TESE DE MESTRADO EM
HISTORIA
DE AJXE UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOAABRIL DE 1 985
AS AVENIDAS KOVAS DE LISBOA, 1900-1930
r^7'.,!,"ri
\\ .
V->
- - "-x x -•# „ M,,x
índice
Introdução
Pag. 1Algumas
questões metodológicas
Pag
. 7I- Do
projecto
ãrealização
1 . Breve reflexão sobre o desenvolvimento de Lisboa
na
época
doprojecto
das Avenidas NovasPag.
142. As
raízes
doprojecto
Pag.
183. O
projecto
do"Plano Geral de Melhoramentos daCapital"
e a Mémoire sur les étudesd'amélio-rations et embellissements de Lisbonne Pag.20 4. A Avenida da Liberdade - "1
aparte"
doprojec
to da Câmara
Municipal
de Lisboa de um"bou-levard do Passeio
Público
ãsportas
da cidade".Pag.
23 5. 0projecto
da "Avenida da PraçaMarquês
dePombal ao
Campo
Grande" e a Lei das expropriações
por zonas:dadiscussão
nas Cortesã
promulgação
Pag.
266. Dificuldades e
etapas
narealização
do projecto
Pag.
347. A
gestão
republicana
das Avenidas NovasPag.
46II- A
edificação
das Avenidas Novas - asquestões
arquitectónicas
1 .
Brevíssima reflexão
sobre aarquitectura
emLisboa em 1900 Pag. 55
2. Sobre a crítica
arquitectónica
da Lisboa dasAvenidas Novas
Pag.
593. As Avenidas Novas: 1901-1910
3.1. A Avenida Ressano Garcia
Pag.
67 3.2. As Avenidasparalelas
e incidentes Pag. 924. As Avenidas Novas: 1911-1920
4.1. A Avenida da
República
Pag
.107 4.2. As Avenidasparalelas
e incidentesPag.
1195. As Avenidas Novas: 1921-1934
pag .177
quarenta
III. As Avenidas Novas na crónica lisboeta
Pag.
184c~ . Paq.210
Posfacio
Paq. 214 Notas
Anexo I - Listagem das
primeiras edificações
reali zadas nas Avenidas Novas entre 1901 e1930
Pa9'223
Anexo II-
Arquitectos,
Engenheiros,
Condutores de Obras Públicas e Construtores Civis intervenientes nas Avenidas Novas Pag. 299
AnexoIII- Nota sobre Frederico Ressano Garcia Pag. 314
"...as avenidas do
princípio
do nosso séculotraçadas
em xadrêsregular, guarnecidas
de al tosprédios
e decaprichosos palacetes,
orla-da$de acácias e ailantos,zenas onde se não to papedra
que tenha que dizer ou canhai que te nha dado sombra ..."Norberto
Araújo
VevLo-r..7-i .-ni.tX-. ^^ A^-y-.
Abordar as Avenidas Novas como tema
pressupõe
àpartda
aconvicção
de que a históriaself
az reversivelmente, do tempo dopassado
para o futuro tanto como vice versa e que essa(s) resultante(s) instável que nós do
presente
permanentemente
moldamos é um vórticeaparentemente
inocente onde fluem to das asdiferenças
,todos os continentes que nos dividem numa massa nemunifor-mXque
sei.ipre nosespanta:
o tom de uma época. Da mesma geração como de urrasucessão delas a que sempre
espontaneamente
depois
sabemos colocar aetiqueta
apropriada
.De facto a
designação
"Avenidas Novas" com o sentidomúltiplo
que aindahoje
lheconseguimos
visrcumbrar,
surge apenas nos finais dos anos vinte.Signi
fica então tanto como um espaço dacidade,
uma forna de viver e sugere de imediato uma dadaurbanística,
uma certaarquitectura
e um exclusivo grupo so cial. È umaimagem
forte noimaginário
em vontade de modernisrro do lisboetapós
república
e ainda nãocorporativo.
Faz de imediatosonhar,
porque as "Aveni das Novas"foram,
como quase tudo no modernismol:fboeta,
sonho mais do que readiscreta, dos
palacetes
da Cinco de Outubro. Por todo o lado osjardins,
as ar vores dospasseios,
aspequenas
lojas
de r/c cheias de criaditas, a presença adivinhada das senhoras e das meninas por detrás de cadajanela.
Civilizado,
higiénico,
debruado com os carris dos elécticos e os cabos da electicidade e dotelefone,
resno apoeira
que se levantava dospavúnento^sujava
manos naquela
amplitude
cheia da presença dasquintas
que por todo o lado se adiviítoam ainda. Ali tinha sentido o século XX, Lisboa_e.
porque não opaís-?
_podiam
sentir-seSuropa;
sonhar que oprovincianismo
e o atraso não eramígpessivos,
penetrados
daabundância
adivinteda dos rendimentos fixos que pagavam osa-lugueres
dosprédios
caros. Os carrosparticulares,
o corte moderno da toilet-te das senhoras, o luxo dos ascensores, a abastança nutrida dos chefes de família
ao fim damanhã,
aquele
refno daburguesia,
nova de fortuna e devalores^
«que não ombreava com o povo como os aristocratas da Lapa ou de
SanfAna,
bemprotegidos
pelas
muralhas que eram as avenidas, tudo tornavatangível
a pro-rressa de uma cidade outra,superficial
ealgo
leviana, sempeias
depassado,
iroderna ecosiropolita
antes queportuguesa
que o modernisirD das capas dere
vista pregava.
Estas "Avenidas Novas" dos anos de 1920 que, como veremos,
inspiraram
fo lhetins e criaramtipos,
haviam nascidoquarenta
anos antes dosprojectos
deextensão
da cidade de Frederico Ressaro Garcia,engenheiro
deformação parisi
ense que naprosperidade,
breve mas eficaz, dos anos 1870, haviaconquistado
o
espaço que
ninguém
noMunicípio
queria,
de programar a cidade liberal: além da linha do caminho de ferro da cintura, da Avenida 24 de Julho e da D. Arrelia que dotaram acapital
dos eixos fundamentais de contacto cem osubúrbio,
dos bairros deCampo
deOurique
e daEstefânia
visando servir uma Lisboa pequenoburguesa
defuncionários
elojistas
que haviam brevemente de trair oregime
que assim os instalava, a obraprima
doengenheiro,
etambém,
activopolítico
do PartidoProgressista,
foi otraçado
da Avenida da Liberdade com o seu Parque e oconjunto
das viasdivergentes
irradiando da Rotunda que, para Nor te, conduziam a um novo bairro que foi das Picoas antes de se tornar "Aveni da Novas". Esteprojecto,
cono veremos, se era, noespírito
dosedutor,
um deliberado e intencionalplano
de crescUrento racional da cidade quese abria
ocxn
notável
prospectiva
para o futuro, foi, aos olhos de sucessivas vereações,
sobretudo uma via que se revelariautópica
paraenriquecer
a Camará e a cidade ouviavagamente
falar dele, considerandos umaambição
desmedida de
que poucos entendiam a necessidade, habituados aos velhos percursos que mal calçavam a revelar-se insuficientes numa
capital
que só agora começava de facto a crescer.Ressano Garcia adiantava-se a todos e por isso a
realização
doprojecto
que lhe levara nais de dez anos a elatorar,irá
conhecermúltiplas
travagens,a
primeira
loaoapós
a sua difícilaprovação
em 1888,provocada
pela
90 onde a norte do
regirre
se anunciava. Arrancando finalmente em1901,
estava definitivamentetraçadcouando
ofranquisrro
vem, sete anosdepois,
apressar aqueda
dosmonárquicos.
Mesmo assim osRepublicanos, logo
nasprimeiras
vereações,
haviam de mostrar o seu desamor poraquela
nova cidade que procurava i-ludir as mazelas e necessidades da Lisboa velha e que servia ainda quasesó
osprivilegiados
que elespretendiam
substituir. E,todavia,
os anos de guerra que iam ficandopróximos
haviam de revelarquanto
oprojecto
servia afinal tan to os novos ricosgerados pela
República
oupela
Guerra como osmonárquicos
de dez anos antes, num nivelamento dariqueza
e dopoder
quefazia!}
esquecer genealogias
.Que caracteres
projectavam
a modernidade de RessanoGarcia,
incorrpreendi-dapela
Lisboa oitocentista, para umtempo
aparentemente
tão distante? Ou po-derenos supor que a cidade queadopta
as Avenidas Novas estavajá
delineada em1870,
quando
oengenheiro
lhe entende as necessidades futuras? Que entre ageração
de 1870 que assistira sem ver ãs Conferências do Casino e ã doutrinação
de Fontana, que deixara morrer Antero ou, de outromodo,
Oliveira Martins e Camilo e ageração
de 1920 que se iroderniza através dosmagazines
e dos ca fés decorados por NorteJúnior,
mais do que cem osquadros
da Brasileira ou oprirreiro
Salão de Outono, asdiferenças
sáo afinal apenas relativas e que o nesmo tom deépoca
as banha, onde Pessoa e mesmo Almada sãoestrangeiros
?Que entre uma e outra, acompreensão
pelo projecto
de Ressano Garcia erasuperfi
cial,
embora aforça
contida dosgrandes
eixosortogonais
rroldando o novo espaço que naspontas
se cozia com a cidadeantiga,
tivessesido,
aolongo
dos anos em que a cidade assistira desatenta à^implantação,
um instrumento da umeducação
para a modernidade. Muitos valores que aburguesia
lisboeta então pro curaadoptar
estãojã
contidos naspropostas
de Ressano Garcia: a beleza do conforto e 'dahigiene,
a claridade dos espaços, avertigem
do futuro através davelocidade,
não era» isso que .anunciavam asamplas
avenidas dotadas sub— terraneamente decanalizações
deesgoto
e degáz,
ornamentadas ãsuperfície
pelo
macadam epelas
fitasprateadas
dos carris dos eléctricos eengalanadas
em toda a distância do olhar com os fios da electicidade?Afinal fora o rotativismo liberal da
monarquia agonizante
mais do que aRepública,
impotente
paraimpor
um ideário pequenoburguês,
que preparara os loucos anos 2o ã lisboeta, oferecendo-lhe um espaço de modernidade que ficará como uma das poucasrealizações
notáveis das novas maneiras de entender a ci dade antes que o novoregime
,que
já
se adivinha nodesprezo
crescentepelos
políticos,
funda de outro modo os valores sociais emjogo,
submetendo-os a umapaternal
autoridade. Mas, tambémentão,
umdigno
sucessor de Ressano Gar ciaconseguirá,
de certo modo comoele,
servir os interesses futuros dos edi— ficadores da cidade epropor
um espaço simbólico àsrepresentações
colectivasassim
projectar
uma nova cidade queanunciava, perante
os olhares desconfiados do lisboeta do séculoXIX,
o que seria oquadro
doquotidiano
do século por nascer, aarquitectura
implanta,
nas suas margens, marcascarregadas
de morren-to que atenuam a forçaalgo
intemporalBa
sucessão dosquarteirões,
palco
de masiado vasto e anónimo para uma cidade que se identifica ainda sobretudo no Chiado e no Rossio. Presa nosjogos
estreitos da encomenda e dos interesses dos construtores civis queaqui
nascem para aespeculação
imobiliária,
enqua drada porparâmetros
degosto
e de moda que, ao contrário do que acontece com aprojectação
dacidade,
não são ainda veículos das novastecnologias,
aarqui
tectura das Avenida Novas arrasta uma marca de efémero que notavelirentecon-trasta|2CíTi
a intensaprospectiva
dos eixos quebordeja
mas, por issío rresmo,permite
um entendimento maisprofundo
da sociedade que afomenta,
subjugada
já
emgrande
parte às
necessidades do lucro_ o número
significativo
deprédios
de rendimento construídos assim o prova_ _
mas hesitante ainda entre o
grande
e o pequeno investimento, entre o risco da aventura e a segurança da pequena poupança, entre ogrande
prédio
dealuguer
anónimo e oprédio-moradia
de dois ouquatro
fogos independentes, cujos inquilinos
se conhecem epertencem
ao rresmo grupo social dosenhorio,
habitando a moradiaprópria
ao lado. Por outrolado,
aimportância
dos valores decorativos com que estaarquitectura
sem inovação
nos processos deconstrução
sedota,
permite
abordar ospadrões
de gos to de umaburguesia
queelege
a fachada da sçtas casa cano emblema fundamental dos seus sonhos, ao mesmotempo
que nos deixa observar como determinados modelos, entregues
àprojectação
maisqualificada
de umarquitecto,
sãoapropria
dos emréplicas
sucessivaspelos
construtores civis que são osgrandes
nivela dores dasdiferenças
inicialmentepropostas
para uma área de loteamento caro.Finalmente,
noquadro
definitivo dosgrandes
eixosprojectados
por Ressano Gar-cia,
quase todos abertos nosprimeiros
anos doséculo,
aarquitectura
intro duztambém
uma marca de tempos sucessivos: entre asprimeiras edificações
de 1900 e as últimasjá
dos anos30,
ou mesmo40,
medeia um vastoperíodofem
que diversas modas estilísticas se manifestam, de modos diversosimplicados
com adivulgação
de modelos internacionais e com astradições
daarquitectura
lis boeta que se vinhatipificando
apartir
daapropriação
pombalina.
Abordaremos
portanto
as Avenidas Novas sob essetríplice
olhar doprojec
— tourbanístico,
darealização
arquitectónica
e da vivência ideal que oimagi
nário da cidade lhes vai inventando mais do que inventariando. Passaremos dotempo
doprojecto
de meados do século XIX para o do início da suarealização
na arvorada doseguinte,
deter-nos-emos nas três décadas que demora a edifi—cação
e finammente veremos como, em textos de revista ou de romance, se vive as "Avenidas Novas".qualidade
queultrapassa
os diversos tenpos que vamos percorrer e que lheadvém
da marca de umapersonalidade
a quem uma cultura internacional serviu para entender notavelmente Lisboa ou que na reflexão desfocada e folhetinesca quealgumas
crónicas nospropõem,
é naconcretização
arquitectónica
que ascontradições
múltiplas
da nova cidade que se edifica se manifestam:empobrecen
do quase sempre o tecido bem ritmado que Ressano Garcia lhe propusera, deixa adivinharquanto
a suarealização dependeu
da liberdadeconpleta
que foi dada aospromotores,
no que contrasta,profunda
esignificativamente,
tanto com a Lisboa de Pombal como com a de DuartePacheco,
retratandoassim,
ainda que cem o risco da caricatura, um memento quase único da vida da cidade em que os pa drões degosto
não foram normativamenteestipulados.
é
também aarquitectura
que nospermite corrigir
aimagem
sugerida
nas crónicas dos anos 20povoando
as Avenidas Novas apenas comprédios
e moradias de luxo habitados por urraburguesia
abastada : as numerosas frentes de quarteirão
preenchidas
comprédios
modestos ou ostensivamente decorados mas de máconstrução
,apontam
tanto para uma maior convivência socialcomo
impiedosamen-
-te desmascaram asfragilidades
do que era a"burguesia
abastada" lisboeta emvésperas
do triunfo dos valores da ruralidade sobre oscosmopolitas
que esses mesmos anos nãoconseguiram
evidentementeimpor.
Ou, como ainda aarquitectu
— ra sibilinanente nos revela, esses anos nãoqueriam
afinal que seimpusessem.
ideológicos
earquitectónicos,
as Avenidas Novas não serão menosdesprezadas.
Não se lhes negavajá
a história mas essa história era todanegativa.
Daí
o ar dor das cruzadas quelevará
a defender-se a quase totalreedificação
do espaço a quenãc^e
negavampotencialidades,
viciadas emborapelo
predomínio
da rua.Hoje,
dos escombros que restam, não há que alimentargrandes
esper.anças de descobrir "sombras" ou histórias para contar. Aspedras
secaram porque aspedras
também secamquando
lhes falta o ambiente em que nasceram. Faltam as ár vores, apacatez
doseléctricos,
o vulto audacioso einesperado
de umautomó
vel eaquelas
distâncias imensas que se apagavam sobre oslonges
doCampo
Gran de.Em poucas outras áreas da cidade asmudanças
foram tão radicais.Não procuremos
portanto
ressuscitar as Avenidas Novas. Mas apenas enten der porque é que elas cresceram assim, desde sempre feridas de morte. Nascidas de umprojecto
moderno equalificado
deextensão
dacidade,
as Avenidas foram oprimeiro
campo aberto deactuação
dospromotores
imobiliários ávidos de lucro, classe nova de construtores civis sem o ofício dos velhos mestres de obras ainda activos no início do
século,
e que a nemória da cidadebaptizou
deAlgumas
questões
retodológicas
Oomo
sugerimos
naintrodução,
organizámos
a reflexão sobre as Avenidas Novas em três áreas: aurbanística,
aarquitectura
e a suaimagem
enalgumas
crónicas
e romances.Para abordarmos o
projecto,
utilizámos as Actas da Câmara Municipal
entre 1888 e 1930 (1) onde se encontram referenciados quase to dos os momentos fundamentais da suaelaboração
eexecução
bem como asprincipais
discussões a que deramorigem.
Uma
abordagem
maisaprofundada
desta áreaexigiria
o estudo dosprojectos
e dos pareceres daRepartição
Técnica da CâmaraMunicipal
que estiveram na base das decisões discutidas eaprovadas pelas
su cessivasvereações.
Ainda que em termosindicativos,
parecia-nos
o-portuno
fazê-lo sobretudo noperíodo
em que, sob adirecção
de Res sano Garcia, osprojectos
são delineados.Deparámos
todavia com obs táculos que, no curtoperíodo
deinvestigação
de quedispusemos,
nãopuderam
serultrapassados.
Os pareceres e asplantas
que osacompanha^
vam encontram-se por classificar em doisarquivos
da CâmaraMunicipal
de Lisboa - instalados um em S.Domingos
e outro no Arco doCego
— a que tivemos acesso graças â boa vontade dos seusresponsáveis.
Contudo,
as inexistentescondições
de trabalho e a massa acumulada dadocumentação
não nospermitiu
encarar o seu estudosistemático^
tanto mais que talqção
exigiria
queviéssemos
arestringir
o âmbito da investigação
ãsquestões
urbanísticas de tal modo são ricos e abundan tes os acervos documentais existentes sobre esta área do nosso traba lho.No estudo da
arquitectura, começámos
por delimitar o espaço e o tempo dainvestigação.
Como critérioadoptámos
analisar,
ainda que su mariamente, todas asprimeiras construções
das doze avenidas que des de osprimeiros
anos daexecução
doprojectcjsão
delineadas.Surgiram
contudoalgumas
excepções:
porexemplo,
osprimeiros
troços das Ave— das Elias Garcia e Barbosa duBocage
que só em 1925 se decideprolon
gar até ã Estrada do Arco doCego,
foramanalisados,
precisai
-ente pa ra nos fornecerem,já
natransição
para os anos 30, elementos de refle xão sobre aalteração
ou não dastipologias
e processos construtivos anteriores bem, como para nospermitirem
seguir
os percursos dealguns
arquitectos,
construtores ou meros promotores.Por isso também olimUt
cronológico
que estabelecemos em 1930 -guando
aedifi-Deixámos todavia sempre de
parte
asconstruções
que cabem quer em tipologias
modernistasposteriores
ã moda "artesdecorativas",
quer^
mais habitualmentejá
no aosto anos 40. Asprimeiras
porque são clara menteexcepção
nas Avenidas Novas e não marcam a sua fisionomiaglo
bal,
assegundas
por evidentenente obedecerem a umanormalização
eimposição
dogosto oficial,
o que entraprofundamente
emruptura
com a liberdade de estilos e de maneiras que caracterizou aprática
dospromotores
ou dos encomendadoresparticulares
que edificaram as Ave nidas.Os nossos instrumentos de trabalho foram fundamentalmente os Processos de Obras do
Arquivo
de Obras da CâmaraMunicipal
de Lisboa: com aexcepção
de um número reduzido de processos que se encontram incompletos,
faltando-lhesprecisamente
os dadosiniciais,
oudaqueles
que, teoricamente exixtentes, se encontramrequisitados
por diversos Serviços onde também não foram localizados,pudemos,
para cada um dosedifícios
existentes ou demolidos, referenciar a data deconstrução
-adoptámos
sistematicamente a data dopedido
oficial daconstrução
-o n-ome doprimeiro
proprietário
e também quase sempre o nome do cons trutorresponsável
pela
obra * asplantas
e desenhos dealçados
apre sentados com uma Memória Descritiva muito surraria queaté
1913 é es crita naprópria
folha queapresenta
oprojecto
e quedepois,
obriga
toriamenteapresentada
ãparte
(2) , não deixa nunca de ser umaesterio_
tipada
repetição
dealgumas
normasobrigatórias
doRegulamento
dasConstruções
Urbanas,
aliás como a maioria das peçasgráficas
que esquematizam
apenasgrosseiramente
aplanta
dahabitação
e por vezes só oalçado
principal,
embora existam processos de obra muito maiscompl-s
tos. Ausente sempreestá,
compouquíssimas excepções,
o none doarqui
tecto. A mais evidenteé,
antes de1920,
apenas NicolaBigaglia
o que éexplicável
por ele sertambém,
nos casos queanalisámos,
o constru torresponsável.
Asituação
normal é as peçasgráficas,
a Memória Descritiva e opedido
deconstrução
serem apenas assinadaspelo
proprietário
ou, mais raramente,pelo
construtor. E se, por volta deentão
publicados
sobretudo nas revistas AConstrução
Moderna eArqui
tectura Portuguesa, mais raramente no Ocidente ou naIlustração
Portu guesa,pudemos
identificarproduções
dearquitectos.
É evidente contu do quehaverá
um certo número de edifícios que tiveramprojectos
dearquitectos
e que as revistas referidas nãopublicaram.
Restariaen-flo'S>,
-tão-
uma única via: recorrer aos*espolios
«fc&r*OpSíá3?i3*sis-
O&ds^etí que nâo eram muito numerosos. Nãoavançámos
por aí. .Seria uma outrainves_
tigação
visto que a maioria nem sequer seencontra*
referenciado!
. A-dmitimos por isso à*. quealgumas
obras de que não indicaremosarqui-
• tecto mas tão só o construtorresponsável
se encontramincompletamen
te referenciadas. É esta uma lacuna concretaddj^rabalho
de inventário querealizámos (4)
.Inventariados cerca de 570
edifícios,
construídos
aolongo
de mais de trêsdécadas, importava
decidir o processo de tratamento a utilizar. Confessamos que hesitámos
enquanto
nos foipossível
entre duasmetodologias
: ouprivilegiar
a análisecronológica
poravenidas,
o qu<? viríamos a fazer, ou escolherpreferencialmente
alguns
modelostipoló
gicos
fundamentais eorganizar conjuntos
con as suasréplicas
e vari antes. Resolvemo-nospelo
critério
que nos parece mais fiel e disciplinadamente
servir aHistória
da Arte, com a relatividade emodéstia
com que tam entidadepode
ser servida. Corremos assim o risco óbvio de uma certarepetição
e de umaexposição
global
maisfatigante.
Pre ferimo-lo ao depodermos
forçaretiquetas
numamatéria
em que entre as diversastipologias
e as várias maneiras decorativas,nada defunda_
mental se alterava em termos deespacialidade
interior ou volumetria exterior,de processo construtivo ou mesmo deimaginário
de referência. Onde sobretudo estão semprepresente
os dois modelos fundamentais que são aarquitectura
lisboeta tradicional oitocentistaquando
não sete centista e adivulgação,
via escolar, daprodução
académica
francesa do inicio do século. Para lã destes doisparâmetros
dereferência,
to dos osagrupamentos
, em termos de tratamento das fachadas,se são cu riosospelas
implicações
culturais quepressupõem,
não encontram tal vez suficientefundamentação
específica.
Preferimos asssim a análise
cronológica
dividindo os trinta anos aolongo
dosquais
activamente se constrói nas Avenidas Novas, emtrêS
períodos,
correspondendo
cada um a uma década.Expliquemo-nos
: se aarquitectura
não se alterasignificativamente
aolongo
destes anos, se os processos construtivos e mesmo ospadroões
degosto
se mantém referenciados aos dois modelos fundamentais queapontámos,
outros e-ventos intervêmimpondo
certas diferenças. Oprimeiro
é aproclamação
da
Repúblicaque
vem oferecer aos construtores civis menos qualificado-umasituação
depermissividade
de facto que não de lei, ponto de par— tida doprimeiro
surtoquantitativo
deedificações
nos anos de 1912-1914 sobretudo nas avenidasperpendiculares
ao eixoprincipal.
Trata--se deprédios
modestos,
com limitados valores decorativos nas fachadas,
deconstrução
apenas mediana em quepredominam
semsubterfúgios
critérios de economia e valores deresignação
social. Anteriormente a1910,
fora sobretudo na Avenida daRepública
que se construirá e osprédios
e as moradias entãoedificados,
se testemunhavam interessesmúltiplos
ejá
uma notávelintervenção
de construtores civis actuando corro promotores, sitoetiam-se, com poucasexcepções,
a um critério depretensa
riqueza
que ospalacetes
e moradias luxuosaspareciam
exigir.
ARepública,
pelo
menos momentaneamente,apoia
os valores e os inte resses de urra pequenaburguesia
em vontade de ascensão que, se não seapropria
ainda de valores decorativos deostentação,
conseguepelo
me_ nos ocapital
suficiente paraadquirir
os lotes que aprimeira
Câma rapós Republica
decide vender aprestações,
e realizar urraedificação
que definitivamente marca cum um cunho de modéstia muitas frentes dequarteirão
das Avenidas Novas. Por isso o corte simbólico em 1910 co mo final de unaprimeira
fase .ais eclética e socialmente elitista nos pareceujustif
icar-se.Jú-nior constrói moradias idênticas ãs que realizara em 1906 e
1908,
mas o novogosto
"artes decorativas"tenderá airrpôr-se
como moda querapi
damente todos os construtores civis vão
adoptar.
Deste modo aruptura
em 1920 visa mais acentuar as mudanças difusas que apenas se desenha vam ainda do que traduzir de imediato uma dada
situação
que só a par tir dasegunda
netade da década começa efectivamente a alterar-se. Essa
ruptura
simbólicapermite-nos
assim,
mais do que isolar núcleos deprodução
coerente,
reflectir sobre as viasmúltiplas
que, nestes anosde
mudança,
as Avenidas continuam apatentear.
Asmutações significa
tivas que arealização
dosprimeiros projectos
modernistas sugeremnoutros
pontos
da cidade malchegam aqui. Aliás, quando
essaprodu
ção
se começa adivulgar
por volta de1930,
numaapropriação
idêntica à que fora feita dez anos antes da moda "artes decorativas", as Aveni das estavam quase totalmente edificadas. Começava mesmojá
aépoca
das
demolições.
Resta-nos
justificar,
dentro de cada uma dasdécadas,
aabordagem
diferenciada da Avenida daRepública
e das restantes Avenidas e adivi_
são de cada um dessesconjuntos
emprédios
e moradias. Embora se cons_truam
prédios
praticamente iguais
em todas asAvenidas,
incluindo a daRepublica,
nestahá,
com poucasexcepções,
unapreocupação
dequali
dade ou,pelo
menos, de uma ceradiferenciação
que está significati-mente ausente das outras Avenidas onde o tom gera» é dadopelo
prédio
derendimento, modesto,
nos anos de 1912-1914, pomposo e ostensivamen te decorado entre 1918-1922. Por outro lado, determinados elementosarquitectónicos
sãopela primeira
vez utilizados na Avenida daRepú
blica,
conhecemdepois,
nosquarteirões
próximos,
numerosasréplicas
que muitas vezes alteram o seu discurso simbólico. Mas também acon
tece encontrarmos nas restantes Avenidas
composições
de fachada que nunca aparecem naprimeira
que veiculam certacapacidade
criativa dasréplicas
apartir
dassugestões
de modelos mais eruditos. Por esteconjunto
derazões,
queaqui
meramenteapontamos
;parece-nos pertinente
separar a análise das Avenidas Novas em duasáreas,
em que uma é co mo que ainagem
sociológica
positiva
doconjunto
mais vasto e incoe rente do que se deixasupor
e a outra um vastodesfoque
anónimo emque
afílora
aqui
e ali uma certa vitalidade das margens.Por razões idênticas analisamos
separadamente
aprodução
deprédios
e moradias. Nosprimeiros,
as encomendas directas, mesmo na Avenida daRepública,
são extremamente raras: os seusproprietários
iniciais são construtores civis que os vendem mal a
construção
está concluída ao que constitui um verdadeiro grupo social com forte ime
prudente
de investimento decapitais
quase sempre pouco mais que mo destos. 0objectivo
lucro tendo assim quecontemplar
doispersonagens
, o construtor e osenhorio,
exige
um baixo custo deprodução responsá
velpela
mediania ou memo mediocridade daconstrução.
Há contudo evi dentemente umahierarquia
naqualidade
dahabitação
que osprédios
o-ferecem mas que tende a exibir-se muito mais nadecoração
da fachada do que naorganização
interna dosfogos
ou mesmo naqualidade
dacons_
trução.
Porisso,
sempre quepossível
^disguinguiremos
doconjunto
o número muito restrito dosprédios
que sáo encomenda directa de um se nhorio. Muitas vezes dedimensões
mais modestas e ombreando com mora dias que sãoresidência
própria
do mesmosenhorio,
estesprédios
tra duzem umtipo
de investimento quepoderemos
considerar mais arcaico porque nãoprivilegia
tanto como oprimeiro
a exclusivalógica
do lu cro ou pelo menos o faz cem uma certapreocupação
moral de o justifi-carpositivamente,
através da maiorqualidade
doprojecto,
por vezes confiado a umarquitecto.
Embora aolongo
dos trêsperíodos
conside rados encontremos sempre estetipo
deencomenda,
elapredomina
eviden temente noprimeiro
e nos anos iniciais dosegundo
^e
há então como que una luta surda e não conscencializada entre estes senhorios pretendendo
alugar
um.produto
dequalidade
que estimam como seu e os construtores civispromotores
deprédios
anónimos que apenas constroem para obter dinheiro e construírem outros aseguir,
luta quepressupõe
distintos modelos de desenvolvimento das Avenidas Novas: osprimeiros
gostariam
de criar um bairro de luxo, discretamente habitado por inquilinos
seleccionados capazes de pagar aqualidade
que eles Lheso-fereciam,
ossegundos
;preocupando-se
em edificar o maior número pos sível defogos,
fomentam assim apenetração^
ignificativa
de camadas da pequenaburguesia
numa área que emprincípio
se deveriadistinguir
da Almirante Reis ou do Bairro Camões. Adistinção
todavia sempre per manecerá e por isso a análiseespecífica
daprodução
de moradiasa-«-figura-se-nos plenamente
justificada
melas estão sintetizadas todos os sonhos que a sociedade lisboeta alimentou sobre si mesma aolongo
dos anos em queforjou
o seu espaço social.que formas
ingénuas
revestiu o desamorpelas
Avenidas Novas que considéramos
já
o sentimentopredomirante
que a cidadeadoptou
emrelação
àsquestões
abertas que esse espaçopropunha
e que poucos souberam en tender. Efectivamente quaseniguém
foi capaz de afirmar sem subenten didos como António Ferro: "à noite íamos namorar para as Avenidas No vas" (5) ,elogiando-lhes
sem mais adistância,
ospasseios
velados pe lasárvores,
aquele
imenso céu aberto quepareciam
sugerir
um futuroI - Do
projecto
à
realização
1. Breve
reflexão
sobre o desenvolvimento de Lisboa naépoca
doprojecto
das Avenidas Novas"... ao contrário das outras
capitais,
só Lisboa abregrandes
avenidas lá paralonge
e conserva toda aporcaria
dos seus bairros imundos(...) e centrais..."A
Construção Moderna,
1908A
importância
axial no desenvolvimento de Lisboa doprojecto
da Avenida da Liberdade e das Avenidas Novas deve, ainda que sumariar-eri-te, ser referenciada noquadro geral
do notável crescimento da cidade nos últimos anos do século XIX, traduzido sobretudo nacriação
de numerosos bairrosp>erif
éricos,uns de iniciativacamarária
- entre os
quais
se salientam o àa Estefânia e o de Campo deOurique,
ambosprojectados
por Ressano Garcia noinício
dos anos de 1880(6)
- ou tros de iniciativaparticular
nas em que a Câmara acabarialargamente
por intervir - Camões(7), Calvário
(8),
Campolide
(9),
Andrade(10),
Açores e Brandão (11) , estesjá
nosprimeiros
anos de novecentos.Com maior ou n>:;norrigor,
todos eles procuravamadoptar
a malhaortogonal
que ia introduzindo na cidade focos decivilização,
se entendemos por esta a rede viária dotada das infraestruturas básicas em termos de esgotos ecanalizações
epreparada
para receber os carris dos e-lécticos ou a futuracirculação
automóvel.de
capoeira desempenhava
ainda umafunção
activa.Assim,
ainda que sujeita
já
ãspressões
dosignificativo
crescimentodemogrãdico
e dos interessesimobiliários,
a cidade, por uma falta de recursos que a to dos afectava e que oMunicípio
sentia comespecial gravidade,
pôde
a-largar-se
porassimilações
emudanças
paulatinas,
num ritmoalgo
orgâ
nico que fora a forma tradicional de crescimento das cidadeseuropeias.
Por outro
lado,
a relativa facilidade con que estes bairros seerguiam
libertou o espaço maisqualificadamente
urbano depressões
demográficas
que de outro modo se tornariaminsustentáveis
exigindo
o que nunca se fez: arenovação
do tecido dos velhos bairros.Apesar
de todos osapelos
de sucessivasvereações
para que se estudassem"pla
nos de nelhoramentos", do eco que teve naimprensa,
no Parlamneto e na Câmara oInquérito
aos Pátios deLisboa,
mandado elaborar por A.Montenegro
(12) e de todas as reflexões e atitudespolíticas
mais ou menosoportunistas
que ahabitação
para as classes mais desfavoreci das davalugar,
os únicosprojectos
que existiam visavam apenas gran diosamenteultrapassar
as dificuldades decirculação
que as velhas vias tortuosas e estreitas provocavam aos recentes deuses do carril.Logo
em1880,
oengenheiro Miguel
Paesdefenderá
aligação
através
de túneis do Intendente com S. Bento e olançamento
de viadutos metálicos entre oLargo
do Caldas e o Chiado e entre a Graça e a Es trela (13) . Nasequência
destaspropostas,
oengenheiro
francês Êmi-le Boussardapresentava
àCâmara,
em1889,
um.requerimento "para
aconstrução
eexploração
d"uma passagem em túnel entre a Rua do Príncipe
e oLargo
doCorpo
Santo e bem assim a concessão eventual d"uma rede de passagens queligadas
con aprimeira, ponham
emcomunicação
os doisprimeiros pontos
com oLargo
do Conde Barão e a Rua de S. Bento" e, ainda no mesmo ano, se dava conta, emreunião
da ComissãoAdministrativa,
que terminado o prazo"para
o recebimento depropôs-- tO - -i
que se chama Bairro Alto" (16) e, em termos ainda amis
significativosg
afirmava-se em 1913 { naArquitectura Portuguesa
que "Mouraria, Bairro Alto e outros (...) do queprecisam
é de camartelo epicareta
demoli dores"(17) . Mais discretamente ealgo
saudoso,
Júlio Dantas escrevia em 1914 naIlustração
Portuguesa:
"De vez emquando
aparece nosjor
nais a mesma notícia sensacional: vai arrasar-se a Alfama (...) está bem.Julgo
entret.anto dever lembrar aos homens cultos domunicípio
a conveniência de não se ordenar umademolição
"inintegro"
e de se fa zer conservar como monumento devidamente restaurado uma pequenaparte
daantiga
Alfama"(18)
.A falta de meios , a
solicitação
deprojectos
mais imediatamente rendosos e a criseprofunda
em que os anos de guerramergulham
defini tivamente oregime impedem
quequaisquer
destasexigências
de civilização
se realizem e a cidade continuará a crescer poralargamentos
sucessivos sobre o termo, conservando o tecido vivo ainda que deterio rado dos seus bairros iniciais.As
grandes
obras que lentamente oMunicípio
vai realizandosão,
além dealguns
dos novosbairros,
a abertura dosgrandes
eixos de penetração
eurbanização.
Se oprojecto
fundamental é o da extensão Nor te de autoria de Ressano Garcia que, além das Avenidas Novas, cria o Bairro BarataSalgueiro
e o dasPicoas,
articulando ao rresmotempo,
apartir
da Avenida da Liberdade e daRotunda,
uma série de eixos fun damentais compreexistências
da cidade - de umlado,
a Aleyandre Her culano e aBrancaamp
com o Rato, do outro, aDuque
deLoulé
com a Es tefânia ou aRodrigo
da Fonseca e Camilo Castelo Branco com Santa Marta, é necessário recordar que, nos mesmos anos, seprojecta
a Ave nida dosAnjos, retaptizada
em 1903 com o nome de DonaAmélia,
por proposta
do Conded"Ávila,
entãopresidente
doMunicípio
(19) .Realizada com outra lentidão por o seu leito seimplantar
em tecidojá
fortemen teurbanizado,
marca uma outradirecção
de extensão dacidade,
social mente menosprivilegiada
do que aprimeira
e que será por excelência área defixação
pequenoburguesa.
Havia contudo quem pensasse num
plano
mais vasto. Em1903,
é pre sente nasessão
da Comissão Administrativa de 29 de Janeiro, um. ofício da 3§Repartição
que Ressano Garciadirigia:
"referindo-se aoplano
-geral
de melhoramentos dacapital
mandado elaborar por decreto ditato rial de 2 de Setembro de 1901, informa quejá
se deu começo a essetrabalho (...)
julga
conveniente destacar d"esseplano
aparte
jã
es--ff,,
A-,
-o tudada daqual
remete umaplanta, compreendendo
osseguintes
nelhora- .mentos:
estendendo--se do extremo Norte da Avenida António
Augusto
deAguiar
até ao Paço do Lumiar servindo aspovoações
de Palma deCima,
Palma de Baixo e Te lheiras.2 - Uma Rua transversal
àquela
cem umúnico
alinhamento de 2 350m destinado a comunicar o centro da cidade e aligação
entre aspovoações
com Telheiras eCampo
Grande. 3 - um vastoparque florestal. "
Perante esta
proposta
(
acompanhada
por um notávelconjunto
deplantas
já
tecnicamenteelaboradas,
o Conde d'Ávilapropõe
"uma comis são para fazer um estudo detalhado do assunto".Todavia,
a maioria dos vereadores defendendo a inviabilidade dosprojectos
devido aosfracos recursos da
Câmara,
"o senhorpresidente
consideravapreferi
-veljadiar
toda equalquer resolução
sobre o assunto". Nem em termos de meraaprovação
semcompromissos
concretos imediatos se obtinha consenso: o pensamento urbanístico de Ressano Garcia visando dotar a cidade de uma rede estável e coerente de vias de
penetração
ecirculação,
ultrapassava
largamente
ascapacidades
de reflexão davereação
lisboeta que, como veremos, nesses anos mal entendia ainda a necessidade dasgrandes
avenidas que serompiam
para lã da Rotunda das Picoas.Aliás a
Câmara,
tal cemo acidade,
era naturalmente mais sensí vel às necessidades da Lisboa ribeirinha. Em1906,
numaacção conjun
ta com a Sociedade dePropaganda
dePortugal
nesse anofundada,
defen-de-se,
apropósito
doalargamento
da Rua do Arsenal, "uma lei de expropriações
por zonas com avantagem
de sepoder
construir à margem doTejo,
do Terreiro do Paço aCascais,
unagrande
avenida tão neces sária eindispensável
numa cidade como Lisboa (20) . Apartir
de1908,
será sobretudo o vereador earquitecto Miguel
Ventura Terra ogrande
defensor desta via de desenvolvimento dacapital,
sem contudo obterroais êxito do que o
alargamento
eregularização
da Avenida 24 de Julho. Era para o interior que a cidade definitivamente crescia,embora nãoconseguisse
também aí criar o seuParque
projectado
desde os anos de 1880 e com novas versõesrepublicanas
em que, também emvão,
Ventura Terra seempenhava.
E a última
grande realização
camarária,
antes de se entrar nolargo
período
dereffluxo
que asituação
de guerra e a instabilidadepolítica
justificavam,
foi ainda aaprovação
de uma novagrande
arté ria através do tecido suburbano da cidade: em1907,
(21)é
proposto
que seproceda
ao estudo "de uma avenidapartindo
doLargo
do Rato e conduzindo aoLargo
da Estrela atravessando orespectivo jardim,
lia Avenida Pedro Álvares Cabral. Como quase sempre acontecera,
já
a Companhia
dos Caminhos de Ferro de Lisboa se haviaadiantado,
fazendo a-provar,logo
em 1904, as linhas detracção
eléctica
daEstrela,
Bue nos Aires eCampo
deOurique
(22) , esclarecendo um dos motores funda mentais destaexpansão
empiricamente
realizada,
sem reflexãoglobal
sobre a cidade: servir ospoderosos
interesses das novas redes detransporte.
Outro, bem articulado com este, referia-se evidentemente aos interesses não menos decisivos dospromotores
imobiliários,
ávidos sempre de novas avenidas e de novos bairros onde lotear era fácil erápido
e o lucro seguro.Todavia, estes
projectos,
que foram instrumentos fundamentais dos novos interesses decivilização
que esses gruposrepresentavam,
ti veram ao seudispor
o saber e adedicação
de uma notávelequipa-
de técnicos de que Ressano Garcia era a alma. Os resultados foram, funda mentalmente por isso, de umaqualidade surpreendente,
capazes de a-brir a cidade às novasexigências
económicas e ao mesmo tempo conser— var-lhe um ritmo que não lhe traía a memória.2.
- As raízes doprojecto
"
(as Avenidas Novas) . . . não
é
possível
f i-xar-lhes data. Há que considerar aépoca
doprojecto,
osprimeiros rasgamentos,a
denominação,
asedificações,
tudo emlargo
período
cíclico doqual
não se apura para fixar um ano definido".Norbero
Araújo
cr.r-
•'■-Contudo,
o autor citado (23)vuma data nagenealogia
do empreendi-to:1870,
ano em que o Conde de Valbom,Joaquim
Thomás lobo d'Ávila,
então ministro das ObrasPúblicas,
teria iniciado "um.projecto grandio
so de um òoulevard do Passeio Público do Rocio aoCampo
Grande" (24) .Por seu lado, Francisco Câncio (25) ,
depois
de evocar que "apri
meira arreda doCampo
Grandeplantou-se
em. 1801 dandoimpulso
à obra do Ministro do Reino D.Rodrigo
de SousaCoutinho",
cita o alvitre de Jacone Ratton para que "desteslugares (Campo
Grande eCarrpo
Pequeno)
se construa uma amena estradaplantada
de árvores até à cidade do Lis boa" (26).presidente
doMunicípio,
Júlio Pimentelpropõe
"que
se mande estudar desdejã
a abertura de umalarga
rua, ouboulevard,
ou alameda quepartindo
do fundo do Passeio Público cortepela parte
inferior do Sa litre esiga pelas
terras de Vale de Pereiro até S.Sebastião-
da:-Be-dreira ramificando-se para oCampo Pequeno"
(27) .Aproposta
é aprova da e enviada âComissão
Técnica e, cano asanteriores,
não tem consequências.
Mais
surpreendente
e curiosaé,
logo
em1908,
aposição
de um articulista do Ocidente (28) a
propósito
das obras da Avenida das Picoas e do
Parque
EduardoVII,
ao afirmar que com elas "realiza-se o so nho doMarquês
de Pombal que traçava oplano
de alastrar Lisboa no sentido do Lumiar eCampo
Grande",
recordando que "aindahoje
existemnos
Arquivos
doMunicípio
osprojectos
e osplanos
que ele mandou de senhar com o fito depôr
empratica
oengrandecimento
dacapital".
Efectivamente, se
quisermos
encontrar agenealogia
maislongín
qua doprojecto
de extensão da cidadeaprovado
em finais do século XIX é aoplano
deEugénio
dos Santos, CarlosMardel,
E. S.Poppe
e A.C. Andreas, mandado traçar por Manuel da Maia em1756,
que devemos recu ar,segundo
oqual "podia-se
partir
da Praça do Comércio eseguindo
a Rua Áurea, atravessando o Rossio,continuando sempre numa linha recta, desenvolvida a par deValverde,
chegava-se
aS.Sebastião
daPedreira,
novos limites norte da
cidade,
a cerca de trêsquilómetros
e meio doTejo"
(29) .Deste
conjunto
de referências (interessa sobretudo concluir que aextensão
de Lisboaatravés
dosgrandes
eixos das Avenidas Fontes Pe reira deMelo,
AntónioAugusto
deAguiar
e Ressano Garcia,aprovados
em
1889,
se enraizava num viver da cidade de mais de um século de tal modo que, através da nova redeortogonal
que éproposta,
sobreviverão,
com os seus velhos nomes, velhas estradas sóposterior
e incompletamente regularizadas
cemo a Avenida Sã da Bandeira, a Rua do Ar co doCego
ou de S.Sebastião
da Pedreira e quealgumas
das novas ave nidasrespeitam
o essencial dotraçado
de anteriores:a Avenida Marquês
da Fronteira foi, emparte,
a Travessa de S. Francisco Xavier, aDuque
d'Ávila,
um troço da Estrada daCircunvalação enquanto
a Aveni da Conde de Valbom e as Ruas Tomás Ribeiro eAntónio
Cândido são ape nas -"-os novos nomes,respectivamente,
das velhas Rua dasCangalhas,
do Sacramento e Travessa das Picoas (30) .criaram um tecido urbano espantosamente moderno. Cem anos mais tarde não se tinha
perdido
ainda esse frémito deraízes
e a cidadeburguesa
e liberalrespeitará,
cem notável maleabilidade, as velhas e tortuosas estradas que
ligavam
ocoração
de Lisboa aosubúrbio
e ao termo,sobrepondo-lhe
, semrigidez
excessiva,
a rededc^entido
da nova rrorier-nidade: osgrandes
eixosortogonais,
instrumentos activos da civilização,
dascanalizações
deesgotos,
electicidade egás,
como dos carris dos elécticos. Ao mesmo tempo que,obscuramente,
abriajá
essasAve-das,
então excessivas, ao futuroagente totalitário
da cidade do sé culo XX: o automóvel.Ce outro modo ainda a
programação
da cidadepombalina
deve ser citada: tal como então aconteceu, a cidade das Avenidas Novas não foi umprojecto
fácil eimpôs-se, pragmático
e desenvolvimentista, contraa cidade dominante. Se, no século XVIII, Queluz foi a
resposta
de uma Cortesuperficial
eultrapassada
à Lisboa da Praça doComércio,
no sé culo XIX,poderíamos
opor
aimagem
lúdica
e heróica de uma Avenida daíndia,
marginando
oTejo
do Terreiro do Paço aBelém, carregada
de estátuas e saudadetao tecido monótono e loteado das
quintas
dos subúr bios à espera do investimento docapital.
Junto aEugénio
dos Santospoderíamos
perfilar
Frederico Ressano Garcia. Num e noutro caso houvelegislação especial
;x.-:v_<:- criada e influxo directo decapitais priva
dos. Faltar-nos-ia apenas quemcontrapor
aoMarquês,
que os reisigu
almente distraídos foram... Ospresidentes
doMunicípio
RosaAraújo,
Fernando Palha ou o Conde d'Ávila,
opróprio
Ressano Garcia enquanto Ministro da Fazenda do GovernoProgressista
de José Luciano de Castro entre 1897 e1900,
deramimportantes
contributos para o triunfo doprojecto
que acusará sempre,todavia,
afraqueza
do executivo. De tal modo que seránecessário
esperarpelo
Estado Novo para queseja
total mentecumprido.
2. O
projecto
do "Plano Geral de Melhoramentos daCapital"
e a Mémoire sur les études d"a-méliorations et embellissements de Lisbonne.Depois
dosprojectos pombalinos
para aurbanização
das zonas oci dental e oriental dacidade,
apenasesboçados,
Lisboa viveu, naprimei
raparte
do século XIX, semqualquer
reflexão sobre si mesma, e,só naconjuntura
reqeneradora dos anos de 1860tse
apresenta
cempremência
a necessidade demodernização.
O
primeiro
d-v-u:.>■:.■nto fundamental que então nos surge é o decreto de 31 de Dezembro de J8b4 de que transcrevemos osartigos
34, 37 e 38art. 34-0 Governo
mandará
imediatamenteproceder
a umplano
ge ral de melhoramentos dacapital
atendendo nele ao das ruas, praças,
jardins
eedificações
existentes e à construção
e abertura de novas ruas, praças,jardins
e edificações
cem ascondições
dehigiene, decoração
e cómodo alojamento
e livre trânsito dopúblico.
§
- Esteplano
será elaborado por uma comissãocomposta
de umengenheiro
e de umarquitecto, empregados
no Serviçodas Obras
Públicas,
de umengenheiro
proposto
pela
CâmaraMunicipal
e de umvogal
do Conselho de Saúde Pública doReino indicado
pelo
mesmo Conselho. Esta comissão teráàs
suas ordens osnecessários
empregados
técnicos.(...)
art. 37- São declaradas de utilidade
pública
eurgente
todas as expropriações
necessárias para inteiraexecução
doplano
or denado e feito em conformidade cem os.antigos
antecedentese
aprovado pelo
Governo.art. 38- logo que
seja aprovado pelo
Governo oplano
de edificações
e melhoramentos da cidade de Lisbca nos termos dos artigos
antecedentes,
àscondições
d'esseplano
ficamsujei
tas as novasedificações,
asreedificações,
aberturas de ruas, praças ejardins."
Coro sistematicamente irá acontecer, o-^decreto não tem
consequên
cias imediatas. No anoseguinte,
em 1865, P.J. Pezerat,engenheiro
chefe daRepartição
Técnica da CâmaraMunicipal,
fará
publicar
emfrancês ama Mémoire sur les études d'améliorations et
embellisse-nents de Lisbonne em que, curiosamente,
justifica
o Governopelo
a-traso de Lisboa "dans ceprogrès
d'améliorationsqui
se manifestemunici-pale
des combinaisonsqui
concilient
tous lesintérêts,
etménagent
les coffres de l'État et de lamunicipal
ité."Desde
jã
afloramalgumas
questões
que nos parecem essenciais: em bora se tenhajã
iniciado nestes anos o crescimentodemográfico
da ci dade, não parece ser essa a razão que nove os intuitos de quem insis te na sua necessidade deexpansão.
Por outrolado,
surge claramente, tanto no decreto de 1864 caro no texto de Pezerat, que esse desenvol vimento se deverá fazer mercê deexpropriaçõe:.-;
para aconstrução
denovos bairros. A par da
urgência
das obras doporto
de Lislxa que a tornariam centro europeu do comérciomundial,
é
a necessidade de per mitir âs"companhias
deempreendedores"
dispor
de novos terrenos paraconstrução
mais do que a efectiva necessidade em termosdemográficos,
que norteia opensamento
dos reformadores.Todavia,
rresmo esta necessidade de criar investimento aocapi
talé,
noquadro
débil edependente
do desenvolvimento nacional e lis boeta, mais umdesejo
que u:a lerrrência e por isso durante dez anos ' tudo ficará na mesma. Só em 8 de Maio de1876,
a Câmara acusa a recepção
de um ofício do Director Geral interino das Obras Públicas (32)participando
que "se nomeou una nova comissãocomposta
doengenheiro
Luís Victor Lecocq, director dafiscalização
dos Caminhos de Ferro do Norte e leste, doarquitecto
de 2â classeRaphael
da Silva Castro,doengenheiro
propostopela
CâmaraMunicipal
Frederico Ressano Garcia e dovogal
da Junta Consultiva de Saúde Pública por esta indicado, o dr. Matheus CesárioRodrigues
Moacho para (...) elaborar osprojectos
queforem
precisos
para aconclusão
doplano geral
de melhoramentos dacapital"
.Do trabalho desta comissão não nos foi
possível
apurar mais do que nos é dito, dez anosdepois,
em1886,
porMiguel
Correia Paes noseu
segundo
opúsculo
sobre os Melhoramentos de LisboaEngrandecimento
da Avenida da Liberdade: "Tendo acomissão,
nomeada em 25 de Abril dc 1876 para estudar, em virtude dadisposição
da Lei de 31 de Dezembro de1864,
os melhoramentos deLisboa,
ecompostas
dos meusprezados
a-migos
Marcellino Craveiro daSilva,
Luís
Victor lecocq e Rafael da Silva Castro (...)apresentado
em 27 de Dezembro de 1881 , o seu rela tórioacompanhado
de diferentesplantas,
formando a carta deLisboa,
na escala de 1/ 1000, trabalhoimportantíssimo
que se deve consultar sempre que seprojecte qualquer
melhoramento na cidade (...)e embora lhe falteaprovação
superior
(corvo determina oartigo
389 da mesma lei) e, por isso, nâoseja
por enquantoobrigatório
(...)"Ressano Garcia não fez
parte
dos trabalhos da Comissão até ao final.0 que aliás nos aparece confirmado por duas
informações
colhidas noArchivo
Municipal.
No ano de1880,
na Sessão da CâmaraMunicipal
de 19de
Abril,
é lido um ofício daComissão
doplano geral
de melhoramen- -tos dacapital
que"pede
por oito dias aplanta geral
da Avenida daLiberdade afim de ser incluído este
grande
melhoramento noplano
geral que está elaborado". Em 5 de Janeiro de
1882,
outro ofício da mes ma comissão envia àCâmara,
apedido
desta,
"oante-projecto
(4 cader nos com desenhos e um de peças escritas) daDirecção
Geral das ObrasPúblicas,
da avenida noprolongamento
da Rua Nova da Palma até â Estrada de
Sacavém"
.Deste
modo,
por razões nãoapuradas,
a Comissão elabora o seu"plano
geral
de melhoramentos" sem contacto directo com os ServiçosTécnicos da Câmara
Municipal
deLisboa,
que está entãoprocedendo
já
àconcretização
doprojecto
deextensão
da cidade para norte sem quetal nunca apareça
enquadrado
num"plano geral
demelhoramentos",
e acaba por ser totalmente
ultrapassada
,cemopodemos
concluirpelo
parecerdo vereador I&ves Branco Jr. na Sessão da Câmara
Municipal
de 24 deMaio de 1880 em que é
aprovado
oprojecto
do Bairro Camões:"0projec
to tinha o defeito de não estar em harmonia em coisaalguma
que se tenha resolvido ou estudado relativamente aos melhoramentos da cidade". E acrescenta que "devia haver um
plano
e todos os melhoramentos serem,subordinados a esse
plano"
.^.
A Avenida da Liberdade - "lãparte"
doprojecto
da Câma raMunicipal
de Lisboa de um "boulevard do Passeio Público às
portas
da cidade"Não se traduzindo
portanto
em resultados concretosoprojecto
deplano
de melhoramentosprevisto pelo
decreto de 31 de Dezembro de1864,
tudo recomeça, agora decisivamente, em 1876.
Na Sessão da Câmara
Municipal
de 24 de Janeiro desse ano, o vereador Lourenço da Fonseca afirma que o
deputado
Ferreira de Miranda apresentava nesse mesmo dia "ao corpo
legislativo"
umprojecto
de lei prevendo o aumento da
dotação
da CâmaraMunicipal
de Lisboa e apromulga
ção
de uma lei deexpropriações
por zonas "limitada unicamente aos ter renosprecisos
para a abertura da Avenida emprojecto
apartir
doPasseio Público do Rossio.
Não é nossa