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3.3 DO SERVIÇO PÚBLICO

3.3.1 Dos serviços públicos considerados essenciais

3.3.1.1 Dos serviços prestados pelo Poder Judiciário

3.3.1.1.1 Dos serviços realizados pelo Poder Judiciário em regime de plantão

sobre os demais, e alguns atos processuais devem ser realizados pelo Poder Judiciário, mesmo no período de recesso forense e em dias em que não há expediente. Nestes casos, é dado andamento aos processos em regime de plantão.

O Conselho Nacional de Justiça, na Resolução nº 71, de 31 de março de 2009, traça as diretrizes sobre o regime do plantão judiciário, dispondo, inclusive, sobre quais processos e diligências se enquadram em referido regime.15

Portanto, as medidas realizadas em plantão judicial objetivam evitar ao jurisdicionado o perecimento de direito, bem como eventual dano de difícil reparação, e garantir a efetiva prestação jurisdicional em casos de urgência. Embora tais medidas não se enquadrem no conceito de “serviço essencial”, para o jurisdicionado tratam-se de atos processuais de extrema relevância.

Inclusive, o Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina (SINTRAJUSC), em sua cartilha de greve, aconselhou aos servidores para que observassem o efetivo cumprimento das medidas processuais de urgência, a fim de que o movimento paredista não fosse considerado ilegal.16

Traçadas essas considerações, pertinente se faz a análise do entendimento adotado pela doutrina brasileira e pelo STF – principalmente pós EC nº 19/1998 -, e, por fim, o estudo das recentes decisões proferidas pelos desembargadores do TRF da 4ª Região e pelos ministros do STJ.

15 Art. 1º. O Plantão Judiciário, em primeiro e segundo graus de jurisdição, conforme a previsão regimental dos

respectivos tribunais ou juízos destina-se exclusivamente ao exame das seguintes matérias: a) pedidos de habeas-corpus e mandados de segurança em que figurar como coator autoridade submetida à competência jurisdicional do magistrado plantonista; b) medida liminar em dissídio coletivo de greve; c) comunicações de prisão em flagrante e à apreciação dos pedidos de concessão de liberdade provisória; d) em caso de justificada urgência, de representação da autoridade policial ou do Ministério Público visando à decretação de prisão preventiva ou temporária; e) pedidos de busca e apreensão de pessoas, bens ou valores, desde que

objetivamente comprovada a urgência; f) medida cautelar, de natureza cível ou criminal, que não possa ser realizado no horário normal de expediente ou de caso em que da demora possa resultar risco de grave prejuízo ou de difícil reparação. g) medidas urgentes, cíveis ou criminais, da competência dos Juizados Especiais a que se referem as Leis nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 e 10.259, de 12 de julho de 2001, limitadas as

hipóteses acima enumeradas. (BRASIL, 2009a).

16 Visando respaldar uma futura discussão judicial acerca da legalidade do momento grevista, o sindicato deve

adotar os seguintes procedimentos: [...] g) buscar a definição do que sejam os ‘serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades da comunidade’ ou ‘serviços cuja paralisação resulte em prejuízo irreparável’ mantendo, os próprios grevistas, o atendimento a tais serviços. (SANTA CATARINA, 2006).

4 DIREITO DE GREVE DO SERVIDOR PÚBLICO CIVIL FEDERAL

Feito o suficiente embasamento acerca do direito de greve, bem como sobre as prerrogativas dos servidores públicos civis, de forma a auxiliar a compreensão dos direitos destes trabalhadores e do princípio constitucional previsto no artigo 37, inciso VII, da CRFB/88, buscou-se propiciar uma consistente compreensão sobre ambos os temas.

Nesta etapa, então, direciona-se este trabalho a tentar compreender de que forma o direito de greve dos servidores públicos civis é recepcionado tanto pela doutrina como pelos desembargadores do TRF da 4ª Região e pelos ministros do STJ, especificamente quanto aos servidores do Poder Judiciário Federal.

Conforme já mencionado nos capítulos anteriores, o direito de greve dos servidores públicos civis teve sua primeira previsão constitucional com o advento da CRFB/88. Seu artigo 37, inciso VII, é embasador de tal prerrogativa, pois menciona:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:[...] VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;

Entretanto, verifica-se que a Constituição de 1988, ao dispor sobre o direito de greve, limitou o seu exercício, não sendo considerado, portanto, um direito absoluto. Referida limitação gerou divergência de opiniões entre os doutrinadores e aplicadores do direito, porquanto parte destes entende que a previsão contida no artigo 37, inciso VII, da Carta Magna, trata-se de norma de eficácia limitada; sendo que para outros, nada mais é do que uma norma de eficácia contida, possibilitando o exercício imediato do direito previsto, todavia podendo sofrer limitações de uma norma regulamentadora posterior.

Nesse sentido discorre Gasparini (2012, p. 252):

Para alguns, trata-se de norma de eficácia contida, cabendo, portanto sua imediata e plena aplicação, não obstante possa ter seu alcance reduzido pela legislação infraconstitucional. Para outros, cuida-se de norma de eficácia limitada, pois sua efetividade só ocorrerá com o advento da lei reclamada.

E o grande problema encontrado hoje está justamente no fato de, até o presente momento, não ter sido editada a norma regulamentadora, o que faz com que haja muita divergência de entendimentos acerca da legitimidade do movimento paredista no serviço

público e da imposição de limites a esta garantia constitucional.

Neste capítulo, portanto, buscar-se-á, além de verificar as disposições doutrinárias específicas sobre o tema, analisar o entendimento do TRF da 4ª Região e do STJ, sobre o direito de greve aos servidores públicos civis que compõem o quadro do Poder Judiciário Federal, a fim de verificar se a garantia constitucional ao direito de greve destes trabalhadores é, de fato, reconhecida juridicamente.

4.1 UMA VISÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL SOBRE O DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS

Como o legislador constituinte determinou a edição de norma a fim de regulamentar o exercício do direito de greve no serviço público, surgiram diversas discussões sobre a possibilidade imediata de fruição desta garantia constitucional por parte dos servidores públicos civis.

Como mencionado anteriormente, há mais de uma corrente quanto ao entendimento acerca da legitimidade dos movimentos paredistas no setor público.

4.1.1 Eficácia jurídica da norma constitucional prevista no inciso VII, do artigo 37, da Constituição Federal de 1988

Com relação à eficácia jurídica do disposto no inciso VII, do artigo 37, da Constituição Federal de 1988, ensina Moraes (2012, p. 132) que:

Há uma corrente que sustenta a eficácia contida do preceito em exame. Assim sendo, é perfeitamente possível o exercício do direito antes mesmo da edição de lei complementar, sendo que após a Emenda Constitucional n. 19/98, exige-se apenas Lei Específica, sendo aplicável por analogia a Lei n. 7.783/89. E outra corrente entende que o servidor somente poderá exercer o direito de greve após editada norma infraconstitucional, ou seja, a Lei Específica mencionada na Emenda Constitucional n. 19/98.

Ainda, outros afirmam que o direito de greve no serviço público não pode ser tratado da mesma forma como no setor privado. Esta ideia parte do fato de que a prática do direito de greve no setor privado seria menos impactante. (MORAES, 2012, p. 133).

Em relação às correntes supracitadas, inicialmente parte dos juristas consideraram que o artigo 37, inciso VII, da CRFB/88 não seria autoaplicável, de modo que não se poderia falar em direito de greve no setor público. Estes consideravam a norma constitucional como

norma de eficácia limitada. (MARTINS, 2001; MEDAUAR, 2012).

O conceito de norma de eficácia limitada é elucidado por Diniz (1989, p. 104) da seguinte forma:

Certos mandamentos constitucionais são completos e plenos, por não exigirem normação subconstitucional posterior, independendo de leis complementares ou de leis ordinárias que permitam a sua aplicação imediata; outros não têm essa execução imediata, devendo ser completados por leis ulteriores. Nestes últimos, os efeitos pretendidos pelo poder constituinte só ocorrerão se houver a requerida emissão de norma jurídica ordinária ou complementar.

Nesta linha de raciocínio, Silva (1997 apud MARTINS, 2001, p. 38) declara que:

O texto constitucional não avançou senão timidamente, estabelecendo que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e limites definidos em lei complementar, o que, na prática, é quase o mesmo que recusar o direito prometido; primeiro porque, se a lei não vier, o direito inexistirá; segundo, porque, vindo, não há parâmetro para o seu conteúdo, tanto pode ser mais aberta como mais restritiva.

Ainda, indo ao encontro de tal posicionamento, Bastos (1992 apud MARTINS, 2001, p. 39) assevera que:

Embora não se desconheça o fato de que mesmo as normas demandantes de integração produzem certos efeitos, no caso não há possibilidade alguma, em nosso entender, de se invocar o preceito constitucional para legitimar greves exercidas no setor público, sobretudo na Administração centralizada. A absoluta ausência de normatividade complementar priva o preceito de eficácia. A prática da greve nesse setor torna-se necessariamente ilegal por falta de escoro jurídico.

Portanto, o exercício do direito de greve pelos servidores públicos restou, em um primeiro momento, para muitos aplicadores do direito, subordinado à edição de uma norma regulamentadora, tendo em vista o entendimento de que o inciso VII, do artigo 37, da CRFB/88, seria uma norma de eficácia limitada.

E isto se deu, principalmente, por conta do princípio da continuidade do serviço público que, conforme visto no capitulo anterior, alguns doutrinadores entendem ser o serviço público ininterrupto e sucessivo.

Mas a evolução dos movimentos paredistas no país fez com que o entendimento inicial fosse repensado. Nesse sentido, dispõe Medauar (2012, p. 315): “Várias greves de servidores vêm ocorrendo desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, sem que as autoridades administrativas se valessem da orientação jurisprudencial para instaurar processos disciplinares contra seus participantes.”

E, diante deste quadro, seria mais adequado adotar outro entendimento. Conforme o mesmo autor:

[...] buscar-se-ia, por analogia com a lei de greve do setor privado e com base nos princípios do direito administrativo, conciliar o direito de greve do servidor e a continuidade das atividades administrativas, para que a população não sofra as conseqüências da interrupção de serviços públicos, como assistência médica, ensino, transporte de qualquer tipo, fornecimento de água, energia elétrica, telefone, por exemplo. (MEDAUAR, 2012, p. 315).

Ou seja, o exercício do direito de greve dos servidores não deveria estar condicionado à edição de uma lei que lhes fosse própria, limitando tal garantia constitucional, mas, sim, aplicar uma lei específica de greve apenas no sentido de regulamentar o movimento. Esta ideia inovadora trata a disposição constitucional acerca do direito de greve no serviço público como sendo uma norma de eficácia contida, isto é, por estar prevista na CRFB/88, tal garantia já teria sido reconhecida como um direito dos servidores.

Neste diapasão, Moraes (2012, p. 138) define que, sendo considerado o inciso VII, do artigo 37, da CRFB/88 uma norma de eficácia contida, “o direito de greve poderia ser exercitado de imediato, uma vez que a legislação futura teria o condão tão-somente de restringir o campo de aplicação normativo.”

Ademais, Martins (2001, p. 41) lembra que “se se condicionar o direito de greve do servidor público à edição de lei complementar, o trabalhador será privado do referido direito.”

Magano (1991 apud MARTINS, 2001, p. 41) vai mais além, afirmando que todos os preceitos constitucionais são dotados de eficácia e, dessa forma, os servidores públicos poderiam, sim, adentrar aos movimentos paredistas de sua determinada classe.

Mello (2011, p. 286) esclarece que desde o começo seu entendimento era de que a garantia constitucional referente à greve dos servidores públicos tratava-se de norma de eficácia contida, porquanto “mesmo a falta da lei, não se lhes pode subtrair um direito constitucionalmente previsto, sob pena de se admitir que o Legislativo ordinário tem o poder de, com sua inércia até o presente, paralisar a aplicação da Lei Maior, sendo pois, mais forte que ela.” Não seria lógico, portanto, tornar sem propósito a proclamação do poder constituinte.

Ante essas mudanças, o texto original do artigo 37, inciso VII, da CRFB/88 - o qual inicialmente determinava a regulamentação do direito de greve por meio de lei complementar - foi alterado, sendo que hoje, com a nova redação dada pela EC nº 19/98,

exige, embora específica, apenas lei ordinária para tanto.17

O principal objetivo dessa alteração constitucional foi o de simplificar o processo legislativo para aprovação e edição da norma regulamentadora do direito de greve dos servidores públicos civis, porquanto o processo para a aprovação de uma lei complementar exige votação por maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, enquanto que para lei ordinária se exige maioria simples. (BRASIL, 1988).

E, assim, segundo Leite (2001 apud MORAES, 2012, p. 135), enquanto não fosse editada lei ordinária específica para regular o exercício do direito de greve no serviço público, deveria ser aplicado, por analogia, a Lei de Greve (Lei nº 7.783/89). Esse é o mesmo posicionamento adotado por Medauar (2012, p. 315), o qual enfatiza que “desde a 1ª edição deste livro constou o texto acima, no sentido de adoção do terceiro entendimento, para se invocar na greve dos servidores públicos, por analogia, a Lei 7.783/89.”

Moraes (2012, p. 136) explica que seria possível a aplicação da Lei de Greve aos servidores públicos civis, visto que se encontra em harmonia com o disposto na CRFB/88, tendo em vista a alteração realizada pela EC nº 19/1998, a qual passou a exigir apenas lei específica para regular do direito de greve no setor público.

Embora a Lei de Greve não seja especificamente voltada para regulamentar o exercício do direito de greve no serviço público, sua recepção se justifica pelo fato de que os limites de referido direito, tanto no setor privado como no público, tem relação com a natureza do serviço prestado, levando-se em consideração o princípio da supremacia do interesse público. (MORAES, 2012).

E nessa linha, Moreira Neto (1999 apud MORAES, 2012, p. 137) entende que a lei específica mencionada no inciso VII, do artigo 37, da CRFB/88, deveria apenas fazer “as necessárias distinções entre as diversas categorias de servidores públicos de modo a submeter cada uma delas a regimes diferenciados no tocante à paralisação de suas respectivas atividades.”