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Interface (Botucatu) vol.1 número1

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Academic year: 2018

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not as int r odut ór ias

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_______________________________________

José Luiz Sigr ist i1

Educação e níveis de consciência

Ao pr opor m os um diálogo com a Filosof ia, pr et endendo r ef let ir sobr e pr essupost os t eór icos do ensino e da pr át ica m édica, é im por t ant e abor dar m os pr im eir am ent e a r elação ent r e educação e níveis de consciência.

Par a discut ir Educação, com eço lem br ando Hegel. Par a ele, nossa liber dade, nossa per sonalidade e nossa educação est ão em r elação dir et a com o nível de consciência que t em os da r ealidade,

ent endida por ele com o a t ot alidade das coisas, a t ot alidade do ser .

A t r adição hegeliana diz que nós podem os t er t r ês t ipos de at it udes per ant e o r eal, que r evelam t r ês f or m as de consciência. A pr im eir a, cham ada de cconsciência em pír ica; a segunda, de cconsciência r acional e a t er ceir a, de consciência t eór ica. O objet ivo da educação, o objet ivo da pr ópr ia vida, t endo em vist a a busca da nossa liber dade, consist e em per cor r er m os esses t r ês degr aus possíveis, at é

chegar m os ao nível m ais pr of undo, m ais liber t ador , m ais pedagógico, que é o nível da consciência t eór ica.

A cconsciência em pír ica é a consciência de quem apenas r esponde aos est ím ulos im ediat os da exper iência. A cconsciência r acional é aquela at it ude de quem não apenas r esponde aos est ím ulos im ediat os da exper iência, m as que é capaz de dar r azões explicat ivas aos elem ent os const it ut ivos

* Tr anscr ição de palest r a pr of er ida a pós-gr aduandos das disciplinas de Pedagogia Médica e Didát ica Especial dos

Cur sos de Pós-Gr aduação da Faculdade de Medicina da UNESP, cam pus de Bot ucat u, em agost o de 19 96 . Cor r eções e adapt ações feit as pelo aut or .

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dest a m esm a exper iência. A consciência t eór ica é a consciência de quem não só r esponde aos est ím ulos da exper iência do cot idiano e dá cer t as r azões explicat ivas aos seus elem ent os, m as é capaz de per ceber e int egr ar est a exper iência na t ot alidade das coisas que com põem aquilo que Hegel cham a de m undo, r ealidade ou t ot alidade do ser .

Par a exem plif icar , eu dir ia que qualquer um de nós, assim com o um a dona de casa que vai ao super m er cado, se não se apr of undou nos est udos da econom ia, t em um a cconsciência em pír ica da ciência econôm ica: sabe m uit a coisa, sabe adm inist r ar o or çam ent o dom ést ico com gr ande sabedor ia, de t al m odo que não vai com pr ar m ais do que o seu or çam ent o per m it e. Na ver dade, um a consciência em pír ica signif ica saber t r abalhar com elem ent os da vida cot idiana, r espondendo aos est ím ulos.

No plano da saúde, eu poder ia dizer que t odos nós, de algum a f or m a, sabem os r esponder ao est ím ulo im ediat o de algum a doença, de algum a pat ologia, de algum a dor , m ediant e um r eper t ór io de conhecim ent os de senso com um , que nos chega por m eio da pr át ica social, da vida f am iliar , da convivência com os out r os. Nest e at o de r esponder m os ao est ím ulo de um a dor de cabeça e

buscar m os um analgésico, não nos acom panha um conhecim ent o de com o essa dor ocor r e, nem das r azões por que acont ece. No gest o de t om ar m os um com pr im ido, t am pouco nos acom panha um conhecim ent o dos com ponent es f ar m acêut icos que nele est ão pr esent es. Falt a-nos a ciência da f ar m acologia e da m edicina. Mas t odos nós t em os consciência. A dif er ença est á no nível de consciência que cada um possui.

Volt ando ao caso da econom ia, a dona de casa t em um a consciência em pír ica em r elação à ciência econôm ica por que não vai além de saber ar t icular , t r abalhar , com por e adm inist r ar a sua exist ência, bem com o a de sua f am ília, com aquele saber adquir ido pela t r adição e pela pr át ica social e f am iliar .

Já um cient ist a econôm ico possui não só a consciência em pír ica m as t am bém a cconsciência r acional. Ele saber á explicar quais são as leis que r egem a pr odução, a cir culação e o consum o de bens; que a escassez de det er m inados pr odut os e o alt o ou o baixo pr eço de alguns pr odut os, o aum ent o e a dim inuição do consum o em det er m inadas sit uações devem -se a um a det er m inada econom ia polít ica.

Ent ender as leis da econom ia polít ica ou sim plesm ent e as leis da ciência econôm ica signif ica t er m ais consciência do que sim plesm ent e com pr ar , se t iver dinheir o, ou abr ir m ão de cer t os pr odut os em

r azão da escassez de r ecur sos econôm icos. O cient ist a econôm ico é aquele que conhece as leis da econom ia, conhece as leis da econom ia polít ica, dif er ent em ent e de um a pessoa que t enha apenas um a consciência em pír ica.

Mas Hegel vai m ais longe. Não bast a a nós a consciência r acional, diant e da pr et ensão de ser m os livr es, de ser m os educados, de ser m os plenam ent e conscient es. É necessár io ir em busca do que ele cham a de cconsciência t eór ica. Ele def ine t eór ico no seu sent ido et im ológico: vem do gr ego “ t h eor em ”

que signif ica ver o conjunt o, a t ot alidade, do m odo m ais exaust ivo possível.

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conjunt ur a econôm ica. É pr eciso t er um a visão bem m ais am pla, per ceber com o a econom ia est á int im am ent e dependent e e ar t iculada com a t ot alidade da sociedade. Não só com a t ot alidade das out r as ciências, m as com a t ot alidade de m últ iplos f enôm enos da r ealidade. Est a visão de conjunt o ar t iculada, em que nada daquilo que com põe o r eal est eja ausent e, ist o é a consciência t eór ica.

Fica clar o, a par t ir dest es exem plos, que a consciência t eór ica de que f alo não é consciência abst r at a. Com cer t a f r eqüência, ouvim os expr essões com o est a: “ olha , eu sou m u it o bom n a pr á t ica ,

m a s m u it o r u im na t eor ia ”. Na ver dade não há pr át ica sem t eor ia. E t am bém não é possível algum

saber sem o m ínim o de abst r ação. Já dizia Sócr at es que a ciência com eça no conceit o univer sal, que é abst r at o. Por exem plo, ao dizer que est e m icr of one é um inst r um ent o de com unicação, est ou f azendo abst r ação. O m icr of one é um a cat egor ia, é um conceit o univer sal par a t odos os objet os dest a m esm a nat ur eza.

Não é possível f azer ciência sem abst r ação. A t eor ia é um a visão ar t iculada da t ot alidade do r eal. É clar o que podem os, com o Hegel aconselha, dent r o da gr ande t ot alidade do r eal, encont r ar

subt ot alidades que são elem ent os const it ut ivos desse t odo ar t iculado e or ganizado. Podem os dizer que as ciências biom édicas já são um a subt ot alidade das ciências em ger al e, dent r o dest a

subt ot alidade biom édica, podem os encont r ar vár ios elem ent os const it ut ivos: a f isiologia, a cit ologia, a anat om ia e out r as ár eas.

Dent r o da pr oposição de Hegel podem os dizer que a ed u ca çã o é u m pr ocesso d e con scien t iza çã o.

Nor m alm ent e ocor r em m uit os equívocos a est e pr opósit o da educação. Na ver dade, t odos t êm consciência e consciência com m uit a sabedor ia. Às vezes um a dona de casa adm inist r a m uit o m elhor o or çam ent o dom ést ico do que o seu m ar ido, que é econom ist a. O f at o de t er apenas um a

consciência em pír ica não im plica que est a consciência est eja equivocada, er r ada, f alsa. Nem por isso devem os legit im ar o analf abet ism o ou a aceit ação de um a est r at if icação na pir âm ide da escolar idade.

Poder íam os dizer que, na educação, ou no ensino de qualquer pr of issão, a nossa t ar ef a nada m ais é senão a de pr ocur ar elevar a consciência de nossos alunos at é o nível de consciência t eór ica

possível. Par a t ant o, no caso do ensino m édico, o aluno pr ecisa ser conscient e daquilo que as ciências m édicas alcançar am at é hoje. Falo at é hoje por que há m uit o cam inho ainda a per cor r er . I sso vale

par a a Medicina com o par a t odas as dem ais ciências. Ent ão, a f inalidade do ensino m édico ser ia f undam ent alm ent e capacit ar ou dar a consciência de t udo quant o ao longo da hist ór ia a hum anidade conseguiu na ár ea da Saúde. E que, além dos conhecim ent os das Ciências Médicas, o est udant e de Medicina (assim com o qualquer out r o est udant e) t enha na escola os elem ent os par a não ser apenas um bom m édico, m as ser pr incipalm ent e livr e, int egr ado de f or m a r azoável na sociedade, par a per ceber as ar t iculações com a t ot alidade e usar o conhecim ent o m ais at ual pr om ovendo, t am bém par a os out r os, o dir eit o à cidadania.

Daí a necessidade de com pr eender m os as r azões ideológicas e hist ór icas que levar am à

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m odo que cada ár ea de pesquisa, bem com o cada ár ea de f or m ação pr of issional se f echam dent r o dos lim it es que hist or icam ent e f or am sendo est abelecidos, im pedindo qualquer visão de conjunt o. Est a separ ação est á m uit o longe de levar à consciência t eór ica.

Pr essupost os do ensino

O que a f ilosof ia poder ia dizer a r espeit o da Didát ica ou dos pr essupost os t eór icos do ensino? Um a t eor ia é pelo m en os u m con ju n t o a r t icu la d o, or d en a d o, d e pr oposições a r espeit o d e u m m esm o

obj et o, a pa r t ir d e u m pr in cípio. Est a def inição pode não ser a m ais per f eit a, m as pelo m enos t em o

consenso de t odos. Não há ciência sobr e algum a coisa ou um objet o que t enha um a única lei, um a única pr oposição. Um a t eor ia cient íf ica é um conjunt o de pr oposições que se ligam a out r as, de algum m odo, vinculadas a um pr incípio. I sso já os gr egos diziam , aliás, m ais exat am ent e Ar ist ót eles dizia que a ciência é a busca dos pr incípios a par t ir dos quais as pr oposições se sust ent am .

Por exem plo, Skinner , psicólogo behavior ist a, diz que t odo e qualquer com por t am ent o hum ano se r eduz a um pr incípio: num a dada cir cunst ância, dado um est ím ulo segue-se um a r espost a. Est e é o pr incípio que est á pr esent e em cada um a das pr oposições a r espeit o do com por t am ent o hum ano.

Par a o behavior ism o, a Didát ica nada m ais é do que, num a cir cunst ância qualquer , cr iar est ím ulos que pr ovoquem r espost as esper adas e desejadas. A Didát ica passa, ent ão, a ser a cr iação de est ím ulos par a alcançar cer t as r espost as. Qu e r espost a s sã o essa s? Mais exat am ent e, aqueles cont eúdos pr ogr am át icos est abelecidos pela disciplina. A quest ão é: qu a l o est ím u lo m a is

a d equ a do? Dent r o do behavior ism o, est a é um a quest ão que a Didát ica pr ecisa colocar -se. E ist o

inclui os com ponent es de cada classe, as condições m at er iais da classe, o r eper t ór io de conhecim ent o que os m em br os da classe t êm e assim por diant e. I sso ser ia um pr incípio ou um a lei m ais ger al, m ais univer sal, à qual se ligam t odas as out r as pr oposições.

Cont inuando a exem plif icar , se na Sociologia eu f or f uncionalist a, o pr incípio ar t iculador da t ot alidade das pr oposições ser á o pr incípio da f u n cion a lida de. Quer dizer , num a dada cir cunst ância,

cada pessoa age em f u nçã o de algum a coisa. A busca dessas f unções é just am ent e a com pr eensão da

sociedade, dado que a Sociologia se pr opõe ent ender as leis que r egem nosso com por t am ent o e o com por t am ent o de gr upos de classe na sociedade.

M a s, o qu e t em isso d e Filosof ia ? Nada. M a s o qu e t em a Filosof ia a ver com isso? É que a

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É nest a quest ão que a Filosof ia t em a ver com a Didát ica, com a t eor ia pedagógica, com a t eor ia cient íf ica, com a t eor ia de qualquer ciência. A pr ocur a de um pr incípio unif icador e ar t iculador de t udo isso é a quest ão da Filosof ia. Ar ist ót eles f oi o pr im eir o a f or m ular e ninguém o cont est ou depois disso. Segundo ele, nós podem os classif icar as ciências segundo m aior ou m enor nível de abst r ação.

O pr im eir o nível de abst r ação é o das cciências em pír icas. Por que em pír icas? Por que t odo saber em pír ico decor r e necessar iam ent e de dados exper im ent ais. É o que eu posso apr eender a par t ir dos dados da exper iência. São as ciências da nat ur eza de um m odo ger al.

O segundo nível é o das cciências m at em át icas, que dependem , só no início, da exper iência; par t em depois par a um nível onde a exper iência é t ot alm ent e dispensável, desnecessár ia e desaconselhável; abandonam as exper iências par a, só com as r elações ent r e quant idades, t r abalhar com a r azão e não com a em pir ia.

O t er ceir o nível Ar ist ót eles cham a de FFilosof ia, a ciência que independe t ot alm ent e de t odo e

qualquer dado em pír ico, t endo por objet ivo a discussão do ser enquant o ser .

Cada ciência t em um objet o par t icular . A Mat em át ica est uda o ser quânt ico, a Biologia, o ser vivo, a Zoologia, as plant as, a Ant r opologia, o hom em , e assim por diant e. Caber ia agor a, em vez do ser hom em , do ser sociedade, da sociologia; do ser com por t am ent o do hom em , que é a Psicologia, do ser det er m inado, um a discussão do ser enquant o ser , do ser enquant o t al, ant es de qualquer

det er m inação.

An t es d a pr ior id a d e t em por a l m a is f or m a l é possível d iscu t ir o ser en qu a n t o ser sem se f ixa r n o

ser m u n d o f ísico, n o ser m u n d o h u m a n o, n o ser m u n d o p olít ico? Ar ist ót eles diz que sim . A est e

saber ele cham a de t er ceir o gr au de abst r ação, o m ais elevado por que independe t ot alm ent e da exper iência - aa Filosof ia.

Out r a ver dade que a Filosof ia coloca é a de que quem não t iver capacidade de abst r air não vai m uit o longe em qualquer r am o do saber . É pr eciso t er vôo de condor par a ver a t ot alidade e não vôo de nam bu, que voa m uit o r aso e r ast eir o e não t em visão de t ot alidade. É com o assist ir a um desf ile de escola de sam ba na r ua, na calçada ou em cim a de um pr édio. Quem est iver na calçada t em

o pr ivilégio da per cepção dos det alhes, m as não t er á com o ver a t ot alidade das alas da escola. Est a visão da t ot alidade im plica um a elevação não só de se subir , m as um a elevação no plano da consciência.

A Filosof ia pr et ende ser condição necessár ia par a t odos os cient ist as e par a t odas as pessoas. Com o diziam os gr egos, f ilosof ar é, ant es de t udo, um a condição hum ana. Daí por que f ilosof ar é com um a t odos os hom ens. A dif er ença est á no nível de pr of undidade desse f ilosof ar . Est e var ia de pessoa par a pessoa.

M a s o qu e t em t u d o ist o a ver com a con t r ibu içã o d a Filosof ia pa r a u m cu r so d e Ped a g og ia

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Pr im eir o é pr eciso lem br ar que, independent em ent e do nível em que cada um de nós est ejam os, t oda a nossa visão, seja ingênua, cr ít ica, r acional, t eór ica, seja de pr im eir o gr au, segundo gr au ou de t er ceir o gr au, t em dois com ponent es: uum com ponent e ont ológico e um com ponent e epist em ológico. Ont ologia, no seu sent ido pr im eir o, m ais elem ent ar e m ais sim ples, que é o conceit o et im ológico, signif ica llógica do ser :“ on t h os” , do gr ego, signif ica sser e“ log os”, llógica.

Todos nós t em os, assim , um a det er m inada oont ologia. Est a nada m ais é do que u m a visã o e u m a

j u st if ica çã o d a r ea lid a d e qu e nós vivem os, quer dizer , u m a visã o d a t ot a lid a d e d o r ea l qu e nos

cir cu nd a. Est e é o sent ido m ais elem ent ar da ont ologia. É um a det er m inada leit ur a da r ealidade. Se

cada um de nós conseguisse colocar em um a página a nossa visão da r ealidade, t er íam os a ont ologia de cada um .

Não podem os viver sem explicar o m undo que vivem os. Ainda que est a explicação seja m íst ica, m ít ica ou m ist if icada. É just am ent e por que conseguim os, de algum m odo, explicar est e m undo, que a vida t em sent ido, qualquer que seja esse sent ido. Sem um a cer t a leit ur a da r ealidade, não

saber íam os com o agir e int er agir dent r o da sociedade, f icar íam os sem nor m as de com por t am ent o, não sabendo o que f azer e no que acr edit ar .

Enf im , a leit ur a da r ealidade é a nossa ont ologia. Se est a t iver um gr au acent uado de

r acionalidade, um f undam ent o t eór ico sólido, m uit o m elhor . Mas em t odos os níveis - em pír ico,

r a cion a l e t eór ico, há um a ont ologia pr esent e, dir et r iz básica do nosso com por t am ent o.

No caso da educação escolar , sendo pr of essor es, é a ont ologia que com unicam os aos nossos alunos, qualquer que seja a disciplina que lecionem os. Não há pr of essor que consiga ser m ascar ado, e ainda que ele se m ascar e, est á com unicando um a det er m inada visão de m undo. Nem um pr of essor de Anat om ia, que é um a ár ea objet iva, consegue ser neut r o. Não há neut r alidade, ainda que a ciência pr et enda ser neut r a.

Todos nós t r abalham os e vivem os dent r o de um a ont ologia, de um a leit ur a que f azem os da r ealidade. Todos os nossos com por t am ent os est ão veiculando essa leit ur a, essa com pr eensão de m undo, de sociedade. Quando eu f alo de leit ur a de r ealidade, não est ou pensando um a r ealidade abst r at a, indef inida, est ou pensando no m ais concr et o da nossa vida, na nossa vida pessoal, na nossa

vida int er pessoal, na nossa vida pr of issional, na nossa vida em sociedade, na nossa pr of issão. Em t odos os m om ent os, queir am os ou não, com unicam os a nossa ont ologia, ainda que disso não t enham os consciência.

Por out r o lado, é pr eciso saber que nossa visão de m undo t am bém t em um out r o com ponent e - oo com ponent e epist em ológico.

“ Epist hem e”, do gr ego, signif ica cciência; “ log os”, llógica. Epist em ologia nada m ais é do que a

lóg ica d e u m a ciên cia. A lógica de um a ciência est á na t eor ia cient íf ica que vai dar sust ent ação

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Por exem plo, conf or m e o lugar a par t ir do qual eu olho um a cidade, t al ser á a cidade. A busca desse lugar cham ado lu g a r epist em ológ ico é out r a t ar ef a que cabe a cada educador saber . Ele pr ecisa saber em que lugar est á e a par t ir de que lugar est á olhando o m undo. A epist em ologia discut e esse pont o a par t ir do qual nós vem os o m undo. Cada ciência t em a sua epist em ologia. Tem os a epist em ologia da Biologia, da Hist ór ia, da Psicologia, e assim por diant e, que é o pont o a par t ir do qual se discut e o objet o de um a ciência.

A epist em ologia exist iu pr at icam ent e desde os inícios da Filosof ia e com o conhecim ent o m ais ou m enos sist em át ico, dat a do século VI I a.C. Mas só r ecent em ent e, nos séculos XVI e XVI I , é que a epist em ologia passou a ser encar ada do pont o de vist a do pr oblem a cr ít ico da ciência.

E em qu e consist e est e pr oblem a cr ít ico?

Kant , no século XVI I I , vai dizer que o pr oblem a cr ít ico consist e em r esponder a duas quest ões: O

qu e pod em os con h ecer ? Em qu e con d ições o con h ecim en t o é ver d a d eir o? Est e é o pr oblem a cr ít ico,

discut ido não apenas por Kant , m as t am bém pelos r acionalist as, com o Descar t es, e pelos em pir ist as,

com o Hum e. Mas f oi Kant quem sist em at izou, em seu livr o “ Cr ít ica da r azão pur a” , as quest ões que os r acionalist as e em pir ist as já haviam discut ido. Ele cham a de pr oblem a cr ít ico da ciência o f at o de que, ant es de com eçar m os a f azer ciência, pr ecisam os t er bem clar as, per ant e nós m esm os, as

r espost as a duas quest ões. O qu e n ós pod em os con h ecer : a t ot a lid a d e d o r ea l ou pa r t e d o r ea l? Em

qu e con d ições esse con h ecim en t o é ver da d eir o, in qu est ion á vel, ir r ef u t á vel?

Par a Kant , ant es de f azer uso da r azão eu t enho que cr it icar , ou seja, apr eciar o seu lim it e. Eu não posso com eçar a usar a r azão sem saber com clar eza qual o seu alcance e quais são as leis que ela deve r espeit ar par a chegar à ver dade cient íf ica.

Est as duas quest ões guar dam um a ligação m uit o gr ande por que, ao def inir as condições do conhecim ent o ver dadeir o, já est ou def inindo os lim it es desse conhecim ent o. Ao def inir o objet o eu est ou def inindo igualm ent e as condições de possibilidade do conhecim ent o ver dadeir o. Est a é a base em que se assent a t oda a Filosof ia m oder na e cont em por ânea.

Descar t es, consider ado o pai da Filosof ia m oder na, discut e essas quest ões no livr o “ Discur so sobr e o m ét odo” : o qu e n ós pod em os con h ecer e em qu e con d ições? (m ét odo aqui é cam inho pelo qual eu

chego a ver dade) . Locke escr eveu um ensaio sobr e esse ent endim ent o hum ano. Hegel escr eveu “ Fenom enologia do Espír it o” e Mar x vai escr ever a “ I deologia Alem ã” ant es de escr ever “ Cr ít ica à Econom ia Polít ica” e “ O Capit al” , e assim por diant e.

I nvest igações lógicas e f enom enológicas vão com eçar a t em at izar essas quest ões e t ent ar r esponder a elas. Um a vez r espondidas, pr ossegue-se nas elabor ações de um sist em a f ilosóf ico que vai dar base e sust ent ação às t eor ias cient íf icas. Podem os at é não gost ar da Filosof ia, m as ela est á pr esent e em t odo pensam ent o m oder no e cont em por âneo, a com eçar pelo pr oblem a cr ít ico: O qu e

n ós p od em os con h ecer ?

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aqu ilo qu e a pa r ece. Nós podem os conhecer aquilo que apar ece no hor izont e da nossa exper iência. Mas, e aquilo que est á par a além da exper iência? Fica um a int er r ogação ou um a negação. Alguns negam qualquer coisa que est eja par a além do exper im ent ável. Out r os dizem : par a além da exper iência nós nada podem os af ir m ar , quer sobr e a exist ência de algo, quer sobr e a sua não exist ência. E nada podem os dizer sobr e a nat ur eza disso se por vent ur a exist ir . I sso é dom inant e, hegem ônico, m as não é exclusivo. Há alguns ainda que def endem a possibilidade de um discur so cient íf ico r acional, consist ent e e sólido a r espeit o de coisas que t r anscendem , que est ão além do m undo do f enôm eno.

Respondida est a quest ão nos obr igam os a r esponder à segunda quest ão: Em qu e con dições o

con hecim ent o é ver d a d eir o?

Aí nós t em os dois elem ent os indispensáveis. Não há com o f alar em conhecim ent o ou em que condições o conhecim ent o é ver dadeir o se não houver o sujeit o que conhece e o objet o que é conhecido. E aqui est á o conf lit o, a diver gência. A polêm ica est á exat am ent e ent r e aqueles que,

nessa r elação cognit iva sujeit o-objet o, pr ior izam ou o sujeit o ou o objet o. Dit o de out r a f or m a: se t oda a pesquisa cient íf ica pr et ende buscar a ver dade daquilo que é pesquisado, a quest ão cr ít ica, a quest ão epist em ológica é exat am ent e dizer onde est á a ver dade.

Plat ão dizia que a aspir ação f undam ent al do hom em é t r íplice. O hom em aspir a pr of undam ent e à ver dade, est á sem pr e desejando o bem e est á sem pr e am ando o belo. São as t r ês aspir ações

f undam ent ais do hom em . E at é hoje nós concor dam os, ninguém vai discor dar que a busca da ver dade, o aspir ar pela ver dade é um a condição hum ana pr esent e na consciência de t odos. Agor a, o pr oblem a é def inir onde est á a ver dade. Est a é a quest ão.

Na epist em ologia há um divisor de águas ent r e duas t endências de dif ícil r econciliação. A pr im eir a diz que a ver dade r eside no objet o do conhecim ent o. Onde est á a ver dade de um a ár vor e? A ver dade de um a ár vor e est á lá na pr ópr ia ár vor e. Out r os vão dizer que t oda e qualquer ver dade se f unda senão exclusivam ent e, pr ior it ar iam ent e no sujeit o do conhecim ent o. É quest ão de pr ior izar , não de excluir . Dar pr ior idade na r elação cognit iva da ciência ao objet o signif ica dizer que a ver dade est á basicam ent e no objet o. Cabe, por t ant o, ao sujeit o, ir at é o objet o par a desvelar , descobr ir . Daí a

noção de que f azer ciência é descobr ir a ver dade. “ Newt on descobr iu a lei da gr avidade” .

Mas alguns t eór icos vão dizer que Newt on não descobr iu coisa nenhum a por que a ver dade não est á lá par a ser descober t a com o se est ivesse cober t a por um véu. Ent ão, na ver dade, Newt on não descobr iu, m as const r uiu a ver dade sobr e a m ecânica celest e.

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Se a Filosof ia “ clássica” er a esse ir do sujeit o ao objet o por que er a no objet o que r esidia a ver dade, a r evolução coper nicana na Filosof ia é t om ar com o pont o f ixo o sujeit o. O sujeit o do conhecim ent o é o pont o f ixo que vai int er r ogar a nat ur eza. Est a é que t em que se m over ao seu r edor ou em r espost a às suas indagações, às suas per gunt as, por que a r azão é a gr ande or denador a do m undo. Tant o isso é ver dade que o hom em nunca pode viver sem explicar o m undo. E quando a r azão cient íf ica ainda não er a capaz de f azê-lo, o hom em , a r azão hum ana, ut ilizou os m it os par a explicá-lo. A m it ologia gr ega, r om ana, egípcia babilônica, são m agníf icos edif ícios de idéias cr iadas pela r azão hum ana par a explicar o m undo. Ar ist ót eles deu-se cont a disso ao dizer que o “ m it hos” é “ logos” — o m it o é r azão. Por quê? Por que é cient íf ica, é ver dadeir a aquela explicação que nos convence. E os deuses er am convincent es. As r azões m ít icas convenciam e na m edida em que convenciam , levavam à cer t eza. Na m edida em que er a cer t o, er a cient íf ico.

Todas as gr andes explicações do m undo se f ir m am

segundo esse segundo gr upo, pr ior izando o sujeit o na const r ução do edif ício explicat ivo do m undo. Aqueles que dão pr ior idade ao sujeit o são denom inados idealist as. Os que pr ior izam o objet o da r elação cognit iva por que a ver dade f undam ent alm ent e est á lá nele, são denom inados rr ealist as: a ver dade est á na r ealidade ext er ior ao sujeit o. Quando a ver dade é um const r uct o do sujeit o t em os o idealism o. Por exem plo, par a Leibnit z, o m undo é a per cepção que eu, ssujeit o, t enho dele. Há vár ias cor r ent es e nom es ligados ao idealism o: o r acionalism o de Descar t es, Leibnit z, Espinoza, Wolf e Kant , a dialét ica de Hegel, a

f enom enologia de Husser l. Do lado do r ealism o est á o em pir ism o do século XVI I e XVI I I de Locke, Hobbes e

Hum e; o m at er ialism o hist ór ico de Mar x e seus seguidor es; o posit ivism o de Com t e e de t odos os f or m ados na t r adição posit ivist a.

Essa diver gência cont inua at é os nossos t em pos, est á pr esent e em t odas as discussões t eór icas sobr e a ciência, em t odas as quest ões sobr e par adigm as ou m odelos de invest igação cient íf ica.

Par ece-m e que, depois de Kant , t odo m undo é m ais ou m enos idealist a no sent ido de que sabe ou concor da que a or dem exist ent e no univer so é a or dem f undada na r azão. Nest e sent ido t odo m undo é r acionalist a. Todos os sist em as explicat ivos do m undo se f undam em últ im a inst ância na r azão hum ana.

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Pr at icam ent e t odo m undo é Kant iano em par t e, sabe que não exist e o f at o cient íf ico, que o f at o cient íf ico se const r ói. Não f alt am f at os que desaf iam a ciência. Na Medicina, por exem plo, pensem os sobr e o pr oblem a do câncer . Não f alt am exper iências sobr e o câncer . Há m ilênios est e f enôm eno é um f at o. Exist e ciência sobr e o câncer , m as f alt am const r uções de hipót eses que a exper iência conf ir m e. Est e é um dos ar gum ent os dos idealist as.

É im por t ant e r essalt ar que idealism o, aqui, é t om ado em seu sent ido epist em ológico, e não no sent ido ét ico, daquela pessoa de ideais nobr es que dedica sua vida sem pr e a gr andes causas. I dealism o por que pr ior iza a idéia, o conceit o, a r azão da r elação cognit iva. Por exem plo, as m açãs sem pr e caír am , com o caír am t odos os cor pos pesados, m ais pesados que o ar . Mas f oi necessár io que Newt on f izesse um ensaio, t ivesse um est alo par a levant ar a hipót ese: quem sabe os cor pos caem por que um at r ai o out r o em r azão dos volum es de suas m assas. Nesse m om ent o a ciência

cam inhou... Há m uit o exper im ent o par a conf ir m ar o que já se sabe, par a dem onst r ar o que já est á dem onst r ado. É pr eciso f azer avançar a Física Teór ica e ela im plica a const r ução de novos m odelos

par a dar cont a de novos f enôm enos.

Todo m undo m ais ou m enos concor da que o idealism o é, de cer t a f or m a, pr evalecent e, por que o em pir ism o, segundo o pr ópr io Hum e, vai cair no cet icism o: t oda ver dade vem da exper iência e só da exper iência e a r azão é um a t ábua r asa, um quadr o de giz apagado no qual a exper iência vai se im pr im indo; a r azão, no m áxim o, vai ar r um ar essa exper iência. Par a Hum e, t oda exper iência par t icular é cont ingent e e a ver dade é par t icular e cont ingent e. Or a, a ciência t em pr oposições univer sais e necessár ias e não par t icular es. Daí o pr ópr io Hum e dizer que o em pir ism o só leva ao cet icism o.

O posit ivism o é de um a enor m e valia no avanço da ciência. Mas ele t em um a t er r ível pr ecar iedade na com pr eensão da t ot alidade do ser e leva a um t ecnicism o e a um a enor m e f alt a de consciência da t ot alidade das coisas. Se só são ver dadeir as as const ant es ver if icadas ent r e os f enôm enos, ist o signif ica f icar sim plesm ent e na r am a, ou na per if er ia do ser , no invólucr o. O m at er ialism o hist ór ico de Mar x, cont udo, é m ais consist ent e. Mas nem por isso esses t eór icos est ão desat ualizados. Todos os cont em por âneos se inspir am neles, de algum m odo.

Na ver dade, o pr oblem a do sujeit o-objet o, a dicot om ia ent r e sujeit o e objet o, é um a f alácia. Nós vim os que t odas as ciências são conjunt os de pr oposições ar t iculadas ent r e si, a par t ir de um pr incípio. Qu a l é o pr in cípio ú lt im o d e t od o e qu a lqu er sa ber ?

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conhecim ent o. O conhecim ent o consist e na elabor ação de conceit os, de pr oposições que ident if iquem a ver dade do objet o.

Par a Hegel, isso levou a um a sit uação de conf lit o insuper ável, a um dualism o equivocado, alguns pr ior izando o sujeit o na r elação cognit iva, out r os o objet o. A ver dade est á m ais no sujeit o do que no objet o ou a ver dade est á m ais no objet o do que no sujeit o. Tudo ist o é um equívoco, por pr incípio. O pr incípio const it ut ivo últ im o do ser (de t odas as coisas) e do pensar — ont ologia e epist em ologia — não é a ident idade m as é a ccont r adição. No pr incípio da ident idade o que é é, o que não é não é. Ou, dit o de out r a f or m a, o pr incípio da ident idade é o pr incípio da não cont r adição. Um a coisa não pode ser e não ser ao m esm o t em po e sob o m esm o aspect o aquilo que ela é.

At é agor a, diz Hegel, t oda Filosof ia par t iu, seja na const r ução da sua leit ur a, da sua ont ologia, no seu discur so globalizant e da r ealidade, f undada no pr incípio da ident idade, buscando ident if icar par a dif er enciar as coisas e ar t iculá-las ent r e si. Conhecer é ir em busca da essência que ident if ica cada coisa. Mas, par a Hegel, o pr incípio últ im o do ser e do pensar não é a ident idade, m as a cont r adição.

Pr incípio est e que se enuncia da seguint e f or m a: u m a coisa é e nã o é a o m esm o t em po e sob o

m esm o a spect o, a qu ilo qu e ela é. Est e é o pr incípio últ im o, f undant e do nosso ser e do nosso

pensar . É o f undam ent o últ im o do nosso pensam ent o se nós quer em os a ver dade.

Por exem plo, um a coisa é eu dizer “ eu sou u m a pessoa qu e vivo t a is con t r a d ições” ou que “ t en h o

t a is con t r a d ições, t a is pr oblem a s, t a is con f lit os” ; out r a coisa é eu dizer , com o pr opõe Hegel: “ eu sou

a s m in h a s con t r a d ições”. Ao dizer que “ eu sou um a pessoa que t em cont r adições” , eu est ou

r ef er enciado pelo pr incípio da ident idade, est ou f alando de um a essência pessoal, de um a exist ência bem def inida, de um a ident idade que é a m inha per sonalidade. Ao dizer , “ eu sou um a pessoa” , eu já est ou ident if icando o ser que t em t ais cont r adições. Essas cont r adições par ecem ser acident ais, cont ingent es. Mas, ao dizer , com Hegel, “ eu sou as m inhas cont r adições” , as m inhas cont r adições m e def inem , por que a cont r adição é o pr incípio def inidor das coisas. Def inidor enquant o const it uint e. A cont r adição é o pr incípio const it uint e das coisas.

Por exem plo, eu posso conhecer est a Univer sidade e est e I nst it ut o onde est ou, no m om ent o, de vár ias f or m as. Se eu sou ff uncionalist a — vejam com o é um a quest ão t eór ica — eu vou lá no

or ganogr am a e vejo que t em o Dir et or , o chef e do depar t am ent o, os cur sos, os coor denador es dos cur sos. Eu vou ver lá no or ganogr am a com o é que se dist r ibui o poder f or m al, legal, est at ut ár io, em bor a nem sem pr e o exer cício desse poder seja conf or m e o or ganogr am a. Mas, f or m alm ent e, o poder est á lá. II st o é um a leit ur a. Mas, alguém pode dizer assim : o I nst it ut o de Biociências é a vida que int er nam ent e pulsa nest a inst it uição. O I nst it ut o são os conf lit os, são as t ensões do poder . II st o é out r a leit ur a, um a leit ur a dialét ica. Com pr eender as cont r adições que const it uem est e I nst it ut o é conhecer de f or m a dif er ent e. Por t ant o, dependendo dos par adigm as por m eio dos quais nós enf ocam os um objet o, nossa com pr eensão dest e objet o m uda.

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f ilósof os supõem ou pr essupõem o sujeit o já const it uído na sua essência. Baseado num pensam ent o m et af ísico t r adicional, esses t eór icos acham que exist e um a essência hum ana univer sal, única, com um a t odos os hom ens desde ont em , hoje e sem pr e. O sujeit o do conhecim ent o, que é o hom em , desde a civilização pr im eir a at é hoje, já é um ser const it uído na sua essência. Var ia pelas

cont ingências do t em po e da cult ur a, m as essencialm ent e ele é um só. Da m esm a f or m a, o m undo par a eles já est á pr ont o, def inido e acabado na sua essência. E isso é um equívoco, diz Hegel. Por que o hom em não é um ser pr ont o, def inido e acabado, pelo cont r ár io, é um ser que est á se f azendo, no t em po e na hist ór ia. Da m esm a f or m a o m undo, a nat ur eza, est á em pr ocesso de vir a ser . O pr ocesso do vir a ser é const it uint e de t odas as coisas e não o ser . TTudo est á vindo a ser por que ainda não é. Cada um de nós cada dia vive m ais e m or r e m ais. Assim t am bém a r ealidade t ot al, seja a r ealidade hum ana, seja a dos anim ais, seja a da nat ur eza, est á num pr ocesso de vir a ser algo m ais do que já é e já f oi.

Hegel t em um a visão posit iva e ot im ist a desse vir a ser . Par a ele o m undo cam inha par a um a

plenit ude, par a a plena m anif est ação do que de hum ano exist e na hum anidade. É a plena

hum anização do hom em ; é a plena nat ur alização da nat ur eza. É a plenit ude ainda não alcançada do hom em e da nat ur eza. Mas essa plenit ude só se dar á quando o hom em com pr eender a t ot alidade da nat ur eza e se per ceber com o um ser da nat ur eza, ent endendo-se na t ot alidade, na plenit ude da sua hum anidade. A hist ór ia é o pr ocesso de hum anização e nat ur alização do hom em e da nat ur eza. A ver dade est á nas cont r adições que const it uem o objet o num dado m om ent o do seu vir a ser : eu sou

e eu n ã o sou u m m en in o d e cin co a n os h oj e. I st o signif ica que o passado m e com pr om et e no sent ido

de que ele é um m om ent o const it uint e do m eu pr esent e. Cada m om ent o nega e af ir m a ao m esm o t em po. Tudo é e não é ao m esm o t em po aquilo que é. Ent ão o m eu pr esent e é um a sínt ese de t odo o passado e é um a ant ít ese em r elação ao passado e f ut ur o. EEst e pr ocesso de t ese, ant ít ese e sínt ese, que não vam os nos apr of undar aqui, é o pr incípio do ser .

Na ver dade, r ealism o e idealism o são concepções equivocadas e ant epost as. Todo m undo é r ealist a e idealist a, só que há t am bém um a dialét ica do sujeit o e do objet o. O conhecim ent o dialét ico consist e just am ent e em per ceber isso: à m ed id a qu e eu vou con h ecen d o o m u n d o, o m u n d o va i

cheg a n d o a m im e m e t r a nsf or m a ndo. Há um a int er ação: eu não sou o m undo, o m undo não é eu.

Referências

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