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3 A EDUCAÇÃO JURÍDICA E A ABORDAGEM DAS RELAÇÕES HUMANAS

3.1 Da construção do discurso recontextualizador oficial: do Império à contemporaneidade

A Educação jamais será uma atividade neutra. Sempre terá uma intenção. Essa condição leva o educador a estar envolvido num ato político (APPLE, 2006). A Educação Jurídica não se furta dessa lógica: a própria criação dos cursos jurídicos no Brasil decorreu da necessidade de formação de quadros para trabalhar nos órgãos da administração pública do novel império (RODRIGUES, 1995).

Os cursos jurídicos no Brasil, em 2017, completaram 190 anos de sua implantação. Os dois primeiros cursos de Direito foram criados por meio de Lei, em 11 de agosto de 1827. Passaram a funcionar no ano seguinte em Olinda e em São Paulo.

As questões sociais e econômicas influenciam a delimitação dos currículos, em geral, (BERNSTEIN, 1993, 1998) e dos jurídicos, em particular. Na primeira fase do Ensino Jurídico no Brasil , percebemos uma vinculação estreita do currículo com a livre economia, procurando, com isso, reforçar o Estado Liberal. Durante o período do Império, os cursos de Direito no Brasil apresentaram características marcantes. Dentre as que interessam para o foco do presente trabalho, está a de que os cursos, mesmo localizados nas províncias, eram controlados pelo Governo central, no que diz respeito, inclusive ao currículo, à definição dos programas de ensino e à escolha dos livros a serem adotados. Os cursos de Direito possuíam um mesmo currículo pleno, fixo e rígido. Não acompanharam, por consequência, as mudanças que se operaram na estrutura social. Além disso, manifestavam uma grande vinculação com as

bases ideológicas do Império, o que se percebe refletido nas disciplinas que integravam o currículo (RODRIGUES, 1988; 1993; RODRIGUES;JUNQUEIRA, 2002).

Tabela 1 - Lei 11 de agosto de 1827

1º ANO Direito Natural

Direito Público

Análise da Constituição do Império

Direito das Gentes e Diplomacia

2º ANO Continuação das disciplinas do ano anterior

Direito Público Eclesiástico

3º ANO Direito Pátrio Civil

Direito Pátrio Criminal, teoria do processo criminal

4º ANO Continuação do Direito Pátrio Civil

Direito Mercantil e Marítimo

5º ANO Economia Política

Teoria e prática do processo adotado pelas leis do Império.

Fonte: Corrêa (2018). Com base na Lei de 11/08/1827

Dentre os componentes curriculares obrigatórios, inclui-se “Direito das Gentes e Diplomacia”, no primeiro ano do curso. Essa escolha demonstra uma nítida preocupação com as relações com os demais países, característica própria de um Estado que buscava seu reconhecimento internacional como soberano. A ideia natural de preservação da soberania presente em um Estado jovem aparecia forte quando se denomina uma disciplina ministrada, no 3º e 4º anos, como Direito Pátrio Civil e, no 3º ano, de Direito Pátrio Criminal.

No período imperial, por meio da chamada Reforma Leôncio de Carvalho, estabelecida através do decreto 7247, de 1879, efetivou-se uma mudança que provocou, inclusive uma alteração no currículo dos cursos de Direito no Brasil.

Para além dessas modificações curriculares, na visão de Bastos (2000), essa reforma foi paradigmática, pois autorizava associação de particulares para ministrar aulas nos cursos oficiais, a regularização de faculdades livres (mantidas por associações particulares) e criava os cursos livres em faculdades do Estado referentes às disciplinas oferecidas por professores particulares.

A referida reforma, conforme se pode observar da Tabela 2, não determinou a divisão da estrutura curricular em anos, apenas elencou, no artigo 23§ 3,º as cadeiras que deveriam compor sua estrutura. A mudança, inclusive indicava, o número de cadeiras para cada disciplina, o que se pode constatar pelo número ao lado de cada componente curricular.

A única exigência estabelecida em relação à organização do currículo estava relacionada à continuidade entre as disciplinas. O §4º do mesmo dispositivo determinava: "nas matérias que compreendem duas cadeiras o ensino de uma será a continuação do da outra". Essa em princípio, poderia ser entendida no que hoje consideramos como pré- requisito.

O Direito Comparado aparece como exigência expressa no texto da reforma. Assim, o artigo 23§ 5º determinava que o estudo do Direito Constitucional, Criminal, Civil, Comercial e Administrativo "será sempre acompanhado da comparação da legislação pátria com a dos povos cultos".

Tabela 2 - Reforma Leôncio de Carvalho - Decreto 7247 de 1879

Direito Natural (1) Direito Romano (1) Direito Eclesiástico (1) Direito Civil (2) Direito Criminal (2) Medicina Legal (1) Direito Comercial (2) Direito Público e Constitucional (1)

Direito das Gentes (1)

Diplomacia a historia dos Tratados (1)

Direito Administrativo e ciência da administração (2) Economia política (1)

Ciência das Finanças e contabilidade do Estado (1) Higiene Pública(1)

Teoria e pratica do processo criminal, civil e comercial (2) Fonte: Corrêa (2018). Com base no decreto 7247 de 1879

No que toca à preocupação central desta tese, percebemos em relação à estrutura curricular original do Império a bipartição: uma cadeira de "Direito das Gentes" e outra de "Diplomacia e História dos Tratados". Essa configuração dá conta de uma aparente ampliação das abordagens. Nessa perspectiva, também a exigência do estudo do Direito Comparado é um forte indicador de uma visão de direito mais aberta, menos territorialista.

Com a proclamação da República, em 1889, houve a necessidade de readequar os currículos dos cursos de Direito, afastando-os das concepções que o vinculavam ao Império; entre estas, o vínculo com o jus naturalismo e com o Direito Eclesiástico. Esse processo culminou com a criação, por meio da Lei 314, de 30 de outubro de 1895, de um novo currículo para os cursos de Direito no Brasil. Trata-se de um currículo mais abrangente e voltado a uma maior profissionalização (RODRIGUES; JUNQUEIRA, 2002). No entanto, manteve a sua desvinculação com a realidade social (RODRIGUES, 1995).

Tabela 3 - Lei 314 de 30 de outubro de 1895

1º ANO Filosofia do Direito

Direito Romano Direito Público Constitucional

2º ANO Direito Civil

Direito Criminal

Direito Internacional Público e Diplomacia

Economia Política 3º ANO

Direito Civil

Direito Criminal (Direito Militar e Regime Penitenciário) Ciência das Finanças e Contabilidade do Estado

Direito Comercial 4º ANO

Direito Civil

Direito Comercial (Marítimo, Falência e Liquidação Judiciária) Teoria do Processo Civil, Comercial e Criminal

Medicina Pública 5º ANO

Prática Forense

Ciência da Administração e Direito Administrativo História do Direito e especialmente do Direito nacional

Legislação Comparada sobre Direito Privado

Fonte: Corrêa (2018). Com base na Lei 314 de 30/10/1895

É nesse contexto que surgem, como componentes curriculares obrigatórios, “Direito Internacional Público e Diplomacia”, no segundo ano, e a chamada "Legislação Comparada Sobre Direito Privado", no quinto ano. Cumpre salientar a importância para este estudo da reforma Rivadavia Corrêa, consubstanciada por meio do Decreto 8.662, de 05 de abril de 1911. Por meio desta reforma, apareceu o Direito Internacional Privado, com esta nomenclatura, enquanto componente curricular obrigatório.

Importante salientar a contemporaneidade desta normativa com a criação de leis de incentivo a imigração (BRASIL, 1911), o que provocou um aumento do fluxo migratório, e consequentemente um incremento nas relações humanas plurilocalizadas.

Esta reforma prescreveu minuciosamente o regulamento das Faculdades de Direito. Assim, além de elencar as disciplinas, o decreto estabeleceu, em seu artigo 6º, que o curso seria dividido em seis séries, com dois períodos letivos em cada uma, correspondentes a seis anos escolares. Determinou, inclusive, a forma de avaliação e o número de professores ordinários (art. 7º: 17 professores).

Tabela 4 - Reforma Rivadavia Corrêa - Decreto 8662 de 05 de abril de 1911

1º ANO Introdução Geral ao Estudo do Direito ou Enciclopédia Jurídica

Direito Público e Constitucional

2º ANO Direito Internacional Público e Privado e Diplomacia

Direito Administrativo

Economia Política e Ciências das Finanças 3º ANO

Direito Romano Direito Criminal (1ª parte) Direito Civil (Direito de famílias)

4º ANO

Direito Criminal, (especialmente direito militar e regime penitenciário) Direito Civil (direito patrimonial e direitos reais)

Direito Comercial (1ª parte) 5º ANO

Direito Civil (direito das sucessões)

Direito Comercial, especialmente Direito Marítimo, falência e liquidação judicial

Medicina Publica.

6º ANO Teoria do Processo Civil e Comercial

Pratica do Processo Civil e Comercial Teoria e Pratica do Processo Criminal Fonte: Corrêa (2018). Com base no Decreto 8662 de 05 de abril de 1911

O regramento oficial, estabelecido por meio da reforma Rivadavia Corrêa, determinava para além da fixação de um currículo pleno a ser observado nacionalmente, a ordem, sequência, frequência das aulas, duração das aulas35, exigência de exercícios, frequência dos cursos complementares e número de professores.

O estudo do Direito no Brasil segue com uma organização curricular rígida, pré definida de acordo com a Tabela nº 4.

Tabela 5 - Decreto nº 11.530 de 1915

1º ANO Filosofia do Direito

Direito Público Constitucional Direito Romano

2º ANO Direito Internacional Público

Economia Política e Ciência das Finanças Direito Civil (1º ano)

3º ANO

Direito Comercial (1º ano) Direito Penal Direito Civil (2º ano)

4º ANO

Direito Comercial (2º ano) Direito Penal (2º ano)

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Extrai-se do artigo 12 que as aulas seriam ministradas cinco vezes por semana, por meio de conferências e com a realização de exercícios práticos, os quais teriam duração de uma hora.Também encontramos regulamentação prevista para cursos complementares, dentre os quais o de Direito Internacional Privado.

Direito Civil (3º ano)

Teoria do Processo Civil e Comercial 5º ANO

Prática do processo Civil e Comercial Teoria e Prática do Processo Criminal

Medicina Pública Direito Administrativo

Direito Internacional Privado

Fonte: Corrêa. Com base no Decreto nº 11.530 de 1915

Esta readequação do Ensino Jurídico brasileiro foi extremamente importante para o atual estudo, pois, por meio desta o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado passaram a ser tratados separadamente como componentes curriculares obrigatórios.

O decreto é contemporâneo ao processo que levou à criação da primeira Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro (Lei 3071/1916), aprovada em dezembro de 1915, tendo entrado em vigor em primeiro de janeiro de 1916. Essa norma jurídica produzida, a partir de um anteprojeto construído por Clóvis Beviláqua, o Direito Internacional Privado brasileiro adquiriu uma sistematização própria, pois a referida norma, que se consubstanciava numa lei anexa ao próprio Código Civil de 1916, trazia na maioria dos seus dispositivos, regras de Direito Internacional Privado, destinadas a solucionar o que chamamos de conflito de leis no espaço; ou seja, relações jurídicas que apresentam vínculos com outros Estados soberanos, o que, neste trabalho, chamamos de relações transnacionalizadas.

Posteriormente, houve uma importante modificação: a Reforma Francisco Campos de 1931, que objetivava mudar o Ensino Superior no Brasil e, dentro deste, o Ensino Jurídico. Com essa reforma, o curso de direito foi desdobrado em dois: um de bacharelado e o outro de doutorado (CAMPOS, 2010). O objetivo foi dar um caráter ainda mais profissionalizante para os cursos jurídicos. Na exposição de motivos para implantação da nova normativa, Campos36 (2010, p. 73) afirma em relação ao curso de bacharelado: "seu objectivo é a formação de praticos do direito" (sic passim).

Como consequência, foram excluídas, por meio dessa reforma, as cadeiras que apresentavam características doutrinárias ou culturais. Dentre os componentes curriculares abolidos, estão Direito Romano e Filosofia do Direito. Também, naquele momento foi suprimida a Cadeira de Direito Privado Internacional.

Esta reforma coincide com o estabelecimento de regras migratórias restritivas adotadas durante a Era Vargas, com o estabelecimento inclusive de cotas para imigração, e com a consequente diminuição do fluxo migratório para o Brasil.

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Ao justificar a supressão desse componente curricular, o então ministro da educação Francisco Campos (2010, p. 76) declara que não há motivos que justifique sua existência como disciplina autônoma.

O seu objecto é a applicação das mesmas regras juridicas de que tratam as outras cadeiras de direito privado, o que lhe dá caracter particular é o facto de que se occupa da applicação das regras juridicas de accordo com principios especiaes. Ora, esses principios podem e devem ser estudados de modo geral no direito privado, passando a constituir a cadeira de Direito privado internacional, materia de especialização, e assim, mais bem collocada no curso de doutorado (sic passim) (CAMPOS, 2010, p. 76).

Vejamos, quando se justifica a exclusão do componente curricular Direito Romano, o ministro Campos (2010) defende que esta supressão constituiria uma novidade apenas na lei, pois "Effectivamente, não sei se na pratica houve jámais no Brasil estudo de Direito Romano nas nossas Faculdades"(sic passim). Para o ministro prossegue, o que era estudado na cadeira de Direito Romano, não confluía com os objetivos da disciplina. Em sua explicação, conclui que "essa reforma limitou-se, portanto, a consagrar na lei uma situação de fato". (CAMPOS, 2010, P.74)

O que se procurou afirmar foi que, embora o texto legal e os documentos curriculares contivessem uma determinada previsão, quase sempre não estava reproduzida no contexto da sala de aula. Tal fato pode ser associado com o conceito de Recontextualização (BERNSTEIN, 1996), o que será mais bem desenvolvido no capítulo seguinte.

Outro fator importante dessa reforma foi a criação do Conselho Nacional de Educação (CNE), destinado a manter, de acordo com a justificativa da época, "linhas claras, firmes e definidas, segundo as quais a presente reforma procura orientar as actividades didacticas e culturaes dos nossos Institutos de ensino" (sic passim) (CAMPOS, 2010, p. 97).

No entanto, apesar do aparato criado, e da intenção de delegar ao Conselho Nacional de Educação a função de manter de forma rígida o que foi disposto pela norma, a reforma Francisco Campos, na perspectiva de Rodrigues (1995), não alcançou, à época, os objetivos pretendidos. Os cursos de bacharelado mantiveram os níveis anteriores e os de doutorado não atingiram seus objetivos, que eram relacionados especialmente à formação de professores.

Portanto, mais uma vez, encontramos um descompasso entre a previsão legal e a forma como se deu sua recontextualização (BERNSTEIN, 1996).

Essa estrutura manteve-se na essência até 1962, quando houve a transposição de um modelo de currículo pleno predeterminado para um currículo mínimo. A reforma de 1962 foi protagonizada pelo Conselho Federal de Educação; teve como inspiração a primeira Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (LDB) (Lei 4024/1961). Esta foi portadora de inovações, tais como: o conceito de currículo mínimo e a intenção de deixar nas mãos das Instituições de Ensino Superior a construção de seus currículos plenos, atendendo, assim, às demandas e necessidades regionais.

Dentro do espírito consagrado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o novel Conselho Federal de Educação editou o Parecer 215/1962, estabelecendo um currículo mínimo para os cursos de Direito, em substituição ao até então vigente currículo pleno. Dá-se, assim, na história da Educação Jurídica brasileira, pela primeira vez, a abertura a uma flexibilização curricular. Com o estabelecimento de um currículo mínimo, foi concedida parcialmente autonomia às Instituições de Ensino Superior para elaborarem seus currículos de acordo com suas particularidades e interesses sociais, econômicos e culturais.

Tabela 6 - Parecer 215/1962 do CFE

Currículo Mínimo Economia Política

Medicina Legal

Introdução à Ciência do Direito Direito Civil

Direito Comercial

Direito Constitucional (Incluindo Teoria Geral do Estado) Direito Administrativo

Direito Financeiro e Finanças Públicas Direito Penal

Direito do Trabalho

Direito Internacional Privado Direito Internacional Público

Direito Judiciário Civil (com Prática Forense) Direito Judiciário Penal (com Prática Forense) Fonte: Corrêa (2018). Baseado no Parecer 215/1962 do CFE

Conforme se observa da Tabela 6, o currículo mínimo listava quatorze componentes curriculares obrigatórios, dentre os quais Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado, que aparecem separadamente. Não há mais menção à Diplomacia, cuja temática passou a integrar os programas de Direito Internacional Público. Verifica-se, assim, a presença do Direito Internacional Privado como componente curricular obrigatório, independente e separado em relação ao Direito Internacional Público.

Novamente, o documento oficial não logrou a sua concretização. Mesmo objetivando uma autonomia parcial das Instituições de Ensino Superior, na prática, de acordo com Rodrigues (2002), ainda que a legislação estabelecesse flexibilidade, continuou existindo um currículo rígido para os cursos de Direito no Brasil.

Percebemos que a modificação de 1962 terminou por manter a concepção inaugurada com a reforma Francisco Campos, que objetivava transformar o Ensino do Direito em formador de técnicos, característica que se intensificou após o Golpe Militar de 1964. Naquele contexto, constatou-se a tendência ao tecnicismo da Educação Jurídica, considerando principalmente o cerceamento dos debates, por conta da censura.

Esse regramento vigorou por dez anos, até 1972, quando, por meio da resolução número 3/72 do Conselho Federal de Educação, foi introduzido um novo currículo mínimo para os Cursos de Direito no Brasil. O objetivo dessa nova reforma era buscar a heterogeneidade dos modelos de ensino, com intenção de que as faculdades levassem em conta as peculiaridades regionais e do mercado de trabalho.

Tabela 7 - Resolução nº 3 do Conselho Federal de Educação de 1972

Básicas Profissionais

Introdução ao Estudo do Direito Economia

Sociologia

Direito Constitucional (Teoria do Estado - Sistema Constitucional Brasileiro

Direito Civil (Parte Geral, Obrigações. Parte Geral e Especial Coisas, Família e Sucessões

Direito Penal (Parte Geral e Parte Especial Direito Comercial (Comerciante, Sociedades, Títulos de

Crédito, Contratos Mercantis e Falência) Direito do Trabalho (Relação de Trabalho, Contrato do

Trabalho, Processo Trabalhista

Direito Administrativo (Poderes Administrativos, Atos e Contratos Administrativos, Controle da Administração

Pública, Fundação Pública)

Direito Processual Civil (Teoria Geral, Organização Judiciária, Ações, Recursos, Execução) Direito Processual Penal (Tipo de Procedimento,

Recursos, Execução)

Duas dentre as seguintes: Direito Internacional Público Direito Internacional Privado

Ciência das Finanças e Direito Financeiro (Tributário e Fiscal);

Direito da Navegação (Marítima) Direito Romano

Direito Agrário Direito Previdenciário

Medicina Legal

Exigido também:

Prática Forense (Estágio supervisionado) Estudo dos Problemas Brasileiros

Prática de Educação Física Fonte: Corrêa (2018). Com base na Resolução nº 3/1972 do CFE

No entanto, mais uma vez, a previsão legal não encontrou respaldo na aplicação fática. Novamente, identificamos um problema de recontextualização (BERNSTEIN, 1996), pois os cursos de Direito, ao realizarem o processo de recontextualização pedagógica, adotaram o currículo mínimo como pleno, abrindo mão da flexibilidade e variedade que possibilitaria sua adequação às realidades regionais, previstas pela regulamentação (FALCÃO, 1984; MELO, 1984; RODRIGUES, 2002).

Nesse panorama, os componentes curriculares Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado passaram a ser disciplinas que integravam um rol de optativas, das quais cada IES escolheria duas. Essa postura em relação ao Direito Internacional recebeu protestos da então Sociedade Brasileira de Direito Internacional. Para Trindade (2002a, p. 9), "perdeu nosso país, e perderam as novas gerações de interessados na disciplina. E continuam perdendo, ante o estado de quase abandono dos estudos verdadeiramente sérios neste domínio, considerados 'não prioritários' pelos técnicos do ensino dito 'superior'".

Não há como ignorar a vertiginosa evolução do Direito Internacional, no período compreendido pelo último quartel do século XX. Nessa época, em que o ensino do Direito Internacional não era obrigatório, caiu o Muro de Berlim; solidificou-se o Direito Ambiental Internacional; criaram-se as conferências mundiais da Organização das Nações Unidas (ONU); desenvolveu-se o Direito Internacional dos Direitos Humanos (TRINDADE, 2002a).

Essa regulamentação perdurou até 1994, quando a Portaria do MEC 1886/94 provocou uma modificação substancial na regulamentação dos cursos jurídicos no Brasil, constituindo- se na primeira importante regulamentação do Ensino Jurídico após o advento da Constituição Federal de 1988. Houve uma mudança no paradigma do Direito brasileiro: a nova Carta Maior tornou-o mais humanístico e voltado às questões sociais. Cabia, portanto, estabelecer uma regulamentação para a Educação Jurídica que fosse capaz de adequar-se a essa nova concepção jurídica.

Quanto às questões que nos mobilizam neste trabalho, a Constituição Federal de 1988 traz vários dispositivos que nos permitem concluir pela sua preocupação em garantir direitos, inclusive dos sujeitos que não mantêm, como o Estado brasileiro, o vínculo político jurídico de nacionalidade. A Constituição Federal, portanto, contempla direitos que devem ser respeitados mesmo quando nos deparamos com relações humanas que transpassam as fronteiras estatais, as quais convencionamos chamar de transnacionalizadas.

O respeito aos Direitos Humanos é a dimensão maior, na esfera jurídica, da transnacionalização das relações humanas. O reconhecimento da dignidade como fundamento

do Estado brasileiro, previsto no dispositivo que inaugura a Constituição da República, é exemplo de como essa Constituição, chamada cidadã, modificou a premissa do Direito brasileiro e, como consequência, demandou a necessidade de mudança de perspectiva na Educação Jurídica.

Pela Portaria 1886/94 do MEC, essa premissa começa a ganhar seus primeiros contornos. Uma das consequências da referida Portaria foi o retomada do Direito Internacional como componente curricular obrigatório. A relação desse movimento, com a Constituição de 1988, é evidente. A carta constitucional tem como linha condutora o respeito aos Direitos Humanos, os quais inspiraram todo seu arcabouço de direitos fundamentais.

Houve no cenário jurídico brasileiro uma importante modificação no que diz respeito à determinação da força jurídica dos tratados internacionais em geral, e dos de Direitos Humanos, em particular. Essa evolução, que tem como mote a Constituição de 1988, modificou totalmente o paradigma na década de 1990, com a adesão do Brasil aos tratados internacionais de Direitos Humanos. Dentre estes, cumpre destacar os Pactos da ONU de 1966 sobre Direitos Civis e Políticos e Sobre Direitos Econômicos Sociais e Culturais; o