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3 A EDUCAÇÃO JURÍDICA E A ABORDAGEM DAS RELAÇÕES HUMANAS

5.2 O Curso de Direito da UFPEL

5.2.7 A UFPEL e a interdisciplinaridade

O PPC do curso de Direito da UFPel afirma ser "imperiosa" a interdisciplinaridade e estabelece: "O ensino compartimentalizado não mais responde às crescentes necessidades sociais." O documento reconhece que "a interdisciplinaridade é imperiosa já que o homem,

enquanto animal social, origem e destino do direito, é um ser multifacetado que não pode ser apreendido numa única perspectiva"(UFPel, PPC, 2012, p .15).

Na parte que diz respeito ao ensino, a interdisciplinaridade só será efetivamente implementada se os professores criarem o saudável e necessário hábito de reunir se para tratar dos conteúdos das suas disciplinas, da melhor forma de ministrá-los e de integrá-los. Isso só será possível se houver um ambiente amistoso de trabalho, onde impere o compromisso com a instituição e o espírito de cooperação seja a tônica, aliado a uma humildade de espírito que permite a crítica honesta e construtiva entre os colegas. A troca de experiências, de ideias e de conhecimento entre os professores é indispensável para um ensino de qualidade.

Onde houver um docente isolado, estará comprometido o projeto da instituição.Reuniões didáticas devem ser rotina na instituição, com vistas a promover não só a maior integração disciplinar como também dos professores. É recomendável a tentativa de que dois ou mais professores ministrem em conjunto os conteúdos afins das suas disciplinas, interelacionando-as. Dada a complexidade das relações sociais que o direito visa regular, será necessário buscar o auxílio complementar de outras áreas do conhecimento. Com a adoção dessas duas medidas imperativas, aumenta-se a possibilidade dos debates e permite-se a ampliação do conhecimento tanto dos alunos como dos professores.

Aliás, esse é o sentido da Universidade (UFPEL, PPC, p. 15).

O PPC reconhece a importância da interdisciplinaridade, apesar de não seguir o modelo redacional pré-estabelecido no contexto do "Campo Recontextualizador Oficial". O projeto analisa as dificuldades de concretização da interdisciplinaridade no curso e passa a recomendar ações que possibilitem sua implementação, sendo, nesse ponto, propositivo.

5.2.8. A dimensão atribuída ao componente curricular Direito Internacional no currículo do curso de Direito da UFPel

Conforme justificamos anteriormente, este trabalho tem como marco temporal 1994. Naquele ano o Direito Internacional retornou a ser uma disciplina obrigatória, de acordo com a regulamentação oficial.

Algumas considerações prévias devem ser realizadas no que se refere à inserção do Direito Internacional no currículo do curso de Direito da UFPel. Até a entrada em vigor das DCNs de 1994, a regra jurídica que disciplinava nacionalmente os cursos de Direito era a Resolução nº 3/72 do Conselho Federal de Educação. A normativa estabeleceu um currículo mínimo e deixou a cargo das instituições de ensino, considerando suas peculiaridades, a definição do currículo pleno. Como a referida norma, conforme foi explicitado no Capítulo 3, o Direito Internacional deixou de ser um componente obrigatório nas Faculdades de Direito do Brasil, passando a integrar o rol de componentes curriculares optativos.

O Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado seguiram sendo disciplinas obrigatórias no curso de Direito da UFPel, mesmo no período em que o currículo

mínimo, estabelecido pelo regramento oficial de 1972, considerava-os como componentes curriculares optativos. Com 210 horas-aula de dedicação: o Direito Internacional Público era ministrado em dois semestres: no quinto e sextos semestres do curso (com carga horária de 60 horas-aula cada) e o Direito Internacional Privado no nono e décimo semestres, com carga horária de 45 horas-aula semestrais.

Na época da mudança da regulamentação oficial, 1972, a direção da faculdade de Direito da UFPel era exercida por uma professora de Direito Internacional62. Como o currículo reflete as complexas relações de poder estabelecidas em determinado lugar e num dado momento histórico (APPLE, 1989; 2006), este fato pode ter sido determinante para a manutenção do status que as disciplinas já haviam alcançado, mesmo com a modificação da normativa oficial.

Com as diretrizes curriculares de 1994, durante o processo de discussão de criação de um novo currículo para o curso de Direito, decidiu-se por unanimidade não manter nenhuma disciplina com carga horária ímpar, assim aquelas que tinham 3 horas-aula semanais ou seriam reduzidas para passar a ter 2 ou ampliadas para 4 (UFPEL, 1996).

Essa peculiaridade influenciou a determinação da carga horária destinada ao Direito Internacional Privado, que conforme exposto, contemplava duas disciplinas semestrais de 45 horas (à época, eram 15 semanas por semestre), e três horas-aula semanais. Acionados os três professores de Direito Internacional da instituição estes foram ouvidos e apresentaram proposta que justificou a ampliação de três para quatro horas-aula semanais. Assim o Direito Internacional Privado passou a ter carga horária ampliada de 90 para 120 horas-aula.

A justificativa encontrou respaldo na necessidade de contemplar questões que considerassem também o chamado Direito Processual Internacional e circunstâncias que revelavam já, naquele momento, uma tendência ao incremento das relações humanas transnacionalizadas.

62

A Professora Gilda Russomano, ocupou a Direção da Faculdade de Direito da UFPel de 1969 a 1973. Era docente de Direito Internacional Público e de Direito Internacional Privado.

Tabela 40 - UFPEL - Direito Internacional no PPC UFPEL - Direito Internacional no PPC

DISCIPLINA EMENTA

Direito Internacional Público 136 horas-aula

Noção do Direito Internacional Público. Evolução e Fontes do Direito Internacional Público. Tratados internacionais. O Estado como sujeito de Direito Internacional. Responsabilidade internacional do Estado. O

homem na vida internacional. Diplomacia. Organizações internacionais. Integração regional (A Comunidade Europeia. A ALADI. O MERCOSUL). Novas perspectivas da vida internacional.

Conflitos internacionais. Direito Internacional

Privado 136 horas-aula

Estudo analítico crítico da parte geral do direito internacional privado, do instituto da nacionalidade e da condição jurídica do estrangeiro no

Brasil bem como do direito civil e processual internacional.

Fonte: Corrêa (2018). Construída para esta investigação com base em UFPEL, 2012.