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Direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal segundo entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª região e do Superior Tribunal de Justiça

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FERNANDA AMBROS

DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO PODER JUDICIÁRIO FEDERAL SEGUNDO ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL

DA 4ª REGIÃO E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Tubarão 2013

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DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO PODER JUDICIÁRIO FEDERAL SEGUNDO ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL

DA 4ª REGIÃO E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientador temático: Erivelton Alexandre de Mendonça Fileti, Esp.

Tubarão 2013

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Ao Ciro, meu marido querido e amado, que em muitos momentos ao longo deste Curso compreendeu minha exaustão e minha ausência, e permaneceu ao meu lado, tornando muitos momentos de sofrimento mais leves e alegres. Obrigada pelo apoio para que eu me tornasse a cada dia uma pessoa melhor. A ti, meu eterno amor.

Aos meus pais, Rogério e Suzana, pelo amor incondicional, por todo o investimento realizado na minha formação e, por, desde sempre, terem me mostrado as dificuldades da vida e a forma como enfrentá-las. Obrigada por estarem ao meu lado preocupados com a minha felicidade.

A minha irmã Rafaela, agradeço por todo apoio, carinho e atenção sempre a mim despendidos. Obrigada, acima de tudo, por ser minha confidente e melhor amiga.

A minha sobrinha Júlia, que desde pequena compreendeu minha ausência, mas sempre tornou os momentos em que estivemos juntas os mais divertidos.

A minha avó adorada, Silva Rosa, a quem tanto tenho a agradecer, pela simplicidade das palavras e o toque profundo no coração. Obrigada por ter feito parte, ativamente, da minha criação e da formação do meu caráter. A ela minha eterna gratidão.

Às minhas colegas de faculdade e grandes amigas, em especial as que estiveram presentes durante a realização deste trabalho e que, constantemente, buscaram me motivar e apoiar de alguma forma, Ana, Camila, Ellis, Eliza, Gabriela, Gilmara, Ludmila, Mariana.

Às amigas de longe, que parecem estar tão perto, e que ficarão para sempre, Giovana, Gisele, Luciane e Viviane.

Aos meus colegas de trabalho da Vara Cível e Criminal da Justiça Federal de Tubarão, de uma forma especial às “luluzinhas” Aline, Débora, Fabíola, Jaqueline, Márcia, Cristina, Patrícia, Rafaela, Thays e a Dona Luiza, pela linda amizade que desenvolvemos ao longo destes anos. Cris, Debby, Jaque, Line e Lu, o apoio e carinho de vocês foi fundamental.

Ao meu orientador e professor Erivelton Fileti, pela sua dedicação e pelo auxílio na elaboração do presente trabalho.

Aos meus cães que entendem minha ausência e sempre me recebem com alegria e carinho, e, aqui, longe de todos, são a minha família.

A Deus, por ter me dado a oportunidade de concluir mais esta etapa de minha vida.

Enfim, agradeço a todos que, de alguma maneira, contribuíram para a realização deste trabalho.

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“[...] Mas não basta pra ser livre, ser forte, aguerrido e bravo; povo que não tem virtude, acaba por ser escravo.” (FRANCISCO PINTO DA FONTOURA).

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O presente trabalho monográfico possui como escopo verificar de que forma o direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal é recepcionado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e pelo Superior Tribunal de Justiça. Para tanto, foram analisadas as jurisprudências emanadas por ambos os tribunais no período de 2007 a 2013. Para alcançar tal objetivo foi utilizado como método de abordagem o hipotético-dedutivo, que supõe a verificação empírica do problema, com o objetivo de testar a hipótese proposta neste trabalho científico. Para tanto, o instrumento utilizado para a coleta de dados foi a análise de ementário. Do estudo, constatou-se que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região adotou um posicionamento mais brando do que o Superior Tribunal de Justiça, bem como que o Egrégio Tribunal, na maioria das vezes, reconheceu o direito de greve dos servidores do Poder Judiciário Federal como sendo uma garantia constitucional, a qual não poderia sofrer limites do Poder Judiciário, enquanto não editada norma regulamentadora. Ainda, verificou-se que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça tende a limitar, excessivamente, o exercício do direito de greve destes trabalhadores, enfraquecendo o movimento paredista. Observou-se que o Superior Tribunal de Justiça tende a considerar legítimo o corte de ponto dos servidores do Poder Judiciário e, ainda, entende ser essencial o serviço prestado por eles. Para a Corte superior, os princípios da supremacia do interesse público sobre o privado e o da continuidade dos serviços públicos se sobressaem em relação à garantia constitucional de greve dos servidores.

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This monograph has scoped to verify how the right to strike of public servants from the federal judiciary is received by the Regional Federal Court of the 4th Region and the Superior Court of Justice. For this, was analyzed the jurisprudence issued by both courts in the period 2007-2013. To achieve this goal it was used as a method to approach the hypothetical - deductive assuming the empirical verification of the problem, in order to test the hypothesis proposed in this scientific work. The utilized instrument for the database collection was the analysis of the registry. From the study, it was found that the Federal Court of the 4th Region adopted a positioning milder than the Superior Court of Justice, and the Honorable Court, most of the time, recognized the right to strike servers federal judiciary as being a constitutional guarantee, which could not suffer limits of the judiciary, while unedited regulatory norm. Still, it was found that the understanding of the Superior Court of Justice tends to limit excessively exercising the right to strike for these workers, weakening the movement of strike. It was observed that the Supreme Court tends to consider legitimate the cut point of the servers of the judiciary and also considers it essential to the service provided by them. For the Superior Court, the principles of the supremacy of the public interest over private and public service continuity stands in relation to the constitutional guarantee of strike servers.

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CF – Constituição Federal

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 EC – Emenda Constitucional

FENAJUFE – Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União

OIT – Organização Internacional do Trabalho PCS – Plano de Cargos e Salários

PL – Projeto de Lei

SINDPOL - Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo SINJEP - Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará SINTEM - Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Município de João Pessoa SINTRAJUFE - Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Rio Grande do Sul SINTRAJUSC - Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina

STF – Supremo Tribunal Federal STJ – Superior Tribunal de Justiça TRF – Tribunal Regional Federal

(9)

1 INTRODUÇÃO ... 11

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 11

1.2 JUSTIFICATIVA ... 12

1.3 OBJETIVOS ... 13

1.3.1 Geral ... 13

1.3.2 Específicos ... 13

1.4 HIPÓTESE ... 14

1.5 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ... 14

1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 15

1.6.1 Método ... 15

1.6.2 Tipo de pesquisa ... 15

1.6.3 Amostra... 16

1.6.4 Instrumentos utilizados para a coleta de dados ... 16

1.6.5 Procedimentos utilizados na coleta de dados ... 17

1.7 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ... 17

2 DIREITO DE GREVE ... 18

2.1 CONCEITO DE GREVE ... 18

2.2 GREVE, UM DIREITO DE TODOS OS TRABALHADORES ... 19

2.2.1 Breve histórico do direito de greve no mundo ... 19

2.2.2 Evolução do direito de greve no Brasil ... 21

2.2.2.1 Direito de greve constitucionalmente garantido pela Lei Maior de 1988 ... 24

2.3 ETIMOLOGIA ... 25

2.4 NATUREZA JURÍDICA ... 25

2.4.1 A greve como fato ... 26

2.4.2 A greve como direito ... 26

2.5 MODALIDADES DE GREVE ... 28

2.6 CLASSIFICAÇÃO DAS GREVES ... 30

2.7 REQUISITOS NECESSÁRIOS AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE ... 31

2.7.1 Da assembleia geral da categoria ... 32

2.7.2 Do quorum mínimo para as deliberações ... 32

2.7.3 Da negociação coletiva... 32

(10)

2.7.7 Do comportamento dos grevistas ... 35

2.7.8 Da paralisação após a solução do conflito ... 36

2.8 RESPONSABILIDADES DOS GREVISTAS ... 36

2.9 DOS EFEITOS NO CONTRATO DE TRABALHO ... 37

3 DOS SERVIDORES PÚBLICOS ... 39

3.1 DOS AGENTES PÚBLICOS ... 39

3.1.1 Dos agentes políticos ... 40

3.1.2 Dos servidores públicos ... 41

3.1.2.1 Dos agentes administrativos ... 42

3.1.2.1.1 Dos servidores governamentais ... 42

3.1.2.1.2 Dos agentes temporários ... 42

3.1.3 Dos agentes honoríficos ... 43

3.1.4 Dos agentes delegados ... 43

3.1.5 Dos agentes credenciados ... 44

3.1.6 Dos militares ... 44

3.2 SERVIDOR PÚBLICO ... 44

3.2.1 Dos empregados públicos ... 45

3.2.2 Dos servidores públicos estatutários ... 47

3.2.2.1 Do servidor público estatutário federal ... 48

3.2.3 Principais disposições constitucionais e previstas na Lei nº 8.112/90 sobre os servidores públicos estatutários federais ... 48

3.2.3.1 Irredutibilidade dos vencimentos... 49

3.2.3.2 Estabilidade ... 50

3.2.3.2.1 Vitaliciedade e inamovibilidade ... 51

3.2.3.3 Do direito à livre associação sindical ... 52

3.2.3.4 Do direito de greve ... 53

3.2.4 Dos principais deveres dos servidores públicos ... 55

3.3 DO SERVIÇO PÚBLICO... 56

3.3.1 Dos serviços públicos considerados essenciais ... 60

3.3.1.1 Dos serviços prestados pelo Poder Judiciário... 61

3.3.1.1.1 Dos serviços realizados pelo Poder Judiciário em regime de plantão ... 61

(11)

4.1.1 Eficácia jurídica da norma constitucional prevista no inciso VII, do artigo 37, da

Constituição Federal de 1988... 64

4.1.1.1 Decreto nº 1.480, de 3 de maio de 1995 ... 67

4.1.2 Entendimento do Supremo Tribunal Federal acerca da eficácia jurídica da norma constitucional prevista no inciso VII, do artigo 37, da Constituição Federal de 1988, antes da Emenda Constitucional nº 19/1998 ... 68

4.2 MANDADOS DE INJUNÇÃO Nº 670/ES, 708/DF E 712/PA E LEI Nº 7.783/89, ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PÓS EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 19/1998 ... 70

4.3 PROJETOS DE LEI RELACIONADOS À REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE NO SETOR PÚBLICO ... 75

4.4 ESTUDO SOBRE OS ENTENDIMENTOS DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ACERCA DO DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO FEDERAL ... 77

4.4.1 Posicionamento adotado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região ... 78

4.4.2 Posicionamento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça ... 90

4.4.3 Comparação entre os posicionamentos adotados pelos Tribunais ... 97

5 CONCLUSÃO ... 99

REFERÊNCIAS... 103

APÊNDICE ... 110

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico teve por escopo estudar o direito de greve dos servidores públicos civis e de que forma tal direito é recepcionado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, analisando, de maneira comparativa, as decisões proferidas por ambos os tribunais.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A greve no Brasil somente foi recepcionada efetivamente como um direito com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88). A greve é tida como um direito fundamental e não está prevista apenas no artigo 9º da Carta Magna (artigo que dispõe sobre os direitos sociais dos trabalhadores em geral), é também uma conquista dos servidores públicos civis, já que existe previsão de referido direito no artigo 37 da CRFB/88.

Entretanto, o texto constitucional não dispõe sobre de que forma este direito poderá ser usufruído por estes servidores. Ou seja, o direito de greve desta categoria está previsto na Constituição, porém, até hoje se encontra sem regulamentação.

Inicialmente, a CRFB/88 previu, em seu artigo 37, inciso VII, a necessidade de uma Lei Complementar para dispor sobre a greve no funcionalismo público (BRASIL, 1988). Em 1998, com a Emenda Constitucional (EC) nº 19, este texto foi alterado, a fim de simplificar o procedimento de criação desta lei regulamentadora; ao invés de uma Lei Complementar passou a ser exigida uma Lei Ordinária para tanto.

Todavia, até o momento não fora editada uma lei específica regulamentando a prática de greve no serviço público, consequência disso é uma vasta divergência jurisprudencial e doutrinária acerca da possibilidade do exercício do direito de greve pelos servidores públicos civis, sem haver limitação a este direito.

Em 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF), em face da mora do Poder Legislativo, decidiu que o direito de greve do servidor público civil deveria seguir a Lei nº 7.783/89, a qual dispõe sobre o direito de greve no setor privado. Acontece que nada foi decidido quanto aos serviços essenciais no âmbito do serviço público, bem como sobre a remuneração do servidor nesse período e, ainda, em relação ao contingente de servidores que deverá permanecer em suas atividades laborais.

Algumas decisões apontam pela ilegalidade da greve, outras pelo desconto do dia paralisado. Existem, portanto, há diversos entendimentos sobre o assunto, gerando uma

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insegurança jurídica muito grande para os servidores integrantes dos movimentos grevistas. A greve, em pleno século XXI, é vista por poucos como um direito fundamental do servidor, e muitos a relacionam à falta ao serviço e não à paralisação legítima e digna das atividades.

Assim, alguns questionamentos surgem para quem compõe o quadro dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal do Brasil. Especificamente em relação aos servidores do Poder Judiciário Federal do sul do país, há o seguinte questionamento: de que

forma o direito de greve, inerente aos servidores públicos do Poder Judiciário Federal, é recepcionado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e pelo Superior Tribunal de Justiça?

1.2 JUSTIFICATIVA

Diante da falta de regulamentação da greve no serviço público, os servidores permanecem sem nenhum amparo legal eficaz para reivindicação das melhorias necessárias. Apenas a conversação, como forma de negociação, não é garantia ao acatamento das reivindicações da categoria, tendo em vista que por diversas vezes as tentativas de sua realização, sem um método de pressão, restaram infrutíferas.

Ainda, a coerção realizada por magistrados, desembargadores e ministros, a fim de ceifar o direito de greve destes trabalhadores, é grande - consequência direta da falta de uma norma objetiva e clara sobre o assunto.

A princípio, não há uma uniformização das decisões proferidas pelos Tribunais regionais, de modo que alguns desembargadores e ministros determinam o corte de ponto dos dias paralisados, outros exigem a compensação destes dias, sendo muitas as vezes em que as greves são consideradas ilegais.

O tema objeto de estudo deste trabalho, especialmente em relação aos servidores que compõem o quadro de cargos do Poder Judiciário Federal, é extremamente atual, pois estes se encontram constantemente em discussões acerca de seu Plano de Cargos e Salários (PCS).

Do ponto de vista desta redatora, o direito de greve dos servidores públicos civis federais é de especial relevância, porquanto compõe o quadro de servidores da Justiça Federal de primeira instância e o quadro da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina, sendo testemunha da dificuldade de negociação sobre as reivindicações das categorias com os demais poderes, assim como do prejuízo sofrido pelos servidores pela falta de regulamentação deste direito.

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Dessa forma, o estudo comparativo das jurisprudências do TRF da 4ª Região e do STJ contribuirá tanto para delinear a abordagem dos sindicatos das categorias de servidores do Poder Judiciário Federal frente a estes tribunais, como para compor uma solução plausível para a falta de regulamentação do direito de greve destes trabalhadores.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Geral

Analisar as jurisprudências do TRF da 4ª Região e do STJ sobre o direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal.

1.3.2 Específicos

a) Estudar a evolução histórica do direito de greve no Brasil e no mundo;

b) Apresentar as mudanças no direito de greve brasileiro, com o advento da Constituição de 1988;

c) Elucidar as formas do movimento paredista e os requisitos para deflagração da grave;

d) Descrever as características dos servidores públicos civis federais, seu regimento interno e suas prerrogativas constitucionais;

e) Conceituar os serviços públicos e especificar os serviços essenciais, inclusive em relação ao Poder Judiciário;

f) Discorrer sobre o direito de greve do servidor público civil, considerando a CRFB/88 e os posicionamentos do STF nos diversos mandados de injunção, especificamente nos quais restou decidido pela aplicação, por analogia, da Lei nº 7.783/89 ao setor público;

g) Analisar os julgamentos e os fundamentos dos quais os desembargadores do TRF da 4ª Região e os ministros do STJ utilizaram-se para resolverem os diversos litígios sobre o direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal;

h) Observar se, à luz das decisões proferidas pelo TRF da 4ª Região, bem como pelo STJ, é possível concluir que o direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal é respeitado;

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i) Apresentar os principais projetos de lei referentes à regulamentação do direito de greve no serviço público;

j) Buscar as soluções mais adequadas, emanadas pelos desembargadores do TRF da 4ª Região e pelos ministros do STJ, aplicadas às demandas envolvendo o direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal.

1.4 HIPÓTESE

O direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal não é recepcionado como um direito fundamental pelos desembargadores do TRF da 4ª Região nem pelos ministros do STJ.

1.5 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Greve: A greve é entendida como sendo:

Dir-se-á que, independentemente de ser um direito, é a greve um fato social, uma liberdade pública consistente na suspensão do trabalho, quer subordinado ou não, com o fim de se obter algum benefício de ordem econômica, social ou humana. É, em suma, o direito de não trabalhar. (MELO, 2006, p. 44).

Servidor Público: São os que prestam serviços à Administração, estando

vinculados a esta por relações profissionais de caráter não eventual, tendo em vista a investidura em cargo ou função pública, possuindo um vínculo de dependência. Constituem, ainda, uma espécie de agentes públicos. (MEIRELLES, 1993 apud BRAZ, 2006, p. 17; MELLO, 1991, p. 12).

Servidores públicos civis: Compreendem os servidores ocupantes de cargo ou

função pública da administração direta - inclusive no âmbito dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário -, das autarquias e das fundações públicas, regidos pelo regime estatutário. (BRAZ, 1998, p. 17-18; MELLO, 1991, p. 13).

Servidores públicos civis federais: São os servidores públicos civis da União,

das autarquias e das fundações públicas federais e são regidos pela Lei nº 8.112/90, a qual dispõe sobre o regime jurídico destes servidores. (BRASIL, 1990).

Corte de ponto: Desconto da remuneração pelos dias paralisados.

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não é autoaplicável, pois necessita de uma norma que o regulamente, consoante dispositivo constitucional. Dessa forma, o direito de greve a estes servidores é de eficácia limitada (MORAES, 2005, p. 203).

1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para realizar uma pesquisa, é necessário antes planejar o estudo e para isto serve o delineamento da pesquisa. Segundo Leonel e Motta (2011, p. 175), “neste momento, o investigador estabelece os meios técnicos da investigação, prevendo os instrumentos e os procedimentos utilizados para a coleta de dados.”

1.6.1 Método

Conforme Lakatos e Marconi (2003, p. 83), “método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia permite alcançar o objetivo [...]” Método é, portanto, o caminho a ser seguido para a obtenção de respostas ao problema em questão, trata-se do ponto que liga o questionamento ao conhecimento. (LEONEL; MOTTA, 2011, p. 64).

O plano geral do trabalho está relacionado ao método de abordagem, o qual, conforme Leonel e Motta (2011, p.66), “se estabelece como fio condutor na investigação do problema de pesquisa”. O método de abordagem utilizado foi, predominantemente, o método hipotético-dedutivo.

Para Leonel e Motta (2011, p. 69), o método hipotético-dedutivo “não se limita à generalização empírica das observações, vendo o mundo como existindo, independentemente da apreciação do observador […]” e por este fato, ambos autores o consideram “um método lógico por excelência, que se relaciona à experimentação”.

Referido método fora utilizado com o escopo de testar a hipótese proposta neste trabalho científico, averiguando de que forma é recepcionado o direito de greve dos servidores públicos civis no âmbito do Poder Judiciário Federal, com base em um estudo dos entendimentos adotados pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e pelo Superior Tribunal de Justiça.

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Para Leonel e Motta (2011, p. 100), “pesquisa é um processo de investigação que se interessa em descobrir as relações existentes entre os aspectos que envolvem os fatos, fenômenos, situações ou coisas.” As pesquisas podem ser classificadas quanto ao nível de profundidade do estudo, quanto ao procedimento utilizado na coleta de dados e quanto à sua abordagem. (LEONEL; MOTTA, 2011, p. 100).

Para a escolha do tipo de pesquisa quanto ao nível, optou-se pela pesquisa exploratória, que levou em consideração o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o problema, através de levantamentos documentais e bibliográficos. Assim, este tipo de pesquisa tem como foco principal o aperfeiçoamento de ideias, com o propósito de facilitar a compreensão do problema, podendo inclusive construir hipóteses. (GIL, 2002, p. 41).

Quanto à abordagem, a pesquisa é qualitativa, pois foram analisadas as jurisprudências do TRF da 4ª Região e do STJ, proferidas durante determinado período (2007 a 2013), a fim de verificar o teor destes decisórios, a fundamentação utilizada, bem como de que forma os desembargadores do TRF da 4ª Região e os ministros do STJ posicionam-se acerca do direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal.

Em relação ao procedimento, adotou-se, sobretudo a pesquisa documental, porquanto o estudo baseou-se em fonte primária para a coleta de dados, quais sejam, as jurisprudências do TRF da 4ª Região e do STJ. Acessoriamente, adotou-se a pesquisa bibliográfica, tendo em vista que também foram realizadas consultas em livros e leis para o desenvolvimento do trabalho científico.

1.6.3 Amostra

A amostra é jurisprudencial e foram estudadas as decisões proferidas entre 01.2007 a 03.2013, as quais foram coletadas nos sítios do TRF da 4ª Região e do STJ.

1.6.4 Instrumentos utilizados para a coleta de dados

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi análise de ementário, conforme modelo constante no apêndice. Foram analisadas as jurisprudências coletadas do TRF da 4ª Região e do STJ, proferidas nos últimos seis anos, a fim de analisar o entendimento dos ministros e desembargadores destes Tribunais sobre o direito de greve dos servidores públicos do Poder Judiciário Federal.

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justificativas e dos fundamentos adotados pelos desembargadores do TRF da 4ª Região e pelos ministros do STJ.

1.6.5 Procedimentos utilizados na coleta de dados

A coleta de dados foi realizada nos sítios do TRF da 4ª Região, no campo

“pesquisa de jurisprudência do TRF4”

(http://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/pesquisa.php?tipo=1) e do STJ, no campo “jurisprudência – opções de busca” (http://www.stj.jus.br/SCON/), sendo que as palavras-chave utilizadas foram: “servidor” e “público” e “poder” e “judiciário” e “federal”, no período de 01.2007 a 03.2013.

1.7 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos neste trabalho, o estudo realizado será dividido em três capítulos.

Após a introdução, o segundo capítulo tem como escopo apresentar a conceituação acerca direito de greve, bem como um breve histórico deste instituto, em especial, a sua evolução no mundo e no ordenamento jurídico brasileiro e, ainda, discorrer sobre as modalidades de movimento grevista, os requisitos para sua deflagração e as consequências relativas à paralisação dos serviços prestados.

O terceiro capítulo tratará de analisar os elementos referentes aos servidores públicos civis. Buscar-se-á, também, estudar os principais direitos, deveres, garantias e prerrogativas destes trabalhadores, principalmente, à luz do artigo 37 e seguintes da CRFB/88. Ainda, serão demonstrados os serviços considerados essenciais.

No quarto e último capítulo far-se-á uma análise acerca da discussão doutrinária existente sobre a possibilidade do exercício do direito de greve pelos servidores públicos civis. Ainda em referido capítulo serão apresentados, de forma sucinta, os principais projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional que visam a regulamentar o exercício do direito de greve no serviço público. Neste capítulo será feita, também, uma análise de decisões proferidas pelo TRF da 4ª Região e pelo STJ, a fim de verificar de que forma o direito de greve é recepcionado por tais Tribunais.

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2 DIREITO DE GREVE

A greve tem profunda relação com as transformações nas relações de trabalho e é considerada mecanismo de luta para o trabalhador, que busca melhores salários, condições humanas de trabalho e reconhecimento profissional. (LEITE, 1988; MORAES, 2012). Para Leite (2000, p. 11), “a greve pode ser concebida como uma das mais importantes e complexas manifestações coletivas produzidas pela sociedade contemporânea.”

Ruprecht (1995, p. 714) lembra que:

A greve tem sido o elemento preponderante de que se tem valido a classe trabalhadora para poder impor suas reivindicações num mundo geralmente hostil a seus desejos. Ela foi o grande motor que deu impulso aos avanços sociais que se introduziram, em última instância, no Direito do Trabalho. Foi a greve evoluindo desde a proibição até transformar-se em um direito e, ademais, constitucional.

Destarte, e considerando o tema proposto para o presente estudo, é de extrema importância desmembrar este instituto, para ao final relacioná-lo aos movimentos de reivindicação realizados pelos trabalhadores públicos sob a ótica dos aplicadores do direito.

2.1 CONCEITO DE GREVE

Na legislação brasileira - mais especificamente na Lei nº 7.783/89 -, a greve é considerada como sendo a suspensão coletiva da prestação de serviço ao empregador, a qual deve se dar de forma temporária e pacífica, de forma total ou parcial.1

Martins (2008, p. 825) considera a greve como:

[...] antes de tudo um fato social, estudado também pela Sociologia. Seria um fato social que não estaria sujeito à regulamentação jurídica. A greve de fome é um comportamento individual que não tem relação com o trabalho. Ocorre que da greve resultam efeitos que vão ser irradiados nas relações jurídicas, havendo, assim, necessidade de um estudo por parte do Direito. Num conceito amplo a greve é um risco a que o trabalhador se sujeita.

Nesse mesmo aspecto, dispõe Melo (2006, p. 44), em sua obra, que a greve, antes mesmo de um direito, é um fato social que consiste em um mecanismo de pressão (por meio da suspensão do trabalho) utilizado para obter alguma melhoria de ordem econômica, social ou humana; “é, em suma, o direito de não trabalhar.” (p. 44).

1 Art. 2º Para os fins dessa lei, considera-se legítimo o exercício do direito de greve, a suspensão coletiva,

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Outrossim, “a greve é também um movimento de massa; é um fenômeno coletivo, residindo aí seu poder de coerção. Infere-se desse fato que deverá ser um movimento organizado, determinado e comum ao grupo social envolvido.” (GUBBELS, 1962 apud BARROS, 2008, p. 1.296).

Finalmente, Süssekind (1993 apud LEITE, 2000, p. 17) define a greve como sendo dois fenômenos sociais distintos:

[...] a) a insubordinação concertada de pessoas interligadas por interesses comuns, com a finalidade de modificar ou substituir instituições públicas ou sistemas legais; b) pressão contra empresários, visando ao êxito da negociação coletiva sobre aspectos jurídicos, econômicos ou ambientais de trabalho. Na primeira hipótese, existe uma manifestação sócio-política de índole revolucionária; e na segunda, se trata de um procedimento jurídico-trabalhista a ser regulamentado, seja por lei (sistema heterônomo) ou por entidades sindicais de cúpula (sistema autônomo).

A greve é, portanto, um instrumento de pressão do qual os trabalhadores se utilizam, frente aos seus empregadores, para obterem benefícios em seus locais de trabalho, sejam eles relacionados a melhores salários, condições laborais, etc.

2.2 GREVE, UM DIREITO DE TODOS OS TRABALHADORES

A partir da evolução do conceito de greve é possível concluir que hoje este instituto é tido como um direito fundamental dos trabalhadores e é de extrema importância para a manutenção de um estado democrático de direito, com a inserção de todos no cenário político nacional.

Obviamente, a greve não foi sempre tida como um direito, e para entender a sua dimensão atual, torna-se importante relatar os pontos mais marcantes deste instituto ao longo da história.

2.2.1 Breve histórico do direito de greve no mundo

A origem dos movimentos coletivos de grupos de trabalhadores é bastante antiga, segundo Leite (2000, p. 14), “remonta ao século XII a.C., quando trabalhadores recusaram-se a trabalhar na construção do túmulo de um faraó em protesto pela irregularidade no pagamento de salários e tratamento desumano que recebiam.”

Outras manifestações também ocorreram em Roma, as quais sofreram retaliações legislativas. É o que comenta Leite (2000, p. 14): “Em Roma, no Baixo Império, as greves,

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principalmente no setor público e em atividades essenciais, foram objeto de repressão de textos legais.” O mesmo autor (2000, p. 14-15) aponta, ainda, como manifestações originárias ao movimento grevista, as diversas paralisações de trabalhadores franceses efetuadas antes da Revolução Francesa de 1789.

Todavia, tendo em vista que as relações de trabalho, nos períodos acima mencionados, se davam basicamente pelo regime de escravidão ou de servidão, não há como caracterizar tais movimentos como greve, a qual emerge somente a partir da Revolução Industrial, com o surgimento do trabalho assalariado. (LEITE, 2000). Nesse instante, de acordo com Melo (2006, p. 22):

[...] as manifestações dos trabalhadores começam a merecer reflexões doutrinárias na busca de uma conceituação do instituto. A greve, então, passa a ser conceituada, conforme o regime jurídico de cada país, como delito, como liberdade, como fato social e como direito.

Nesse mesmo sentido, Martins (2001, p. 24) salienta que “na história mundial da greve, verifica-se que foi considerada delito, principalmente no sistema corporativo, depois passou à liberdade, no Estado Liberal, e posteriormente a direito, nos regimes democráticos.”

Para Luxemburgo (1906, p. 85), a greve de massas era “uma forma universal de luta das classes proletárias”, sendo “a primeira forma natural e espontânea de qualquer grandiosa ação revolucionária do proletariado.”

Outrossim, Leite (1988, p. 11-13) explica o porquê dos movimentos grevistas terem se difundido a partir da Revolução Industrial:

Acontece que o capitalismo é um modo de produção que se estruturou sobre a contradição de interesses entre os trabalhadores e seus empregadores. Ao dividir a população em trabalhadores assalariados, de um lado, e capitalistas que passaram a empregar esses trabalhadores em suas empresas em troca de salário sempre muito inferior à riqueza por eles produzida, de outro, o capitalismo se estruturou enquanto modo de produção baseado na exploração da força de trabalho, no qual a contradição de interesses entre os trabalhadores e seus empregadores se tornou constitutiva do próprio sistema. Enquanto os capitalistas buscam constantemente aprofundar a exploração dos trabalhadores, estes se empenham numa luta contínua visando amenizar os efeitos desse processo. […] Evidentemente, os trabalhadores não se renderam passivamente à opressão que o sistema de fábrica lhes impôs. As primeiras formas mais efetivas de resistência encontradas contra a dominação foram as quebras de máquinas […]. Aos poucos, entretanto, eles foram abandonando essa prática e desenvolvendo formas mais eficazes de luta, entre as quais a greve logo despontou como a mais importante, contundente e complexa.

Ruprecht (1995, p. 725-726) lembra que por conta deste período de expansão industrial:

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[...] as condições dos trabalhadores, já mal protegidos nas corporações, se fazem ainda mais penosas […]. Essa situação traz como conseqüência um estado de miséria na classe trabalhadora, que faz que se una para obter melhor estado de vida, e a greve é um meio de expressão, quase o único e, de todas as maneiras, o mais eficaz.

Portanto, a greve surge em consequência dos inúmeros conflitos que existiam nos locais de trabalho, com a tentativa dos operários de impedir as iniciativas dos empregadores relacionadas ao controle das ações operárias e ao aumento do seu domínio sobre os trabalhadores. Tudo indica que é por este motivo que Leite (1988, p. 15) entende ser a greve “um momento fundamental de liberação da opressão.”

Mas no direito internacional, assim que emergiram, consoante acima exposto, as greves foram consideradas delitos, inclusive tipificadas no Código Penal de muitos países da Europa. Sobre o assunto, Barros (2008, p. 1293) explica que “não obteve a greve, de início, a indulgência do sistema liberal que imperava na época. É que ela tem o mesmo fundamento social do direito coletivo, ou mais precisamente, da associação profissional, vedadas pela doutrina individualista e liberal.”

Somente após muita luta dos trabalhadores a greve deixou de ser considerada delito, porém ainda não era conhecida como um direito. Apenas no século XX houve o reconhecimento da greve como um direito pelos países europeus e, a partir desse momento, a greve se difundiu rapidamente em todo o mundo. (LEITE, 1988).

Porém, no Brasil, a evolução do conceito de greve e da sua recepção na legislação brasileira foi um processo demorado e sinuoso, tendo sido a greve reconhecida, de fato, como um direito dos trabalhadores somente ao final do século XX.

2.2.2 Evolução do direito de greve no Brasil

No Brasil, Melo (2006, p. 22) assevera que:

[...] a história evolutiva de greve no Brasil está estritamente relacionada com o modelo de liberdade e autonomia sindicais reinantes, sendo certo que sempre esteve permeada por preconceitos, como conseqüência inerente ao sistema atrasado e corporativista de relações de trabalho implementado no país desde o Brasil colônia.

O primeiro texto legal brasileiro a tratar sobre a greve foi o Código Penal de 1890, que previa como crime a prática de greve. (MORAES, 2012, p. 83).

Ainda em 1890, com o advento do Decreto nº 1.162, de 12 de dezembro daquele ano, a conduta grevista não fora mais considerada criminosa, sendo punidos apenas os atos de

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ameaça, constrangimento ou violência, consoante Delgado (2011, p. 1.337) expõe em sua obra.

Para Nascimento (1991 apud MORAES, 2012, p. 83), tal evolução se deu porquanto os países europeus haviam democratizado a greve, diversificando o direito dos abusos ou excessos efetuados durante os movimentos paredistas.

A Constituição Federal de 1937 - conforme lembra Melo (2006, p. 23) - estabeleceu, em seu artigo 139, que “a greve e o lockout2 são declarados recursos antissociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses da produção social.”

Segundo Moraes (2012, p. 85), no ano de 1945, “o Brasil participou da Conferência Internacional de Chapultepec, […], que homologou a recomendação do reconhecimento do direito de greve por todos os países presentes.” Por conta de tal conferência, fora aprovado o Decreto-Lei nº 9.070, de 1946, o qual distinguia as atividades essenciais das acessórias, bem como disciplinava o direito de greve, sendo a legislação precursora no país. (MORAES, 2012).

No entanto, o mencionado decreto-lei fora promulgado na vigência da Constituição Federal de 1937, a qual vedava expressamente o direito de greve conforme supracitado. Diante de referida contradição e da discussão que se formou a respeito da inconstitucionalidade do decreto-lei, o STF posicionou-se no sentido de ambas as normas serem compatíveis. Consequentemente, a Carta Magna de 1946 tratou a greve como um direito, embora com limitações, atendendo às tendências internacionais. (MORAES, 2012).

Ainda de acordo com o disposto pelo doutrinador acima citado, após a promulgação do Decreto-lei nº 9.070 de 1946:

Mais uma vez o panorama do país estava conturbado e tendia a mudanças, acentuando-se as crises no governo do então presidente da República, João Goulart, pois grandes eram as diferenças entre as normas legais e a realidade social. O Decreto-lei n. 9.070/46, vigente a esta época de greves políticas, ou seja, movimento de reivindicação ilícita dos trabalhadores, e econômico-salariais, tornou-se ineficaz. Havia um anseio por mudanças, a realidade social era outra, e como o direito é dinâmico, elaborou-se uma nova lei de greve condizente com o espírito dominante na época. (MORAES, 2012, p. 87).

Diante desse quadro, em 1964, entrou em vigor a Lei nº 4.330/64, que previa uma série de requisitos que, desrespeitados, ensejariam a ilegalidade da greve. (BRASIL, 1964).

2 Sobre o tema discorre Martins (2008, p. 840): “[…] a expressão lockout tem o sentido de o empregador fechar

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Sobre o referido texto legal assevera Lavor (1996 apud LEITE, 2000, p. 16-17), “a Lei 4.330/64 regulamentou, por muito tempo, o exercício do direito de greve, impondo tantas limitações e criando tantas dificuldades, a ponto de ter sido denominada por muitos juslaboristas como a Lei do delito da greve e não a Lei do direito da greve.”

Acrescenta Melo (2006, p. 24) que a Lei nº 4.330/64:

[...] foi promulgada logo em seguida à decretação do golpe militar de 1964 e representou a real filosofia daquele regime ditatorial, consubstanciado, no âmbito das relações de trabalho, em muitas ocupações e intervenções de sindicatos, cassações e punições de dirigentes sindicais e ativistas, como represálias aos movimentos trabalhistas.

Sobre o mesmo texto legal, Martins (2001, p. 25) lembra que seu artigo 4º vedava “o exercício do direito de greve pelos funcionários e servidores da União, Estados, Territórios, Municípios e autarquias.”

A Constituição de 1967 assegurou o direito de greve, restringindo-o em relação aos serviços públicos e às atividades essenciais, o que foi mantido pela EC de 1969. (LEITE, 2000).

Acerca da evolução histórica da greve no direito brasileiro, Melo (2006, p. 23-24) menciona ademais que:

Várias foram as leis e decretos-leis que trataram sobre o exercício da greve. A Lei n. 35/35 considerou a greve como delito. A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, na redação original, também considerou a greve como delito (arts. 723 e 724). […] O Decreto-Lei n. 1.632/78 e a Lei n. 6.620/78 – Lei de Segurança Nacional - proibiram a greve nos serviços públicos essenciais.

Embora a existência de tantas proibições ao direito de greve, no mês de maio de 1978, conforme recorda Leite (1988, p. 18), “os operários da Scania Vabis em São Bernardo do Campo cruzaram os braços e pararam de trabalhar.” Nesse momento, iniciava-se a primeira greve de grande dimensão no país. Após 10 anos sem mobilizações, acontece então o reingresso da classe operária no cenário político. Nos anos seguintes, os movimentos grevistas se intensificaram no ABC paulista e nas cidades de Osasco, São Paulo e Guarulhos e em várias cidades industriais brasileiras, fazendo ressurgir a ação reivindicatória grevista no país. (LEITE, 1988; MELO, 2006).

Entretanto, as manifestações grevistas ainda eram extremamente mal vistas pelo governo da época, o qual tentava de todas as maneiras ceifar o direito dos trabalhadores. Sobre isso ressalta Melo (2006, p. 41) que:

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[…] o remédio contra as greves era a intervenção nos sindicatos e cassação dos seus dirigentes. Só com a Nova República, a partir de 1985, com a eleição indireta pelo Colégio Eleitoral, de Tancredo Neves para a Presidência da República (que não tomou posse em razão da doença que o acometeu e da morte em seguida) e a posse de José Sarney […] deu-se início a um importante abrandamento da repressão sindical, mediante anistia de dirigentes sindicais e a suspensão e interrupção das intervenções nos sindicatos.

Somente no ano de 1988, o direito de greve é finalmente assegurado a todos os trabalhadores civis, com a promulgação da nova Constituição da República.

2.2.2.1 Direito de greve constitucionalmente garantido pela Lei Maior de 1988

A CRFB/88, em face de seu contexto histórico e de seu caráter democrático, concedeu aos seus cidadãos trabalhadores o direito à reivindicação de melhorias pelo mais forte mecanismo de coerção a ser utilizado pelo proletariado, o direito de greve. Afirma Melo (2006, p. 26) que:

Um novo modelo de relação de trabalho foi implementado pela Constituição de 1988. […] A partir da Constituição Federal de 1988, a greve é admitida de forma ampla, como direito dos trabalhadores em geral. Ela é proibida apenas em relação aos servidores públicos militares. Passa-se, também, a admitir a greve no serviço público, mediante lei, e, nos serviços e atividades essenciais, com restrições consistentes no atendimento das necessidades inadiáveis da população.

A Constituição da República de 1988, em seu artigo 9º, embora não conceitue o direito de greve, “fixa sua dimensão ao dispor que compete aos trabalhadores definir a oportunidade e os interesses a defender por meio da greve.” (MORAES, 2012, p. 90).

O artigo 9º, da CRFB/88, trata de greve nos seguintes termos:

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. § 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. (BRASIL, 1988).

Moraes (2012, p. 90) entende ser necessário interpretar os sentidos das palavras “oportunidade” e “interesses” - presentes no caput de referido dispositivo-, e o faz da seguinte maneira: quanto à oportunidade “entende-se ser a conveniência da greve, ocasião favorável”, e quanto aos interesses menciona ser “a sua finalidade, tipos de interesses”. O autor continua discorrendo sobre o poder dos trabalhadores em decidirem acerca da oportunidade, como sendo “uma decorrência natural da titularidade do direito”.

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Em relação aos parágrafos contidos no artigo 9º, da CRFB/88, é possível verificar que o direito de greve não se trata de um direito absoluto, mas sim que encontra restrições, principalmente, a fim de coibir eventuais abusos, para que seu exercício não desvirtue da sua função social. Destarte dispõe Moraes (2012, p. 92):

Nada mais justo do que traçar as condições dentro das quais poderá se deflagrar uma greve. Deixar o exercício desse direito, que é um direito social, sem qualquer parâmetro para o seu exercício, é o mesmo que se acender um estopim de dinamite e acreditar que não vai explodir.

Ainda, diante do reestabelecimento de um estado democrático de direito, foi necessária a elaboração de uma nova norma, a fim de disciplinar o exercício da greve, respeitando a amplitude concedida pela nova Constituição ao direito de greve. Assim, surgiu a Lei nº 7.783/89. (MORAES, 2012).

Entretanto, em relação ao funcionalismo público, embora previsto na Constituição Federal de 1988, a regulamentação do exercício do direito de greve dos servidores públicos civis até hoje não existe.

Após análise do histórico da greve e da evolução deste instituto para um direito, é imperioso, neste momento, demonstrar suas principais características, modalidades, prerrogativas, bem como discorrer sobre seu conceito e natureza jurídica.

2.3 ETIMOLOGIA

A origem da palavra “greve” se deu na França, onde na capital, Paris, existia uma praça chamada Place de Grève, a qual se situava próxima ao rio Sena e, nos dias de cheia, o rio depositava pedras e areia nesta praça, o que dava o nome ao lugar. Nesse local, reuniam-se os trabalhadores insatisfeitos com o trabalho e os desempregados com a intenção de protestar por melhores condições laborais. (RUPRECHT, 1995; MARTINS, 2008).

2.4 NATUREZA JURÍDICA

Conforme dispõe Martins (2001, p. 31), em sua obra, “analisar a natureza jurídica de um instituto é procurar enquadrá-lo na categoria a que pertence no ramo do Direito. É a essência do instituto analisado, no que ele consiste, inserindo-o no lugar a que pertence no ordenamento jurídico.”

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Outrossim, existe na doutrina discussão acerca da essência da greve; muitos a consideram apenas um fato social, outros a veem como um direito que por vezes se confunde com liberdade, com poder e com autodefesa. Por fim, alguns doutrinadores analisam sua natureza jurídica sob os efeitos que ela causa no contrato de trabalho. (MARTINS, 2008).

Ainda, ressalta-se que a natureza jurídica da greve depende da legislação de cada país, variando de delito até direito, não podendo, portanto, esta analise ser generalizada. (MORAES, 2012).

2.4.1 A greve como fato

Quando a greve não está prevista, expressamente, em determinado ordenamento jurídico, não existindo, assim, uma regulamentação deste instituto, considera-se a greve como um fato que o ordenamento aceita. (MORAES, 2012).

Nascimento (1989 apud MORAES, 2012, p. 109) esclarece que a greve é um fato social, mas não apenas isso, “ela é também um fato jurídico em sua dimensão de norma legal, convencional ou judicial, como normalmente ocorre.” O autor entende ser possível a greve permanecer apenas como fato, mas isso quando não lhe for atribuída natureza de direito dos trabalhadores. (NASCIMENTO, 1989 apud MORAES, 2012, p. 109).

Já Magano (1979 apud MORAES, 2012, p. 110) explica que “a greve é sempre um fato social, sendo que poderá ou não ser reconhecido pelo direito.”

Por fim, o exercício de greve não se limita à greve dos trabalhadores, esta pode ser greve de fome, greve dos estudantes, etc, e a natureza dessas suas outras formas de luta configura-se como sendo um fato social, estudado, inclusive, pela Sociologia. (MARTINS, 2008).

2.4.2 A greve como direito

Quando a greve for, em sua essência, um direito, Leite (2000, p. 20), em sua obra, menciona quatro correntes que dimensionam o referido instituto como sendo um direito: potestativo, absoluto da pessoa, de liberdade ou de autoproteção.

O doutrinador retrocitado elucida que a greve seria: a) um direito potestativo, pelo fato do empregador não poder se opor ao movimento paredista, devendo apenas sujeitar-se à vontade do grupo; b) um direito absoluto da pessoa, porquanto o direito de greve trata-se de um direito constitucional; c) um direito de liberdade, sendo considerado um direito do

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indivíduo frente ao Estado, o qual não poderia tipificar a greve como um delito; e, d) um direito de autoproteção, que seria o fato da norma permitir a autotutela dos trabalhadores, sem a intervenção judicial. (LEITE, 2000).

Passarelli (1981 apud MORAES, 2012, p. 114) alega ser um direito potestativo, “uma vez que é um poder do titular de modificar, com a sua vontade e com o simples exercício de seu direito, determinada situação jurídica da qual é parte um outro sujeito: o empregador, que estaria sujeito às consequências do exercício do direito de greve.”

Já Galantino (1994 apud MORAES, 2012, p. 116), entende ser a greve um direito absoluto da pessoa, sendo “a greve um meio de desenvolvimento dos trabalhadores e de sua participação na vida política, econômica e social do país.” No entanto, Leite (2000, p. 20) é contrário a este posicionamento, pois alega que nenhum direito é absoluto, já que, inclusive, o direito à vida sofre limitações, como, por exemplo, com a permissão da legítima defesa.

Ainda, quanto ao entendimento de ser a greve um direito de liberdade, Castillo (1994 apud MORAES, 2012, p. 117) enfatiza que o grevista não poderá vir a sofrer retaliações ou ser, posteriormente, responsabilizado por qualquer prejuízo que possa causar a outrem, tendo em vista estar no exercício regular de um direito constitucionalmente garantido. Dessa maneira sustenta que:

Quando não esclarecem, os textos constitucionais são interpretados no sentido de estarem reconhecendo um direito público de liberdade. Como direito é assegurado um nível mais além da simples liberdade, no domínio do agere licere. [...] Tratando-se de um direito público de liberdade, como é habitualmente concebido nos paíTratando-ses latinos, o Estado se compromete a não colocar empecilho para o seu exercício e a impedir tudo aquilo que o perturbe, e a lei que o regulamenta deverá viabilizá-lo. (CASTILLO, 1994 apud MORAES, 2012, p. 117).

Por fim, em relação à greve como autotutela dos trabalhadores, Moraes (2012, p. 116) esclarece que ela “é tida como uma forma de defesa econômica direta prevista pelo direito. Os trabalhadores, os servidores públicos civis manifestam-se contra o descumprimento do pactuado entre eles e os empregadores.”

Coaduna com este entendimento Castillo (1994 apud MORAES, 2012, p. 116) ao afirmar que “a greve é certamente um direito instrumental para a tutela de um complexo interesse econômico-profissional; interesse que não se confunde com aquele do trabalhador individual.”

Da mesma forma Nascimento (1989 apud MORAES, 2012) elucida que, pelo fato de a greve ter um caráter defensivo, ela pode ser considerada como uma autodefesa do trabalhador. Isso porque a greve é uma forma de resistência do trabalhador frente às

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imposições do empregador.

Isso posto, sendo fato ou direito, independentemente da corrente a ser adotada, a greve é considerada, antes de tudo, um mecanismo de luta e uma forma de os trabalhadores reivindicarem os seus direitos e garantias de forma lícita e constitucionalmente amparada.

2.5 MODALIDADES DE GREVE

Barros (2008, p. 1.297) afirma que existem duas modalidades de greve: a típica e a atípica. A greve típica é a que tem finalidade econômica e profissional, já a atípica, possui fins políticos, religiosos ou sociais.

Sendo o movimento uma forma de luta contra empregadores, a fim de se obter melhores condições de trabalho, especialmente em relação ao aumento de salário dos trabalhadores, esta greve considera-se econômica e profissional. Já as greves em que os trabalhadores se opõem aos abusos ou à forma arbitrária como são tratados no âmbito disciplinar são chamadas de greves de protesto. (BARROS, 2008).

Outra modalidade de movimento paredista é a greve de solidariedade ou simpatia, que nada mais é do que uma verdadeira solidarização de alguns trabalhadores com outros para fazerem suas reivindicações. (BARROS, 2008; MARTINS, 2008).

Romita (1989 apud LEITE, 2000, p. 36) declara ser a greve de solidariedade, do ponto de vista sociológico, “a greve por excelência, a modalidade mais autêntica de greve, por ser a que melhor exprime a inspiração maior do movimento obreiro, animado com o sentimento de solidariedade profissional ou solidariedade de classe.”

Ainda, existem manifestações que são direcionadas contra ato governamental que fere interesses de uma categoria profissional; nesta situação a greve é considerada política. (BARROS, 2008; MARTINS, 2008).

Para Leite (2000), o caráter político da greve está presente por si só, tendo em vista ser a união de trabalhadores, visando à suspensão do trabalho prestado às empregadoras, um comportamento político desses indivíduos, que possuem consciência das suas condições de trabalho e através do movimento paredista buscam as melhorias necessárias.

No entanto, Martins (2008, p. 827) limita as greves políticas, afirmando que estas possuem “um aspecto macroeconômico, dizendo respeito a solicitações feitas de maneira genérica, inerentes ao governo.”

No ordenamento jurídico brasileiro, não há restrição às greves políticas e de solidariedade. No entanto, segundo Barros (2008, p. 1.297), “o interesse a que se refere a lei

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deva versar sobre alteração ou criação de novas condições de trabalho, de cunho salarial ou não.”

Existe, também, outra modalidade de greve, o lockout,3 que é um meio de reação dos empregadores e que pode se dar de duas maneiras: defensiva, como forma de proteção dos empregadores em relação aos movimentos paredistas de seus empregados, ou ainda, ofensiva, com o fechamento do estabelecimento. (RUPRECHT, 1995).

Ruprecht (1995, p. 865) lembra que “assim como os trabalhadores se valem de meios de força para obter resultados favoráveis a seus interesses, os empresários também utilizam esse sistema, tanto para conseguir mudanças em benefício próprio como para se opor a reivindicações operárias.”

Conclui-se, então, que o lockout é a maneira que os empregadores se utilizam para impedir o acesso dos empregados ao estabelecimento, pressionando-os para realização de alguma de suas vontades.

Nesse mesmo sentido, entende Carrion (2011, p. 618) que “o lock-out é o fechamento de uma ou de várias empresas até que os trabalhadores tenham aceitado a atitude que o empregador pretenda impor. Privados do trabalho e salários, os operários podem, depois de um certo tempo, ver-se constrangidos a capitular.”

Importante destacar que nos movimentos de greve e lockout, empregador e empregado estão em notável desigualdade; nota-se que enquanto o trabalhador corre o risco de não receber seu salário, que muitas vezes é o que sustenta toda a sua família, o empregador pode vir a deixar de receber o lucro, todavia geralmente possui grandes reservas econômicas. Ainda, o trabalhador busca melhorias no ambiente laboral, já o empregador, pretende rebaixá-las.

Corroborando essa ideia, Leite (2000, p. 74) enfatiza que “não há negar que existe ontológica razão para se considerar que não há igualdade substancial entre o detentor de capital e o prestador do trabalho subordinado.”

Por conta disso:

[...] não cabe deduzir que pela existência de um direito à greve ou de greve, segundo as correntes doutrinárias, surja o direito correlativo e oposto ao lockout; o princípio de igualdade diante da lei não é concebível se entendido no sentido formal, dado que é necessário um tratamento desigual em favor de quem se encontre em inferioridade e mereça ser ajudado para obter uma igualdade de fato. (DIOGUARDI, 1951 apud RUPRECHT, 1995, p. 885).

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Ressalta-se que um dos princípios norteadores do Direito do Trabalho é a proteção do trabalhador, indivíduo economicamente mais fraco da relação. Esse princípio existe tendo em vista a premissa de que há considerável discrepância econômica e social entre empregadores e trabalhadores. Esse tratamento desigual visa equilibrar tal relação no âmbito jurídico. (LEITE, 2000).

Na legislação brasileira, não há previsão acerca da possibilidade do lockout como meio de pressão dos empregadores. Pelo contrário, o artigo 722 da CLT, prevê, expressamente, a aplicação de multa para o empregador que suspender as atividades de seu estabelecimento, ou seja, há clara proibição do lockout no sistema normativo brasileiro.4

2.6 CLASSIFICAÇÃO DAS GREVES

As greves podem ser classificadas em lícitas, ilícitas, abusivas e não abusivas. As lícitas configuram-se quando ocorrem dentro dos preceitos legais, o contrário ocorrem com as ilícitas em que as disposições legais não são observadas; já as abusivas, são caracterizadas quando as atitudes dos grevistas ultrapassam a norma; e, por fim, nas greves não abusivas não são cometidos excessos. (MARTINS, 2008).

Podem, as greves, ainda, ser consideradas quanto à sua extensão. Martins (2008, p. 827) discorre sobre o assunto da seguinte maneira “[...] temos: greves globais, atingindo várias empresas; greves parciais, que podem alcançar algumas empresas ou certos setores destas; e greves de empresa, que só ocorrem nas imediações desta.”

São, também, classificadas as greves de acordo com a continuidade do movimento:

A greve também pode ser considerada quanto ao seu exercício: greve contínua, intermitente rotativa ou branca. Greve rotativa é a praticada por vários grupos, alternadamente. Greve intermitente é a que vai e volta. Às vezes os empregados trabalham, outras vezes, não. Às vezes chegam cedo, outras vezes chegam tarde etc.

4 Art. 722 - Os empregadores que, individual ou coletivamente, suspenderem os trabalhos dos seus

estabelecimentos, sem prévia autorização do Tribunal competente, ou que violarem, ou se recusarem a cumprir decisão proferida em dissídio coletivo, incorrerão nas seguintes penalidades: a) multa de cinco mil cruzeiros a cinquenta mil cruzeiros; b) perda do cargo de representação profissional em cujo desempenho estiverem; c) suspensão, pelo prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, do direito de serem eleitos para cargos de representação profissional. § 1º - Se o empregador for pessoa jurídica, as penas previstas nas alíneas "b" e "c" incidirão sobre os administradores responsáveis. § 2º - Se o empregador for concessionário de serviço público, as penas serão aplicadas em dobro. Nesse caso, se o concessionário for pessoa jurídica o Presidente do Tribunal que houver proferido a decisão poderá, sem prejuízo do cumprimento desta e da aplicação das penalidades cabíveis, ordenar o afastamento dos administradores responsáveis, sob pena de ser cassada a concessão. § 3º - Sem prejuízo das sanções cominadas neste artigo, os empregadores ficarão obrigados a pagar os salários devidos aos seus empregados, durante o tempo de suspensão do trabalho. (BRASIL, 1943).

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A greve branca é greve, pois apesar de os trabalhadores pararem de trabalhar e ficarem em seus postos de trabalho, há cassação da prestação de serviços. (MARTINS, 2008, p. 827).

Por fim, existem ainda duas modalidades de protesto dos trabalhadores, as quais não podem ser consideradas como greve, tendo em vista que estes movimentos não visam à paralisação da prestação do serviço. É o que acontece com a chamada “operação tartaruga”, em que os empregados fazem seus serviços com extremo vagar, ou a greve de zelo, em que os trabalhadores se esmeram na produção ou acabamento do serviço. Essas formas de manifestação podem, inclusive, serem comparadas ao trabalho realizado de forma negligente. (MARTINS, 2008).

2.7 REQUISITOS NECESSÁRIOS AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE

O direito de greve é tido como um direito fundamental, porém este não é um direito absoluto, como acima exposto e, desse modo, sofre algumas limitações, ou seja, o sistema normativo de cada país estabelece as condições para a realização da greve para que seja considerada lícita.

A Lei nº 7.783/89, em seu artigo 3º, autoriza o exercício ao direito de greve, porém após frustrada a negociação coletiva, ou ante a impossibilidade de recurso à arbitragem e, ainda, mediante prévia notificação do empregador.5

Melo (2006, p. 70) cita as seguintes exigências de referida norma, para a greve ser considerada regular:

[...] a) convocação/realização de assembleia geral da categoria; b) cumprimento de

quorum mínimo para deliberação; c) exaurimento da negociação coletiva sobre o

conflito instaurado; d) comunicação prévia aos empresários e à comunidade (nas greves em serviços essenciais); e) manutenção em funcionamento de maquinário e equipamentos, cuja paralisação resulte prejuízo irreparável; f) atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade (nas greves em serviços essenciais); g) comportamento pacífico; h) garantia de liberdade de trabalho dos não grevistas; i) não-continuidade da paralisação após solução do conflito por acordo coletivo de trabalho, convenção coletiva ou sentença normativa.

Ante o exposto acima, é importante discorrer brevemente acerca de cada um dos requisitos supraelencados, como realizado a seguir.

5 Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação

coletiva do trabalho. Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) horas, da paralisação. (BRASIL, 1989).

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2.7.1 Da assembleia geral da categoria

Conforme o artigo 4º da lei de greve, a entidade sindical deverá convocar, na forma de seu estatuto, assembleia geral para definir as reivindicações dos trabalhadores e irá definir o posicionamento da categoria quanto à paralisação dos serviços. (BRASIL, 1989).

Esse dispositivo tem por finalidade democratizar a greve, tendo em vista ser uma manifestação de vontade do proletariado e, por outro lado, legitimar o movimento, já que, embora o direito seja oriundo do trabalhador, a legitimação para ser instaurada a greve é do sindicato, consoante o disposto no inciso III, artigo 8º, da CRFB/88.

A regra, portanto, é a convocação da assembleia, no entanto tal requisito poderá ser dispensado nos casos em que há existência de risco aos trabalhadores, por conta das péssimas condições de trabalho as quais estão expostos. (MELO, 2006).

Outrossim, existem situações nas quais não existem entidades sindicais. Nestes casos, os trabalhadores interessados realizarão uma assembleia geral para deliberar sobre as reivindicações. Da mesma forma podem agir os trabalhadores de cujas reclamações o sindicato não demonstrar interesse. Os interessados podem formar uma comissão de negociação que poderá instaurar dissídio coletivo, nos termos do artigo 5º da Lei de Greve. (MARTINS, 2008).

Tal possibilidade existe para viabilizar o exercício do direito de greve por parte de alguns trabalhadores sem representação, garantindo, assim, a fruição de seu direito fundamental, constitucionalmente garantido.

2.7.2 Do quorum mínimo para as deliberações

A Lei nº 7.783/89 não dispõe sobre um quorum mínimo para as deliberações. Ao contrário do que acontecia com a Lei nº 4.330/64, que o exigia, a nova norma não reproduziu a intromissão nos assuntos dos sindicatos. (MARTINS, 2008).

Além disso, o quorum da assembleia sindical, tanto para a deflagração quanto para a paralisação do movimento paredista, está previsto nos estatutos dos sindicatos. É com base nos estatutos, também, que devem ser decididas as reivindicações dos trabalhadores. (MARTINS, 2008; MELO, 2006).

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Após realizada a assembleia geral, cabem aos sindicatos encaminhar a pauta com as reivindicações e estabelecer prazo para o final das discussões a serem realizadas com a classe patronal. Isto é, antes da deflagração da greve deverá ser realizada a negociação coletiva para a solução dos conflitos, nos termos do artigo 3º da Lei de Greve.

Lembra Melo (2006, p. 72) que:

As negociações devem ser reais e não meras encenações […]. É claro que tal somente poderá ocorrer se houver mútuo empenho das partes, de maneira que, recusando-se a classe patronal a dar início ao acordo ou, respondendo simplesmente que não pode atender aos pleitos, resta configurado o pressuposto da prévia ou ‘exaustiva’ negociação, para efeito não só do cumprimento da formalidade legal, como também para ajuizamento do dissídio coletivo.

Procede-se dessa maneira, pois, do contrário, bastaria que o empregador não aceitasse as reaquisições de seus empregados, ou simplesmente, recusasse eventual negociação, impedindo os sindicatos de instaurarem o dissídio coletivo. (NASCIMENTO, 1989 apud MELO, 2006). Mas a tentativa frustrada de negociação é requisito legal para a deflagração do movimento paredista.

2.7.4 Da notificação prévia

A comunicação prévia é requisito essencial para a licitude da greve. A Lei nº 7.783/89 dispõe em seus artigos 3º, parágrafo único e 13, que a notificação aos empregadores deverá ser realizada entre 48 e 72 horas antes do início das paralisações, dependendo se o serviço for considerado atividade essencial ou não. (BRASIL, 1989).

Consoante dispõe Melo (2006, p. 72-73), “a comunicação poderá ser feita mediante qualquer meio legalmente permitido em direito, embora deva ser por escrito, para segurança dos interessados.” Esta comunicação, em relação à paralisação dos serviços essenciais, não é apenas referente ao empregador, mas, também, aos usuários daquele determinado serviço e, ainda, a comunicação deve ser ampla para que as pessoas possam se preparar para o início do movimento. (MELO, 2006).

Ainda segundo o autor acima citado, a necessidade de comunicação não se trata de condicionar o exercício do direito de greve, mas, sim, de divulgar o início do movimento, “pois decorre de um princípio legal moderno e internacional da publicidade.” (MELO, 2006, p. 73).

Referências

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