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Direito fundamental à educação de qualidade social

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Academic year: 2021

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FRANCIELE DE SOUZA CAETANO VIEIRA

DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE SOCIAL: IMPLICAÇÕES DA REMUNERAÇÃO DOCENTE

Tubarão, 2016

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FRANCIELE DE SOUZA CAETANO VIEIRA

DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE SOCIAL: IMPLICAÇÕES DA REMUNERAÇÃO DOCENTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Prof. Dra. Maria da Graça Nóbrega Bollmann

Tubarão, 2016

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FRANCIELE DE SOUZA CAETANO VIEIRA

DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE SOCIAL: IMPLICAÇÕES DA REMUNERAÇÃO DOCENTE

Esta Dissertação foi julgada adequada à obtenção do título de Mestre em Educação e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, 29 de fevereiro de 2016.

______________________________________________________ Professora e orientadora Maria da Graça Nóbrega Bollmann, Drª.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Professor Marcos Edgar Bassi, Dr.

Universidade Federal de Santa Catarina

______________________________________________________ Professora Letícia Carneiro Aguiar, Drª.

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Ao meu esposo, minha metade essencial, com todo amor que me cabe no peito.

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AGRADECIMENTOS

Meu maior reconhecimento, a Deus, simplesmente por tudo. Como posso retribuir por toda a sua bondade para comigo? (SALMOS, 2009)

Ao meu esposo Samuel Vieira, companheiro, cúmplice e amante. Leveza essencial no meu dia a dia. Minha melhor escolha, agradeço com todo meu amor por sempre renovar em mim o sonho de tornar-me mestre;

À minha mãe Ieda, rainha da minha vida, não cabe em palavras a admiração e o amor que sinto por ti. Obrigada por ter abdicado de seus próprios sonhos, em um ato de infinito amor, para proporcionar a mim uma educação superior;

Ao meu pai Joair que me ensinou por meio de suas atitudes o valor da educação, agradeço por sempre me estimular a querer fazer melhor e por me amar sem limites;

À minha irmã Francine, pela acolhida e carinho que teve comigo no início do mestrado e por me proporcionar ser tia das princesas Melissa e Maria Luiza que me permitiram momentos de descontração ao longo desta jornada;

Ao grupo de pesquisa “Remuneração de professores de escolas públicas da educação básica no contexto do Fundeb e do PSPN” e seus membros pelas discussões e pela valiosa convivência nos encontros e reuniões;

À professora Maria da Graça de Nóbrega Bollmann, meu respeito e admiração pela forma paciente, afável e competente com que me orientou e que soube me conduzir com sabedoria para a realização deste trabalho. Também, pelo estimulo ao estudo do direito à educação;

Ao professor Marcos Edgar Bassi pelas importantes sugestões e generosidade nos momentos em que recorri ao seu auxílio, bem como pelas relevantes contribuições no Exame de qualificação;

Aos professores do mestrado pela dedicação e compromisso que demonstraram para com o curso e pelas reflexões sempre críticas e elucidativas. Especialmente à professora Letícia Carneiro Aguiar pela leitura cuidadosa do primeiro manuscrito na qualificação;

À Daniela, secretária do PPGE - UNISUL, por sua preocupação, gentileza e atenção;

Ao Campus/UFSC Araranguá por ter me concedido a chance de melhorar como profissional, mas, sobretudo como ser humano;

As colegas de trabalho, Samira (inicialmente minha amiga, hoje minha chefe e amiga), Márcia (creio que a situação frágil em que nos conhecemos fez nascer uma grande

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amizade, obrigada pelo seu carinho), Juliana Pires, Arachelis, Juliana Vamerlat, Carine e Valdirene, que inúmeras vezes me socorreram para que eu pudesse frequentar as aulas e escrever a dissertação;

A CAPES pelo apoio financeiro, imprescindível para o percurso do mestrado; E finalmente, agradeço ao meu sogro, sogra, cunhada, cunhado e demais parentes e amigos que me ajudaram direta ou indiretamente para a concretização deste sonho. Serei eternamente grata a todos!

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“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação de sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (ROMANOS, 2009, p. 166).

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RESUMO

O direito à educação apesar de estar amplamente presente na legislação brasileira, ainda carece de ser efetivamente aplicado. O presente trabalho discorre sobre a importância da efetivação deste direito entendendo-o como direito fundamental para cumprimento do princípio constitucional da Dignidade da Pessoa Humana inerente a cada aluno. A proposta desta pesquisa é discutir a efetividade do direito fundamental à educação de qualidade, conforme prevê o artigo 206, inciso VII da Constituição Federal e artigo 4º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Por compreender os diversos sentidos e significados que o termo qualidade pode assumir no campo educacional, priorizou-se a reflexão sobre a qualidade social da educação, baseando-se na perspectiva de qualidade democrática seguida no Custo Aluno Qualidade Inicial (CAQi). Dentre os insumos trazidos pelo CAQi para o cumprimento de um padrão mínimo nacional para efetivação do direito fundamental à educação de qualidade social, elegeu-se como essencial aprofundar a análise sobre a Remuneração Docente, por ser esse o fator de maior impacto no cálculo do Custo Aluno. Entendendo assim que aumentando o salário do professor, possivelmente contribui-se para a qualidade da educação. Em virtude da participação na pesquisa nacional “Remuneração de professores de escolas públicas da educação básica no contexto do Fundeb e do PSPN” e das diversas especificidades do magistério público de Florianópolis escolheu-se este município como locus de análise, por meio da apreciação da legislação e dos dados referente à remuneração docente entre o período de 2006 a 2013. Esta investigação realizou-se através de análises bibliográficas e documentais. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa e também quantitativa em uma perspectiva dialética. As análises efetuadas no decorrer da pesquisa permitem supor que a rede municipal de Florianópolis atende a remuneração docente condigna conforme discrimina o CAQi, ao atrelar o aumento salarial à formação e aperfeiçoamento docente, contribuindo, neste aspecto, para a qualidade da educação.

Palavras-chave: Dignidade da pessoa humana. Direito fundamental à educação. Qualidade social. Remuneração docente.

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ABSTRACT

Although the right of education is widely present in Brazilian's legislation, still isn't effectively applied. This work shows the importance of the effectuation of that right, considering it as a fundamental right and its fulfilment attends to constitutional principle of human dignity inherent in each student. The propose of this research is argue e efficiency of the fundamental right to quality education, according the 206 article, section VII of the Federal Constitution and 4th article of the National Education's Directrizes and Bases Law. Understanding the various meanings that the term quality can assume in quality education, we focused on social quality education, basing on democratic quality perspective followed on Initial Quality Student Cost (IQSc). Among the input generated by IQSc for the realization of a minimum standard for the effectuation of the fundamental right to the social quality education, the teacher remuneration was chosen for further investigation, that's because it is the item that causes more impact in IQSc. I understand that raising the teachers salary, possibly the education quality will raise. In view of Fundeb and PSPN are parameters presents on the national research of basic education on public schools, and beside that, the peculiarities on Florianópolis public education, this city was chosen for analysis, through the legislation and data regard the teachers remuneration between 2006 and 2013. This investigation occurred by bibliographies and documents analysis. It is about a mixed research between qualitative and quantitative approach on a dialectic perspective. After the analysis, the research found that is possible to assert that Florianópolis city pays the teachers all according the IQSc, linking the remuneration raising to the teachers professional formation improvement, contributing, in this aspect, for the education quality.

Keywords: Human dignity. Fundamental right to quality education. Social quality. Teachers remuneration.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1– Categorias de estudo e principais bibliografias pesquisadas ... 27 Quadro 2 – Valor do CAQi para o ano de 2015 ... 94 Quadro 3 – Número de Docentes lotados em unidades educacionais de Florianópolis entre 2006 e 2013, divididos de acordo com o tipo de cargo e vinculo ... 130 Quadro 4 – Composição do quadro de carreira do Magistério Público Florianópolis .. 133 Quadro 5 – Relação de Professores que recebiam vencimento inicial no ano de 2006 referente à 40h semanais ... 146 Quadro 6 – Relação de Professores e vencimentos referente à 40h semanais, no ano de 2007 ... 146 Quadro 7 – Relação de Professores e vencimentos referente à 40h semanais, no ano de 2008 ... 147 Quadro 8 – Relação de Professores e vencimentos referente à 40h semanais, no ano de 2009 ... 148 Quadro 9 – Relação de Professores e vencimentos referente à 40h semanais, no ano de 2010 ... 149 Quadro 10 – Relação de Professores e vencimentos referente à 40h semanais, no ano de 2011 ... 150 Quadro 11 – Relação de Professores e vencimentos referente à 40h semanais, no ano de 2012 ... 151 Quadro 12 – Relação de Professores e vencimentos referente à 40h semanais, no ano de 2013 ... 152 Quadro 13 – Professores IV, que ingressaram em 2005 e recebem 40% sob o vencimento referente à Gratificação de Dedicação Exclusiva ... 155 Quadro 14 – Professor que recebe Gratificações que possivelmente refletem na qualidade da educação referente ao mês de outubro do ano de 2013 ... 156 Quadro 15 – Professor que recebe apenas o vencimento sem Promoção por Aperfeiçoamento e sem Gratificações, referente ao mês de outubro do ano de 2013 .... 156

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evolução do piso nacional dos professores da educação básica em reais. O reajuste anual do piso tem como parâmetro o percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano. ... 107 Gráfico 2 - Evolução do piso salarial do magistério da educação básica e sua distância em relação ao salário médio de médicos e engenheiros entre a população geral e entre o estrato da população de 22 aos 29 anos de idade ... 110 Gráfico 3 - Evolução do vencimento com Progressão por Tempo e Aperfeiçoamento do Professor IV (especialista) da rede municipal de Florianópolis ... 153 Gráfico 4 - Progressão da remuneração do Professor IV (especialista) da rede municipal de Florianópolis entre os anos de 2006 e 2013 ... 157

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Vencimentos Professor III - Graduação. Progressão por Tempo de Serviço. Referência em valores atualizados em maio de 2015... 140

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LISTA DE SIGLAS

ABI - Associação Brasileira de Imprensa ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade ANDE - Associação Nacional de Educação

ANDES-SN - Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior ANDIFES - Associação de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior ANFOPE - Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação ANPAE - Associação Nacional de Política e Administração da Educação ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação BM – Banco Mundial

BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAQ - Custo Aluno Qualidade

CAQi - Custo Aluno Qualidade inicial CEB - Câmara de Educação Básica

CEC - Comissão Especial da Câmara dos Deputados CEDES - Centro de Estudos Educação e Sociedade

CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária CEPAL - Comissão de Educação para a América Latina e Caribe

CF – Constituição Federal

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho CONAE - Conferência Nacional de Educação

CONEB - Conferência Nacional de Educação Básica CONED - Congresso Nacional de Educação

CONSED - Conselho Nacional de Secretários de Educação

CONTEE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CNE – Conselho Nacional de Educação

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação CRUB - Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras CUT - Central Única dos Trabalhadores

DIEESE – Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Socioeconômicos DUDH - Declaração Universal dos Direitos do Homem

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EC – Emenda Constitucional

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio

FASUBRA - Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras FGV - Fundação Getulio Vargas

FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro FMI - Fundo Monetário Internacional

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDEP - Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública FNE - Fórum Nacional de Educação

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério

FUNDESCOLA - Fundo de Desenvolvimento da Escola IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICV - Índice do Custo de Vida

IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IFDM - Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal IGP - Índice Geral de Preços

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra MTE - Ministério do Trabalho e do Emprego OAB - Ordem dos Advogados do Brasil

OCDE - Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONU - Organização das Nações Unidas PCN - Parâmetro Curricular Nacional

PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação PEC – Proposta de Emenda Constitucional

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PEDF - Plano de Educação do Distrito Federal PEE – Plano Estadual de Educação

PIB - Produto Interno Bruto

PISA - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes PL – Projeto de Lei

PLC - Projeto de Lei da Câmara PME – Plano Municipal de Educação

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios PNE – Plano Nacional de Educação

PPGE - Programa de Pós-Graduação em Educação

PREAL - Plataforma Regional de Educação na América Latina PSPN – Piso Salarial Profissional Nacional

RAIS - Relação Anual de Informações Sociais

SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica SC – Santa Catarina

SciELO - Scientific Electronic Library Online

SINASEFE - Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica e Profissional SINTRASEM - Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis

SIOPE - Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação STF – Supremo Tribunal Federal

UBES - União Brasileira de Estudantes Secundaristas UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UNDIME - União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação UNE - União Nacional dos Estudantes

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 17

2 DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE ... 31

2.1 BREVE HISTORICIZAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO ... 31

2.2 DIREITO À EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 ... 43

2.3 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – PNE ... 54

2.4 QUALIDADE SOCIAL – AFINAL QUE QUALIDADE É ESTA? ... 62

2.4.1 Retrospecto Histórico ... 63

2.4.2 Qualidade Total ... 70

2.4.3 Qualidade Social ... 76

3 CUSTO ALUNO QUALIDADE - CAQ ... 83

3.1 INSUMOS MÍNIMOS PARA GARANTIR A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO ... 90

3.2 REMUNERAÇÃO DOCENTE ... 96

3.2.1 Trajetória da legislação sobre salário docente ... 97

3.2.2 Salário do professor da educação básica, pública no Brasil ... 108

3.3 VALORIZAÇÃO REMUNERATÓRIA DOCENTE E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO... ... 118

4 MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS – SC: REMUNERAÇÃO DOCENTE E IMPLICAÇÕES PARA A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO ESCOLAR ... 127

4.1 LEGISLAÇÃO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS ... 129

4.2 DADOS DA REMUNERAÇÃO DO PROFESSOR DE FLORIANÓPOLIS ... 143

4.2.1 Promoção por Aperfeiçoamento ... 144

4.2.2 Gratificações ... 154

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 158

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1 INTRODUÇÃO

No decorrer das últimas duas décadas muitas ações governamentais vêm sendo realizadas, cujo eixo central reside no discurso da melhoria da qualidade da educação e os fatores necessários para que isso ocorra (FONSECA, Z., 2009). Na tentativa de aprofundar e contribuir com as discussões acerca do tema, o presente estudo discute o direito à educação de qualidade frente à remuneração docente. Com o intuito de compreender os diversos sentidos e significados que o termo qualidade pode assumir no contexto educacional, prioriza-se a reflexão sobre o conceito de qualidade social da educação.

Ao longo deste estudo a educação será abordada como direito fundamental haja vista ser um dos principais intuitos destacar a suma importância da materialização do direito à educação para o respeito ao princípio constitucional da Dignidade da Pessoa Humana inerente a cada aluno, cujos direitos fundamentais têm por objeto a proteção, em todas as projeções jurídicas (SARLET, 2001).

O interesse em pesquisar sobre os direitos fundamentais surgiu inicialmente na investigação realizada para o Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Direito pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). O ingresso no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE – UNISUL) despertou a importância de continuar analisando o tema, em relação ao direito fundamental á educação de qualidade (Artigo 206, VII, CF) (BRASIL, 1988).

A ideia de conciliar a pesquisa sobre direito fundamental à educação de qualidade social e a remuneração docente veio a partir da participação como bolsista da pesquisa nacional intitulada “Remuneração de professores de escolas públicas da educação básica no contexto do Fundeb e do PSPN”1

, da qual o Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISUL é o responsável no estado de Santa Catarina.

A graduação em Direito possibilitou a consciência da importância do efetivo cumprimento dos direitos fundamentais para a garantia do princípio supremo constitucional

1

O trabalho integra a pesquisa nacional em rede: “Remuneração de Professores de Escolas Públicas de Educação Básica no contexto do Fundeb e do PSPN” financiada pelo Edital n. 049/2012, CAPES/INEP/MEC, Programa Observatório da Educação, coordenada nacionalmente pelos Professores Marcos Edgar Bassi (UFPR), Rosana Maria Gemaque Rolim (UFPA), Maria Dilnéia Espíndola Fernandes (UFMS) e coordenada no estado de Santa Catarina pela professora Maria da Graça Nóbrega Bollmann (UNISIL). A pesquisa teve inicio em 2013 e vai até 2017, os estados participantes são: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraíba, Piauí, Roraima, Pará, Minas Gerais e Rio Grande do Norte.

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da Dignidade da Pessoa Humana. Nesse escopo, aborda-se o direito fundamental à educação sobre o enfoque de direito público subjetivo inerente a cada aluno.

Compreendendo que o direito público subjetivo à educação confere ao indivíduo/aluno a possibilidade de transformar a norma geral e abstrata contida no determinado ordenamento jurídico (CF/1988, LDB) em algo que possua como próprio, a maneira de fazê-lo é acionando as normas jurídicas (direito objetivo) e transformando-as em seu direito (direito subjetivo) (DUARTE, 2007).

Procurando identificar o gargalo que impossibilita a plena realização desse direito, chega-se a remuneração docente como um dos principais entraves para a qualidade da educação. Assim, tendo em vista que, até o presente momento, poucas pesquisas focaram na remuneração dos professores e suas implicações para a qualidade da educação, acredita-se ser essa uma importante forma de contribuir para o realce do binômio remuneração/qualidade. Para tanto, fazem parte do corpus de análise pesquisas produzidas na área de educação e também estudos na área do direito que referem à relação salário do professor e qualidade da educação.

O direito à educação foi proclamado expressamente a partir da Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) em 1948 e reafirmado em uma série de documentos internacionais, tal como a Declaração de Jomtien, na Tailândia, em 1990, a Declaração das Nações Unidas para o Milênio (adotada em 2000 a qual afirma que, até 2015, todas as crianças deveriam concluir o ensino primário, mas não faz referência à qualidade desse ensino), e legislação nacional, assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA - Lei n 8.069/90), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei n 9.394/96), Plano Nacional de Educação (PNE - Lei n 13.005/2014), entre outros, todavia seu conceito foi mudando com o passar do tempo.

Durkheim (2001) define a educação como processo de socialização pelo qual valores, normas e costumes de uma sociedade são passados de uma geração a outra. Regina Maria Fonseca Muniz (2002) propõe que a educação envolve a instrução, e, portanto, é muito mais ampla, tendo como finalidade tornar os homens mais íntegros, a fim de que possam usar da técnica que receberam com sabedoria, aplicando-a disciplinadamente.

O conceito de educação que compõe a gama de direitos sociais é elucidado por Dourado e Oliveira:

A discussão acerca da qualidade da educação remete à definição do que se entende por educação. Para alguns, ela se restringe às diferentes etapas de escolarização que se apresentam de modo sistemático por meio do sistema escolar. Para outros, a

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educação deve ser entendida como espaço múltiplo, que compreende diferentes atores, espaços e dinâmicas formativas, efetivado por meio de processos sistemáticos e assistemáticos. Tal concepção vislumbra as possibilidades e os limites interpostos a essa prática e sua relação de subordinação aos macroprocessos sociais e políticos delineados pelas formas de sociabilidade vigentes. Nessa direção, a educação é entendida como elemento constitutivo e constituinte das relações sociais mais amplas, contribuindo, contraditoriamente, desse modo, para a transformação e a manutenção dessas relações (2009, p. 203).

Para delimitar a análise, elege-se como prioridade a educação escolar que é identificada por Saviani (1986) como instrumento essencial para o exercício da cidadania e a base para a construção de uma sociedade democrática e de cidadãos capazes de agir politicamente:

A democracia só se consolida na medida em que cada um de seus membros esteja capacitado para participar das decisões, para opinar sobre os rumos da sociedade, para interferir, para apresentar seus próprios pontos de vista e contrastá-los com pontos de vista diversos (SAVIANI, 1986, p. 76).

Com essa compreensão, este estudo situa a escola como espaço institucional de produção e de disseminação, de modo sistemático, do saber historicamente produzido pela humanidade. Assim, sem secundarizar a importância dos diferentes espaços formativos (a família, o movimento social, a igreja, a mídia etc.), busca-se situar a discussão relativa à qualidade da educação, tendo por norte pedagógico a função social da escola (DOURADO; OLIVEIRA, 2009).

O artigo 206, inciso VII da Carta Magna, diferentemente da maioria dos instrumentos internacionais, faz menção expressa à importância da qualidade da educação, tratando-a como um princípio basilar do ensino2 a ser ministrado, ou seja, garante o direito à

educação com “padrão de qualidade” para todos (BRASIL, 1988).

A referida Constituição representou um avanço significativo em matéria educacional estabelecendo, desde logo, a educação como um direito social “fundante da cidadania e o primeiro na ordem das citações” (CURY, 2002, p. 03), ou seja, sem educação, não há como contemplar uma cidadania ativa e participativa. A partir daí, estabelece o capítulo próprio da educação onde retoma a questão da obrigatoriedade do ensino e a coloca como direito público subjetivo, redundando, no dizer de Flach (2009, p. 511) na seguinte

2

Apesar das evidentes diferenças entre os termos ensino e educação, devido ao foco na qualidade social da educação, não será alvo deste trabalho esta discussão.

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lógica: “[...] o sujeito deste direito é o indivíduo e o sujeito do dever é o Estado, sob cuja competência estiver esta etapa da escolaridade”.

Para efetivação do direito à educação a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) deixa claro no art. 4°, inciso IX a maneira como o Estado deverá implementar a educação pública:

Art. 4° O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:

[...]

IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do

processo de ensino-aprendizagem;

[...]

(grifo nosso) (BRASIL, 1996a).

Nesse sentido, o direito à educação, atualmente, abrange a garantia não só do acesso e da permanência, mas também a segurança do padrão de qualidade como um dos princípios segundo o qual se estruturará o ensino. No entanto, diversos fatores contribuem para o distanciamento da pretensão normativa da atual Constituição brasileira e da LDB acerca dos direitos sociais e a transformação operada efetivamente na vida daqueles que se encontram sobre o seu manto protetor.

Entre tais fatores, não se pode olvidar que diante das profundas transformações sociais e econômicas do mundo atual, o conceito de qualidade na educação vem se tornando cada vez mais dinâmico e complexo na sua materialização.

Respaldando-se na estrutura e características da proposta democrática, fundada nas diretrizes da qualidade social contida no Custo Aluno Qualidade (CAQ), o presente estudo baseou-se na concepção de qualidade social, entendendo que esta tem como pressuposto a educação como um direito de todos, a radicalização da democracia e uma formação mais humana possível dos educandos. Além disso, podem-se salientar alguns eixos fundamentais e estruturantes dessa concepção educacional que se relacionam e se completam: direito de cidadania, gestão democrática do acesso, democratização do conhecimento, financiamento e regime de colaboração, remuneração condigna dos trabalhadores em educação e integração entre políticas e outros entes jurídicos.

Belloni (2003) aponta a qualidade social como direito de cidadania intimamente ligada a uma política de inclusão social, na qual a participação de todos os cidadãos é primordial na construção de uma nova sociedade mais justa e igualitária. Assinala, ainda, que a oferta de educação de qualidade como direito de cidadania contempla três dimensões

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específicas e complementares: acesso à educação, permanência no sistema ou em atividades educativas e sucesso no resultado do aprendizado. Sendo educação de qualidade social “aquela comprometida com a formação do estudante com vistas à emancipação humana e social; tem por objetivo a formação de cidadãos capazes de construir uma sociedade fundada nos princípios da justiça social, da igualdade e da democracia” (BELLONI, 2003, p. 232).

Diante dessa concepção, surge a necessidade de definir os parâmetros que possam garantir educação de qualidade social, visto que esta pode ser alcançada por meio do resultado da existência de um mínimo de insumos e do seu funcionamento em todas as escolas públicas brasileiras, mensurados por ou convergidos em um valor anual de Custo Aluno Qualidade. Isto é, o processo educacional/escolar deve dispor de insumos mínimos específicos para promover melhores condições de ensino, a fim de proporcionar uma boa aprendizagem e garantir o direito à educação aos alunos.

Para isso destacam-se os fatores elencados no Custo Aluno Qualidade inicial (CAQi). Em uma inversão da lógica que pauta o financiamento da educação e das demais políticas sociais no Brasil, o CAQi surgiu a partir de um estudo realizado por um conjunto de especialistas de universidades brasileiras, institutos de pesquisa, professores, estudantes, ativistas e gestores educacionais que integram entidades adeptas à Campanha Nacional pelo Direito à Educação3. Composto por uma plêiade de elementos (custos de remuneração e

formação de profissionais, materiais didáticos, estrutura do prédio e equipamentos, entre outros), “o CAQi determina quanto é preciso ser investido por aluno de cada etapa e modalidade da educação básica para que o país comece a oferecer um ensino com o mínimo de qualidade” (AÇÃO EDUCATIVA, 2010).

A proposta do CAQi foi inicialmente elaborada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação e hoje é encampada pelo Conselho Nacional de Educação, através do Parecer CNE/CEB n 8/2010, definindo o CAQi como referência para a construção da matriz de Padrões Mínimos de Qualidade para a Educação Básica Pública no Brasil. Partiu-se de um grande esforço para estabelecer o que seriam padrões mínimos de qualidade e qual o seu custo, tendo por referência a Constituição Federal, a LDB e o PNE (PINTO, 2012).

3

Criada em 1999, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação se define como “[...] rede social que articula mais de 200 entidades de todo o Brasil, incluindo sindicatos, movimentos sociais, organizações não-governamentais, universidades, grupos estudantis, juvenis e comunitários e muitas outras pessoas que acreditam que um país cidadão somente se faz com educação pública de qualidade. A Campanha é dirigida por um comitê diretivo nacional e possui comitês regionais em vários locais do Brasil. É a articulação mais plural e ampla no campo da Educação Básica” (CARREIRA; PINTO, 2007, p. 07).

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Com intuito de esclarecer quais os insumos4 que garantem uma educação de

qualidade, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação lançou em 2011 uma nova versão do livro intitulado “Educação pública de qualidade: quanto custa esse direito?” que entre outras questões relativas ao CAQi, elenca os insumos que uma escola de qualidade precisa ter. Dos diversos fatores que compõem a “cesta de insumos”, o presente estudo restringe-se à análise do fator remuneração docente levando em conta que “os salários dos profissionais da educação constituem o insumo de maior impacto sobre o CAQi, representando quase 80% do valor do CAQi” (CARREIRA; PINTO, 2011, p. 33). Por ser a remuneração docente o fator de maior relevância na soma do valor que calcula a qualidade da educação, é, consequentemente, um dos mais significativos aspectos que pode influenciar a melhora da qualidade da educação pública brasileira.

Partindo disso, analisa-se o estudo desenvolvido por Andreza Barbosa (2011) sobre os salários dos professores brasileiros, onde a autora destaca que a remuneração docente no Brasil pode ser considerada baixa, principalmente se comparada à remuneração recebida por outras ocupações das quais também exigem formação em nível superior, e que esses baixos salários trazem impactos negativos para o trabalho docente e, consequentemente, para a qualidade da educação. Todavia, ainda que possa parecer correto afirmar que a remuneração do professor brasileiro é baixa e que isso dificulta atingir a almejada qualidade da educação e, portanto, essa qualidade envolve a necessidade de maiores investimentos nesse setor, isso não é consenso (BARBOSA, 2011).

Ressalta-se que se optou por analisar a remuneração dos professores da rede pública, uma vez que os salários dos profissionais da educação representam a maior parte dos gastos com educação pública no país – cerca de 75% (CARREIRA, PINTO, 2007), além de os professores serem a maior parte do funcionalismo público, o que faz com que o poder público seja o maior empregador da categoria no Brasil, colocando a questão da remuneração docente intimamente relacionada à receita pública per capita e, portanto instigante à pesquisa (PINTO, 2009).

Ainda, salienta-se que não se trata de um estudo restrito à afirmação de que “aumentando a remuneração docente, melhora diretamente a qualidade da educação”. Resta claro, devido à série de leituras realizadas, que a qualidade da educação não se delimita a um

4 Segundo o livro lançado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação o termo “insumos” é utilizado como

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fator específico. Todavia, limitou-se a análise da remuneração docente por configurar-se um dos aspectos mais significativos que compõem a qualidade da educação.

Em virtude da participação na pesquisa nacional “Remuneração de professores de escolas públicas da educação básica no contexto do Fundeb e do PSPN”, que abrange a análise dos dados de 12 (doze) Estados e suas capitais, esta autora dedicou-se a apreciação dos dados da rede pública municipal de Florianópolis, analisando aspectos da legislação municipal que resultam na qualidade da educação por meio da valorização remuneratória do professor. A participação na referida pesquisa possibilitou o acesso aos dados quantitativos da folha de pagamentos que permitiram verificar efetivamente se os aspectos legais analisados impactam a remuneração do docente da capital do estado de Santa Catarina.

No tocante ao financiamento da rede municipal de Florianópolis, o crescimento contínuo e significativo de receitas geradas a partir da vinculação constitucional, incluindo o aumento do percentual mínimo da receita de impostos para a educação, de receitas adicionais oriundas dos fundos contábeis, bem como daquelas advindas de outras fontes como salários educação e transferência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), permitem supor que a Prefeitura de Florianópolis vem dispondo de recursos para oferecer educação de qualidade5

(BASSI, 2014).

Além disso, a carreira do magistério público de Florianópolis, por meio do Estatuto do Magistério Público (Lei n 2517/86) e do Plano de Vencimentos e de Carreira do Magistério Público (Lei n 2915/88), induz o constante aperfeiçoamento do professor através do estimulo remuneratório, o que pode ser compreendido como uma das condições capazes de contribuir para a qualidade de ensino através da remuneração docente.

Para tanto, estabelece-se como problemática verificar se os aspectos legais que estimulam remuneratoriamente o professor a aperfeiçoar-se são concretizados nas folhas salariais dos docentes de Florianópolis.

Diante do apresentado, esta pesquisa se justifica pela necessidade de aprofundar o conhecimento a respeito de educação de qualidade frente à remuneração docente condigna a fim de que se contribua efetivamente para uma educação de qualidade conforme discriminado na Constituição Federal, LDB e viabilizado por meio do CAQi.

5 As análises em relação ao financiamento e legislação da rede municipal de Florianópolis serão aprofundadas

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Além de que, tendo em vista que nas políticas educacionais dos anos recentes a remuneração docente tem se destacado como uma das principais condições para a qualidade da educação, o presente estudo pretende contribuir, mesmo que preliminarmente, para que se amplie a discussão a todos os cidadãos. Isto é, o CAQi constitui-se em uma ferramenta efetiva para melhora da qualidade da educação, portanto, espera-se aprofundar e expandir a investigação sobre o insumo mais significativo que compõe a qualidade da educação e nesse sentido colaborar para que tanto a comunidade escolar quanto a população brasileira e, principalmente, os alunos da rede pública, disponham claramente de referências que permitam um diálogo com a Administração Pública sobre remuneração docente e qualidade da educação.

Visto que esta investigação constitui-se como uma contribuição não apenas acadêmica, pelas discussões e debates que pode suscitar, mas sobretudo, em um estudo de relevância social, pois trata da valorização do professor, com ênfase na remuneração docente, como um dos principais segmentos da comunidade escolar para garantir a qualidade da educação ao educando e que de acordo com o documento “Recomendação relativa à situação do pessoal docente” de 1966, proposto pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) para a remuneração do professor deveria ser dada:

Entre os vários fatores que afetam a condição do professor, deveria ser dada uma atenção muito particular à remuneração, uma vez que, nas condições do mundo atual, outros fatores, como a posição e consideração que a sociedade lhes reconhece e o grau de apreço pela importância das suas funções, estão grandemente dependentes, tal como em outras profissões similares, da situação econômica que se lhes acorda (OIT/UNESCO, 1966, p. 44).

Sendo assim, acredita-se na relevância desta pesquisa, pois ela se funda na educação escolar como essência da produção e transmissão do conhecimento e é através deste conhecimento que o homem pode transformar a natureza, organizar-se socialmente e elaborar a cultura, o que justifica o seu direito a um ensino de qualidade como propõe a legislação brasileira.

Embora fundamental, no Brasil, a remuneração dos profissionais da educação não foi foco de investigação acadêmica por muitas décadas. Todavia, reiteradamente constituiu-se em alvo de luta política pelos representantes da categoria profissional. No entanto, com a instituição do Fundef (Lei n 9.424/96) e do Fundeb (Lei n 11.494/07), a discussão sobre a remuneração docente tomou corpo e passou a ganhar espaço na academia e ocupar os debates

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realizados no âmbito das políticas de financiamento da educação básica em todo País (SALES et al. 2012).

A finalidade principal desta dissertação de mestrado é de aprofundar a análise de dados relativos à rede de ensino municipal de Florianópolis, observando os objetivos da pesquisa nacional6 (Remuneração de professores de escolas públicas da educação básica no

contexto do Fundeb e do PSPN). Além de que, reconhecendo a importância temática que envolve o direito fundamental à educação de qualidade social e a remuneração docente esta pesquisa tem por objetivo central compreender a contribuição da remuneração docente como elemento constituinte para a melhora da qualidade da educação pública brasileira.

Determinado o objetivo geral, faz-se necessário ainda agregar alguns objetivos específicos:

- Analisar o direito fundamental à educação de qualidade na legislação nacional; - Conceituar qualidade social dentro do campo da educação, referente às políticas publicas em prol da qualidade da educação brasileira;

- Explanar sobre os insumos que compõem a qualidade da educação, especificamente sobre o fator remuneração docente, respaldado no CAQi;

- Discutir a desvalorização remuneratória docente em relação às demais profissões que exigem o mesmo nível de qualificação;

- Elucidar a relação entre qualidade da educação e remuneração docente;

- Apreciar os aspectos da legislação do município de Florianópolis que contribuem para a qualidade da educação, por meio do incentivo remuneratório ao professor;

- Analisar os dados quantitativos da folha de pagamentos do professor de Florianópolis que permitem verificar efetivamente se os aspectos legais analisados impactam sua remuneração;

- Contribuir teórico e metodologicamente com a pesquisa nacional, intitulada

“Remuneração de professores de escolas públicas da educação básica no contexto do Fundeb

6 Esta pesquisa pretende contribuir teórico e metodologicamente com o objetivo específico da pesquisa nacional

de analisar a evolução da remuneração inicial e média de professores da educação básica no período de 1996 a 2013 nos 12 Estados e suas capitais a fim de verificar se é possível perceber alterações nos vencimentos de professores da educação básica com a implementação do Fundeb e PSPN? Como essas alterações se apresentam? O Vencimento foi ampliado? Isso pode ser atribuído ao Fundo e ao Piso?

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e do PSPN” que encerrará em 2017 e tem como objetivo principal a análise dos impactos do Fundeb e PSPN na estrutura da remuneração docente nos 12 estados e capitais participantes.

Para estabelecer as bases teóricas que fundamentaram esta pesquisa apóia-se em Gatti (2002), para quem a pesquisa não é uma reprodução fria das regras que se vê em alguns manuais. Essa autora diz que, no mundo da pesquisa, pela própria experiência vivida pelos pesquisadores têm-se algumas dicas para que não se incorra em excessivos vieses ou se caia nas armadilhas dos próprios desejos, que poderão tornar os resultados e conclusões inócuos ou inválidos.

O presente estudo sobre direito fundamental à educação de qualidade social e remuneração docente precisa ser entendido em sua totalidade. Na visão de Kosik (2002), totalidade não significa todos os fatos e sim a realidade como um todo estruturado dialeticamente, na qual ou diante da qual um fato qualquer pode vir a ser racionalmente compreendido. Totalidade, portanto, é o que se transforma em estrutura significativa para cada fato ou conjunto de fatos. Assim, estudar remuneração docente condigna na perspectiva da totalidade apontada significa relacioná-la aos múltiplos fatores que a determinam.

Para isso, analisam-se os meandros da política remuneratória desenvolvida no município locus deste estudo e o que é concretizado na remuneração dos professores, pois como afirma Kosik (2002, p.13) “as coisas não se mostram ao homem tais quais são; é preciso fazer um détour para conhecer as coisas e sua estrutura”. Por isso, se lá, porventura, não se chega, explicita-se a intenção de ir à essência do fenômeno para conhecer a realidade.

Sobre isso, assevera Kosik (2002, p.15):

A essência se manifesta no fenômeno, mas só de modo inadequado, parcial, ou apenas sob certos ângulos e aspectos. O fenômeno indica algo que não é ele e vive apenas graças ao seu contrário. A essência não se dá imediatamente; é mediata ao fenômeno e, portanto, se manifesta em algo daquilo diferente que é. [...] o fato da essência se manifestar no fenômeno revela seu movimento e demonstra que a essência não é inerte nem passiva. Justamente por isso o fenômeno revela a essência.

Partindo desse pressuposto, pode-se afirmar que alguns estudos tentam comprovar a inexistência da baixa remuneração docente (LIANG, 2003; LIMARINO, 2005; CASTRO, IOSCHPE, 2007) parecendo, num primeiro olhar, a vitória historicamente esperada da luta desses profissionais por um salário digno e melhores condições de trabalho e de vida. Porém, esse fato só poderia ser afirmado ou negado se buscada a essência desse fenômeno, pois “o fenômeno indica a essência e, ao mesmo tempo, a esconde. O fenômeno indica algo que não é ele mesmo e vive apenas graças ao seu contrário” (KOSIK, 2002, p.15). Para compreender se

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a remuneração docente é condigna de acordo com os moldes apregoados no CAQi e para o efetivo respeito ao princípio constitucional da Dignidade da Pessoa Humana é necessário não apenas olhar os documentos, mas compreender os aspectos históricos, culturais, sociais e econômicos, ou seja, as múltiplas determinações que permeiam a realidade do caso investigado.

Posto isto, há que se considerar que mesmo as referências epistemológicas sendo significativamente importantes, é necessário lembrar que elas por si só não asseguram a construção de conhecimento. É preciso, pois, que estejam articuladas a um conjunto de estratégias e procedimentos metodológicos.

É neste sentido que este estudo sustenta-se nas categorias que seguem, cada uma de acordo com as principais bibliografias pesquisadas, selecionadas com base na relevância da obra para o tema em análise:

Quadro 1– Categorias de estudo e principais bibliografias pesquisadas

Categorias de estudo e bibliografias

Direito fundamental à educação Carlos Roberto Jamil Cury, Luiz Fernandes Dourado, João Ferreira de Oliveira, Romualdo Portela de Oliveira, Ingo Wolfgang Sarlet (2001), Ana Paula de Barcellos (2002) e Clarisse Seixas Duarte (2007).

Qualidade social Romualdo Portela de Oliveira e Isaura Belloni (2003).

Custo Aluno Qualidade – CAQ Denise Carreira, Daniel Cara e José Marcelino Rezende Pinto.

Remuneração docente João A. C. Monlevade (2000), Daniel Freitas Nunes e

Etiene Fabbrin Pires (2014), Marcos Edgar Bassi, Bernardete Angelina Gatti.

Valorização remuneratória docente e qualidade da educação

Andreza Barbosa (2011, 2014).

Fonte: Elaboração da autora (2015)

Procurou-se compreender a remuneração dos professores da rede municipal de ensino de Florianópolis com implicações para a qualidade da educação nos moldes do CAQi. Portanto, trata-se de uma pesquisa mista7 de abordagem qualitativa e também

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quantitativa. Haja vista o trabalho com fontes bibliográficas, documentos oficiais (legislação, programas e folhas de pagamentos) e informações da folha de pagamentos. Ainda as análises serão bibliográficas, documentais e sobre dados quantitativos.

Johnson et al. definem a pesquisa mista da seguinte forma (2007, p. 123):

[...] o tipo de pesquisa na qual o pesquisador ou um grupo de pesquisadores combinam elementos de abordagens de pesquisa qualitativa e quantitativa (ex., uso de perspectivas, coleta de dados, análise e técnicas de inferência qualitativas e quantitativas) com propósito de ampliar e aprofundar o conhecimento e sua corroboração.

O instrumento principal deste estudo são os documentos. Segundo Pádua (2007, p. 69), “o documento é toda base de conhecimento fixado materialmente e suscetível de ser utilizado para consulta, estudo ou prova”.

A pesquisa documental consiste em “identificação, levantamento, exploração de documentos fontes do objeto pesquisado e registro das informações retiradas nessas fontes” (SEVERINO, 2007, p.124), na qual foram analisados documentos relacionados aos temas abordados na pesquisa, utilizados como fontes primárias, mais precisamente, a Constituição Federal, LDB, Plano Nacional de Educação, Leis do Fundef, Fundeb e PSPN, ainda a legislação específica do município de Florianópolis referente ao magistério (Lei n 2.517/86, Lei n 2.915/88, Lei Complementar n 63/03, Lei n 7.796/2008, Lei Complementar n 427/2012 e Lei Complementar n 467/2013). Para análise dos dados, atentou-se à apreciação das planilhas, obtidas por meio da pesquisa nacional, contendo os dados das folhas salariais da rede municipal de Florianópolis entre os anos de 2006 a 2013.

Entretanto, é preciso reconhecer que o estudo desta temática, da maneira que se propõe nesta investigação, não faz parte da tradição da pesquisa em educação no Brasil. À amplitude de assuntos que compõem a pesquisa impossibilitou o estado da arte específico, visto que se trata de pesquisas e documentos de natureza variada, portanto com sentidos distintos, que foram apreciadas nas suas especificidades. Não sendo encontrado nenhum trabalho que correspondesse integralmente às categorias propostas para esta investigação, quais sejam: direito fundamental à educação, educação de qualidade social, CAQi e remuneração docente.

A metodologia utilizada compôs-se de estudos teóricos, para tanto, foram utilizados como procedimentos a revisão da literatura com a busca de artigos e dissertações nos bancos de dados digitais do Portal Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), da base de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online), o Google

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Acadêmico, os anais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – Região Sul (ANPEd Sul), da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES), documentos do MEC, SMED/Florianópolis, bibliotecas digitais da UNISUL e da UFSC e fichamento de leituras de livros, artigos e dissertações selecionados, leitura e análise de documentos.

No processo de coleta e organização das informações teóricas e dos dados referente ao município de Florianópolis, vale ressaltar a importância da pesquisa “Remuneração de professores de escolas públicas da educação básica no contexto do Fundeb e do PSPN” para a consolidação deste trabalho. A participação em diversas reuniões e encontros nacionais cumpriu o papel pedagógico/formativo, bem como inspirador para autora. As discussões da temática junto aos grupos de pesquisa local e nacional enriqueceram e tornaram menos árido o percurso e consolidação deste trabalho de dissertação.

O procedimento de análise dos dados foi dividido em duas etapas, sendo a 1ª etapa: estudo e análise documental da legislação referente ao magistério no município de Florianópolis; e a 2ª etapa: análise dos dados relativos à folha de pagamento do professor da rede municipal de Florianópolis. Por meio de estudo documental foram identificados os aspectos legais que estimulam remuneratoriamente o aperfeiçoamento docente, quais sejam: Promoção por Aperfeiçoamento (Art. 2°, inciso II, alínea “b” Lei 2915/88) e Gratificações (art. 143 da Lei 2717/86). Após, a partir da gama de dados fornecidos pela pesquisa nacional, passou-se a analisar como os aspectos legais apontados repercutem na folha salarial docente.

No tocante a estruturação do trabalho, no primeiro capítulo intitulado “Direito Fundamental à Educação de Qualidade”, busca-se traçar uma breve historicização, conceitual e legislativa acerca da educação, evidenciando o direito fundamental à educação de qualidade. Discorre-se sobre a polissemia de significados do termo qualidade e especifica-se a base do presente estudo na concepção de qualidade social. No último item deste primeiro capítulo, explana-se sobre educação na perspectiva da qualidade social.

No segundo capítulo “Custo Aluno Qualidade Inicial – CAQi” delineia-se um conciso percurso histórico sobre o surgimento do CAQi. Arrazoa-se sobre os insumos que compõem o custo aluno, salientando a limitação do presente estudo ao fator remuneração docente. Expõe-se a trajetória da legislação brasileira sobre salário docente, analisam-se alguns estudos comparativos sobre remuneração do docente e das demais profissões e por fim, tem-se a ponderação entre valorização remuneratória docente e qualidade da educação.

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No terceiro capítulo faz-se a análise dos dados propriamente dita no município de Florianópolis.Inicia-se com a apreciação da legislação referente à remuneração do magistério público municipal de Florianópolis, aspectos que estimulam remuneratoriamente o aperfeiçoamento do professor da rede. Em seguida, verificam-se dados quantitativos da folha de pagamentos do professor de Florianópolis que foram gerados em virtude do estimulo determinado na legislação anteriormente analisada.

Por fim, nas considerações finais, expõe-se a síntese das análises que foram empreendidas.

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2 DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

2.1 BREVE HISTORICIZAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO

A proposta deste primeiro item é traçar uma breve historicização acerca da educação, visto que, na visão de Saviani (2008) é pela história que o homem se forma como tal, é por ela que se conhece e ascende-se à plena consciência do que se é; pelo estudo do que foi feito no passado descobre-se ao mesmo tempo o que se é no presente e o que se pode vir a ser no futuro. Ainda, para o autor, “o conhecimento histórico emerge como uma necessidade vital de todo ser humano” (SAVIANI, 2008, p.3).

Para a análise histórica da relação entre direito e educação faz-se necessário entender o direito enquanto síntese das relações sócio-históricas que os seres humanos vivenciam enquanto sujeitos dos fatos sociais. Em outros termos, é preciso compreender que a constituição histórica tanto do direito como da educação, embora em constante movimento, não ocorre simultaneamente, havendo momentos de avanços, estagnação e novos processos de avanços (FLACH, 2009). O movimento histórico dos dois fenômenos, educação e direito, não está e não estará plenamente acabado, pois considerando tratar-se de processo dialético e contraditório, estão em constante transformação, o que possibilita afirmar que conclusões definitivas sobre a questão são impossibilidades teóricas, uma vez que as relações humanas não podem ser conclusivas em si mesmas, visto estarem relacionadas com uma infinidade de outras questões, as quais nem sempre estão explícitas para aquele que pretende analisá-las (FLACH, 2009).

Assim, por uma questão de relevância para a reflexão histórica, trazida neste primeiro item, passar-se-á a analisar a história do direito à educação circunscrita ao campo das ciências jurídicas. Para tanto, utilizar-se-á como estofo o livro desenvolvido pelo desembargador César Pereira da Silva Machado Júnior (2003) que traduz com clareza a história do direito à educação na realidade brasileira.

Inicialmente, a educação resumia-se na imitação direta do adulto pela criança. Neste sentido, Machado Júnior (2003, p. 27) aponta que “imitando o adulto a criança recebia a experiência e a tradição dos mais velhos, e com isso ia se preparando para a idade adulta nessa educação prática, voltada para as necessidades básicas da vida: alimentos, vestuário e abrigo”.

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Com o advento da Cidade Grega a educação passou a adquirir grande importância, sendo que seu desenvolvimento acompanhou o de sua civilização. Entretanto, neste período, a educação era destinada apenas aos homens livres, pois a escravidão era amplamente utilizada.

Assim, para aqueles que nasceram livres a ideia de educação pautava-se no desenvolvimento integral da personalidade em todos os seus aspectos. A educação grega evoluiu até a criação das escolas filosóficas quando, então, houve uma ruptura na forma de resposta ao desafio da educação, sendo que uma de suas cidades, Esparta, tinha como ideal a formação de exércitos, preocupando-se com a supremacia militar. Ao contrário, Atenas, conservava a família, atribuindo-lhe a missão de educar a criança, assegurando-lhe liberdade com o ensino para a verdade, para o bom e para o belo (MACHADO JÚNIOR, 2003). Em Atenas criaram-se novas doutrinas educacionais desenvolvidas por três filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles.

A autora Regina Maria Fonseca Muniz (2002) esclarece que neste tempo a educação não era considerada como um direito de todos, mas apenas dos considerados cidadãos. Era por meio da educação que os homens tornavam-se, em todos os sentidos, melhores e mais felizes.

Para os romanos a educação sempre teve uma concepção de virtude, tendo a família como suporte indispensável, mantendo basicamente o método educacional dos homens primitivos, ou seja, a imitação direta dos pais e dos antigos romanos. Porém, em meados do século III a I a.C., gradativamente, os romanos foram adotando a educação grega, organizando bibliotecas e algumas instituições de ensino (MACHADO JÚNIOR, 2003). Em Roma, o interesse pela educação consistia no fato dela ser um instrumento para a expansão e a penetração da língua e do direito, engrandecendo o Império Romano.

A derrocada do Império Romano e as alterações ocorridas no modo de produção da vida em sociedade (transformações nas forças produtivas – dos meios e relações sociais de produção) culminaram, entre os séculos VII e VIII, até o século XIV, no período feudal do homem medieval, sendo o modelo educacional substituído pela educação ministrada pela primitiva igreja cristã, destinada apenas as classes abastadas, possuindo, portanto, um forte conteúdo moral e relegando ao segundo plano aspectos literários e intelectuais (CABRAL, 2008).

O pensamento cristão, segundo Muniz (2002) predominou por toda a Idade Média pela Patrística, período do pensamento cristão representado pelos padres da Igreja e pela Escolástica – filosofia ensinada nas escolas pelos mestres chamados escolásticos.

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Em meados de 1350 iniciou-se o período da renascença italiana na Europa que traz novas expectativas para a educação através de novas concepções filosóficas, artísticas, literárias e científicas. A renascença traz também o ideal básico de humanismo, com ênfase nos estudos clássicos e, consequentemente, ao latim e o grego, entretanto, esta educação permanecia restrita à aristocracia e ainda era vista como forma do homem alcançar Deus (MACHADO JÚNIOR, 2003).

Na era moderna, iniciada no século XVI, ocorrem transformações no pensamento feudal, através de nomes como Galileu Galilei, Francis Bacon, Descartes, Comênio, Rousseau e Kant. A partir da publicação da teoria heliocêntrica de Galileu Galilei, em 1632, começou a referida reformulação, tendo em vista que a teoria se baseava exclusivamente na observação, afastando-se das revelações da fé (CABRAL, 2008).

Ainda, destaca-se às contribuições de Comênio e Rousseau, com os quais a educação, ainda longe de ser constituída como direito, adquiriu contornos iniciais de isonomia e imparcialidade para todos e todas. Isto porque, Comênio propõe uma grande reforma educacional, rejeitando o sistema dualista de ensino vigorante na época, onde elite e as massas eram fracionadas e educadas de formas diversas. A importância de Rousseau também é significativa, pois até este momento nenhuma teoria havia analisado a educação do ponto de vista dos interesses dos jovens, posição que Rousseau sustenta em seus cinco livros que constituem a obra Emilio. Assim, ele aborda como o homem deve ser educado, para si e para a sociedade, dando prioridade para a educação para si (MACHADO JÚNIOR, 2003).

Em 1789 inicia-se o período contemporâneo da história do homem com a Revolução Francesa que abre uma nova era para a educação e para as ciências. Este momento histórico é fortemente influenciado pelo conjunto de idéias que constituiu o Iluminismo e que conta com a contribuição de filósofos, como Montesquieu, Diderot, Voltaire, entre outros, que fazem uma síntese dos movimentos gerados pela Renascença, pela Reforma e pela revolução científica. Os ideais do Iluminismo atingem a educação que, a partir daí, proclama o desenvolvimento integral do ser humano em seus múltiplos aspectos. Com isso, fala-se em educação científica, com suas tendências psicológicas e sociológicas, com a finalidade de compreensão, em toda a sua dimensão, da complexidade do processo educativo (CABRAL, 2008).

Todos os filósofos destes períodos históricos da evolução da educação, como Bertrand Russel, Émile Durkheim e John Locke, de algum modo exerceram influência marcante na evolução dos Direitos do homem à educação (MACHADO JÚNIOR, 2003). Eles são unânimes em ressaltar a importância da educação na vida humana, o quanto ela é

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essencial para se viver em uma sociedade harmônica, cedo perceberam que era preciso educar os homens, transformando-os lentamente para que conseguissem alcançar a liberdade tão sonhada.

O primeiro8 período da educação no Brasil, de acordo com Saviani (2008),

inicia-se com a chegada dos primeiros jesuítas em 1549, chefiados por Manoel da Nóbrega, e estende-se por 210 anos, com uma pedagogia centrada nos valores religiosos, por meio do método pedagógico do “Ratio Studiorum” iniciaram a catequização dos índios brasileiros. Até 1759 os jesuítas foram a maior ação educadora no país, o que era propício a Portugal, pois os ensinamentos por eles ministrados baseavam-se no respeito à autoridade, assegurando assim a submissão do Brasil colônia.

O “Ratio Studiorum”, de caráter universalista, segundo Saviani (2008) constituiu-se no primeiro movimento de uma pedagogia sistematizada em torno de uma visão essencialista de homem a quem a educação cabia moldar em sua existência individual para a essência universal que o caracteriza como ser humano. De orientação tomística e aristotélica essa educação predominou no Brasil enquanto perdurou a presença dos jesuítas (1759). Como criação divina, o “homem deve empenhar-se em atingir a perfeição humana na vida natural para fazer por merecer a dádiva da vida sobrenatural” (SAVIANI, 2008, p.58).

A reforma pombalina desmontou essa orientação na direção de uma recuperação portuguesa voltada à modernidade e se deu por inúmeras razões cujos detalhes não fazem parte do escopo desta pesquisa, entretanto, deixando à mostra que as idéias pedagógicas em vigor não coexistiam com os anseios da burguesia dominante ou com a forma como os religiosos administravam seus bens divinos e interesses temporais, sempre em vantagem competitiva com os laicos, conforme escreve Saviani (2008, p. 69):

Concorriam, pois, com os empreendedores seculares em condições vantajosas, pois, além de contar com frequentes doações, com os favores reais e isenção de tarifas, desfrutavam de mão de obra gratuita dos índios reunidos em aldeamentos dirigidos pelos jesuítas.

A expulsão dos jesuítas ocorreu em 1759 pelo Marquês de Pombal e foi proclamada como o caminho para o desenvolvimento cultural na direção das luzes e das

8 Antes disso, a educação indígena configurava-se, em síntese, por meio do aprendizado na prática. Os pequenos

índios, conhecidos como curumins, aprendiam desde pequenos e de forma prática, observando o que os adultos faziam. Quando o pai ia caçar, costumava levar o indiozinho junto para este aprender. Ao atingir entre 13 e 14 anos, o jovem passava por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta (COSTA; COSTA, 2009).

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ideias empiristas nos mais variados setores da vida portuguesa, a intenção era subtrair os indígenas do controle eclesial expulsando os jesuítas e determinando o fechamento dos seus colégios, também foi vinculada a Igreja ao Estado, tornando-a independente de Roma e secularizado a Inquisição transformando-a em um instrumento do Estado. Nesta época a soma dos alunos de todas as instituições jesuíticas não atingia 0,1% da população brasileira, pois delas estavam excluídas as mulheres (50% da população), os escravos (40%), os negros livres, os pardos, filhos ilegítimos e crianças abandonadas (MARCÍLIO, 2005).

Para substituir o ensino ministrado pelos religiosos foram instituídas as “Aulas Régias9”, um sistema de ensino não-seriado, constituído de unidades isoladas, em que os

professores eram nomeados diretamente pelo rei, em cargo vitalício (PINTO, 2000). Este sistema de aulas correspondia ao ensino primário e secundário, e tinha como características o caráter centralizador, a falta de autonomia pedagógica e se mantinha o acesso à educação a uma parcela reduzida da população (FERREIRA, 2001).

D. João VI, com o objetivo de prover as necessidades da corte, deu um novo impulso à educação no Brasil, criando a Imprensa Régia, a Biblioteca Nacional (iniciada a partir da doação de 60 mil volumes da própria biblioteca real), um museu e trazendo novas idéias para o ensino superior. Mas foi somente em 1822 com a proclamação da República e a fundação do Império que se começou a falar em educação popular, em direito à educação, tanto que neste período foi editada a lei (Lei de 15 de outubro de 1827) que estabeleceu a criação de escolas primárias em todas as cidades, vilas e povoados, e de escolas secundárias nas cidades e vilas mais populosas (LIMA, 2003). Eram os reflexos da Revolução Francesa que chegavam ao Brasil.

No entanto, não havia vontade política para que na prática esta legislação se efetivasse, sendo importante a observação de que a educação e sua pedagogia, no período abordado foram postas de forma a atender os interesses da classe dominante, tendo como esforço em desenvolver culturalmente apenas os nascidos no seio da burguesia e nobreza. Obviamente, a pedagogia adotada destinava-se a aculturar os dominados ajustando-os para o trabalho exploratório e mantendo-os submissos e temerosos (ROMANELLI, 1982).

Em 1824 inicia a evolução histórica do processo constitucional brasileiro observando a permanente subordinação dos valores humanos aos econômicos, o que faz com

9 Segundo Ferreira (2001) as aulas régias foram assim denominadas por significarem aulas que pertenciam ao

Estado; “A denominação ‘Aulas Régias’ perdurou de 1759 a 1822, quando passaram a ser chamadas de Aulas Públicas, passando a chamarem-se Escolas Nacionais, em 1827” (p.03).

Referências

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