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CONSIDERANDO A PSICOLOGIA AMBIENTAL: UMA REVISITAÇÃO DE OSKALOOSA

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CONSIDERANDO A PSICOLOGIA

AMBIENTAL: UMA REVISITAÇÃO

DE OSKALOOSA

Prospecting in Environmental Psychology: Oskaloosa Revisited1

ROGER G. BARKER

Tradução: Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, do Departamento de Projeto, Expressão e Representação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de Brasília.

H

á 35 anos atrás, Herbert F. Wright e eu fundamos a Midwest Psychological

Field Station, em Oskaloosa, Kansas, para conduzir nos pesquisas na área científica

agora conhecida como psicologia ambiental; uma pesquisa paralela estava a ser conduzida na cidade de Leyburn (North Yorkshire, Inglaterra). Os objetivos da Station

eram descobrir e descrever os comportamentos e as condições cotidianas de vida das crianças da cidade, e investigar suas inter-relações. Nós tivemos algum sucesso nesses esforços, apesar de dificuldades inesperadas, e também fizemos descobertas que nos surpreenderam. Artigos mais detalhados sobre nossos projetos de pesquisa já foram escritos e divulgados em outras publicações, e não serão revisados aqui. Em vez disso, eu dedicarei esse capítulo à discussão das dificuldades e descobertas que são relevantes para a psicologia ambiental atual.

40.1. A PSICOLOGIA AMBIENTAL DE UMA NOVA CIÊNCIA.

Wright e eu fomos alunos de Kurt Lewin, e seus ensinamentos deveriam ter nos advertido acerca dos perigos que estariam em nosso caminho, ao nos aventurarmos num novo território. De acordo com Lewin, uma nova situação psicológica se dá quando (1) os caminhos - as ações - que levam aos objetivos não são conhecidos; (2) a valência de cada ação é simultaneamente positiva e negativa; e (3) o campo de percepção é instável ( Lewin, 1936b). Cada uma dessas propriedades tem suas conseqüências inevitáveis para o comportamento; no nosso caso nós deveríamos ter esperado (1) que o progresso na direção de nossos objetivos não seria parcimonioso; falsos passos e golpes de sorte ocorreriam; (2) que haveria conflitos, tensões, vigília e hesitações com respeito a procedimentos particulares; (3) e que os planos de pesquisa mudariam por força de observações aparentemente sem importância, assim como experiências eventuais.

1 Barker, R. G. (1987). Prospecting in environmental psychology: Oskaloosa revisited. Em Daniel Stokols

& Irwin Altman, Handbook of Environmental Psychology, cap.40, pp. 1413-1432. Malabar, Florida:

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Essas teorias tiveram implicações práticas para a nova disciplina da psicologia ambiental; o nome do jogo para boa parte dela, no futuro próximo, é a pesquisa de descoberta (discoveryresearch), isso é: a exploração e a prospecção de um novo campo

de investigação. De acordo com as teorias e, isso significa que o projeto e os métodos de boa parte de sua pesquisa não pode ser antecipado detalhadamente. Infelizmente, contudo, as agências de financiamento de pesquisa e as comissões de avaliação, de um modo geral, colocam uma grande ênfase sobre metodologias plenamente estabelecidas assim como sobre ele conceitos e teorias conhecidas e bem firmadas. Isso, efetivamente, elimina a pesquisa de descoberta de sua consideração. São necessários esforços urgentes, portanto, para tornar clara a diferença entre a pesquisa de descoberta e aquilo que nós podemos chamar a pesquisa de verificação, isto é: projetos de pesquisa que replicam, testam, corrigem, definam, e elaboram desenvolvimentos prévios e descobertas já havidas. Nesses casos, as direções metodológicas e teóricas que se mostraram efetivas ou inefetivas são, de modo geral, muito bem conhecidas, e é importante para os membros de comissões avaliadoras saber se os aplica antes em busca de recursos e estão lucrando a partir de tentativas e erros anteriores, antigos, sedimentados.

Mas a requisição de determinado detalhes de procedimento para a pesquisa de descoberta não é apenas fútil, mas também contraditória - e contra-indicada. Esses detalhes são fúteis por que os métodos consolidados (tried-and-true) podem não ser

consolidados para novas situações, e são contra-indicados se eles são vistos pelos pesquisadores em busca de recursos como sendo uma fantasia burocrática - ou, de modo ainda menos feliz e inovador, se eles forem tomados rígida e seriamente. Nesse último caso a nova pesquisa é fundada em alicerces antigos, que tem determinam a sua direção e posicionamento. Tempo e energia preciosos serão forçosamente utilizados somente no esforço de escapar dessa série limitação.

Critérios inteiramente diferentes desses adotados para a pesquisa de verificação devem ser empregados na pesquisa de descoberta. Aparentemente, pouca reflexão tem sido empregada no esclarecimento desses critérios, e linhas-guia apropriadas não têm sido formuladas. Em conseqüência disso, as comissões de avaliadores de projetos de pesquisas e de artigos tendem a medir todos os projetos de pesquisa em termos dos padrões solidamente estabelecidos na pesquisa de verificação. Num caso recente e que chamou a minha atenção, os membros de comissão de avaliação eram direcionados a considerar seis critérios:

1- a relação dos achados com questões sociais relevantes;

2 - a familiaridade do pesquisador-candidato recursos com os detalhes de pesquisas prévias sobre o assunto;

3 - uma clara, completa, e precisa descrição do delineamento da pesquisa e da metodologia de trabalho;

4 - qual a utilidade do produto esperado para gestores públicos, profissionais e outros pesquisadores;

5 - a qualificação do pesquisador-candidato;

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O projeto no qual os referidos critérios deveriam ser aplicados era uma investigação pioneira feita desde a perspectiva da psicologia ambiental acerca de uma instituição que havia sido objeto de num grande volume de pesquisas - a maioria inconclusivas - feitas por psiquiatras, sociólogos, sociólogos, antropólogos, e outros profissionais. Para o meu entendimento, o critério crucial entre aqueles prescritos para a comissão de avaliador espera o critério nº 5: a qualificação do pesquisador-candidato. O projeto foi rejeitado por todos os demais critérios, menos, exatamente, com base nas qualificações do pesquisador candidato.

Os padrões para a avaliação da pesquisa de descoberta devem ser tão claramente formulados quanto aqueles para a pesquisa de verificação. Um passo na direção de um conjunto de critérios dessa ordem foi dado por Wicker (1985), dirigido, então, a uma tarefa para a psicologia ambiental: reestruturar esses ambientes (os comitês de avaliação) onde as candidaturas de pesquisas são avaliadas, através da introdução de 2 grupos de critérios. O grupo de critérios associados ao "jogo" na pesquisa de verificação, e outro conjunto de critérios quando se trata de pesquisa de descoberta.

Felizmente, para Wright e para mim, os comitês de avaliação nos anos 1940 eram uma novidade para todos, inclusive para os seus participantes. Desse modo, vários lances de sorte (e vários passos falsos) foram dados, e eram muito mais comuns do que são hoje. Além disso, meu conhecimento da organização de alguns desses comitês pioneiros sugere que seus membros eram muito mais cientistas empreendedores - com uma grande experiência e com uma atitude de valorização de novos temas, de novos começos -, do que os membros atuais, mais burocratizados. Qualquer que seja a razão, seja por um golpe de sorte ou por uma compreensão brilhante de novos temas, aquela boa notícia de que o nosso projeto original havia sido aprovado nos deu, reconheço hoje, uma oportunidade de enorme alcance e liberdade.

40.2) DESAPRENDENDO OS ANOS 1940.

De fato, não éramos inteiramente livres. Estávamos limitados pelo espírito da época (zeitgeist) da psicologia na qual nós havíamos sido treinados, e esse treinamento

fora feito quase exclusivamente em laboratórios e clínicas. Nós esperávamos descobrir quais seriam os ambientes onde uma pequena cidade como Oskaloosa lidaria com suas aproximadamente 100 crianças - em suas ruas, em seus consultórios de dentistas, em suas lojas, em suas áreas livres, em suas igrejas, nas tropas de escoteiros, e assim por diante. Pretendíamos descrever como esses ambientes tratavam as crianças e davam as suas respostas. Os experimentos de laboratório e os procedimentos clínicos não se encaixavam na pesquisa, não nos ajudavam e, ao contrário, eles eram um estorvo para os nossos objetivos. Nós tínhamos realmente muita coisa para desaprender.

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1 - o comportamento humano é uma propriedade única de pessoas individuais; quaisquer generalizações requerem agregações estatísticas de atributos de comportamentos particulares assinalados a determinadas pessoas;

2- o comportamento de uma pessoa é melhor estudado através de sua interrupção, de intervenção ao longo de sua ocorrência, de rearranjo de suas partes componentes de acordo com as preocupações que os investigadores possuem, através de experimentos e, testes, questionários e entrevistas;

3 - o comportamento pode ser observado de forma mais adequada si nosso fomos precisos quanto à delimitação de segmentos ou aspectos desse comportamento, e pela restrição das descrições acerca do que é observado a dimensões predefinidas;

4 - o ambiente físico e social do comportamento humano é algo amplamente e não-estruturada, probabilístico, e passivo; as pessoas organizam esse ambiente de acordo com os esquemas que trazem em si mesmas, que portam; a caixa-preta do comportamento faz ordem ao caos, o tira ordem do caos, através de um sistema que integra aspectos sensoriais, receptivos, cognitivos, motivacionais e motores, que é a chave para a compreensão dos princípios de ordem, a estabilidade e preditividade daquilo que seja o esteja no comportamento humano.

5 - o ambiente do comportamento humano se localiza no espaço: tem extensão e coordenadas.

6 - coletar dados sem uma fundamentação teórica que direcionasse a sua busca é uma atividade fútil.

Ao contrário de tudo isso, nós descobrimos o seguinte:

1. O comportamento humano ocorre tanto numa forma extra-individual quanto numa forma individual. Unidades comportamentais tais como lojas ou lanchonetes geram um característico padrão de comportamento que é independente de determinadas pessoas que deles participem. as características desse comportamento, os trens os presos cursos envolvidos podem ser determinados "em bloco", sem referência a pessoas em particular.

2. As inclusões experimentais e clínicas removem do escrutínio científico um dos atributos mais fundamentais do comportamento: destroem sua estrutura natural ( que existe sem a participação de investigadores).

3. Relatos em forma de narrativas, escritos em prosa ou linguagem coloquial podem se excelentes representações simbólicas do comportamento espontâneo, autêntico, das pessoas.

4. Boa parte da ordem, estabilidade, e previsibilidade do comportamento humano provém do ambiente ecológico: dos estruturados, homeostáticos, coercivos

behaviorsettings vividos pelas pessoas.

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6. As teorias podem cegar assim como guiar; o melhor preservativo para esse tipo de cegueira é a informação, dados objetivos; dados recolhidos sem o benefício de teorias - tanto quanto for possível - em expedições ou em estações de Campo, bem distantes de laboratórios, clínicas, e think tanks. Um ou mais desses estorvos perturbam

os nossos esforços desde a década de 1940, e serão considerados por nós mais adiante. 40. 3) OS VEIOS ESSENCIAIS: Eépsilon e Epsi

Em 1940, tínhamos os nossos olhos vendados, e a única forma que imaginávamos para estudar o comportamento cotidiano de determinadas crianças era através da descrição do que faziam e em que situações se metiam. Esse esforço foi recompensador de um modo que não antecipamos; nos levou por meio de pequenas descobertas a uma descoberta de maior importância: a de que, na região da psicologia ambiental, dois veios essenciais e ortogonais entre si se cruzam no comportamento cotidiano.

Nós, de imediato, nos deparamos com um problema técnico - e, depois, com problemas em nossa teoria à época. No começo de todo o nosso trabalho, nós nos deparamos com o fato de que, depois de quase 100 anos de desenvolvimento, a psicologia científica não nos oferecia nenhum procedimento ou conceito ou uma linguagem técnica adequada para descrever seus fenômenos tais como ocorriam intactos fora dos laboratórios, clínicas, e das situações de teste e de entrevistas onde as pessoas tinham o seu pleno domínio - e não estavam sob o domínio de seus examinadores. É como se os botânicos não tivessem outra forma de descrever as plantas que encontram na natureza a não ser que as tragam para o laboratório e as cortem em partes de acordo com as decisões do investigador. No entanto, ao iniciarmos a investigação "do zero" nós temos a vantagem (e a desvantagem) de uma nova situação, em que nos obrigamos a estar muito alertas, a ser flexíveis, e contar com golpes de sorte - ou de azar. Por qualquer que seja a razão, e nossos estudos no fluxo de comportamento individual nos levou ao algumas importantes descobertas: (1) os relatos em forma de narrativa na linguagem popular oferecem excelentes descrições codificadas dos comportamentos tais como ocorrem; (2) a psicologia ambiental é uma disciplina esquizóide, que ele envolve duas ciências incomensuráveis: uma que se preocupa com o ambiente ecológico

Eépsilon e outra que se preocupa com o ambiente psicológico e Epsi; (3) o ambiente

ecológico Eépsilon inicia, organiza, desfecha e estabiliza boa parte do comportamento

humano.

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ajuste acontece porque a estrutura de uma narrativa (a sucessão de palavras, o conteúdo de frases e sentenças, sua temporalidade) é isomórfica com a estrutura do fluxo de comportamento - ou a sucessão de eventos num dia de vida de uma pessoa, seus movimentos e suas ações, envolvendo objetivos de curto ou de longo prazos. Devido a esse isomorfismo, o registro narrativos, por si mesmo, num certo grau a estrutura do comportamento que também é diretamente percebida pelo observador. Nós denominamos esses relatos narrativos como specimen records; nós os consideramos um

verdadeiro "achado", o primeiro golpe de sorte em nosso empreendimento de pesquisa. Toda a pesquisa subseqüente demonstraria que esses relatos teriam usos práticos e também para a nossa própria metodologia de pesquisa.

Depois que os relatos eram registrados, o problema de identificar e descrever suas partes com precisão e confiabilidade permanecia. Nós buscamos unidades do fluxo de comportamento que o ocorriam sem nenhum estímulo ou informação provinda de nós, intrusos e observadores. As teorias e livros textos naquela época não nos davam nenhuma ajuda; eles que não nos ajudavam a identificar os componentes do comportamento que pudessem ser compreendidos em analogia com organizações - ou com organismos, seus sistemas somáticos, seus órgãos, suas células, se é que essa analogia pode ser evocada. Havia algumas teorias (estímulo, ação, reflexo), mas não havia procedimentos para que pudéssemos identificar a estrutura do comportamento que ocorria em lugares como as salas de aula, as farmácias, as ruas. Por outro lado, a literatura nos oferecia um número enorme, sem fim, de tesserrae comportamentais, de

“blocos” do comportamento cotidiano, peças do fluxo de comportamento que eram, afinal, selecionados ou criados por investigadores. Tratava-se de ações que duravam um minuto, e isolados no tempo; de respostas selecionadas a perguntas elaboradas feitas por pesquisadores; de uma multidão de fragmentos definidos como estímulos ou como coisas sem sentido, soltas; de episódios de solução de problemas - frações isoladas em laboratório, todos prescritas por investigadores. Nesse universo fragmentado não nos ajudava em nada; na verdade eles surgiam da destruição daquilo que nós buscávamos: unidades comportamentais livres de investigadores.

Não é um grande mistério por que a psicologia tem lidado principalmente com frações de comportamento (behavior tesserae) mais do que com sua estrutura intacta,

íntegra, desde o começo, a psicologia científica esteve primariamente preocupada com os processos subjacentes ao comportamento: como nós percebemos, como nós aprendemos, como nós lemos - todas as caixas pretas por detrás do que acontece na superfície. Manipulações do ambiente e da pessoa são essenciais para esse tipo de pesquisa. Poços profundos são escavados sem que compreendamos o que acontece na superfície sem entender as estruturas emergentes. Apesar de não haver nem um mistério, é, de toda forma, uma infelicidade que a psicologia tenha dado tão pouca atenção a essa evidência fundamental para a ciência: a paisagem exposta dos comportamentos. Nesse ambiente intelectual, tratava-se de uma oportunidade pioneira para nós, e ainda permanece assim, para a psicologia ambiental.

O registro de specimen comportamentais nos habilitou a identificar um grande

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caminho de nossa investigação. Num primeiro momento não percebemos o significado dessa bifurcação, e prosseguirmos, supondo que os dois caminhos com que nos defrontávamos eram rotas alternativas para o mesmo veio disciplinar da psicologia ambiental. Mas nós estávamos errados. Nós descobrimos, após muita exploração, ao longo da qual nos sentimos confusos e desencorajados, que um caminho levava ao ambiente ecológico, Eépsilon - ou as partes do contexto físico que são independentes no

sistema psicológico das pessoas, mas que afetam esse sistema em, portanto, afetam o comportamento. Um outro caminho levava ao ambiente psicológico, Epsi - a parte do

ambiente que envolve o sistema psicológico das pessoas com efeitos diretos sobre o comportamento. Nós descobrimos também que esses ambientes são o material de duas ciências que nada têm em comum entre si; os conceitos e as leis do um ambiente ecológico - Eépsilon - são tão diferentes dos conceitos e leis do ambiente psicológico -

Epsi - quanto as leis da gravidade e que estão implicadas na perda de um lápis de

criança em uma fenda no piso da escola são diferentes das leis da percepção que tornam difícil encontrar esse lápis perdido. Isso nos fez entender que a psicologia ambiental não era uma ciência unívoca, mas - pelo menos para o presente - uma tecnologia empírica. Foi aonde as unidades de comportamento nos levaram.

40.3.1) EPISÓDIOS DE COMPORTAMENTO

Buscando apoio nesses bancos de dados formado pelos registros de specimen

records e da teoria de Kurt Lewin de ações molares (ou uma escala de ações que

envolvem relações sociais como uma nova escala da psicologia do indivíduo), nós identificamos uma unidade básica que denominamos "episódio de comportamento" -

behavior episodes (Barker & Wright, 1955; Wright, 1967). Os episódios de

comportamento são ações dirigidas a objetivos. Elas são identificadas de forma independente de seu conteúdo. Por exemplo, o dia típico da garota Mary Ennis continha 969 dessas ações molares em suas 14 horas e 27 minutos; esses episódios incluíam: "escovação do cabelo", "busca do lápis" e "observação da professora reclamando com Shirley" (Barker, Wright, Schoggen & L. Barker,1978). Nós acreditamos que os episódios de comportamento são estruturalmente similares com o fluxo do comportamento assim como células que compõem um organismo. Como as células, eles têm partes interiores, e formam as partes internas que estruturas comportamentais ainda mais inclusivas. Os episódios de comportamento apresentam vários atributos; podem ser longos ou curtos, contínuos ou intermitentes, sobrepostos e não sobrepostos, sociais e não-sociais; nos episódios sociais, o comportamento envolvendo associados pode ser dos tipos submisso, dominador, zeloso, agressivo, resistente, escapista, e assim por diante.

Nós descobrimos que determinados episódios de comportamentos são iniciados, monitorados, e analisados por fatores dos ambientes Eépsilon e Epsi (Barker e

colegas,1961; Schoggen, 1963). O episódio "escrever no caderno de rascunhos" retirado do registro de specimen de comportamentos de Clifford Matheus, de 8 anos de idade, no

behavior setting Leyburn Primary School, é um exemplo dessa combinação,

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Clifford através da senhorita Culver, sua professora; ela instigou o episódio comportamental "crianças, é hora de pegar os seus cadernos de rascunho"; ela monitora ou esse episódio que ela o finalizou após vinte e três minutos com o episódio "já escreveram o bastante". Esse é um episódio é essencialmente ecológico - Eépsilon -; as

causas todas recuam até fatores impessoais e chega-se à senhorita Culver e ao programa de ensino estabelecido para a sua classe (Lower Juniors Academic Class, a referência

imediatamente mais abrangente), e ao diretor dessa escola primária (a referência "dois passos" acima, mais abrangente), ao comitê curricular da secretaria de educação do município, que criou esse currículo e o programa de ensino que a professora aplica (a referência "três passos" mais abrangente). Todas essas referências além da senhorita Culver eram desconhecidas pelo pequeno Clifford. Para ele, escrever em seu caderno de rascunhos eram mandato do ambiente ecológico - Eépsilon -; sobrepondo-se com ele

havia os pequenos episódios iniciados, monitorados, e finalizado os dentro do ambiente psicológico - Epsi - do próprio pequeno Clifford.

Há, por exemplo, o episódio de comportamento "assistir a senhorita Culver lidar com Philip Butley" ("Clifford assistiu a senhorita Culver dirigir-se ao fundo da sala e falar severamente com o garoto Philip Butley; ela passou a mão à sua cabeça ordenando que ele sentasse e ficasse quieto"). Em outros episódios na dimensão Epsi eram "limpar

o nariz", "relaxar, espreguiçar e brincar com o lápis". Esses são episódios Epsi; deles

são autônomos em Clifford (uma pessoa P) e pertencem a seu ambiente psicológico particular P-Epsi - isto é, envolve as suas percepções imediatas, as suas cognições, as

suas motivações, e seus processos motores. Esse é o domínio de seu sistema psicológico, seu específico "P-Epsi".

É importante compreender que essa PEpsi está envolvida tanto em episódios

Epsi quanto em episódios Eépsilon. Em ambos os casos, o comportamento é

determinado pelo sistema psicológico: B = f(PEpsi); mas para episódios Eépsilon, o

sistema psicológico se torna momentaneamente subordinado ao controle pelos sistemas do ambiente ecológico: PEpsi = fEépsilon. isso o não é o caso para episódios Epsi:

PEpsi = fEpsi. O primeiro caso ocorre quando a senhorita Culver, de acordo com o

programa do setting Lower Juniors Academic Class, tal como estabelecido pela

comissão de currículos educacionais, instiga o episódio "escrever no caderno de rascunhos", monitora-o, e ordena o seu final. O segundo caso ocorreu para Clifford nos episódios "assistir a senhorita Culver lidar com Philip Butley", e "assoar o nariz, relaxar, espreguiçar-se, e brincar com o lápis". Essas foram ações autônomas no pleno domínio de Clifford.

Nós estávamos comprometidos com a elaboração de explicações psicológicas acerca do comportamento das crianças de Oskaloosa – e ficamos realmente muito surpreendidos ao descobrir a importância do ambiente ecológico na determinação de seu comportamento. Nos deparamos, por exemplo, com o fato de que 45% de seus episódios de comportamento eram iniciados em ambientes ecológicos Eépsilon e 17% eram

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eram iniciados em Eépsilon, e 25% eram finalizados nesses ambientes (Schoggen,

Barker, & Barker, 1978).

40.3.2) OBJETOS DE COMPORTAMENTO

A sucessão de episódios de comportamento que ocorrem ao longo de um dia na vida das pessoas envolve uma variedade de objetos, tanto humanos quanto não-humanos. Mary Ennis, nos exemplos dados anteriormente, desempenhou o comportamento de cuidar de seus cabelos, de lidar com seu lápis, de lidar com sua professora, e de lidar com sua amiga Shirley. Esses são distintos objetos de

comportamento (Barker & Wright, 1955). Registramos 571 objetos diferentes, assim

como 1882 transações envolvendo esses objetos ao longo de um dia na vida de Mary Ennis, uma criança. Por exemplo: 33 tipos distintos de alimentos - incluindo 2 nabos - formam os objetos de 2% das transações comportamentais realizadas por Mary; ela se envolveu com 97 pessoas diferentes (inclusive 11 mulheres adultas e 4 homens adultos), que participaram de uma fração desses comportamentos, e que foram os objetos de 33% de suas transações comportamentais; tivemos ainda 7 animais - incluindo um verme – que foram os objetos de 2% das transações de Mary, e 23 brinquedos (inclusive 3 bonecas) que foram objeto de 5% de suas transações comportamentais (Barker e cols., 1978).

Os objetos de comportamento são pontos de interseção observáveis entre os dois ambientes de uma pessoa: o ambiente ecológico Eépsilon e o ambiente psicológico

Epsi. Eles são as rotas pelas quais a relação PEpsi = f(Eépsilon) ocorre. Em termos do

pensamento de Kurt Lewin, esses objetos são partes da "casca externa" (foreign hull) do

ambiente psicológico Epsi (Lewin. 1936a) e, em termos do pensamento de Brunswick,

eles são os objetos distais do arco AOA- Ambiente-Organismo-Ambiente (Brunswick,

1955 ). Há inúmeros objetos nas cercanias de Mary, mas apenas alguns deles são seus objetos de comportamento. São também parte de seu ambiente pessoal, psicológico, Epsi. Esses objetos possuem diferentes propriedades nos dois ambientes. Dentro do

ambiente psicológico Epsi de Mary Ennis, o lápis possui as propriedades de sua

utilidade (com um lápis, ela sabe que pode escrever enigmas para sua mãe) e de sua "perdibilidade" (lostness); dentro de seu Eépsilon, o lápis possui as propriedades do

peso e de sua forma, ambas aplicadas no acidente de sua perda na rachadura do chão. Tanto o ambiente ecológico Eépsilon quanto o ambiente psicológico Epsi se

estendem além de sua interseção nos objetos de comportamento, e envolvem outros objetos e relações que não são revelados pelos registros de specimen comportamentais.

A insignificância dos objetos de comportamento no contexto do sistema psicológico de uma pessoa é um problema psicológico que nós não exploramos. Seu lugar no ambiente ecológico é um problema especial para a psicologia ambiental, que nós investigamos um pouco mais.

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sobre ela, para que ela o buscasse. O impulso de fazer isso provinha somente de Mary. Nesse sentido sua ação era uma ação autônoma. Outros objetos de comportamento são intrusivos, e agem através do corpo (soma) das pessoas. Um exemplo disso é o

escorregador, um brinquedo no playground da escola, onde meus sentava e escorregava para o chão sem esforço de sua parte. Mary decidiu brincar no escorregador (um episódio em pleno domínio de Epsi) e quando ela "se deixou levar", sentada no alto do

corredor, ela colocou-se sob o efeito de forças ecológicas atuando diretamente sobre seu corpo: a lâmina lisa e inclinada, quase sem atrito, e a gravidade. Durante esse processo, o ambiente psicológico Epsi de Mary foi afetado. Mas não através de mecanismos

psicológicos. Outros exemplos são o da casca de banana que pode fazer uma pessoa escorregar feio e se estatelar no chão - ou ainda o xerife quanto algema um prisioneiro. E temos ainda os casos de outros objetos do comportamento que levam as forças ecológicas a exercer demandas sobre as pessoas através de mecanismos psicológicos. Paul Schoggen ( 1963, pp. 42- 69 ) denominou essas forças "unidades ambientais de forças" (environmental forces units).

O cachorro de Mary é desses objetos de comportamento. Ele mesmo iniciou o episódio “brincando com o cachorro de estimação” ao mordiscar Mary até que ela interrompesse outra brincadeira – Mary brincava na areia - e começasse a acariciá-lo, esfregando suas orelhas. Ele continuou a demandar sua atenção, tocando nela com as patas sempre que suas carícias declinavam, até que, satisfeito, retirou-se, correndo para outro lugar. A senhorita Culver também fora um outro objeto de comportamento no episódio “escrever em um caderno de rascunhos”, do garoto Clifford. Mas havia uma importante diferença. A senhorita Culver era um componente de uma entidade ambiental da mais ampla: a Lower Juniors Academic Class. Ela era seu agente que estava submetida ao seu programa comportamental. O cachorro de Mary, por outro lado, era um componente independente, sem sujeição a nenhuma unidade superior / super-ordenada, do ambiente.

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“deixar-se levar” pela gravidade desde o alto da rampa, a física estaria a colocar um terrível problema para si mesma, pois (a) a gravidade e (b) a motivação de Mary são coisas mutuamente incomensuráveis. O físico somente pode propor uma estimativa probabilista de que Maria subirá ao alto da rampa do escorregador e entregar-se-á às forças físicas que operam a partir desse ponto; e o psicólogo apenas poderá fazer uma estimativa probabilística de que haverá, de alguma forma, um escorregador disponível para que Maria suba ao alto de sua rampa e escorregue (Barker, 1968).

As ligações entre sistemas mutuamente incomensuráveis são muito comuns. A bomba de gasolina, a mangueira e a torneira de pressão que usamos para abastecer nossos carros nos postos de combustível, conectam sistemas mecânicos (bombas e encanamentos) que operam de acordo com as leis da física, da química e da eletricidade, em conformidade com um sistema de trocas sociais ou de negócios (o posto de gasolina) que, por sua vez, opera de acordo com regras e leis industriais, econômicas, e políticas. A natureza do ordenamento do posto, o tipo de demanda e do ingresso de informação que afetam o funcionamento do posto de gasolina, assim como a octanagem e a quantidade de chumbo que existem no combustível, afetam a operação dos motores dos automóveis que se abastecem, tanto quanto a natureza do ordenamento, do tipo de demanda e do ingresso de informação da professora - a senhorita Culver - afetam o comportamento do pequeno Clifford. O aparato constituído pelo conjunto bomba-mangueira-torneira de pressão situados no limite do atendimento ao cliente, é o equivalente de um outro objeto de comportamento, a professora de Clifford, no limite de seu sistema psicológico. No caso desse objeto, a professora de Clifford, temos uma longa cadeia de regressões de influências, até sistemas mais envolventes: desde um singelo aparato de bombeamento de combustível até o ambiente industrial-econômico-e-político, perpassando o posto, os fornecedores, as companhias petroleiras, as agências governamentais.

É útil distinguir entre duas partes do ambiente ecológico. O ambiente ecológico

Eépsilon consiste de em objetos de comportamento acoplados no limite do sistema

psicológico Epsi, e eventualmente acompanhados por outras entidades próximas desse

limite - mas apenas a "um passo" de tocarem o sistema psicológico da pessoa. O ambiente psicológico Epsi imediato de Clifford, quando do episódio "escrever no

caderno de rascunhos", envolve a senhorita Culver e o programa comportamental estabelecido pelo setting Lower Junior Academic Class (que é registrado em planos de

aula e cronogramas diários e horários, oficiais). O remoto ambiente ecológico Eépsilon

inclui todas as outras entidades Eépsilon, como o diretor da escola e a comissão de

currículos, no caso de Clifford. Essa distinção é importante porque o ambiente ecológico Eépsilon pode ser precisamente identificado, seus limites determinados, e sua

extensão, medida. Ele é co-extensivo com o behavior setting circunjacente que

consideramos. O remoto Eépsilon é eventualmente se estende sem limites claros, sobre

sua vizinhança espaço-temporal.

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devotamos a maior parte de nosso esforço à exploração desse último ramo, ao mesmo tempo em que reconhecíamos a importância de ambos para a nova disciplina.

40.4) O COMPORTAMENTO ESPECÍFICO AO LUGAR.

"Na medida em que as pessoas se movem de um lugar para o outro, seu comportamento se modifica de acordo com isso. O comportamento que ocorre em um

lugar pode estar fora de lugar em outro. Essa especificidade do comportamento com

relação AO LUGAR é um fato fundamental dar psicologia ambiental... (isso) requer

uma explicação”. (Russel & Ward, 1982, página 652 ).

A especificidade do lugar é um "fato fundamental" do comportamento em Oskaloosa. Nós identificamos 884 lugares em áreas públicas da cidade com padrões de comportamento distintivos. No começo não tivemos dificuldade em nos darmos conta desse aspecto da cidade. Nós testemunhava uns que o café Sunflower era o lugar onde Tom, Dick, e Helen estavam quando queriam comer, beber ou estar juntos; Nós vimos o encontro anual da Igreja e a classe de música do segundo grau como lugares onde outras necessidades de determinadas pessoas eram satisfeitas. A equação B = f(PEPsi) parecia

contabilizar muito bem o relacionamento entre lugares e o comportamento das pessoas que se reuniam neles. A similaridade e a variabilidade restrita dos atributos pessoais (P) e das oportunidades (EPsi) pareciam explicar a similaridade do comportamento

desempenhado pelas pessoas presentes nesses lugares. A nossa firme lealdade às nossas raízes no campo da psicologia impediu que nós compreendêssemos o que estava diante de nós, o que a cidade nos dizia diariamente: que a psicologia não era tudo, nem suficiente; que o Eépsilon era a fonte da especificidade do comportamento em muitos

desses lugares. Nós finalmente descobrimos que o Eépsilon operava de duas maneiras

desses lugares: ao selecionar as pessoas apropriadas para habitar os lugares, e ao regular seu comportamento nesses lugares.

O Eépsilon seleciona os habitantes dos lugares de duas maneiras: através de

compulsivas rotinas de pressão (press-gangs) e de porteiros (gatekeepers). Praticamente

cada edição do jornalzinho local relatava a ação desses grupos de pressão; por exemplo: "... notícias do Juízo do Condado - Corte do distrito de... Estado do Kansas

versus NG ( nome dado, ou name given), dano criminoso a propriedade particular... Foi

ordenado pagar uma indenização de US$200; foi multado em US$100, sentenciado a 90 dias na cadeia, e condenado a pagar os custos judiciais e US$40.”

Se nós traduzirmos isso, essa breve nota de jornal significa que esta pessoa NG foi mandada para a cadeia por uma corrente de influências (mensagens e ações) com o

Eépsilon encapsulando o código criminal estadual, o juiz do distrito, o delegado e a

cadeia municipal. Essa rotina de pressões (press-gang) combina procedimentos, envolve

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do sistema psicológico de NG (PNG*EPsi) foram superadas se controladas por aquelas

forças de Eépsilon. Esse direcionamento de pessoas entre lugares pelo meio de

compulsiva as rotinas de pressão (press-gangs) não é, de forma alguma, algo inusual em

Oskaloosa. De fato, cerca de um terço dos lugares públicos da cidade estava associados a rotinas de pressões (press-gangs). Isso incluía muitos lugares conectados com as

escolas com as agências governamentais. Por exemplo, se o garoto Ben Hutchins, de sete anos de idade, não estiver presente na Aula de Música do Segundo Grau, esta informação será imediatamente passada ao professor responsável por essa Aula, que fará a busca em toda a sala, e nas salas adjacentes, da escola; se não encontrar o garoto, o professor deverá informar ao diretor da escola, responsável por investigações mais amplas. O diretor certamente informara a ausência do aluno aos seus pais. Caso seus pais também não saibam onde o garoto se encontra, isso demandará uma busca ainda mais ampla e, se necessário, com a convocação da polícia. Apesar de o garoto Ben sempre ter dito seus pais que ele detestava as aulas de música, e que procuraria, por todos os modos legítimos, fugir dela, ele ainda assim comparecia a essas aulas, sob a pressão de seus pais, e em atenção ao próprio professor responsável; o aluno Ben desempenhava seu papel na sala de música sem grande entusiasmo, mas sob o olhar alerta de seu dedicado professor. A diferença entre a cadeia municipal e aula de música é que os prisioneiros são organizados por ações do tipo "rotina de pressões" (

press-gangs), enquanto que esse modo de participar das aulas parece ser verdadeiro para

alguns poucos dos alunos de música. Para a maioria destes, B = f(PEpsi), o que explica

a sua presença pessoa entusiástica participação: eles estão envolvidos, e desejam participar das aulas. Não há dúvida de que existe uma rotina de pressões (press-gang)

subjacente, mas que funciona à distância, como um segundo plano que garante o melhor funcionamento possível para a Aula de Música do Segundo Grau, que é um behavior setting.

O ambiente Eépsilon também seleciona os habitantes dos lugares pelo

funcionamento de formas de seleção - ou porteiros (gatekeeper) -, admitindo apenas as

pessoas que possuem os atributos apropriados. Os critérios para a admissão são freqüentemente especificados por um Estatuto, por uma Constituição, por uma Carta de Incorporação ou de Associação, ou por Mandatos ou Procurações preparados ao longo de períodos de tempo extensos, no passado distante e em lugares longínquos - documentos que são totalmente estranhos ao Epsi da maioria dos candidatos a

participantes dos settings. No caso do Encontro Anual da Igreja Presbiteriana, por

exemplo, o Livro de Ordem, uma forma de Constituição da igreja presbiteriana do Norte dos EUA, requer que somente membros da igreja possam votar em suas deliberações. Essa exigência é implementada por um comitê eleito (a Comissão encarregada da Sessão de Votação da igreja presbiteriana), que examina os candidatos e aceita a associação daqueles que fizeram sua profissão de fé em Cristo e que foram batizados de acordo com os ritos da igreja. Seus nomes são colocados em uma lista de pessoas que podem votar nesses encontros anuais. A comissão encarregada da sessão de votação funciona como "um porteiro" nesse caso; ela assegura que B = f(PEpsi) possua uma

(14)

em Eépsilon, são comuns em Oskaloosa; eles determinam quem participa dos encontros

das organizações de maior importância social: as pessoas as mais fraternas, as pessoas mais capazes de prestar serviços, as pessoas mais relevantes comercialmente. O pagamento de uma taxa de entrada financeira também se constitui num importante modo de seleção de pessoas; pessoas muito pobres e dependentes da ajuda previdenciária não participam dos encontros no Café Sunflower ou nos encontros do Rotary Club.

É importante compreender que as rotinas de pressão (press-gangs) e que os

porteiros (gatekeepers) operam dentro do Eépsilon; o Epsi está envolvido no ato da

prisão, na admissão do prisioneiro, ou na rejeição da prisão de uma pessoa, somente no estágio final, quando o ambiente Eépsilon introduz objetos de comportamento (algemas,

guardas, salas com grades, tribunas e tribunais, e assim por diante) no limite do Epsi

dessa pessoa. Também é importante compreender que os processos dentro do Eépsilon

operam de forma indiferente a pessoas particulares. O código criminal do Kansas não é dirigido ao Sr. NG ou a nenhuma outra pessoa em particular. Ele é dirigido aos atos criminais. Da mesma forma essa determinação se aplica aos requisitos de entrada na igreja presbiteriana, que não são dirigidos a pessoas particulares, mas às suas crenças. A maior parte das forças que atuam em Eépsilon é cega a essas particularidades.

O Eépsilon contribui para a especificidade comportamental do lugar, não apenas

pela seleção de pessoas apropriadas, mas também pela regulação do comportamento que ocorre nesses lugares. Nós tomaremos a esse aspecto depois de considerarmos o próximo problema.

40.5) O QUE É UM LUGAR ?

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Batista independente, com seu específico padrão de comportamento, era o salão do edifício do sindicato dos construtores. O culto acontecia entre as 11:00 horas da manhã e o meio-dia, a cada domingo, e somente nesse período. A identificação em termos de espaço-tempo de lugares introduz dificuldades evidentes para explicar a conexão entre comportamentos e lugares. Apesar de ser possível conceber que determinados lugares geográficos tais como o consultório do dentista, com seu criterioso arranjo espacial e se os equipamentos podem produzir o comportamento típico do “consultório do dentista”, é difícil imaginar como um salão da Prefeitura de Oskaloosa poderia produzir o comportamento de almoço coletivo entre as 11:30 da manhã e as 1:30 da tarde e, logo a seguir, o comportamento “conferência sobre a segurança nas estradas” às 3:00 da tarde. Algo além da mera geografia e do tempo parece estar envolvido: são os distintos e bem circunstanciados padrões estáveis de comportamento, tão importantes e proeminentes em Oskaloosa.

Essas observações e experiências foram de grande importância para que compreendêssemos o construto dos behavior settings. A natureza dos behaviorsettings

já foi apresentada em outras obras, e não será revista aqui (Barker, 1968). De forma sumária, eles são fenômenos eco-comportamentais híbridos; eles são padrões estáveis e circunstanciados (bounded standing patterns), de atividades humanas e não-humanas,

com sistemas integrados de forças e controles que mantêm suas atividades em um estado de equilíbrio semi-estável; as partes e processos dos behavior settings possuem

altos graus de interdependência interna, o que acarreta a sua integridade como unidades discretas: eles são entidades dentro do ambiente ecológico. Eu não repassarei a trilha da descoberta dos behaviorsettings, mas me dedicarei a relevância desse tipo particular de

lugar para a psicologia ambiental. Eu farei isso através de um exemplo, o Vista Café, de Leyburn.

40.6) O COMPORTAMENTO EXTRA- INDIVIDUAL DOS BEHAVIOR SETTINGS

Devemos enfatizar três atributos do setting Vista Café, assim como de todos os

behavior settings. Em primeiro lugar, o Vista Café é uma entidade do ambiente

ecológico; ele possui uma vida própria, que existe independentemente de pessoas particulares. Trata-se de algo fundamental. Essa vida é freqüente e, em muitos casos, dramaticamente demonstrada. Em Oskaloosa, por exemplo, os componentes humanos do Curso Acadêmico do Segundo Grau, mudam completamente entre anos consecutivos, ainda que a cada novo ano o mesmo padrão de comportamento se repita tão vigorosamente quanto antes, com novos alunos e novos professores – e mesmo que seu edifício mude (para novas salas de aula recém-construídas).

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estão presentes nas mutantes atividades de extensão, na reconstituída Classe Acadêmica do Segundo Grau, e em padrões de comportamento mais comuns que são, demonstravelmente, específicos determinados lugares – na medida em que não observamos suas mudanças, a vagar por aí, soltas no espaço. O Vista Café tem estado no mesmo lugar.

Um segundo aspecto importante do Vista Café, e de todos os demais*, é que ele se comporta - ou seja: ele gera comportamento extra-individual. A essência do Café e está em seu continuado programa de ações; essas ações são específicas no tempo e no lugar; eles pertencem ao "assegurar, preparar, servir, consumir, comprar e vender comidas e bebidas". Para isso, seus participantes humanos (clientes, cozinheiros, garçons, etc.) e seus componentes não humanos (seus fogões e fornos, suas mesas e cadeiras, seus pratos, travessas e faqueiros, etc.) são essenciais como um todo, mas pessoas particulares ou um determinado componente não humano, não são essenciais. Cozinhar é necessário, mas Joe, o cozinheiro, e Aga # 19765 – a marca e o modelo do

seu forno -, não são. Eles podem ser substituídos, e seus papéis desempenhados por outros cozinheiros e fornos. Comer e beber são fundamentais, mas há alternativas para Donald, um cliente que quase sempre lancha por lá, assim como para seu prato, para seus talheres. Pagar é vital para que o programa comportamental prossiga, mas outras pessoas além de Helen, uma cliente, e Joyce, a moça do caixa, assim como uma determinada cédula de US$10 possam ser substituídas. O fato de que Joe, Donald, Helen e Joyce, e seus camaradas, assim como o forno, o prato, os talheres, e as notas de US$10 possa estar aqui e agora, e possam não estar mais amanhã, não impede que o Vista Café prossiga em sua existência, em seu bem-sucedido funcionamento (ele foi fundado em 1897), e isso significa que a sua atividade específica neste lugar é determinada por algo que podemos compreender como extra-individual (será que é algo como as forças que estão por detrás de um tornado?) que sobrevive e supera esses seus componentes. As ações dos participantes do Vista Café e de seus objetos são, portanto, ações e extra-individuais, geradas pelo setting do Café.

O terceiro componente dos behavior settings a ser enfatizado está implícito no

segundo, mas merece uma atenção especial. As ações. Extra-individuais específicas em termos de tempo e lugar, que são impostas sobre os componentes pelo programa comportamental do setting são ações que mantêm o próprio setting; São ações de

manutenção dos settings. Os participantes que não desempenham essas ações de

manutenção em de forma apropriada (limpando mesas preparando os alimentos) são, então, treinados e educados, advertidos e censurados, multados ou demitidos; os objetos inadequados (quebrados, desgastados, sujos, etc.) são reparados, limpos ou descartados.

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ações de manutenção. Os liquidificadores do café não apenas transformam os alimentos: suas lâminas os trituram, em velocidades altas médias ou baixas, graças a motores e transmissores de movimento engenhosamente desenhados para desempenhar esse trabalho; de modo similar, as garçonetes não apenas atendem, direcionam, recolhem os pedidos dos clientes de forma precisamente programada e esperada para o café, mas também os saúdam e se despedem, dizendo coisas como "como vai ?", "tenha uma boa refeição", "volte sempre". Claro, a chefe das garçonetes se chama Madge Metcalf, e ela caminha entre as mesas com alguma dificuldade, a claudicar, sempre simpática e fazedora de amigos, que criava ao atender a todas as pessoas que buscam o Café. Esse modo de andar e essa simpatia toda pessoal não são coisas que o Vista Café possa programar: são características ou atributos de Madge, devidos ao seu calcanhar machucado na infância e à sua amável disposição - que estão entre outros muitos atributos de Madge, como uma pessoa com motivações, percepções, cognições e capacidades próprias.

Os programas comportamentais que podemos observar diretamente, assim como os padrões estáveis de comportamento e arranjos físicos que são os behavior settings

são manifestações fenotípicas de seus respectivos genótipos. Estes seriam um construto teórico em termos dos quais muitos de seus aspectos podem ser explicados. no entanto, a condição sine qua non dos behaviorsettings é a seguinte: eles não são lugares neutros

onde as pessoas se congregam para o alcance de seus propósitos pessoais; eles são entidades dinâmicas, super-ordenadas, que manipulam o comportamento de seus componentes humanos na direção de um estado de equilíbrio para o setting. Trata-se de

algo que pode ser constatado sem o auxílio de conceitos e teorias intervenientes em uma situação particular dos behavior settings, quando o número de componentes humanos é

menor que o necessário - se compreendermos que um behaviorsetting "ótimo" tem um

staff definido, que executa as suas atividades com facilidade. Por exemplo, considere o Vista Café numa situação assim: quando apenas dois de seus três cozinheiros compareceram ao trabalho, quando Madge teve que ser substituída por uma garçonete nova, e a outra garçonete está de licença médica. Durante esse período - por um dia que seja - todo o padrão de atividades mostra alterações significativas. O staff reduzido se

encontra às voltas com um volume de trabalho proporcionalmente maior - o número de fregueses continua o mesmo -; todo o serviço se torna um pouco mais lento; alguns itens do menu podem não ser ofertados; a espera pela comida se torna mais longa, os clientes se tornam mais impacientes, e cobram mais pressa e agilidade da garçonete solitária, que por sua vez reclama com os cozinheiros, que por sua vez devem preparar mais pratos e com maior variedade que o usual. Não há a necessidade de um treinamento teórico para que os cozinheiros, a garçonete, e os clientes do vista café experienciem diretamente o poder manipulativo dos behavior settings; imediatamente compreenderão

que não se trata de um lugar neutro, simplesmente voltado para um trabalho prazeroso e para uma alimentação sem maiores conseqüências.

Um exemplo mais extremo do poder de um behavior setting sobre seus

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ausentar, um substituto deve ser encontrado, de forma que as senhoras sempre se consultam antes de seus encontros, para se assegurar de que estarão todas presentes. Desse modo, um grupo de oito jogadoras de bridge está sempre sob uma moderada

ameaça a seu funcionamento: cada membro é pessoa-chave, que não pode se ausentar. Isso também é verdadeiro com respeito ao Vista Café, no estado precário que acabamos de descrever: cada membro restante do seu staff é mais crítico do que nunca, para que funcione minimamente. Em geral, a importância dos participantes para um behavior

setting, a força de sua demanda sobre eles, o vigor de suas ações de manutenção e estão

diretamente relacionadas a esse nível de precariedade, ao risco provável de seu iminente colapso.

Nós nos tornamos, num primeiro momento da pesquisa, conscientes da importância e generalidade do relacionamento entre o número de componentes humanos e o comportamento do conjunto dos behavior settings quando nós observamos que as

pessoas de Oskaloosa se mostravam mais ocupadas em seu habitat público que as pessoas de Leyburn. Posteriormente, nós descobrimos que o habitat público das pessoas de Oskaloosa gerava mais comportamento por habitante que o habitat público de Leyburn (Barker & Schoggen, 1973). Os 830 habitantes de Oskaloosa exibem um volume de atividades no setor público da cidade que chega a 3 horas e 44 minutos por dia, em média; os 1.310 habitantes de Leyburn, por sua vez, exibem um volume de atividades no mesmo setor de 2 horas e 58 minutos. Essa descoberta nos impressionou, dado a similaridade entre os behavior settings das duas cidades, bem como à pequena

diferença em seus tamanhos. Nós nos questionamos sobre as razões que levariam a população de Oskaloosa a empregar 46 minutos a mais, por dia, em behaviorsettings de

caráter público, em comparação com a população de Leyburn. Nós fomos auxiliados pela descoberta de que Oskaloosa mobilizava mais gente que Leyburn para desempenhar as tarefas públicas: havia uma ocupação adicional de 63% da população de Oskaloosa, para a ativação de 95% dos settings de natureza pública, em comparação

a Leyburn. Nada menos que dois terços a mais de atividade, por habitante. Assim, concluímos que os settings de Oskaloosa eram mais precários que os settings de

Leyburn.

Consideremos os destinos de irmãos gêmeos idênticos, separados ao nascerem, e criados nas cidades de Oskaloosa e Leyburn. Oskaloosa, com seus (relativamente) mais limitados recursos humanos, escassamente disponíveis para manter seus settings

(relativamente) mais precários, deve envidar esforços, convidar, pressionar, selecionar, eleger, reunir pessoas, conclamar, pressionar a todos - inclusive o nosso gêmeo - a participar de suas atividades, de seus preciosos settings. O gêmeo cantará nos coros,

(19)

As conseqüências da aquilo que nós chamamos de sub-tripulação dos behavior

settings demonstram a natureza dinâmica, intencional e coerciva do ambiente ecológico

com relação às pessoas, quando elas são componentes dos behavior settings. O Vista

Café sob uma condição de crise se torna um Eépsilon que expõe ao olho nu (1) um

behaviorsetting em pleno funcionamento, "comportando-se", e (2) os seus participantes

comportando-se do modo Vista Café.

Nosso primeiro entendimento dos behavior settings foi guiado por nossas

observações do Vista Café e de outros settings, assim como pela psicologia ingênua que

nos foi ensinada pelos próprios habitantes das cidades de Oskaloosa e Leyburn. À época tivemos contacto com 3 publicações que foram fundamentais para aumentar a nossa compreensão dos behavior settings: “An Introduction to Cybernetics” (Ashby, 1956),

"Thing and Medium" (Heider, 1959) e "Analyses of the Concepts Whole,

Differentiation, and Unity" (Lewin, 1941). Esses tratados teóricos ofereceram bases

para que nós aceitássemos os behavior settings como unidades fundamentais do

ambiente ecológico. Ashby nos mostrou que as relações entre as partes de máquinas (seus habitantes) e entre essas partes e o todo da máquina (behavior settings) idéias

comuns a muitas ciências, e podiam ser operados e interagir com enorme precisão; Heider nos revelou propriedades fundamentais dos elementos (habitantes) e de padrões de elementos (behavior settings); Lewin ofereceu a base teórica para a definição e

identificação de sistemas ou "todos" dinâmicos (como os behaviorsettings).

40.7) A PESQUISA SEM SUJEITOS

Uma série de problemas metodológicos surgiu ao mesmo tempo em que nos esforçávamos para identificar os tipos e mensurar as quantidades de comportamentos extra-individuais produzidos nos habitats públicos de Oskaloosa e Leyburn. Nossos conhecimentos em psicologia nos orientavam a escolher amostras de sujeitos em cada habitat público, para que nos assegurássemos de que os dados requeridos pela pesquisa - para cada um desses sujeitos -, obtidos através de observações, questionários e entrevistas fossem obtidos; a seguir era esperado que comparássemos esses dados através de medidas de tendência central de sua variação ao longo dos settings. No

entanto, mesmo no estágio de planejamento da pesquisa, tornou-se óbvio que esse encaminhamento era impossível. mesmo amostras bem pequenas que tomássemos,

envolvendo os participantes dos 884 behaviorsettings de Oskaloosa e dos 758 behavior

settings de Leyburn, num montante minimamente necessário ao nosso estudo de campo

teria exigido recursos muito além dos que dispúnhamos. Ainda mais importante: nossa compreensão crescente da natureza dos behaviorsettings mostrou-nos que esses dados,

se houvessem sido penosamente obtidos, seriam irrelevantes para as nossas preocupações com os atributos comportamentais dos behavior settings. isso é

verdadeiro porque o significado de uma ação de uma determinada pessoa que participa de um behaviorsetting é determinada pela organização do setting onde ela ocorre. Essa

observação é válida para todos os componentes de sistemas dinâmicos circunstanciados

(bounded). A força de uma viga é determinada por sua posição na estrutura; o

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strike no baseball varia se é um strike 1 ou um strike 3 para o batedor, ou se é um "third out" para o pegador; esse strike pode ainda levar ao fim do jogo (do setting) se for o

strike 3 for um fulminante "third out" ao final do nono tempo.

Em todos esses casos, são as propriedades momentâneas da entidade super-ordenada vis-a-vis com as partes, em plena interação, o que vai determinar a significância das partes. Pode-se aprender bem mais acerca da resistência de uma viga

in situ, observando os planos e especificações da estrutura, do que com testes isolados,

ou com amostras dessa viga. Pode-se aprender bem mais acerca do significado de uma palavra a partir do pensamento que ajuda a expressar do que de seu significado isolado num dicionário - ou sobre a importância de um strike a partir de sua ocorrência no jogo,

considerando-se o programa comportamental envolvido (as regras e regulamentos do jogo) do que de uma análise isolada dos gestos de um ou outro jogador envolvido em sua ocorrência. Os significados de todas essas ações de manutenção são determinadas pelo que é mantido - pelo que mantêm. No caso dos behavior settings, o programa

comportamental nos diz qual é esse significado.

Uma máquina não deixa de ser uma instrutiva analogia de um behavior setting,

em muitos aspectos. Se nós conhecemos as especificações de uma máquina e a seqüência de eventos que permite construí-la e utilizá-la, sabemos o que as suas partes componentes fazem quando essa máquina opera normalmente. Nenhuma investigação é necessária. No caso de um motor de combustão interna de um tipo determinado, nós sabemos que ele emite ruídos sem trepidar, de um jeito "macio", quando suas velas estão a emitir faíscas regularmente sobre frações de vapor de gasolina adequados, movendo pistões e eixos de rotação, permitindo a tração prevista no projeto, com exatidão. Similarmente, se sabemos como funciona o programa de um Café, de imediato fica claro para nós o que cada um de seus participantes - clientes, cozinheiros, garçonete, ou suas partes componentes - fazem quando o Café está em plena operação. Os cozinheiros cozinham, as luzes iluminam, os clientes de alimentam, comem, bebem, e conversam. O engenho está em operação, e essa é a condição essencial para que as faíscas das velas desse motor faísquem de forma bem sucedida, sempre encontrando os vapores de gasolina, e sua explosão sempre a transmitir movimento para os eixos de transmissão, e o automóvel se auto-mova. As velas do motor, contudo, não soltam faíscas onde não devem, como na bancada de alimentos do Café. Somente quando o Café está em plena operação é que seu cozinheiro cozinha, suas luzes iluminam, seus clientes se satisfazem alimentando-se, bebendo e comendo, conversando alegremente. Cozinheiros não cozinham nas agências de correios. É o conhecimento do seu programa comportamental que nos habilita a descrever os comportamentos dos behavior settings

(sua ações extra-individuais Eépsilon, mantenedoras do setting) sem que precisemos

exaurir as pessoas com questionários sobre seus comportamentos específicos.

Eu devo explicar a natureza e as fontes dos dados obtidos sem a participação de sujeitos, através da referência ao behavior setting Clube Feminino de Bridge de

(21)

providenciando os baralhos, os biscoitos, bolos e bebidas geladas e quentes; em seus lugares, passam a jogar segundo as regras oficiais do jogo de bridge; ao mesmo tempo

em que jogam, conversam, comem e bebem. Apesar de nada disso estar inscrito em regulamentos formais ou num contrato de conduta entre as jogadoras, todas elas concordam que esse é seu comportamento no Clube; tratam-se de regras aceitas e praticadas por todas.

A medida básica da quantidade de comportamento extra-individual que é produzido por um behavior setting pode ser feita em termos de “horas-pessoa por ano”

ou P-H. Temos que P-H = o x d x i, onde o = número de ocorrências por ano; d =

duração média da ocorrência, em horas, e i = número médio de habitantes em cada

ocorrência. Os valores de o, d, e i para Clube Feminino de Bridge de Oskaloosa foram

dados nessa sucinta descrição de seu programa: o = 11 (onze encontros por ano); d = 4

horas de duração média de cada ocorrência (pois duram das 19:30 às 23:30); e i = 8 (há

sempre 8 jogadoras). O P-H produzido pelo Clube é, portanto, 11 x 4 x 8 = 352 horas-pessoa-ano.

O P-H gerado por um behavior setting pode ser dividido entre suas classes de

habitantes. Nos nossos estudos, nós agrupamos os habitantes por sexo, idade, classe social, e raça. Informantes privados nos forneceram a identificação dos membros do Clube de Bridge. De um modo geral, os dados sobre sexo, idade, e raça nos foram dados a conhecer pelos relatórios do censo oficial; os critérios de classe social foram objeto de julgamento pelos próprios investigadores, com base nas associações mantidas pelos habitantes da cidade, entre si – e com os membros do Clube de Bridge, no caso. O

registro que podemos firmar acerca do Clube de Bridge, por classes de informação

sobre seus participantes, partilhando o P-H, é:

Classe P-H

Mulheres 352 Adultos idosos (com 65 anos ou mais) 308

Adultos (18-64 anos) 44

Classe social 1 264

Classe social 2 88

Pessoas brancas 352

Essas são medidas da extensão na qual o Clube de Bridge utiliza várias classes

de habitantes da cidade: não há nenhuma produção de comportamento com o uso de homens, de adolescentes, ou de crianças, de pessoas da classe social 3, ou de pessoas negras.

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grande número de outros aspectos físicos a serem considerados. O lado comportamental do Clube possui muitos atributos, também: o jogo de cartas, a conversação, o comer, o manipular cartas e outros objetos, o pensar - e assim por diante. Esses atributos diferem muito em sua proeminência; por isso nós imaginamos medi-los através de escalas, que permitisse expor aqueles atributos nos quais estávamos mais interessados como: (1) os primários (atributos que estruturam todo o comportamento estável do setting); (2)

secundários (atributos presentes, mas não constantemente expostos ou utilizados); (3) atributos ausentes. O programa do Clube permite identificar seus atributos primários como os seguintes: recreação (o jogo de cartas, a conversação), a interação social (as saudações, os cumprimentos, a competição entre as jogadoras, a cooperação entre as jogadoras), a manipulação (o uso das cartas, dos talheres e pratos de alimento, etc). Esse

setting produziu 352 P-H (pessoas-hora por ano) em todos esses atributos. As

observações de campo revelaram a ocorrência de alguns atributos secundários de comportamento: nutrição (comer e beber), falar, pensar, comportamento efetivo ou expressão explícita de emoções, apreciação estética (ou a apreciação e os comentários sobre a beleza das coisas), a aparência pessoal (ou exibir-se, pentear-se, endireitar-se, exibir a roupa e adornos, etc). O Clube não produziu comportamento com outros atributos nos quais estávamos também interessados: não havia o comportamento de educação (o ensino formal e o aprendizado formal); de religião (o comportamento de adoração ou culto), de negócios (a troca de bens, de serviços, ou de privilégios, por dinheiro), saúde física (o comportamento de promoção da própria saúde), ou ações motoras pesadas (com o uso dos grupos musculares mais fortes).

O Clube de Bridge demonstra a acessibilidade e disponibilidade de dados para a

pesquisa ambiental "sem sujeitos" no sentido usual da expressão. Uma fonte básica é o programa escrito ou não-escrito do behavior setting. As freqüências de sua ocorrência,

seu agendamento, e as durações das atividades nos behavior settings são, em geral,

colocadas nas portas de estabelecimentos e em quadros de avisos, assim como também são anunciados nos jornais, revistas, posteres e cartazes de aviso. O número e as categorias de habitantes para muitos dos settings são registrados de forma precisa nas

escolas, nas atas de reuniões, nas audiências, consultas, encontros formais. Os dados para os settings-formais (de natureza comercial, a esportiva, social) podem ser obtidos

por observadores que estejam presentes às suas ocorrências, e que contem e registrem os momentos de tipos de e participantes. Os escolares dos atributos são feitos com base na observação direta e, na evidência dada por informantes, nos registros dos programas, atas, e documentos de encontros. Há muitas oportunidades para fazer a checagem dos dados de campo; os behavior settings são relativamente permanentes (ou recorrentes) e

podem ser observados e avaliados em repetidamente por diferentes observadores de campo; eles são conhecidos dizem um grande num muro de informantes que podem fornecer relatórios independentes. Os behavior settings dentro do habitat público são

abertos ao escrutínio público; de fato, seus programas, suas estruturas, e componentes são do conhecimento comum. Uma parte importante da socialização das crianças e dos imigrantes é o aprendizado acerca de como o funcionam os behavor settings

(23)

Devemos notar que o comportamento extra-individual de um behavior setting e

seu padrão estável e de atividade humana são partes do E-épsilon que o setting oferece

ao seus participantes. A atendente do Vista Café acompanha os clientes em meio a um E-épsilon que possui cozinheiros que cozinham, garçons que servem, outros clientes que se servem, se alimentam, comem e bebem, conversam e descansam. De fato, a senhora Madge Metclaf é a amistosa e caminha claudicando levemente no E-épsilon que envolve suas próprias ações como atendente. Os métodos que nós consideramos aquilo nos informam apenas acerca de um componente deste behaviorsetting, a atendente; eles

nada nos dizem acerca dessa pessoa Madge Metclaf, que é amistosa e que caminha claudicando levemente. Para isso, os métodos da psicologia individual são necessários.

40.8. O COMPORTAMENTO INDIVIDUAL NOS BEHAVIOR SETTINGS. Eu devo retornar, rapidamente, ao “veio” E-psi que corta o território da psicologia ambiental. Ele ocorre pari passu com o veio E-épsilon do comportamento e

extra-individual, mantenedor do setting que nós temos considerado, e que consiste em

comportamento que busca a satisfação pessoal, individual, que não é originada pelo

setting onde ocorre. Algo assim é a amistosidade de Madge Metcalf, com que ela como

atendente, acompanha de forma deliberada e confiante os clientes que chegam ao Vista Café, ou a observação furtiva de Clifford Mathews sobre Miss Culver, quando ele obedientemente procede ao trabalho de escrever em seu caderno, conforme prescreve o programa de sua classe escolar. Outros exemplos são os auto-relatos dados pelos estudantes ginasianos acerca de suas experiências nos settings escolares: "eu gostei de

fazer parte da classe iniciante de música"; "a participação no desfile da escola trouxe-me reconhecitrouxe-mento"; "eu trabalhei duro no comitê escolar" (Gump & Friensen, 1964 ).

A pesquisa que ocorreu nessa direção fez uso de métodos bem estabelecidos da psicologia individual, com cada participante de um behavior setting tratado como um

sujeito. Essa abordagem foi trabalhada de forma intensiva; de particular importância foram os estudos sobre os behavior settings de escolas, pequenas e grandes (Gump &

Friesen, 1964 ; Wicker, 1968; Willens, 1964), de igrejas, pequenas e grandes (Wicker, 1969) e de cidades inteiras, pequenas, como Oskaloosa e Leyburn (Barker & Barker, 1978; Schoggen, Barker & Barker, 1963). Os métodos e os resultados dos estudos feitos sobre escolas e igrejas foram revistos em detalhe por Wicker (1979). Importantes descobertas acerca dos efeitos dos behavior settings, assim como de distinções entre

suas partes e processos componentes em termos do comportamento individual, vieram a surgir a partir dessa pesquisa. Descobriu-se, por exemplo, que as experiências de satisfação e responsabilidade são mais freqüentes e intensas (1) para os habitantes ou participantes de behavior settings sub-populados, mais do que para os habitantes ou

participantes de behaviorsettings adequadamente populados, e; (2) para os participantes

ou habitantes que se encontravam em posições de poder, mais do que para os habitantes ou participantes em posições que detinham menos poder. O primeiro achado parece se dever ao fato de que uma maior proporção dos habitantes de behavior settings

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oferecem no sentido de demonstrar que os behavior settings são, de fato, entidades

poderosas e dinâmicas, pertencentes ao Eépsilon. 40.9) TAMANHO DO HABITAT.

Os pesquisadores desejam conhecer o tamanho de seus achados. Nós queremos conhecer o tamanho do Café Vista, da classe de música do segundo grau, dos serviços religiosos de Oskaloosa e Leyburn, entre outros. Nós iniciamos a investigação desse problema com referência aos habitats públicos das cidades, antes de mais nada (Barker & Schoggen, 1973). Esses habitats consistem de behavior settings localizados dentro

dos limites das cidades, mas fora das residências; eles são os locais extra-residenciais onde as pessoas satisfazem necessidades pessoais (ao desempenharem ações individuais) cumprem obrigações (como as tarefas de manutenção de seus settings), e

submetem-se a situações de isolamento, quarentena ou resguardo (imposto por grupos de pressão). Eles cobrem todas as partes públicas das cidades; não existem áreas intersticiais. Ao que parece, portanto, o número de tais settings que estão em próximos

entre si no tempo e no espaço ("à mão", como dizem os dicionários) e convenientemente acessíveis ("ao alcance da mão", ainda segundo os dicionários) pode ser uma medida da extensão desses importantes lugares.

Há evidências bastantes de que os habitantes das cidades concordam com a proposição de que o tamanho do habitat está positivamente relacionado com o número

de settings próximos e envolvidos (At hand and handy). Essas cidades eram geralmente

percebidas como "fechadas" aos domingos quando, de fato, havia funcionamento em apenas 25% dos settings públicos abertos ao longo da semana. Os comentários comuns eram "não há nada para fazer aqui aos domingos" ( ou seja: havia poucos lugares para ações individuais), e "sábado é o único dia onde posso fazer as minhas coisas" (ou seja: que podia escapar das ações obrigatórias de manutenção dos settings envolvidos). Leyburn, reconhecidamente, perdia muito de sua vida e do seu tamanho (em termos da animação dada pelos settings) nos começos das noites das quartas-feiras - oficialmente

designadas como os dias "de encerrar mais cedo". Muitos settings governamentais e de

negócios fechavam suas portas às 13h. Por outro lado, o habitat público de Leyburn era muito ampliado nas sextas-feiras – propriamente, o dia da feira local. Muitos settings

ocorriam nesse dia, especificamente (por exemplo: as barracas de mercado, as cortes de justiça, as reuniões nos cafés, os leilões de animais e mercadorias). O dia das feiras era visto como um dia bem movimentado em Leyburn. a população das cidades endossaram essa singela teoria acerca do tamanho de seus habitats públicos.

Metodologicamente, essa teoria era atrativa; ela parecia envolver apenas os

settings que se podia contar. No ano de 1964 havia 874 behaviorsettings em Oskaloosa

e 758 settings em Leyburn. Assim, de acordo com essa teoria, o habitat público de

Oskaloosa era maior do que o de Leyburn numa proporção de 17%. No entanto, nós depois descobrimos que a maior parte dos behavior settings de Oskaloosa ocorreu ao

longo de alguns poucos dias do ano. O número médio de settings diários em Oskaloosa

era de 146, enquanto que o número médio de settings diários em Leyburn era de 178.

Referências

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