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NOTAS SOBRE CONEXÕES INTERPROPOSICIONAIS

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Academic year: 2019

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NOTAS

SOBRE

CONEXÕES INTERPROPOSICIONAIS

(2)

1.1 Uma distinção prévia: frase e proposição ...1

1.2 Variantes sintácticas das conexões interfrásicas ...2

1.2.1 Grandes formatos de conexão interfrásica ...2

1.2.2 Outros factores a considerar nas conexões interfrásicas ...7

1.3 Sobre alternativas sintácticas de conexão entre proposições ...8

1.4 Exemplos de anomalias sintácticas em conexões interfrásicas...10

1.4.1 Anomalias envolvendo coordenação...10

1.4.2 Anomalias envolvendo orações relativas ...11

2 SEMÂNTICA DAS CONEXÕES INTERPROPOSICIONAIS...13

2.1 Sobre classes semânticas de conexões interproposicionais...13

2.1.2 Esboço de uma tipologia geral de conexões interproposicionais...13

2.1.2 Textos exemplificativos de algumas conexões ...18

2.2 Conexões conclusivas ...21

2.2.1 Valor básico e formas dos conectores conclusivos ...21

2.2.2 Variantes da construção conclusiva abreviada...22

2.2.3 Vícios de raciocínio em construção conclusiva abreviada...22

2.3 Conexões explicativas...23

2.3.1 Valor básico e formas dos conectores explicativos...23

2.3.2 Variantes da construção explicativa abreviada ...23

2.3.3 Vícios de raciocínio em construção explicativa abreviada ...24

2.3.4 Confusão entre conexões explicativas e causais ...24

2.3.5 Conexões conclusivas versus explicativas ...24

2.4 Conexões condicionais ...25

2.4.1 Condicionais comuns e condicionais especiais...25

2.4.2 Condicionais comuns e tipos de acção verbal...25

2.4.3 Condicionais comuns e valor semântico da conexão ...27

2.4.2 Condicionais e Factualidade ...27

2.4.4 Variedades de condicionais...28

2.4.4.1 Condicionais de marcação da condição suficiente...28

2.4.4.1.1 Condicionais de CS não-tautológica ...28

2.4.4.1.2 Condicionais de CS tautológica (ou incondicionais) ...29

2.4.4.2 Condicionais de marcação da condição necessária ...30

2.4.4.3 Condicionais de CNeS (ou bicondicionais) ...30

2.4.4.3.1 Condicionais de CNeS directa (ou bicondicionais directas) ...30

2.4.4.3.2 Condicionais de CNeS indirecta (ou bicondicionais indirectas) ...31

2.4.4.4 Contrastes entre marcação da CS e da CN...31

2.4.6 Condicionais e monotonia...33

2.5 Conexões de contradição (concessivas e adversativas) ...34

2.5.2 Conexões concessivas (subordinação) ...34

2.5.2.1 Conectores concessivos...34

2.5.2.2 Valor semântico verifuncional dos conectores concessivos...34

2.5.1 Conexões adversativas ...35

2.5.1.1 Conectores adversativos...35

2.5.1.2 Valor semântico verifuncional dos conectores adversativos...35

2.5.3 Variantes das conexões de contradição...35

2.5.4 Conexões adversativas versus concessivas ...36

2.5.5 Anomalias ou particularidades semânticas na contradição ...37

2.6 Conexões de contraposição...38

2.7 Anexo sobre condicionais concessivas (ou incondicionais)...39

(3)

1

SINTAXE DAS CONEXÕES INTERPROPOSICIONAIS

1.1 UMA DISTINÇÃO PRÉVIA: FRASE E PROPOSIÇÃO

Uma frase ou uma proposição representam uma situação do real e está-lhes sempre associado, direc-ta ou indirecdirec-tamente, um valor de verdade (o verdadeiro ou o falso).

Uma frase tem sempre uma forma verbal como núcleo de um grupo verbal. Essa forma verbal pode ser finita (isto é, com flexão verbal completa) ou não-finita (isto é, infinitiva, gerundiva ou partici-pial).

Uma frase é sempre uma proposição. Pode ter outras frases ou proposições nela encaixadas. Uma proposição pode não ser frásica, por não ter grupo verbal.

CLASSE DA EXPRESSÃO GRUPO VERBAL VALOR DE VERDADE

frases (ou proposições frásicas)

+

+

proposições não frásicas

+

pró-formas ou elementos nulos

frá-sicos ou proposicionais n.a.

+

construções nominais n.a.

pró-formas ou elementos nulos

nominais n.a.

Quadro 1 – Representação de situações

PROPOSIÇÕES NÃO FRÁSICAS

(1) [Um aeroporto nesta região] é um crime contra o ambiente.

Além disso, [ ] é um desastre económico. Penso que [isso] nunca acontecerá. (2) [Computadores em todas as salas de aula] representa um grande progresso. (3) [Um amigo em momento de dificuldades] é um bem inestimável.

(4) “[Aventureiro], Herzog continua a não fazer filmes normais de forma normal (...).” (5) O réu, [com medo de se prejudicar], não respondeu ao juiz.

(6) Preciso d[a sala livre às 16 h]. (7) Tal pai, tal filho.

(4)

1.2 VARIANTES SINTÁCTICAS DAS CONEXÕES INTERFRÁSICAS

1.2.1 Grandes formatos de conexão interfrásica

REPRESENTAÇÕES DIAGRAMÁTICAS DE CONEXÕES INTERFRASICAS

A.

B.

C.

D.

E.

F.

A – Justaposição. B – Anexação. C – Suplementação. D – Coordenação. E – Subordinação livre. F – Subordinação presa.

(Adaptado de Peres e Mascarenhas 2006: 149)

S

2

S

1

S

2

S

1 OP

S

2

S

1 OP

S

3

S

2

S

1 OP

S

1

S

2

S

1 OP

...

S

2

(5)

COMPL S-ADV CSC SCA1 MOV. CLEFT NEG.

JUXTAPOSITION (JUSTAPOSIÇÃO) − − 2 − −

conclusiva − − − −

ATTACHMENT (ANEXAÇÃO)

adversativa anexa − − − −

relativa suplementar( ou não-restritiva) − − ± −

conformativa − − + −

N O N -P R O PO T IT IO N A L C O N N E C T IO N S ( C O N E X Õ E S N Ã O .-P R O P O SI C IO N A IS ) SUPPLEMENTATION

(SUPLEMENTAÇÃO)

explicativa − − ± −

copulativa + + + − − −

disjuntiva + + + − − −

COORDINATION

(COORDENAÇÃO)

adversativa coordenada + + + − − −

concessiva + + − + + − −

OUTER

(EXTERNA) incondicional + + − + + − (+)

bicondicional + + − + + ± (+)

condicional de antecedente marcado + + − + + ± (+)

condicional de consequente marcado + + − + + + −

causal + + − + + + +

final + + − + + + +

FR E E ( L IV R E ) INNER

(INTERNA)

temporal + + − + + + +

substantiva + + − ± + +

adjectiva + + − − − +

comparativa + + − − − +

PR O PO SI T IO N A L C O N N E C T IO N S ( C O N E X Õ E S P R O P O SI C IO N A IS ) S U B O R D IN A T IO N ( SU B O R D IN A Ç Ã O )

BOUND (PRESA)

consecutiva + + − − − +

Quadro 2 [Table 8 – A tentative (and visibly incomplete) overview of inter-sentential connections – Peres e Mascarenhas 2006: 147]

1 ‘SCA’ stands for ‘subirdinating clause anaphora’.

(6)

COMPL MOV. APS3

JUSTAPOSIÇÃO − −

conclusiva − −

ANEXAÇÃO

adversativa anexa − −

relativa suplementar (ou não-restritiva) − ±

conformativa − +

C O N E X Õ E S N Ã O -P R O P O SI C IO N A IS SUPLEMENTAÇÃO

explicativa − ±

copulativa + −

disjuntiva + −

COORDENAÇÃO

adversativa coordenada + −

concessiva + + +

EXTERNA

incondicional + + +

bicondicional + + +

condicional de antecedente marcado + + +

condicional de consequente marcado + + +

causal + + +

final + + +

SU B O R D IN A Ç Ã O L IV R E INTERNA

temporal + + +

substantiva + ± −

adjectiva + − −

comparativa + − −

C O N E X Õ E S P R O P O SI C IO N A IS SU B O R D IN A Ç Ã O SUBORDINAÇÃO PRESA

consecutiva + − −

Quadro 3 – Tipos sintácticos de conexões interfrásicas (versão compactada)

NOTAS

A. No que respeita às conexões de suplementação, os testes da complementação (com verbos ou com unidades de outras classes) não podem ser entendidos apenas em termos sintácticos, tendo tam-bém de se considerar a dimensão semântica, como fica claro nas seguintes observações contidas no artigo mencionado (respeitantes às explicativas, mas extensíveis ao resto da suplementação (i.e., às relativas explicativas e às conformativas):

“explicatives (…) don’t partake in the determination of the truth value of the complement clause they are appended to (…) and, as a consequence, they likewise play a null role in the determination of the truth value of the highest clauses (…). In sum, although explicatives can be adjoined to sentences that are complements of verbs or other predicates, they are not semantically in the complementation rela-tion, acting more in the way of externally added information.” (ib.: 118)

Tendo em conta a dimensão semântica em causa, pode-se dizer que a complementação separa os dois seguintes grupos de conexões interproposicionais:

{JUSTAPOSIÇÃO, ANEXAÇÃO, SUPLEMENTAÇÃO} / {COORDENAÇÃO, SUBORDINAÇÃO}

(7)

B. O teste da Anáfora da Proposição Subordinante (APS) permite distinguir entre SUBORDINAÇÃO LIVRE e SUBORDINAÇÃO PRESA. Vejam-se os seguintes dados ilustrativos de realizações possíveis da anáfora com subordinação livre:

(9) a. A Ana irá a Londres, quando ISSO for possível. porque ISSO lhe dá prazer.

para com ISSO alargar a sua cultura. se ISSOfor necessário.

apesar de ISSO lhe sair caro.

Seguidamente, exemplificam-se algumas dos formatos considerados e verificam-se, por aplicação de testes, algumas das propriedades que lhes estão associadas.

CONEXÃO POR JUSTAPOSIÇÃO (10) a. As nuvens estão muito dispersas. Não creio que vá chover.

b. As nuvens estão muito dispersas, não creio que vá chover.

(11) *Confirmei que [as nuvens estão muito dispersas, não creio que vá chover]. [EXCLUÍDA A COMPLEMENTAÇÃO]

(12) Não creio que vá chover, as nuvens estão muito dispersas. [ADMITIDA A INVERSÃO DA ORDEM]

(13) *Não creio, as nuvens estão muito dispersas, que vá chover. [EXCLUÍDO O MOVIMENTO DE UMA FRASE DENTRO DA OUTRA]

CONEXÕES POR ANEXAÇÃO CONEXÃO CONCLUSIVA

(14) a. As nuvens estão muito dispersas. Portanto, não vai chover. b. As nuvens estão muito dispersas, portanto não vai chover.

(15) a. *Confirmei que [as nuvens estão muito dispersas, portanto não vai chover]. ≠ b. [Confirmei que [as nuvens estão muito dispersas]]; portanto, não vai chover.

[EXCLUÍDA A COMPLEMENTAÇÃO]

(16) *Portanto, não vai chover. As nuvens estão muito dispersas. [EXCLUÍDA A INVERSÃO DA ORDEM]

(17) *As nuvens, portanto não vai chover, estão muito dispersas. [EXCLUÍDO O MOVIMENTO DE UMA FRASE DENTRO DA OUTRA]

CONEXÃO ADVERSATIVA ANEXA

(18) a. O céu estava muito carregado. Contudo, não choveu. b. O céu estava muito carregado, contudo não choveu.

(19) a. *Confirmei que [o céu estava muito carregado, contudo não choveu]. ≠ b. [Confirmei que [o céu estava muito carregado]], contudo não choveu.

[EXCLUÍDA A COMPLEMENTAÇÃO]

(20) *Contudo não choveu. O céu estava muito carregado. [EXCLUÍDA A INVERSÃO DA ORDEM]

(21) *O céu, contudo não choveu, estava muito carregado.

(8)

CONEXÕES POR SUPLEMENTAÇÃO

CONEXÃO RELATIVA NÃO-RESTRITIVA (OU EXPLICATIVA OU APOSITIVA)

(22) a. O céu está muito nublado, o que prenuncia chuva. b. ?O céu está muito nublado. O que prenuncia chuva.

(23) Anunciaram no boletim meteorológico [[que o céu está muito nublado]i, [[o que]i prenuncia chuva]].

Note-se que a oração relativa é semanticamente exterior ao complemento frásico do verbo anunciar (que é: o céu está muito nublado), surgindo como um comentário suplementar. O carácter suplemen-tar da relativa em relação ao complemento frásico em causa é confirmado pelo facto de a resposta a uma pergunta como a de

(24-P) poder ser apenas a frase complemento, sendo facultativa a presença da relativa: (24) P – O que é que anunciaram no boletim meteorológico?

R – Que o céu está muito nublado.

A independência da oração relativa torna-se ainda mais evidente se a frase a que está aplicada for complemento de um nome como facto ou anúncio:

(25) O anúncio de que o céu está muito nublado, [o que prenuncia chuva], foi feito no boletim meteorológico.

Também aqui, a oração relativa é exterior ao complemento frásico (o céu está muito nublado), cons-tituindo uma intercalação. O predicado da frase matriz (foi feito no boletim meteorológico)aplica-se apenas ao SN o anúncio de que o céu está muito nublado.

(26) *O que prenuncia chuva, o céu está muito nublado. [EXCLUÍDA A INVERSÃO DA ORDEM]

(27) ??O céu, o que prenuncia chuva, está muito nublado.

[MOVIMENTO DE UMA FRASE DENTRO DA OUTRA MUITO CONDICIONADO] Com sintagmas nominais mais “pesados”, a possibilidade parece existir:

(28) O presidente do Banco Central Europeu, o que é assustador, anunciou um novo aumento das taxas de juro.

CONEXÃO CONFORMATIVA

(29) a. Esta semana está a ser muito chuvosa, conforme (o que) toda a gente desejava. b. ?Esta semana está a ser muito chuvosa. Conforme (o que) toda a gente desejava. (30) Verifica-se que [[esta semana está a ser muito chuvosa]i, [conforme [o que]i

toda a gente desejava]].

[EXCLUÍDA A COMPLEMENTAÇÃO]

Note-se que, tal como acontecia com as relativas de frase, também aqui a sequência conformativa é exterior ao complemento frásico do verbo verificar (que é: esta semana está a ser muito chuvosa), surgindo como comentário suplementar. Uma vez mais, o carácter suplementar da estrutura conecta-da é sugerido pelo facto de a resposta a uma pergunta sobre o complemento do verbo conecta-da matriz poder ser apenas a frase complemento, sendo facultativa a presença da sequência conformativa: (31) P – O que é que se espera?

(9)

A independência da sequência conformativa torna-se ainda mais evidente se a frase a que está apli-cada for complemento de um nome como facto ou anúncio:

(32) O anúncio de que esta semana vai ser muito chuvosa, conforme toda a gente deseja, foi feito no boletim meteorológico.

Também aqui, a sequência conformativa é exterior ao complemento frásico (esta semana vai ser muito chuvosa), constituindo uma intercalação. O predicado da frase matriz (foi feito no boletim meteorológico)aplica-se apenas ao SN o anúncio de que esta semana vai ser muito chuvosa.

(33) Conforme toda a gente desejava, esta semana está a ser muito chuvosa. [ADMITIDA A INVERSÃO DA ORDEM]

(34) Esta semana, conforme toda a gente desejava, está a ser muito chuvosa. [ADMITIDO O MOVIMENTO DE UMA FRASE DENTRO DA OUTRA]

1.2.2 Outros factores a considerar nas conexões interfrásicas

Além dos tipos sintácticos de conexões considerados nas secções anteriores, há que ter em conta pelo menos mais os seguintes factores sintácticos que fazem variar as conexões:

• a caracterização da frase conectada (justaposta, anexa, suplementar, coordenada ou subordina-da) no que respeita à oposição frase finita / frase não-finita e, dentro destas, entre frases infi-nitivas, gerundivas e participiais;

• o recurso ou não, no interior da frase conectada, a uma anáfora da frase a que ela se conecta; na seguinte sequência, temos na frase justaposta uma anáfora da frase a que se conecta: Está a chover. Por isso não vou sair.

(10)

1.3 SOBRE ALTERNATIVAS SINTÁCTICAS DE CONEXÃO ENTRE

PROPOSIÇÕES

CONEXÃO TEMPORAL

(35) A Turquia ameaçou invadir o Norte do Iraque. O preço do petróleo disparou.

(36) A Turquia ameaçou invadir o Norte do Iraque. Pouco depois [ ] / logo a seguir [ ], o preço do petróleo disparou.

(37) O preço do petróleo disparou, depois de a Turquia ter ameaçado invadir o Norte do Iraque. (38) O preço do petróleo disparou, quando a Turquia ameaçou invadir o Norte do Iraque. (39) A Turquia ameaçou invadir o Norte do Iraque, após o que o preço do petróleo disparou. Veja-se a alternativa que constituem os complementos circunstanciais não frásicos:

(40) A Turquia ameaçou invadir o Norte do Iraque. Nessa altura / então o preço do petróleo disparou.

(41) A Turquia ameaçou invadir o Norte do Iraque. Logo / imediatamente o preço do petróleo disparou.

CONEXÃO DE CONTRADIÇÃO [ADVERSATIVA E CONCESSIVA ]

(42) O Pedro estuda pouco, mas tira boas notas. (43) O Pedro tira boas notas, embora estude pouco. (44) Embora estude pouco, o Pedro tira boas notas. (45) Ainda que estude pouco, o Pedro tira boas notas. (46) Apesar de estudar pouco, o Pedro tira boas notas. (47) O Pedro estuda pouco, se bem que tire boas notas.

(48) O Pedro estuda pouco. Apesar disso / ainda assim / contudo / porém / todavia / não obstante, tira boas notas.

(49) O Pedro estuda pouco, e tira boas notas.

(50) Com toda a sua riqueza, ele não conseguiu resolver o problema de saúde do filho. (51) Interessantes e inovadoras que são, estas propostas não nos servem.

Comparar com o inglês:

(52) They couldn´t open it, for all their efforts.

(53) For all their differences, they reached some kind of consensus. (Apesar de todas as suas diferenças, …)

(11)

CONEXÃO CAUSAL OU CONSEQUENCIAL

ORAÇÃO SUBORDINADA CAUSAL FINITA

(54) Gerou-se uma situação complexa no Médio Oriente porque os Estados Unidos invadiram o Iraque.

(55) Porque os Estados Unidos invadiram o Iraque, gerou-se uma situação complexa no Médio Oriente.

ORAÇÃO SUBORDINADA CAUSAL INFINITIVA

(56) Gerou-se uma situação complexa no Médio Oriente por os Estados Unidos terem invadido o Iraque.

(57) Por os Estados Unidos terem invadido o Iraque, gerou-se uma situação complexa no Médio Oriente.

ORAÇÃO SUBORDINADA CONSEQUENCIAL GERUNDIVA

(58) Os Estados Unidos invadiram o Iraque, gerando uma situação complexa no Médio Oriente.

ORAÇÃO ANEXA CONSEQUENCIAL

(59) Os Estados Unidos invadiram o Iraque, daí que se tenha gerado uma situação complexa no Médio Oriente.

(60) Os Estados Unidos invadiram o Iraque; consequentemente, gerou-se uma situação comple-xa no Médio Oriente.

ORAÇÃO RELATIVA DE FRASE

(61) Os Estados Unidos invadiram o Iraque, o que gerou uma situação complexa no Médio Oriente.

(62) Os Estados Unidos invadiram o Iraque, pelo que se gerou uma situação complexa no Médio Oriente.

APOSTO NOMINAL DE FRASE COM ORAÇÃO RELATIVA

(63) Os Estados Unidos invadiram o Iraque, (um) facto que gerou uma situação complexa no Médio Oriente.

(64) Os Estados Unidos invadiram o Iraque, razão por que se gerou uma situação complexa no Médio Oriente.

JUSTAPOSIÇÃO COM ANÁFORA FRÁSICA

(65) Os Estados Unidos invadiram o Iraque. Isso / tal facto gerou uma situação complexa no Médio Oriente.

JUSTAPOSIÇÃO E COMPLEMENTO CIRCUNSTANCIAL DE CAUSA COM ANÁFORA FRÁSICA

(66) Os Estados Unidos invadiram o Iraque. Gerou-se por isso / por tal facto uma situação complexa no Médio Oriente.

COMPLEMENTO CIRCUNSTANCIAL DE CAUSA (NÃO FRÁSICO)

(67) Gerou-se uma situação complexa no Médio Oriente, pelo facto de os Estados Unidos terem invadido o Iraque.

(12)

1.4 EXEMPLOS DE ANOMALIAS SINTÁCTICAS EM CONEXÕES

INTERFRÁSICAS

1.4.1 Anomalias envolvendo coordenação

CONECTOR IMPRÓPRIO EM COORDENAÇÃO COPULATIVA (ADIÇÃO)

695 “Os operadores públicos de telecomunicações, também se têm empenhado na sua expansão, não só porque se trata de uma exigência do tecido socioeconómico, e também porque perceberam que se tratava de um serviço que será um excelente gerador de receitas para a rede básica.”

(Expresso, PUBLIMÉDIA , 14-11-1992, p.5)

NÍVEL INADEQUADO DE APLICAÇÃO DO CONECTOR EM COORDENAÇÃO COPULATIVA

424 “«Quero que o Prémio Camões seja uma festa e não uma atribulação.»

Atribuladas têm sido as considerações sobre a existência mesma do galardão. Não só porque nos últimos anos se têm assistido a verdadeiras telenovelas para garantir a sua credibilidade, como há quem defenda – dos dois lados do mar – uma outra atitude em torno deste prémio.”

(Público, 02-05-1995, p.33)

1155 “(...) tudo isso deixa pensar que não apenas pode haver um segundo acto na vida norte-americana, mas que o conceito de «erro feliz», caro aos poetas ingleses do Renascimento, se aplica aqui.” (Courrier Internacional, n.º 164, Out. 2009, p. 34)

NÍVEL INADEQUADO DE APLICAÇÃO DO CONECTOR EM COORDENAÇÃO DISJUNTIVA

942 “Para pôr fim (?) à discussão, a National Gallery vai utilizar a técnica de raios X para determi-nar, ou não, se se trata de um El Greco autêntico.” (Público, 09-02-2004, p.43)

669 “O Governo Regional da Madeira já intentou contra este jornal vários processos que foram ou arquivados ou dos quais veio a desistir.” (Público, 25-08-1995, p.40)

DUPLICAÇÃO DE CONECTORES ADVERSATIVOS E CONCESSIVOS

"Embora a representação do crepúsculo na poesia tenha sido feita desde a antiguidade, ela está no entanto sempre associada a um contexto natural (...) em que a hora crepuscular serve de cenário de apoio à representação das emoções." (Independente, 24-02-1989, iii-21)

129 “Apesar contudo do pontífice russo afirmar não estar com a esquerda nem com a direita, os seus discursos são cada vez mais anti-comunistas e as suas acções com vista a purificar a Igreja do bol-chevismo são mais e mais decididas.” (Público, 09-09-1991, p.17)

130 “Actualmente, não existe qualquer vacina contra a sida e os testes com chimpanzés representam um importante passo para o seu desenvolvimento. Apesar de tudo, porém, não se sabe até que ponto eles representam um bom modelo animal da doença (...).” (Público, 06-08-1991, p.21)

625 “(…) Depois, ela viria a empregar-se como consultora de línguas nas Nações Unidas. Para sua satisfação, descobriu que a secretária que lhe coube era a mesma onde tinha trabalhado Mondlane. Sempre que este visitava Nova Iorque encontravam-se. Mas embora sentisse orgulho por conhecer este combatente da liberdade, o que lhe dava realmente grande prazer eram os fins-de-semana que passava com Jack.” (Expresso, Revista, 27-11-1999, p.74)

(13)

1.4.2 Anomalias envolvendo orações relativas

SEPARAÇÃO DE ORAÇÃO RELATIVA EXPLICATIVA DO SEU ANTECEDENTE

257 “O presidente da Fretilin Abílio Araújo foi recebido por D. João Alves, presidente da Conferên-cia Episcopal Portuguesa, ontem à tarde, em Coimbra, a quem apresentou a sua proposta de realiza-ção de um «encontro de reconciliarealiza-ção» entre os timorenses (...).” (Público, 12-05-1993, p. 6)

884 “O «próprio diabo» admitiu a responsabilidade pelo atentado de Omagh, que ontem declarou que já não vai matar mais.” (Público, 20-08-98, p. 1)

ADIÇÃO DE CONJUNÇÃO COORDENATIVA A RELATIVA EXPLICATIVA

259 “A chave do problema reside nas grelhas da tubagem e que não se encontrariam colocadas no momento em que as duas crianças de 9 anos foram sugadas pela força das três bombas de água colo-cadas no “ribeirão” (...).” (Público, 31-07-1993, p. 3)

260 “Terça-feira, o “Daily Mirror” publicou ao longo de cinco páginas algumas das “melhores pas-sagens” do livro “Os anos em Downing Street” e no qual a ex-primeira-ministra britânica retrata o período (...) em que esteve à frente do Governo.” (Público, 06-10-1993, p. 44)

SEPARAÇÃO DE RELATIVA EXPLICATIVA DO ANTECEDENTE E ADIÇÃO DE COORDENAÇÃO

255 “Um dos fundadores da química orgânica foi Jean-Baptiste Dumas, que Pasteur sempre conside-rou o seu pai espiritual, a cujas aulas assistiu, na Sorbonne, e que foram o incentivo para que este jovem estudante de química se sentisse atraído em prosseguir os estudos da química do sangue.” (Público, Magazine, 24-09-1995, p. 50)

261 “As trocas de mimos entre os deputados socialistas e os sociais-democratas sucedem-se a uma velocidade alucinante. Agora foi a vez de o socialista Jaime Gama passar ao «ataque», usando a sua veia poética para compor a letra do hino do PSD, oferecendo-o aos «laranjas», e cujo texto GENTE aqui reproduz (...).” (Expresso, 11-05-1991, p. A23)

263 “A festa litúrgica do Corpo de Deus realiza-se este ano no bairro das Telheiras, paróquia do Lumiar, sob o lema «Deus é grande e está aqui», e a que presidirá o cardeal-patriarca de Lisboa D. António Ribeiro.” (Diário de Notícias, 16-05-1991, p. 20)

264 “(…) [Os partidos religiosos] surgem uma vez mais, politicamente, com um poder reforçado e com os quais tanto o Likud como os Trabalhistas terão que se entender numa possível saída para a crise política.” (Redacção DL-AFP, DL, 13-03-1990, p. 11)

549 “Lino Ventura interpreta a figura do general Della Chiesa neste filme de Giuseppe Ferrara que descreve a sua luta contra a Mafia na Sicília de 1982, e que seria assassinado, com a sua noiva, num atentado.” (Público, 06-01-1992, p.26)

SEPARAÇÃO DE RELATIVA EXPLICATIVA DO ANTECEDENTE E PROBLEMAS ADICIONAIS

854 “Os 18 trabalhadores que se encontravam sobre o viaduto caíram de uma altura de 24 metros, tendo três deles escapado ilesos. (...) Os feridos deram entrada no Hospital das Caldas, dos quais três foram transferidos para os hospitais de Abrantes, Leiria e de Santa Maria, em Lisboa.”

(14)

951 “«Estes jornalistas foram tratados como criminosos − revistados, encarcerados e a quem retira-ram as impressões digitais», lamentou-se o secretário-geral da RSF, Robert Menard, numa carta dirigida ao embaixador norte-americano em Paris.” (Público, 22-03-2003, p. 53)

PROBLEMAS DE COORDENAÇÃO DENTRO DE ORAÇÕES RELATIVAS

544 “Foi detido no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira, onde cumpria pena de prisão e havia saído em liberdade condicional.” (Público, 08-04-1992, p. 48)

650 “A pergunta «para que serve?» surge, todavia, no título desta crónica para ser aplicada a um pro-duto específico que há 12 semanas está no coração do horário nobre da televisão de serviço público e tardo em descobrir-lhe uma finalidade.” (Expresso, Antena, 09-01-1999, p. VII)

1079 “O que se passou em Carcavelos, no passado dia 10 de Junho (...), ajuda a pôr na ordem do dia uma realidade que há muito (...) todos conhecíamos mas nenhum de nós gosta de falar: de que modo estamos a integrar os imigrantes e, sobretudo, os filhos dos imigrantes?”

(15)

2

SEMÂNTICA DAS CONEXÕES INTERPROPOSICIONAIS

2.1 SOBRE CLASSES SEMÂNTICAS DE CONEXÕES

INTERPROPOSICIONAIS

2.1.2 Esboço de uma tipologia geral de conexões interproposicionais

Os quadros 4 e 5 que se seguem dão uma visão global e integrada das relações interproposicio-nais em português (e, presumivelmente, em grande parte das línguas humanas). Registe-se, todavia, que são parte de um trabalho exploratório e incompleto, que certamente sofrerá revisões e extensões no futuro.

No plano conceptual, importa salientar as opções, patentes nos quadros em causa, a respeito do seguintes pontos: (i) conceito de “relação (ou conexão) interproposicional”; (ii) arquitectura global do sistema, dividido em quatro grande domínios de significado, dois dos quais com vários subdomínios; (iii) exclusão de alguns subtipos de frases da rede de relações em causa; finalmente, (iv) ausência de uma relação de Comentário.

O conceito de “relação (ou conexão) interproposicional” é entendido de forma ampla, abrangendo não só as relações semânticas existentes entre duas ou mais frases independentes, com ou sem elemento relacional (ou conector), como em (1) e (2), respectivamente, mas tam-bém as que ligam uma oração principal e uma sua subordinada adverbial, como em (3) e (4), ou as que ligam uma oração com um argumento do seu verbo principal, como em (5) e (6):

(69) Vai chover, visto que o céu está muito nublado. ... [R-36 – EXPLICAÇÃO] (70) Vai chover. O céu está muito nublado... [idem] (71) Vai chover, apesar de terem anunciado o contrário. ... [R-21 – CONTRADIÇÃO] (72) As crianças não saíram porque estava a chover. ... [R-6 – CAUSA] (73) Penso que vai chover. ... [R-19 – CRENÇA] (74) Disseram que vai chover... [R-23 – ASSERÇÃO] Note-se que, em (5), as duas frases que são relacionadas são a frase (5) no seu todo – penso

que vai chover –, a que podemos chamar “frase matriz”, e a frase que serve de complemento ao

verbo epistémico pensar, que é a frase vai chover. Dado o conteúdo do verbo em causa, diremos que entre a frase matriz e o seu complemento existe uma relação epistémica. Se, em vez do verbo pensar, tivermos o verbo dizer, como em (6), a relação entre a matriz e o seu complemen-to passa a ser uma relação declarativa, isto é, a frase matriz serve para afirmar que o seu com-plemento – vai chover – foi declarado (ou enunciado) por alguém.

Dentro da mesma perspectiva de identificação dos tipos de relação que podem estabelecer-se entre duas proposições identificáveis independentemente uma da outra, são também conside-radas as frases em que ocorrem advérbios que predicam sobre uma frase ou sobre um enuncia-do, como nos exemplos seguintes:

(16)

acho que agiste mal) e a frase menor (acho que agiste mal), mas, sim, entre a frase maior e o acto de enunciação da frase menor, veiculando-se a informação de que esse acto é sincero.

Quanto ao sistema global de relações, são os seguintes os quatro domínios maiores em que é analisado:

DOMÍNIO ONTOLÓGICO (domínio doSER)–domínio em que as relações entre as

proposi-ções correspondem a relaproposi-ções entre situaproposi-ções do real em si mesmo [como em (4), aci-ma].

DOMÍNIO COGNITIVO (domínio doCONHECERe do PENSAR) – domínio em que as

rela-ções entre as proposirela-ções correspondem a relarela-ções entre valores de sistemas de conhe-cimento e o real [como em (1), (2), (3), (5), (6) e (7), acima].

DOMÍNIO LINGUÍSTICO (domínio doVERBALIZAR)–domínio em que as relações entre as

proposições correspondem a relações linguísticas entre o enunciador e o texto [como

em penso que vai chover, ou melhor, chuviscar].

DOMÍNIO DA ENUNCIAÇÃO OU DISCURSIVO (domínio doCOMUNICAR)–domínio em que

as relações entre as proposições correspondem a relações entre o enunciador e o acto de enunciar (a enunciação) [como em (8), acima].

No que respeita a exclusões, salienta-se que, de entre os tipos de oração reconhecidos pela tradição gramatical, ficam claramente fora do sistema as orações subordinadas relativas restriti-vas de nome (como a parte sublinhada de li todas as mensagens que recebi), as orações subordi-nadas comparativas (como a parte sublinhada de as questões são mais complicadas do que

tínhamos imaginado) e as orações subordinadas consecutivas (como a parte sublinhada de tem

chovido tão pouco que decerto vai faltar água).

Sobre a não inclusão no quadro geral apresentado de uma relação óbvia de Comentário, que tem sido considerada por vários autores, deve-se tal opção (simplificadora e provisória) ao carácter transversal da relação em causa, que opera em diferentes domínios de significação. Note-se também que, como outras relações, a de Comentário pode combinar-se com outros valores de conexão interproposicional (uma questão que não foi explorada nas aulas). Vejam-se exemplos desta relação:

(77) a. Devemos avançar já com uma proposta. É a minha opinião / É o que eu penso. [COMENTÁRIO + R-19 (CRENÇA) + R-45 (MODALIZAÇÃO DISCURSIVA)] b. Os animais afectados pela doença não foram isolados. Um disparate!

[COMENTÁRIO + R-28 (VALORAÇÃO)]

c. O Governo decidiu ontem alterar o diploma. Finalmente! [IDEM]

d. A decisão do ministro foi, digamos (assim) / se assim me posso exprimir / por assim dizer, algo precipitada.

(17)

Domínios e subdomínios das relações Nomes das relações N.º

Verificação (ou Rel.ão Alética)

R-1

Delimitação (temática) R-2

Localização temporal R-3

Modo R-4

Meio R-5

Causa R-6

Consequência R-7

Finalidade R-8

Condição R-9

Enquadramento R-10

Elaboração (Análise?) R-11

Instanciação R-12

Adição R-13

Narração R-14

Paralelismo R-15

Disjunção R-16

Diferença R-17

Oposição R-18

DOMÍNIO ONTOLÓGICO

Conformidade R-19

Crença R-20

Probabilidade R-21

Contradição4

R-22

Subdomínio Epistémico

Restrição R-23

Asserção R-24

Atestação R-25

Subdomínio Declarativo

Rectificação R-26

Obrigação R-27

Permissão R-28

Subdomínio Deôntico

Compromisso R-29

Valoração R-30

Contraste R-31

Subdomínio Avaliativo

Contraposição R-32

Subdomínio dos Sistemas de Informação

OUTROS SUBDOMÍNIOS5 ... R-33

Consistência R-34

Adução R-35

Confirmação R-36

Subdomínio Argumentativo

Reforço R-37

Conclusão R-38

DOMÍNIO COGNITIVO

Subdomínio dos Processos de Raciocínio

Subdomínio Inferencial

Explicação R-39

Equiparação R-40

Explicitação R-41

Subdomínio do conteúdo

Reelaboração R-42

Subdomínio Proposicional (Metalinguístico)

Subdomínio da forma Reformulação R-43

Estruturação R-44

DOMÍNIO LINGUÍSTICO (Língua / Código)

Subdomínio Textual

Ordenação R-45

DOMÍNIO DA ENUNCIAÇÃO Modalização discursiva R-46

4 Agrupa as conexões concessivas e adversativas.

5 Nomeadamente, os seguintes: Desiderativo (desejar, desejavelmente), Volitivo (querer) e Potestativo (decidir,

(18)

QUADRO 5.1

Verificação (ou Rel.ão Alética) ser (im)possível, verificar-se, ser um facto, (im)possibilitar, permitir, impedir, ... R-1 Delimitação (temática) sobre, acerca de, quanto a, a respeito de, no que diz respeito a, em relação a, no que concerne a, ... R-2

Localização temporal quando, logo que, mal, antes de, depois de, enquanto, desde que, até que ... R-3

Modo como, do modo que, da maneira que, ... R-4

Meio ORAÇÕES GERUNDIVAS R-5

Causa por(que), pois, devido a, dado, R-6

Consequência donde, daí que R-7

Finalidade para que, a fim de que, com vista a, com o objectivo de ... R-8

Condição se, caso, mesmo que, excepto se, salvo se ... R-9

Enquadramento R-10

Elaboração (Análise?) R-11

Instanciação por exemplo, nomeadamente, concretamente, especificamente, ... R-12

Adição e R-13

Narração (“GRADATIVA”: não só, mas também, ...) R-14

Paralelismo R-15

Disjunção ou...ou R-16

Diferença diversamente, diferentemente R-17

Oposição pelo contrário, ao invés, ... R-18

DOMÍNIO ONTOLÓGICO

Conformidade conforme, segundo, de acordo com, ... R-19

[QUADRO 5.2 (DOMÍNIO COGNITIVO) – vd.página seguinte]

QUADRO 5.3

Equiparação isto é, ou seja, quer dizer, o mesmo é dizer que, ... R-40

Explicitação quer(o) dizer, quer isto dizer que, com isto quero dizer que, ... R-41

Subdomínio do conteúdo

Reelaboração ou melhor, mais (AUMENTATIVA), isto é, ou seja, mais precisamente, ... R-42 Subdomínio

Proposicional (Metalinguístico)

Subdomínio da forma Reformulação por outras palavras, dito de outro modo, ou seja, isto é, quer dizer, ... R-43

Estruturação para começar, antes de mais, em síntese, a concluir, ... R-44 DOMÍNIO

LINGUÍSTICO

(Língua / Código)

Subdomínio Textual

Ordenação em primeiro lugar, a seguir, por último,... R-45

QUADRO 5.4 DOMÍNIO DA

ENUNCIAÇÃO

Modalização discursiva francamente, honestamente, sinceramente,..., com toda a franqueza, ..., para falar com franqueza, para falar a verdade, para ser sincero, ... sem querer ser pessimista / indiscreto / intrometido, ...

(19)

Crença decerto, certamente, evidentemente, obviamente, naturalmente, ... talvez, possivelmente ,..., ser certo / possível / provável que, .... poder, poder ser que, ser capaz de, ...

acreditar, crer, achar, pensar julgar ,imaginar, supor , ..., na minha opinião6, ...ameu ver, na minha

perspecti-va, ..,

parece(-me), tanto quanto me parece, tanto quanto sei,julgo saber, ao que julgo saber, pelo que sei, ao que sei, que eu saiba, ao que julgo, segundo creio, ...

consta, ao que consta, segundo consta, corre (por aí) que, é voz corrente que, como é voz corrente, ao que se diz, pelo que se diz, ao que me disseram, ...

R-20

Probabilidade provavelmente. com toda a probabilidade, ser provável que, ... haver muitas / poucas probabilidades de ...

R-21

Contradição7 mas, porém, todavia, contudo, apesar de, ainda que, embora, não obstante, ... R-22 Subdomínio

Epistémico

Restrição politicamente falando, em termos políticos, numa perspectiva / óptica política, ... R-23

Asserção afirmar, dizer, comunicar, anunciar, informar, ... R-24

Atestação declarar, asseverar, atestar, certificar, confirmar, garantir, afiançar, jurar, testemunhar, negar, ... R-25

Subdomínio Declarativo

Rectificação mas, antes R-26

Obrigação ter de,..., impor-se, urgir, ..., ser necessário, ser preciso, ser imperativo, ... R-27

Permissão poder-se, ser permitido, ser proibido, ser aconselhável, ser recomendável, ... R-28

Subdomínio Deôntico

Compromisso prometer, jurar, garantir, asseverar, comprometer-se a ... R-29

Valoração (in)felizmente, lamentavelmente, idealmente, inexplicavelmente, curiosamente, ..., ser interessante / curioso, ..., parecer razoável / sensato, ..., que bom que, que pena que, ...

R-30

Contraste enquanto, ao passo que, mas, já, se, ... R-31

Subdomínio Avaliativo

Contraposição mas R-32

Subdomínio dos Sistemas de Informação

OUTROS 8 ... ... R-33

Consistência em conformidade, nestes termos, ..., caber (afirmar, perguntar, ...) R-34

Adução efectivamente, de facto, na verdade, para mais, ... R-35

Confirmação efectivamente, de facto, na verdade, tanto (assim) que R-36

Subdomínio Argumentativo

Reforço tanto (mais) que R-37

Conclusão logo portanto, por conseguinte, por consequência, logicamente, quer dizer, ou seja, isto é .. decorrer, deduzir, ...

R-38 DOMÍNIO

COGNITIVO

Subdomínio dos Processos de Raciocínio

Subdomínio Inferencial

Explicação pois, dado que, uma vez que, já que, visto que, ... R-39

6 Alguns verbos são colocados no presente do indicativo e na primeira pessoa do singular, também usada para alguns pronomes, apenas com o objectivo de se facilitar a captação do

sentido pretendido para a expressão.

7 Agrupa as conexões concessivas e adversativas.

(20)

QUADRO 6 – EXEMPLIFICAÇÃO DE ALGUMAS DAS RELAÇÕES CONSIDERADAS

RELAÇÕES N.º EXEMPLOS

Verificação (ou Relação

Alética)

R-1 É POSSÍVEL produzir álcool a partir de vários frutos e cereais.

A descida das taxas de juro PERMITE que as empresas e os particulares fiquem um pouco

menos pressionados.

Delimitação R-2 A ESTE RESPEITO, penso que o Ministério tem de reforçar o orçamento das universidades.

Modo R-4 Fiz tudo COMO me disseste.

Meio R-5 O êxito alcança-se trabalhaNDO muito.

Causa R-6 É preciso tomar medidas urgentes, PORQUE / DADO QUE / POIS a crise ambiental é grave.

Consequência R-7 A crise ambiental é grave, PELO QUE é preciso tomar medidas urgentes.

A crise ambiental é grave, DAÍ ser preciso tomar medidas urgentes.

Enquadramento R-10 Cheguei a casa às nove horas. A CASA ESTAVA DESERTA.

Elaboração

(Análise?) R-11 Fiz um trabalho para esta cadeira. OCIONEI. PROFESSOR EMPRESTOU-ME A BIBLIOGRAFIA QUE SELEC-Instanciação R-12 Várias Universidades oferecem este ano novos cursos. POR EXEMPLO, a do Porto oferece

vinte.

Narração R-14 O Paulo chegou a casa muito cansado. Estendeu-se no sofá e ouviu música. Depois tomou um duche e saiu para jantar. Deitou-se cedo.

Paralelismo R-15 A Ana gosta muito de música medieval. O Paulo também.

Diferença R-17 A Ana decidiu estudar Ciências. DIVERSAMENTE, o irmão preferiu as Humanidades.

Oposição R-18 Os portugueses tendem a fechar as vogais. Os espanhóis, PELO CONTRÁRIO, produzem-nas

sempre abertas. D O M ÍN IO O N T O L Ó G IC O

Conformidade R-19 O preço do petróleo já começou a baixar, CONFORME os analistas tinham previsto.

Crença R-20 SUPONHO quetodos quererão colaborar no projecto.

Probabilidade R-21 HÁ POUCAS PROBABILIDADES de este hospital ser cerrado

Contradição R-22 Continua a haver muitos pedidos de empréstimo, APESAR da subida das taxas de juro.

Restrição R-23 POLITICAMENTE FALANDO, o encerramento deste hospital seria um erro de cálculo.

Asserção R-24 O Governo ANUNCIOU que prevê uma descida de impostos para o próximo ano.

Atestação R-25 O Governo GARANTIU que haverá uma descida de impostos no próximo ano.

Rectificação R-26 Não é com violência, MAS / ANTES com esclarecimento e exemplo que se educa. Ela não é francesa, mas sim inglesa.

Obrigação R-27 É IMPERATIVO que se tomem medidas para reduzir o consumo de energia.

Permissão R-28 NÃO É PERMITIDO acampar neste local.

Compromisso R-29 COMPROMETO-ME a analisar a proposta com toda a atenção.

Valoração R-30 LAMENTAVELMENTE, a distância entre ricos e pobres continua a aumentar.

Contraste R-31 No Sul do país come-se sobretudo pão de trigo. No Norte, come-se mais pão de milho. No Sul do país come-se sobretudo pão de trigo, AO PASSO QUE no Norte se come mais pão de milho.

O canal Hollywood emite 24 horas por dia, MAS o TCM só emite durante a noite.

Contraposição R-32 Somos poucos, mas somos bons.

Consistência R-34 A Constituição não permite discriminações fundadas no género. EM CONFORMIDADE, alguns

artigos desta lei terão de ser alterados.

Adução R-35 Os EUA têm de reduzir as emissões de CO2. É QUE ESTÁ PROVADO QUE RESIDE AÍ A ORIGEM DO

AQUECIMENTO GLOBAL.

Confirmação R-36 Os tempos mudaram nos Estados Unidos. EFECTIVAMENTE, uma mulher e um negro estão na

corrida para a Presidência do país.

D O M ÍN IO C O G N IT IV O

Reforço R-37 Vamos iniciar rapidamente a construção do edifício, TANTO MAIS que nesta altura existem verbas disponíveis.

Equiparação R-40 Vários trabalhadores foram chamados à administração.O MESMO É DIZER que estão à beira do despedimento.

Explicitação R-41 A situação não é fácil, QUER DIZER, não é dramática, mas há problemas a resolver.

Reelaboração R-42 Toda a gente está consciente dos problemas ambientais, OU, MAIS PRECISAMENTE, um grande número de pessoas está.

É preciso tomar medidas, MAIS AINDA: é vital para a sobrevivência neste planeta.

Ela não é minha amiga, é a minha melhor amiga! Vou à festa. ISTO É, vou se me convidarem.

D O M ÍN IO L IN G U ÍS T IC O

(21)

DOMÍNIO ONTOLÓGICO CONEXÃO DE OPOSIÇÃO (R18)

1139 “Desde que Jorge Sampaio dissolveu o Parlamento, o líder do PSD não tem resistido a atacar (…) o Presidente da República. É uma linha de rumo que não lhe traz quaisquer benefícios políti-cos, pelo contrário, nem fornece ao país qualquer pista de novo sistema político que seja minima-mente exequível.” (Expresso, 15-01-2005, p. 18)

1140 “O mercado accionista norte-americano não parece ter entrado este ano impulsionado pelo chamado «efeito Janeiro». Antes pelo contrário, o mercado tem registado perdas.”

(SEMANÁRIOECONÓMICO, INVESTIR, 21-01-2005, p. XVI)

1141 “De qualquer modo, a actividade da zona deverá continuar a ser sustentada por uma conjuntu-ra globalmente saudável (…). Também, não existe (antes pelo contrário) qualquer motivo particular para antecipar um abrandamento conjuntural abrupto das economias emergentes.”

(SEMANÁRIO ECONÓMICO, INVESTIR, 14-01-2005, p. VI) CONEXÃO DE CONFORMIDADE (R19)

596 “É agora bem maior a pressão para limitar o sigilo bancário, como há muito reclamavam polí-cias e magistrados envolvidos na luta contra a droga.” (Público, 06-10-2001, p.17)

595 “Simplesmente, os riscos não devem levar a nada fazer perante a ameaça terrorista, como alguns pretendem.” (Público, 06-10-2001, p.17) [AMBIGUIDADE? / Cf. c/ defendem] 208 “Até agora, a voz de João Paulo II não se fez ouvir, como em muitas outras ocasiões em que estavam a ser violados os direitos humanos.” (Expresso, 30-11-1991, p.A28) [???] 1138 «Por oposto ao BPN, detido por empresários de pequenas e médias empresas, o BPP conta com accionistas conhecidos como Francisco Balsemão, Stefano Saviotti, José Miguel Júdice (que é ainda presidente da assembleia geral e advogado do BPP), e Diogo Vaz Guedes.»

(Público, Economia, 09-01-2009, p.4) [TEXTO ANÓMALO]

597 “Convirá, de resto, não isolar as medidas para travar o financiamento do terrorismo, da repres-são à lavagem do dinheiro proveniente da droga. As duas coisas estão muitas vezes relacionadas – como é o caso dos talibans.” (Público, 06-10-2001, p.17) [TEXTO ANÓMALO] 558 “[Willy Brandt] Já não pôde comparecer, como estava previsto e a sua palavra era tão ansio-samente aguardada, no colóquio “Resistência e Memória” que teve lugar em Lyon, nos mesmos locais onde a Gestapo torturava os resistentes franceses.” (Público, 19-10-1992, p.15)

[TEXTO ANÓMALO] 1135 «O valor da dedução específica dos rendimentos de pensões (incluindo a de alimentos) é de € 6100 (em 2006, foi de 7500 euros). Se o destinatário da pensão tiver um grau de invalidez superior a 60%, este limite já não é aumentado em 30%, tal como acontecia até ao ano passado.»

(Dinheiro & Direitos, Guia Fiscal 2007, DECO, p.42) [TEXTO ANÓMALO]

DOMÍNIO COGNITIVO SUBDOMÍNIO DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO /

SUBDOMÍNIO DECLARATIVO / CONEXÃO DE RECTIFICAÇÃO (R26)

464 “Há um ponto, porém, que merece registo (...): a declaração de que não é extremando posições, mas moderando o discurso para cativar os eleitores do PSD que o PP tem de tentar o seu cresci-mento.” (Fernando Madrinha, Expresso, 06-07-1996, p.2)

(22)

693 “Carlos Pimenta, que falou de Portugal como um país de poucas florestas mas sim de «mono-culturas de árvores», trocou o nome do debate para dizer «que não se está aqui para falar da flores-ta, que há muito pouca, mas sim da economia da madeira».” (Público, 16-04-1994, p.6)

606 “NA PORTELA de Sacavém, um homem foi ontem à tarde atacado por outros quatro que, para o assaltar, não se limitaram a ameaçá-lo com uma arma, como lhe aplicaram várias coronhadas na cabeça e pontapés no tronco.” (Público, 10-11-1999, p.42)

SUBDOMÍNIO DOS PROCESSOS DE RACIOCÍNIO / SUBDOMÍNIO ARGUMENTATIVO

CONEXÃO DE ADUÇÃO (R35)

479 “A “questão Fátima Felgueiras” parece tabu na direcção nacional do PS. O mal-estar é óbvio – e tanto assim que Fátima Felgueiras foi afastada no último congresso nacional da comissão perma-nente e do secretariado nacional.” (Público, 13-09-2001, p. 30)

CONEXÃO DE CONFIRMAÇÃO (R36)

630 “Ainda no que diz respeito ao II Governo provisório, era atribuído, erradamente, a Álvaro Cunhal o cargo de ministro do Trabalho, quando, na verdade, Cunhal era ministro sem pasta, único cargo governativo que, aliás, ocupou em mais de um governo.” (Público, 14-08-1999, p.7)

CONEXÃO DE REFORÇO (R37)

906 “As «maçãs podres» estão a rebentar e só os escândalos (…) terão provocado, entre os accio-nistas, perdas avaliadas em 400 mil milhões de dólares, para já nem falar dos milhares de trabalha-dores que foram parar ao desemprego e viram esfumar-se todas as suas poupanças.”

(Expresso, 03-08-2002, p.8)

533 “A acreditar na análise de D. João da Costa, o único cabo-de-guerra experimentado entre os conjurados, a «empresa» só por milagre resultaria, tal a desproporção de forças. Isto sem contar com a influência diplomática de Madrid (...).” (Público, 01-12-1996, p.26)

826 “Para o terceiro ministério a ter a seu cargo, o CDS queria a Economia, que seria dada a Antó-nio Pires de Lima, mas será difícil, já que o PSD não quer abrir mão desta pasta, que, ainda por cima, vai acumular tutelas que deixam de ser ministérios, como a Agricultura e o Trabalho.” (Público, 24-03-2002, p.11)

524 “A afirmação (...) é interpretada como um sinal para o Governo avançar. Mais a mais quando se acrescenta que a definição da política social “cabe aos Estados-membros que pretendam utilizar a taxa reduzida” para tributar a primeira compra de casa.” (Público, 25-07-2001, p.17)

DOMÍNIO LINGUÍSTICO

SUBDOMÍNIO PROPOSICIONAL / SUBDOMÍNIO DO CONTEÚDO / REELABORAÇÃO (R42)

687 “Na esteira de Koestler, que há 40 anos, com o Zero e o Infinito, me abriu o entendimento para a descoberta e a compreensão do fenómeno totalitário (...), mas agora com os livros da sua fase final – Os Sonâmbulos, O Grito de Arquimedes, A Procura do Absoluto – voltei a reflectir – ou melhor, a preocupar-me – com os problemas da condição humana face ao infinito do universo, com o próprio sentido da existência.” (Mário Soares, Expresso, 03-08-1991, p.11-R)

(23)

2.2 CONEXÕES CONCLUSIVAS

2.2.1 Valor básico e formas dos conectores conclusivos

Os conectores conclusivos ocorrem em textos que constituem raciocínios (ou argumentos) e têm por função introduzir a conclusão a que o raciocínio conduz a partir de uma ou mais proposições dadas previamente (em Lógica, chamadas premissas). Vejam-se alguns exemplos:

(78) A esta hora, a Sara só pode estar em casa ou na Faculdade (C ∨ F). Em casa não está (¬ C). Portanto, está na Faculdade (F).

(79) Neste momento, o filme está em exibição no Porto e em Lisboa. Logo, podes vê-lo no Porto.

1. C ∨ F 2. ¬ C No primeiro caso, a conclusão é obtida por aplicação

da regra inferencial do Silogismo Disjuntivo:

∴ F

No segundo caso, obtém-se primeiro (implicitamente) a premissa neste momento, o filme está em exibição no Porto, por Simplificação a partir da coordenação (em Lógica, conjunção) que constitui premissa expressa: Neste momento, o filme está em exibição no Porto e em Lisboa; subsequente-mente, por um processo de inferência de um outro plano (envolvendo um conhecimento entre situações do mundo não codificado no Cálculo Proposicional), chega-se à conclusão tu podes ver o filme no Porto.

Obviamente, nem todos os raciocínios expressos em língua natural são válidos, pelo que podemos ter construções conclusivas sintacticamente bem formadas, mas semanticamente anómalas, por exprimirem um raciocínio inválido. Segue-se um exemplo de argumento inválido:

(80) Se o Pedro estiver em casa ou a Sara estiver em casa, as luzes estão acesas. [(P ∨ S) → A] O Pedro não está em casa e as luzes estão acesas. [¬ P ∧ A]

Consequentemente, a Sara está em casa. [S]

1. (P ∨ S) → A 1.ª premissa

2. ¬ P ∧ A 2.ª premissa

3. A 2, simplificação

4. *A → (P ∨ S) 1,3, falácia da afirmação do consequente

5. P ∨ S 3,4, Modus Ponens

6 ¬ P 2, simplificação

Neste texto, o raciocínio é inválido por conter um passo ilegítimo (uma “falácia”) por ser incompatível com a semântica estabelecida para a implicação material, que não permite que da verdade do consequente se deduza o antecedente.

7. S 5,6, Slogismo Disjuntivo

Em geral, as gramáticas contemporâneas só exemplificam a presença de conectores conclusivos (chamados “conjunções coordenativas conclusivas” na Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 – doravante, NGP) no tipo particular de construção conclusiva que a seguir se exemplifica: (81) O Luís é sócio da Associação (s); logo, tem desconto no bar (d).

(24)

Neste tipo de construção, os conectores conclusivos são marcadores da conclusão num argumento de Modus Ponens em que uma das premissas é explícita e a outra (geralmente, de carácter genéri-co) é implícita. Em Lógica, este tipo de argumento recebe a designação de entimema, por conter uma premissa implícita. Em terminologia linguística, opta-se aqui pela designação de construção conclusiva abreviada. A primeira oração desta construção é a premissa explícita e a oração conec-tada é a conclusão do argumento (chamada – de modo discutível, como se viu na análise sintáctica das conexões – “oração coordenada conclusiva”). O argumento do texto (81) é a seguir traduzido para Cálculo Proposicional:

1. s → d (premissa implícita: Quem é sócio da Associação tem desconto no Bar.) 2. s (premissa asserida: O Luís é sócio da Associação.)

________

∴d (conclusão, por MP: O Luís tem desconto no Bar.) Outros conectores conclusivos:

logo, portanto, por conseguinte, por consequência, consequentemente, daí (+ que-Fconj,), donde, por isso (NB: alguns, de tipo anafórico).

2.2.2 Variantes da construção conclusiva abreviada

Por envolver Modus Ponens, a construção conclusiva abreviada está associada a um formato alter-nativo (no plano lógico, não necessariamente no plano informacional) envolvendo Modus Tollens. Veja-se o texto seguinte:

(84) O Luís não tem desconto no bar; logo, não é sócio da Associação.

Pode-se considerar (84) um raciocínio válido tomando como premissa a proposição implícita assu-mida para a frase (81) e seguindo agora o esquema de Modus Tollens:

1. s → d (premissa implícita) 2. ¬d (premissa asserida)

∴¬s (conclusão, por Modus Tollens)

Alternativamente, pode-se considerar que a proposição implícita é diferente da anterior, mas sua equivalente, e usar de novo Modus Ponens:

1. ¬d → ¬s (premissa implícita) 2. ¬d (premissa asserida)

∴¬s (conclusão, por Modus Ponens)

2.2.3 Vícios de raciocínio em construção conclusiva abreviada

(85) O Luís não é sócio da Associação; portanto, não tem desconto no bar. Partindo das proposições implícitas anteriores, a inferência de (85) é ilegítima:

1. s → d ¬d → ¬s (premissa implícita) 2. ¬s ¬s (premissa asserida)

* ∴¬d * ∴¬d

Em nenhum dos casos é legítimo inferir ¬d. Esta proposição só poderia ser inferida se a proposição implícita fosse a proposição [d → s] ou a sua equivalente [¬s → ¬d], ambas falsas no mundo que estamos a admitir como real. Teríamos, se estas proposições fossem verdadeiras:

1. d → s ¬s → ¬d (premissa implícita) 2. ¬s ¬s premissa asserida)

(25)

2.3 CONEXÕES EXPLICATIVAS

2.3.1 Valor básico e formas dos conectores explicativos

Tal como as sequências textuais em que ocorrem conectores conclusivos, também aquelas em que ocorrem conectores explicativos constituem raciocínios (ou argumentos). No formato explicati-vo, o elemento inicial da construção é a conclusão do raciocínio, à qual se segue o conector expli-cativo e a premissa explícita (ou uma coordenação de premissas) de que deriva a conclusão. Seguem-se as versões explicativas correspondentes às construções conclusivas de (78) e (79) aci-ma. Note-se que as regras inferenciais aplicáveis são as mesmas nos dois grupos.

(86) A Sara está na Faculdade, uma vez que, aesta hora, só pode estar em casa ou na Faculdade e em casa não está.

(87) Podes ver o filme no Porto, dado que ele está em exibição no Porto e em Lisboa.

À semelhança do que acontece com as construções conclusivas, as gramáticas contemporâneas só exemplificam a presença de conectores explicativos (chamados “conjunções coordenativas explica-tivas” na NGP) no tipo particular de construção explicativa que a seguir se exemplifica com as versões explicativas correspondentes às construções conclusivas de (81)-(83) acima:

(88) O Luís tem desconto no bar, uma vez que é sócio da Associação.

(89) Os livros daquela prateleira não têm sido requisitados, pois estão cheios de pó. (90) Os livros daquela prateleira têm sido requisitados, dado que não estão cheios de pó. Neste tipo de construção, os conectores explicativos são marcadores de premissa no mesmo tipo de argumento de Modus Ponens que temos nas construções conclusivas abreviadas, isto é, em que uma das premissas é explícita e a outra (geralmente, de carácter genérico) é implícita. A este enti-mema lógico, chamamos construção explicativa abreviada. A primeira oração desta construção é a conclusão e a oração conectada é a premissa explícita (na NGP, chamada – uma vez mais, de modo discutível – “oração coordenada explicativa”). O esquema inferencial do Cálculo Proposi-cional que se aplica ao texto (88) é o que já se observou para o texto (81).

Outros conectores explicativos:

pois, dado (que), visto (que), uma vez que, já que, pois que, porquanto, porque.

2.3.2 Variantes da construção explicativa abreviada

(91) O Luís não é sócio da Associação, uma vez que não tem desconto no bar.

Pode-se considerar que (91) envolve um raciocínio válido tomando como premissa a proposição implícita assumida para os textos (81) e (88) e seguindo agora o esquema de Modus Tollens:

1. s → d (premissa implícita) 2. ¬d (premissa asserida)

∴¬s (conclusão)

Alternativamente, pode-se considerar que a proposição implícita é diferente da anterior, mas sua equivalente, e usar de novo Modus Ponens:

1. ¬d → ¬s (premissa implícita) 2. ¬d (premissa asserida)

(26)

2.3.3 Vícios de raciocínio em construção explicativa abreviada

Partindo das proposições implícitas anteriores, a inferência do texto que se segue é inválida: (92) O Luís não tem desconto no bar, pois não é sócio da Associação.

1. s → d ¬d → ¬s (premissa implícita) 2. ¬s ¬s (premissa asserida)

* ∴¬d * ∴¬d

Em nenhum dos casos é legítimo inferir ¬d. Esta proposição só poderia ser inferida se a proposição implícita fosse a proposição [d → s] ou a sua equivalente [¬s → ¬d], ambas falsas no mundo que estamos a admitir como real. Teríamos, se estas proposições fossem verdadeiras:

1. d → s ¬s → ¬d (premissa implícita) 2. ¬s ¬s (premissa asserida)

∴¬d ∴¬d (conclusão, por MT no 1.º caso e MP no 2.º)

2.3.4 Confusão entre conexões explicativas e causais

(93) O Luís tem desconto no bar, porque é sócio da Associação.

VALOR CAUSAL: [ser sócio da Associação é a razão para que o Luís tenha desconto no bar] VALOR EXPLICATIVO: [dada a proposição implícita de que quem é sócio da Associação tem desconto no bar, concluo que o Luís tem desconto no bar porque sei que ele é sócio da Associação]

(94) Os estudantes requisitam estes livros, porque não estão cobertos de pó. (idem, mutatis mutandis)

Valor exclusivamente causal quando há anteposição:

(95) Porque é sócio da Associação, o Luís tem desconto no bar.

(96) Porque não estão cobertos de pó, os estudantes requisitam estes livros. Casos mistos:

(97) Os estudantes requisitam estes livros porque estão encadernados de novo,

visto que eles são muito maus. [CAUSAL SEGUIDA DE EXPLICATIVA] 1. m → [e CAUSA r] (premissa implícita)

2. m (premissa asserida)

[e CAUSA r] (conclusão)

2.3.5 Conexões conclusivas

versus

explicativas

As proposições envolvidas são as mesmas nos dois tipos de texto, mas os processos discursivos envolvidos são distintos:

p → q [PROPOSIÇÃO IMPLÍCITA]

p, logo q [CONSTRUÇÃO CONCLUSIVA]

q, pois p [CONSTRUÇÃO EXPLICATIVA]

Nas conclusivas, em primeiro lugar é dada a premissa explícita e em seguida é extraído o conse-quente da proposição implícita, por aplicação do conector conclusivo – isto é, o conseconse-quente da proposição implícita é dado como uma conclusão.

(27)

2.4 CONEXÕES CONDICIONAIS

“Conditional (ifthen) constructions directlyreflect the characteristically human ability to reason about alternative situations, to make inferences based on incomplete information, to imagine possible correlations between situations, and to understand how the world would change if certain correlations were different.” (C. A. Ferguson 1986: 3)

2.4.1 Condicionais comuns e condicionais especiais

Uma construção condicional é constituída por uma oração subordinante e por uma oração subor-dinada adverbial condicional (nos termos da NGP).

Importa distinguir vários subtipos de construções condicionais. Uma primeira separação pode ser estabelecida com base em critérios semânticos, originando-se os dois grupos seguintes:

(i) construçõescondicionais comuns, isto é, construções condicionais que (independentemente de outros factores de variação) exprimem uma relação de implicação entre um antecedente (expresso pela oração dita subordinada) e um consequente (expresso pela oração dita subor-dinante), ainda que não exactamente nos mesmos termos da “implicação material” do Cálculo Proposicional;

(ii) construçõescondicionais especiais, isto é, construções condicionais que não exprimem uma relação de implicação entre um antecedente e um consequente.

Tudo o que se nas secções seguintes dirá refere-se apenas a condicionais comuns. As especiais ficam apenas exemplificadas com os dados que se seguem (que não têm todos a mesma caracteri-zação semântico-pragmática):

(98) Se uns gostam de carne, outros gostam de peixe.

532 “Se a crise é geral, a de Alagoas é mais grave.” (Público, 19-07-1997, p.22)

674 “E devemos ainda ter em conta que, se a imprensa tende a difundir visões apocalípticas, os Governos tendem a ocultar e desdramatizar – sobretudo o custo económico que tudo isto vai ter.” (Público, 30-12-1998, p.40)

872 “Se, nos mercados mais desenvolvidos, os efeitos de alguma massificação do MP3, mas sobre-tudo dos CD graváveis, já tinham deixado marcas, só este ano o mercado português começou a sen-tir seriamente os efeitos de uma nova pirataria (...).” (Público, 01-10-2001, p.42)

(99) Se tens sede, há cerveja no frigorífico.

2.4.2 Condicionais comuns e tipos de acção verbal

As construções condicionais podem estar associadas a diferentes tipos de actos de fala, nomeada-mente assertivos e directivos (destes, ordens e perguntas) e possivelnomeada-mente também a outros que se aproximam mais do molde declarativo. Vejam-se exemplos:

(100) a. Se estiver a chover, não saio. [ACTO DE FALA ASSERTIVO]

b. Se eu precisar (P), emprestas-me o teu portátil (E)? [ACTO DE FALA DIRECTIVO / PERGUNTA]

c. Se o Paulo vier antes de mim (V), diz-lhe que espere (D).[ACTO DE FALA DIRECTIVO / ORDEM]

d. Se fores à rua, trazes o correio, por favor? [ACTO DE FALA DIRECTIVO INDIRECTO / ORDEM]

e. Eu seja ceguinho, se estou a mentir. [ACTO DE FALA PARA-DECLARATIVO9]

f. Diabos me levem, se aquele tipo não parece mesmo o Mick Jagger. [IDEM]

Referências

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