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PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM LÍNGUA PORTUGUESA

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM LÍNGUA PORTUGUESA

SÍLVIA SCOLA DA COSTA

SEQUÊNCIAS DESCRITIVAS E PRODUÇÃO DE SENTIDO: UMA

ANÁLISE DE BLOGS DE ADOLESCENTES.

Mestrado em Língua Portuguesa

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM LÍNGUA PORTUGUESA

SÍLVIA SCOLA DA COSTA

SEQUÊNCIAS DESCRITIVAS E PRODUÇÃO DE SENTIDO: UMA

ANÁLISE DE BLOGS DE ADOLESCENTES.

Mestrado em Língua Portuguesa

Dissertação apresentada à Banca Examinadora de Qualificação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa, sob orientação da Profa. Dra. Vanda Maria da Silva Elias.

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BANCA EXAMINADORA

__________________________________

__________________________________

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe Leudésia, pelo apoio, carinho e dedicação de uma vida inteira a cuidar dos seus.

Ao meu marido Carlos, pela paciência e compreensão em minhas ausências.

À luz de minha vida, Pietro, que me ensina que é sempre possível amar mais.

Às minhas irmãs Sheila e Flávia pelo apoio e carinho.

À Profª Drª Vanda Maria Elias, pela dedicação, seriedade e sabedoria demonstradas na orientação deste trabalho e pelo apoio amigo em todas as horas.

Ao Profº Drº José Everaldo Nogueira Júnior e à Profª Drª Nílvia Pantaleoni pelas significativas contribuições ao trabalho, no exame de qualificação.

Aos Professores do Programa de Língua Portuguesa, pelos ensinamentos no decorrer desses anos.

À Lourdes, secretária do Programa de Língua Portuguesa, sempre prestativa e atenta.

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[...] o Descritivo serve essencialmente para construir uma imagem atemporal do mundo. Realmente, a partir do momento em que os seres do mundo são nomeados, localizados e qualificados, é como se eles fossem impressos numa película para sempre.

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RESUMO

Nesta pesquisa, objetivamos analisar sequências descritivas em blogs e os recursos que contribuem para a coesão e a coerência dessas produções, tendo como fundamentação teórica estudos do texto em perspectiva sociocognitiva e interacional. Para a análise pretendida, foi composto um corpus de nove blogs de

adolescentes selecionados entre aqueles disponíveis na internet cujo acesso não exige senha, e que apresentam em sua composição o texto de apresentação do autor do blog. Os resultados da análise indicam que os autores dos blogs, em sua escrita espontânea na internet, compõem o perfil ou texto de apresentação com sequências descritivas que revelam elementos de coesão referencial e de coesão sequencial que contribuem para a coerência textual. De modo geral, o estudo possibilita refletir sobre a escrita espontânea de adolescentes na rede e como essas produções podem se transformar em significativos objetos de estudo no ensino de língua portuguesa.

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ABSTRACT

In this research, we aimed to analyze descriptive sequences in blogs and the resources that contribute to the cohesion and coherence of these productions. Having theoretical foundation as texts to be studied in interactional and social cognitive perspective. For that specific analysis, a corpus was composed with nine teenagers blogs selected among those available on the internet which the access does not require password, and besides that, it is presented on its composition the author’s blog presentation text. The analysis results indicate that the author’s blogs in his pontaneous writing on the internet, compose the profile or presentation text with descriptive sequences which reveal referential cohesion of the elements and the sequential cohesion that contribute to the textual coherence. Overall, this study provides reflection on the spontaneous writing of teenagers in the network and how these productions can become significant objects of study in the teaching of the Portuguese language.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...

CAPÍTULO 1- CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS... 1.1 – Texto e contexto... 1.2-Texto: coesão e coerência... 1.2.1-Coesão... 1.2.2- Coerência... 1.3- Textos e sequências textuais... 1.3.1- O descritivo segundo Adam ... 1.3.2- O descritivo no estudo de Marquesi ... 1.3.3- O descritivo no estudo de Charaudeau ... 1.3.3.1 – O que é descrever...

CAPÍTULO 2 BLOG: DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO... 2.1- Blog: definição... 2.2 – Blog: caracterização... 2..3- Blogosfera... 2.4 – O perfil nos blogs...

CAPÍTULO 3 – .Corpus... 3.1- Critérios de seleção... 3.2 – Plataforma Tumblr... 3.3– Apresentação do corpus...

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Texto 8... Texto 9...

Considerações Finais...

BIBLIOGRAFIA ... 89 94

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação insere-se na linha de pesquisa Leitura, Escrita e Ensino de

Língua Portuguesa, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua

Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, e tem como tema o estudo das sequências descritivas em perfis de adolescentes em blogs.

A escolha do tema justifica-se por considerarmos que a internet, desde a década de 1990, vem revolucionando a linguagem, visto que possibilita novas formas de interação humana, condicionadas pela capacidade linguística produtiva – através do teclado – e pela capacidade linguística receptiva – através da tela –, conforme afirma Crystal (2005). Assim sendo, necessário se faz um estudo das formas de produção escrita que ocorrem nesse espaço, suas características e propósitos comunicativos.

A escrita é parte constitutiva do universo da rede. É neste espaço de relações que os adolescentes produzem variados textos, entre eles, o perfil em blogs. Nessa situação de interação, os blogueiros precisam compor seu perfil, para que os interlocutores criem uma imagem de quem lhes dirige a palavra. Na composição desse perfil, destaca-se a descrição e, devido à propagação desse tipo de produção na internet, selecionamos para análise nesta pesquisa a descrição em perfis de adolescentes produzidos e divulgados em mídias sociais como blogs.

Pretendemos com a pesquisa responder às seguintes questões: como ocorre a descrição em perfis de adolescentes divulgados na internet? que recursos nessas produções garantem a coesão e a coerência do texto?

Em função dessas perguntas de investigação, o objetivo geral deste trabalho é contribuir para o estudo de textos produzidos em contexto digital, bem como para o ensino da escrita e da leitura em Língua Portuguesa. Temos por objetivos específicos analisar a descrição no perfil e os elementos que contribuem para o estabelecimento da coesão e da coerência nessas produções textuais.

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(2004) e Marquesi e Elias (2006). No que diz respeito à escrita digital, respaldamo-nos respaldamo-nos estudos de Komesu (2004, 2005), Araújo (2002, 2005, 2006), Coscarelli (2002, 2005) Elias e Ribeiro (2008), Elias (2011), Marcuschi (2000, 2005) e Miller (2009).

Os procedimentos metodológicos utilizados para desenvolver este trabalho foram assim estabelecidos:

1) levantamento e estudo de bibliografia sobre o texto descritivo e a escrita produzida na internet;

2) composição de um corpus formado por perfis de adolescentes em seus

blogs de livre acesso na internet;

3) análise de sequências descritivas nos perfis e de como se constituem a coesão e a coerência nesses textos.

Esta dissertação organiza-se em quatro capítulos, além da introdução, considerações finais e referências bibliográficas.

No capítulo I, abordamos, em um primeiro momento, o conceito de texto, contexto, coesão e coerência e, em um segundo momento, o tipo textual descritivo na perspectiva de autores citados anteriormente.

No capítulo II, tratamos da escrita digital, em especial, do blog, sua definição e caracterização. Também tratamos do perfil, uma parte do blog construída predominantemente por sequências descritivas, tendo-se em vista a análise a ser feita.

No capítulo III, apresentamos o corpus selecionado e os critérios que

norteiam a seleção, bem como características do espaço em que esses textos são produzidos.

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CAPÍTULO 1 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Nesta pesquisa, temos como objetivo analisar sequências descritivas e os elementos que nessas sequências contribuem para a sua coesão e a coerência. Considerando esse objetivo, apresentaremos neste capítulo o quadro teórico que fundamenta a investigação. Para tanto, o capítulo está organizado em duas partes: na primeira, serão explicitados os conceitos de texto e contexto, bem como de coesão e coerência. Na segunda, o foco residirá na definição e organização do descritivo.

1.1 Texto e contexto

Texto é um evento comunicativo construído por elementos linguísticos, cognitivos e sociais, como afirma Beaugrande (1997). Nesse sentido, Koch e Elias (2009) afirmam que em todo e qualquer texto há uma série de implícitos que são detectáveis pela mobilização do contexto sócio-cognitivo entendido como um conjunto de suposições e no interior do qual se movem os atores sociais. Assim sendo, “o sentido de um texto é construído na interação texto-sujeitos e não algo que preexista a essa interação”. (Koch e Elias, 2009: 11, [grifos das autoras])

Dizendo de outro modo, o texto não só depende das suas características internas, como também do conhecimento dos usuários, pois é esse conhecimento que define as estratégias a serem utilizadas na produção/recepção do texto. Assim, se pode admitir que a construção do sentido só ocorre num dado contexto.

Em recentes estudos do texto em perspectiva sócio-cognitiva e interacional,:

“os contextos não são um tipo de situação social objetiva, e sim construtos dos participantes, subjetivos, embora socialmente fundamentados, a respeito das propriedades que para eles são

relevantes em tal situação, isto é, modelos mentais.” (Van Dijk, 2012, p.87).

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alterado e ampliado, obrigando os parceiros a se ajustarem ao novo contexto instaurado.

Ainda de acordo com o autor, entender o contexto como um constructo subjetivo significa dizer que o contexto físico – o espaço físico, o espaço real com os objetos e as coisas- não afeta a linguagem diretamente, mas sim o conjunto de suposições trazidas para a interpretação de um enunciado de cada sujeito. Assim, a definição de contexto está relacionada com a estrutura da linguagem, da cultura e da organização social que tem implicações diretas na produção e na compreensão do discurso.

Pensar o texto e o contexto conforme o quadro descrito anteriormente implciar considerar a linguagem como uma atividade constitutiva dos sujeitos e de suas práticas Franchi (1977). Nesse sentido, o autor retoma os estudos de Humboldt (1936) para afirmar que a função primordial da linguagem não é a de transmitir ao outro as experiências individuais, mas a de constituí-las.

1.2. Texto: coesão e coerência

A textura ou textualidade, segundo Koch e Travaglia(1989), é o que faz de uma sequência linguística um texto e não um amontoado aleatório de frases ou palavras. É dessa forma que aquele que recebe a sequência percebe o texto como uma unidade significativa global.

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1.2.1. Coesão .

A coesão é a maneira como os constituintes da superfície textual encontram-se relacionados entre si, numa encontram-sequência, por meio de marcas lingüísticas. Trata-encontram-se da ligação entre os elementos superficiais do texto.

Koch define a coesão como:

[...] a forma como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se interligam, se interconectam, por meio de recursos também

linguísticos, de modo a formar um “tecido” (tessitura), uma unidade

de nível superior à da frase, que dela difere qualitativamente (Koch, 2009:35)

Para a autora a coesão pode ser referencial ou seqüencial. A coesão referencial ocorre quando um componente da superfície textual retoma ou faz remissão a outro elemento presente no texto ou apenas sugerido. A remissão pode ser feita para trás ou para frente, constituindo, assim, anáfora ou catáfora,

respectivamente.

A maioria dos estudos sobre coesão referencial parte do ponto de que existe identidade de referência entre a forma remissiva e seu referente textual, porém tal identidade é discutível, o que leva Kallmeyer et al (1974 apud Koch 2012) a propor a “Teoria da Referência Mediatizada”, como forma de caracterizar a função mediadora exercida pela forma remissiva quando da remissão a outros elementos linguísticos do texto. Para melhor entendimento Koch (2012:32) apresenta exemplos como:

A gravata do uniforme de Paulo está velha e surrada. A minha é novinha em folha

Quanto ao exemplo, a autora explica que não há correferencialidade entre o sintagma nominal gravata do uniforme de Paulo e a forma remissiva minha. A forma remissiva “extrai” do grupo nominal o seu elemento de referência.

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As formas remissivas gramaticais presas são as que acompanham

um nome, antecedendo-o e também ao(s) modificador(es) anteposto(s) ao nome dentro do grupo nominal. Exercem, portanto, a função das determinantes da gramática estrutural e gerativa. Seriam, em termos de nossas gramáticas tradicionais, os artigos, os pronomes adjetivos (demonstrativos, possessivos, indefinidos,

interrogativos e relativos) e os numerais cardinais e ordinais, quando

acompanhados de nomes.

São formas gramaticais remissivas livres os pronomes pessoais de

3ª pessoas (ele, ela, eles, elas) e os pronomes substantivos em geral (demonstrativos, possessivos, etc) que têm função pronominal propriamente dita, bem como advérbios pronominais do tipo lá, aí, ali, acima etc. Koch (2012:34)

Por sua vez, as formas remissivas lexicais são compostas por grupos nominais definidos que contêm um sentido. A referência ou remissão nem sempre se estabelece sem ambigüidade. Quando há no cotexto dois ou mais referentes potenciais para uma forma remissiva, a decisão do leitor/ouvinte terá de se basear nas predicações feitas sobre elas, levando em conta o universo textual em que essas formas estão inseridas. Porém, cabe ao produtor do texto, sempre que possível, evitar as ambigüidades.

Koch e Elias (2009: 123) entendem que os referentes são construídos discursivamente. Assim sendo, afirmam que a referenciação e a progressão referencial baseiam-se na “construção e reconstrução de objetos-de-discurso”, entendendo-se referenciação como o processo por meio do qual ocorre “a introdução, no texto, de novas entidades ou referentes. Quando tais referentes são retomados mais adiante ou servem de base para a introdução de novos referentes, tem-se o que se denomina progressão referencial.”

Sobre a coesão sequencial, Koch (2012: 53) diz que se trata de procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto, diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmático-discursivas, à medida que o texto progride.

A progressão textual pode ocorrer com ou sem elementos recorrentes. Quando ocorre uma progressão com elementos de recorrência estrita, temos o que Koch classifica como sequenciação frástica, já quando temos uma progressão textual com procedimentos de recorrência, temos sequenciação parafrástica.

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 recorrência de termos quando há a reiteração de um mesmo item lexical, como no exemplo citado por Koch(2012:55):

“E o trem corria, corria, corria...”

 recorrência de estruturas (paralelismo sintático) quando a progressão se faz utilizando-se as mesmas estruturas sintáticas, preenchidas com itens lexicais diferentes, como no exemplo de Koch (2012:56):

“Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.”

(Gonçalves Dias)

 recorrência de conteúdos semânticos (paráfrase) quando um mesmo conteúdo semântico é apresentado sob formas estruturais diferentes, conforme exemplifica Koch (2012:56):

“Em todo enunciado, fala-se de um determinado estado de coisas de uma determinada maneira: isto é, ao lado daquilo que se diz, há o modo como aquilo que se diz é dito.

 recorrência de recursos fonológicos segmentais e/ou suprassegmentais quando há recorrência de uma invariante, como igualdade de metro, ritmo, rima, assonâncias, aliterações, etc, como no exemplo dado por Koch (2012:57):

“O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.” (Fernando Pessoa)

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O recanto era aprazível. O vento balançava suavemente as copas das árvores, os raios do sol refletiam-se nas águas do riacho e um perfume de flores espalhava-se

pela clareira onde descansavam os viandantes.

De súbito, ouviu-se um grande estrondo e todos se puseram de pé, sobressaltados. (Koch 2012: 58)

Por sua vez, a sequenciação frástica se faz por meio de sucessivos encadeamentos, assinalados por uma série de marcas lingüísticas entre as quais se destacam conectores como:

se que estabelece uma relação de implicação entre um antecedente e

um conseqüente;

e, bem como, também que somam argumentos a favor de determinada

conclusão;

quando que opera a localização temporal dos fatos que se refere no

enunciado;

ainda que, no entanto, que introduzem uma restrição, oposição ou

constraste com relação ao que se disse anteriormente;

pois que introduz uma justificativa ou explicação sobre o ato de falar

anterior;

sejam...sejam, como que indicam uma especificação ou

exemplificação;

ou que aponta uma alternativa;

mesmo, até, antes de mais nada cuja função argumentativa é orientar

os enunciados para determinadas conclusões.

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1.2.2. Coerência

A coerência é algo que se estabelece na interação, na interlocução, numa situação comunicativa entre os usuários. Trata-se, portanto, de “um princípio de interpretabilidade “do texto. Para Koch e Travaglia (1989):

A coerência seria a possibilidade de estabelecer, no texto alguma forma de unidade ou relação. Essa unidade é sempre apresentada como uma unidade de sentido no texto, o que caracteriza a coerência com o global, isto é, referente ao texto como um todo. (Koch e Travaglia, 1989: 11-12)

Pensar a coerência dessa forma significa dizer,

[...] a coerência não está no texto, não nos é possível apontá-la, destacá-la, sublinhá-la ou coisa que valha, mas somos nós leitores, em um efetivo processo de interação com o autor e o texto , baseados nas pistas que nos são dadas e nos conhecimentos que possuímos, que construímos a coerência. ( Koch e Elias 2009: 184, [grifos das autoras])

A coerência é estabelecida em dada situação comunicativa, com base em uma série de fatores de ordem semântica, cognitiva, pragmática. Para produzir sentido, é necessário que o leitor ative conhecimentos previamente constituídos e armazenados na memória.

Em seu estudo sobre a coerência, Charolles(2002) afirma que não se pode refletir sobre a coerência de um texto sem levar em conta a ordem de aparição dos segmentos que o constituem. Sobre isso afirma o autor:

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Charolles propõe quatro metarregras de coerência: metarregra de repetição,

metarregra de progressão, metarregra de não-contradição e metarregra de relação.

A metarregra de repetição (MR1) orienta que para que um texto seja

microestruturalmetnte e macroestruturalmente coerente é preciso que contenha, no seu desenvolvimento linear, elementos de recorrência estrita, já que a repetição constitui uma condição necessária, embora não suficiente, para que uma sequência seja coerente.

Com o intuito de assegurar essas repetições o produtor do texto pode escolher entre inúmeros recursos de que a língua dispõe: pronominalizações, definitivações, referenciações contextuais, substituições lexicais, recuperações proposicionais, retomadas de inferência. Todos esses processos permitem ligar uma frase a uma outra que se encontra no seu contexto imediato, segundo o autor.

As pronominalizações originam-se da aplicação de processos transformacionais sobre os quais pesam restrições. Assim, um pronome não pode ao mesmo tempo preceder e comandar o grupo ao qual se refere. Como exemplo, Charolles(2002:51) indica o seguinte caso:

“Ele (1) (→) sabe muito bem que Pedro (2) não estará de acordo com Mário(1).”

O autor nos dá a seguinte explicação:

[...] não é possível interpretar “ele” como representando “Mário”;

diante de uma tal ocorrência, a única solução consiste então em recuperar o pronome da 3ª pessoa como remetendo (exoforicamente) a um indivíduo diferente de Pedro(2) e Mário (1), o qual deve-se supor que foi citado anteriormente ou que é perfeitamente conhecido do emissor e do receptor. Se tal interpretação não for possível, “ele” é percebido como um anafórico

puro cuja aparição abre um vazio na seqüência e quebra seu desenvolvimento contínuo. Charolles(2002:51)

As definitivações e as referenciações dêiticas contextuais permitem retomar declarada ou virtualmente(expressão utilizada pelo autor) um substantivo de uma frase para outra ou de uma sequência para outra. Um exemplo dado pelo autor

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“Jerônimo acaba de adquirir uma casa com celeiro (...) A casa é grande e tem estilo”

O procedimento de substituições lexicais normalmente permite evitar as retomadas lexemáticas, ao mesmo tempo em que se garante uma retomada estrita. Há certas restrições que regulamentam o uso das substituições, como no caso do português, o termo mais genérico não pode preceder seu representante. No exemplo dado por Charolles (2002: 53):

“Picasso morreu faz um ou dois anos. O artista deixou sua coleção pessoal para o museu de Barcelona”

[...] o lexema de substituição é suficiente para estabelecer uma co-referência estrita.

Nos procedimentos analisados, os mecanismos de repetição são mais ou menos perceptíveis na superfície textual. Quanto às recuperações pressuposicionais, a retomada incide nos conteúdos semânticos não manifestos, que devem ser reconstruídos para que apareçam explicitamente, as recorrências. Charolles (2002:55) apresenta como exemplo:

(20) “Será que Felipe vendeu seu carro?” (21) “Não, ele vendeu a bicicleta.”

(22) “ Não, roubaram-lhe” (23) “Não, ele emagreceu”

Charolles (2002:55) explica:

Parece que as sequências S1 ((20) + (21)) e S2 ((20) + (22)) são igualmente coerentes comparadas à S3 ((20) + (23)), da qual não parece possível reconstituir a continuidade. O fato que (21), (22) e

(23) retomam todas, graças ao “ele”, o termo “Felipe” constando no

(20) e que, apesar disso, S3 seja julgado de forma diferente de S1 e S2 faz ressaltar nitidamente que as condições de repetição apresentadas até aqui são insuficientes para garantir, por si mesmas, a coerência de uma sequência.

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fazem parte do enunciado e resistem a certas provas linguísticas. As inferências são menos fortes, às vezes estão ligadas ao léxico, porém remetem muitas vezes ao conhecimento de mundo ou a leis do discurso. Retomando as palavras do autor: “Na prática não é fácil operar uma divisão rigorosa entre o conjunto de pressuposições e o conjunto das inferências ligadas a um enunciado.”

A metarregra de progressão (MR2) destaca que para que um texto seja

microestruturalmente ou macroestruturalmente coerente, é preciso que haja no seu desenvolvimento uma contribuição semântica constantemente renovada.

Essa segunda metarregra completa a primeira, já que estipula que um enunciado, para ser coerente, não pode simplesmente repetir indefinidamente seu próprio assunto. A exigência da progressão semântica é elementar, haja vista que o próprio ato de comunicar supõe alguma coisa a dizer. No exemplo apresentado por Charolles(2002:59:).

As viúvas só recebem a metade da aposentadoria de seus finados maridos. As mulheres não casadas recebem uma pensão igual à metade daquela que recebia

seu marido falecido. Elas têm só cinqüenta por cento das indenizações que recebiam seus maridos enquanto estavam vivos. No tempo em que eles estavam aposentados, as esposas dos aposentados desfrutavam com o marido a totalidade

de sua pensão.

O que chama a atenção no exemplo é a circularidade do discurso, como se o autor quisesse, por medo do vazio, produzir um discurso voltado para ele próprio. Existe nesse texto uma desproporção muito grande entre a taxa de contribuição informativa e a taxa de repetição. Pode-se afirmar que é um texto coerente, porém a redundância exagerada que o caracteriza o torna fundamentalmente inaceitável. Sobre a questão, Charolles(2002:60) assim se posiciona:

A produção de um texto coerente supõe então que seja realizado um delicado equilíbrio (cuja natureza é difícil de avaliar exatamente) entre continuidade temática e progressão semântica (ou rêmica). Um tal desempenho exigem que sejam conjuntamente dominadas as MR1 e MR2.

A metarregra de não- contradição(MR3) pressupõe que para que um texto

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A metarregra de relação (MR4) salienta que, para que uma sequência seja considerada coerente, é preciso que os fatos que denotam o mundo estejam relacionados. Esta metarregra é de natureza fundamentalmente pragmática. É necessário que as ações, estados ou eventos denotados por uma sequência sejam percebidos como congruentes no tipo de mundo por quem a avalia. Como exemplos, apresenta Charolles(2002:75):

“Maria está doente porque logo vai dar à luz.” “Maria logo vai dar à luz mas está doente.”

A impossibilidade de ligar duas frases por um conector natural é um bom teste para revelar uma incongruência:

“Maria logo vai dar à luz portanto os cantores românticos desagradam os intelectuais.”

No mundo ordinário as possibilidades são muito abertas e temos sempre a possibilidade de construir um curso de eventos intermediários no qual uma sequência aparentemente sem sentido encontre respaldo em outros fatos.

Assim sendo, a coerência vai além dos elementos linguísticos, visto que depende de fatores externos ao texto como seus interlocutores e o contexto de interação entre eles. Nas palavras de Marcuschi (2008:126), a coerência:

[...] pode ser vista tanto na relação microestrutural imediata (na sequência de enunciados), como na relação macroestrutural ou ampla (na significação global) e nas relações interlocutivas – nos processos sociointerativo.

1.3 Texto e sequências textuais

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descritiva, narrativa, injuntiva, explicativa, argumentativa, dialogal, a que lhe parecer mais adequada.

Ainda de acordo com Adam, as sequências são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições-enunciados: as macroproposições.

Um plano de texto reúne um número de sequências, um número de macroproposições, que engloba um número de microproposições. Compreender uma estrutura sequencial é decidir se se trata de um texto ou de parte dele.

Nas palavras de Adam (2009):

[...] cada sistema de base (narração, explicação, descrição etc.) não é mais que um momento de uma complexidade a ser explicada teoricamente. (...) Em outros termos, trata-se de examinar como se constitui, a partir de uma sequência de enunciados – para um interprete leitor ou ouvinte-, um efeito de sequência.(Adam,2009:79)

Os gêneros textuais são resultado do modo como o configuracional, em suas dimensões argumentativa, enunciativa e semântica atravessa e trabalha o sequencial. As categorias gerais narração, descrição e argumentação aparecem

como várias estruturasheterogêneas e complexas a serem divididas em subtipos ou gêneros, conforme estudos de Adam (2009).

Assim, o texto passa a ser definido como uma estrutura sequencial constante de um número de sequências que podem ser elípticas ou completas. São as regras de encadeamento que levam o leitor /ouvinte a identificar uma estrutura sequencial como completa. Reconhecer uma estrutura sequencial simples ou complexa depende, por um lado, do reconhecimento de uma completude configuracional e, por outro lado, do reconhecimento dos reagrupamentos de proposições.

De acordo com Adam (2008), uma proposição-enunciado pode ser tida como uma unidade textual elementar. Estas proposições podem ser agrupadas em dois grandes tipos: os períodos e as sequências. Segundo o autor:

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Com efeito, a sequência é uma estrutura que se caracteriza por ser uma rede relacional hierárquica e uma entidade relativamente autônoma, dotada de uma organização interna que lhe é própria. Nas palavras de Adam (2008: 204) :

As sequências são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjunto de proposições-enunciados: as macroproposições. A macroproposição é uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, ocupando posições precisas dentro de todo enunciado de sequência. Cada macroproposição adquire seu sentido em relação às outras, na unidade hierárquica complexa da sequência. Nesse aspecto, uma sequência é uma estrutura.

As sequências são estabelecidas pelo modo de comunicação que se instaura, constituindo, assim, sequências distintas. Nesse sentido, a sequência é construída conforme as intenções do autor. As macroproposições que entram na composição de uma sequência dependem de combinações pré-formatadas de proposições, quais sejam: descritiva, narrativa, argumentativa, explicativa e dialogal.

(Adam, 2008)

Além disso, o autor propõe situar a tipologia de sequências em um conjunto mais amplo e complexo dos planos de organização da textualidade, concebendo o texto como uma estrutura sequencial heterogênea. Sendo assim, uma narrativa ou uma descrição diferem uma da outra e também de outras narrativas e outras descrições, mas partilham de um certo número de características que fazem o leitor reconhecê-las como sequência descritiva ou como uma sequência narrativa.

Adam(2009:118) afirma ainda que os textos não são homogêneos e que uma descrição raramente existe em seu estado puro e autônomo, constituindo geralmente um momento de um texto narrativo ou explicativo.

O autor propõe uma organização dos textos baseada no conceito de sequência, que são esquemas prototípicos que seguem uma mesma composição, organização e estruturação. Devido à heterogeneidade textual, nenhuma tipologia dará conta da diversidade e da complexidade da produção textual humana.

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lugar a estruturas como (descrição dominante(narrativização dominada)); as descrições do tipo dizer correspondem à estrutura (descrição dominante(conversação dominada)). Para exemplificar Adam cita o que corresponde ao esquema hierárquico (seq. descritiva dominante (seq. instrucional dominada)):

(3) Lucila, a quarta de minhas irmãs, tinha dois anos a mais que eu. Caçula abandonada, seus enfeites eram apenas o despojo de suas irmãs. Que se nos figurava como uma menina magra, muito grande para sua idade, braços desengonçados, ar tímido, falando com uma dificuldade e não podendo aprender nada; que se ponha nela um vestido emprestado de tamanho diferente do seu; que se contenha seu peito num corpo corroído cujas pontas lhe façam feridas dos lados; que se sustente seu pescoço com uma coleira de ferro forrada de veludo marrom; que se levantem seus cabelos no alto da cabeça prendendo-os com uma touca de tecido escuro; e se verá a miserável criatura com quem me deparei entrando sob o teto paterno. Ninguém teria suspeitado na mesquinha Lucila, os talentos e a beleza que deviam um dia brilhar nela. (Chateaubriand, Memoires d´outre-tombe 13, citado P. Hamon 1981, p102)

Desse modo, a heterogeneidade geralmente segue procedimentos de demarcação muito estritos: lugares de início e fim de inserção, e é um fenômeno evidente para os escritores.

1.3.1- O descritivo segundo Adam

Segundo Adam (2009:101), a superestrutura descritiva é um modelo hierárquico diferente, mas tão estruturador e estruturado como a superestrutura narrativa. Também defende o autor que a sequência descritiva organiza-se pelas operações de ancoragem nas quais o tema da descrição é estabelecido: afetação

o objeto descrito; assimilação – operação de ordem metonímica ou metafórica; aspectualização – numeração de alguns aspectos do tema; e tematização

desenvolvimento das microproposições descritivas.

(26)

As operações de tematização, segundo Adam (2008), constituem a macrooperação principal, pois concedem unidade a um segmento e faz dele um período tão fortemente característico que aparece como uma espécie de sequência. Essa operação pode ser aplicada de três maneiras diferentes e importantes para a construção do sentido:

pré-tematização (ou ancoragem): consiste na denominação imediata do

objeto que abre um período descritivo e anuncia um todo;

pós-tematização (ou ancoragem diferida): é a denominação adiada do

objeto que nomeia somente o quadro da descrição no decorrer ou final da sequência;

retematização (ou reformulação): consiste na nova denominação do

objeto que reenquadra o todo, fechando o período descritivo.

A operação de aspectualização, também chamada de macrooperação, tem apoio na tematização e agrupa duas operações: a fragmentação e a qualificação.

Fragmentação (ou partição): seleção das partes do objeto da

descrição.

Qualificação (atribuição de propriedades): evidenciação das

propriedades do todo e/ou das partes selecionadas pela operação de fragmentação.

As operações de relação agrupam duas outras operações:

 Relação de contiguidade diz respeito à situação temporal ou espacial, esta última relacionada às relações de contiguidade entre o objeto do discurso e outros objetos suscetíveis de tornar-se, por sua vez, o centro [tematização] de um

procedimento descritivo ou, ainda, contiguidade entre as diferentes partes

consideradas, conforme explica Adam (2008:221).

(27)

A descrição é expandida por meio das operações de aspectualização, tematização e relação. A expansão descritiva é regrada por um pequeno número de operações identificáveis e repetíveis. “Os planos de texto e suas marcas específicas têm uma importância decisiva para a legibilidade e a interpretação de qualquer descrição”, já que viabilizam a passagem do repertório de operações à textualização. (Adam, 2008:223)

1.3.2- O descritivo no estudo de Marquesi

Em relação à organização do texto descritivo em língua portuguesa, Marquesi (2004) parte da hipótese de que existe uma superestrutura desse texto definida por categorias e regras responsáveis por sua organização. A autora define a competência descritiva como sendo a aptidão do homem para produzir e compreender um número infinito de textos descritivos, graças a categorias e regras subjacentes a essa modalidade, reunindo habilidades de análise e síntese.

Ao definir a competência descritiva, a autora propõe o tipo de enunciado presente no descritivo. Assim, um enunciado descritivo é um enunciado de ser que

expande uma designação, que não tem o fazer transformador do enunciado narrativo.

Apoiando-se no conceito de superestrutura de van Dijk (1980), para quem as superestruturas textuais são definidas por categorias e regras que organizam os diferentes tipos de texto, Marquesi (2004), defendendo que o descritivo é um enunciado de ser que expande uma designação cuja estruturação é caracterizada

pela fórmula x é y, em que x está para designação e y para expansão, propõe a

organização do descritivo por três categorias: categoria da designação, categoria da definição e categoria da individuação, sendo as duas últimas voltadas para a

expansão do texto e a primeira para condensação.

A categoria de designação refere-se à ação de condensar num recorte

lexical um conjunto sêmico. Esta categoria compreende nomear, indicar, ou seja, dar a conhecer para se determinar e qualificar certas características. Desta forma,

designar implica dar nome a, nomear; portanto, condensa num recorte lexical um

(28)

conhecimento; para tanto, é necessário verificar as relações entre o léxico e o mundo, pois a palavra é uma representação do referente.

A categoria da definição refere-se a um conjunto de predicações que

expandem um saber partilhado. Esta categoria é entendida como um conjunto de predicações seqüenciadas a uma designação. Sobre o conceito de definição, Marquesi (2004:105) afirma:

[...] a categoria da definição compreende determinar a extensão ou limites de, bem como enunciar os atributos essenciais específicos (de uma coisa), de modo que a torne inconfundível com outra[...] A definição é, pois, entendida como um conjunto de predicações sequenciadas a uma designação, e o que possibilita sequenciar essas predicações é um saber partilhado.

A categoria da individuação refere-se à especificação do que se descreve.

Marquesi (2004:108) assim o apresenta:

[...] a categoria da individuação compreende especificar, distinguir,

ou seja, especializar, particularizar, tornar individual. (Ferreira, 1975)

Para precisar o termo individuação, Greimas & Courtés (1979 ), recorrem à tradição filosófica e assim escrevem: na tradição filosófica, individuação é a realização da idéia geral de um certo indivíduo. Segundo Leibniz, o princípio da individuação é o que faz com que um ser possua não apenas um tipo específico, mas uma existência singular, determinada no tempo e no espaço.

Assim, a categoria da individuação estabelece uma relação entre o que é “o ser descrito” e a sua situação no tempo e no espaço em que é descrito, podendo, então, referir-se a um conjunto de predicações permanentes e/ou transitórias. A categoria da individuação, portanto, compreende o conceito do descritor a respeito do objeto descrito.

As predicações permanentes podem ser associadas, de acordo com Marquesi (2004), a um princípio de permanência que permite a um ser continuar o mesmo, ainda que diferenciado da classe à qual pertence, particularizado como indivíduo, identificado por características próprias.

Quanto às predicações transitórias, a autora afirma que podemos associá– las a um princípio de discriminação do ser descrito, marcado pelo aspecto

transitório, assim uma sequência de palavras e frases não predica o que é o ser

(29)

Na visão de Marquesi (2004:109-11), o descritivo é um tipo de texto definido em categorias, portanto é imprescindível delinear as regras que o organizam. Nesse campo:

As regras, portanto, são entendidas como normas que possibilitam a existência de um modelo construído com base em observação mais ou menos rigorosa dos usos sociais, instituindo de forma global, específica de cada tipo de texto.

Essas categorias são ordenadas por regras. Marquesi propõe a regra da

equivalência, que organiza as relações categoriais e predicativas nos diferentes

níveis a partir de uma linha horizontal, e a regra da hierarquização, que organiza as

mesmas, a partir de uma linha vertical.

Para visualização das regras de equivalência e hierarquização, Marquesi

(2004:114) propõe o seguinte quadro:

(30)

1.3.3 O descritivo no estudo de Charaudeau (2010)

Charaudeau (2010) afirma que um texto é sempre heterogêneo do ponto de vista de sua organização. Ele depende, por um lado, da situação de comunicação na

qual e para a qual foi criado e, por outro lado, das diversas ordens de organização

do discurso utilizadaspara a sua construção.

Ainda, para o autor, há uma afinidade entre categorias de língua e modos discursivos, mas não se pode ir além da noção de afinidade. Uma mesma categoria de língua pode estar presente em diversos modos de organização de discurso, como, por exemplo, as categorias semânticas da designação, quantificação e apresentação, as quais se encontram tanto na organização descritiva quanto na

organização narrativa ou argumentativa de um texto . O descritivo pode, por exemplo, utilizar verbos de ação – marcas tradicionais do narrativo – como nos exemplos de receitas de cozinha.

Para o autor, o termo descritivo é utilizado para definir um procedimento

discursivo (modo de organização do discurso) e o termo descrição para definir um

texto (ou fragmento de texto) que se apresente como tal. A descrição é um resultado, o descritivo um processo.

Do ponto de vista do sujeito falante, descrever, embora se oponha a argumentar e a contar, combina-se com essas atividades, explica Charaudeau (2010: 111). Enquanto contar consiste em expor o que é da ordem da experiência e do desenvolvimento das ações no tempo e argumentar em efetuar operações abstratas de ordem lógica, descrever consiste em ver o mundo com um “olhar parado”, que faz existir os seres ao nomeá-los, localizá-los e atribuir-lhes qualidades que os singularizam; assim, o descritivo não se contenta em servir o narrativo, mas sim em dar sentido a este.

O modo de organização do descritivo, segundo Charaudeau (2010), conta com três componentes: nomear, localizar/situar e qualificar. Em relação ao

componente nomear, afirma o autor:

(31)

Isso explica o fato de o descritivo produzir taxionomias (grades, representações hierarquizadas em árvores, em chaves), inventários (arquivos, catálogos, índices, guias) e todos os tipos de listas que constroem ou fazem inventário dos seres do universo.

Essas atividades de produção não são frutos do acaso. O descritivo inscreve-se sempre numa finalidade comunicativa que fornece, até mesmo impõe, seu quadro de pertinência.

Sobre o componente localizar/situar, Charaudeau (2010:113-114) explica:

Localizar -situar é determinar o lugar que o ser ocupa no espaço e no

tempo, e por um efeito de retorno, atribuir características a este ser na medida em que ele depende, para sua existência, para a sua função, ou seja, para a sua razão de ser, de sua posição espaço –

temporal.Essa localizaçãosituação aponta para um recorte objetivo

do mundo, mas sem perder de vista que esse recorte depende da visão que um grupo social projeta sobre esse mundo.

Esse componente tem, entre seus objetivos, estabelecer determinada hierarquia entre os seres do mundo, descrever o espaço por ele próprio e localizar, com o intento de tornar um relato objetivo.

Por último, Qualificar é reduzir a infinidade do mundo, construindo classes e

subclasses de seres. Mas, enquanto a denominação estrutura o mundo de maneira

não orientada, a qualificação atribui um sentido particular a esses seres, e isto de

maneira mais ou menos objetiva.

A qualificação tem origem no olhar que o sujeito lança sobre os seres e o mundo, caracterizando, assim, sua subjetividade. De acordo com Charaudeau (2010:115):

A descrição pela qualificação pode ser considerada a ferramenta que permite ao sujeito falante satisfazer seu desejo de posse do mundo: é ele que o singulariza, que o especifica, dando-lhe substância e uma forma particulares, em função da sua própria visão das coisas, visão essa que depende não só de sua racionalidade, mas também de seus sentidos e sentimentos.

Esses procedimentos são usados de maneira livre, porque o descritivo é um

modo de organização que não se fecha em si, e não arbitrária, porque toda

(32)

Charaudeau (2010) apresenta os procedimentos discursivos e linguísticos de base que podem indicar a maneira pela qual pode ocorrer a construção do descritivo.Os componentes do princípio de organização são implementados por determinados procedimentos discursivos. Assim, nomear faz com que um “ser seja”;

localizar faz com que um “ser esteja”; qualificar faz com que um “ser seja alguma coisa”, originando procedimentos de construção ora objetiva, ora subjetiva do mundo.

Dentro dos procedimentos discursivos, tem-se a identificação, que consiste

em nomear os seres do mundo. Podem representar uma referência material (mesa) ou não material (liberdade) e são nomeados por nomes comuns que os individualizam e ao mesmo tempo os fazem pertencer a uma classe(identificação genérica). Mas podem também nomear por sua unicidade, por nomes que lhes são próprios(identificação específica). Essas identificações podem vir acompanhadas de algumas qualidades, que são, por si sós, identificatórias e classificam esses seres em subgrupos.

Esses procedimentos são encontrados em tipos de texto que têm por finalidade recensear seres ou informar sobre a identidade de um ser. São textos com

a finalidade recensear inventários de um apartamento, de utensílios de cozinha, listas recapitulativas, identificatórias, um quadro constando as atividades de um dia ou até mesmo uma canção popular. Como exemplo, Charaudeau (2010:118) apresenta o texto:

- Canção popular: No tabuleiro da baiana (Ary Barroso) No tabuleiro da baiana tem

Vatapá, caruru, mungunzá, tem umbu, Pra Ioiô

Se eu pedir você me dá O seu coração, seu amor

De Iaiá

No coração da baiana também tem Sedução, canjerê, candomblê, ilusão

Pra você(...)

(33)

quando, para evitar ambigüidade, é necessário lembrar-se de qual personagem se trata. Porém, é na imprensa que esse procedimento é mais sistematicamente empregado, como observa o autor no exemplo:

Brasília – O governador do Rio, Sérgio Cabral, sinalizou nesta sexta-feira que o ex-diretor do Instituto Nacional de Câncer (Inca) José Gomes Temporão (foto)

será indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Ministério da Saúde. ( O Dia online, acessado em 03/02/2007) Charaudeau (2010:120)

Outro procedimento de configuração da descrição consiste em construir uma

visão de verdade sobre o mundo, qualificando os seres com a ajuda de traços que

possam ser verificados por qualquer outro sujeito além do falante. Os objetos descritos existiriam independentemente da visão subjetiva do descritor.

Esses procedimentos estão presentes em tipos de textos que têm por finalidade definir ou explicar (em nome de um saber), incitar ou contar (em nome de um testemunho que procura dar conta da realidade). Como exemplo de textos com a finalidade de definir, o autor cita verbetes de dicionários, enciclopédias, glossários;

alguns jogos, como o caso das adivinhações, palavras cruzadas; textos de lei; textos didáticos. Com a finalidade de explicar, o autor destaca textos jornalísticos, crônicas

jornalísticas, modos de usar. Com a finalidade de incitar, o autor chama a atenção

para textos de anúncios como ofertas de empregos ou panfletos que descrevem

reivindicações. Com a finalidade contar, o autor indica passagens de relatos literários ou resumos, como crítica jornalística.

A construção subjetiva do mundo permite ao sujeito falante descrever os seres do mundo e seus comportamentos mediante sua própria visão. O universo assim construído é relativo ao imaginário pessoal do sujeito e pode ser construído de duas maneiras.

Na primeira, é o resultado de uma intervenção pontual do narrador, uma vez que:

(34)

Na segunda, como construção de um mundo mitificado pelo narrador,

considerando que:

[...] esse imaginário simbólico pode estar ancorado em uma certa

realidade(...) ou fora desta, e abrir-se para o irracional (como nos contos maravilhosos ou fantásticos. Neste último caso, trata-se de

(35)

CAPÍTULO 2

BLOG: DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO

Neste capítulo trataremos da definição e caracterização do blog, uma escrita hipertextual praticada por muitos usuários da rede. De modo especial, trataremos do perfil, um elemento que entra na composição do blog e tem sua importância ressaltada pela função de apresentar à comunidade virtual o autor do diário on line.

2.1 Blog: definição

O termo weblog, segundo Oliveira (2006), foi cunhado em 1997 por Jorn Barger, escritor americano nascido em Ohio que o descreve como um processo de “logar na web”. Entretanto, é Dave Winer que é considerado o pai dos blogs, sendo dele a criação do primeiro blog em 1996, como parte do Website 24 Hours of

Democracy.

Schittine (2004) explica que o termo weblog é a combinação entre web

(página na internet) + log (diário de bordo), razão pela qual a expressão “diário íntimo na internet” é tida como sinônimo de weblog. O termo não demorou a ser

abreviado e divulgado em sua forma mais curta, blog.

De acordo com Komesu (2005), o blog é uma alternativa para publicação de textos on-line. A facilidade para edição, atualização e manutenção dos textos foi e

continua sendo um dos principais fatores para o sucesso e a difusão dessa ferramenta de auto-expressão. Ainda, segundo a autora, há o exibicionismo e voyerismo que não são privilégios da era dos computadores, porém a internet possibilitou levar essas práticas a limites impensáveis.

(36)

normalmente associado à gratificação sexual, o voyeurismo, de forma mais geral, atinge-nos mais como um interesse impróprio pelos outros em termos de curiosidade, não de valores morais.

Mais recentemente, contudo, a união da onipresença da televisão como meio de divulgação de notícias juntamente com a insaciabilidade do desejo do público por informação ajudou a reabilitar o voyeurismo: ele tornou-se sinônimo de acesso à informação e do direito do público de saber. Ver é saber, não apenas

acreditar, afirma Miller.

Na obra Voyeur nation: media, privacy and peering in modern culture, Calvert

(2000 apud Miller, 2009) caracteriza os efeitos da saturação da mídia em nossas relações com a informação e em nossas relações uns com os outros como um “voyeurismo mediado”. O autor define “voyeurismo mediado” como o consumo de imagens reveladoras e de informações sobre a vida aparentemente mostrada e desprotegida dos outros, com propósitos de entretenimento através dos meios de comunicação de massa e da internet.

O “voyeurismo mediado”, de acordo com os estudos de Miller, tem sua origem no jornalismo dos tablóides sensacionalistas do final do século XIX e início do século XX. Ao fingirem insanidade para serem confinados em um manicômio ou ao amarrarem uma câmera em seu tornozelo para tirarem fotografias da execução de um assassino condenado, os repórteres dos primeiros tablóides ofereciam aos leitores vislumbres da vida dos outros, vislumbres que pareciam mais reais, pois eram secretos.

(37)

mundo à nossa volta, mesmo que o voyeurismo, por sua própria natureza, apenas possa proporcionar a ilusão de envolvimento.

O voyeurismo não poderia ter se tornado uma preocupação tão comum em nosso tempo sem os objetos de desejo. Assim, contrapondo o “voyeurismo mediado” temos o “exibicionismo mediado” cujo ponto central consiste na psicologia social da autoexposição, que serve a quatro propósitos de acordo com Calvert (2000 apud Miller 2009): ao autoesclarecimento, à validação social, ao desenvolvimento de relacionamentos e ao controle social.

Os dois primeiros propósitos são de ordem interior e proporcionam uma elevada compreensão de si mesmo através da comunicação com os outros, bem como a confirmação de que crenças pessoais encaixam-se nas normas sociais. Os dois últimos propósitos funcionam de maneira exterior, proporcionando uma elevada compreensão de si mesmo, transformando informações pessoais em mercadoria e manipulando as opiniões dos outros através de revelações bem calculadas.

É claro que a mídia mais indicativa dessas tendências documentadas é a Internet, afirma Miller (2009). Nas home pages pessoais e especialmente nos blogs,

as pessoas compartilham uma incontável quantidade de informação pessoal com pessoas normalmente estranhas. A tecnologia da internet tornou isso mais fácil do que nunca, assim as pessoas hoje podem ser tanto voyeurs quanto exibicionistas.

Sobre a aparição dos blogs, Miller (2009:93) afirma

O weblogou “blog” como quase todo mundo costuma chamá-lo, ilustra bem uma das qualidades duradouras do meio eletrônico – mudança rápida e constante. O blog emergiu na cena discursiva contemporânea em 1999 e rapidamente se tornou o genre du jour. Nos anos seguintes, o número de blogs cresceu exponencialmente, a quantidade de comentários sobre blogs em outros meios e gêneros proliferou e novas tecnologias para o blog foram rapidamente desenvolvidas e adotadas. A surpreendente aceitação e o extenso uso do blog sugeriram que esse gênero estava respondendo a uma exigência recorrente, ampla e profundamente sentida. Mas o crescimento do blog não foi simples ou linear: os blogs começaram a mudar e se adaptar, a se especiar, por assim dizer.

Miller (2009) divide a história do blog pessoal em três fases. Na primeira fase,

antes de 1999, os blogs foram usados principalmente por indivíduos familiarizados

com a Web – em geral, os programadores trabalhando na indústria tecnológica – para compartilhar informações uns com os outros. Esses blogs tiveram três traços

(38)

interesse na web e forneciam comentários sobre os links. Assim, os primeiros

blogueiros tinham de ser capazes de localizar informações na Web e codificar suas

próprias páginas HTML.

Na segunda fase, a partir de 1999, alguns sites que hospedavam blogs

(incluindo Blogger, LiveJournal e Xanga) passaram a oferecer ferramentas de fácil

editoração. Essas mudanças na tecnologia abriram o caminho para a segunda fase do blog, com um novo tipo de usuário, mais jovem e menos apto tecnicamente, com

uma nova ênfase não só no comentário pessoal em vez de links, mas também na autoexposição em vez de compartilhamento de informações.

Na terceira fase a mudança se refere à maneira como os usuários passam a acessar os blogs. Ao acessar um blog o leitor “cai” em sua entrada mais recente e pode clicar em um link para ler mais sobre o seu autor. Os blogs são acessados através de um link no perfil do usuário.

Um artigo sobre blogs de Rebecca Blood (2000 apud Miller 2009) acerca da

história dos weblogs oferece uma classificação dessa produção em dois “estilos”, baseados em grande parte no conteúdo: um “estilo-filtro” original, no qual o blogueiro

é principalmente um editor e um comentarista de links; e um mais recente “estilo -blog” de weblog mais pessoal, no qual os blogueiros dedicam-se a “um surto de

auto-expressão”. Outras fontes confirmam essa percepção de dois grandes tipos baseados principalmente em uma diferente ênfase substantiva: um tipo inicial que enfatiza o acesso à informação com links para outros sites de interesse, e um tipo

posterior que salienta uma escrita pessoal, parecida com a de um diário.

Walker (2003 apud Miller 2009) enfatiza que o padrão esperado do conteúdo é o de não ficção, embora alguns blogs sejam explícita ou implicitamente ficcionais

em variados níveis. Além disso, a organização cronológica inversa do blog proporciona um “senso de imediatismo”, conforme Blood (2000), uma característica que reforça a impressão de que o conteúdo é verdadeiro ou real.

2.2 Blog: caracterização

(39)

presença de links (conforme ) e comentários, conforme podemos observar na página do blog que nos serve de exemplificação:

Disponível em: <http://lanapw.blogspot.com/2011_10_01_archive.html/> Acesso em: 15/10/2011.

O termo blog não só designa um texto, mas também um programa e um espaço onde blogueiros e comentaristas ou leitores encontram-se. Para se ter um blog, enquanto texto e espaço, normalmente se utiliza um programa de blog (software que facilita a escrita e a publicação na web em formato de inserções textuais). De qualquer forma, o blog/programa não é condição necessária, pois o blog/espaço e o blog/texto podem ser construídos por meio de recursos convencionais para a publicação de sites.(cf.: Primo 2006 e Miller 2009)

(40)

cronologia inversa e o registro do horário das postagens geram uma “expectativa por atualizações”.

De acordo com Miller (2009), o conteúdo é importante para os blogueiros

porque representa sua liberdade de seleção e apresentação. O que a maioria dos

blogueiros acha mais atraente nos blogs é a habilidade de combinar o

imediatamente real e o genuinamente pessoal.

Komesu (2005:26) afirma que “quem está na rede é para se mostrar” e que, quanto mais chamativa for a sua página, maiores são as chances de se fazer visto na profusão de endereços globais que compõem a teia de alcance global.

Como afirmado anteriormente, de modo geral, o blog é comparado a um diário virtual, uma vez que apresenta registros frequentes de informações, inseridos por meio de posts, que se apresentam em ordem cronológica, deixando-se em

evidência na página o post mais atual. Trata-se de um tipo de produção textual

caracterizado pelo tom informal e pela diversidade de temas, podendo, portanto, expressar uma grande diversidade de idéias e opiniões.

Normalmente os textos que são disponibilizados nos blogs são de pequenas dimensões e permitem que os leitores insiram comentários. Quando isso ocorre, o autor do blog é notificado pelo gerador do blog em sua caixa de mensagens.

(41)

Disponível em: < http://www.byav.tumblr.com.br/> Acesso em: 09/10/2011.

O blog apresenta o título em destaque, que é o nome da blogueira ou o nome pelo qual ela prefere ser chamada, e algumas informações sobre seus gostos.

Com estrutura hipertextual, os blogs permitem acesso público e gratuito ao conteúdo da página online, porém o blogueiro é livre para formatar o link que desejar, desde o seu formato – um ícone, uma animação, uma palavra ou frase – até o seu conteúdo. Assim, o link torna-se uma ferramenta indispensável, já que os blogs apresentam arquivos de textos e comentários antigos em formato hipertextual.

De acordo com Elias e Ribeiro (2008), para a produção dos blogs, bem

como dos comentários que lhes são dirigidos, é preciso que leitor e escritor se situem em relação ao novo espaço, utilizando ferramentas próprias ao meio, bem como estratégias sóciocognitivo-interacionais, tendo em vista o processo comunicacional.

(42)

São muitos os tipos de blogs existentes na internet. Elias e Ribeiro (2008) citam, além do blog pessoal, o blog jornalístico e o corporativo. Este último, de acordo com Cipriani (2006), refere-se a blogs criados por empresas que estão descobrindo o poder e os benefícios que eles podem oferecer. No Brasil os blogs corporativos estão começando por meio de campanhas de marketing e se concentram entre as micro e pequenas empresas, porém ainda é pequeno o número de adeptos, se comparado ao número de blogs corporativos existentes nos Estados Unidos.

O foco de nossa pesquisa é o blog pessoal, em especial aqueles produzidos por adolescentes, e justificamos a escolha com base em Komesu (2004) para quem a profusão de textos sobre as vidas individuais dos sujeitos na internet não implica variedade de aspectos ou perspectivas, mas a raridade de modos de dizer a vida e pensar as relações com o outro na sociedade.

2.3- Blogosfera

Blogosfera é o termo que abrange todos os blogs como uma comunidade ou rede social com muitos blogs interconectados. Rodrigues (2008:52) assim define a blogosfera:

Blogosfera é o termo coletivo que compreende todos os weblogs (ou blogs) como uma comunidade ou rede social com muitos blogs densamente interconectados e na qual os blogueiros têm acesso aos blogs uns dos outros, criam enlaces para os mesmos, referem-se a eles na sua própria escrita e postam comentários em outros blogs. A ramificação de ligações também permitiu a criação de outras culturas

que incluem outros termos como “Blogtopia”, “Blogespaço”, “Bloguiverso”, “Bloguisilvânia” e “Bloguistão”.

A blogosfera fez surgir diferentes sites e serviços da internet com a intenção de fornecer ferramentas para a criação e manutenção de blogs. Os blogueiros passaram a divulgar outros blogs em suas páginas; dessa forma, créditos eram concedidos ao blogueiro que tinha seu link divulgado por outros membros, e aumentava assim a rede de internautas adeptos ao gênero. Esse contexto mudou quando empresas criaram softwares desenvolvidos para automatizar a publicação

(43)

divulgar produtos, lançar mercadorias, vender manchetes. Um dos softwares mais famoso, o Blogger, passou a disponibilizar todo tipo de recurso para a publicação de conteúdo, o que incluía a facilidade para usar recursos para montar um blog, assim como para sua publicação, sem exigir do usuário conhecimento tecnológico sobre a estrutura e o design de páginas virtuais.

Ainda segundo Rodrigues (2008), o software privilegiava uma escrita

espontânea, interativa, tendo como única exigência o usuário estar plugado em rede. A empresa influenciava a não utilização de links, e a idéia que foi adotada por

milhares de internautas apresentou controvérsias na comunidade blogueira original, que passou a acusar os blogs gerados por softwares de serem simplesmente diários virtuais e não blogs de verdade, devido à ausência da característica principal dos blogs: os links.

Também anteriormente, os blogs não disponibilizavam o recurso de inserir comentários, o que foi feito por hackers. Eles criaram programas de comentários aplicáveis aos sistemas de publicação dos blogs. Esse processo de comentários em blogs significou a democratização da publicação, pois possibilitou aos leitores postarem comentários sobre textos lidos.

(44)

Disponível em: <http:// www.crivallias.com.br/?gclid=CK6_vZWFma4CFdCP7QodZFMRHw> Acesso em 12/01/2012.

A autora do blog elenca os eventos de moda que ocorrem semanalmente e enaltece as marcas, possivelmente as que lhe são convenientes, posando para fotos com as peças citadas (na imagem, uma sacola de papel com a marca Ateen

( )), além da propaganda explícita na legenda abaixo da figura ( ). Em todo o blog, há postagens e comentários de coleções de moda, geralmente associando os conselhos às marcas.

(45)

Disponível em:< http:// www.crivallias.com.br/?gclid=CK6_vZWFma4CFdCP7QodZFMRHw> Acesso em: 22/09/2012.

2.4 - O perfil em blogs

Com o propósito de apresentação, o autor do blog produz seu perfil. No dicionário de Língua Portuguesa Aurélio (1986), perfil é definido como:

1 contorno de uma pessoa vista de lado: um perfil grego. 2 o

aspecto ou a representação gráfica dum objeto que é visto só de um lado 3 contorno, silhueta: o perfil das montanhas4 descrição de uma

pessoa em traços mais ou menos rápidos

No dicionário Houaiss (2001), o perfil é:

2 delineamento de um rosto visto de lado 2 contorno gráfico de uma figura, de um objeto, visto apenas por um dos lados 3 linha de contorno de qualquer coisa apreendida numa visão de conjunto <o p. da montanha era imponente> 4 descrição de uma pessoa em traços

que ressaltam suas características básicas <o jornalista traçou um p. inteligente do escritor> 4.1 informação concisa e informal sobre a

vida de alguém <a imprensa esboçou um p. biográfico do fugitivo> 5

(46)

apto para determinado posto, encargo ou responsabilidade <perfil de líder> (...)

Essas acepções indicam a finalidade do perfil, no caso do perfil em blog, representar por meio de palavras aquele que está por trás da escrita. No plano da interação, conhecer o outro, aquele que nos dirige a palavra, faz-se essencial para a contextualização, para a atribuição de sentido. Eis a razão pela qual escolhemos o perfil como objeto de análise.

Podemos dizer ser o perfil um tipo de texto biográfico, mas não uma biografia, visto ser esta uma composição superdetalhada de vários textos biográficos (facetas, episódios, convivas, pertences, legados, o feito, o não-feito). Assim, enquanto o biógrafo se detém em um grande conjunto de inputs, o autor do perfil se

concentra em apenas alguns aspectos daquele que se retrata.

Perfis aparecem ocasionalmente em revistas e jornais com o intuito de melhor apresentar uma pessoa. Normalmente quando apresentado o “perfil” de um entrevistado,por exemplo, o texto se faz de maneira sucinta, com a finalidade de apresentar o entrevistado, seus interesses, alguns aspectos de sua aparência, gostos, passatempos ou aquilo que a pessoa deseja mostrar no momento.

Na versão impressa ou digital, a revista Veja, publicação da Editora Abril,

(47)

Referências

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