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B 2012 junho ESEIPP O Uniso Feminino em Historias de Mulheres

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O Universo Feminino em Histórias de M ulheres de José Régio

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M aria José M . M adeira D’Ascensão Inst it ut o Polit écnico de Port alegre, Port ugal

Resumo:

Hist órias de M ulheres é um a colect ânea de novela e contos da aut oria de José Régio. Nest a obra, conforme o próprio t ít ulo o sugere, vinga um universo ficcional dominado pela personagem feminina. Est a — além do reflexo hist órico da m ulher port uguesa dos anos 30/ 40 do século XX — faz-se

represent ar num a vast a e magnificent e galeria de Seres ficcionais, exímia e peculiarm ente construídos por est e aut or.

Em bora ricas e várias, as personagens femininas de Hist órias de M ulheres dist ribuem-se por

dois grupos que, por sua vez, se report am à díade t em át ica regiana da individualidade e da colet ividade.

Dest e m odo, alguns dest es Seres ficcionais — as “ m onst ruosidades” regianas — são perspect ivados num a condut a individual, peculiar, isolada, m as (e por isso) m agnífica e excecional que cont raria o

est ereótipo de outras que, visadas num coletivo social frugal, oco e vazio, são dom inadas pela aparência e se consubst anciam num m undanism o inconsequent e.

Palavras-chave: José Régio, Histórias de M ulheres, Personagem Feminina, Individualidade e Colet ividade.

Abstract:

Hist órias de M ulheres is a collection of novel and short stories writ ten by Jose Régio. In t his w ork, as it s tit le suggest s, avenges a universe dom inated by fictional fem ale charact er. This - in addit ion

t o reflect ing t he hist oric Port uguese w oman of 30/ 40 years of t he t w entiet h cent ury - is represent ed in a vast and m agnificent gallery of fictional beings, excels and peculiarly const ruct ed by this aut hor.

Alt hough rich and various, t he fem ale charact ers of St ories Wom en are divided int o tw o groups w hich, in t urn, relat e t o t he dyad regiana t hem e of individualit y and collectivity. Thus, som e of t hese fictional beings - t he " m onstrosit ies" regianas - are put in perspective on individual behavior, peculiar,

isolat ed, but (so) m agnificent and except ional t hat contradict s t he st ereot ype ot hers, a t arget ed social group frugal, hollow and em pt y are dominat ed by appearance and are em bodied in w orldliness

inconsequent ial.

Keyw ords: Jose Régio, Hist órias de M ulheres, Fem ale Charact er, Individualit y and Collect ivit y.

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Hist órias de M ulheres represent a um a colet ânea de um a novela e 6 cont os da aut oria de José Régio.

Prim eirament e publicada em 1946, est a obra sofreu pequenas alt erações, num a 3ª edição revist a e aum ent ada em 1968. Por conseguint e, nest a publicação, aos cont os “ Sorriso Trist e” , “ M enina Olím pia e a sua Criada Belarm ina” , “ Hist ória de Rosa Brava” , “ M aria do Ahú” , “ O Vest ido Cor de Fogo” e “ Pequena Comédia” foi acrescent ada um a novela que já tinha sido edit ada isoladam ent e, nas “ Novelas Inquérit o” , em 1941 e em 1965: “ Davam Grandes Passeios aos Dom ingos…” .

A fundam ent ar est e acréscim o est ava, provavelment e, o fact o de est a novela const it uir um a narrat iva curt a que se enquadrava perfeit am ent e num a colet ânea de, t am bém , pequenas diegeses. Além disso, as personagens femininas de “ Davam Grandes Passeios aos Dom ingos…” represent avam não só a essência t em át ica com o a própria força m ot riz da ação, enquadrando-se inequivocam ent e num a obra em que – e conform e o próprio t ít ulo o sugeria – t al aspet o se t raduzia clara e inequivocament e. De fact o, e segundo Eugénio Lisboa, est a diegese é “ (…) adm irável pela variedade, m inúcia e profundidade dos regist os” , ent re os quais est á a “ sondagem subt il ao pat hos feminino” (Lisboa, 1978).

Ent ret ant o, dest a alt eração à obra, out ras decorr eram : a dedicat ória que t inha ant ecedido a versão isolada de “ Davam Grandes Passeios aos Dom ingos…” passou a figurar na colet ânea a que nos report am os, além de que ao t ít ulo foi adit ado o subt ít ulo Cont o e Novela. Ainda, dado curioso, t ant o a novela com o a epígrafe que a ant ecederam , passaram a figurar no início, e não no fim , dest a obra.

Ent ão, a nova configuração vigent e na edição de 1968 vingaria perm anent em ent e nas que lhe seguiriam , prim eiro, a cargo da Brasília e Port ugália Edit ora, na coleção «Obras Com plet as» (que ocorre at é 1978) at é à at ualidade na coleção «Obra Com plet a», pela Im prensa Nacional — Casa da M oeda.

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Com efeit o, recorde-se que est a colet ânea se report a aos anos 40, do século passado: época em que a m ulher est ava relegada ao t rivial papel de m ãe dest inada à educação dos filhos, exím ia dona de casa e esposa recat ada. E, conquant o desem penhasse um papel m arcant e na vida familiar e dom ést ica, apenas brilhava (aparent em ent e), no m eio social circundant e, quando nela se projet ava dado est at ut o socioeconóm ico. A int elect ualidade e o papel int ervent ivo profissional e sociopolít ico, por exem plo, report avam-se apenas ao hom em , pelo que, quando apuradas em algum a m ulher, est as caract eríst icas eram subt raídas, desprezadas, e at é ridicularizadas, na m edida em que const it uíam focos de insubordinação e rebeldia.

Todavia, Hist órias de M ulheres não t raduz um sim ples levant ament o frio e plural de personagens fem ininas, em diferent es diegeses. Represent a, sim , a denúncia do brilhant ism o e da genialidade da m ulher t ão apagada na e pela sociedade; a adm iração e o aplauso aut oral da sua condut a, do seu papel, da sua essência que t ão exím ia e m inuciosam ent e est ão subst ant ivados em t ant os seres ficcionais fem ininos.

E, de fact o, t al int encionalidade pat ent eia-se logo na revisão e alt erações que José Régio prom ove na 3ª edição dest a obra. Nest e âm bit o, foquem os um indício crucial: a epígrafe que ant ecede a novela e que, com est a, inauguram as Hist órias de M ulheres. Na verdade, com a inscrição “ À boa am iga a quem m ent alment e prom et i o m eu prim eiro ret rat o sim pát ico de rapariga.” , ent ende-se a priori que a primeira narrat iva curt a dest a obra represent a um a form a evident e de hom enagear a m ulher. Some-se, ent ão, est e argum ent o ao fact o de iniciar t oda um a colet ânea em que é visado um universo feminino: não sugerirá est a dedicat ória que os cont os que ocorrem após est a novela represent am pot encialm ent e os “ segundos ret rat os sim pát icos de rapariga” ?

Assim , ao valorizar a personagem fem inina, ao ret r at á-la de um a form a sim pát ica, indicia-se o objetivo de José Régio de valorizar o referent e dest a personagem — a m ulher port uguesa dos anos 30/ 40 do século XX —, na cir cunst ância de um a época e sociedade m inadas pelo m achism o e pela int olerância perant e condut as fem ininas de individualidade e independência.

Est abelecida a int encionalidade e o ent endim ent o do aut or que gora o pensam ent o e a vivência de det erm inada época em Port ugal e que se m anifest a prim eiram ent e na revisão e alt eração da 3ª edição de Hist órias de M ulheres, foquem os, ent ão, out ro aspect o que a sublinha t am bém : a personagem feminina nest a obra.

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vocábulo “ as” est á bem longe de det erm inar o núm ero de “ criadas” nos cont os “ O Vest ido Cor de Fogo” e “ Pequena Com édia” ) – pode ser calculável em 54 personagens fem ininas que percorrem t odas as esferas do relevo, desde o prot agonism o à sim ples figuração.

Est as ent idades ficcionais fem ininas dist ribuem -se, por sua vez, por dois grupos que espelham a t em át ica regiana e ant inóm ica da individualidade e da colet ividade e que sublinham incont est avelm ent e a int encionalidade de José Régio na elaboração de Hist órias de

M ulheres.

Nest e âm bit o, visa-se um agregado em que as personagens fem ininas são perspet ivadas num a condut a individual, peculiar, isolada, mas (e por isso) m agnífica e excepcional. Na verdade, const it uem aberrações, pois que im perfeit as e desiguais física, psicológica, religiosa, m oral, social ou econom icam ent e, segundo os padrões cult urais e sociais da sociedade m achist a e pat riarcal circundant e, reflexo da que envolve o próprio aut or. Rebeldes na sua disparidade, indóm it as nas suas condut as e insubm issas na sua fem inilidade, est as personagens represent am , assim , verdadeiras personagens-provação ou seres sofredores. Com efeit o, sofrem isoladas pela sua genuidade e na sua individualidade. Todavia, “ a dor enobrece, afina” (Lisboa, 1978) e com o seres anóm alos – efect ivam ent e, “ m onst ruosidades” regianas – acabam por pat ent ear t am bém o que o ét im o da palavra “ m onst ro” propala: “ prodígio, coisa incrível, m aravilha” (Lisboa, 1978).

Nest e âm bit o, encont ram os, por exem plo, Rosa M aria, a prot agonist a de “ Davam Grandes Passeios aos Dom ingos…” . Na verdade, est a personagem com eça por se apresent ar, na diegese, com o um a jovem sim ples, hum ilde, t ím ida, sonhadora, ingénua e inocent e, que ingressara num am bient e fam iliar, sociocult ural e económ ico opost o ao seu: um am bient e onde governava a hipocrisia, a aparência, o m undanism o, a fut ilidade, o m at erial e o int eresse. Com efeit o, em bora m aior de idade, t odavia em virt ude do seu est at ut o de órfã e de solt eira e da sua sit uação socioeconóm ica inferior, é convidada a viver com os seus t ios, em Port alegre, a fim de dar lições de lavores e piano à sua fút il prim a Lá-Lá.

Trist e, angust iada, e at é revolt ada, pois que em nada se ident ifica com o seu novo lar e com os seus habit ant es e visit ant es, Rosa M aria granjeia ânim o na m em ória de um a infância hum ilde, m as feliz, em convívio com um pai pianist a e idealist a e um a m ãe rom ânt ica e sonhadora.

Quando, num dia de fest ividade2, Rosa M aria, fragilizada psicologicament e, pois que declaradam ent e desajust ada do am bient e sociocult ural de t al event o, sofre o maior de t odos os choques. Const at a, pois, que o seu prim o Fernando — por quem ela nut rira, desde a sua

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vinda a Port alegre, um a paixão que julgava secret ament e correspondida — a procura bêbedo no int ent o de a assediar sexualm ent e e não de se declarar am orosam ent e com o a prot agonist a t ão rom ânt ica e ingenuam ent e ansiara.

Est e episódio const it ui, ent ão, o m ot or de uma aparent e t ransform ação na prot agonist a, que clarificará o seu crescim ent o e um a form a de sobrevivência no seio da fam ília e da sociedade que a acolhera. Na verdade, após um longo período depressivo, Rosa M aria age e reage de form a diferent e: fria, cínica e irónica, t ocando, quase, a indiferença perant e os out ros. Todavia, não podem os considerar que est a m udança de at it ude por part e dest a prot agonist a revele um a personalidade t ot alm ent e diferent e da original: não exist e, pois, um a fract ura com a essência daquela ent idade ficcional feminina. E essa const at ação faz-se, precisam ent e quando, no fim da novela, para cont er m ais um dos seus acessos de nervosism o e de fraqueza — que ela sabe não lhe ser perdoado pelo m undo circundant e —, se dirige à janela do seu quart o para procurar o t ão alm ejado “ apaziguam ent o” , a cum plicidade e a sabedoria de lidar no seu dia-a-dia — em t odos os Dom ingos — com aquela sociedade que a rodeia.

Com efeit o, Rosa M aria, não se t ransfigurando “ nout ra” , acusa sim , um a am pla com plexidade psicológica que nort eia det erminados at os e caráct er, conform e o t rilho diegét ico que vai percorrendo, de m odo a sobreviver às inúm eras lesões de que é alvo. Conquant o aparent em ent e não represent e um a for m a clara de desafio e insubordinação perant e um a sociedade m achist a e pat riarcal, indiret am ent e assim o t ransm it e. Na verdade, ao deixar adivinhar um fut uro em que se conject ura a m esm a rot ina profissional (professora de lavores e piano) e a m anut enção do est ado civil de solt eira, nega a posição recat ada e acom odada da m ulher que vive subm issament e sob a t ut ela socioeconóm ica de um m arido, o dest ino passivo e pacífico de dona de casa e de m ãe dedicada.

M aria Eugénia const it ui out ra personagem feminina de Histórias de M ulheres, t am bém ela com ext raordinária mat ização de t raços de excepcionalidade, que consubst ancia t raços de rebeldia perant e a sociedade circundant e. Est a personagem de “ O Vest ido Cor de Fogo” é represent ada inicialment e com o um a m ulher vulgar, m as bonit a, recat ada, sim ples, com “ um a sedut ora expressão de infant ilidade e curiosidade”3: t raços que lhe conferem a aparência da fem inilidade recat ada conjugada com a inocência infant il t ão caras na sociedade que a cinge. Depois do casam ent o com um jovem m édico — o prot agonist a e narrador —, est e casal com eça, ent ão, a ser consum ido pelo predom ínio de um a vivência ínt im a erót ica que t ranst orna o esposo já que subvert e os valores e a ét ica que t inha com o paradigm as.

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Efet ivam ent e, em bora nunca alcançando abjurar da suprem acia conferida pela vert ent e sexual que caract erizara a sua relação at é ao m om ent o, o prot agonist a dem anda acrescent ar-lhe out ros cont ornos que se coadunam com a sua m oralidade, os seus valores sociais e que visam a coabit ação com um a esposa bela, m as não exuberant e; um a m ãe sensat a e ponderada; um a senhora com algum int eresse e dom ínio cult ural.

Não obst ant e, e fat alm ent e, M aria Eugénia é, de m odo gradual, deslindada, ao longo da diegese, pelo prot agonist a-narrador, com o um a personagem fem inina que subt il, m as conscient e e algo descom plexadam ent e, m anifest a a sua volúpia perant e a sociedade que a rodeia, sendo que t al cariz devasso e m undano se com eçara a evidenciar n’“ um olhar ávido, int enso, profundo, arrojado”4 que dirigira a um art ist a de circo.

M aria Eugénia dest ina, assim , a sua relação com o m arido apenas a um a cum plicidade ínt im a e sexual, de form a a sat isfazer um a necessidade em nada passiva: na verdade, um a propensão sensual desm edida, t ida pela sociedade circundant e (e pelos valores do próprio prot agonist a) com o anóm ala, t ocant e unicam ent e ao hom em e, por isso, m asculinizada no conceit o que a serve: o donjuanism o.

O t raço da individualidade, da independência e da insubm issão perant e um a sociedade elit ist a, m achist a e cast radora e a excepcionalidade present ifica-se, t am bém nout ra personagem fem inina de Hist órias de M ulheres. Focam os nós, Rosa, a prot agonist a de “ Hist ória de Rosa Brava” , oriunda de um a família de lavradores socioeconom icam ent e influent e e const it uída por vários element os, t odos eles com caract eríst icas psicológicas e condut as dist int as e várias; t odavia harm onizados ao m olde prescrit o pelos dit am es da sociedade circundant e; à exceção de Rosa.

M esm o, est a personagem ocupava um plano inferior em relação aos seus irm ãos, dado que se m anifest ava diferent e e bast ant e dist ant e do ideal fem inino familiar e socialment e sust ent ado. E, além de declarar m odos pouco fem ininos, t inha um a condut a m ist eriosa e incom preensível: andava suja, com a roupa rot a; t inha brincadeiras disparat adas; at raía à sua port a gat os e vagabundos esfom eados que t rat ava ou aliment ava; “ desfazia-se em gargalhadas diabólicas”5 em circunst âncias pouco convenient es e alcunhava abert am ent e fam iliares e visit ant es da casa.

Na verdade, est a personagem feminina represent a um ser apagado, pois que pouco querida, num a sociedade m undana, hipócrit a, faust osa, vist osa e num a família t ão rica em seres socialm ent e ideais. Não obst ant e, a prot agonist a represent a um ser genuíno, m uit o m ais

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Cf. Régio, J. Op. Cit ., p. 242. 5

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rico em valores, em condut as e na própria independência, insubm issão e int ocabilidade que a caract erizam , e que fazem dela um a “ rosa” : um a flor em cert o m odo bela, porém com espinhos (t al com o Rosa M aria de “ Davam Grandes Passeios aos Dom ingos…” ). Por isso, de m odo a t ranspor-se para a diegese essa im agem de um a figura feminina indisciplinável, insubm issa e enigmát ica est a personagem é, ent ão, r eferenciada com o designador “ Rosa, a

brava

sublinhado nosso

.” 6

Na verdade, pret ende-se, assim , int uir e dem arcar um aspect o: est e ser fem inino, corajosa e admiravelm ent e, cont raria e defront a uma sociedade elitist a, m achist a e frívola. Ost ent a, assim , dest em idam ent e o que est a últ im a considerava serem feições ant ipát icas e condut as im pert inent es e insubm issas, em sum a: represent a o opost o do ideal de m ulher. M esm o, quando defront ada com a declaração am orosa de seu prim o, Rosa renuncia ao seu am or, pois sabe que, a concret izar-se um casam ent o, nunca o poderia fazer feliz num a sociedade que a desconsiderava pela sua im perfeição.

Assim , t al com o Rosa M aria de “ Davam Grandes Passeios aos Dom ingos…” , Rosa (brava) represent a sim bolicam ent e um a flor caract erizada por t er espinhos: um apont am ent o m onst ruoso, na m edida em que disform e no âm bit o da sua beleza física; um apont am ent o fero, de agressividade, de força que rivaliza com a sua delicadeza, a sua fragilidade; um apont am ent o de liberdade, de independência, de insubm issão que cont raria o sim ples at o de a ceifar à sua nat ureza, ao seu ser, à sua genuidade.

A cont rariar est es valores e condut as insubm issas dest as e t ant as out ras personagens fem ininas de Hist órias de M ulheres, est á um out ro grupo em que ent idades ficcionais do m esm o sexo são visadas num colect ivo social frugal, oco e vazio; dom inadas pela aparência e se consubst anciam , em event os sociais de exuberância e/ ou de fut ilidade, num m undanism o inconsequent e. Represent am elas donas de casa diligent es; det ent oras de est udos e de um a cult ura parca. Consideram im aculada a figura m asculina e, por isso, são subservient es perant e a configuração t ut elar do hom em , na form a quer do pai ou do m arido, quer dos irm ãos e dos filhos (m esm o que m enores). M esm o, quando conhecedoras das infidelidades dos seus m aridos, são passivam ent e resignadas e julgam -se at é abençoadas, na m edida em que o m arido não as abandona e não pert urba, com a sua discrição, a im agem social int ocável de um m at rim ónio perfeit o.

Por exem plo, em “ Hist ória de Rosa Brava” , at ent em os as personagens M argarida, M arília e t ia Glória, respect ivam ent e, a m ãe, a irm ã m ais nova e a t ia da prot agonist a.

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M argarida represent a, assim , um a figura ficcional que nut re um a paixão doent ia pelo m arido, um indivíduo m achist a e aut orit ário. Ent ão, t udo lhe perdoa, desde os m aus t rat os físicos, às infidelidades sucessivas. Nest e âm bit o, represent a, assim , um m odelo num a sociedade que dit ava a subm issão fem inina perant e a t ut ela m asculina.

“ M arília, a deliciosa M arília”7 pat ent eia o ideal fem inino: det ent ora de um a beleza delicada e am orosa, valida de um a saúde delicada e faut ora de um a subm issão doce. Ent ret ant o, com o prot ót ipo de m ulher que represent ava, consequent em ent e represent ava t am bém a esposa exem plar para qualquer hom em . E, dest e m odo, a sua abast ada e socialm ent e projet ada m adrinha, a “ t ia Glória” , acaba por cobiçar a afilhada com o fut ura nora, de m odo a int ensificar o seu espírit o de vaidade baseado num a exist ência socioeconom icam ent e reput ada. Na verdade, com o viúva financeiram ent e abast ada, m ulher socialm ent e bem -vist a e cult uralm ent e abonada, t ia Glória int ent a, assim , conservar e int ensificar o seu est at ut o glorioso e t ão considerado na perpet uação da linhagem que adviria do casam ent o do seu filho Rogério com M arília: na consum ação de “ ver unidos os dois Seres que m ais am ava no m undo”8.

Em “ Davam Grandes Passeios aos Dom ingos…” , por exem plo, Lá-Lá represent a um a figura t am bém querida na sociedade vigent e, vsit o que, num a out ra esfera, represent a, t am bém , um m odelo de m ulher jovem e casadoira. Com efeit o, frut o da educação e vivência m undana de seu pai e oca de sua m ãe, est a personagem fem inina represent a um a jovem fút il, libert ina, caprichosa, sem valores e sem am bições cult urais, t odavia um a das raparigas m ais cobiçadas na sociedade e região circundant es, em virt ude do seu est at ut o socioeconóm ico elevado. Na verdade, conquant o seja desprovida de virt udes m orais, sust ent a um est at ut o socioeconóm ico e um a fut ilidade que a dest aca e prom ove perant e os que a circundam . At é, é solenizada, pela sociedade circundant e, pelo sim ples fact o de não nut rir algum int eresse pelas aulas de lavores e piano t ut eladas; por nunca t er t erm inado os seus est udos liceais; por t er fracos e duvidosos gost os cult urais e lit erários, considerados socialm ent e suficient es para a sua inst rução.

D. Alice Caldeira, m ãe de Lá-Lá, projet a a fut ura im agem de sua filha. Com efeit o, é um a ent idade ficcional feminina em inent em ent e m undana e social, esvaziada de personalidade, oca em ações, que se rende a t odas as faixas et árias, de m odo a m ant er ilusoriam ent e o est at ut o e a cobiça que t ant o a dist inguira socialm ent e na sua juvent ude. Além

7

Cf. José Régio, Op. Cit., p. 153. 8

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disso, m ant ém a aparência afet iva de um casam ent o bem -sucedido, t odavia fracassado, já que o m arido m ant ém um a am ant e.

Em “ Pequena Com édia” , out ra personagem feminina, D. Est efânia de M edeiros, (que t odavia assum e um recat o que se opõe à vivência social at iva de Alice Caldeira) assegura, aos que a rodeiam , t er vivido um casam ent o exem plar e feliz. Porém , o esposo fora-lhe infiel.

De fact o, D. Est efânia é dit osa a seu m odo: o m arido sem pre a rodeara de at enções e a t rat ara carinhosam ent e, com o se de um ser frágil, quase divinizado, se t rat asse. E, por esse m ot ivo, est a figura ficcional nunca deixa t ransparecer o fact o de saber que ele sust ent a um a am ant e, relegando t al t raição para um plano quase insignificant e. Com efeit o, assim cum pria passivament e o seu dest ino de m ulher/ esposa que aceit ava e ignorava o com port am ent o adúlt ero do cônjuge, pois que est e era discret o e, assim , m ant inha a aparência de um m at rim ónio bem -sucedido.

Out ras personagens fem ininas de Hist órias de M ulheres represent am verdadeiros baluart es da vivência de aparências, t odavia, num a vert ent e socioeconóm ica. Por exem plo, M enina Olím pia, a prot agonist a de “ M enina Olím pia e a sua Criada Belarm ina” , represent a um a adult a que vive desfasada da realidade t em poral e social circundant e, sendo infant ilizada e excessivament e prot egida pela sua velha criada. Efet ivam ent e, denom inada por est a últ im a com o designador grafado em it álico, “ a menina” , dest aca-se, além de um gest o prot et or, a dist anciação social que ent re elas se ent rosa. Na verdade, em bora pobre, m anifest a um a at it ude falsa e elit ist a e expressa-se de form a arist ocrát ica; vest e-se ant iquadam ent e, m as de form a luxuosam ent e excessiva e debica pequenos aparat os gast ronóm icos.

Dest e agregado de personagens que se regem pela e na colet ividade social frugal, oca e vazia, fazem part e, t am bém , personagens fem ininas que form am agregados que se escondem , hipocrit am ent e, at rás da religião e dos pressupost os de um a condut a correct a e honest a para est abelecerem juízos de valor, argument ar e crit icar o que não é considerado socialm ent e adequado. Pert encem , assim , a grupos de beneficência social e religiosa, regidos e regedores de dit am es de caráct er m oralist a, com condut as beat as e de est at ut os socioeconóm icos elevados.

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cerim ónias do cult o”9. Do mesm o m odo, no cont o “ Pequena Com édia” , exist e um grupo com grande projeção socioeconóm ica, designado “ Filhas de M aria”10 e “ Liga das M ães Crist ãs”11, com post o por D. Assunção M eireles, D. M aria Luísa Cam pos Figueiredo, D. Henriet a Seixas M aia, D. Gert rudes M alafaia e D. M aria Salom é. Na verdade, represent am , t al com o o agregado da novela, um a colect ividade que vive na aparência da exem plaridade espirit ual em det rim ent o da m at erial e do m undanism o. Todavia, na prát ica que lhes é at ribuída de prát ica de at os religiosos e do bem -fazer, não há um a nat ureza sincera e pura; há sim , a nat ureza de cam uflar um a exist ência passada de m undanism o e present e de sobranceria e de m aldizer.

Em sum a, t odas as personagens femininas de Hist órias de M ulheres espelham inequivocam ent e a m ulher dos anos 30/ 40 do séc. XX, em várias com pleições e condut as.

Repart em -se, ent ão, por dois grupos opost os que m arcam a verdadeira int encionalidade do aut or: a de valorizar e hom enagear a genuidade, a individualidade, a insubm issão e a rebeldia femininas que, naquela época com eçavam a vingar por oposição à colet ividade social, à subm issão da m ulher coagida por e num a sociedade m achist a.

Na verdade, José Régio nega indubit avelm ent e, assim , a m ulher com a reput ação de “ sexo fraco” , com o est at ut o socialm ent e configurado de fragilidade que se enquadra num a parca inst rução int elect ual e cult ural e que se personifica na not ável dona de casa, m ãe educadora e esposa exclusivament e dedicada e passivament e subjugada a um a sociedade m achist a cast radora, at é, punit iva.

Efet ivam ent e, nest a colet ânea de novela e cont os, configura nada m ais do que vários “ ret rat os sim pát icos de raparigas” , expressando, dest e m odo, um a expressão de reconhecim ent o das capacidades, pot encialidades e valores da m ulher

valores femininos e fem inist as

que só t rês décadas m ais t arde seriam vast a e verdadeiram ent e discut idos e abonados.

Referências Bibliográficas:

Araújo, M . R. (1984). José Régio e a m ulher em «Hist órias de m ulheres». In A cidade  Revista cultural de Port alegre: presença de José Régio em Portalegre (67-75).

D’Ascensão, M . J. M . M . (2007). A personagem feminina em Hist órias de mulheres de José Régio. Casal de Cam bra: Caleidoscópio.

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Cf. Régio, J. Op. Cit ., pp. 16-17. 10

Cf. Régio, J. Op. Cit ., p. 298. 11

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Duby, G. e Perrot , M . (Dir. Thébaud, F.). (1995). Hist ória das mulheres : o século XX (vol. V). Port o:

Edições Afront am ent o.

Ferreira, A. G. (1988). Dicionário de lat im – port uguês. Port o: Port o Edit ora.

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Referências

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