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Existem alguns projetos de lei, em tramitação no Senado e na Câmara dos Deputados Federais, que visam a disciplinar o direito de greve dos servidores públicos civis. Entre eles, há o Projeto de Lei do Senado nº 710, de 2011, de autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira, o qual prevê, em seu capítulo II, a possibilidade de negociação prévia à deflagração do movimento paredista.27

Ainda, o projeto acima referido dispõe que para a greve ser considerada legal, deverá, entre outros requisitos, ser demonstrado que houve tentativa de negociação entre os interessados. Além disso, um número mínimo de servidores deverá permanecer em seus postos de serviço, os usuários deverão ser informados com antecedência, assim como o superior hierárquico, e o atendimento ao público deverá ser mantido:

Art. 10. São requisitos para a deflagração da greve, que deverão ser cumpridos até o décimo quinto dia que antecede o início da paralisação: I – demonstração da realização de tentativa infrutífera de negociação coletiva e da adoção dos métodos alternativos de solução de conflitos de que trata esta Lei, obedecidas as balizas constitucionais e legais de regência e o disposto nesta Lei; II – comunicação à autoridade superior do órgão, entidade ou Poder respectivo; III – apresentação de plano de continuidade dos serviços públicos ou atividades estatais, consoante definição contida nos arts. 18 e 19 desta Lei, inclusive no que concerne ao número mínimo de servidores que permanecerão em seus postos de trabalho; IV – informação à população sobre a paralisação e as reivindicações apresentadas ao Poder Público; V – apresentação de alternativas de atendimento ao público. Parágrafo único. A greve deflagrada sem o atendimento dos requisitos previstos neste artigo é considerada ilegal.

27 Art. 5º As deliberações aprovadas em assembleia geral, com indicativo de greve, serão notificadas ao Poder

Público para que se manifeste, no prazo de trinta dias, acolhendo as reivindicações, apresentando proposta conciliatória ou fundamentando a impossibilidade de seu atendimento. [...] Art. 7º Após a notificação de que trata o art. 5º, o Poder Público instalará mesa emergencial de negociação coletiva, como espaço específico destinado ao tratamento das reivindicações dos servidores públicos. § 1º Havendo acordo integral, encerrar-se- á a negociação coletiva com a assinatura de termo de acordo pelos representantes do Poder Público e dos servidores. § 2º As cláusulas do termo de acordo abrangidas por reserva legal e por reserva de iniciativa serão encaminhadas ao titular da iniciativa da respectiva lei, para que as envie, na forma de projeto, ao Poder Legislativo, obedecidas as balizas orçamentárias e as de responsabilidade fiscal. § 3º Quando o titular da iniciativa legislativa de que trata o § 2º deste artigo for o Chefe do Poder Executivo, o projeto de lei será encaminhado em regime de urgência constitucional ao Poder Legislativo. § 4º Havendo acordo parcial, a parte consensual seguirá o previsto nos §§ 1º e 2º deste artigo e a parte controversa será submetida, se for o caso, a processos alternativos de solução de conflitos de que trata o art. 8º desta Lei, ou ao Poder Judiciário. § 5º Não havendo acordo, a matéria receberá o tratamento descrito na parte final do § 4º deste artigo.

O Projeto de Lei do Senado nº 710 de 2011, prevê, também, os efeitos da greve, os quais serão imediatos à deflagração do movimento. Os que geram maiores consequências aos servidores são os dispositivos dos incisos II e III, do artigo 13, de referido projeto. São eles:

Art. 13. São efeitos imediatos da greve: I – a suspensão coletiva, temporária, pacífica e parcial da prestação de serviço público ou de atividade estatal pelos servidores públicos; II – a suspensão do pagamento da remuneração

correspondente aos dias não trabalhados; III – a vedação à contagem dos dias não trabalhados como tempo de serviço, para quaisquer efeitos [...]. (BRASIL,

Senado Federal, 2011). (grifo nosso).

Os efeitos acima grifados, segundo o texto do projeto mencionado, poderão ser relativizados, em caso de negociação prévia nos termos do parágrafo primeiro, do artigo 13:

§ 1º Admite-se, limitado a trinta por cento do período da paralisação, a remuneração dos dias não trabalhados, bem como o seu cômputo como efetivo serviço, no caso de ter havido previsão expressa de sua compensação no termo de negociação coletiva, no termo firmado no âmbito dos procedimentos de solução alternativa do conflito, na sentença arbitral, ou na decisão judicial que tenha declarado a greve legal.

Quanto aos servidores em estágio probatório, não há discussão acerca da compensação, tendo em vista que esta é obrigatória: “Art. 13. [...] § 3º Os servidores em estágio probatório que aderirem à greve devem compensar os dias não trabalhados de forma a completar o tempo previsto na legislação.”

Em relação aos serviços considerados essenciais, estes estão elencados no artigo 17 do Projeto de Lei do Senado nº 710, de 2011. Entre eles, encontram-se previstos os serviços judiciários e do Ministério Público (art. 17, inciso XV).

Em seguida, no artigo 18 do Projeto, há previsão de que em se tratando de serviços essenciais, 60 por cento do efetivo deverá ser mantido no estado de greve, e não respeitado este percentual mínimo, a greve será considerada ilegal:

Art. 18. Durante a greve em serviços públicos ou atividades estatais essenciais, ficam as entidades sindicais ou os servidores, conforme o caso, obrigados a manter em atividade percentual mínimo de sessenta por cento do total dos servidores, com o propósito de assegurar a regular continuidade da prestação dos serviços públicos ou atividades estatais indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

[...]

Art. 20. O descumprimento dos percentuais mínimos fixados nos arts. 18 e 19 desta Lei dá ensejo à declaração da ilegalidade da greve.

de Lei do Senado nº 710, de 2011, verifica-se que há uma tentativa do legislador em ceifar, ou pelo menos, limitar exageradamente o exercício do direito de greve dos servidores públicos civis federais. É inconcebível imaginar um movimento paredista com apenas 40 por cento dos servidores; a pergunta que fica é: qual o poder de pressão deste número reduzido de trabalhadores? E, ainda, quais destes vão querer arriscar sua remuneração por um movimento fadado ao fracasso.

Em paralelo ao projeto acima, tramita na Câmara dos Deputados Federais o Projeto de Lei nº 4.497/2001, da deputada Rita Camata, o qual também tem por objetivo impor limites ao direito de greve dos servidores públicos civis. Outros dez projetos de lei de autoria de outros deputados federais também estão em tramitação na Câmara de Deputados, são eles: PL nº 5.662/2001, PL nº 6.032/2002, PL nº 6.141/2002, PL nº 6.668/2002, PL nº 6.775/2002, PL nº 1.950/2003, PL nº 981/2007, PL nº 3.670/2008, PL nº 4.276/2012 e PL nº 4.532/2012, todos apensos ao PL nº 4.497/2001.

O projeto de autoria da deputada Rita Camata pode ser considerado muito mais brando em relação ao Projeto de Lei nº 710, de 2011, do senador Aloysio Nunes Ferreira. O principal ponto divergente entre ambos os projetos é o que diz respeito à compensação dos dias paralisados e do corte de ponto.

Enquanto o Projeto de Lei nº 710 de 2011 determina a suspensão da remuneração e a vedação da contagem dos dias parados como tempo de serviço, o Projeto de Lei nº 4.497, de 2001, prevê, em seu artigo 9º, que os dias paralisados deverão, sim, ser contabilizados, sendo, inclusive, devida a remuneração pelo período no caso de compensação:

Art. 9°. Os dias de greve serão contados como de efetivo exercício para todos os efeitos, inclusive remuneratórios, desde que, após o encerramento da greve, sejam repostas as horas não trabalhadas, de acordo com cronograma estabelecido conjuntamente pela Administração e entidade sindical ou comissão de negociação a que se refere o § 2° do art. 3°.

O Projeto de Lei nº 4.497/2001 aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, enquanto o Projeto de Lei nº 710/2011 aguarda manifestação da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa. Ambos são os principais dispositivos legais sobre a regulamentação do direito de greve dos servidores públicos civis.

4.4 ESTUDO SOBRE OS ENTENDIMENTOS DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA