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O direito de greve é tido como um direito fundamental, porém este não é um direito absoluto, como acima exposto e, desse modo, sofre algumas limitações, ou seja, o sistema normativo de cada país estabelece as condições para a realização da greve para que seja considerada lícita.

A Lei nº 7.783/89, em seu artigo 3º, autoriza o exercício ao direito de greve, porém após frustrada a negociação coletiva, ou ante a impossibilidade de recurso à arbitragem e, ainda, mediante prévia notificação do empregador.5

Melo (2006, p. 70) cita as seguintes exigências de referida norma, para a greve ser considerada regular:

[...] a) convocação/realização de assembleia geral da categoria; b) cumprimento de

quorum mínimo para deliberação; c) exaurimento da negociação coletiva sobre o

conflito instaurado; d) comunicação prévia aos empresários e à comunidade (nas greves em serviços essenciais); e) manutenção em funcionamento de maquinário e equipamentos, cuja paralisação resulte prejuízo irreparável; f) atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade (nas greves em serviços essenciais); g) comportamento pacífico; h) garantia de liberdade de trabalho dos não grevistas; i) não-continuidade da paralisação após solução do conflito por acordo coletivo de trabalho, convenção coletiva ou sentença normativa.

Ante o exposto acima, é importante discorrer brevemente acerca de cada um dos requisitos supraelencados, como realizado a seguir.

5 Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação

coletiva do trabalho. Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) horas, da paralisação. (BRASIL, 1989).

2.7.1 Da assembleia geral da categoria

Conforme o artigo 4º da lei de greve, a entidade sindical deverá convocar, na forma de seu estatuto, assembleia geral para definir as reivindicações dos trabalhadores e irá definir o posicionamento da categoria quanto à paralisação dos serviços. (BRASIL, 1989).

Esse dispositivo tem por finalidade democratizar a greve, tendo em vista ser uma manifestação de vontade do proletariado e, por outro lado, legitimar o movimento, já que, embora o direito seja oriundo do trabalhador, a legitimação para ser instaurada a greve é do sindicato, consoante o disposto no inciso III, artigo 8º, da CRFB/88.

A regra, portanto, é a convocação da assembleia, no entanto tal requisito poderá ser dispensado nos casos em que há existência de risco aos trabalhadores, por conta das péssimas condições de trabalho as quais estão expostos. (MELO, 2006).

Outrossim, existem situações nas quais não existem entidades sindicais. Nestes casos, os trabalhadores interessados realizarão uma assembleia geral para deliberar sobre as reivindicações. Da mesma forma podem agir os trabalhadores de cujas reclamações o sindicato não demonstrar interesse. Os interessados podem formar uma comissão de negociação que poderá instaurar dissídio coletivo, nos termos do artigo 5º da Lei de Greve. (MARTINS, 2008).

Tal possibilidade existe para viabilizar o exercício do direito de greve por parte de alguns trabalhadores sem representação, garantindo, assim, a fruição de seu direito fundamental, constitucionalmente garantido.

2.7.2 Do quorum mínimo para as deliberações

A Lei nº 7.783/89 não dispõe sobre um quorum mínimo para as deliberações. Ao contrário do que acontecia com a Lei nº 4.330/64, que o exigia, a nova norma não reproduziu a intromissão nos assuntos dos sindicatos. (MARTINS, 2008).

Além disso, o quorum da assembleia sindical, tanto para a deflagração quanto para a paralisação do movimento paredista, está previsto nos estatutos dos sindicatos. É com base nos estatutos, também, que devem ser decididas as reivindicações dos trabalhadores. (MARTINS, 2008; MELO, 2006).

Após realizada a assembleia geral, cabem aos sindicatos encaminhar a pauta com as reivindicações e estabelecer prazo para o final das discussões a serem realizadas com a classe patronal. Isto é, antes da deflagração da greve deverá ser realizada a negociação coletiva para a solução dos conflitos, nos termos do artigo 3º da Lei de Greve.

Lembra Melo (2006, p. 72) que:

As negociações devem ser reais e não meras encenações […]. É claro que tal somente poderá ocorrer se houver mútuo empenho das partes, de maneira que, recusando-se a classe patronal a dar início ao acordo ou, respondendo simplesmente que não pode atender aos pleitos, resta configurado o pressuposto da prévia ou ‘exaustiva’ negociação, para efeito não só do cumprimento da formalidade legal, como também para ajuizamento do dissídio coletivo.

Procede-se dessa maneira, pois, do contrário, bastaria que o empregador não aceitasse as reaquisições de seus empregados, ou simplesmente, recusasse eventual negociação, impedindo os sindicatos de instaurarem o dissídio coletivo. (NASCIMENTO, 1989 apud MELO, 2006). Mas a tentativa frustrada de negociação é requisito legal para a deflagração do movimento paredista.

2.7.4 Da notificação prévia

A comunicação prévia é requisito essencial para a licitude da greve. A Lei nº 7.783/89 dispõe em seus artigos 3º, parágrafo único e 13, que a notificação aos empregadores deverá ser realizada entre 48 e 72 horas antes do início das paralisações, dependendo se o serviço for considerado atividade essencial ou não. (BRASIL, 1989).

Consoante dispõe Melo (2006, p. 72-73), “a comunicação poderá ser feita mediante qualquer meio legalmente permitido em direito, embora deva ser por escrito, para segurança dos interessados.” Esta comunicação, em relação à paralisação dos serviços essenciais, não é apenas referente ao empregador, mas, também, aos usuários daquele determinado serviço e, ainda, a comunicação deve ser ampla para que as pessoas possam se preparar para o início do movimento. (MELO, 2006).

Ainda segundo o autor acima citado, a necessidade de comunicação não se trata de condicionar o exercício do direito de greve, mas, sim, de divulgar o início do movimento, “pois decorre de um princípio legal moderno e internacional da publicidade.” (MELO, 2006, p. 73).

A OIT6 já se pronunciou no sentido de que o aviso prévio de greve não vem a

prejudicar a liberdade sindical, pois cumpre em aspecto de comunicação da existência da greve. Um dos objetivos principais do aviso prévio é de que seja evitada a greve que é deflagrada repentinamente, de surpresa, sem que o empregador ou a sociedade possa tomar as medidas de precaução necessárias.

Por fim, existem duas hipóteses em que o aviso prévio da classe patronal é dispensado: por atraso de pagamento ou na existência de riscos para os trabalhadores, devido à não observância de normas de segurança e medicina do trabalho, o que é justificável, tendo em vista a possibilidade de que o trabalhador venha a sofrer dano irreparável. (MELO, 2006).

2.7.5 Da manutenção de bens

Havendo risco de dano irreparável ao funcionamento do estabelecimento, por conta de possível deterioração de bens, máquinas e equipamentos, o artigo 9º, da Lei de Greve, determina que equipes de empregados permaneçam em atividade, inclusive para procederem à manutenção dos equipamentos necessários à retomada dos serviços paralisados. Não havendo acordo, o empregador está autorizado pela norma a contratar outros trabalhadores a fim de garantir a manutenção do maquinário. (BRASIL, 1989).

Melo (2006, p. 74) assegura que a “referida disposição legal não fere o disposto na Constituição Federal sobre o direito de greve, pois interessa também aos próprios trabalhadores a retomada normal da produção, logo após o fim da greve”, pois estes visam à manutenção dos seus postos de trabalho e a percepção de seus salários.

2.7.6 Do atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade – serviços essenciais

No entendimento de Melo (2006, p. 74-75), o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade é “um dos requisitos mais importantes para o exercício regular do direito de greve em serviços e atividades essenciais.” As atividades ligadas às necessidades inadiáveis da comunidade estão relacionadas aos serviços mínimos, pois, se não atendidos, colocam em risco a saúde ou a segurança da população. (MELO, 2006).

Ao dispor sobre serviços essenciais em sua obra, Carrion (2011, p. 624-625) ensina:

A definição dos serviços e atividades essenciais é expressamente reservada à lei pela

Constituição. O sentido estrito da expressão não permitiria a greve nos serviços cuja interrupção poderia pôr em perigo a vida e segurança ou a saúde da população. Em sentido lato, considerar-se-iam essenciais tais atividades, mas seria permitida a greve se nelas fossem respeitados certos prazos e serviços mínimos; foi o que fez a Lei n. 7.783/89.

A Lei nº 7.783/89 define quais atividades são consideradas essenciais7 e, ainda, determina que os sindicatos, empregadores e trabalhadores, mantenham o atendimento às necessidades inadiáveis da população.8

Sobre a greve nos serviços essenciais, Melo (2006, p. 59-60) lembra que “em paralelo ao direito de greve está o direito também fundamental do cidadão à sobrevivência, à saúde e à segurança. É preciso que haja harmonia entre esses direitos fundamentais.”

Assim preceitua Barros (2008, p. 1.302):

A greve, mormente nos serviços essenciais, deverá ser exercida em harmonia com os interesses da coletividade, para evitar que os direitos de grupos determinados se sobreponham ao Direito Coletivo difuso, que se refere a toda a coletividade. […] Ademais, reconhecido que a greve não é um direito absoluto, no seu exercício deverá haver restrições, mesmo porque todo o direito nasce com um limite, não sendo expressão de liberdade plena.

É necessário, portanto, o bom senso dos trabalhadores ao aderirem ao movimento grevista em atividades essenciais e, caso inexista essa preocupação com a comunidade, a greve será considerada abusiva, sem prejuízo da responsabilização dos envolvidos.

2.7.7 Do comportamento dos grevistas

Entre os requisitos supracitados, está o comportamento pacífico dos trabalhadores em greve, a fim de não torná-la abusiva. Entende-se por pacífica a greve, em que, embora haja suspensão do trabalho, não seja danificado o patrimônio da empresa, bem como seja respeitado o posicionamento de todos os trabalhadores: dos que permanecem em greve e dos que optaram em não aderir ao movimento paredista. (MELO, 2006).

7Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de água; produção e

distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo; XI compensação bancária.

8 Art. 11 Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam

obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.

Corroborando a afirmação acima, dispõe o artigo 6º, parágrafo 3º, da Lei de Greve: “As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa.”

Sobre o assunto, Melo (2006, p. 77) afirma que “a greve é um direito democrático, e, assim, deve-se respeitar a vontade de quem a ela não quer aderir.” Pode-se concluir, então, que o que realmente importa na greve é não abusar deste direito, nem do direito de permanecer fora dela.

2.7.8 Da paralisação após a solução do conflito

Segundo o artigo 14 da Lei de Greve, considera-se abusiva a manutenção do movimento paredista após acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho. O referido artigo prevê duas exceções ao disposto no caput, que seria nos casos em que a paralisação visa a exigir o cumprimento do acordo firmado, ou pela existência de novos fatos que modifiquem a relação de trabalho.9

Para Melo (2006, p. 77-78), “esses requisitos decorrem de uma lógica, qual seja, busca-se a solução do conflito para que haja harmonia e paz social entre as partes envolvidas, decorrendo, dessa forma, a paralisação do movimento.” E, continuando, o citado autor ensina:

É que as convenções coletivas se concebem como um tratado de paz social de determinada duração, em cujo período, salvo por outras razões poderosas não analisadas nas negociações coletivas, não se deve fazer nova greve. A classe patronal, ao negociar a solução do conflito, precisa de segurança para tocar sua atividade.

Portanto, é de fundamental importância a discussão em uma greve de todos os pontos necessários à melhoria das condições de trabalho de determinada categoria, para que um novo movimento não tenha que ser deflagrado, correndo, assim, o risco de ser considerado abusivo.