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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC SP. Geocarlos Augusto Cavalcante da Silva

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC – SP

Geocarlos Augusto Cavalcante da Silva

A desjudicialização da execução individual no processo coletivo: uma

proposta para conferir efetividade à tutela coletiva

Doutorado em direito

São Paulo

2019

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC – SP

Geocarlos Augusto Cavalcante da Silva

A desjudicialização da execução individual no processo coletivo: uma proposta para conferir efetividade à tutela coletiva

Doutorado em direito

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Direito, sob a orientação da Professora Doutora Patrícia Miranda Pizzol.

São Paulo 2019

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Banca examinadora ___________________________ ___________________________ ___________________________ ___________________________ ___________________________

(4)

À minha avó Maria de Lourdes, in memoriam; à minha mãe Lucineide, in memoriam; à minha esposa Patrícia e a minha filhinha Maria Luiza. As pessoas mais importantes da minha vida.

(5)

AGRADECIMENTOS

Em 1 Samuel, 7:12, consta: “Então tomou Samuel uma pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e chamou o nome dela Ebenézer; e disse: Até aqui nos ajudou o Senhor”. Obrigado, Deus, porque até aqui a tua graça tem sido infinita.

Agradeço a minha orientadora, Professora Patrícia Miranda Pizzol. São 15 anos de compartilhamento e aprendizado, desde a especialização em processo civil até este doutorado em direitos difusos e coletivos. Muito obrigado.

Agradeço ao Mestre de todos, o Professor Nelson Nery Junior, pelas sugestões fornecidas na banca de qualificação. Quem dera houvesse mais professores desse calibre no Brasil.

Ao Professor e amigo Georges Abboud, um agradecimento especial pela forma como cuidou do trabalho à época da qualificação. Suas sugestões foram integralmente acolhidas.

Agradeço também aos demais membros da banca examinadora, os professores Luiz Rodrigues Wambier e Henrique Garbellini Carnio. Exemplos de profissionais na academia e na atividade forense.

Agradeço aos acadêmicos de direito, Lucas Oliveira da Trindade e John de Almeida Santana, pela ajuda nas buscas do material bibliográfico junto às bibliotecas da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, respectivamente.

Um agradecimento especial aos colegas de profissão que, mesmo sem ciência, contribuíram para o resultado final deste trabalho: Tiago Correia da Silva, Carolina Martins dos Reis e Alex Faria Pereira.

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Finalmente, um agradecimento especial ao Itaú Unibanco, nas pessoas dos seus diretores, Leila Cristiane Barboza Braga de Melo, José Virgílio Vita Neto e Luis Vicente Magni de Chiara, pelo incentivo financeiro para realização do doutorado, condição imprescindível para o bom termo do trabalho.

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Não sei o que é o tempo. Não sei qual a verdadeira medida que ele tem, se tem alguma. A do relógio sei que é falsa: divide o tempo espacialmente, por fora. A das emoções sei também que é falsa: divide, não o tempo, mas a sensação dele. A dos sonhos é errada: neles roçamos o tempo, uma vez prolongadamente, outra vez depressa, e o que vivemos é apressado ou lento conforme qualquer coisa do decorrer cuja natureza ignoro.

Julgo, às vezes, que tudo é falso, e que o tempo não é mais do que uma moldura para enquadrar o que lhe é estranho.1

Curare autem debet iudex, ut omnimodo quantum possible ei sit, certae pecunniae vel reisententiam ferat, etiam si de incerta quantitate apud eum actum est.2

1 PESSOA, Fernando. Livro do desassossego. Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros

na cidade de Lisboa. Organização: Richard Zenith. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 321.

2 “O juiz deve ter o cuidado de dar, sempre que possível, sentença de quantia ou cousa certa; ainda que seja

o litígio perante ela sobre quantidade incerta”. Tradução: A. Coelho Rodrigues. Institutas do Imperador Justiniano. Recife: Typographia Mercantil, 1879, p. 101.

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RESUMO

Silva, Geocarlos Augusto Cavalcante da Silva. A desjudicialização da execução individual no processo coletivo: uma proposta para conferir efetividade à tutela coletiva. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2019.

Este trabalho defende a tese segundo a qual a realização material do bem da vida pelo indivíduo beneficiado por sentença prolatada em processo coletivo pode ser obtida de forma mais efetiva e eficiente com a realização da liquidação e do cumprimento de sentença administrativamente e às expensas do condenado. A tese tem como ponto de partida duas premissas: a) constatação realizada pelo Conselho Nacional de Justiça de que a fase de conhecimento, embora mais complexa, é mais célere se comparada à fase de satisfação do direito material; e b) quando não há conflito real entre as partes, o requerimento previsto no artigo 523 do Código de Processo Civil representa uma mera burocracia. A tese possui, no mínimo, duas vantagens: a) a preservação dos recursos do Judiciário para aquelas situações nas quais o conflito realmente seja efetivo (resistência deliberada e injustificável ao cumprimento da decisão judicial); e b) a entrega do bem da vida da forma como proposta pode representar menos custos ao beneficiado, porquanto este não será obrigado a recolher custas ou mesmo contratar advogados. Para o êxito desta tese que ora se desenvolve, é necessário não haver prolação de sentença genérica, isto é, sem a definição dos requisitos necessários para o credor e o devedor compreenderem objetivamente qual o sentido jurídico e econômico do bem da vida deferido; e determinação na sentença da fase de conhecimento de sanções para quem, credor ou devedor, apresentar obstáculos injustificáveis à realização material do direito. A tese está em conformidade com o texto constitucional, pois tem por objetivo a concretização do direito fundamental à duração razoável do processo (artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal).

Palavras-chave: Processo coletivo, sentença, liquidação, execução, cumprimento de sentença, eficiência, celeridade.

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ABSTRACT

Silva, Geocarlos Augusto Cavalcante da Silva. The non-judicialization of individual execution in class action: a proposal to confer effectiveness on collective relief. Pontifical Catholic University of São Paulo, 2019.

This paper defends the thesis that the judgment execution by the individual benefited by a class action can be obtained in a more effective and efficient way with the accomplishment of the liquidation and the satisfaction of judgment administratively and at the expense of the defendant. The thesis is based on two premises: a) the National Council of Justice's observation that the cognizance stage, although more complex, is faster compared to the phase of enforcement of the decision; and b) when there is no real conflict between the parties, the request provided for in article 523 of the Code of Civil Procedure represents a mere bureaucracy. The thesis has at least two advantages: a) preservation of the resources of the Judiciary for those situations in which the conflict is actually effective (deliberate and unjustifiable resistance to enforcement of judgment); and b) the judgment execution in the way that proposal may represent less costs to the beneficiary, since the latter will not be required to collect costs or even hire lawyers. For the success of this thesis, it is necessary not to have a generic judgment, that is, without defining the necessary requirements for the creditor and the debtor to objectively understand the legal and economic sense of the judicial decision; and determination in the judgment of the cognizance stage of sanctions for whom, creditor or debtor, present unjustifiable obstacles to the material realization of the right. The thesis is in conformity with the constitutional text because it has the objective of realizing the fundamental right to the reasonable duration of the process (Article 5º, LXXVIII, of the Federal Constitution).

Key words: Class action, judgment, liquidation, execution, satisfaction of the judgment, efficiency, speedy trial.

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RIASSUNTO

Silva, Geocarlos Augusto Cavalcante da Silva. La non giudizializzazione dell'esecuzione individuale nel processo collettivo: una proposta per conferire efficacia alla tutela coletiva. Pontificia Università Cattolica di São Paulo.

Questa ricerca difende la tesi secondo cui la soddisfazione materiale del diritto da parte dell'individuo beneficiato di una sentenza proclamata in un procedimento collettivo può essere ottenuta in modo più efficace ed efficiente con il compimento la liquidazione e l'esecuzione in via extragiudiziale e a spese del convenuto. La tesi si basa su due premesse: a) l'osservazione del Consiglio nazionale di giustizia secondo cui la fase cognitiva, sebbene più complessa, è più veloce rispetto alla fase di esecuzione; b) in assenza di un reale conflitto tra le parti, la richiesta di cui all'articolo 523 del codice di

procedura civile rappresenta una mera burocrazia. La tesi ha almeno due vantaggi: a)

conservazione delle risorse del Giudiziario per quelle situazioni in cui il conflitto è effettivamente efficace (resistenza deliberata e ingiustificabile al rispetto della decisione giudiziaria); b) la realizzazione del diritto come proposta può rappresentare meno costi per il beneficiario, dal momento che il beneficiario non sarà obbligato a riscuotere costi o addirittura assumere avvocati. Per il successo di questa tesi, è necessario non avere una sentenza generica, cioè senza definire i requisiti necessari affinché il creditore e il debitore comprendano oggettivamente il senso giuridico ed economico della decisione giudiziaria; e determinazione nella sentenza della fase cognitiva delle sanzioni per chi, creditore o debitore, presenti ostacoli ingiustificabili alla realizzazione materiale del diritto. La tesi è conforme al testo costituzionale perché ha l'obiettivo di realizzare il diritto fondamentale alla ragionevole durata del processo (articolo 5, LXXVIII, della Costituzione federale).

Parole chiave: Processo collettivo, sentenza, liquidazione, esecuzione, soddisfazione materiale, efficienza, celerità.

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...13

CAPÍTULO 1 – O PARADOXO DA EXECUÇÃO...19

1.1. O tempo na justiça: duração razoável do processo...19

1.2. Alguns números e um paradoxo...24

1.3. Da citação ao requerimento de intimação para pagar...28

1.4. Liquidação da obrigação definida na sentença: uma exceção...30

1.5. A liquidação como predadora da eficiência: alguns casos concretos...33

1.6. Requerimento judicial: um obstáculo a ser vencido...39

CAPÍTULO 2 – O PARADOXO DA INTIMAÇÃO...42

2.1. Conflito: condição intrínseca do processo...42

2.2. Irmãos siameses: o conflito e o interesse processual...45

2.3. A decisão judicial necessária...50

2.4. A norma concreta e o seu descumprimento incentivado pela própria lei processual...53

CAPÍTULO 3 – A TUTELA COLETIVA NO BRASIL...57

3.1. A disciplina legal da tutela coletiva no Brasil... 57

3.2. Objeto material do direito processual coletivo comum...64

3.2.1. O Direito transindividual...64

3.2.2. Da tipologia legal dos direitos transindividuais...69

3.3. Da legitimidade...75

3.3.1. O conceito de parte...75

3.3.2. A legitimidade no processo individual...78

3.3.3. A legitimidade no processo coletivo...83

3.4. A disciplina da coisa julgada...91

3.4.1. Da coisa julgada no processo individual...91

(12)

CAPÍTULO 4 –

AS TUTELAS JURISDICIONAIS

...106

4.1. A classificação quinária...106

4.2. Classificação a partir da ideia de tutela jurisdicional...114

4.3. A atipicidade dos meios executivos...118

4.4. A sentença no processo coletivo...123

CAPÍTULO 5 – A DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO NO PROCESSO COLETIVO...131

5.1. A tradicional tutela jurisdicional executiva coletiva...131

5.2. A obrigação de pagar como tutela específica...135

5.3. A ausência de regramento específico na execução coletiva: uma vantagem...144

5.4. A busca por um cumprimento individual de sentença coletiva efetivo...151

5.5. Uma experiência externa: a execução nas class actions...156

5.6. Uma experiência interna: o acordo de planos econômicos...163

5.7. Sentença líquida e desnecessidade da ação de cumprimento individual...170

5.8. Uma necessidade: a responsabilização dos atores jurídicos (juiz, ministério público, advogados e partes) ...182

CONCLUSÃO...188

(13)

INTRODUÇÃO

Não se desconhece o grau de abstração no qual o ensino do Direito é desenvolvido no Brasil, inclusive porque há uma relevante contribuição doutrinária na construção dos conceitos e institutos inerentes à ciência jurídica. Contudo, o profissional do Direito jamais pode esquecer que a sua atuação é voltada à vida e às relações humanas.

Nesse sentido, embora proferida nos primórdios do século passado, continua atual a lição de João Mendes de Almeida Junior acerca do direito e a sua razão de ser:

Os estudantes estudaram o direito em sua natureza, em seus princípios, em seus preceitos ou leis. Mas, o direito comquanto (sic) seja uma ciência especulativa quanto ao modo de saber, é eminentemente pratica (sic) quanto ao fim, porque o direito é para ser aplicado (sic) aos factos (sic) da vida.3

Essa lição – ordem prática – foi a mola propulsora de inspiração deste trabalho. Portanto, o ponto de partida é a experiência prática diária no exercício da advocacia. Isso não significa, entretanto, abandono do rigor científico, pois, para se chegar ao seu resultado final, não houve desvio da construção teórica desenvolvida por décadas pela ciência jurídica. Aliás, prestigiou-se todo o trabalho científico desenvolvido na academia, dadas as diversas dissertações e teses de doutorado consultadas para o desenvolvimento deste trabalho, em especial aqueles textos relacionados ao tema da tutela coletiva.

A experiência prática demonstra que, não obstante as razoáveis construções teóricas, não faz sentido ao gênio humano médio provocar o Judiciário, sagrar-se vencedor na sua alegação, e, mesmo assim, após anos e anos de processo, ver-se obrigado a provocar novamente o Judiciário para obter materialmente aquilo que o próprio Judiciário afirmou lhe pertencer - ainda que essa provocação limite-se ao

3 ALMEIDA JUNIOR, João Mendes de. Direito judiciário brasileiro (sic). Rio de Janeiro: Typographia

(14)

chamamento do devedor para adimplemento da obrigação definida na sentença (artigo 523 do Código de Processo Civil).

Essa perplexidade se avulta em se tratando de processo coletivo, porquanto este, conforme o senso comum, tem como valores a economia e a eficiência processual. Nas palavras de Antonio Gidi:

O objetivo mais imediato das ações coletivas é o de proporcionar eficiência e economia processual, ao permitir que uma multiplicidade de ações individuais repetitivas em tutela de uma mesma controvérsia seja substituída por uma

única ação coletiva.4

Um exemplo prático de tal ineficiência foi fornecido pelo Superintendente Jurídico do Itaú Unibanco, Tiago Correia da Silva, em palestra proferida na Fenalaw, em 24 de outubro de 2018. Naquela ocasião, o palestrante, relativamente ao contencioso conhecido como planos econômicos, forneceu os seguintes números: mais de 1 milhão de ações judiciais envolvendo poupadores e bancos; mais de 750 mil ações coletivas propostas por associações de consumidores; mais de 1,5 milhão de ações sobrestadas nos tribunais em razão do tema planos econômicos.

Esses números falam por si. O mesmo palestrante, até o advento do acordo

de planos econômicos5 e sua homologação pelo Supremo Tribunal Federal em março de

2018, informou que essas ações civis públicas, com ou sem trânsito em julgado, já teriam gerado mais de 150 mil cumprimentos individuais. Ou seja, movimentou-se o Judiciário por meio de uma ação coletiva para solução do problema. Todavia, essa provocação “solitária” não foi suficiente, pois ainda foram necessárias mais de 150 mil ações judiciais individuais para a efetivação material do direito.

Esses números são parciais e, não tivesse havido o acordo, eles certamente

seriam maiores. Conforme noticiado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, até o

dia 23 de julho de 2018, a plataforma criada pelos envolvidos no case planos econômicos já havia recebido mais de 48 mil pedidos de adesão ao acordo. Ainda segundo o mesmo

4 GIDI, Antonio. A class action como instrumento de tutela coletiva dos direitos: as ações coletivas em

uma perspectiva comparada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 25/26.

(15)

tribunal, mais de 3 milhões de pessoas serão beneficiadas, envolvendo 1 milhão de

processos em todo o Brasil.6 Por certo, esses números demonstram a ineficiência prática

do sistema de tutela coletiva relativamente à fase de satisfação material do direito definido na sentença, especialmente se for exigido do beneficiado pela sentença o ajuizamento da ação de cumprimento individual. Aliás, no mundo atual, isto é, na era do ciberespaço, na qual a presença física é prescindível, essa imposição mostra-se totalmente descontextualizada.

Este trabalho foi desenvolvido nesse contexto histórico; portanto, ele é marcadamente impactado por essa realidade. Em razão disso, para efetivação da tutela coletiva, necessário repensar a fase de satisfação da obrigação definida na sentença. Por essa razão, defende-se que a “desjudicialização” da execução coletiva tenha como ponto de partida uma sentença que, em si mesma, estabeleça todos os critérios necessários para o vencido cumprir a determinação judicial, sem que, para tanto, haja a necessidade de novamente provocar-se o Judiciário, ainda que seja apenas para determinar a intimação do devedor.

Em outras palavras: todo o esforço desenvolvido na fase de conhecimento não pode culminar com a prolação de uma sentença genérica, não obstante a literalidade do artigo 95 do Código de Defesa do Consumidor, pois isso, inegavelmente, resultará em uma prestação jurisdicional ineficiente, porquanto demandará uma nova fase processual que, em regra, tem sido mais morosa quando comparada à fase de conhecimento.

Além de defender que a prolação de uma sentença líquida, ou com os critérios necessários e suficientes para definição da obrigação, é a regra do sistema, este trabalho também defende que é perfeitamente possível ao Estado-Juiz definir, nessa mesma sentença, que a entrega do bem da vida seja realizada pelo devedor, sem que a máquina judiciária seja movimentada. Para atingir esse objetivo, o artigo 139, IV, do Código de Processo Civil, é um verdadeiro instrumento nas mãos do Estado-Juiz, o qual, manejado adequadamente, pode conferir efetividade à tutela coletiva.

6 Adesão ao acordo dos planos econômicos homologado pelo STF já tem mais de 48 mil inscrições.

Disponível em: <http://www10.trf2.jus.br/portal/adesao-ao-acordo-dos-planos-economicos-homologado-pelo-stf-ja-tem-mais-de-48-mil-inscricoes/>. Consultado em 30.08.2018.

(16)

O artigo 139, IV, do Código de Processo Civil, não é uma panaceia por si. Todavia, ele é um aliado da atividade jurisdicional na medida em que será possível, a partir dele, conceber medidas para o vencido cumprir a decisão judicial sem a provocação desnecessária do Estado-Juiz.

Para o atingimento desse escopo, o trabalho foi dividido em três partes. A primeira está desenvolvida em dois capítulos e teve como escopo diagnosticar a situação na qual se encontra a fase executiva no direito brasileiro. Assim, no primeiro capítulo, apresentou-se alguns números fornecidos pelo Conselho Nacional de Justiça, no qual se verifica que a execução é o “gargalo” do sistema jurídico nacional. Ou seja, aquela fase, a mais importante, ao menos para o homem médio, pois significa a entrega efetiva do bem da vida judicialmente requerido, demora mais tempo se comparada à fase de conhecimento que, em tese, é a que deveria ser a mais complexa, porquanto representa o acertamento do direito.

O segundo capítulo, por sua vez, apresenta um outro paradoxo do sistema, qual seja: a necessidade de intimação para o devedor adimplir a obrigação definida na sentença. É um contrassenso porquanto o devedor não deveria ser intimado para cumprir aquilo que já conhece, haja vista a longa fase de acertamento do direito. Além disso, isso representa uma indevida movimentação da máquina judiciária, pois se o devedor não vai resistir ao pagamento, ele não precisaria ser intimado, mas se vai resistir, deveria sentir de forma mais enérgica a “mão do Estado”.

Um exemplo pode facilitar a compreensão do afirmado: as pessoas recebem as contas de luz em suas residências e, invariavelmente - não obstante a complexidade da definição do valor cobrado -, não ingressam com ações judiciais questionando a cobrança. As pessoas simplesmente pagam. Logo, não há razão prática para se determinar a intimação do devedor para cumprimento da obrigação definida na sentença, ainda que por meio do advogado constituído nos autos.

Na segunda parte, representada pelo terceiro capítulo, dissertou-se acerca de alguns institutos da tutela coletiva, notadamente a sua disciplina legal e o seu objeto material. Cuidou-se também dos dois aspectos processuais que são o ponto distintivo da

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tutela coletiva: a legitimação e a coisa julgada.7 Pontos distintivos porque, de rigor, ninguém pode pleitear direito alheio em nome próprio e a sentença faz coisa julgada entre as partes, não prejudicando terceiros (artigos 18 e 506 do Código de Processo Civil).

A terceira parte do trabalho foi dividida em dois capítulos. No capítulo 4, desenvolveu-se o estudo, a partir da doutrina de Pontes de Miranda, relativamente à classificação das sentenças. Isso é importante para assentar a ideia de que não existe, por exemplo, uma sentença puramente condenatória ou puramente declaratória. Na realidade, a experiência prática, confirmando a ordem especulativa, demonstra que as tradicionais eficácias (declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental e executiva) estão presentes em todas as sentenças, variando, apenas, de uma decisão para outra, em intensidade.

Esse estudo também se mostra imprescindível para, a despeito da literalidade do artigo 95 do Código de Defesa do Consumidor, confirmar que uma sentença, em qualquer processo coletivo, poderá ter eficácia declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental e executiva, tudo a depender de como a causa de pedir e os pedidos foram deduzidos pelo autor ideológico. Portanto, é perfeitamente possível, por exemplo, uma sentença com carga mandamental para que o condenado cumpra a obrigação nela definida, sem que, para tanto, haja necessidade de o beneficiado individual provocar o Judiciário.

O capítulo 5 lança as bases da tese propriamente dita. Para esse intento, descreve-se duas experiências: uma relativa às class action, especialmente a liberdade conferida ao juiz americano para o julgamento dessas ações; outra sobre acordo de planos econômicos. Trata-se também da ideia de que obrigação de pagar, embora definida como se fosse uma espécie autônoma, é na realidade um fazer, conforme as fontes romanas, ou uma peculiar obrigação de dar, consoante a doutrina tradicional. Por fim, sustenta-se ser perfeitamente possível “desjudicializar” a execução da obrigação definida na sentença

7 Nesse sentido, a opinião de Márcio Flávio Mafra Leal: “As ações coletivas desafiam os teóricos a justificar

duas de suas principais características [...]. São elas: I) a representação concentrada em uma ou mais pessoas dos interesses e direitos de indivíduos que pertencem a uma classe ou de direitos cujo titular é uma comunidade; e II) a vinculação do comando da sentença e a consequente extensão da coisa julgada a terceiros que não fazem parte formalmente do processo”. In Ações coletivas: história, teoria e prática. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998, p. 17.

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coletiva. Para esse propósito, suficiente a prolação de uma sentença com o adequado disciplinamento de responsabilidades dos atores jurídicos envolvidos no processo: partes, advogados, ministério público e juiz.

Muitas das ideias aqui lançadas e desenvolvidas já foram objeto de debates em outros fóruns. Contudo, acredita-se que o disciplinamento oferecido neste texto representa uma nova forma de enfrentar o problema, constituindo-se, portanto, em uma contribuição original e válida para conferir efetividade à tutela coletiva, nomeadamente no que diz respeito à entrega do bem da vida definido na sentença.

No mais, o trabalho ora desenvolvido está em conformidade com a

legislação vigente, uma vez que nos termos do artigo 4o, do Código de Processo Civil, as

partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a

atividade satisfativa, bem como e principalmente com o texto constitucional (artigo 5o,

LXXVIII), pois a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

(19)

CAPÍTULO 1 – O PARADOXO DA EXECUÇÃO

8

1.1. O tempo na Justiça: duração razoável do processo

O processo, nas palavras de Calamandrei, apresenta-se dinâmico e à

semelhança dos seres vivos: nasce, cresce e morre com o julgamento da causa.9 É

possível, entretanto, acrescentar que o termo final somente se verifica com a entrega do bem da vida ao jurisdicionado, porquanto o processo não é uma razão em si mesmo. Contudo, essa “vida” do processo, com a consequente entrega do bem almejado, não pode ser tão longa, como a de Matusalém; nem tão breve como o decesso de uma criança.

Também o tempo do processo não deve ser percebido como meramente

cronológico, mas kairológico, pois ele precisa ser compreendido como tempo oportuno.10

Um tempo devido para, além das sequências de atos, garantir e permitir que os envolvidos na disputa judicial desenvolvam suas teses, antíteses e produzam as respectivas provas, permitindo ao Estado-Juiz prolatar a decisão mais adequada ao caso concreto e tudo sem eliminar garantias processuais, tais como: o contraditório; a ampla defesa; e a fundamentação das decisões judiciais. Trata-se de desenvolver mecanismos para se alcançar aquilo que restou definido na comunidade jurídica como sendo a duração razoável do processo.

8 Na sistemática da legislação processual vigente, o processo de execução propriamente dito diz respeito à

“relação processual instaurada apenas para realização ou satisfação de direito subjetivo já acertado, é remédio processual que somente se aplica à execução de títulos executivos extrajudiciais”. Por sua vez, para a satisfação concreta do direito material definido na sentença condenatória e para os títulos judiciais assim reconhecidos pela lei, o “remédio executivo é o procedimento do “cumprimento de sentença”. Nesse sentido, Humberto Theodoro Júnior in Processo de execução e cumprimento de sentença, 29ª edição revista e atualizada. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito, 2017, p. 69. Sem prejuízo dessa distinção, a expressão “execução” será utilizada neste trabalho indistintamente para os dois modelos. Quando necessária, porém, para o desenvolvimento das ideias, a especificação será realizada. Essa “confusão” não traz maiores prejuízos, pois nos termos do artigo 523, § 3o, do Código de Processo Civil,

não realizado o pagamento voluntário, expede-se o mandado de penhora e avaliação, prosseguindo-se os atos de apropriação na forma da execução dos títulos extrajudiciais (artigo 824). No mais, a própria lei processual realiza essa “confusão” ao falar em decisão exequenda, excesso de execução etc, e expressamente remete à execução de títulos extrajudiciais (artigo 513).

9 “Desde os tempos de Justiniano, quando se concebiam os meios processuais para impedir que os litígios

se tornassem paene immortales, o processo era imaginado como um organismo vivo, que nasce, cresce e, por fim, se extingue por morte natural com o julgado, quando não intervém, para fazê-lo morrer antes, aquela espécie de infanticídio processual que é a conciliação, ou aquela anemia perniciosa que é a perempção.” CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, vistos por um advogado. Tradução: Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1ª edição de 1995; 5ª tiragem de 2000, p. 159.

10 FERRAZ, Eric Cesar Marques. Reflexão entre tempo e processo. Revista Jurídica. Volume 478. São

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A duração razoável do processo judicial é um direito fundamental da pessoa (artigo 5º, LXXVII, Constituição Federal). Isso significa dizer que a prestação jurisdicional deve ocorrer de forma adequada e célere. Ou, na dicção de outro comando constitucional: eficiente (artigo 37, caput, Constituição Federal).

Mesmo antes da Emenda Constitucional nº 45/2004, a duração razoável do processo já era considerada um direito da pessoa, física e jurídica, tudo consoante os artigos 9º e 14 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de 16 de dezembro de 1966, ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992 (Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992).

Não obstante a previsão formal em documentos, internos e internacionais, fato é que o tempo sempre se constituiu em um escolho para o processo, na medida em que ele representa um obstáculo a ser vencido: não pode durar muito que possa representar uma entrega tardia do bem da vida almejado por aquele a quem o direito deve ser deferido; não pode durar pouco de modo a prejudicar a defesa daquele que está em juízo, ainda que este não tenha razão.

Não por outro motivo, ainda nos idos dos anos 50, o professor Torquato Castro asseverava:

Em outras palavras, a ordem jurídica, ao criar o processo como um ordenamento, na mesma hora criou, por uma contingência inevitável, um mal – a mora do processo – que pode vir em prejuízo da própria finalidade a que a lei

instituiu o processo.11

Ao estudar a influência do tempo no processo, José Rogério Cruz e Tucci, com fundamento na jurisprudência da Corte Europeia dos Direitos do Homem, identifica três critérios para determinação da dogmática da expressão prazo razoável. Esses critérios são definidos a partir da ideia de que o processo não deve sofrer dilações indevidas, são

11 TORQUATO CASTRO. O tempo e a tutela dos direitos no processo civil. Revista Forense. Volume 155,

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eles: a) a complexidade da questão em julgamento; b) o comportamento das partes e dos

seus procuradores; e c) a atuação do órgão jurisdicional.12

Por sua vez, o Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o texto constitucional, consagra esses critérios. Assim, no Mandado de Segurança nº 34.063-DF Agravo Regimental – DF, Relator Ministro Edson Fachin, restou decidido que o abuso das partes, ao utilizarem recursos infundados ou temerários, é contrário ao comando

constitucional da duração razoável do processo.13 Também no Recurso em Habeas

Corpus nº 144.522-RN, Relatora Ministra Rosa Weber, o Supremo Tribunal Federal decidiu que as peculiaridades do caso concreto devem ser consideradas no momento da

densificação do significado da duração razoável do processo.14 Já no Habeas Corpus nº

85.237-DF, Relator Ministro Celso de Mello, o comportamento do órgão estatal foi o vetor para a concretização do princípio constitucional:

O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário – não derivando, portanto, de qualquer fato procrastinatório causalmente atribuível ao réu – traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio, sem dilações indevidas (CF, art. 5º, LXXVIII) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional, inclusive a de não sofrer o arbítrio da coerção estatal representado pela privação cautelar da liberdade por tempo

irrazoável ou superior àquele estabelecido em lei. 15

Não basta, entretanto, compreender o significado jurídico da duração razoável do processo, importa também identificar as causas para a demora da entrega da prestação jurisdicional. O mesmo professor, José Rogério Cruz e Tucci, aponta três

12 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo e da

fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 67/68.

13 Consta da ementa: “O sistema da administração da Justiça, que tem como um de seus vetores o Princípio

da Duração Razoável do Processo, consagrado no art. 5º, LXXVIII, CRFB, não convive harmoniosamente com recursos infundados ou temerários.” Disponível em: www.stf.jus.br. Acórdão publicado em 05.10.2016. Ata nº 149/2016. DJE nº 212, divulgado em 04.10.2016.

14 Conforme ementa: “A razoável duração do processo não pode ser considerada de maneira isolada e

descontextualizada das peculiaridades do caso concreto.” Disponível em: www.stf.jus.br. Acórdão publicado em 15.12.2017. Ata nº 39/2017. DJE nº 285, divulgado em 11.12.2017.

15 Disponível em: www.stf.jus.br. Acórdão publicado em 17.03.2005. Ata nº 12/2005, divulgado em

(22)

possíveis causas para a intempestividade da tutela jurisdicional: a) fatores institucionais;

b) fatores de ordem técnica e subjetiva; e c) fatores da insuficiência material.16

Os fatores institucionais estariam ligados à ideia de que a administração da justiça não é uma meta prioritária dos poderes da República, pois estes não

trabalhariam para “implementar a operatividade da lei processual”.17 Os de ordem técnica

e subjetiva são aqueles relacionados à recorribilidade das decisões, notadamente o desprestígio da decisão de primeiro grau que não admite execução provisória, e à

formação intelectual dos juízes.18 A insuficiência material diz respeito aos recursos

humanos e ao aparato instrumental para o desenvolvimento da prestação jurisdicional,

isto é, hardwares, softwares, instalações físicas etc.19

Identificadas essas causas, é possível defender, ao menos quanto aos fatores de ordem técnica e subjetiva - notadamente os de ordem técnica -, que existe espaço no ordenamento jurídico vigente para a entrega do bem da vida ocorrer de forma mais célere, em especial na tutela coletiva.

Não se discute que a tutela coletiva seja um instrumento técnico com

vocação para combater a demora da tutela jurisdicional20, uma vez que basta uma ação

civil pública para solucionar um problema que atinge milhares de pessoas. Uma ação judicial no lugar de centenas ou milhares de outras possíveis ações.

Essa afirmação, porém, não é completamente verdadeira quanto às fases de liquidação e cumprimento da sentença, pois – ao menos conforme parte da doutrina e a experiência prática tem demonstrado – para a deflagração dessas fases, haverá necessidade de ajuizamento, por cada um dos interessados, da ação de cumprimento individual de sentença coletiva. No ponto, a lição de Ada Pellegrini Grinover:

16 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo e da

fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 99.

17 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo e da

fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 100.

18 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo e da

fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 102/104.

19 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo e da

fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 105/110.

20 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo e da

(23)

E não há dúvida de que o processo de liquidação da sentença condenatória, que reconheceu o dever de indenizar e nesses termos condenou o réu, oferece peculiaridades com relação ao que normalmente ocorre nas liquidações de sentença. Nestas, não mais se perquire a respeito do an debeatur, mas somente sobre o quantum debeatur. Aqui, cada liquidante, no processo de liquidação deverá provar, em contraditório pleno e com cognição exauriente, a existência do seu dano pessoal e o nexo etiológico com o dano globalmente causado (ou seja, o an), além de

quantifica-lo (ou seja, o quantum).21

Uma vez liquidada, tem-se o início da fase de cumprimento de sentença, na qual, não havendo pagamento espontâneo, deflagra-se a execução propriamente dita. Esta, como se sabe, destina-se “à atuação da sanção, com a satisfação da pretensão do credor (suposto credor), diferindo do processo de conhecimento e do processo cautelar

pela finalidade”.22 Via de regra, porém, a execução não tem cumprido a sua função, qual

seja: satisfazer materialmente o direito do credor.23 Ela representa, na expressão dos

professores Gilson Delgado Miranda e Patrícia Miranda Pizzol, o “calcanhar de Aquiles

do Poder Judiciário”.24

Portanto, o jurisdicionado, tutelado na ação civil pública, ganha tempo na fase de conhecimento, mas perde-o na fase de cumprimento de sentença, justamente no momento no qual o direito, com a entrega do bem da vida, deveria se concretizar, o que, de per si, esvazia o comando constitucional da duração razoável do processo.

21 GRINOVER, Ada Pellegrini; BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcelos e; FINK, Daniel Roberto;

FILOMENO, José Geraldo Brito; WATANABE, Kazuo; NERY JUNIOR, Nelson; DENARI, Zelmo.

Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. Volume II. 10ª edição

revista, atualizada e reformulada. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 816.

22 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Novos rumos da execução por quantia certa

contra devedor solvente: o cumprimento de sentença. Aspectos polêmicos da nova execução. Volume 3.

Coordenação: Teresa Arruda Alvim Wambier. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p.186.

23 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Novos rumos da execução por quantia certa

contra devedor solvente: o cumprimento de sentença. Aspectos polêmicos da nova execução. Volume 3.

Coordenação: Teresa Arruda Alvim Wambier. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p 180.

24 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Novos rumos da execução por quantia certa

contra devedor solvente: o cumprimento de sentença. Aspectos polêmicos da nova execução. Volume 3.

(24)

1.2. Alguns números e um paradoxo

Desde 2004, o Judiciário conta com um repositório oficial de estatísticas: Relatório Justiça em Números. Este documento fornece subsídios com detalhamento, em termos numéricos, da litigiosidade no Brasil, bem como insumos para gestão do Poder Judiciário.

Circunscrevendo à análise aos documentos de 2016 e 2017, anos-base 2015 e 2016, respectivamente, encontra-se interessante constatação no relatório de 2016, no qual se pode verificar que o tempo do processo se constitui em elemento de difícil apuração:

O tempo do processo é um objeto de pesquisa de difícil apuração, pois são quase infinitas as combinações de situações de fato e de direito a caracterizarem cada ação judicial no Brasil. Quando tantas especificidades são reunidas em um número apenas, a natural primeira impressão é de imprecisão, já que os extremos são diluídos em uma média. Portanto, a duração dos casos judicializados no Brasil ainda não detalhará os efeitos de cada componente de tantas combinações a configurarem cada característica de um processo, nem possibilitará que se saiba quais as causas para as maiores delongas, tampouco aclarará por completo o que faz com que muitos casos sejam bastante céleres. Ainda estamos perseguindo estes objetivos por

outros caminhos, paralelos ao Justiça em Números.25

Apesar da dificuldade, os números revelam um paradoxo: a fase de conhecimento – em tese, mais complexa – tem duração inferior se comparada à fase de execução. Consta do Relatório do ano-base 2015:

O que se pode destacar, desde já, é que, paradoxalmente, a fase de conhecimento, na qual o juiz tem que vencer a postulação das partes e a dilação probatória para chegar à sentença acaba sendo mais célere do que a fase de execução que não envolve atividade de cognição, mas somente de

25 Justiça em Números 2016: ano-base 2015/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2016, pag. 12. Disponível

em: <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/10/b8f46be3dbbff344931a933579915488.pdf>. Consultado em 1.03.2018.

(25)

concretização do direito reconhecido na sentença ou no

título extrajudicial.26

A mesma constatação foi verificada no ano-base de 2016, tudo a revelar que o problema é crônico e o paradoxo ainda persiste, sendo o tempo da fase de conhecimento inferior ao tempo da fase de execução:

Destaca-se que a fase de conhecimento, na qual o juiz tem de vencer a postulação das partes e a dilação probatória para chegar à sentença, acaba sendo mais célere que a fase de execução, que não envolve atividade de cognição, mas somente de concretização do direito reconhecido na

sentença ou no título extrajudicial.27

Abaixo, os gráficos que mostram o tempo médio da sentença na comparação conhecimento versus execução nos anos-base 2015 e 2016, respectivamente:

26 Justiça em Números 2016: ano-base 2015/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2016, pag. 126. Disponível

em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/10/b8f46be3dbbff344931a933579915488.pdf . Consultado em 1.03.2018.

27Justiça em Números 2017: ano-base 2017/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2016, pag. 133. Disponível

em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/12/b60a659e5d5cb79337945c1dd137496c.pdf. Consultado em 1.03.2018.

(26)

Como se verifica, e conforme conclusão do próprio Conselho Nacional de Justiça, no ano-base 2016, o “tempo do processo baixado no Poder Judiciário é de 1 ano e 9 meses na fase de conhecimento e de 4 anos e 10 meses na fase de execução no 1º grau

de jurisdição e de 8 meses no 2º grau.”28

O ano base de 2017 não foi muito diferente. Consta do relatório que o “tempo da sentença e da baixa estão em ascendência, enquanto o tempo do processo pendente diminui. Trata-se de resultado positivo, significando que estão sendo

solucionados casos mais antigos, reduzindo o tempo do acervo”.29 Todavia, a execução

28 Justiça em Números 2017: ano-base 2016/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2016, pag. 134. Disponível

em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/12/b60a659e5d5cb79337945c1dd137496c.pdf. Consultado em 1.03.2018.

29Justiça em Números 2018: ano-base 2017/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2018, p. 7. Disponível em:

http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/09/da64a36ddee693ddf735b9ec03319e84.pdf. Consultado em 15.02.2019.

(27)

continua sendo o “gargalo” do sistema, na medida em que a fase de conhecimento continua ainda sendo mais célere se comparada à execução:

A fase de conhecimento, na qual o juiz tem de vencer a postulação das partes e a dilação probatória para chegar à sentença, é mais célere que a fase de execução, que não envolve atividade de cognição, mas somente de concretização do direito reconhecido na sentença ou no título extrajudicial. Para receber uma sentença, o processo leva, desde a data de ingresso, o triplo de tempo na fase de execução (4 anos e 11 meses) comparada à fase de

conhecimento (1 ano e 7 meses).30

O relatório analítico é expresso quanto à dificuldade do enfrentamento da execução, haja vista os “casos pendentes na fase de execução apresentam aumentos

regulares, numa clara tendência de crescimento do estoque”.31

Abaixo a comparação, no primeiro grau, da taxa de congestionamento na

execução e na fase de conhecimento relativamente à Justiça Estadual:32

30 Justiça em Números 2018: ano-base 2017/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2018, p. 8. Disponível em:

http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/09/da64a36ddee693ddf735b9ec03319e84.pdf. Consultado em 15.02.2019.

31Justiça em Números 2018: ano-base 2017/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2018, p. 121. Disponível

em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/09/8d9faee7812d35a58cee3d92d2df2f25.pdf. Consultado em 15.02.2019.

32Justiça em Números 2018: ano-base 2017/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2018, p. 121. Disponível

em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/09/8d9faee7812d35a58cee3d92d2df2f25.pdf. Consultado em 15.02.2019.

(28)

Como se infere, a taxa de congestionamento na execução supera a do conhecimento na maioria dos casos.

Para uma análise mais detalhada, sugere-se verificar cada um dos seus relatórios nos seus respectivos detalhes, disponível no seguinte endereço: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros. Para efeitos do que se pretende defender neste trabalho, suficiente afirmar e, conforme reconhecido pelo próprio Conselho Nacional de Justiça, a execução é o “gargalo” do sistema.

1.3. Da citação ao requerimento de intimação para pagar

Ao tempo da legislação processual de 1939, havia distinção entre ação executória, reservada à execução de sentença; e ação executiva, destinada aos títulos extrajudiciais. Esta era regulada pelos artigos 298 a 301, previa a possibilidade de contestação e era processada no rito ordinário. A execução de sentença, por sua vez, era disciplinada pelos artigos 882 a 1.030. De comum, a necessidade de citação, muito embora, no caso da execução de sentença, já tivesse havido uma citação válida e regular.

O código de processo civil de 1973 extingue essa diferenciação – ação executória e ação executiva – e unifica em uma só forma de execução, classificando os

títulos em judicias e extrajudiciais.33 Entretanto, semelhantemente à legislação revogada,

continuava a exigir a citação do devedor, mesmo que essa tenha ocorrido na fase de conhecimento e tenha sido válida e regular.

Com o advento da Lei nº 11.232/2005, aboliu-se a execução da sentença por meio de outra ação em relação às obrigações de quantia certa, implantando-se um sistema unitário, antes previsto apenas para as obrigações de fazer, não fazer e de entregar

coisa (artigos 461 e 461-A, respectivamente do Código de Processo Civil de 1973).34

33 SHIMURA, Sérgio. Título executivo. 2ª edição, ampliada e atualizada. São Paulo: Método, 2005, pág.

25.

34 THEODORO JUNIOR, Humberto. Títulos executivos judiciais: o cumprimento da sentença segundo a

reforma do CPC operada pela Lei nº 11.223, de 22 de dezembro de 2005. Revista Dialética de Direito

(29)

Em termos práticos, a Lei nº 11.223/2005 extinguiu a necessidade de uma nova citação, sendo suficiente a intimação do advogado do devedor, a partir de requerimento do credor, para realizar o pagamento no prazo de 15 dias, sob pena de multa de 10% (artigo 475-J), salvo nas hipóteses de sentença penal condenatória transitada em julgado, execução de sentença arbitral e execução de sentença estrangeira, nas quais exige-se a expedição de ordem para citar o devedor.

É verdade que, ao tempo do início da vigência dessa lei, houve quem defendesse, como Gilson Delgado Miranda e Patrícia Miranda Pizzol, a desnecessidade de intimação para pagar:

A contagem desse prazo não depende de qualquer provocação por parte do credor. A sua fluência é automática. Exigível o crédito, terá o devedor que pagar o que deve, procurando o credor. Caso encontre alguma resistência, deverá depositar o valor em juízo, comunicando

o fato ao juiz de primeiro grau.35

Apesar do acerto dessa interpretação, o Judiciário decidiu pela necessidade de intimação prévia para o devedor pagar e, não pagando, fazer incidir a multa decenal. Houve, inclusive, prolação de acórdão no âmbito do sistema de recursos especiais repetitivos (Recurso Especial nº 1.262.933-RJ, Relator Ministro Luis Felipe Salomão):

Para fins do art. 543-C do CPC: Na fase de cumprimento de sentença, o devedor deverá ser intimado, na pessoa de seu advogado, mediante publicação na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias, a partir de quando, caso não o efetue, passará a incidir a multa de 10% (dez por cento) sobre montante da condenação (art.

475-J do CPC).36

O Código de Processo Civil de 2015 acolheu esse entendimento e, no seu artigo 523, foi expresso quanto à necessidade de intimação do devedor, ainda que na pessoa do seu advogado, para adimplir a obrigação judicialmente definida, sob pena da incidência da multa de 10%.

35 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Novos rumos da execução por quantia certa

contra devedor solvente: o cumprimento de sentença. Aspectos polêmicos da nova execução. Volume 3.

Coordenação: Teresa Arruda Alvim Wambier. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p.193/194.

(30)

Ou seja, mesmo após um longo processo de conhecimento, no qual houve amplo debate, ainda existe a necessidade de o credor provocar o Judiciário para o devedor adimplir a obrigação definida no título executivo judicial e atendido o requerimento no prazo de 15 dias nenhuma sanção sofrerá.

Observe que, nesse interregno – entre a intimação para pagar e o pagamento espontâneo –, o Judiciário atuará como mero agente de cobrança e, em tese, onde não havia conflito, pois se adimpliu no prazo de 15 dias, razoável imaginar que poderia ter adimplido extrajudicialmente, ainda que mediante provocação do credor.

1.4. Liquidação da obrigação definida na sentença: uma exceção

A regra é sempre a prolação de uma sentença líquida com a especificação de todos os critérios necessários e suficientes para a adequada compreensão da obrigação definida na sentença, seja ela de pagar, fazer, não fazer ou entregar coisa, tudo sem prejuízo do disposto no artigo 491 do Código de Processo Civil.

Não sendo possível, na fase de conhecimento, a definição desses critérios, deve o órgão julgador explicitar as razões fáticas e jurídicas para não os especificar. Essa é uma exigência decorrente da eficiência e da duração razoável do processo, mandamentos estes constitucionais. Portanto, apenas será permitido ao Estado-Juiz a postergação desses critérios quando isso se mostrar mais eficiente e contribuir para a menor duração do processo.

Alcides de Mendonça Lima enfrenta o ponto de maneira irretocável e traz à baila o caráter de exceção do qual se reveste a liquidação:

Em princípio, na verdade, tudo que pudesse ser provado no processo de conhecimento o juiz deveria ordenar que fosse feito, a fim de a sentença ser líquida e certa, evitando a liquidação, sempre complexa, onerosa e demorada, podendo durar mais do que a própria ação de onde

provém.37

37 LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao código de processo civil. Volume 6. 5ª edição revista e

(31)

No mesmo sentido, a opinião de Alfredo de Araujo Lopes da Costa segundo o qual “tudo isso está a evidenciar que deveríamos repudiar de vez o tal pedido

genérico. E acabar com as tais liquidações”.38 Alfredo de Araujo Lopes da Costa é ainda

mais enérgico ao afirmar que “não pode haver advogado que não saiba fazer uma conta

de multiplicar ou de juros”.39 Ou seja, em 1947, já causava perplexidade esse postergar

do processo para uma fase futura. Nos dias atuais, então, com todos os recursos à disposição das partes e dos profissionais do direito, não faz sentido algum os pedidos ou a prolação de sentenças ilíquidas, salvo nos casos absolutamente imprescindíveis e devidamente demonstráveis.

A propósito, em tempos remotos, nas Institutas de Justiniano, já se encontrava mandamento para se prolatar, sempre, sentenças líquidas:

Curare autem debet iudex, ut omnimodo quantum possible ei sit, certae pecunniae vel reisententiam ferat, etiam si de incerta quantitate apud eum actum est.40

Nos termos do artigo 509 do Código de Processo Civil, existem duas espécies de liquidação: por arbitramento e pelo procedimento comum. A Lei nº 8.898/94 aboliu a liquidação por cálculos do contador. Não obstante isso, possível afirmar que o cálculo do credor também pode ser considerado uma espécie de liquidação. Todavia, ao contrário daquelas outras duas, nesta não há incidente prévio. No mais, a obrigação de pagar que depende do cálculo do credor é líquida, não porque o valor é conhecido a priori, mas porque o título judicial contém todos os critérios suficientes e adequados para sua definição. Nas palavras de Luiz Rodrigues Wambier: trata-se de uma liquidação

automática.41

38 COSTA, Alfredo de Araujo Lopes da. Direito processual civil brasileiro. Volume IV. Rio de Janeiro:

Forense, 1947, p. 41.

39 COSTA, Alfredo de Araujo Lopes da. Direito processual civil brasileiro. Volume IV. Rio de Janeiro:

Forense, 1947, p. 38.

40 Institutas do Imperador Justiniano. Tradução: A. Coelho Rodrigues. Recife: Typographia Mercantil,

1879, p. 101. Tradução livre: “O juiz deve ter o cuidado de dar, sempre que possível, sentença de quantia ou cousa certa; ainda que seja o litígio perante ela sobre quantidade incerta”.

41 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Sentença civil: liquidação e cumprimento. 3ª edição, revista, atualizada e

(32)

Ademais, a liquidação por arbitramento ocorre, em regra, em razão da complexidade do trabalho a ser realizado. Na prática, ela tem íntima relação com a prova

pericial.42 No mesmo sentido, Patrícia Miranda Pizzol ao afirmar que ela se assemelha

“mais a uma perícia”.43 Também, taxativamente, a lição de Alfredo de Araujo Lopes da

Costa: “O arbitramento é apenas um meio de prova. É uma perícia.”44

Em sendo assim, não é demasiado afirmar que o arbitramento nada mais é do que uma postergação da prova que poderia ter sido realizada na fase de

conhecimento.45 Confirma isso o fato de que o arbitramento será guiado por elementos

constantes dos autos.46 Não há inovação, inclusive por força de determinação legal (artigo

509, § 4o, do Código de Processo Civil). Nessa perspectiva, ratifica-se o caráter

excepcional da liquidação por arbitramento, devendo o juízo remeter o processo à liquidação apenas quando não for possível, sem prejuízo do regular desenvolvimento do processo, na fase de conhecimento, definir o quantum debeatur.

A prova pericial não postergada também poderá ser útil para verificar se um dos elementos da responsabilidade civil está presente: o dano. Desta forma, protraindo-se a sua realização para outro momento do processo, poderá ocorrer o indesejável fenômeno da liquidação zero, pois duas atividades judiciais serão realizadas – conhecimento e liquidação – de maneira absolutamente desnecessárias.

A liquidação pelo procedimento comum47 será necessária quando houver

necessidade de provar fato novo. Araken de Assis colaciona hipóteses da sua ocorrência:

valor da diária do carro novo; indenização por lucros cessantes etc.48 Esses fatos não

42 ASSIS, Araken de. Cumprimento de sentença. 4ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 95. 43 PIZZOL, Patrícia Miranda. Liquidação nas ações coletivas. São Paulo: Lejus, 1998, p. 25.

44 COSTA, Alfredo de Araujo Lopes da. Direito processual civil brasileiro. Volume IV. Rio de Janeiro:

Forense, 1947, p. 38.

45 MAZZEI, Rodrigo. A liquidação por arbitramento e a liquidação por artigos: alguns pontos relevantes

sob a ótica das Leis 11.232/2004 e 11.382/2006. In Coordenadores: BRUSCHI, Gilberto Gomes;

SHIMURA, Sérgio Seiji. Execução civil e cumprimento de sentença. V. 2, São Paulo: Método, 2007, p. 478.

46 ASSIS, Araken de. Cumprimento de sentença. 4ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p 95.

47 No ponto, Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery: “Este caso de liquidação pelo

procedimento comum era submetido, no CPC/1973, à liquidação por artigos (CPC/1973 475-E), o qual seguia, no que fosse cabível, o procedimento comum. Na verdade, não há diferença substancial de monta entre os dois sistemas, pois em ambos os casos se trata de uma verificação, mediante a produção de prova, do valor que deverá ser objeto do cumprimento de sentença, posteriormente.” In Comentários ao Código

de Processo Civil. Novo CPC. Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1250.

(33)

teriam sido objeto da fase de conhecimento ou porque surgiram durante ou após a condenação. Em se tratando de fatos que realmente se originaram após a prolação da sentença, a liquidação pelo procedimento comum terá lugar. Nesse sentido, a observação de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery:

Ocorre quando se tiver de alegar e provar fato novo. Por fato novo deve-se entender o acontecimento apto a determinar o valor da condenação. [...], esse fato novo não pode alterar o que já foi julgado pela sentença proferida no

processo de conhecimento e transitada em julgado.49

Portanto, a liquidação é uma fase que se instaura quando há conflito sobre o valor da condenação ou quando há necessidade de se alegar e provar fato novo. Sendo certo, contudo, que a prolação de uma sentença ilíquida, com uma posterior liquidação, somente será legítima se isso significar ausência de prejuízo à eficiência do serviço jurisdicional e/ou à razoável duração do processo. Havendo violação desses princípios, a prolação de sentença ilíquida, ou seja, que exigirá uma posterior liquidação por arbitramento ou pelo procedimento comum, não terá amparo na ordem constitucional vigente.

1.5. A liquidação como predadora da eficiência: alguns casos concretos50

Este não é um libelo contra a liquidação, muito embora, conforme demonstrado, ela possa ser um obstáculo à duração razoável do processo. Aliás, existe até quem imagina o desaparecimento desse instituto. Nesse sentido, Olavo de Oliveira Neto:

Embora não seja possível prever o que será de um determinado instituto jurídico no futuro, não passando qualquer afirmação peremptória de um mero exercício de adivinhação, o estudo das sucessivas legislações que o disciplinam pode indicar ao estudioso qual é a tendência para o seu futuro perfil. Quando se observa a redução do âmbito da aplicação do instituto sua tendência é a

49 NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil.

Novo CPC. Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1249.

50 Em razão da informatização do Poder Judiciário, todas as informações relativas aos casos descritos neste

item podem ser obtidas junto aos sites do respectivo tribunal, sendo suficiente para a pesquisa o número do processo.

(34)

eliminação. Mas se há uma ampliação do seu âmbito de aplicação, então a possibilidade da sua permanência e bastante provável. Empregando essa técnica já arriscamos afirmar que no futuro o sistema processual não contará mais com a possibilidade da sentença ilíquida e, por consequência, dar-se-á o desparecimento da liquidação de sentença [...].51

Sem prejuízo disso, fato é que em algumas situações ela pode ser necessária. Todavia, a experiência demonstra que o seu uso tem sido feito de forma desvirtuada, na medida em que, não raramente, muitas das discussões que são travadas na liquidação poderiam ter sido realizadas na fase de conhecimento. As discussões, então, não giram em torno do quantum debeatur ou do fato novo, mas de circunstâncias que deveriam ter sido debatidas e solucionadas na fase de conhecimento.

Sem identificação adequada, por exemplo, do dano, o processo acaba se arrastando de forma indevida nos “escaninhos” do Judiciário. A liquidação, na maioria das vezes, transforma-se em uma fase na qual o debate gira em torno da compreensão da própria condenação. Pior: muitas vezes, em razão da dubiedade da decisão judicial, a qual opta por uma decisão ilíquida, os valores acabam chegando a números estratosféricos.

Foi o que ocorreu, por exemplo, no Processo nº 0024182-55.2017.8.19.0000, que tramitou na Comarca de Niterói (RJ). Na origem, tratava-se de uma simples ação de exibição de documentos cumulada com pedido de indenização por danos materiais e morais. A ação foi proposta em 2008 e o trânsito em julgado da fase de conhecimento ocorreu em 2012. Ou seja, passaram-se quatro anos de processo e mesmo assim o Estado-Juiz não foi capaz em prolatar uma sentença líquida.

A fase de liquidação se iniciou em 2012 e, passados sete anos, ainda não chegou a seu termo, pois pende decisão do Superior Tribunal de Justiça. A fase de “provas” (entendendo-se a liquidação como postergação da perícia) já demora mais tempo se comparado à fase de conhecimento. Há ainda um agravante: a disparidade de números, uma vez que o credor diz ter direito a R$ 140 milhões de reais e o devedor afirma ser a liquidação igual a zero. Nas instâncias ordinárias, o devedor foi vencedor nas

51OLIVEIRA NETO, Olavo. Poder geral de coerção. Tese (Livre docência em direito processual civil).

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suas alegações, reconhecendo-se que nada era devido, o que só demonstra que a sentença de procedência da fase de conhecimento foi prolatada com deficiência, pois se não houve dano, consoante a alegação do réu e decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o pedido indenizatório não deveria ter sido acolhido.

No Processo nº 1004557-14.2014.8.26.0037, em trâmite na Comarca de Araraquara (SP), a situação não foi muito diferente. O autor ajuizou ação pleiteando reparação por perdas e danos em razão do encerramento indevido da sua conta corrente. O pedido foi julgado procedente, mas com sentença ilíquida, remetendo-se a uma posterior liquidação por artigos, conforme a dicção do Código de Processo Civil vigente à época da prolação da sentença. A ação foi ajuizada em 2014 e transitada no mesmo ano. Portanto, foi uma tramitação rápida, pois houve revelia. A fase de liquidação teve início em 2014 e ainda não se encerrou. Aliás, a liquidação propriamente dita ainda não foi deflagrada, porquanto aguarda decisão do Superior Tribunal de Justiça para definir a sua forma: arbitramento ou pelo procedimento comum.

Nessa ação, o autor diz ser credor de valor superior a R$ 100 mil reais. O réu, por sua vez, alegou não ser devedor de nada. Portanto, defende uma liquidação igual a zero. O Juízo em primeira instância não acolheu em definitivo a defesa do réu, mas mandou o credor demonstrar a origem do prejuízo; já o credor preferiu discutir aspectos processuais e não juntou documento comprobatório do alegado. Novamente, será um processo que ficará por longos anos no Judiciário. De nada adiantou a sentença da fase de conhecimento, prolatada em menos de um ano.

Em Pernambuco, Comarca de Santa Cruz do Capibaribe, Processo nº 000059.13.1999.8.17.1250, ocorreram os mesmos inconvenientes. Trata-se de ação revisional de contratos com alegação de cobrança abusiva de juros. A ação foi ajuizada em 1999 e a sentença transitou em julgado em 2016. Dezessete anos de tramitação e o Estado-Juiz não teve condições para prolatar sentença com valor certo, determinado.

A execução se iniciou em 2016 pelo valor de R$ 77 milhões. Dado o vulto, o juiz determinou fosse realizada liquidação por arbitramento. O credor se insurgiu e a questão está pendente de julgamento pelo Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco. Três anos já se passaram e nada de definição. Uma curiosidade: após alguns meses, o

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credor passou a defender ter direito a R$ 140 milhões de reais. Provavelmente, haja vista o importe envolvido, este será mais um processo com longos anos no Judiciário. Esses longos anos poderiam ter sido vencidos, caso o Estado-Juiz tivesse determinado a realização de perícia ainda na fase de conhecimento.

Muitos exemplos poderiam ser citados, mas isso seria contraproducente. Há, entretanto, dois casos emblemáticos. O primeiro tramitou no Rio de Janeiro, Processo nº 0055639-50.1990.8.19.0001: trata-se de ação de reintegração de posse ajuizada em razão do não pagamento dos valores devidos na aquisição de determinado imóvel. O pedido foi julgado procedente, mas determinou-se, em razão de outra ação ajuizada pelo devedor, que 30% do preço pago fosse a ele devolvido. Os processos foram julgados em conjunto, mas a sentença não especificou o valor.

A inicial foi distribuída em 1975 e a fase de conhecimento se encerrou em 1999. Vinte quatro anos e uma prolação de sentença ilíquida. A fase de liquidação, por sua vez, teve início em 1999. Foram idas e vindas: em 2005, o credor entendeu que a liquidação deveria ser direcionada contra a empresa que adquiriu parte dos ativos da companhia devedora; em 2018, o Superior Tribunal de Justiça (Recurso Especial nº 1.635.572-RJ, Relator Ministro Marco Buzzi) entendeu que essa empresa era parte ilegítima para responder aos termos da ação. O credor tencionava receber mais de R$ 100 milhões de reais. Sem prejuízo da questão processual deduzida (ilegitimidade), fato é que vinte e quatro anos é tempo suficiente para a prolação de uma sentença líquida, com valor especificado.

O segundo processo causa perplexidade pelo valor envolvido que o autor afirma ser credor: R$ 7 bilhões. Chegou-se, inclusive, a falar-se em trilhões, mas o credor acabou desistindo dessa pretensão. Trata-se do Processo nº 0003056-02.2003.8.26.0272, que tramitou na 2.ª Vara da comarca de Itapira (SP).

Discutiu-se nesses autos a revisão de alguns contratos de mútuo. Após regular desenvolvimento do processo, o Estado-Juiz decidiu que algumas taxas de juros e o método de sua apropriação (capitalização ou linear) estavam em desconformidade com a legislação aplicável e, por consequência, condenou o réu a revisar os contratos, mas prolatou sentença sem valor certo, ilíquida.

Referências

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