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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Évora Processo nº /12.0YIPRT.E1

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 154687/12.0YIPRT.E1 Relator: RUI MACHADO E MOURA Sessão: 26 Fevereiro 2015

Votação: UNANIMIDADE

LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ PRESSUPOSTOS

Sumário

A garantia de um amplo direito de acesso aos tribunais e do exercício do contraditório, próprias do Estado de Direito, são incompatíveis com

interpretações demasiado apertadas do art. 542º do C.P.C., nomeadamente, no que respeita às regras das alíneas a) e b), do seu nº 2 e, por via disso, não se justifica, sem mais, a condenação da R., por má fé, por não se ter provado a versão dos factos por si alegada e se ter provado a versão inversa apresentada pela A.

Sumário do Relator

Texto Integral

P.154687/12.0YIPRT.E1

Acordam no Tribunal da Relação de Évora:

(…), Lda. mediante apresentação do competente requerimento de injunção contra (…) solicitou o pagamento, por parte desta última da quantia de € 22.330,00, acrescida de juros de mora no valor de € 1.102,00, bem como de outras quantias no valor de € 191,40 e da taxa de justiça por si paga, no valor de € 153,00, o que perfaz o montante total de € 23.776,40.

Alegou, para tanto, que, no dia 17 de Janeiro de 2011, celebrou com a R. um contrato de sublocação para o comércio, mediante o pagamento da renda mensal de € 1.000,00, acrescidos de IVA, nos primeiros quatro meses de 2011 e de € 1.500,00, acrescidos de IVA, a partir do mês de Maio de 2011.

Acontece, porém, que a R. nunca efectuou o pagamento integral das quantias devidas, tendo pago apenas uma parte das rendas acordadas. Assim, e em consequência de insistências efectuadas pela A., a R. acabou por entregar o

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locado no dia 31 de Julho de 2012, data em que permanecia em dívida a quantia de € 23.623,40, a título de rendas não pagas, caução, consumos de electricidade e IVA.

Regularmente notificada, veio a R. deduzir oposição, referindo, em primeiro lugar, que entregou diversas quantias à A., a fim de assegurar o pagamento das rendas acordadas, sendo certo ainda que a A. aceitou, verbalmente, que o valor das rendas se mantivesse no montante de € 1.000,00, mesmo a partir do mês de Maio de 2011. Para além disso, a 21 de Janeiro de 2012, a R. solicitou à A. uma nova redução da renda, aceitando a mesma que o valor da renda ficasse fixado em € 800,00, acrescidos de IVA, com efeitos retroactivos a partir do dia 1 de Outubro de 2011. Por fim, no que diz respeito aos consumos de electricidade mencionados pela A., considera a R. que o respectivo valor não se compadece com a dimensão e necessidades do estabelecimento comercial, sendo certo que as facturas emitidas pela EDP incluem o consumo energético de outras fracções, para além daquela que foi sublocada à R. Assim, uma vez que, com a entrega do locado, a R. ficou com a perspectiva de que não deveria pagar qualquer outro montante à A., conclui o respectivo articulado de

contestação sustentando que a pretensão formulada pela A. deverá improceder.

Procedeu-se à realização da audiência de discussão e julgamento, com observância das formalidades legais aplicáveis, sendo que, no decurso da mesma - através do requerimento junto a fls. 85 e segs. dos autos - veio a A.

pedir a condenação da R. como litigante de má fé, solicitando o pagamento de uma indemnização de valor não inferior a € 1.000,00.

De seguida pela M.ma Juiz “a quo” foi proferida sentença que julgou a

presente acção procedente e, em consequência, condenou a R. a pagar à A. a quantia de € 19.378,00, assim como a quantia correspondente aos consumos de energia eléctrica do locado, relegando para posterior incidente de

liquidação a fixação do montante em causa, o qual não poderá exceder a quantia de € 3.143,40, acrescendo a ambas as quantias juros de mora

calculados à taxa de juro comercial desde a data de vencimento de cada uma das rendas devidas e desde a data em que o montante correspondente aos consumos de energia eléctrica se tornar líquido. Mais foi a R. condenada, por ter incorrido em litigância de má fé, no pagamento de uma multa de 4 UC´s e numa indemnização equivalente ao montante das despesas e prejuízos sofridos pela A. como consequência directa ou indirecta da má fé, em montante que não poderá exceder o valor de € 1.000,00.

Inconformada com tal decisão dela apelou a R. tendo apresentado para o efeito as suas alegações de recurso e terminando as mesmas com as seguintes conclusões:

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a) A ora Recorrente deduziu oposição ao Requerimento de Injunção através do qual alegou todos os factos que entendeu serem pertinentes para a sua defesa;

b) No dia 11.04.2013, iniciou-se a audiência de Julgamento, tendo a Recorrida junto vários documentos, para fazer prova da matéria do requerimento de Injuncão, tendo a audiência sido suspensa;

c) No dia 16.04.2013 a ora Recorrida, faz chegar aos autos, um requerimento, ao qual chama "Requerimento Probatório" através do qual apresenta uma constatação à oposição, ainda que encapotada e pede a condenação da Recorrente enquanto litigante de má-fé;

d) No dia 23.04.2013, o Ilustre Mandatário da Recorrente, à data, apresenta um requerimento nos presentes autos, através do qual, invoca a

extemporaneidade do "requerimento probatório" apresentado, nomeadamente, por se tratar de uma contestação à oposição apresentada anteriormente;

e) Sobre este pedido de extemporaneidade não recaiu qualquer despacho do Tribunal a quo, tendo o Tribunal a quo proferido sentença sem resolver uma questão que tinha sido submetida à sua apreciação, violando assim o artigo 608.º do Novo CPC, antigo artigo 660.º do CPC., o que acarreta a nulidade da sentença nos termos do 615º n.º 1 d) do Novo CPC, o que desde já se invoca;

f) O Tribunal a quo deveria ter dado como provada a seguinte matéria: "No final de Abril de 2011, a Ré solicitou à Autora que a renda fosse reduzida definitivamente, de forma a vigorar, no restante período temporal do contrato celebrado, pelo montante de € 1.000,00 acrescido de IVA, o que foi

verbalmente aceite pela Autora".

g) Encontra-se a fl. 72 dos autos um documento emitido pela ora Recorrida, a que a mesma chama "Recibo de renda", com o n.º 6, com a descrição "Renda de Maio de 2011" e no valor total de € 1.230,00 (€ 1.000,00 + 23% IVA);

h) Encontra-se a fls. 73 dos autos, um documento emitido pela ora Recorrida, a que a mesma chama "Recibo de renda", com o n. º 7, com a descrição

"Renda de Junho de 2011" e no valor total de € 1.230,00 (€ 1.000,00 + 23%

IVA);

i) Encontra-se a fl. 74 dos autos, um documento emitido pela ora Recorrida, a que a mesma chama "Recibo de renda", com o n.º 9, com a descrição "Renda de Julho de 2011" e no valor total de € 1.230,00 (€ 1.000,00 + 23% IVA);

j) E, a fl. 75 dos autos, encontra-se um documento emitido pela ora Recorrida, a que a mesma chama "Recibo de renda", com o n.º 10, com a descrição

"Renda de Agosto de 2011" e no valor total de € 1.230,00 (€ 1.000,00 + 23%

IVA);

k) A emissão destes recibos de renda, são prova de que a Recorrida aceitou aquilo que lhe fora proposto pela Recorrida, ou seja, reduzir o valor das

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rendas mensais para € 1.000,00 + IVA de Abril de 2011 em diante;

l) Pois caso assim não fosse, nunca emitiria recibos de renda no valor de € 1.000,00 + IVA;

m) Ou no mínimo, consubstanciará a redução da renda em relação aqueles meses (Maio a Agosto de 2011), nada mais podendo ser reclamado em relação aos valores das mesmas;

n) Quanto a esta matéria, todas as testemunhas indicadas pela ora Recorrida, declararam que o que sabiam do contrato e das negociações para redução dos valores de rendas, resultava daquilo que lhes tinha sido transmitido pela

entidade patronal e pela elaboração de algumas cartas;

o) Tendo a Recorrida aceite reduzir o valor de renda para € 1.000,00 a partir de Maio de 2011 e dai em diante, significa isto que, a o valor devido pela Recorrente à Recorrida, referente aos meses de Outubro de 2011 até Julho de 2012, data em que o contrato cessou os seus efeitos, é de € 10.000,00, sem qualquer IVA;

p) Todavia, mesmo que se entenda que o valor das rendas em divida é de € 1.500,00 por mês, desde Outubro de 2011 a Julho de 2012, o que apenas por dever de patrocínio se admite, o valor em divida será apenas de € 15.000,00, sem qualquer IVA.

q) Assim, deveria o Tribunal ter dado como provada a matéria do parágrafo 5 da matéria dada como provada, ou pelo menos que a Recorrida aceitou reduzir os valores de renda nos meses de Maio a Agosto de 2011, pelo que, ao ter decidido como decidiu andou mal o Tribunal ad quo, tendo violado o artigo 607.º do Novo C.P.C.

r) Deu o Tribunal como provado que: (A Ré efectuou, por referência aos meses de Abril, Maio e Junho de 2012, o pagamento do montante de € 800,00,

acrescido de IVA no valor de € 184,00, o que totaliza € 2.952,00";

s) Todavia, não obstante esta matéria estar provada, o Tribunal ad quo, não reduz o montante de € 2.952,00 ao valor peticionado a título de rendas;

t) O argumento de que tal importância serviu para liquidar facturas de luz em atraso, não pode colher junto do Tribunal ad quo, pois este mesmo Tribunal, entendeu que, em relação aos valores peticionados pela Recorrida a título de despesas de electricidade do locado, não tinha elementos suficientes para fixar o valor a pagar pela Recorrente;

u) A Recorrente nunca aceitou ou autorizou, expressa ou tacitamente que a Recorrida imputasse tais pagamentos à divida de electricidade;

v) Ao valor das rendas em dívida, terá de ser deduzida a importância de € 2.952,00, o que o Tribunal a quo não fez, pelo que, violou assim o artigo 607.º no novo CPC, artigo 653.º do antigo C.P. C;

w) O contrato celebrado pelas partes e a que chamaram um contrato de

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locação para comércio, é isso mesmo, um contrato de sublocação mobiliária, na categoria de subarrendamento para comércio, ou para fins não

habitacionais, enquadrado na definição do artigo 1022.º do CC;

x) No próprio contrato assinado pelas partes, constam termos como: "renda mensal", "arrendamento", "arrendado", "senhorio", "arrendatária" ;

y) As testemunhas ouvidas em sede de audiência, todas se referiram ao contrato como sendo de arrendamento ou sublocação;

z) Ao contrário do entendimento do Tribunal ad quo, o contrato celebrado não é um contrato de cessão de estabelecimento;

aa) Um estabelecimento comercial é uma unidade económica, organizada em vista da prossecução de determinado fim e englobando, para o efeito, um conjunto de elementos, corpórios (o imóvel/local onde funciona o

estabelecimento, as mercadorias/produtos, a maquinaria, o dinheiro) e incorpóreos (créditos e débitos, patentes, marca, o know-how, aviamento, etc.);

bb) No caso do contrato dos presentes autos, não é feita qualquer referência à existência de mercadorias, produtos, dinheiro, crédito, débitos, marcas, know- how, aviamento, pelo que não estamos perante qualquer contrato de cessão de estabelecimento;

cc) Devendo isso sim, ser qualificado como contrato de sublocação de imóvel ou subarrendamento para fim não habitacional, pelo andou mal o Tribunal a quo, artigo 607.º no novo CPC, artigo 653.º do antigo C.P.C.;

dd) Um contrato de arrendamento ou locação de imóvel ou subarrendamento ou sublocação de imóvel, não está sujeito a IVA pelo que, a Recorrida não poderá exigir à Recorrente qualquer importância a esse titulo, já que a administração fiscal também não lha exige.

ee) Assim, andou mal o Tribunal a quo a ter condenado a Recorrida a pagar determinadas somas a titulo de IVA sobre o valor de rendas, montantes esses não sujeitos a tributação em sede de IVA;

ff) O Requerimento apresentado pelas Recorrida, requerendo a condenação da Recorrente enquanto litigante de má-fé foi apresentado em juízo com violação de todas as regras processuais e como tal, deveria ter sido considerado

extemporâneo pelo Tribunal a quo.

gg) O Tribunal a quo, não pode condenar a Recorrente a pagar à Recorrida uma indemnização, cujo pedido é extemporâneo, pelo que, também aqui andou mal o Tribunal a quo;

hh) Por outro lado, a Recorrente nunca litigou de má-fé, porquanto os factos que alegou são verdadeiros, eram e são ainda hoje a sua convicção do que se passou, mas infelizmente a Recorrente não os conseguiu provar;

ii) O Tribunal a quo deveria também ter condenado a Recorrida, porquanto a

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mesma tentou receber da Recorrente uma importância a titulo de custos de electricidade, bem sabendo que, aqueles valores diziam respeito a nove fracções, incluindo os seus escritórios, reclamando ainda valores de rendas superiores aos constantes dos recibos de renda que emitiu e que constam a fls. 74 a 77 dos autos;

jj) A Recorrida tentou ludibriar o tribunal e fez um uso reprovável do processo, tentando receber algo a que não tinha direito.

kk) Caso assim não se entenda, a Recorrente não pode ser condenada a pagar qualquer importância à Recorrida a título de indemnização, na medida em que o pedido formulado nos presentes autos improcedeu parcialmente, pelo que, não foram os supostos factos invocados dolosamente, que fizeram com que a Recorrente, tivesse custos com os presentes, já que, outras questões se discutiram nos presentes autos;

ll) Nestes termos, e nos mais de Direito que V. Exas. Doutamente suprirão, deve ser declarada revogada a decisão recorrida e consequentemente, ser esta substituída por nova sentença, nos termos do supra exposto. E, assim, será feita a costumada Justiça.

Pela A. foram apresentadas contra alegações nas quais pugna pela manutenção da sentença recorrida.

Atenta a não complexidade das questões a dirimir foram dispensados os vistos aos Ex.mos Juízes Adjuntos.

Cumpre apreciar e decidir:

Como se sabe, é pelas conclusões com que a recorrente remata a sua alegação (aí indicando, de forma sintética, os fundamentos por que pede a alteração ou anulação da decisão recorrida: art. 639º nº 1 do C.P.C.) que se determina o âmbito de intervenção do tribunal ad quem [1][2].

Efectivamente, muito embora, na falta de especificação logo no requerimento de interposição, o recurso abranja tudo o que na parte dispositiva da sentença for desfavorável à recorrente (art. 635º nº 3 do C.P.C.), esse objecto, assim delimitado, pode vir a ser restringido (expressa ou tacitamente) nas

conclusões da alegação (nº 4 do mesmo art. 635º) [3][4].

Por isso, todas as questões de mérito que tenham sido objecto de julgamento na sentença recorrida e que não sejam abordadas nas conclusões da alegação da recorrente, mostrando-se objectiva e materialmente excluídas dessas

conclusões, têm de se considerar decididas e arrumadas, não podendo delas conhecer o tribunal de recurso.

No caso em apreço emerge das conclusões da alegação de recurso apresentadas pela R., ora apelante, que o objecto do mesmo está circunscrito à apreciação das seguintes questões:

1º) Saber se a sentença é nula por omissão de pronúncia (cfr. art. 615º

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nº 1 alínea d) do C.P.C.);

2º) Saber se foi incorrectamente valorada pelo tribunal “a quo” a prova (testemunhal e documental) carreada para os autos, devendo, por isso, ser alterada a factualidade dada como provada (cfr. ponto 5 dos factos não provados);

3º) Saber se a quantia de 2.952,00 € que a R. pagou à A. (cfr. ponto 13 dos factos provados) deverá ser reduzida no valor peticionado pela A. a título de rendas, o que a decisão recorrida não fez;

4º) Saber se entre as partes foi celebrado um contrato de sublocação ou subarrendamento e não de cessão de estabelecimento, o que

acarreta necessariamente não estar o mesmo sujeito a IVA (23%), mas apenas ao pagamento de Imposto de Selo (10%);

5º) Saber se a conduta da recorrente não integra os requisitos da figura da má fé, pelo que não há razão válida para a sua condenação em multa e numa indemnização à A.

Apreciando, de imediato, a primeira questão suscitada pela R., ora apelante – relativa à nulidade da sentença por omissão de pronúncia (cfr. art. 615º nº1 alínea d) do C.P.C.) – importa dizer a tal respeito que, como é sabido «a lei não traça um conceito de nulidade de sentença, bastando-se com a enumeração taxativa de várias hipóteses de desconformidade com a ordem jurídica que, uma vez constatadas na elaboração da sentença, arrastam à sua nulidade» - cfr. Amâncio Ferreira, Manual dos Recursos em Processo Civil, 4ª ed.,

págs.46/47.

Esse elenco taxativo das causas de nulidade da sentença consta das alíneas a) a e) do nº 1 do art. 615º do C.P.C. (correspondente ao art. 668º do velho C.P.C.) Ora, a alínea d) de tal normativo comina a sentença de nula “quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento”.

«Devendo o juiz conhecer de todas as questões que lhe são submetidas, isto é, de todos os pedidos deduzidos, todas as causas de pedir e excepções

invocadas e todas as excepções de que oficiosamente lhe cabe conhecer (art.

660º-2, actual art. 608º nº 2), o não conhecimento de pedido, causa de pedir ou excepção cujo conhecimento não esteja prejudicado pelo anterior

conhecimento de outra questão constitui nulidade, já não a constituindo a omissão de considerar linhas de fundamentação jurídica, diferentes da da sentença, que as partes hajam invocado. Não podendo o juiz conhecer de causas de pedir não invocadas, nem de excepções na exclusiva disponibilidade das partes (art. 660º-2, actual art. 608º nº 2), é nula a sentença que o faça» - cfr. Lebre de Freitas, Montalvão Machado e Rui Pinto in “Código de Processo Civil Anotado”, Vol. 2°, 2001, pág. 670.

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Com efeito, é entendimento na jurisprudência dos nossos tribunais superiores que a nulidade por omissão de pronúncia há-de incidir apenas sobre

“questões” que tenham sido submetidas à apreciação do tribunal, com elas não se confundindo as considerações, argumentos, motivos, razões ou juízos de valor produzidos pelas partes (cfr., entre outros, o Ac. do STJ de 19/3/2002, Rev. nº 537/02, 2ª Sec., Sumários, 3/2002).

Na verdade, a omissão de pronúncia a que alude a alínea d) do nº 1 do citado art. 615º respeita apenas a questões e não a factos, sendo que a omissão de factos só integra a nulidade prevista na alínea b) do referido preceito legal se se traduzir na falta absoluta da respectiva fundamentação o que, como é evidente, não se verifica no caso dos autos.

A este propósito pode ver-se, entre outros, o Ac. do STJ de 10/1/2002, Rev. nº 3196/01, 2ª sec., Sumários 1/2002.

Ora, voltando agora ao caso dos autos, sustenta a recorrente que não existiu qualquer despacho judicial que apreciasse o seu requerimento de 23/4/2013 - no qual invoca a extemporaneidade do requerimento da A. de 16/4/2013 (cfr.

fls. 85 e segs.) por, em seu entender, se tratar de “contestação” à oposição que, tempestivamente, havia apresentado nos autos - tendo o tribunal “a quo”

proferido sentença sem previamente resolver uma questão submetida à sua apreciação, o que acarreta a sua nulidade.

Todavia, ao contrário do sustentado pela R., ora apelante, não se verifica a nulidade invocada uma vez que, resulta da análise do processo, ter vindo a M.ma Juiz “a quo” a pronunciar-se expressamente sobre tal requerimento, pois, na audiência de julgamento de 7/6/2013 (cfr. fls.126), foi por ela decidido o seguinte:

- No que diz respeito ao requerimento de fls.85 e segs. admito o mesmo, inclusivamente na parte em que a Autora se pronuncia sobre as excepções invocadas pela Ré, uma vez que, tendo em conta a forma processual seguida nestes autos, apenas após o início da audiência de julgamento teria que ser concedida á Autora a possibilidade de se pronunciar sobre as excepções invocadas no articulado de oposição (cfr. art. 3º nº 4 do C.P.C.) – sublinhado nosso.

Assim sendo, entendemos que não se vislumbra qualquer nulidade por

omissão de pronúncia, sendo certo que o tribunal “a quo”, no despacho acima transcrito, se veio a pronunciar quanto à questão suscitada pela apelante, relativa à alegada extemporaneidade do requerimento da A. de 16/4/2013 (cfr.

fls. 85 e segs.), pelo que, forçoso é concluir que a sentença recorrida não padece da nulidade prevista na citada alínea d) do nº 1 do art. 615º que erroneamente lhe é imputada pela recorrente.

Por último - e a terminar - apenas se dirá que foram indicadas na sentença

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aqui em análise quais as razões e fundamentos para se decidir de acordo com a maneira como se decidiu - nomeadamente para vir a julgar procedente a presente acção - pelo que a mencionada decisão não está, de todo, inquinada da nulidade invocada e prevista na alínea d) do nº 1 do referido art. 615º do C.P.C.

Porém, isto não implica que não possa existir eventual erro de julgamento e que a decisão em causa seja a correcta e a adequada ao caso em apreço,

perante a factualidade carreada para os autos e o direito aplicável, mas nunca a nulidade de sentença invocada pela R., ora apelante.

Analisando agora a segunda questão levantada pela R., ora apelante – relativa à incorrecta valoração pelo tribunal “a quo” da prova carreada para os autos, devendo ser dado como “provado” o ponto 5 dos factos não provados – importa referir, desde já, o que, a tal propósito, dispõe o nº 1 do art. 662º do C.P.C., que, de seguida, se transcreve:

- “A Relação deve alterar a decisão proferida sobre a matéria de facto, se os factos tidos por assentes, a prova produzida ou um documento superveniente impuserem decisão diversa”.

Por sua vez, o art. 640º do C.P.C. especifica ou concretiza qual o ónus que incumbe ao recorrente quando pretender impugnar a matéria de facto.

Ora, no caso dos presentes autos houve gravação dos depoimentos

testemunhais prestados e, por isso, a recorrente podia impugnar, com base neles, a decisão da matéria de facto, seguindo, naturalmente as regras impostas pelo citado art. 640º.

Assim sendo, no que concerne ao ponto 5 dos factos não provados - o qual a R., ora apelante, pretende que obtenha resposta positiva - constata-se que a recorrente indicou, nas suas alegações e conclusões de recurso, quais os concretos meios probatórios que, em seu entender, impunham decisão diversa da recorrida e, por isso, nesta parte, deu cumprimento ao estatuído no já citado art. 640º do C.P.C.

Todavia, não obstante afirmar-se que o registo de prova produzido em audiência tem por fim assegurar um verdadeiro e efectivo 2º grau de

jurisdição na apreciação da matéria de facto, a realidade, como todos sabemos é bem diferente, já que “nunca poderá envolver, pela própria natureza das coisas a reapreciação sistemática e global de toda a prova produzida em audiência, visando apenas a detecção e correcção de pontuais, concretos e seguramente excepcionais erros de julgamento, incidindo sobre pontos determinados da matéria de facto, que o recorrente sempre terá o ónus de apontar claramente e fundamentar na sua minuta de recurso”[5].

A recorrente põe em causa a objectividade de apreciação dos factos materiais que a Mma. Juiz “a quo! manteve como razão da sua convicção/decisão,

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designadamente a prova documental e testemunhal, não obstante o princípio da livre apreciação da prova pelo julgador, consignada na lei – cfr. art. 607º nº 5 do C.P.C.

Ora, ao tribunal de 2ª instância não é lícito subverter o principio da livre apreciação da prova devendo, tão só, circunscrever-se a apurar da

razoabilidade da convicção probatória do primeiro grau dessa mesma

jurisdição, face aos elementos que agora lhe são apresentados nos autos e, a partir deles procurar saber se a convicção expressa pelo tribunal de 1ª

instância tem suporte razoável naquilo que a prova testemunhal gravada e em outros elementos objectivos neles constantes, pode exibir perante si, sendo certo, que se impõe ao julgador que indique “os fundamentos suficientes para que, através da regras de ciência, da lógica e da experiência, se possa

controlar a razoabilidade d(aquel)a convicção sobre o julgamento de facto como provado ou não provado”[6].

Assim, a constatação de erro de julgamento no âmbito da matéria de facto, impõe que se tenha chegado à conclusão que a formação da decisão devia ter sido em sentido inverso daquele em que se julgou, emergindo “de um juízo conclusivo de desconformidade inelutável e objectivamente injustificável entre, de um lado, o sentido em que o julgador se pronunciou sobre a

realidade de um facto relevante e, de outro lado, a própria natureza das coisas

”[7].

No caso em apreço, a matéria de facto dada como provada e não provada mostra-se devidamente fundamentada, com a indicação dos vários

depoimentos testemunhais e da prova documental relevante para tal – cfr. fls.

148 a 152 da sentença impugnada.

Da análise global e integral dos depoimentos testemunhais, após audição das respetivas gravações (não se tendo em conta apenas os excertos constantes das alegações de recurso, retirados de todo contexto dos depoimentos), conexionados com a análise crítica dos documentos juntos aos autos,

entendemos que tais elementos probatórios não consentem as pretendidas modificações, pois, deles não se pode retirar a conclusão de ter havido erro de julgamento, por parte do Julgador a quo, erro esse traduzido na

desconformidade flagrante entre os elementos probatórios e a decisão. E, sendo esses elementos, no caso em apreço, de carácter essencialmente documental e, em parte, testemunhal, deve dar-se posição de primazia, relativamente à apreciação da credibilidade dos depoimentos e dos outros elementos probatórios, ao Julgador a quo, que deteve a possibilidade de ouvir, perante si, os relatos das pessoas inquiridas,[8] de confrontar os seus

depoimentos com os outros elementos documentais existentes nos autos, isto

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não obstante a valoração diferente que possa ser dada aos mesmos por terceiros - nomeadamente pela recorrente - que lhe possibilita chegar a conclusões divergentes das do Julgador “a quo”.

Não podemos olvidar o que é dito por quem, em sede de audiência de

julgamento, analisou criticamente as provas segundo o seu prudente e livre arbítrio, conforme a lei lhe faculta, sendo que, a Mma. Juiz “a quo” que presidiu ao julgamento se mostrou interventiva no decorrer da audiência, procurando esclarecer-se acerca do conteúdo de cada um dos depoimentos, não deixando que as instâncias se tornassem repetitivas e que as perguntas não incidissem sobre factos que as testemunhas tivessem tido conhecimento (directo ou indirecto) procurando aferir da razão de ciência das mesmas, com vista à valoração dos respectivos depoimentos em conjugação com a restante prova (documental) carreada para os autos.

Com efeito, não será demais repetir que, na sustentação sobre a matéria de facto dada como provada e não provada a Mma. Juiz “a quo” mostrou-se convincente quanto à certeza da sua decisão, referindo - no que tange ao ponto 5 dos factos não provados (“No final de Abril de 2011, a Ré solicitou à Autora que a renda fosse reduzida definitivamente, de forma a vigorar, no restante período temporal do contrato celebrado, pelo montante de € 1.000,00 acrescidos de IVA, o que foi verbalmente aceite pela Autora”) - porque em sua convicção, era de dar credibilidade aos documentos juntos aos autos e ao depoimento isento, seguro e circunstanciado da testemunha (…), no sentido em que foi consignado na respectiva motivação da sentença recorrida, nomeadamente ao afirmar que:

- (…) ficou também por demonstrar que os pedidos apresentados pela Ré quanto à alteração das condições contratadas com a Autora tenham tido lugar logo no final do mês de Abril de 2011.

Na verdade, a documentação junta aos autos remonta apenas ao mês de Outubro de 2011, sendo certo que a demais prova produzida não permitiu confirmar que já antes dessa altura tenha sido solicitada pela Ré a pretendida redução da renda inicialmente acordada.

Assim, não poderia deixar de se considerar não provado que no final do mês de Abril de 2011 tenha sido solicitada a redução definitiva da renda para o montante de € 1.000,00, acrescidos de IVA.

Por outro lado, a correspondência trocada pelas partes revela que a Autora apenas aceitou, em momento posterior, o pagamento de uma renda inferior à estipulada pelas partes no contrato celebrado, sob a condição de a Ré

proceder à realização dos trabalhos a que se reporta o e.mail remetido no dia 15 de Novembro de 2011 e, mais tarde, sob a condição de a Ré executar os trabalhos e efectuar o pagamento da quantia indicados na carta datada de 28

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de Fevereiro de 2012.

Contudo, resultou do depoimento prestado pela testemunha (…) que a Ré não chegou a executar os trabalhos mencionados, razão pela qual não chegou a efectivar-se a redução de renda pretendida pela Ré – sublinhado nosso.

Aliás, a este propósito afigura-se inequívoco o teor da carta a que se alude em 19. dos factos considerados provados, nos termos da qual a Autora comunicou à Ré que as negociações efectuadas com vista a acordar uma redução da renda por si devida se encontravam terminadas, sendo devido o pagamento dos montantes indicados no contrato celebrado pelas partes.

Sustenta ainda a recorrente que a redução da renda, pelo menos nos meses de Maio a Agosto de 2011, para o valor de 1.000,00 €/mês + IVA, foi uma

realidade face aos recibos que juntou ao processo.

Todavia, não podemos olvidar que, na parte final dos respectivos duplicados, está escrito a seguinte frase:

- “Nota: o valor liquidado não corresponde ao valor contratual ficando em dívida 615,00 €” – cfr. docs. a fls. 98 a 102 (sublinhado nosso).

Na verdade, os recibos emitidos e entregues pela A. à R. tinham mesmo de ser emitidos para poderem entrar na contabilidade da primeira, constituindo, apenas, quitação do valor efectivamente recebido a título de pagamento parcial da renda e já não (como pretende a R.) do seu valor total.

Além disso - como bem salientou a M.ma Juiz “a quo” na motivação da

factualidade provada e não provada - resulta claro dos e.mails trocados entre a A e a R. (cfr. ponto 14 a 20 dos factos dados como provados) que a redução do valor das renda só seria efectivamente realizada na condição da R. efectuar no locado, a suas expensas, algumas benfeitorias, as quais a R. nunca efectuou até à entrega do mesmo à A. em 31/7/2012.

Em suma, forçoso é concluir que, mostrando-se as respostas, de cujos factos foi posta em causa a sua não demonstração, devidamente fundamentadas, não se revelando arbitrárias nem discricionárias, estando, quanto a nós, em

conformidade com o que resulta da prova registada em áudio, conjugada com a prova documental junta aos autos, entendemos não proceder, de todo, a qualquer modificação da factualidade que vem dada como provada, tal como pretendia a recorrente (ao pugnar para que o ponto 5 dos factos não provados fosse dado como “provado” nesta Relação).

Por isso, passamos a transcrever, de imediato, a factualidade apurada nos autos:

1. Mediante escrito intitulado Contrato de Sublocação para Comércio, a Autora, na qualidade de locatária, e a Ré, na qualidade de sublocatária, acordaram o seguinte:

“1ªCL

(13)

A primeira outorgante, em 30-12-2009, na sua qualidade de locatário,

celebrou um Contrato de Locação Financeira Imobiliária sob o n.º (…), tendo como objecto a fracção autónoma designada pela letra A, com excepção do logradouro (área de Terreno integrante) da mesma, do prédio urbano Lote n."

5, sito em (…), artigo matricial n.º (…) de (…), licença de utilização n."

…/2003, emitida pela Câmara Municipal de (…), com a sociedade (…) -

Instituição Financeira de Crédito, SA, como Locador e proprietário do imóvel descrito. ( ... )

3ª CL

1. A primeira outorgante dá em sublocação a supra identificada fracção A ao segundo outorgante, pelo valor mensal da fracção de € 1.000 acrescido de IVA, durante os primeiros 4 meses com início na data do presente documento.

a. Sendo que o valor da prestação passará a partir de Maio 2011 inclusive para 1.500€ mensais acrescidos de IVA.

2. O presente contrato tem início em 17/01/2011, é válido por um ano e seguintes.

3. A sublocação destina-se, exclusivamente, à actividade comercial de cafetaria na Fracção A e de produtos congéneres, com pedido de alvará deferido em 12/01/2011 pela CMA.

4. A sublocação é feita com móveis e equipamento em listagem anexa com n."

2.

5. É permitido o uso do circuito de Mini-Golf, de forma não exclusiva, ao 2°

Outorgante, podendo ser utilizado pelo 1° Outorgante, que se encontra integrado no logradouro da fracção A, bem como a utilização do espaço

contíguo à cafetaria, indicado em planta como anexo n." 1, para colocação de esplanada de apoio à actividade desta fracção, salvaguardando a passagem de utentes à restante área do espaço geral.

6. A sublocatária não poderá dar ao locado uso diferente daquele contratado, sob pena de resolução contratual.

4ª CL

1. A renda mensal acordada na cláusula 3a vence-se no primeiro dia útil do mês anterior àquele a que respeitar, podendo ser liquidada até ao oitavo dia.

2. Ambos os outorgantes acordam que a segunda outorgante pagará o valor de 2 (dois) meses de renda na data da assinatura do presente contrato, 1 (um) mês de renda a título de caução, que se destina a garantir a boa utilização do locado no período da sublocação;

3. Que deverá ser restituída no final do arrendamento, após a verificação do locado e constatação de nenhum dano e caso não existam valores em atraso. ( ... ).

6ª CL

(14)

1. A Segunda Outorgante declara que recebe o arrendado em perfeitas condições de conservação.

2. A Segunda Outorgante pode efectuar as obras necessárias no locado, para o exercício da sua actividade comercial, desde que não altere a estrutura

interna e externa do locado;

a. Devendo para o efeito obter por escrito a autorização prévia da primeira outorgante e da (…) Instituição Financeira de Crédito, SA, Locadora e proprietária do imóvel. ( ... )

5. Todas as despesas com o consumo de electricidade, água e telefone,

seguros e de todo e qualquer custo de licenciamento necessário, após o início da presente sublocação e até ao termo do contrato, são da responsabilidade da segunda outorgante. ( ... ).

8ª CL

1. Se a segundo/a outorgante denunciar o presente contrato, antes do seu términos, ou antes do términos de renovações do mesmo, deverá o fazer através de comunicação escrita ao primeiro outorgante com antecedência de sessenta dias da data que pretende terminar, através de carta registada, email, fax, para morada do primeiro outorgante.

2. Não cumprindo com o estipulado na alínea n." 1, incorre na obrigação do pagamento de mais duas rendas para além do prazo em que estiver na posse do imóvel.

3. O segundo outorgante, nesta eventualidade, não tem direito a compensar no valor da última renda de estadia, o valor da caução prestada no início do

contrato, perdendo-a a favor do primeiro outorgante.

9ª CL

O Senhorio pode impedir a renovação automática mediante a comunicação aos Sublocatários com uma antecedência não inferior a três meses do termo do contrato.

10ª CL

1. A presente sublocação caduca automaticamente, em caso de cessação, a qualquer título, do contrato de locação financeira imobiliária referido na cláusula primeira, designadamente em caso de resolução em virtude de incumprimento do mesmo por parte do locatário.

2. Na eventualidade de o sublocatário e segundo outorgante não cumprir com as obrigações constantes do presente contrato, em especial com a falta de pagamento do valor de duas rendas, o presente contrato de sublocação

revoga-se, com todas as legais consequências, mantendo-se a obrigatoriedade do pagamento da dívida acrescida de mora, juros, despesas judiciais e

administrativas e demais penalizações referidas na cl" (…).

3. Devendo o sublocatário entregar o locado devoluto à arrendatária no prazo

(15)

máximo de quinze dias após a notificação por carta registada com aviso de recepção da arrendatária para o efeito.

4. Por cada dia de atraso, a sublocatária deverá pagar à locatária e primeira outorgante uma indemnização no valor de € 50 diários/fracção, até efectiva entrega. ( ... )".

2. O contrato a que se alude em 1. foi outorgado no dia 17 de Janeiro de 2011.

3. A Ré efectuou apenas o pagamento de algumas das prestações acordadas no escrito a que se alude em 1..

4. Mediante cheque datado de 15 de Janeiro de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.500,00.

5. Mediante transferência bancária efectuada a 9 de Fevereiro de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.000,00.

6. Mediante transferência bancária efectuada a 14 de Março de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.000,00.

7. Mediante transferência bancária efectuada a 18 de Abril de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.230,00.

8. Mediante transferência bancária efectuada a 25 de Maio de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.230,00.

9. Mediante transferência bancária efectuada a 28 de Junho de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.230,00.

10. Mediante transferência bancária efectuada a 1 de Agosto de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.230,00.

11. Mediante transferência bancária efectuada a 18 de Agosto de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.230,00.

12. Mediante transferência bancária efectuada a 28 de Setembro de 2011, a Ré pagou à Autora o montante de € 1.230,00.

13. A Ré efectuou, por referência aos meses de Abril, Maio e Junho de 2012, o pagamento do montante de € 800,00, acrescidos de IVA no valor de € 184,00, o que totaliza € 2.952,00.

14. Através de email remetido a 31 de Outubro de 2011, a Ré comunicou à Autora o seguinte:

"Em resposta ao seu email passo a informar que os investimentos a serem efectuados vão ser progressivos, nomeadamente:

Cafetaria (Exaustor, Placa, Fogão, Forno e trabalhos de construção civil), trabalhos estimados num valor de 5000€

No exterior do café esplanada em madeira rústica, orçamentada 2800€+IVA Parque infantil junto à pista de moto-4 com tenda, orçamento - 3000€+IVA Devido a todos estes investimentos e às dificuldades de facturação na altura de Inverno, pretendo:

Renda de 815€+IVA nos meses de Inverno (Novembro, Dezembro, Janeiro e

(16)

Fevereiro)

E nos restantes meses 1 000€+IVA

A manutenção do jardim e respectiva rega deve ter uma participação de 30%

nos custos de manutenção.

Agradeço o envio com urgência de todos os recibos em falta para apresentar à contabilidade. Gostaria de ter uma resposta mais breve possível porque os investimentos necessitam de crédito bancário; ( ... )".

15. Através de email remetido a 15 de Novembro de 2011, a Autora comunicou à Ré o seguinte:

"Na continuação do seu email informo o seguinte:

I. Damos autorização para efectuar os trabalhos, mas deverá para cada situação fornecer com maior detalhe as alterações a efectuar e as datas de concretização.

II. Aceitamos reduzir o valor para 1.000€+IVA (mil euros + IVA) desde

Maio/11 até Dezembro de 2012, desde que sejam efectuados os investimentos mencionados abaixo, ficando integrado no imóvel, e incluindo a reparação dos buracos de minigolfe.

III. A manutenção do jardim e a rega é de v/conta, poderemos pontualmente por nossa conta efectuar algum desbaste nas árvores existentes e colocaremos uma bomba como prometido para recirculação da água do lago.

Alguns recibos não foram enviados em virtude de a renda desde Maio não ter sido liquidada na totalidade.

Alertamos para o facto de estar ainda em falta o pagamento do IVA dos dois primeiros pagamentos e valor de electricidade a comunicar.

Caso não seja aceite este acordo deverá efectuar o pagamento em dívida, da diferença de valor de renda, desde Maio/11 até Outubro/11, correspondente a 6 meses *500€=3.000€ e próximas rendas de acordo com o inicialmente

acordado.

Com o possível novo acordo de renda considerando efeitos retroactivos estamos a falar de uma redução de 10.000€ (desde Maio/11 a Dez/12) muito superior ao investimento que se propõe executar".

16. Mediante carta cujo registo postal foi efectuado a 24 de Janeiro de 2012, a Ré comunicou à Autora o seguinte:

"Como é do vosso conhecimento, a actual situação económica dos negócios é difícil e a sua melhoria não parece vir a acontecer nos próximos tempos, desta forma, para que seja possível a rentabilização do negócio e perpetuar a nossa relação contratual é necessário que quer a renda, quer o modo de pagamento sejam ajustados à realidade, assim, proponho o pagamento de uma renda de 600,00€ nos meses de Janeiro a Março e de Novembro e Dezembro e de (…) para os restantes meses, ou seja, Abril a Outubro; estes valores deverão ter

(17)

aplicação já nos transactos meses de Novembro e até à presente data. A estes valores acrescerão IVA à taxa legal em vigor.

Como contrapartida, suportarei todas as despesas com a manutenção e jardinagem.

Caso a esta proposta não seja dada qualquer resposta no prazo máximo de dez dias a contar da data de recepção, entenderei que implica uma não aceitação da mesma e, desta forma, fica desde já V. EX.a notificada nos termos da

Cláusula 8a do contrato de sublocação entre nós celebrado e considerarei o contrato denunciado no prazo de 60 seguidos a contar que sejam os 10 dias para a resposta à minha proposta.".

17. Mediante carta datada de 28 de Fevereiro de 2012, a Autora comunicou à Ré o seguinte:

"Neste momento e de acordo com o contrato estabelecido, possui em dívida o montante de € 14950 mais electricidade consumida. Relativamente a:

Valores de IV A em falta 2011 Caução: €115 €115

Janeiro a Março: 3x€230 €690 Rendas e IVA em falta 2011

Maio a Setembro: 5x€615 €3.075

Rendas totais em falta de Outubro 2011 a Março de 2012 Rendas: 6x€1.500 €9.000

IVA: 6x€345 €2.070 TOTAL €14.950

Em resposta à sua carta informamos que apenas podemos aceitar o valor de

€800+IV A de Novembro 2011 até Dezembro 2012, mantemos também o valor da renda de Outubro 2011 de montante igual ao contratado até Abril 2011, ou seja € 1000+IVA, desde que por si sejam suportados todos os custos inerentes à boa manutenção e segurança de todo o espaço de jardim e lago, incluindo o circuito de Mini-Golf e que sejam liquidados nesta data parte dos valores em dívida. Assim, deverá liquidar o montante de € 6.955, referente a:

IVA Caução: €115 €115

IVA Janeiro 2011 a Março 2011: 3x€230 €690 Rendas de Outubro 2011: €1230 € 1.230

Rendas e IVA de Novembro 2011 a Março 2012: 5x€984 € 4.920 TOTAL: € 6.955

Caso não se verifique a concretização do acordo e do pagamento está V. Ex"

obrigada a liquidar o montante total de € 14.950 + Electricidade, juros, custas judiciais e administrativas, devendo desocupar o espaço no máximo até dia 25/03/2012, e entregar as respectivas chaves. Salvaguarda-se qualquer outro valor a exigir por danos/faltas de equipamento".

(18)

18. Mediante carta cujo registo postal foi efectuado a 8 de Março de 2012, a Ré comunicou à Autora o seguinte:

"Acusamos a vossa carta datada de 28 de Fevereiro, p.p., e face à posição manifestada aceito a proposta feita, ou seja, liquidar:

IVA Caução: € 115 ---€ 115,00 IVA Janeiro 2011 a Março 2011: 3x€230---€ 690,00 Rendas de Outubro 2011: €1230---€

1.230,00

Rendas e IVA de Novembro 2011 a Março 2012: 5x€984 € 4.920,00

Assim, gostaria que me informasse de que modo quer fazer a finalização desta alteração.".

19. Mediante carta registada cujo aviso de recepção foi assinado pela Ré no dia 12 de Abril de 2012, a Autora comunicou o seguinte:

"Tendo concluído o prazo indicado na nossa última correspondência sem que fosse efectuado o respectivo pagamento para finalização do acordo, vimos informar que deverá efectuar o pagamento de € 14.950 mencionados em nossa carta de 28/02/2012 acrescidos do valor de consumos de electricidade nunca liquidados no montante de € 2.508,86 respeitante a 15 meses, ou seja € 167,26/mês, mais a renda de Abril de € 1.845.

Deverá entregar o locado até 30 de Abril, cumprindo-se os prazos previstos.

Valor total a liquidar de € 14.950 + € 2.508,86 + € 1.845 = € 19.303,86

Caso não seja entregue o locado até à data anteriormente indicada, incorre no pagamento de indemnização de €50/diários e demais encargos judiciais,

conforme estipulado em contrato.".

20. Mediante carta datada de 24 de Maio de 2012, a Autora comunicou à Ré o seguinte:

"Informamos que recebemos em 17/04/12 o valor de 984€ (...) e em 16/05/12 o valor de 984€ (... ), os quais serão utilizados para abate nos valores vencidos, relativos ao ano de 2011, mantendo-se por regularizar todos os restantes montantes, incluindo os custos com electricidade.

Relembramos que não recebemos até ao momento qualquer proposta de v/

parte para regularização da situação de incumprimento de acordo com nossas cartas de 28/02/12 e de 09/04/12.

Aguardamos v/notícias no prazo de 8 dias, sob pena de denúncia efectiva do contrato, de acordo com n/anterior correspondência.".

21. Mediante carta registada com aviso de recepção datada de 29 de Junho de 2012, a Autora comunicou à Ré o seguinte:

"Em virtude de até à data não termos sido recebedores dos montantes em dívida identificados em anterior correspondência, vimos por este meio anexar a nossa Nota de Débito n." 000001 de electricidade respeitante ao período de 17/01/2011 a 3/06/2012 no valor de 3.143,40€.

(19)

Caso a mesma não seja liquidada até ao dia 05/07/2012 o fornecimento será cortado".

22. A Autora anexou à carta mencionada em 21. a Nota de Débito n.º 000001, emitida a 29 de Junho de 2012, da qual constam as seguintes indicações:

Débito gastos EDP 17/01/2011 a 31/12/2011: € 1.236,85; Débito gastos EDP 17/01/2011 a 31/12/2011: € 343,57; Débito gastos EDP 01/01/2012 a

03/06/2012: € 7,88;

Débito gastos EDP 01/01/2012 a 03/06/2012: € 1.139,35; Base de incidência de IVA: € 2.727,65;

Total de IVA: € 415,75;

Total do documento: € 3.143,40.

23. A Ré entregou o locado à Autora no dia 31 de Julho de 2012.

24. Mediante carta registada datada de 13 de Agosto de 2012, devolvida ao remetente, a Autora comunicou à Ré o seguinte:

"Na continuação do terminus do contrato respeitante à fracção A, lote 5, sito em (…), vimos solicitar o pagamento dos valores em dívida no prazo de oito dias a contar da data da n/carta.

Os valores a liquidar por V.a Exa. são:

1. Valores de IVA referente a 2011 em falta I. Caução: 115€

II. Janeiro a Março 3x230€: 690€

2. Rendas e IVA de 2011

I. Maio a Setembro 5x615€: 3.075€

3. Rendas totais em falta

I. Out. 2011 a Março/12 6x1.500€: 9.000€

II. IVA 6x345€: 2.070€

III. AbriL12 a Julho/12 4x1.500€: 6.000€

IV. IVA 4x345€: 1.380€ ( ... )

Valores referentes a n/Nota de Débito de electricidade: 3.143,40€

Valores liquidados por 3 prestações de 984€: - 2.952,OO€ Valor em falta:

191,40€

Juros comerciais 8% à data de hoje: 1.102,OO€

Valor total em dívida: 23.623,40€

No sentido de resolver a situação presente de forma cordial estamos na disposição de reduzir os montantes indicados desde que o pagamento a acordar seja efectuado de imediato. Caso contrário, seremos obrigados a recorrer às vias judiciais pelo valor global e com o acréscimo de custos judiciais e administrativos a serem suportados por V.a Exa".

25. As facturas emitidas pela EDP relativamente ao consumo de energia eléctrica incluem o consumo efectuado noutras fracções, para além da

(20)

explorada pela Ré.

Apreciando agora a terceira questão levantada pela R., ora apelante – saber se a quantia de 2.952,00 € que pagou à A. (cfr. ponto 13 dos factos provados) deverá ser reduzida no valor por esta peticionado a título de rendas, o que a decisão recorrida não fez – haverá que dizer a esse propósito que, não

obstante a recorrente sustentar o contrário, a verdade é que a M.ma Juiz “a quo”, no apuramento da quantia global em dívida, veio a abater a referida quantia de 2.952,00 €.

Com efeito, essa quantia tinha por base o pagamento que a R. tinha efectuado à A., por referência a cada uma das rendas dos meses de Abril, Maio e Junho de 2012, do montante de € 800,00, acrescidos de IVA no valor de € 184,00, ou seja 984,00 €, o que totaliza aquele valor supra mencionado de 2.952,00 €.

Ora, na sentença recorrida - e a tal respeito - afirma a M.ma Juiz “a quo” o seguinte:

- (…) tendo em conta que a Ré efectuou apenas os pagamentos discriminados no elenco dos factos considerados provados, e considerando que a renda devida por referência aos meses de Janeiro a Abril de 2011, incluindo o IVA devido, ascendia ao montante de € 1.230,00, enquanto que a partir do mês de Maio de 2011, incluindo o IVA devido, passou a perfazer o montante de € 1.845,00, impõe-se concluir que, a título de rendas e caução, é devido pela Ré o pagamento do montante global de € 19.378,00.

Na verdade, tal montante resulta da soma das parcelas de € 115,00

(correspondentes ao remanescente da caução que ficou por pagar), € 690,00 (correspondentes ao remanescente das rendas relativas aos meses de Janeiro a Março de 2011, relativamente aos quais foram efectuados pagamentos de apenas € 1.000,00 por mês), € 3.075,00 (correspondentes ao remanescente das rendas relativas aos meses de Maio a Setembro de 2011, relativamente aos quais foram efectuados pagamentos de apenas € 1.230,00), € 11.070,00 (correspondentes às rendas relativas aos meses de Outubro de 2011 a Março de 2012, cujo pagamento foi omitido na íntegra), € 2.583,00 (correspondentes ao remanescente das rendas relativas aos meses de Abril a Junho de 2012, relativamente aos quais foram efectuados pagamentos de apenas € 984,00) e € 1.845,00 (correspondentes à renda relativa ao mês de Julho de 2012, cujo pagamento foi omitido na íntegra) – sublinhado nosso.

Do acima transcrito resulta evidente que, sendo a renda do locado no valor de 1.845,00 €/mês, o valor respeitante aos meses de Abril a Junho de 2012,

ascendia a 5.535,00 €, pelo que tendo a R. pago, por conta de cada um desses meses, o valor de 984,00 €, ou seja a quantia de 2.952,00 €, ficou em dívida o remanescente, isto é o montante de 2.583,00 €, montante esse ao qual a M.ma Juiz “a quo” faz expressa referência na sentença recorrida (quando do

(21)

apuramento parcelar das diversas quantias em dívida que, no seu somatório, perfazem o montante global de 19.378,00 €).

Analisando agora a quarta questão suscitada pela R., ora apelante – saber se entre as partes foi celebrado um contrato de sublocação ou subarrendamento e não de cessão de estabelecimento, o que acarreta necessariamente não estar o mesmo sujeito a IVA (23%), mas apenas ao pagamento de Imposto de Selo (10%) – apenas se dirá que resulta dos autos não ter a mesma sido levantada pela recorrente em sede própria, nomeadamente quando apresentou a sua oposição ao requerimento injuntivo da A. (cfr. fls.4 a 6), pelo que o tribunal “a quo” não se podia ter pronunciado sobre a referida questão.

Por isso, haverá que referir a tal respeito que se trata de uma “questão nova”, a qual, não foi suscitada anteriormente no processo pela recorrente.

Na verdade, relativamente à questão suscitada (o contrato celebrado entre as partes não estar sujeito a IVA, mas apenas a Imposto de Selo) não será demais repetir que, da análise dos autos, resulta que a mesma nem sequer foi

levantada pela R. na oposição por si deduzida pelo que, nesta fase processual, não pode este Tribunal Superior tomar conhecimento dela por ser “questão nova”, só invocada no presente recurso de apelação.

Com efeito, é entendimento unânime na jurisprudência dos nossos Tribunais Superiores que o objecto do recurso é a decisão, ou seja, os recursos visam modificar decisões e não criar soluções sobre matéria nova, não sendo lícito às partes invocar nos recursos questões que não tenham previamente suscitado perante o tribunal recorrido (cfr., nesse sentido, entre outros, os Acs. do STJ de 6/2/87, 12/6/91, 2/4/92, 3/11/92 e 7/1/93 in, respectivamente, BMJ 364, pág. 719, BMJ 408, pág. 521, BMJ 416, pág. 642, BMJ 421, pág. 400 e BMJ 423, pág. 540 e, mais recentemente, o Ac. do STJ de 16/1/2002, Rev. nº 3247/01, 4ª sec., Sumários, 57º).

Na doutrina é também este o entendimento, conforme resulta da lição de Castro Mendes, in “Recursos”, 1980, pág. 27 e, mais recentemente, de

Armindo Ribeiro Mendes, in “Recursos em Processo Civil”, 1992, págs. 140 e 175.

Assim, temos que os recursos visam o reestudo por um Tribunal Superior de questões já vistas e resolvidas pelo tribunal “a quo” e não a pronúncia pelo tribunal “ad quem” sobre questões novas – sublinhado nosso.

Daí que, pelas razões acima expostas, é nosso entendimento que está vedado a esta Relação conhecer da questão supra referida, uma vez que se trata de matéria que não foi suscitada pela apelante no tribunal recorrido, sendo certo que - repete-se - esta o podia (e deveria) ter feito expressamente quando da apresentação da sua oposição nos presentes autos, o que, de todo, não fez, não se tratando também de questão que seja de conhecimento oficioso.

(22)

Finalmente, analisando a última questão suscitada pela R., ora apelante – saber se se a sua conduta não integra os requisitos da má fé, pelo que não há razão válida para a sua condenação em multa e numa indemnização à A. – importa referir a tal propósito que tal figura estava prevista no art. 456º do velho C.P.C., que corresponde ao art. 542º do actual C.P.C., sendo certo que a redacção dos dois citados preceitos legais se manteve idêntica, quer no velho, quer no novo C.P.C.

Por isso, o antigo art. 456º e o actual art. 542º definem litigância de má-fé nos seguintes termos:

1 – Tendo litigado de má fé, a parte será condenada em multa e numa indemnização à parte contrária, se esta a pedir.

2 – Diz-se litigante de má fé quem, com dolo ou negligência grave:

a) Tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar;

b) Tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da causa;

c) Tiver praticado omissão grave do dever de cooperação;

d) Tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a acção da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão – sublinhado nosso.

A redacção deste preceito, que foi introduzida pelo D.L. 329-A/95, de 12/12 e visou, conforme resulta do seu texto e se explicita no preâmbulo daquele diploma, “como reflexo e corolário do princípio da cooperação”, consagrar

“expressamente o dever de boa fé processual, sancionando-se como litigante de má fé a parte que, não apenas com dolo, mas com negligência grave, deduza pretensão ou oposição manifestamente infundadas, altere, por acção ou omissão, a verdade dos factos relevantes, pratique omissão indesculpável do dever de cooperação ou faça uso reprovável dos instrumentos adjectivos”.

Daqui resulta que as partes, recorrendo a Juízo para defesa dos seus interesses, estão sujeitas ao dever de cooperação, probidade e boa-fé

processual, visando a obtenção de decisões conformes à Verdade e ao Direito, sob pena de a protecção jurídica que reclamam poder não corresponder à realidade, no que em muito podem sair desacreditadas a Justiça e os Tribunais.

Daí que o legislador, no art. 265º nº 1 do velho C.P.C. e no art. 7º nº 1 do actual C.P.C. imponha aos magistrados, partes e mandatários o dever de cooperarem com vista à justa composição do litígio.

Por sua vez o art. 266º-A do mesmo diploma - a que corresponde o art. 8º do actual C.P.C. - reafirma tal princípio ao aludir ao dever de actuação de boa-fé

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inerente ao dever de cooperação.

A actuação processual do litigante de boa-fé postula uma actuação verdadeira, uma informação correcta, no tempo e modo processuais ajustados, não se compadecendo com subterfúgios e “meias-verdades”, que mais não visam senão uma egoísta defesa de posições próprias, que prejudicando o opositor, acabam por não conduzir o Tribunal à correcta percepção da realidade e, logo, a correr o risco de decidir mal.

A litigância de má-fé releva se a parte viola os deveres de probidade em aspectos cruciais do pleito, em relação aos quais não pode razoavelmente invocar desconhecimento, nomeadamente quando fizer um uso

manifestamente reprovável dos meios processuais com a intenção de, sem fundamento sério protelar, o trânsito em julgado da decisão.

Como ensina o Conselheiro Rodrigues Bastos, in “Notas ao Código de Processo Civil”, Vol. II, 3ª Edição, 2000, págs. 221/222:

“A má-fé processual tinha, entre nós, como requisito essencial o dolo, não bastando a culpa, por mais grave que fosse.

A reforma processual de 95/96 mudou esse estado de coisas, considerando reveladora da má fé no litígio tanto o dolo, como a culpa grave, que designa por negligência grave.

A parte tem o dever de não deduzir pretensão ou oposição cuja falta de

fundamento não devia ignorar; de não alterar a verdade dos factos ou de não omitir factos relevantes para a decisão da causa; de não fazer do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável com o fim de

conseguir um objectivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a acção da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão; de não praticar omissão grave do dever de cooperação, tal como ele resulta do disposto nos arts. 266.° e 266º-A.

Se intencionalmente, ou por falta da diligência exigível a qualquer litigante, a parte violar qualquer desses deveres, a sua conduta fá-lo incorrer em multa, ficando ainda sujeito a uma pretensão indemnizatória destinada a ressarcir a parte contrária dos danos resultantes da má-fé.

A doutrina tem classificado a má fé de que trata o preceito em duas variantes:

a má-fé material e a má-fé instrumental, abrangendo a primeira os casos das alíneas a) e b) do nº2, e a segunda, os das alíneas c) e d) do mesmo número”.

Por sua vez, a propósito da litigância de má-fé, é afirmado o seguinte no Ac. do STJ, de 11/12/2003, disponível in www.dgsi.pt:

- “O Supremo Tribunal de Justiça tem vindo a entender que a garantia de um amplo direito de acesso aos tribunais e do exercício do contraditório, próprias do estado de direito, são incompatíveis com interpretações demasiado

apertadas do art. 456º (hoje art. 542º) do C.P.C., nomeadamente, no que

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respeita às regras das alíneas a) e b), do nº 2. Não é, por exemplo, por se não ter provado a versão dos factos alegada pela parte e se ter provado a versão inversa, apresentada pela parte contrária, que se justifica, sem mais, a

condenação da primeira por má fé. A verdade revelada no processo é a verdade do convencimento do juiz, que sendo muito, não atinge, porém, a certeza das verdades reveladas. Com efeito, a verdade judicial é uma verdade relativa, não só porque resultante de um juízo em si mesmo passível de erro, mas também porque assente em provas, cuja falibilidade constitui um

conhecido dado psico - sociológico.

Por outro lado, a ousadia de uma construção jurídica julgada manifestamente errada não revela, por si só, que o seu autor a apresentou como simples

cortina de fumo da inanidade da sua posição processual, de autor ou réu. Há que ser, pois, muito prudente no juízo sobre a má fé processual”– sublinhado nosso.

Concorda-se inteiramente com a abordagem do referido instituto expressa no citado aresto, a qual se mostra reiterada igualmente, entre outros, nos

acórdãos do STJ de 28/5/2009, de 21/5/2009 e de 26/2/2009, todos também disponíveis in www.dgsi.pt.

Ora, “in casu”, apenas se apurou que a R., na sua defesa, sustentou que a A.

aceitava a redução da renda do locado a partir de certa data e que, após a entrega do locado à A., “ficou com a perspectiva” de não ficar a dever-lhe qualquer valor a título de rendas, não resultando provado, sem mais, que a R., com esta conduta, tenha feito do processo um uso manifestamente reprovável, com o intuito de impedir a descoberta da verdade, ou seja, que a sua actuação haja sido manifestamente dolosa ou gravemente negligente.

Com efeito, poder-se-á sustentar, quando muito, que o comportamento da R. - ao defender a redução do valor da renda (que estava sujeita, afinal, à

realização de benfeitorias no locado por parte desta) e “no convencimento” de que, com a entrega do locado, nada mais tinha a pagar à A. - foi temerária ou meramente negligente, mas nunca que essa negligência tenha sido realmente grave ou manifesta, tal como exige expressamente o nº 2 do art. 542º do C.P.C.

(correspondente ao nº 2 do art. 456 do velho C.P.C.), pois que a A., com a junção de diversa documentação aos autos, facilmente demonstrou no processo que a redução da renda estava sujeita a condição, que não foi

cumprida pela R., e que a entrega do locado não obstava ao “perdão” do valor das rendas em dívida.

Deste modo, entendemos que a conduta da R. não se enquadra em nenhuma das alíneas do nº 2 do art. 542º do C.P.C. (correspondente ao nº 2 do art. 456 do velho C.P.C.), nomeadamente nas alíneas a) e b) do referido preceito legal, não tendo a apelante, por via disso, litigado de má-fé.

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Em consequência, forçoso é concluir que, nesta parte, procedem as conclusões do recurso de apelação apresentadas pela R., sendo que a sentença recorrida - na parte em que a condenou como litigante de má-fé na multa de 4 UC´s e numa indemnização à A. que não poderá exceder o valor de 1.000,00 € - não se poderá manter, pelas razões supra descritas, impondo-se, por isso, a sua revogação (apenas nessa parte), o que desde já se determina para os devidos e legais efeitos.

Por fim, atento o estipulado no nº 7 do art. 663º do C.P.C., passamos a elaborar o seguinte sumário:

- A nulidade por omissão de pronúncia há-de incidir apenas sobre “questões”

que tenham sido submetidas à apreciação do tribunal, com elas não se

confundindo as considerações, argumentos, motivos, razões ou juízos de valor produzidos pelas partes.

- Um dos pressupostos da modificabilidade da matéria de facto pela Relação é o erro evidente e notório da 1ª instância na apreciação das provas, como decorre do disposto no art. 662º nº1 do C.P.C.

- Ora, tal erro evidente e notório só existe, dentro do perímetro definido pela liberdade de apreciação e de julgamento das provas por parte do M.mo Juiz “a quo”, quando todas as provas (v.g. documentais e testemunhais) carreadas para os autos, apontarem num sentido e o Tribunal da 1ª instância, sem

qualquer justificação plausível, decidir em sentido diverso, sendo certo que, no caso em apreço, tal situação, de todo, não se verifica.

- Os recursos visam o reestudo por um Tribunal Superior de questões já vistas e resolvidas pelo tribunal “a quo” e não a pronúncia pelo tribunal “ad quem”

sobre questões novas.

- A garantia de um amplo direito de acesso aos tribunais e do exercício do contraditório, próprias do Estado de Direito, são incompatíveis com

interpretações demasiado apertadas do art.542º do C.P.C., nomeadamente, no que respeita às regras das alíneas a) e b), do seu nº 2 e, por via disso, não se justifica, sem mais, a condenação da R., por má fé, por não se ter provado a versão dos factos por si alegada e se ter provado a versão inversa apresentada pela A.

***

Decisão:

Pelo exposto acordam os Juízes desta Relação em julgar parcialmente procedente o presente recurso de apelação, confirmando-se a sentença proferida no tribunal “a quo”, com excepção, apenas, da parte em que

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condenou a R. como litigante de má fé na multa de 4 UC´s e numa indemnização à A. que não poderá exceder o valor de 1.000,00 €.

Custas pela R./apelante e pela A./apelada na proporção, respectivamente, de 4/5 para a primeira e de 1/5 para esta última (sem prejuízo do apoio judiciário de que a recorrente beneficia – cfr. fls.213 a 217).

***

Évora, 26/02/2015 Rui Machado e Moura

Maria da Conceição Ferreira Mário Mendes Serrano

__________________________________________________

[1] Cfr., neste sentido, ALBERTO DOS REIS in “Código de Processo Civil Anotado”, vol. V, págs. 362 e 363.

[2] Cfr., também neste sentido, os Acórdãos do STJ de 6/5/1987 (in Tribuna da Justiça, nºs 32/33, p. 30), de 13/3/1991 (in Actualidade Jurídica, nº 17, p. 3), de 12/12/1995 (in BMJ nº 452, p. 385) e de 14/4/1999 (in BMJ nº 486, p. 279).

[3] O que, na alegação (rectius, nas suas conclusões), o recorrente não pode é ampliar o objecto do recurso anteriormente definido (no requerimento de interposição de recurso).

[4] A restrição do objecto do recurso pode resultar do simples facto de, nas conclusões, o recorrente impugnar apenas a solução dada a uma determinada questão: cfr., neste sentido, ALBERTO DOS REIS (in “Código de Processo Civil Anotado”, vol. V, págs. 308-309 e 363), CASTRO MENDES (in “Direito

Processual Civil”, 3º, p. 65) e RODRIGUES BASTOS (in “Notas ao Código de Processo Civil”, vol. 3º, 1972, pp. 286 e 299).

[5] - Preâmbulo do Dec. Lei 39/95 de 15/02.

[6] - Cfr. M. Teixeira de Sousa, Estudos sobre o novo Cód. Proc. Civil, 1997, 348.

[7] - cfr. Desembargador Pereira Batista em muitos acórdãos desta Relação, nomeadamente, Apelação. n.º 1027/04.1, disponível em www.dgsi.pt.

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[8] - “Existem aspectos comportamentais ou reacções do depoente que apenas são percepcionados, aprendidos, interiorizados e valorados por quem os

presencia”- v. Abrantes Geraldes in Temas da Reforma do Processo Civil II, Almedina, 4ª edição, 266.

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