do Conselho Nacional para os Refugiados (CONARE)

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Estatuto dos Refugiados de 1951 e Declaração de Cartagena de 1984 adotada pelo “Colóquio sobre Proteção Internacional dos Refugiados na América Central, México e Panamá: Problemas Jurídicos e Humanitários”, realizado em Cartagena, Colômbia, entre 19 e 22 de Novembro de 1984.

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Princípio da não devolução consagrado pelo artigo 33 do Estatuto dos Refugiados de 1951: "Nenhum dos Estados Contratantes expulsará ou rechaçará, de maneira alguma, um refugiado para as fronteiras dos territórios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da sua religião, da sua nacionalidade, do grupo social a que pertence ou das suas opiniões políticas."

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Por exemplo, citamos o tratamento reservado ao português nos termos do Tratado da Amizade entre Brasil e Portugal (2000) e as consequências da implementação do acordo de residência do Mercosul.

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Como é o caso dos haitianos, que passaram ter uma autorização de residência especialmente construída para eles, através de um visto chamado de humanitário.

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