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Transformação do CEFET-SC EM IFSC: concepções, conquistas e desafios Autores:

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Transformação do CEFET-SC EM IFSC:

concepções, conquistas e desafios

Autores:

Jesué Graciliano da Silva

Consuelo Aparecida Sielski Santos Marcelo Carlos da Silva

1ª. Edição - 2014

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Revisão Técnica: Kleny Pires do Amaral Elaboração da Capa: Marcelo Carlos da Silva

Transformação do CEFET-SC em IFSC: concepções, conquistas e desafios

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos autores.

Catalogação na fonte elaborada por Karla Viviane Garcia Moraes – CRB14/1002 S586t Silva, Jesué Graciliano da

Transformação do CEFET-SC em IFSC: concepções, conquistas e desafios / Jesué Graciliano da Silva, Consuelo Aparecida Sielski Santos, Marcelo Carlos Silva – São José. 2014.

143 p.

Formato: PDF

Modo de acesso: World Wide Web Tamanho do arquivo: 6270 KB ISBN: 978-85-917410-5-2

1. Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina. 2. Instituto Federal de Santa Catarina. 3. Ensino profissional – Brasil. I. Santos, Consuelo Aparecida Sielski. II. Silva, Marcelo Carlos da. III. Título.

CDD 371.4250981 Registrado na Agência Brasileira do ISBN

http://transformacaodocefetscemifsc.wordpress.com

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Autores:

Prof. Jesué Graciliano da Silva é professor do Câmpus São José do IFSC. Atuou como Diretor do Câmpus São José de 2003 a 2006, como Diretor de Gestão do Conhecimento em 2008 e como Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional de 2009 a junho de 2011. De julho a dezembro de 2011 atuou como Reitor pro tempore do IFSC. De junho a outubro de 2012 atuou como Reitor pro tempore do IF-Farroupilha. De agosto de 2013 a janeiro de 2014 atuou como Reitor pro tempore do IF-Paraná. Mais informações: http://jesuegraciliano.wordpress.com

Marcelo Carlos da Silva é professor do Câmpus Florianópolis do IFSC desde 1994. Atuou como Diretor de Relações Empresariais e Comunitárias do CEFET-SC de 2005 a 2008, em seguida como Diretor de Expansão do IFSC até 2009 e como Pró-Reitor de Extensão e Relações Externas até julho 2011 quando passou a atuar na Universidade Corporativa dos Correios em Brasília.

Prof. Consuelo Aparecida Sielski Santos é professora do Câmpus Florianópolis do IFSC. Atuou como Diretora de Ensino do CEFET-SC de 2002 a 2003, como Diretora-Geral do CEFET-SC de 2004 a 2008 e como Reitora do IFSC de 2009 a junho de 2011. De julho de 2011 a janeiro de 2014 atuou como Chefe da Universidade Corporativa dos Correios. Desde fevereiro de 2014 tem atuado como Assessora da Vice-Presidência dos Correios.

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Agradecimentos:

Agradecemos a todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para a realização desse livro.

Muitos foram os participantes ativos do processo de transformação do CEFET-SC em IFSC. Partilhamos o mesmo sonho de inclusão e do desenvolvimento nacional por meio da educação profissional e tecnológica.

Entre estas pessoas destacamos: Regina Rogério, Rosângela M. Casarotto e Nilva Schroeder.

Agradecemos aos colegas Frederico Fonseca da Silva do IFPR e Érico de Ávila Madruga pela leitura inicial e pelas ricas sugestões.

Agradecemos especialmente ao reitor do IFRN, prof. Belchior de Oliveira da Rocha pela gentileza de escrever o prefácio desse livro.

Agradecemos à Kleny Pires do Amaral pela revisão técnica.

À bibliotecária Karla Viviane Garcia Moraes pela elaboração da ficha catalográfica.

Agradecemos aos colegas Maria Clara K. Schneider, Volnei Velleda Rodrigues, Maurício Gariba Junior, Carlos Alberto Pinto da Rosa (Caio), Antônio Carlos Barum Brod, Cláudio Koller, Maria Bertília Oss Giacomeli, Rosamaria da Silva Beck, Érico de Avila Madruga, Vanderlei Antunes de Mello, Carlos Ernani da Veiga, Marcos Neves, Getúlio Marques Ferreira, Suely Anderle, Eduardo Evangelista, Silvana Ferreira Pinheiro e Silva e Juarez Pontes pelos depoimentos e pela confiança nesse trabalho.

Agradecemos e dedicamos este livro aos estudantes dos Institutos Federais Brasileiros e a nossas famílias pelo incentivo permanente.

Seremos gratos a todos os leitores que enviarem suas críticas e sugestões para o aperfeiçoamento deste texto, que será atualizado continuamente no endereço eletrônico.

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Sumário:

Agradecimentos

1- Apresentação / 11

2- Concepções dos Institutos Federais / 13 3- Marco Legal / 29

4- Debates no CEFET-SC sobre a transformação / 39 5- Repercussão da transformação em IFSC na mídia / 51 6- Construção de uma nova institucionalidade / 59 7- Conquistas da transformação / 89

8- Desafios dos Institutos Federais passados 5 anos do processo de transformação / 87 9- Depoimentos / 101

10- Anexos / 135 11- Referências / 139

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Prefácio

Com cento e cinco anos de existência, a rede federal de educação profissional e tecnológica do Brasil passou por vários momentos, inclusive por algumas mudanças nas denominações de suas Instituições, mas nada que se compare ao que aconteceu nos últimos dez anos. Nesse período aconteceu a maior expansão, como também a interiorização, passando de 140 unidades de ensino para 562 até o final de 2014, com presença nas principais cidades polo e em quase todas as microrregiões do Brasil. Para dar conta desse novo arranjo e da reestruturação da educação profissional e tecnológica, foram criados, há pouco mais de cinco anos, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, cujo modelo institucional é absolutamente inovador em termos de proposta político-pedagógica, sem similar em nenhum outro país, com uma organização pedagógica verticalizada, podendo atuar desde os cursos de Formação Inicial e Continuada de trabalhadores (FIC) até à pós-graduação stricto sensu.

Ao percorrer as páginas deste livro, o leitor será agraciado com um fidedigno relato de como tudo isso aconteceu em nível nacional, em geral e, em particular no Estado de Santa Catarina, com a transformação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina – CEFET-SC em InstitutoFederal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – IFSC. De autoria dos professores Jesué Graciliano da Silva, Consuelo Aparecida Sielski Santos e Marcelo Carlos da Silva, “Processo de transformação do CEFET-SC em IFSC” apresenta, em detalhes, o grande debate institucional travado em todas as Unidades de Ensino do CEFET-SC, a partir da Chamada Pública nº 02/2007 (Proposta para a constituição dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia), com defesas de teses a favor da e contra a transformação. De forma magistral, os autores descrevem os meandros dessa transformação, resgatando e registrando uma história recente através de pesquisa documental, depoimentos e imagens que, se não escrita, perder-se-ia no tempo e na lembrança das pessoas que construíram e vivenciaram intensamente esses momentos, no âmbito dessa Instituição de Ensino Profissional e Tecnológico, que é uma referência para toda a Rede Federal.

Para quem gosta de uma boa leitura e que, assim como eu, se encanta com o fazer dessas instituições centenárias na construção de um país melhor através da educação profissional pública, emancipadora e de qualidade, garanto que terão em mãos, mais do que um excelente registro histórico, uma oportunidade de conhecer e se encantar com as perspectivas dessa nova institucionalidade sui generis: os Institutos Federais.

Prof. Belchior de Oliveira Rocha

Reitor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte

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"O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer uma ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção".

Paulo Freire 1-Apresentação

Ao referir-se a transformação, é importante destacar que seu conceito está ligado à ação de transformar, mudança de forma e metamorfose. É por meio dessa ação que este livro apresenta aos leitores as concepções, conquistas e desafios do processo de transformação do CEFET-SC em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. No dia 29 de dezembro de 2013 a Lei 11.892/2008, que criou os 38 Institutos Federais em todo o país, completou 5 anos de existência.

Figura 1.1- Estande do curso de eletrotécnica no SEPEI 2014.

No ano de 2008 o então CEFET-SC contava com apenas 7 Câmpus, hoje são 21. O número de cursos saltou de 58 para 306, as matrículas avançaram de 6172 para 26623. O orçamento anual passou de 73 milhões em 2008 para 239 milhões em 2013. Compreendemos que a instituição vem enfrentando desafios diversos que aqueles enfrentados em 2008, mas que são comuns a muitos outros Institutos federais brasileiros. Esses números dão a dimensão de quanto o IFSC mudou nos últimos anos. Os efeitos da transformação do CEFET-SC em IFSC aconteceram no mesmo período em que ocorreu a maior expansão realizada na história da instituição e isso pode levar a confusão sobre a relação de causa e efeito. O quanto a evolução da instituição é decorrente da

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transformação em IFSC e o quanto é decorrente do processo de expansão é uma pergunta difícil de avaliar quantitativamente.

O processo de transformação de CEFET-SC em IFSC ainda está em curso. Os percentuais mínimos de oferta de cursos de licenciatura, por exemplo, ainda não foram atingidos. Também os Câmpus ainda não contam com seu quadro completo de servidores, uma vez que as vagas estão sendo liberadas de forma escalonada pelo governo federal. E por não estar completa a transformação, ainda temos o desafio de entender como os Câmpus podem ter mais autonomia sem comprometer a eficiência dos processos sistêmicos e sem comprometer a identidade institucional. É imperativo integrar os novos servidores à cultura organizacional construída ao longo de 104 anos de existência, revitalizar os Câmpus mais antigos, ampliar a produção de pesquisa, ampliar o desenvolvimento da extensão e ainda preservar a oferta de 50% em cursos técnicos.

Compreende-se que boa parte dos desafios que enfrentamos atualmente no IFSC são decorrentes dos acontecimentos que ocorreram entre os anos de 2001 a 2011. Na linha do tempo percebe-se um grande avanço já que em 2001 chamava-se Escola Técnica Federal de Santa Catarina – ETFSC, em 2002 CEFET-SC – Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina, em 2008 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – IFSC.

Nos últimos anos houve muitas conquistas, resultado do comprometimento, da inovação e da ousadia de uma política educacional voltada para promover a oportunidade ao acesso a educação profissional e tecnológica de mais estudantes. As concepções também se transformaram num processo intenso de reorganização, com a implantação de um novo Estatuto, novos Planos de Desenvolvimento Institucional, novos Regimentos, novo Projeto Político Pedagógico, nova estrutura administrativa, construção de sede própria para a Reitoria, construção de novos 14 Câmpus, eleição para Reitor e para Diretores-Gerais dos Câmpus. Considerando todos estes acontecimentos, ousamos dizer estes últimos anos serão lembrados como um dos períodos mais vibrantes da história do IFSC.

Prof. Jesué Graciliano da Silva, Profa. Consuelo A. Sielski Santos e Prof. Marcelo Carlos da Silva

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“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”

Albert Einstein

2- Concepções dos Institutos Federais

O marco histórico inicial da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica acontece no ano 1909, pelo Decreto 7.566, do Presidente da República Nilo Procópio Peçanha, sendo criadas 19 Escolas de Aprendizes Artífices.

Uma dessas escolas data de 1o. de setembro de 1910 e teve como sede o município de Florianópolis. A segunda denominação atribuída às Escolas de Aprendizes Artífices foi Liceu Industrial, tendo surgido em 1937, em plena vigência do Estado Novo. Em 1942, os Liceus transformam-se em Escolas Industriais e Técnicas. A mudança para Escola Técnica Federal ocorreu no ano de 1959, quando essas Escolas assumiram a categoria de autarquia federal.

Figura 2.1- Aula prática do curso técnico de edificações no Câmpus Florianópolis – Fonte: site do IFSC

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Em 1978, surgiram os primeiros Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) do Brasil nos Estados do Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. Gradativamente, outras Escolas Técnicas foram transformadas em CEFETs sendo que a de Santa Catarina foi uma das últimas a passar por esse processo, o que somente ocorreu em 2002.

Até dezembro de 2008, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica era formada por instituições que tinham como objetivo principal promover a formação profissional, mas com características e nomenclaturas distintas. Além dos CEFETs e suas Unidades Descentralizadas de Ensino, a Rede era composta por Escolas Agrotécnicas, Escolas vinculadas às Universidades Federais, uma Escola Técnica Federal e uma Universidade Tecnológica Federal. Em Santa Catarina, a Escola Técnica Federal originária da Escola de Aprendizes Artífices foi formada por apenas uma Unidade durante 79 anos.

Ao estudarmos o processo de transformação ocorrido na Rede, pode-se afirmar que este foi influenciado pelo cenário político, econômico e social de cada época. Em Santa Catarina, quando a primeira Unidade Descentralizada de Ensino vinculada à Escola Técnica Federal de Santa Catarina foi criada em 1988, na cidade de São José (Figura 2.2), o Brasil vivia um momento de forte efervescência política com a promulgação da Constituição Federal, chamada por muitos de

“constituição cidadã”. Um ano depois, ocorreu a primeira eleição para Presidente da República, após mais de 20 anos de regime de exceção.

Figura 2.2- Inauguração do Câmpus São José.

Até a metade de 1993, superar os altos índices inflacionários era o grande desafio brasileiro, pois a inflação corroía os salários, principalmente os dos mais pobres que não podiam fazer aplicações financeiras, como o “over night”. Esse cenário, que parece tão distante, impedia

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que as empresas fizessem planejamentos de longo prazo, o que prejudicava todo o desenvolvimento da cadeia produtiva nacional.

A estabilização da economia teve início ainda no governo do presidente Itamar Franco que assumiu a presidência do país, como decorrência do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Em seu governo, houve a implantação da URV e, posteriormente, do Plano Real, tentativa bem sucedida de controle inflacionário, elaborado por Fernando Henrique Cardoso, seu Ministro da Fazenda, tornado presidente em 1994, ano em que tiveram início as atividades no Câmpus Jaraguá do Sul, a segunda unidade descentralizada da então ETF-SC.

O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio de sua política de educação profissional, conquanto tivesse aprovado a Lei de Responsabilidade Fiscal e ampliado o acesso das crianças à escola com a criação de programas como Bolsa Escola e do Fundo da Educação Básica, enfraqueceu as instituições públicas, priorizando a articulação com a iniciativa privada. Seu governo não só foi marcado pelo controle inflacionário, mas também pela recessão.

Caracterizou-se, assim, como um período de baixo investimento na infraestrutura e achatamento dos salários dos professores e dos técnico-administrativos dos CEFETs e das universidades federais, resultando em paralisações frequentes.

No governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva foi dado prioridade à manutenção da estabilidade econômica com a promoção do crescimento econômico e inclusão social.

Houve investimentos na ampliação da capacidade produtiva do país e na implantação de diversos programas de segurança alimentar, reconhecidos pela Organização das Nações Unidas como exitosos.

Segundo dados do governo federal, este fato contribuiu para retirada da miséria de mais de 30 milhões de brasileiros. Outras iniciativas incluíram a ampliação do mercado interno e investimentos realizados na área de infraestrutura, para ampliação do crédito e para incentivo ao consumo, que possibilitaram que o país continuasse crescendo e mantendo o nível de emprego, mesmo dentro de um cenário internacional de grave crise econômica, a maior desde 1929.

Segundo dados publicados pela OCDE (2005) - Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico - o percentual de jovens matriculados no ensino técnico nesse período na Alemanha era de 72%, enquanto que, no Brasil, era de apenas 9%.

Cunha (2005) afirma que, desde o início da colonização brasileira, as relações escravistas de produção afastaram a força de trabalho livre do artesanato e da manufatura. Essa herança cultural brasileira, que revela a visão do trabalho manual como indigno para um homem livre,

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contribuiu para que poucas pessoas quisessem aprender e desempenhar certas ocupações. Esse fato pode explicar a baixa inserção dos jovens na educação profissional, se comparada com países mais desenvolvidos, e o pensamento equivocado de muitos jovens, ainda vigente, de que o diploma de bacharel tem maior importância que um diploma proveniente de um curso técnico.

Os problemas relacionados à educação profissional no país não se restringem ao nível técnico. Segundo dados divulgados pelo Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (CONFEA, 2006), a proporção de engenheiros formados anualmente no Brasil deveria ser da ordem de 25 por 100.000 habitantes. Essa proporção era de 6 por 100.000 no ano de 2006, número quatro vezes menor que os calculados para a Coreia do Sul, China e Índia. Somente no ano de 2006, a China formou 400.000 engenheiros.

Com base nesses dados, é possível compreender o quanto se tornou importante a ampliação da oferta de cursos de educação profissional e tecnológica, tanto no nível técnico quanto no nível superior.

Dentro desse contexto, foram construídos, desde o ano de 2005, 410 novos Câmpus, superando em quase três vezes o total de Unidades construídas desde 1909, quando foram criadas as primeiras 19 escolas da rede federal de educação profissional e tecnológica pelo presidente Nilo Procópio Peçanha. Na Figura 2.3, é possível visualizar o crescimento do número de Câmpus da rede federal de educação profissional e tecnológica desde o ano de 1909 (Figura 2.3).

Figura 2.3. Evolução do número de Câmpus

da rede federal de educação profissional e tecnológica (EPT) - Fonte: MEC

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Tendo como base os dados apresentados em 2013 pelo CONIF - Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica -, os Institutos Federais estão presentes em 85% das microrregiões brasileiras na proporção de 1 Câmpus para cada 10 cidades brasileiras. Segundo pesquisa realizada por Neri (2010), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, em março de 2004, apenas 12,56% da população em idade ativa das seis principais metrópoles brasileiras haviam concluído cursos profissionalizantes. Em março de 2010, esse percentual foi de 22%, o que configura uma ampliação de 70%, percentual que deve ser maior no interior do país, onde foram instalados novos Câmpus dos Institutos Federais. Segundo a pesquisa, um jovem egresso de um curso técnico tem até 38% mais chance de conseguir um emprego com carteira assinada. A pesquisa confirmou o senso comum: quanto maior a qualificação, maiores as chances de empregabilidade e maiores serão os salários recebidos.

Uma pesquisa realizada por Neri (2010) comprovou que há uma relação direta entre anos de escolaridade e o número de salários recebidos por um trabalhador. A pesquisa ainda mostrou que a ampliação de escolaridade também contribui para a melhoria de renda, de tal modo que, sendo o salário médio dos trabalhadores com ensino médio R$ 1.800,00, este sobe para R$

8.600,00 para os que têm curso superior e pode chegar até R$ 18.500,00 para os que possuem um curso de doutorado ou um MBA – Master Business Administration. Outra conclusão da pesquisa é que a taxa de desemprego para trabalhadores com mais de 17 anos de estudo é da ordem de 2,7%

Essa taxa sobre para 13% para aqueles que possuem até 10 anos de escolaridade.

Vale ressaltar que, conforme o Censo da Educação Básica (2012), o Brasil tinha 1.362.200 alunos matriculados em cursos técnicos. Em 2013, esse número aumentou para 2.087.200. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, realizada no ano de 2011, o número de jovens na idade entre 18 e 24 anos era de 22.497.453, sendo que destes, 7.625.457 tinham concluído o Ensino Médio, mas sem frequentar um curso superior e sem realizar cursos de qualificação profissional. Importante destacar que, conforme Censo Escolar de 2011 e do Censo de Educação Superior de 2010, 22% dos estudantes estão matriculados nos cursos técnicos e tecnológicos, e os demais estudantes cursam bacharelados. Apesar dos avanços, o número de vagas em cursos técnicos no Brasil ainda é muito menor em relação à demanda necessária por formação profissional, por isso a importância da ampliação de vagas na educação profissional e tecnológica.

Porter (1989) em seu livro: “A vantagem competitiva das nações” analisou os fatores que levam empresas e países a se diferenciarem em produtividade. Segundo Porter, a educação é uma

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das riquezas mais importantes de um país e a prosperidade nacional não é algo herdado, mas sim produto do esforço criativo humano. “Não é algo que emana dos dotes naturais de um país, de sua força de trabalho, das taxas de juros ou do valor da moeda, como insistem os economistas clássicos.”

Na sociedade do conhecimento, cada vez mais, a capacidade de inovação se tornou uma vantagem competitiva para os países. Esse fato fica evidente por meio dos dados de uma pesquisa organizada pela OCDE, na qual se demonstra que, no ano de 2009, o Brasil apresentou 464 pedidos de registros no Escritório de Patentes dos Estados Unidos. No mesmo ano, a Coreia do Sul solicitou 23.950 pedidos, a Alemanha 25.163 e o Japão 81.982 pedidos. Somente os Estados Unidos fizeram 224.912 pedidos de patentes no ano de 2009.

As pesquisas apresentadas mostram a importância da formação e da inovação para a melhoria da renda das pessoas e para o desenvolvimento dos países. Dados do Ministério de Ciência e Tecnologia mostram que para cada tonelada que exportamos atualmente para a China, o Brasil recebe 160 dólares, mas para cada tonelada que importamos da China pagamos 3.000 dólares.

Nesse cenário econômico, inserem-se as fases I e II do Plano de Expansão da Educação Profissional, o Plano de Desenvolvimento da Educação e a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, em uma travessia educacional para o desenvolvimento do país e, principalmente, para a transformação da qualificação dos trabalhadores brasileiros.

Em Santa Catarina, o processo de expansão teve início no ano de 2005, quando o então CEFET-SC ampliou a oferta de cursos com a construção das Unidades de Ensino de Chapecó e Joinville, contando para isso com forte apoio do Câmpus Florianópolis. Na cidade de Joinville já funcionava desde 1995 um curso na área de enfermagem sob a responsabilidade do Câmpus Florianópolis. A expansão da rede EPT no estado de Santa Catarina foi resultado de uma grande mobilização promovida desde o final de 2004 pela Direção do CEFET-SC e dos parlamentares catarinenses Ideli Salvatti (na época senadora) e de Cláudio Vignatti (na época deputado federal).

As primeiras tratativas que antecederam o processo de expansão em nível do MEC foram conduzidas pelo ex-Ministro da Educação, Tarso Genro, ainda em 2005. Tarso Genro entregou a proposta de expansão da rede federal para o presidente Lula no dia 24 de junho de 2005, um mês antes de deixar o cargo de ministro (29/7/2005).

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As cidades de Joinville e Chapecó foram inicialmente contempladas por serem as maiores cidades de suas regiões que não possuíam a oferta de educação profissional e tecnológica gratuita.

O Câmpus Florianópolis-Continente foi federalizado e também inaugurado em agosto de 2006.

De 2005 a 2006, o governo federal ampliou a rede em 60 novas Unidades concluindo com êxito o Plano de Expansão I, lançado oficialmente no dia 26 de janeiro de 2006, em evento realizado no Palácio do Planalto.

A lei no. 11.892/2008 equiparou os institutos federais às universidades, garantindo a oferta em uma única instituição de cursos básicos até mestrado/doutorado profissional. Essa equiparação ampliou significativamente as oportunidades de parcerias com universidades e institutos em todo o mundo. Destaca-se que não existe uma hierarquia entre as universidades, os centros universitários, a universidade tecnológica, as faculdades isoladas e os Institutos Federais. Contudo, passados pouco mais de cinco anos da transformação dos CEFETs em Institutos Federais, ainda é frequente a pergunta feita por estudantes: “em que os Institutos se diferenciam das Universidades?” Alguns docentes recém-ingressos na instituição também não compreendem essa diferença e por isso acabam reproduzindo os modelos de práticas pedagógicas que conheceram durante a realização de seus cursos de graduação e pós-graduação nas universidades tradicionais. Uma grande parte dos servidores do IFSC não participou da discussão sobre a transformação em Instituto Federal porque ainda não pertencia ao quadro funcional.

Para esclarecer essa questão, fizemos um levantamento da gênese dos Institutos Federais, com o objetivo de compreender o que os dirigentes do MEC tinham em mente quando conceberam esse novo modelo institucional.

Segundo prof. Getúlio Marques Ferreira, então Diretor da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC – MEC), em entrevista concedida em junho de 2007 para a equipe de TV CEFET-RN em Foco, as primeiras ideias relacionadas à reorganização da rede ocorreram em novembro de 2006. No último ano do governo Lula, o então ministro da educação, prof. Fernando Haddad, havia feito um grande trabalho junto ao MEC, consolidando o PROUNI e entregando 60 novas Unidades em todo território nacional no ano de 2006. Em sua campanha para a reeleição em 2006, o presidente Lula havia prometido avançar ainda mais na construção de novas escolas de educação profissional. O objetivo do presidente Lula era construir mais 150 escolas no segundo mandato, muito mais do que havia sido feito em toda história da educação

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profissional brasileira. Todavia, os indicadores sobre a escassez de professores nas áreas de matemática, física, química e biologia eram preocupantes e indicavam que o país estava caminhando para um apagão da docência. Havia um déficit de mais de 50 mil professores de física.

O governo federal já havia criado o Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) no ano de 2006, com o objetivo de formar professores por meio da modalidade de ensino de Educação a Distância, cuja justificativa para essa iniciativa foi fornecida pelo Prof. Fernando Haddad, ex-Ministro da Educação, em reunião de trabalho na (SETEC), realizada em 22 de junho de 2007. Segundo ele, os Estados não tinham condições financeiras de criar um grande programa de formação, salvo raras exceções. Para o Ministro, o processo de crescimento do Brasil abriu oportunidade histórica para a Educação, Profissional e Tecnológica (EPT), porque havia desafios novos para enfrentar como nação.

Nem todos os cursos financiados pelo Programa eram para formação de professores. Um exemplo ocorreu no então CEFET-SC, que teve aprovado seu projeto de implantação de cursos superiores de tecnologia na área gestão pública na modalidade EAD. As aulas desses cursos se iniciaram em julho de 2007.

Segundo o Ministro o governo federal chegou a pensar na criação de um grande centro federal de formação de professores, quando optou pelo modelo da UAB - Universidade Aberta do Brasil.

No final de 2006, era visível o sucesso do Plano de Expansão I e a necessidade emergencial de formação de professores. A equipe do MEC concebeu, então, a ideia de investir parte dos recursos que seriam priorizados para ampliação da oferta de cursos de licenciaturas na rede federal, de acordo com prof. Getúlio Ferreira, Diretor da SETEC/MEC. Contudo, o problema era que a rede, naquele momento, era um “mosaico”, expressão utilizada por Jaqueline Moll (MOLL, 2007), composto por 36 Escolas Agrotécnicas, 33 CEFETs com suas 58 Unidades de Ensino Descentralizadas (UNEDs), 32 Escolas Vinculadas, uma Universidade Tecnológica Federal e uma Escola Técnica Federal. Esse formato era resultante de diferentes intervenções ao longo dos últimos 104 anos, a começar pela criação da rede de 19 Escolas de Aprendizes Artífices

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para atender preferencialmente os “desvalidos da sorte”, no ano de 1909, pelo Presidente Nilo Procópio Peçanha, por meio do Decreto nº 7.566. Essas escolas transformaram-se sucessivamente em Liceus Industriais, Escolas Industriais, Escolas Técnicas Federais, CEFETs e atuais Institutos Federais e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) (Figura 2.4). Ao longo do caminho, novas escolas agrotécnicas foram criadas e algumas universidades criaram seus próprios cursos técnicos.

Figura 2.4- Diferente denominações da rede EPT

Com diversos objetivos relacionados à rede de EPT, entre eles a defesa dos interesses das escolas que constituíam a base de apoio dessa rede, os dirigentes reuniam-se em três conselhos distintos: Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica (CONCEFET), Conselho Nacional de Dirigentes das Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais (CONDETUF) e Conselho das Escolas Agrotécnicas Federais (CONEAF), sem deixar de mencionar a experiência da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), criada em 2005, a partir da transformação do CEFET-PR.

Nessa configuração, a equipe dirigente do MEC entendeu que era preciso constituir uma identidade única para a rede de EPT criando uma nova institucionalidade e alterando as finalidades das instituições para que ela também promovesse a formação de professores. Segundo o ex-dirigente da SETEC, Prof. Gleisson Rubin (2007), o modelo de Institutos Federais seria quase que uma socialização do grau de excelência que os CEFETs alcançaram para os sistemas que já estão nessa trajetória, tentando atingir os patamares que os alunos dos CEFETs já auferiram. Sua fala explica porque, no Decreto 6.905/2007, havia a previsão de que os novos Institutos

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contribuiriam com 20% de suas vagas para a formação de professores nas áreas de ciências, a fim de diminuir a escassez de docentes das redes estaduais.

Nesse contexto, a criação de uma nova identidade para a rede precisava ocorrer naquele momento estratégico de início do segundo mandato do governo Lula, quando, segundo os próprios dirigentes da SETEC, o governo ainda contava com a “força das urnas”. Além disso, considerando o sucesso da fase I do Plano de Expansão, havia previsão do lançamento imediato da fase 2 desse Plano. Se a rede era vista como um “mosaico”, era preciso organizá-la antes que ela recebesse os novos 150 câmpus.

Desde 2002, quando a Escola Técnica Federal de Santa Catarina foi transformada em CEFET-SC, oferecendo além de cursos técnicos, cursos superiores de graduação tecnológica, houve um movimento interno favorável à transformação em Universidade Tecnológica Federal (UTF). Esse movimento se fortaleceu ainda mais pelo processo de expansão I e devido ao fato do CEFET-PR ter alcançado, em 2005, a transformação em UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná - por meio da Lei no. 11.184 de 7 de outubro de 2005.

Em 2006, a Direção do então CEFET-SC entregou ao Presidente Lula, durante sua passagem por Joinville, o projeto da transformação em Universidade Tecnológica. O presidente prontamente se comprometeu a encaminhar o documento à avaliação do próprio Ministro de Educação. Mas 2006 era ano eleitoral e esse assunto não foi encaminhado até a proposição do projeto dos Institutos Federais.

Havia uma intencionalidade de ser reorganizar a rede federal, conforme expresso pelo ex- Ministro da Educação, prof. Fernando Haddad, na reunião de trabalho realizada entre o MEC e os dirigentes da rede no dia 22 de junho de 2007 (Figura 2.5):

“algumas pessoas me perguntaram por que não se constrói 150 unidades e pronto? Penso que esse é o momento de refletir sobre o novo papel da rede EPT.

Há um momento em que qualidade se transformou em quantidade com a ampliação do número de campus. Há aderência da missão institucional ao desenvolvimento nacional. Por isso vivemos um momento histórico novo. Temos

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que pensar a EPT para 20 anos [...]. A rede está madura para enfrentar esse desafio de escala. Se não estivéssemos construindo tantas escolas não haveria sentido a discussão do novo desenho da rede.” (HADDAD, 2007).

Figura 2.5– Reunião de trabalho entre MEC e dirigentes – 22/6/2007.

A fala do Ministro vem ao encontro da avaliação que fazemos de que não podemos falar da transformação em Institutos Federais sem falar da expansão da rede federal.

Nesse cenário, é preciso ressaltar que o modelo de Universidade Tecnológica Federal, que parecia ser o caminho natural a ser percorrido pelos CEFETs, foi considerado inadequado pela SETEC. Tanto é verdade que, tendo já transformado o CEFET-PR em UTFPR em 2005, o MEC propôs um novo modelo para a rede EPT.

Para o prof. Eliezer Pacheco – um dos idealizadores dos Institutos Federais - em fala realizada no dia 24 de outubro de 2013, durante lançamento do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) do IF-Farroupilha, um dos motivos pela não opção do modelo de Universidade Tecnológica do Paraná se deve ao fato de que o CEFET-PR, uma vez transformada em UTFPR, iniciou o fechamento gradual de todos seus cursos técnicos, priorizando cursos superiores de tecnologia, engenharia, mestrados e doutorados.

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Analisando a legislação vigente em 2007, somente se entendiam como instituições superiores as Universidades, os Centros Universitários, os CEFETs, que já haviam sido equiparados às universidades, as Faculdades Isoladas e a UTFPR. Houve uma avaliação de que o ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica e o IME - Instituto Militar de Engenharia - eram centros de excelência no ensino, pesquisa e extensão, e não se enquadravam nos padrões legais.

Para Jaqueline Moll, Diretora de Ensino da Rede EPT na época, em entrevista dada ao programa CEFET-RN em Foco em junho de 2007:

"o Instituto não seria nem Centro Universitário e nem uma Universidade, mas teria uma função diferenciada. Não há posição hierárquica. À semelhança da tarefa que tem a universidade clássica, a tarefa social uma instituição de educação profissional é diferente de sua tarefa pedagógica. Do ponto de vista do valor estratégico da ação, elas estão no mesmo patamar. Do ponto de vista da autonomia das instituições federais, as que se tornarem IFET estarão também no mesmo patamar. Então o que diferencia? É a função que elas têm. E a função que elas vão desempenhar" (MOLL, 2007).

Na mesma entrevista, Prof. Getúlio Ferreira ressaltou que já existiam outros institutos no país e que nunca houve a preocupação se seriam centros universitários ou universidades:

“Nem sempre o que está na lei é o que acontece. O que é o ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica? O que é o IME – Instituto Militar de Engenharia?

Tem que ter coragem para ousar e fazer. Mesmo que a lei diga que só existem universidades, centros universitários e faculdades isoladas, já existem os Institutos ITA e IME que fazem ensino, pesquisa e extensão. Os CEFETs já estão nesse rol. Hoje a lei diz que só existem as universidades, centros federais, faculdades isoladas e os CEFETs.” (FERREIRA, 2007).

Ao propor a criação dos Institutos Federais, até então chamados de IFETs, o objetivo do MEC era criar uma instituição nova, diferente de todos os modelos existentes e que tivesse um claro compromisso com o desenvolvimento regional brasileiro.

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O objetivo era não só que essa nova instituição preservasse a vocação histórica da oferta de vagas em cursos técnicos e estivesse comprometida na formação de professores nas áreas de matemática, física, química e biologia, mas também que essa instituição fosse uma referência nos estados, articulando-se com as redes estaduais e municipais de ensino.

Por esse motivo, em seus livros sobre os Institutos Federais, o ex-secretário Eliezer Pacheco ressalta a necessidade de se criar uma nova institucionalidade para a rede federal. No livro: “Os Institutos Federais, uma revolução na educação profissional e tecnológica, o autor destaca que um dos objetivos centrais dessa nova instituição não é formar um profissional para o mercado, mas sim um cidadão para o mundo do trabalho, o qual poderia ser tanto técnico, como um filósofo, um escritor ou tudo isso. Por isso, houve a intencionalidade de integração da educação, da ciência e da tecnologia na nomenclatura dos institutos federais.

Avaliando os diferentes processos de transformação que aconteceram no país, principalmente nos três estados do sul, podemos afirmar que, até o ano de 2007, existiam diversas escolas que praticamente não se comunicavam dentro de um mesmo estado e dentro de uma mesma região. Pensar em gestão em rede e compartilhamento de experiências exitosas era difícil.

Em Santa Catarina, o Instituto Federal Catarinense (IFC) foi concebido a partir da união de escolas agrotécnicas e escolas vinculadas. No Rio Grande do Sul, o IF-Farroupilha foi criado com base na união de um CEFET e de uma escola agrotécnica. No Paraná, o Instituto Federal do Paraná (IFPR) foi criado a partir da transformação da Escola Técnica Vinculada à Universidade Federal do Paraná (UFPR). O IFSC, junto com mais outros 12 institutos federais, foi transformado a partir de seus próprios câmpus, o que facilitou em muito as discussões para a transformação, conforme descreveremos na sequência.

Mesmo percorrendo caminhos diferentes, a partir do ato de transformação por meio da Lei Federal única (Lei no. 11.892/2008), todas as unidades da rede passaram a seguir os mesmos princípios e finalidades.

A Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, enfim, assumiu uma nova institucionalidade e com um diferencial: o compromisso legal de garantir a oferta de 50% de vagas

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para cursos técnicos, assim como o há de ofertar no mínimo 20% de vagas para cursos de formação de professores (licenciaturas), de atuar de forma integrada com os arranjos produtivos locais, e de contribuir para o desenvolvimento de nosso país. É com base nesses compromissos, que os cursos nas novas instituições têm sido definidos tendo como base audiências públicas e ouvindo-se as representações da sociedade. É por essa razão que a rede de EPT tem o maior grau de capilaridade do país, ocupando 85% das microrregiões brasileiras.

Até o final de 2014, teremos mais de 560 câmpus instalados em todo Brasil e mais de 2.000 polos de educação a distância, articulados com os arranjos produtivos locais brasileiros e dedicados a incluir e a desenvolver cidadãos preparados para o mundo do trabalho, por meio de cursos em todos os níveis e modalidades. De iniciativas isoladas, a rede EPT passou a se articular pedagogicamente e administrativamente no âmbito nacional e internacional. A estrutura comum permite que as equipes discutam os problemas comuns em busca de soluções comuns, permitindo que as boas práticas sejam compartilhadas para toda a rede. Com a diversidade da oferta de cursos que vão desde cursos de formação inicial e continuada (FIC), técnicos, cursos superiores de tecnologia, engenharias e pós-graduações, os Institutos Federais criaram um ambiente favorável para a inovação a partir da sintonia fina entre a prática e a teoria.

Para Eliezer Pacheco (2009), essa organização verticalizada, da educação básica a superior, é um dos fundamentos dos Institutos Federais, pois ela permite que os docentes atuem em diferentes níveis de ensino e que os discentes compartilhem os espaços de aprendizagem, incluindo os laboratórios, possibilitando o delineamento de trajetórias de formação que podem ir do curso técnico ao doutorado.

A partir destas considerações iniciais é possível perceber que a concepção dos Institutos Federais se deu como resposta do governo federal à necessidade de integração da rede de educação profissional, organizada em escolas técnicas, CEFETs, escolas agrotécnicas e escolas vinculadas e para contribuir com a ampliação da oferta de vagas na formação de professores para as áreas de ciências, tão necessária para o país ainda hoje.

Diversos modelos foram estudados pelo MEC antes da proposição do Decreto 6.905/2007.

Institutos de Tecnologia já existem em diversos países tais como Portugal, Estados

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Unidos, Índia entre outros. O Brasil já contava com dois renomados institutos: o Instituto Militar de Engenharia (IME) e com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

A partir dos depoimentos e pesquisa bibliográfica é possível inferir que os principais atores responsáveis pela concepção do modelo dos Institutos Federais foram o Ministro da Educação prof. Fernando Hadadd, prof. Getúlio Marques Ferreira, prof. Gleisson Rubin e prof. Eliezer Pacheco. Essa concepção não foi previamente discutida com a maioria dos dirigentes que se organizavam nos conselhos CONCEFET, CONEAF e CONDETUF, o que gerou uma série de interpretações e reações em todo o país. Os dirigentes foram surpreendidos com o lançamento da ideia dos Institutos Federais em evento realizado no Palácio do Planalto no dia 24 de abril de 2007, quando foi lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação e também a Chamada Pública 01/2007, que previa a construção de novos 150 câmpus da rede EPT em todo o país. A construção dos novos câmpus havia sido promessa de campanha de reeleição do governo Lula, conforme entrevista dada pelo Ministro da Educação em janeiro de 2007.

Conforme entrevista do prof. Getúlio, ainda em novembro de 2006 teve início no MEC os primeiros estudos técnicos para viabilização do novo modelo. Essa necessidade de reorganização da rede já vinha sendo pensada no MEC meses antes, conforme informação dada em Santa Catarina pelo então Ministro da Educação Fernando Hadadd entre os eventos de inauguração dos Câmpus Joinville e Chapecó. Durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 2007 foi elaborado o Decreto 6.905/2007, que foi lançado em conjunto com o Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Em linhas gerais, podemos afirmar que houve a intenção clara de não se reproduzir o modelo e o caminho seguido pela UTFPR, que dentro da prerrogativa constitucional de autonomia universitária, abriu mão da oferta de cursos técnicos em detrimento da oferta de cursos superiores e de pós-graduação. Por isso havia a preocupação do MEC em garantir na Lei de criação dos Institutos Federais a obrigatoriedade de que metade das vagas fosse reservada para cursos técnicos. Considerando-se a necessidade de ampliação da formação de novos professores, principalmente em matemática, física e química e ciências, também se estabeleceu em lei a obrigatoriedade de oferta de 20% das vagas em cursos de licenciatura.

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Antes de uma concepção filosófica, os Institutos Federais surgem da percepção concreta de que a transformação dos CEFETs em universidades tecnológicas, desejo de diversos CEFETs brasileiros, inclusive do CEFET-SC, não seria a resposta adequada para a reorganização da rede (que estaria mais que dobrando de tamanho entre os anos de 2007 a 2010) e para a necessária ampliação da oferta de cursos técnicos e de licenciaturas. No livreto lançado pelo MEC no início de 2009: “Concepções e diretrizes dos Institutos Federais” é possível compreender melhor essa questão.

Essa avaliação da gênese dos Institutos Federais mostra claramente sua diferenciação das universidades brasileiras tradicionais. O Ministro da Educação explicita em sua fala que se a intenção fosse reproduzir o modelo universitário já existente, assim o teria sido realizado pela equipe do MEC. Houve a intencionalidade de se construir uma nova institucionalidade para a rede federal de educação profissional, criando algo diferente do que já existia.

Na sua concepção os Institutos Federais nascem com objetivo de ampliar a interação com os arranjos produtivos locais e com a inclusão social. Um estudante teria a oportunidade de ingressar em um curso de formação inicial e continuada (FIC) e alcançar a diplomação em um curso superior se assim o desejasse.

Realizadas essas considerações iniciais, nos próximos capítulos, serão apresentadas algumas reflexões sobre o processo de transformação do CEFET-SC em IFSC, nas quais serão avaliadas as conexões da “ifetização” e da expansão dos novos câmpus, além de algumas considerações sobre os desafios que a rede EPT e o IFSC enfrentam atualmente, passados cinco anos do processo de transformação.

Finalmente, espera-se contribuir para que os servidores e estudantes do IFSC possam se orgulhar de fazer parte de uma instituição que tem optado, há mais de 105 anos, pela inclusão e pela formação de profissionais plenos de cidadania.

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“O principal objetivo da Educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.”

Jean Piaget

3- Marco legal

A transformação em Institutos Federais foi apresentada como uma das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). É importante lembrar que o PDE foi apresentado no dia 15 de março de 2007, mas lançado oficialmente no dia 24 de abril de 2007, em conjunto não só com a promulgação do Decreto 6.904/2007, que trata do “Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação”, mas também com o Decreto 6.905/2007, que apresentou ao país a regulamentação do modelo de reorganização dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

Ressalta-se que, nesse mesmo dia, também foi lançada a Chamada Pública 01/2007 do MEC para seleção de 150 cidades que receberiam novas Unidades da rede federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Durante o lançamento do PDE, o Ministro da Educação apresentou ao país um plano de ações, com o objetivo de transformar promessas de campanha em realidade.

No PDE, o governo federal estabeleceu 28 diretrizes a ser cumpridas por municípios e estados para melhorar a qualidade da educação básica no país. Como exemplo, o “Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação” tem por objetivo melhorar os indicadores de desenvolvimento da educação básica (IDEB). Os municípios com piores indicadores assinaram termos de compromisso com o governo como requisito para a transferência de recursos federais.

Na Figura 3.1, são apresentadas as dez ações principais trazidas pelo PDE.

Figura 3.1- Ações principais previstas no PDE.

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Destaca-se que, dentre as principais ações do Plano, o item “Ensino Profissionalizante” foi contemplado. O Plano indicava a criação de mais de 150 escolas técnicas federais em cidades polo, definidas com base no potencial de desenvolvimento da região. Municípios localizados no interior do país e na periferia de grandes centros urbanos seriam priorizados. O objetivo era reduzir o deslocamento dos estudantes para as cidades onde havia a oferta de cursos e aproveitar as parcerias e a infraestrutura existentes nelas. As cidades polos deveriam abranger um raio de 50 quilômetros, tendo–se como meta atender 200 mil novos estudantes e, em 2010, alcançar a marca de 350 escolas em funcionamento com 500 mil vagas, uma vez que, somando todas as ofertas, em abril de 2007, havia apenas 688 mil estudantes matriculados no ensino profissionalizante. Esse quadro, que foi objeto de consideração pelo governo, levou o presidente Lula a enfatizar, em seu discurso de lançamento do PDE, que o Plano reorganizaria os três níveis de educação e elevaria o total de investimentos na educação.

O Decreto 6905/2007 é considerado o marco legal para a transformação em Institutos Federais, pois estabeleceu o modelo e as normas para a transformação. Por meio dele, houve a possibilidade de “agregação voluntária” das instituições já existentes e pertencentes à rede federal de EPT à nova rede constituída – a dos Institutos Federais.

Em 22 de junho de 2007, O então Ministro Fernando Hadadd enfatizou, na reunião de trabalho com os dirigentes das Instituições que formavam a então rede federal de EPT, que não se tratava de uma imposição e que o MEC estaria disposto a iniciar o processo de transformação das escolas com um ou dois Institutos como piloto, mantendo a sua expectativa de que as outras escolas pudessem seguir o modelo.

Na prática, a equipe do MEC mobilizou-se de forma intensa para convencer as Instituições Federais a aderirem ao conceito dos Institutos Federais. Foram realizadas reuniões com cada um dos conselhos CONCEFET, CONDETUF, CONEAF bem como seminários nas mais diferentes regiões do país.

Para ilustrar esse processo de convencimento, vale ressaltar o fato ocorrido com a atual reitora do Instituto Federal Farroupilha – prof. Carla Comerlato Jardim, que recebeu uma ligação do então Ministro da Educação, Fernando Hadadd, na época em que atuava como Diretora da Escola Agrotécnica de Alegrete - EAF - Alegrete. Na conversa, o Ministro explicou a sua proposta de integração da então EAF - Alegrete com o CEFET São Vicente para constituição do IF- Farroupilha, e pediu apoio para encaminhamento das discussões na comunidade acadêmica.

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Esse exemplo revela o forte trabalho de convencimento para articulação e integração das escolas federais em todas as regiões do país. Outras providências também foram tomadas no sentido de incorporar outras escolas à nova rede, a exemplo das reuniões com reitores das universidades federais, a fim de que as escolas vinculadas fizessem parte do novo desenho de Institutos Federais. Contudo, essa ação não teve o resultado esperado, uma vez que apenas 8 das 32 unidades vinculadas foram liberadas pelas universidades para fazerem parte dos Institutos Federais.

Durante todo o ano de 2007, foram realizados diversos seminários e reuniões para esclarecimento do Decreto 6.905/2007 em âmbito nacional, o mesmo ocorrendo, em nível local, em todos os Câmpus do então CEFET-SC.

Em termos de ações propostas pelos Conselhos, O CONCEFET reuniu-se em Recife entre os dias 12 e 13 de julho para adotar um posicionamento conjunto sobre o Decreto 6905/2007.

Foram encaminhadas ao MEC as seguintes proposições:

1. Adoção de um processo de implantação disposto em Lei única; 2.

Inclusão dos Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia – IFET entre as entidades que constituem o Sistema Federal de Educação Superior, com prerrogativas equivalentes à Universidade caracterizadas em toda legislação que trata desse nível de ensino; 3. A implementação pelo Ministério da Educação de política de apoio que garanta iguais condições (recursos humanos e materiais) aos atuais CEFET e à ETF-Palmas para a transformação em IFET; 4. A adoção de providências para implantação de um Plano de Cargos e Carreira de Professores da Educação Tecnológica – PCCPET, consoante com as prerrogativas da nova Instituição, e que assegure os direitos hoje consignados em lei aos atuais quadros do ensino do 1º e 2º graus e do ensino superior dessas instituições; 5. Garantia do processo de escolha do Dirigente Máximo dos IFET* a partir de eleição direta, de acordo com o que dispõe a legislação em vigor sobre o processo de escolha dos Diretores Gerais dos CEFET; 6. Garantia de que as prerrogativas e objetivos dos IFET tenham como base a preservação das conquistas históricas da rede de CEFET e ETF-Palmas – a fim de reafirmar seu trabalho educativo em favor do desenvolvimento da nação brasileira,

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entre os quais se incluem: a natureza pública das instituições e a coexistência do ensino técnico, superior (graduação e pós-graduação), pesquisa e extensão; 7. A criação, em lei, de um Fundo de financiamento e Desenvolvimento da Educação Profissional e Tecnológica, a fim de garantir de modo definitivo à Educação Profissional e Tecnológica o seu caráter estratégico e, ao mesmo tempo, inseri-la no rol das Políticas de Estado. O CONCEFET ao manifestar a sua posição, o faz com a convicção de que os Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia ampliam o significado da Educação Profissional e Tecnológica em todos os níveis, enquanto modalidade potencializadora do homem no desenvolvimento de sua capacidade de gerar conhecimento a partir de uma prática interativa com a realidade, principalmente, no atual estágio em que se encontra o país.

Recife (PE), 13 de julho de 2007”. (CONCEFET, 2007)

Observa-se que, até o lançamento da Lei 11.892/2008, os Institutos Federais eram chamados de IFETs. Esse posicionamento político em bloco do CONCEFET foi importante para viabilização do processo de transformação das instituições em Institutos Federais, porque, até o Decreto 6905/2007, o principal objetivo de muitos CEFETs era a transformação em Universidade Tecnológica, a exemplo do que ocorrera com a UTFPR em 2005, o que não se tornou realidade.

Sabe-se que diversas instituições já haviam apresentado projetos de transformação em Universidade Tecnológica ao MEC. O então CEFET-SC também encaminhou seu projeto no ano de 2006.

Segundo Lima Filho (2010), o projeto de se transformar em Universidade Tecnológica foi alimentado durante alguns anos: “O CEFET do Paraná vinha pleiteando a transformação em Universidade Tecnológica desde o início da reforma da educação profissional, mais precisamente desde 1998”. Outros CEFETs, como os do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, também alimentavam o mesmo sonho. Todavia, a Lei nº 11.184, de 7/10/2005, transformou somente o CEFET do Paraná em Universidade, frustrando os planos dos demais.

Os CEFETs do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, que haviam sido transformados em CEFET juntamente com o CEFET do Paraná, em 1978, e que apresentavam os requisitos básicos necessários para a transformação em universidade argumentaram que a transformação em Instituto

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significaria um retrocesso acadêmico, pois já contavam Sendo assim, não poderiam atender aos percentuais de 50% de vagas nos cursos técnicos, que era exigência da Lei.

Cada grupo reagiu de forma diferente à proposta governamental de mudança trazida pelo Decreto 6905/2007, porque ele alterava radicalmente a concepção e a estrutura das Escolas Agrotécnicas, CEFETs, Escolas Técnicas Federais e Escolas Vinculadas às Universidades Federais. Algumas instituições que, por sua condição de autarquia eram mais independentes, ao se tornarem parte de uma Instituição nova perderiam, na prática, o poder de decisão. Aquelas instituições que eram vinculadas às universidades perderiam esse vínculo histórico. Nem todas as Universidades abriram mão de suas escolas vinculadas. Um exemplo é Colégio Politécnico vinculado à Universidade Federal de Santa Maria, que continua sendo vinculado à UFSM. Entre as escolas vinculadas que aderiram aos Institutos, destacam-se o Colégio Agrícola de Camboriú, que era ligada à UFSC, e a Escola Técnica de Educação a Distância do Paraná, que era vinculada à UFPR, e transformou-se no Instituto Federal do Paraná.

Segundo Domingos Sobrinho (2010), o Decreto 6.905/2007 foi publicado sem um prévio debate com a rede federal, o que gerou inúmeras interpretações. Como diversos CEFETs já haviam encaminhado para o MEC seus projetos de transformação em Universidade Tecnológica, a figura do Instituto se constituiu em uma “estranha novidade”.

No dia 1 de junho de 2007, foi realizado um debate sobre o Decreto 6.905/2007 no Câmpus Florianópolis do então CEFET-SC. O relato completo está disponível no link:

http://transformacaodocefetscemifsc.wordpress.com. Nessa reunião, foram trazidas diversas indagações:

“Por que a urgência nas discussões? O IFET já está consolidado? Seremos os primeiros a aderir? O PROEP 2 está vinculado à transformação em IFET?

Como ficará a carreira docente? Como fica a identidade institucional prevista no PPI do CEFET-SC? Qual a vantagem de se transformar em IFET? O que há de diferente do que fazemos hoje? Por que não conceder as prerrogativas de uma universidade sem a transformação em IFET? Os Institutos são inferiores aos centros universitários? Que tipo de autonomia orçamentária a instituição terá se o Decreto prevê obrigação de criar 20% de vagas para licenciatura e 50% em cursos técnicos. Como ficaria a transformação em Universidade Tecnológica? Esta não era uma meta institucional? [ ...] O próprio governo reconhece que o status superior ao de CEFET é a condição de universidade

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tecnológica. Não podemos retroceder...Diante dessas questões a comunidade da Unidade Florianópolis anseia pelas respostas e espera ampla discussão a fim de amadurecer o debate sobre o tema para poder decidir o futuro do CEFET- SC. (RELATOS, 2007).

Domingos Sobrinho (2010) foi preciso em descrever esse momento em sua análise do contexto da edição do Decreto:

“o desconhecido sempre assusta, como bem demonstrou o psicólogo social Serge Moscovici (1967),a sua obra fundadora da teoria das representações sociais. Não possuindo familiaridade com o objeto representado, no caso o Instituto, os diferentes grupos sociais que compõem a rede não tiveram alternativa senão atribuir sentido ao desconhecido, lançando mão de elementos de sua memória e de outros referentes culturais ligados a sua história e identidade social. Por essa razão, várias e diversificadas foram as reações à proposta do ministro. Umas, demonstraram completa incompreensão do que se estava propondo; outras manifestaram receio, mas exibiram certa simpatia pela ideia; outras ainda vislumbraram, de imediato, alguma trama do capital internacional e a volta do autoritarismo dos “anos de chumbo”.

Parte dessa apreensão foi dissolvida a partir da postura franca do Ministro da Educação, prof. Fernando Hadadd, conforme podemos perceber em sua fala na reunião de trabalho entre o MEC e os dirigentes, realizada no dia 22 de junho de 2007:

“O Decreto não é uma camisa de força. O MEC está propondo um debate porque acredita no amadurecimento da rede e na capacidade dela dar respostas aos desafios do desenvolvimento do país.... O Instituto não concorre com outras formas de organização. O Instituto não concorre com as escolas vinculadas, com as agrotécnicas e com os CEFETS. O objetivo é começar os Institutos com uma ou duas experiências. Cada instituição tem a liberdade de planejar seu futuro a partir de uma reflexão. Não haverá nenhum constrangimento. Não há pressão na rede, porque o Decreto 6905/2007 não fixa prazos. O Decreto 6905/2007 cria um modelo e faz um convite à reflexão” (HADDAD, 2007).

No então CEFET-SC, muitos estudantes e servidores tinham dúvidas se a equiparação com as instituições de nível superior traria algum prejuízo à oferta de cursos técnicos. Em uma leitura superficial do Decreto já era possível dissipar essa preocupação, tendo em vista que nele havia a

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indicação de era necessário garantir um percentual mínimo de 50% para oferta de cursos técnicos.

Nas falas dos professores, por outro lado, também era possível identificar a preocupação com a transformação do CEFET-SC em Instituto Federal: “o que temos a perder? Nada? Então por que não?” e outros diziam “o que temos a ganhar com isso? Nada, então ficamos como estamos pois temos segurança jurídica”.

O Colegiado de Administração do então CEFET-SC discutiu a transformação em três reuniões ordinárias durante o ano de 2007: 24 de setembro, 19 de novembro e 27 de novembro de 2007. Na reunião do dia 19 de novembro, houve uma discussão sobre a metodologia que seria utilizada para posicionamento dos servidores e estudantes diante da possibilidade de transformação em Instituto Federal:

“Encaminhamentos sobre IFET. Consuelo Aparecida Sielski Santos ponderou que há urgência na resolução do impasse quanto à decisão de transformação do CEFET-SC em IFET. Nilva Schroeder informou sobre os procedimentos e orientações para apresentação das teses de posicionamento sobre a transformação em IFET. Foi proposto que o processo seja conduzido pelos diretores das unidades e que o voto referente à aceitação ou não quanto à transformação em IFET seja por unidade. A proposta foi posta em votação, apenas os diretores de unidades tiveram direito a voto, ao todo foram seis votos favoráveis e apenas um contra. Ficou definido que o tema será discutido com o SINASEFE em uma assembléia, e que no dia vinte e sete de novembro será feita uma reunião ampliada do Colegiado Administrativo informando à comunidade sobre o tema”. (COLEGIADO DE ADMINISTRAÇÃO, 2007)

Outros argumentos que causaram insegurança estão relacionados à Conferência Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, realizada em novembro de 2006. Para alguns servidores do então CEFET-SC, a Conferência não tratou do processo de transformação em Institutos Federais. Se o governo tinha em mente um novo modelo para a rede federal, por que não o trouxe para o debate na Conferência? Esse fato pode ser comprovado na consulta aos anais completos da

Conferência Nacional, que disponibilizamos no link:

http://transformacaodocefetscemifsc.wordpress.com.

Segundo uma pesquisa realizada pela prof. Célia Regina Otranto (2010), a grande preocupação das Escolas Agrotécnicas era a perda de autonomia, caso ocorresse a integração aos CEFETs:

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“pela ordem de importância, o CEFET seria a cabeça do IFET, ou seja, ocuparia a reitoria da nova instituição, e a EAF a ele se subordinaria. Muitas demonstraram preocupação com a possível extinção do ensino médio e até do profissional técnico, avaliando que a intenção do governo era transformar as escolas técnicas federais em faculdades, passando o ensino médio e técnico para os estados. Mas, dentre todos os argumentos apresentados, o mais destacado em todas as Escolas Agrotécnicas que fizeram parte da amostra foi a perda de identidade dessas instituições”. (OTRANTO, 2010).

Apesar do Conselho das Escolas Agrotécnicas Federais (CONEAF) ter encaminhada ao Ministro da Educação um documento, datado de 6 de junho de 2007, sugerindo um “novo desenho” para a rede federal, na reunião de trabalho realizada em Brasília, no dia 22 de junho, o vice-presidente do CONEAF, prof. Ivan Holanda – no ato representando o presidente do CONEAF, prof. Cláudio Koller - ressaltou que toda mudança gerava apreensão e desconforto, mas também expectativa e que, apesar disso, o CONEAF apoiava a transformação em Institutos Federais, por entender que o projeto era de grande envergadura para a educação profissional e tecnológica do país. Essa carta se encontra disponível no link:

http://transformacaodocefetscemifsc.wordpress.com.

Segundo Otranto (2010), os argumentos dos CEFETs de MG e do Rio de Janeiro para não aderirem aos Institutos Federais estavam ligados ao fato de que essa transformação significaria um retrocesso, tendo em vista que essas eram instituições que já possuíam programas de graduação, mestrado e projeto de implantação do doutorado, e o Decreto fixava a obrigatoriedade de oferta de 50% das vagas para cursos técnicos.

Ressalta-se que essas duas instituições foram transformadas em CEFETs em 1978, junto com o CEFET-PR, o que pode explicar a contrariedade de suas comunidades acadêmicas, que assistiram apenas o CEFET-PR se transformar em UTFPR.

O Conselho Nacional de Dirigentes das Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais (CONDETUF) encaminhou ao MEC o documento chamado de “Carta de Gramado”, de 31 de maio de 2007, sugerindo uma discussão técnica e política com as escolas vinculadas, bem como a inclusão da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) nas discussões. Por razões diversas, apenas 8 das 33 escolas vinculadas foram incorporadas aos Institutos Federais. Isso pode ser explicado, em parte, porque essas escolas não possuíam autonomia para a tomada de decisão. Os documentos encaminhados pelo

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