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HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA

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Academic year: 2019

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(1)

Comitê Científico Internacional da UNESCO para Redação da História Geral da África

HISTÓRIA GERAL

DA ÁFRICA

II

África Antiga

EDITOR GAMAL MOKHTAR

(2)

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

(3)

HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA

II

África antiga

(4)

Coleção História Geral da África da UNESCO

Volume I

Metodologia e pré-história da África

(Editor J. Ki-Zerbo)

Volume II

África antiga

(Editor G. Mokhtar)

Volume III

África do século VII ao XI

(Editor M. El Fasi)

(Editor Assistente I. Hrbek)

Volume IV

África do século XII ao XVI

(Editor D. T. Niane)

Volume V

África do século XVI ao XVIII

(Editor B. A. Ogot)

Volume VI

África do século XIX à década de 1880

(Editor J. F. A. Ajayi)

Volume VII África sob dominação colonial, 1880-1935

(Editor A. A. Boahen)

Volume VIII África desde 1935

(Editor A. A. Mazrui)

(Editor Assistente C. Wondji)

(5)

Comitê Científico Internacional da UNESCO para Redação da História Geral da África

HISTÓRIA GERAL

DA ÁFRICA

II

África antiga

EDITOR GAMAL MOKHTAR

(6)

História geral da África, II: África antiga / editado por Gamal Mokhtar. – 2.ed. rev. – Brasília : UNESCO, 2010.

1008 p.

ISBN: 978-85-7652-124-2

1. História 2. História antiga 3. História africana 4. Culturas africanas 5. Norte da África 6. Leste da África 7. Oeste da África 8. Sul da África 9. África Central 10. África

I. Mokhtar, Gamal II. UNESCO III. Brasil. Ministério da Educação IV. Universidade Federal de São Carlos

Esta versão em português é fruto de uma parceria entre a Representação da UNESCO no Brasil, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação do Brasil (Secad/MEC) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Título original: General History of Africa, II: Ancient Civilizations of Africa. Paris: UNESCO; Berkley, CA: University of California Press; London: Heinemann Educational Publishers Ltd., 1981. (Primeira edição publicada em inglês).

© UNESCO 2010 (versão em português com revisão ortográfica e revisão técnica)

Coordenação geral da edição e atualização: Valter Roberto Silvério Preparação de texto: Eduardo Roque dos Reis Falcão

Revisão técnica: Kabengele Munanga

Revisão e atualização ortográfica: Cibele Elisa Viegas Aldrovandi

Projeto gráfico e diagramação: Marcia Marques / Casa de Ideias; Edson Fogaça e Paulo Selveira / UNESCO no Brasil

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Representação no Brasil

SAUS, Quadra 5, Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andar 70070-912 – Brasília – DF – Brasil

Tel.: (55 61) 2106-3500 Fax: (55 61) 3322-4261 Site: www.unesco.org/brasilia E-mail: grupoeditorial@unesco.org.br

Ministério da Educação (MEC)

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC) Esplanada dos Ministérios, Bl. L, 2º andar

70047-900 – Brasília – DF – Brasil Tel.: (55 61) 2022-9217

Fax: (55 61) 2022-9020

Site: http://portal.mec.gov.br/index.html

Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Rodovia Washington Luis, Km 233 – SP 310 Bairro Monjolinho

13565-905 – São Carlos – SP – Brasil Tel.: (55 16) 3351-8111 (PABX) Fax: (55 16) 3361-2081

Site: http://www2.ufscar.br/home/index.php

(7)

SUMÁRIO

Apresentação ...VII Nota dos Tradutores ... IX Cronologia ... XI Lista de Figuras ...XIII Prefácio ...XXI Apresentação do Projeto ...XXVII Introdução Geral ... XXXI

Capítulo 1 Origem dos antigos egípcios ... 1

Capítulo 2 O Egito faraônico ... 37

Capítulo 3 O Egito faraônico: sociedade, economia e cultura ... 69

Capítulo 4 Relações do Egito com o resto da África ... 97

Capítulo 5 O legado do Egito faraônico ... 119

Capítulo 6 O Egito na época helenística ... 161

Capítulo 7 O Egito sob dominação romana ... 191

Capítulo 8 A importância da Núbia: um elo entre a África central e o Mediterrâneo... 213

Capítulo 9 A Núbia antes de Napata (3100 a 750 antes da Era Cristã) ... 235

(8)

VI África antiga

Capítulo 11 A civilização de Napata e Méroe ... 297

Capítulo 12 A cristianização da Núbia ... 333

Capítulo 13 A cultura pré -axumita ... 351

Capítulo 14 A civilização de Axum do século I ao século VII ... 375

Capítulo 15 Axum do século I ao século IV: economia, sistema político e cultura ... 399

Capítulo 16 Axum cristão ... 425

Capítulo 17 Os protoberberes ... 451

Capítulo 18 O período cartaginês ... 473

Capítulo 19 O período romano e pós -romano na África do Norte ... 501

PARTE I O período romano ... 501

PARTE II De Roma ao Islã ... 547

Capítulo 20 O Saara durante a Antiguidade clássica ... 561

Capítulo 21 Introdução ao fim da Pré -História na África subsaariana ... 585

Capítulo 22 A costa da África oriental e seu papel no comércio marítimo ... 607

Capítulo 23 A África oriental antes do século VII ... 627

Capítulo 24 A África ocidental antes do século VII ... 657

Capítulo 25 A África central ... 691

Capítulo 26 A África meridional: caçadores e coletores ... 713

Capítulo 27 Início da Idade do Ferro na África meridional ... 749

Capítulo 28 Madagáscar ... 773

Capítulo 29 As sociedades da África subsaariana na Idade do Ferro Antiga ... 803

Anexo Síntese do colóquio “O povoamento do antigo Egito e a decifração da escrita meroíta” ... 821

Conclusão ... 857

Membros do Comitê Científico Internacional para a Redação de uma História Geral da África... 865

Dados Biográficos dos Autores do Volume II ... 867

Abreviações e Listas de Periódicos ... 871

Referências Bibliográficas ... 879

(9)

“Outra exigência imperativa é de que a história (e a cultura) da África devem pelo menos ser vistas de dentro, não sendo medidas por réguas de valores estranhos... Mas essas conexões têm que ser analisadas nos termos de trocas mútuas, e influências multilaterais em que algo seja ouvido da contribuição africana para o desenvolvimento da espécie humana”. J. Ki-Zerbo, História Geral da África, vol. I, p. LII.

A Representação da UNESCO no Brasil e o Ministério da Educação têm a satis-fação de disponibilizar em português a Coleção da História Geral da África. Em seus oito volumes, que cobrem desde a pré-história do continente africano até sua história recente, a Coleção apresenta um amplo panorama das civilizações africanas. Com sua publicação em língua portuguesa, cumpre-se o objetivo inicial da obra de colaborar para uma nova leitura e melhor compreensão das sociedades e culturas africanas, e demons-trar a importância das contribuições da África para a história do mundo. Cumpre-se, também, o intuito de contribuir para uma disseminação, de forma ampla, e para uma visão equilibrada e objetiva do importante e valioso papel da África para a humanidade, assim como para o estreitamento dos laços históricos existentes entre o Brasil e a África.

O acesso aos registros sobre a história e cultura africanas contidos nesta Coleção se reveste de significativa importância. Apesar de passados mais de 26 anos após o lança-mento do seu primeiro volume, ainda hoje sua relevância e singularidade são mundial-mente reconhecidas, especialmundial-mente por ser uma história escrita ao longo de trinta anos por mais de 350 especialistas, sob a coordenação de um comitê científico internacional constituído por 39 intelectuais, dos quais dois terços africanos.

A imensa riqueza cultural, simbólica e tecnológica subtraída da África para o conti-nente americano criou condições para o desenvolvimento de sociedades onde elementos europeus, africanos, das populações originárias e, posteriormente, de outras regiões do mundo se combinassem de formas distintas e complexas. Apenas recentemente, tem-se considerado o papel civilizatório que os negros vindos da África detem-sempenharam na formação da sociedade brasileira. Essa compreensão, no entanto, ainda está restrita aos altos estudos acadêmicos e são poucas as fontes de acesso público para avaliar este complexo processo, considerando inclusive o ponto de vista do continente africano.

(10)

VIII África antiga

A publicação da Coleção da História Geral da África em português é também resul-tado do compromisso de ambas as instituições em combater todas as formas de desigual-dades, conforme estabelecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), especialmente no sentido de contribuir para a prevenção e eliminação de todas as formas de manifestação de discriminação étnica e racial, conforme estabelecido na Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial de 1965.

Para o Brasil, que vem fortalecendo as relações diplomáticas, a cooperação econô-mica e o intercâmbio cultural com aquele continente, essa iniciativa é mais um passo importante para a consolidação da nova agenda política. A crescente aproximação com os países da África se reflete internamente na crescente valorização do papel do negro na sociedade brasileira e na denúncia das diversas formas de racismo. O enfrentamento da desigualdade entre brancos e negros no país e a educação para as relações étnicas e raciais ganhou maior relevância com a Constituição de 1988. O reconhecimento da prática do racismo como crime é uma das expressões da decisão da sociedade brasileira de superar a herança persistente da escravidão. Recentemente, o sistema educacional recebeu a responsabilidade de promover a valorização da contribuição africana quando, por meio da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e com a aprovação da Lei 10.639 de 2003, tornou-se obrigatório o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira no currículo da educação básica.

Essa Lei é um marco histórico para a educação e a sociedade brasileira por criar, via currículo escolar, um espaço de diálogo e de aprendizagem visando estimular o conheci-mento sobre a história e cultura da África e dos africanos, a história e cultura dos negros no Brasil e as contribuições na formação da sociedade brasileira nas suas diferentes áreas: social, econômica e política. Colabora, nessa direção, para dar acesso a negros e não negros a novas possibilidades educacionais pautadas nas diferenças socioculturais presentes na formação do país. Mais ainda, contribui para o processo de conhecimento, reconhecimento e valorização da diversidade étnica e racial brasileira.

Nessa perspectiva, a UNESCO e o Ministério da Educação acreditam que esta publica-ção estimulará o necessário avanço e aprofundamento de estudos, debates e pesquisas sobre a temática, bem como a elaboração de materiais pedagógicos que subsidiem a formação inicial e continuada de professores e o seu trabalho junto aos alunos. Objetivam assim com esta edição em português da História Geral da África contribuir para uma efetiva educação das relações étnicas e raciais no país, conforme orienta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana aprovada em 2004 pelo Conselho Nacional de Educação.

Boa leitura e sejam bem-vindos ao Continente Africano.

Vincent Defourny Fernando Haddad

(11)

IX

NOTA DOS TRADUTORES

NOTA DOS TRADUTORES

A Conferência de Durban ocorreu em 2001 em um contexto mundial dife-rente daquele que motivou as duas primeiras conferências organizadas pela ONU sobre o tema da discriminação racial e do racismo: em 1978 e 1983 em Genebra, na Suíça, o alvo da condenação era o apartheid.

A conferência de Durban em 2001 tratou de um amplo leque de temas, entre os quais vale destacar a avaliação dos avanços na luta contra o racismo, na luta contra a discriminação raciale as formas correlatas de discriminação; a avaliação dos obstáculos que impedem esse avanço em seus diversos contextos; bem como a sugestão de medidas de combate às expressões de racismo e intolerâncias.

Após Durban, no caso brasileiro, um dos aspectos para o equacionamento da questão social na agenda do governo federal é a implementação de políticas públicas para a eliminação das desvantagens raciais, de que o grupo afrodescen-dente padece, e, ao mesmo tempo, a possibilidade de cumprir parte importante das recomendações da conferência para os Estados Nacionais e organismos internacionais.

(12)

X África antiga

os fatores assinalados para a explicação da pouca institucionalização da lei estava a falta de materiais de referência e didáticos voltados à História de África.

Por outra parte, no que diz respeito aos manuais e estudos disponíveis sobre a História da África, havia um certo consenso em afirmar que durante muito tempo, e ainda hoje, a maior parte deles apresenta uma imagem racializada e eurocêntrica do continente africano, desfigurando e desumanizando especial-mente sua história, uma história quase inexistente para muitos até a chegada dos europeus e do colonialismo no século XIX.

Rompendo com essa visão, a História Geral da África publicada pela UNESCO é uma obra coletiva cujo objetivo é a melhor compreensão das sociedades e cul-turas africanas e demonstrar a importância das contribuições da África para a história do mundo. Ela nasceu da demanda feita à UNESCO pelas novas nações africanas recém-independentes, que viam a importância de contar com uma his-tória da África que oferecesse uma visão abrangente e completa do continente, para além das leituras e compreensões convencionais. Em 1964, a UNESCO assumiu o compromisso da preparação e publicação da História Geral da África. Uma das suas características mais relevantes é que ela permite compreender a evolução histórica dos povos africanos em sua relação com os outros povos. Contudo, até os dias de hoje, o uso da História Geral da África tem se limitado sobretudo a um grupo restrito de historiadores e especialistas e tem sido menos usada pelos professores/as e estudantes. No caso brasileiro, um dos motivos desta limitação era a ausência de uma tradução do conjunto dos volumes que compõem a obra em língua portuguesa.

(13)

Na apresentação das datas da pré -história convencionou -se adotar dois tipos de notação, com base nos seguintes critérios:

• Tomando como ponto de partida a época atual, isto é, datas B.P. (before present), tendo como referência o ano de + 1950; nesse caso, as datas são todas negativas em relação a + 1950.

• Usando como referencial o início da Era Cristã; nesse caso, as datas são simplesmente precedidas dos sinais - ou +. No que diz respeito aos séculos, as menções “antes de Cristo” e “depois de Cristo” são substituídas por “antes da Era Cristã”, “da Era Cristã”.

Exemplos:

(i) 2300 B.P. = -350 (ii) 2900 a.C. = -2900 1800 d.C. = +1800

(iii) século V a.C. = século V antes da Era Cristã século III d.C. = século III da Era Cristã

(14)

XIII

Lista de Figuras

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 O Nilo, fotografado por um satélite Landsat em órbita a 920 km da

Terra ... XXXVII Figura 2 A Pedra de Palermo. ... XLI Figura 3 O Papiro de Turim ...XLII Figura 4 Cheias sazonais do Nilo ... XLVII Figura 5 A Paleta em xisto de Narmer, I dinastia, face anterior e posterior ...LII Figura 6 Estátua do escriba sentado, Knubaf ...LVIII Figura 1.1 Representação proto -histórica de Tera -Neter, um nobre negro da raça dos

Anu, primeiros habitantes do Egito ... 7

Figura 1.2 Estatuetas pré -dinásticas ... 7

Figura 1.3 Cabo da faca de Djebel el -Arak, Pré -Dinástico Tardio ... 14

Figura 1.4 Cativos semitas do tempo dos faraós. Rocha do Sinai ...14

Figura 1.5 Cativos indo -europeus ... 15

Figura 1.6 Cativo indo -europeu ... 15

Figura 1.7 Quéops, faraó da IV dinastia, construtor da Grande Pirâmide ... 19

Figura 1.8 Faraó Mentuhotep I ... 20

Figura 1.9 Ramsés II e um Batutsi moderno ... 23

Figura 1.10 A Esfinge, tal como foi encontrada pela primeira missão científica francesa no século XIX ... 23

Figuras 1.11, 1.12, 1.13 e 1.14 Quatro tipos indo -europeus ... 24

Figura 1.15 Dois semitas ... 24

(15)

XIV África antiga

Figura 1.17 Fechadura de porta, de Hieracâmpolis. I dinastia egípcia ... 28

Figura 1.18 Prisioneiro líbio ... 28

Figura 1.19 Um faraó da I dinastia egípcia ... 29

Figura 1. 20 Zoser, típico negro, faraó da III dinastia ... 29

Figura 2.1 O Nilo, da Terceira Catarata até o Mediterrâneo ... 40

Figura 2.2 Cronologia da história egípcia ... 41

Figura 2.3 Tesouro de Tutancâmon. Anúbis na entrada do tesouro ... 44

Figura 2.4 Quéfren ... 49

Figura 2.5 Rainha Hatshepsut sentada... 59

Figura 2.6 Aquenáton diante do Sol ... 61

Figura 2.7 Tesouro de Tutancâmon ... 64

Figura 2.8 Howard Carter, o arqueólogo que descobriu o túmulo de Tutancâmon ... 64

Figura 3.1 Empilhamento do feno ... 71

Figura 3.2 Colheita ... 71

Figura 3.3 Caça ao hipopótamo ... 73

Figura 3.4 Pesca com rede ... 73

Figura 3.5 Abastecimento dos celeiros (desenho) ... 80

Figura 3.6 Prestação de contas ... 80

Figura 3.7 Tributo de prisioneiros líbios do Antigo Império ... 85

Figura 3.8 Séti I matando um chefe líbio. ... 85

Figura 3.9 Vindima e espre medura ... 90

Figura 4.1 O Chifre da África e as regiões vizinhas na Antiguidade ... 100

Figura 4.2 Pelicanos domesticados ... 103

Figura 4.3 Operações navais ... 103

Figura 4.4 Tributo núbio de Rekhmira. ... 109

Figura 4.5 Habitações do reino de Punt. ... 114

Figura 4.6 Tributo de Punt. ... 114

Figura 5.1 Fabricação de tijolos ... 122

Figura 5.2 Fabricação de vasos de metal ... 125

Figura 5.3 Fabricação da cerveja. Antigo Império ... 128

Figura 5.4 Modelo de uma oficina de tecelagem. XII dinastia, c. - 2000 ... 128

Figura 5.5 Marceneiros trabalhando... 129

Figura 5.6 Colunas protodóricas de Deir el -Bahari ... 132

Figura 5.7 As pirâmides de Snefru, no Dachur ... 132

Figura 5.8 Carnac: câmara do barco de Âmon ... 134

Figura 5.9 Gisé: câmara do barco de Quéops. ... 134

Figura 5.10 Ramsés II (técnica dos fluidos) ... 136

Figura 5.11 e 5.12 Vista parcial de Mirgissa, fortaleza militar construída há aproximadamente 4 mil anos ... 145

(16)

XV

Lista de Figuras

Figura 5.14 e 5.15 Mirgissa: Rampa para barcos. ... 148

Figura 5.16 Um jardim egípcio ... 149

Figura 5.17 Urbanismo: planta da cidade de Illahun (Kahun) ... 149

Figura 5.18 Mirgissa ... 151

Figura 5.19 Mirgissa ... 151

Figura 5.20 Mirgissa, Muralha externa ... 153

Figura 5.21 Mirgissa. Muralha setentrional ... 153

Figura 5.22 Mirgissa. Casa particular ... 155

Figura 5.23 Modelo de uma casa do Médio Império ... 155

Figura 5.24 A deusa Hátor ... 157

Figura 6.1 Relevo representando a deusa Ísis com o filho Harpócrates em segundo plano. ... 167

Figura 6.2 Cabeça de Alexandre, o Grande. ... 170

Figura 6.3 O Farol de Alexandria. ... 173

Figura 6.4 O mundo segundo Heródoto e Hecateu ... 179

Figura 6.5 Ulisses fugindo de Polifemo, escondido sob o ventre de um carneiro. ... 182

Figura 6.6 Pintura do túmulo de Anfushi, Alexandria ... 182

Figura 6.7 Fragmento de um balsamário em bronze ... 184

Figura 6.8 Cabeça grotesca ... 184

Figura 6.9 Estatueta (fragmento): “acendedor de candeeiro” negro, caminhando, vestindo uma túnica e carregando uma pequena escada no braço esquerdo (faltam o braço direito e os pés) ... 184

Figura 6.10 Cleópatra VII ... 188

Figura 7.1 Cabeça de tetrarca ... 194

Figura 7.2 Cabeça de Vespasiano ... 199

Figura 7.3 Termas romanas e hipocausto ... 201

Figura 7.4 O corredor que circunda o teatro romano ... 201

Figura 7.5 Estatueta de um gladiador negro em pé, vestindo uma túnica, couraça e elmo, armado de escudo e adaga ... 204

Figura 7.6 Estatueta de um soldado negro em pé, empunhando um machado duplo ... 204

Figura 7.7 Ladrilho de cerâmica: negro ajoelhado, soprando um instrumento musical ... 204

Figura 7.8 Pintura de Baouit ... 211

Figura 7.9 Mosteiro de Mari -Mina. ... 211

Figura 8.1 O vale do Nilo e o Corredor Núbio ... 214

Figura 8.2 A Núbia antiga... 216

Figura 8.3 A Alta Núbia sudanesa ... 217

Figura 8.4 Monumentos núbios de Filas em reconstrução na ilha vizinha de Agilkia ... 220

Figura 8.5 O templo de Ísis em reconstrução em Agilkia ... 220

Figura 9.1 A Núbia e o Egito ... 237

(17)

XVI África antiga

Figura 9.3 Inscrição do rei Djer em Djebel Sheikh Suliman ... 239

Figura 9.4 Tipos de cerâmica do Grupo A ... 239

Figura 9.5 Sepulturas típicas do Grupo C ... 244

Figura 9.6 Tipos de cerâmica do Grupo C ... 244

Figura 9.7 A Núbia, 1580 antes da Era Cristã ... 247

Figura 9.8 As fortificações ocidentais de uma fortaleza do Médio Império em Buhen ... 249

Figuras 9.9, 9.10 e 9.11 Cerâmica de Kerma ... 251

Figuras 9.12 e 9.13 Cerâmica de Kerma ... 253

Figura 9.14 Kerma: o Dufufa do Leste, com uma sepultura no primeiro plano ... 255

Figura 9.15 Sepultura de Kerma ... 255

Figuras 9.16 e 9.17 Cerâmica de Kerma ... 258

Figura 9.18 Ornamentos pessoais... 260

Figura 9.19 Cerâmica de Kerma ... 260

Figura 9.20 A Núbia durante o Novo Império ... 262

Figura 9.21 O templo de Amenófis III em Soleb ... 265

Figuras 9.22 e 9.23 Tipos de sepulturas do Novo Império. ... 270

Figura 10.1 Saqia ... 279

Figura 10.2 Estátua do rei Aspelta, em granito negro da Etiópia ... 281

Figura 10.3 Detalhe (busto) ... 281

Figura 10.4 A rainha Amanishaketo: relevo da pirâmide Beg N6 de Méroe ... 287

Figura 10.5 Artigo de vidro azul pintado, de Sedinga ... 291

Figura 10.6 Coroa de Ballana ... 291

Figura 10.7 Sítios meroítas ... 293

Figura 11.1 Carneiro de granito em Naga ... 301

Figura 11.2 Pirâmide do rei Natakamani em Méroe, com ruínas de capela e pilono em primeiro plano ... 301

Figura 11.3 Placa de arenito representando o príncipe Arikankharor massacrando seus inimigos (possivelmente do século II da Era Cristã) ... 307

Figura 11.4 Rei Arnekhamani (templo dos leões em Mussawarat es -Sufra) ... 307

Figura 11.5 Recipientes de bronze originários de Méroe ... 315

Figura 11.6 Várias peças de cerâmica meroíta ... 321

Figura 11.7 Joias de ouro da rainha Amanishaketo (-41 a -12) ... 323

Figura 11.8 O deus Apedemak conduzindo outros deuses meroítas ... 329

Figura 11.9 O deus meroíta Sebiumeker (templo dos leões em Mussawarat es -Sufra) ... 329

Figura 12.1 O Nilo da Primeira à Sexta Catarata ... 335

Figura 12.2 Arcadas da fachada leste da igreja de Qasr Ibrim ... 337

Figura 12.3 Catedral de Faras ... 337

Figura 12.4 Planta geral do sítio no interior das muralhas... 343

Figura 12.5 Edifícios cristãos descobertos pela expedição polonesa (1961 -1964) ... 343

(18)

XVII

Lista de Figuras

Figura 12.7 Faras: verga de porta decorada do início da Era Cristã (segunda metade do

século VI ou início do século VII) ... 345

Figura 12.8 Fragmento de um friso decorativo em arenito do abside da catedral de Faras (primeira metade do século VII)... 347

Figura 12.9 Faras: Capitel de arenito (primeira metade do século VII) ... 347

Figura 12.10 Janela em terracota da Igreja das Colunas de Granito na Velha Dongola, Sudão (fim do século VII) ... 348

Figura 12.11 Cerâmica da Núbia cristã ... 348

Figura 13.1 A Etiópia no período sul -arábico ... 353

Figura 13.2 O “trono” ou “naos” de Haúlti ... 356

Figura 13.3 Estátua de Haúlti ... 358

Figura 13.4 Altar de incenso em Addi Galamo ... 358

Figura 13. 5 A Etiópia no período pré -axumita intermediário ... 369

Figura 13.6 Touro em bronze, Mahabere Dyogwe ... 373

Figuras 13.7, 13.8 e 13.9 Marcas de identidade em bronze de Yeha, em forma de pássaro, de leão e de ca brito montês ... 373

Figura 14.1 Fotografia aérea de Axum. (Foto Instituto Etíope de Arqueologia.) ... 378

Figura 14.2 Leoa esculpida na parte lateral de uma rocha, período axumita ... 384

Figura 14.3 Matara: alicerce de um edifício axumita... 384

Figura 14.4 Base de um trono ... 390

Figura 14.5 Matara: inscrição do século II da Era Cristã ... 390

Figura 14.6 Gargalo de jarro ... 393

Figura 14.7 Incensório de estilo alexandrino ... 393

Figura 14.8 Presa de elefante ... 393

Figura 15.1 Mapa da expansão axumita ... 402

Figura 15.2 Moeda de ouro do rei Endybis (século III da Era Cristã) ... 407

Figura 15.3 Moeda de ouro do reino de Ousanas ... 407

Figura 15.4 Inscrição grega de Ezana (século IV) ... 416

Figura 15.5 Inscrição em caracteres pseudo -sabeanos de Wa’Zaba (século VI) ... 422

Figura 16.1 O bispo Frumêncio, o rei Abraha (Ezana) e seu irmão Atsbaha, igreja de Abraba we Atsbaha (século XVII) ... 433

Figura 16.2 Debre -Damo visto a distância. ... 437

Figura 16.3 O acesso ao convento em Debre -Damo. ... 437

Figura 16.4 Pintura da igreja de Goh: os Apóstolos (século XV) ... 440

Figura 16.5 Igreja de Abba Aregawi em Debre -Damo ... 449

Figura 16.6 Chantres inclinando -se religiosamente ... 449

Figura 17.1 Crânio de Columnata ... 455

Figura 17.2 Homem de Champlain: crânio ibero -maurusiense ... 457

Figura 17.3 Crânio de homem capsiense ... 457

Figura 17.4 Leões de Kbor Roumia ... 468

(19)

XVIII África antiga

Figura 19.1 As províncias romanas da África do Norte no final do século II da Era

Cristã... 503

Figura 19.2 Timgad (antiga Thamugadi, Argélia): Avenida e Arco de Trajano ... 505

Figura 19.3 Mactar (antiga Mactaris, Tunísia): Arco de Trajano, entrada do fórum ... 505

Figura 19.4 As províncias romanas da África do Norte no final do século IV da Era Cristã... 511

Figura 19.5 O aqueduto de Chercell (Argélia) ... 520

Figura 19.6 Sabrata (Líbia): Frons scaenae do teatro romano ... 520

Figura 19.7 Mosaico de Susa: Virgílio escrevendo a “Eneida” ... 529

Figura 19.8 Djemila (antiga Cuicul, Argélia): centro da cidade ... 535

Figura 19.9 Lebda (antiga Leptis Magna, Líbia): trabalhos em curso no anfiteatro romano ... 535

Figura 19.10 Mosaico de Chebba: Triunfo de Netuno ... 539

Figura 19.11 Trípoli (antiga Oea, Líbia): Arco do Triunfo de Marco Aurélio ... 543

Figura 19.12 Timgad (Argélia): Fortaleza bizantina, século VI ... 555

Figura 19.13 e 19.14 Haidra (Tunísia): Fortaleza bizantina, século VI. Detalhe e vista geral ... 557

Figura 19.15 Sbeitla (Tunísia): Prensa de azeite instalada numa antiga rua da cidade romana (séculos VI a VII) ... 559

Figura 19.16 Djedar de Ternaten, perto de Frenda (Argélia): Câmara funerária, século VI. ... 559

Figura 20.1 Esqueleto da “rainha Tin Hinan” ... 572

Figura 20.2 Bracelete de ouro da “rainha Tin Hinan” ... 572

Figura 20.3 O túmulo da “rainha Tin Hinan” em Abalessa... 575

Figura 20.4 Tipos “garamantes” num mosaico romano de Zliten, Tripolitânia ... 579

Figuras 20.5 e 20.6 A avaliação da idade das pinturas rupestres baseia -se em critérios de estilo e de pátina ... 581

Figura 21.1 Hipóteses da origem dos Bantu e do início da metalurgia do ferro ... 587

Figura 21.2 Jazidas de cobre e rotas de caravana através do Saara ... 599

Figura 23.1 África oriental: mapa político e mapa indicativo da distribuição de línguas e povos ... 629

Figura 23.2 Agrupamentos de línguas africanas ocidentais e suas relações de parentesco. .. 642

Figura 24.1 África ocidental: sítios pré -históricos importantes ... 663

Figura 24.2 Saara: mapa do relevo ... 664

Figura 24.3 Complexo do vale de Tilemsi... 667

Figura 24.4 Região de Tichitt ... 670

Figura 24.5 Montículos de detritos do Firki ... 685

Figura 25.1 Mapa da África central com a indicação dos lugares mencionados no texto. ... 692

Figura 25.2 Mapa da África Central com a indicação das regiões de ocupação “neolítica” e da “Idade do Ferro Antiga” ... 695

(20)

XIX

Lista de Figuras

Figura 25.4 Objetos encontrados no sítio de Batalimo, no sul de Bangui

(República Centro -Africana) ... 703

Figura 25.5 Objetos encontrados em Sanga ... 705

Figura 26.1 Pintura rupestre: mulheres com bastões de cavar lastreados por pedras perfuradas ... 723

Figura 26.2 Grupo de homens com arcos, flechas e aljavas ... 723

Figura 26.3 Cena de pesca de Tsoelike, Lesoto ... 723

Figura 26.4 Grupo de caçadores em sua caverna, cercados por uma série de bastões de cavar, bolsas, aljavas e arcos... 729

Figura 26.5 Grande grupo de figuras, a maioria delas visivelmente masculinas, provavelmente numa cena de dança ... 729

Figura 26.6 Os encontros ocasionais de grupos são assinalados muito mais pelo conflito do que pela cooperação ... 729

Figura 26.7 Mapa da África meridional mostrando a distribuição de sítios da Idade da Pedra Recente ... 737

Figura 26.8 As mais antigas datas conhecidas para o aparecimento da cerâmica e dos animais domésticos nos contextos da Idade da Pedra Recente na África austral ... 738

Figura 26.9 Rebanho de carneiros de cauda grossa ... 742

Figura 26.10 Galeão pintado nas montanhas do Cabo ocidental ... 742

Figura 26.11 Carroças, cavalos e trekkers (migrantes) observados quando se dirigiam para as pastagens entre montanhas do Cabo ocidental no princípio do século XVIII da Era Cristã ... 747

Figura 26.12 Grupo de pequenos ladrões de gado armados com arcos e flechas, defendendo sua presa contra figuras maiores munidas de escudos e lanças ... 747

Figura 27.1 África meridional: sítios da Idade do Ferro Antiga e sítios conexos mencionados no texto ... 751

Figura 27.2 África meridional: sítios. ... 753

Figura 27.3 Cerâmica de Mabveni e de Dambwa ... 758

Figura 27.4 Cerâmica da Idade do Ferro Antiga proveniente de Twickenham Road e de Kalundu ... 758

Figura 28.1 Madagáscar: lugares citados no texto ... 775

Figura 28.2 Madagáscar: sítios importantes ... 777

Figura 28.3 Aldeia de Andavadoaka no sudoeste ... 780

Figura 28.4 Cemitério de Ambohimalaza (Imerina) ... 780

Figura 28.5 Porta antiga de Miandrivahiny Ambohimanga, Imerina ... 784

Figura 28.6 Canoa de pesca vezo de tipo indonésio, com balancim ... 788

Figura 28.7 Fole de forja com duplo pistão do tipo encontrado na Indonésia ... 788

Figura 28.8 Cemitério de Marovoay, perto de Morondava. ... 791

Figura 28.9 Estátua de Antsary: arte antanosy das proximidades de Fort -Dauphin ... 791

(21)

XX África antiga

Figura 28.11 Caldeirão de pedra, civilização de Vohemar ... 795 Figura 28.12 Arrozais em terraços nas proximidades de Ambositra, semelhantes aos

de Luzón, nas Filipinas ... 799 Figura 28.13 Exercício de geomancia: extremo sul... 799 Figura 28.14 Túmulo antalaotse em Antsoheribory ... 801 Figura 28.15 Cerâmicas de Kingany e de Rasoky (século XV). Anzóis de Takaly

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XXI

Prefácio

PREFÁCIO

por

M. Amadou - Mahtar M’Bow,

Diretor Geral da UNESCO (1974-1987)

Durante muito tempo, mitos e preconceitos de toda espécie esconderam do mundo a real história da África. As sociedades africanas passavam por socie-dades que não podiam ter história. Apesar de importantes trabalhos efetuados desde as primeiras décadas do século XX por pioneiros como Leo Frobenius, Maurice Delafosse e Arturo Labriola, um grande número de especialistas não africanos, ligados a certos postulados, sustentavam que essas sociedades não podiam ser objeto de um estudo científico, notadamente por falta de fontes e documentos escritos.

Se a Ilíada e a Odisseia podiam ser devidamente consideradas como fontes essenciais da história da Grécia antiga, em contrapartida, negava-se todo valor à tradição oral africana, essa memória dos povos que fornece, em suas vidas, a trama de tantos acontecimentos marcantes. Ao escrever a história de grande parte da África, recorria-se somente a fontes externas à África, oferecendo uma visão não do que poderia ser o percurso dos povos africanos, mas daquilo que se pensava que ele deveria ser. Tomando frequentemente a“Idade Média” europeia como ponto de referência, os modos de produção, as relações sociais tanto quanto as instituições políticas não eram percebidos senão em referência ao passado da Europa.

(23)

XXII África antiga

vias que lhes são próprias e que o historiador só pode apreender renunciando a certos preconceitos e renovando seu método.

Da mesma forma, o continente africano quase nunca era considerado como uma entidade histórica. Em contrário, enfatizava-se tudo o que pudesse refor-çar a ideia de uma cisão que teria existido, desde sempre, entre uma “África branca” e uma “África negra” que se ignoravamreciprocamente. Apresentava-se frequentemente o Saara como um espaço impenetrável que tornaria impossíveis misturas entre etnias e povos, bem como trocas de bens, crenças, hábitos e ideias entre as sociedades constituídas de um lado e de outro do deserto. Traçavam-se fronteiras intransponíveis entre as civilizações do antigo Egito e da Núbia e aquelas dos povos subsaarianos.

Certamente, a história da África norte-saariana esteve antes ligada àquela da bacia mediterrânea, muito mais que a história da África subsaariana mas, nos dias atuais, é amplamente reconhecido que as civilizações do continente africano, pela sua variedade linguística e cultural, formam em graus variados as vertentes históricas de um conjunto de povos e sociedades, unidos por laços seculares.

Um outro fenômeno que grandes danos causou ao estudo objetivo do passado africano foi oaparecimento, com o tráfico negreiro e a colonização, de estereótipos raciais criadoresde desprezo e incompreensão, tão profundamente consolidados que corromperam inclusive os próprios conceitos da historiografia. Desde que foram empregadas as noções de “brancos” e “negros”, para nomear genericamente os colonizadores, considerados superiores, e os colonizados, os africanos foram levados a lutar contra uma dupla servidão, econômica e psicológica. Marcado pela pigmentação de sua pele, transformado em uma mercadoria entre outras, e destinado ao trabalho forçado, o africanoveio a simbolizar, na consciência de seus dominadores, uma essência racial imaginária e ilusoriamente inferior: a de

negro. Este processo de falsa identificação depreciou a história dos povos africanos no espírito de muitos, rebaixando-a a uma etno-história, em cuja apreciação das realidades históricas e culturais não podia sersenão falseada.

(24)

XXIII

Prefácio

É nesse contexto que emerge a importância da História Geral da África, em oito volumes, cuja publicação a Unesco começou.

Os especialistas de numerosos países que se empenharam nessa obra, pre-ocuparam-se, primeiramente, em estabelecer-lhe os fundamentos teóricos e metodológicos. Eles tiveram o cuidado em questionar as simplificações abusivas criadas por uma concepção linear e limitativa da história universal, bem como em restabelecer a verdade dos fatos sempre que necessário e possível. Eles esfor-çaram-se para extrair os dados históricos que permitissem melhor acompanhar a evolução dos diferentes povos africanos em sua especificidade sociocultural.

Nessa tarefa imensa, complexa e árdua em vista da diversidade de fontes e da dispersão dos documentos, a UNESCO procedeu por etapas. A primeira fase (1965-1969) consistiu em trabalhos de documentação e de planificação da obra. Atividades operacionais foram conduzidas in loco, através de pesquisas de campo: campanhas de coleta da tradição oral, criação de centros regionais de documentação para a tradição oral, coleta de manuscritos inéditos em árabe e ajami (línguas africanas escritas em caracteres árabes), compilação de inventários de arquivos e preparação de um Guia das fontes da história da África, publicado posteriormente, em nove volumes, a partir dos arquivos e bibliotecas dos países da Europa. Por outro lado, foram organizados encontros, entre especialistas africanos e de outros continentes, durante os quais se discutiuquestões meto-dológicas e traçou-se as grandes linhas do projeto, após atencioso exame das fontes disponíveis.

Uma segunda etapa (1969 a 1971) foi consagrada ao detalhamento e à articu-lação do conjunto da obra. Durante esse período, realizaram-se reuniões interna-cionais de especialistas em Paris (1969) e Addis-Abeba (1970), com o propósito de examinar e detalhar os problemas relativos à redação e à publicação da obra: apresentação em oito volumes, edição principal em inglês, francês e árabe, assim como traduções para línguas africanas, tais como o kiswahili, o hawsa, o peul, o yoruba ou o lingala. Igualmente estão previstas traduções para o alemão, russo, português, espanhol e chinês1

,

além de edições resumidas, destinadas a um

público mais amplo, tanto africano quanto internacional.

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XXIV África antiga

A terceira e última fase constituiu-se na redação e na publicação do trabalho. Ela começou pela nomeação de um Comitê Científico Internacional de trinta e nove membros, composto por africanos e não africanos, na respectiva proporção de dois terços e um terço, a quem incumbiu-se a responsabilidade intelectual pela obra.

Interdisciplinar, o método seguido caracterizou-se tanto pela pluralidade de abordagens teóricas quanto de fontes. Dentre essas últimas, é preciso citar primeiramente a arqueologia, detentora de grande parte das chaves da história das culturas e das civilizações africanas. Graças a ela, admite-se, nos dias atuais, reconhecer que a África foi, com toda probabilidade, o berço da humanidade, palco de uma das primeiras revoluções tecnológicas da história, ocorrida no período Neolítico. A arqueologia igualmente mostrou que, na África, especifi-camente no Egito, desenvolveu-se uma das antigas civilizações mais brilhantes do mundo. Outra fonte digna de nota é a tradição oral que, até recentemente desconhecida, aparece hoje como uma preciosa fonte para a reconstituição da história da África, permitindo seguir o percurso de seus diferentes povos no tempo e no espaço, compreender, a partir de seu interior, a visão africana do mundo, e apreender os traços originais dos valores que fundam as culturas e as instituições do continente.

Saber-se-á reconhecer o mérito do Comitê Científico Internacional encarre-gado dessa História geral da África, de seu relator, bem como de seus coordena-dores e autores dos diferentes volumes e capítulos, por terem lançado uma luz original sobre o passado da África, abraçado em sua totalidade, evitando todo dogmatismo no estudo de questões essenciais, tais como: o tráfico negreiro, essa “sangria sem fim”, responsável por umas das deportações mais cruéis da história dos povos eque despojou o continente de uma parte de suas forças vivas, no momento em que esse último desempenhava um papel determinante no pro-gresso econômico e comercial da Europa; a colonização, com todas suas conse-quências nos âmbitos demográfico, econômico, psicológico e cultural; as relações entre a África ao sul do Saara e o mundo árabe; o processo de descolonização e de construção nacional, mobilizador da razão e da paixão de pessoas ainda vivas e muitas vezes em plena atividade. Todas essas questões foram abordadas com grande preocupação quanto à honestidade e ao rigor científico, o que constitui um mérito não desprezível da presente obra. Ao fazer o balanço de nossos conhecimentos sobre a África, propondo diversas perspectivas sobre as culturas africanas e oferecendo uma nova leitura da história, a História geral da África

(26)

XXV

Prefácio

Ao demonstrar a insuficiência dos enfoques metodológicos amiúde utiliza-dos na pesquisa sobre a África, essa nova publicação convida à renovação e ao aprofundamento de uma dupla problemática, da historiografia e da identidade cultural, unidas por laços de reciprocidade. Ela inaugura a via, como todo tra-balho histórico de valor, para múltiplas novas pesquisas.

É assim que, em estreita colaboração com a UNESCO, o Comitê Científico Internacional decidiu empreender estudos complementares com o intuito de aprofundar algumas questões que permitirão uma visão mais clara sobre certos aspectos do passado da África. Esses trabalhos, publicados na coleção UNESCO – História geral da África: estudos e documentos, virão a constituir, de modo útil, um suplemento à presente obra2. Igualmente, tal esforço desdobrar-se-á na

elaboração de publicações versando sobre a história nacional ou sub-regional. Essa História geral da África coloca simultaneamente em foco a unidade his-tórica da África e suas relações com os outros continentes, especialmente com as Américas e o Caribe. Por muito tempo, as expressões da criatividade dos afro-descendentes nas Américas haviam sido isoladas por certos historiadores em um agregado heteróclito de africanismos; essa visão, obviamente, não corresponde àquela dos autores da presente obra. Aqui, a resistência dos escravos deportados para a América, o fato tocanteao marronage [fuga ou clandestinidade] político e cultural, a participação constante e massiva dos afrodescendentes nas lutas da primeira independência americana, bem como nos movimentos nacionais de libertação, esses fatos são justamente apreciados pelo que eles realmente foram: vigorosas afirmações de identidade que contribuíram para forjar o conceito universal de humanidade. É hoje evidente que a herança africana marcou, em maior ou menor grau, segundo as regiões, as maneiras de sentir, pensar, sonhar e agir de certas nações do hemisfério ocidental. Do sul dos Estados Unidos ao norte do Brasil, passando pelo Caribe e pela costa do Pacífico, as contribuições culturais herdadas da África são visíveispor toda parte; em certos casos, inclu-sive, elas constituem os fundamentos essenciais da identidade cultural de alguns dos elementos maisimportantes da população.

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XXVI África antiga

Igualmente, essa obra faz aparecerem nitidamente as relações da África com o sul da Ásia através do Oceano Índico, além de evidenciar as contribuições africanas junto a outras civilizações em seu jogo de trocas mútuas.

Estou convencido de que os esforços dos povos da África para conquistar ou reforçar sua independência, assegurar seu desenvolvimento e consolidar suas especificidades culturais devem enraizar-se em uma consciência histórica reno-vada, intensamente vivida e assumida de geração em geração.

Minha formação pessoal, a experiência adquirida como professor e, desde os primórdios da independência, como presidente da primeira comissão criada com vistas à reforma dos programas de ensino de história e de geografia de certos países da África Ocidental e Central, ensinaram-me o quanto era neces-sário, para a educação da juventude e para a informação dopúblico, uma obra de história elaborada por pesquisadores que conhecessem desde o seu interior os problemas e as esperanças da África, pensadores capazes de considerar o continente em sua totalidade.

Por todas essas razões, a UNESCO zelará para que essa História Geral da África seja amplamente difundida, em numerosos idiomas, e constitua base da elaboração de livros infantis, manuais escolares e emissões televisivas ou radiofônicas. Dessa forma, jovens, escolares, estudantes e adultos, da África e de outras partes, poderão ter uma melhor visão do passado do continente africano e dos fatores que o explicam, além de lhes oferecer uma compreensão mais precisa acerca de seu patrimônio cultural e de sua contribuição ao pro-gresso geral da humanidade. Essa obra deverá então contribuir para favorecer a cooperação internacional e reforçar a solidariedade entre os povos em suas aspirações por justiça, progresso e paz. Pelo menos, esse é o voto que manifesto muito sinceramente.

(28)

APRESENTAÇÃO DO PROJETO

pelo Professor

Bethwell Allan Ogot

Presidente do Comitê Científico Internacional

para a redação de uma História Geral da África

A Conferência Geral da UNESCO, em sua décima sexta sessão, solicitou ao Diretor -geralque empreendesse a redação de uma História Geral da África. Esse considerável trabalho foi confiado a um Comitê Científico Internacional criado pelo Conselho Executivo em 1970.

Segundo os termos dos estatutos adotados pelo Conselho Executivo da UNESCO, em 1971, esse Comitê compõe -se de trinta e nove membros res-ponsáveis (dentre os quais dois terços africanos e um terço de não africanos), nomeados pelo Diretor -geral da UNESCO por um período correspondente à duração do mandato do Comitê.

A primeira tarefa do Comitê consistiu em definir as principais características da obra. Ele definiu -as em sua primeira sessão, nos seguintes termos:

• Em que pese visar a maior qualidade científica possível, a História Geral da África não busca a exaustão e se pretende uma obra de síntese que evitará o dogmatismo. Sob muitos aspectos, ela constitui uma exposição dos problemas indicadores do atual estágio dos conhecimentos e das grandes correntes de pensamento e pesquisa, não hesitando em assinalar, em tais circunstâncias, as divergências de opinião. Ela assim preparará o caminho para posteriores publicações.

(29)

XXVIII África antiga

subdividido, nas obras publicadas até o momento. Os laços históricos da África com os outros continentes recebem a atenção merecida e são analisados sob o ângulo dos intercâmbios mútuos e das influências mul-tilaterais, de forma a fazer ressurgir, oportunamente, a contribuição da África para o desenvolvimento da humanidade.

• A História Geral da África consiste, antes de tudo, em uma história das ideias e das civilizações, das sociedades e das instituições. Ela fundamenta -se sobre uma grande diversidade de fontes, aqui compreendidas a tradição oral e a expressão artística.

• A História Geral da África é aqui essencialmente examinada de seu inte-rior. Obra erudita, ela também é, em larga medida, o fiel reflexo da maneira através da qual os autores africanos veem sua própria civilização. Embora elaborada em âmbito internacional e recorrendo a todos os dados científicos atuais, a História será igualmente um elemento capital para o reconhecimento do patrimônio cultural africano, evidenciando os fatores que contribuem para a unidade do continente. Essa vontade de examinar os fatos de seu interior constitui o ineditismo da obra e poderá, além de suas qualidades científicas, conferir -lhe um grande valor de atualidade. Ao evidenciar a verdadeira face da África, a História poderia, em uma época dominada por rivalidades econômicas e técnicas, propor uma concepção particular dos valores humanos.

O Comitê decidiu apresentar a obra, dedicada ao estudo de mais de 3 milhões de anos de história da África, em oito volumes, cada qual compreendendo aproximadamente oitocentas páginas de texto com ilustrações (fotos, mapas e desenhos tracejados).

Para cada volume designou -se um coordenador principal, assistido, quando necessário, por um ou dois codiretores assistentes.

(30)

XXIX

Apresentação do Projeto

da UNESCO. A responsabilidade pela obra cabe, dessa forma, ao Comitê ou, entre duas sessões do Comitê, ao Conselho Executivo.

Cada volume compreende por volta de 30 capítulos. Cada qual redigido por um autor principal, assistido por um ou dois colaboradores, caso necessário.

Os autores são escolhidos pelo Comitê em função de seu curriculum vitae. A preferência é concedida aos autores africanos, sob reserva de sua adequação aos títulos requeridos. Além disso, o Comitê zela, tanto quanto possível, para que todas as regiões da África, bem como outras regiões que tenham mantido relações históricas ou culturais com o continente, estejam de forma equitativa representadas no quadro dos autores.

Após aprovação pelo coordenador do volume, os textos dos diferentes capí-tulos são enviados a todos os membros do Comitê para submissão à sua crítica. Ademais e finalmente, o texto do coordenador do volume é submetido ao exame de um comitê de leitura, designado no seio do Comitê Científico Inter-nacional, em função de suas competências; cabe a esse comitê realizar uma profunda análise tanto do conteúdo quanto da forma dos capítulos.

AoConselho Executivo cabe aprovar, em última instância, os originais. Tal procedimento, aparentemente longo e complexo, revelou -se necessário, pois permite assegurar o máximo de rigor científico à História Geral da África. Com efeito, houve ocasiões nas quais o Conselho Executivo rejeitou origi-nais, solicitou reestruturações importantes ou, inclusive, confiou a redação de um capítulo a um novo autor. Eventualmente, especialistas de uma questão ou período específico da história foram consultados para a finalização definitiva de um volume.

Primeiramente, uma edição principal da obra em inglês, francês e árabe será publicada, posteriormente haverá uma edição em forma de brochura, nesses mesmos idiomas.

Uma versão resumida em inglês e francês servirá como base para a tradução em línguas africanas. O Comitê Científico Internacional determinou quais os idiomas africanos para os quais serão realizadas as primeiras traduções: o kiswahili e o haussa.

Tanto quanto possível, pretende -se igualmente assegurar a publicação da

História Geral da África em vários idiomas de grande difusão internacional (dentre outros: alemão, chinês, italiano, japonês, português, russo, etc.).

(31)

XXX África antiga

tarefa tal qual a redação de uma história da África, que cobre no espaço todo um continente e, no tempo, os quatro últimos milhões de anos, respeitando, todavia, as mais elevadas normas científicas e convocando, como é necessário, estudiosos pertencentes a todo um leque de países, culturas, ideologias e tra-dições históricas. Trata -se de um empreendimento continental, internacional e interdisciplinar, de grande envergadura.

Em conclusão, obrigo -me a sublinhar a importância dessa obra para a África e para todo o mundo. No momento em que os povos da África lutam para se unir e para, em conjunto, melhor forjar seus respectivos destinos, um conhe-cimento adequado sobre o passado da África, uma tomada de consciência no tocante aos elos que unem os Africanos entre si e a África aos demais continen-tes, tudo isso deveria facilitar, em grande medida, a compreensão mútua entre os povos da Terra e, além disso, propiciar sobretudo o conhecimento de um patrimônio cultural cuja riqueza consiste em um bem de toda a Humanidade.

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XXXI

Introdução Geral

O presente volume da História Geral da África refere-se ao longo período que se estende do final do Neolítico – isto é, em torno do VIII milênio antes da Era Cristã – até o início do século VII da Era Cristã.

Esse período da história africana, o qual abrange cerca de 9 mil anos, foi abordado, depois de alguma hesitação, considerando-se quatro zonas geográficas principais:

• o corredor do Nilo, Egito e Núbia (capítulos 1 a 12);

• a zona montanhosa da Etiópia (capítulos 13 a 16);

• a parte da África comumente denominada Magreb e seu interior saariano (capítulos 17 a 20);

• o restante da África, inclusive as ilhas africanas do oceano Índico (capítulos 21 a 29).

Essa divisão é determinada pela compartimentação que atualmente caracteriza a pesquisa em história da África. Poderia parecer mais lógico organizar o volume de acordo com as principais zonas ecológicas do continente, oferecendo cada uma delas condições de vida semelhantes a todos os agrupamentos humanos que as habitam, sem que haja barreiras naturais a impedir o intercâmbio (cultural ou de outro tipo) no interior de uma mesma região.

Nesse caso, obteríamos um quadro inteiramente diferente: partindo do norte e seguindo em direção ao sul, teríamos aquilo que, desde o século VIII da Era

INTRODUÇÃO GERAL

(33)

XXXII África antiga

Cristã, é denominado ilha do Magreb – de geologia, clima e ecologia geral predominantemente mediterrânicos – e a larga faixa subtropical do Saara com seu acidente tectônico, o vale do Nilo. Em seguida, teríamos a zona das grandes bacias fluviais subtropicais e equatoriais, com sua costa atlântica. Depois, a leste viriam as terras altas da Etiópia e o Chifre da África, voltado para a Arábia e o oceano Índico. Finalmente, viria a região dos Grandes Lagos equatoriais, ligando as bacias do Nilo, Níger e Congo à África meridional e seus anexos: Madagáscar e outras ilhas oceânicas próximas à África.

Infelizmente, a adoção dessa divisão – mais lógica do que aquela que tivemos que utilizar – é inviável. O pesquisador que deseja estudar a história da África na Antiguidade é, de fato, consideravelmente tolhido pelo peso do passado. A compartimentação que a ele se impõe – e que se reflete no plano aqui adotado – deriva, em grande parte, da colonização dos séculos XIX e XX: o historiador, fosse ele um colono interessado no país em que vivia ou um colonizado refletindo sobre o passado de seu povo, encontrava-se, a contragosto, confinado a limites territoriais arbitrariamente fixados. Para ele era difícil, se não impossível, estudar as relações com países vizinhos, embora, do ponto de vista histórico, esses países e o país que o interessava diretamente quase sempre formassem um todo. Esse considerável peso do passado não desapareceu completamente; em parte, por inércia – quando se cai numa rotina, tende-se a permanecer nela, ainda que a contragosto –, mas também pelo fato de os arquivos de história da África, constituídos por relatórios de escavações ou textos e iconografia, estarem, para algumas regiões, reunidos, classificados e publicados segundo uma ordem arbitrária que não se aplica à situação atual da África, mas que é muito difícil de se questionar.

Este volume da História Geral da África, talvez mais ainda do que o volume anterior, teve que se apoiar em suposições. O período que ele abrange é obscuro, devido à escassez de fontes, em geral, e de fontes precisamente datadas, em particular. Isso se aplica tanto às desequilibradas coleções de fontes arqueológicas quanto às fontes escritas e figuradas, exceto no que diz respeito a algumas regiões relativamente privilegiadas, como o vale do Nilo e o Magreb. É essa falta de bases documentais sólidas que torna necessário o recurso a suposições, uma vez que fatos seguramente estabelecidos constituem exceções.

(34)

XXXIII

Introdução Geral

Infelizmente, essa falta de documentos arqueológicos não pode ser suprida pela narrativa de viajantes estrangeiros contemporâneos dos eventos ou fatos que compõem este livro. A natureza hostil e a extensão do continente desencorajaram, na Antiguidade, como depois, a penetração de forasteiros. Notaremos que as viagens de circunavegação contribuíram muito para elucidar a história da África. Pelo que se sabe até agora, a África é o único continente em relação ao qual isso ocorreu (cf. capítulos 18 e 22).

As considerações acima explicam por que a história da África, de -7000 a +700, ainda consiste amplamente em suposições. No entanto, essas suposições nunca são infundadas; baseiam-se em informações reais, ainda que raras e insuficientes. A tarefa daqueles que contribuíram para este trabalho foi coletar, examinar e avaliar essas fontes. Sendo especialistas nas regiões cuja história – por mais fragmentária que seja – eles investigam, apresentam aqui a síntese daquilo que pode ser legitimamente deduzido, a partir dos documentos de que dispõem. As suposições que apresentam, embora sujeitas a reexame quando se puder contar com novas fontes, certamente proporcionarão estímulo e indicarão linhas de pesquisa para os futuros historiadores.

Entre as zonas nebulosas que ainda escondem de nós a evolução histórica da África, talvez uma das mais densas seja a que envolve os primeiros habitantes do continente. Mesmo hoje em dia pouco se sabe a respeito desses habitantes. As várias teses apresentadas – que frequentemente se apóiam em um número insuficiente de observações cientificamente válidas – são de difícil comprovação, numa época em que a antropologia física está em processo de rápida mudança. O próprio “monogenismo” (cf. capítulo 1), por exemplo, ainda é apenas uma hipótese de trabalho. Além disso, o enorme lapso de tempo transcorrido entre o aparecimento de seres pré ou proto-humanos, descobertos no vale do Omo e em Olduvai (cf. volume 1), e de seres de tipo humano bem definido, notadamente na África meridional, deve, infelizmente, levar-nos a considerar a ideia de continuidade ininterrupta e evolução in situ como simples ponto de vista, pelo menos até que se obtenham provas ou se descubram elos intermediários desse processo.

(35)

XXXIV África antiga

longo das margens do Nilo, entre a Primeira Catarata e a porção meridional do Delta, tenha, pouco a pouco, tornado necessário o uso da escrita para coordenar o sistema de irrigação, fundamental para a sobrevivência dos povos aí fixados. Em contrapartida, o uso da escrita não foi essencial ao sul da catarata de Assuã, região de baixa densidade populacional ocupada por pequenos grupos somáticos que se mantinham independentes uns dos outros. Como se vê, é lamentável que a densidade populacional durante esse período permaneça no âmbito das suposições.

Finalmente, a ecologia, que sofreu consideráveis alterações tanto no espaço como no tempo, desempenhou um papel muito importante. A última fase úmida do Neolítico terminou por volta de -2400, durante o período histórico, quando os faraós da V dinastia reinavam no Egito. As condições climáticas – e, portanto, as condições agrícolas – existentes na aurora das primeiras grandes civilizações da África não eram as mesmas que iriam prevalecer mais tarde, e isso deve ser levado em conta quando se estudam as relações dessas civilizações com os povos vizinhos. O meio ambiente de -7000 a -2400 - um período de 4600 anos, que representa mais da metade do período estudado neste volume – era muito diferente daquele da segunda metade do III milênio. Este último parece ter sido muito semelhante ao meio ambiente atual, e marcou profundamente as sociedades humanas que nele se desenvolveram. A vida em comunidade não é – e não pode ser – a mesma nas grandes zonas desérticas subtropicais do norte e do sul e na floresta equatorial, nas cadeias de montanhas e nas bacias fluviais, nos pântanos e nos grandes lagos. A influência dessas grandes zonas ecológicas foi fundamental para o estabelecimento das rotas que permitiram o deslocamento de um domínio a outro: do Magreb, da montanhosa Etiópia ou do vale do Nilo para as bacias centrais dos rios Congo, Níger e Senegal, por exemplo; ou, ainda, da costa atlântica para o mar Vermelho e o oceano Índico. No entanto, tais rotas são ainda muito pouco conhecidas. Supõe-se que elas tenham existido; isto é, sua existência é muito mais “presumida” do que efetivamente conhecida. Um estudo arqueológico sistemático a esse respeito nos ensinaria muito sobre a história da África. Na verdade, só poderemos empreender um estudo frutífero das migrações entre -8000 e -2500 – que se seguiram às grandes mudanças climáticas e alteraram profundamente a distribuição dos agrupamentos humanos na África – quando essas rotas forem descobertas e exploradas a fundo.

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Introdução Geral

bem como sobre as rotas secundárias, não menos importantes. No entanto, ainda não se empreendeu nenhum estudo sistemático dessas fotografias. Um tal estudo nos possibilitaria orientar e facilitar a verificação arqueológica em campo, o que seria essencial, entre outras coisas, para a avaliação das influências recíprocas entre as principais áreas culturais da Antiguidade. Talvez seja este o domínio para o qual mais poderão contribuir as pesquisas, no futuro.

Como se vê, os capítulos do volume II da História Geral da África constituem pontos de partida para pesquisas futuras mais do que relatos de fatos bem estabelecidos. Estes são, infelizmente, bastante raros, exceto para algumas regiões muito pequenas se comparadas à imensa extensão do continente africano.

O vale do Nilo, do Bahr el-Ghazal, ao sul, até o Mediterrâneo, ao norte, ocupa um lugar muito especial na história da África antiga, devido a vários fatores: primeiro, à sua posição geográfica; depois, à natureza particular de sua ecologia em relação ao resto do continente; finalmente, e acima de tudo, à abundância – relativa, mas sem paralelo na África – de fontes originais precisamente datadas, que nos permitem acompanhar sua história desde o fim do Neolítico – por volta de -3000 – até o século VII da Era Cristã.

Egito: posição geográfica

Em grande parte paralelo às costas do mar Vermelho e do oceano Índico, aos quais tem acesso através de depressões perpendiculares ao curso do rio, o vale do Nilo, ao sul do 8.° paralelo norte até o Mediterrâneo, abre-se amplamente também para oeste, graças aos vales que começam nas regiões do Chade, Tibesti e Ennedi e terminam no próprio Nilo. Finalmente, a larga extensão do Delta, os oásis da Líbia e o istmo de Suez dão-lhe amplo acesso ao Mediterrâneo. Dessa maneira, aberto para leste e oeste, para o sul e o norte, o corredor do Nilo é uma zona de contatos privilegiados não apenas entre as regiões africanas que o margeiam, mas também com os centros mais distantes das civilizações antigas da península Ará-bica, do oceano Índico e do mundo mediterrâneo, tanto oriental como ocidental.

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XXXVI África antiga

Por outro lado, a partir de -2400, o ressecamento da parte da África compreendida entre os paralelos 13 e 15, ao norte, fez com que o vale do Nilo se tornasse a principal rota de comunicação entre a costa mediterrânea do continente e o que hoje se designa como África ao sul do Saara. Era através do vale do Nilo que matérias-primas, objetos manufaturados e, sem dúvida, ideias transitavam do norte para o sul e vice-versa,

É evidente que, devido às variações climáticas, a posição geográfica do médio vale do Nilo, como a do Egito, não teve, no período entre -7000 e -2400, a mesma importância, ou, mais exatamente, o mesmo impacto que veio a ter depois dessa época. Durante esse tempo, os grupos humanos e as culturas puderam deslocar-se livremente, pelo hemisfério norte, entre o leste e o oeste, assim como entre o norte e o sul. Esse foi o período primordial da formação e da individualização das culturas africanas. Foi também o período em que as relações entre leste e oeste, entre o vale do Nilo e o Oriente Médio, de um lado, e entre a África ocidental e a oriental, de outro, foram mais fáceis. De -2400 até o século VII da Era Cristã, entretanto, o vale do Nilo tornou-se a rota privilegiada entre o norte e o sul do continente. Foi através desse vale que se realizaram os vários tipos de intercâmbio entre a África negra e o Mediterrâneo.

Fontes para a história do vale do Nilo na Antiguidade

A importância e a situação privilegiada do vale do Nilo devem-se à posição que ocupa na porção nordeste do continente. O vale teria permanecido apenas um tema intelectualmente estimulante, servindo, no máximo, como uma introdução à pesquisa histórica, se não fosse também a região mais rica da África em fontes históricas antigas. Essas fontes nos permitem controlar e avaliar o papel dos fatores geográficos na história da África como um todo, a partir de -5000. Permitem-nos também alcançar um conhecimento acurado dos eventos históricos do Egito propriamente dito, bem como, mais especialmente, fazer uma ideia precisa da cultura material, intelectual e religiosa do baixo e médio vale do Nilo, até os pântanos do Bahr el-Ghazal.

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Introdução Geral

Na verdade, muito antes de Champollion, o misterioso Egito já despertava curiosidade. No período arcaico, no século VI antes da Era Cristã, os sucessores dos pré-helenos já haviam chamado a atenção para a diferença entre os seus costumes e crenças e os do vale do Nilo. Graças a Heródoto, essas observações chegaram até nós. Com o objetivo de compreender melhor seus novos súditos, os reis ptolomaicos, surpreendidos pela originalidade da civilização egípcia, patrocinaram a compilação de uma história do Egito faraônico, no século III antes da Era Cristã, abordando aspectos políticos, religiosos e sociais. Mâneton, egípcio de nascimento, foi encarregado de escrever essa história geral do Egito. Tinha acesso aos arquivos antigos e sabia lê-los. Se seu trabalho tivesse chegado

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até nós na íntegra, teria evitado muitas incertezas. Infelizmente desapareceu quando a biblioteca de Alexandria foi queimada. Os excertos preservados em várias compilações, frequentemente reunidos para fins apologéticos, fornecem-nos, não obstante, um sólido esquema da história egípcia. Na verdade, as 31 dinastias “manetonianas” continuam sendo, até hoje, a base da cronologia relativa do Egito.

O fechamento dos últimos templos egípcios sob Justiniano I, no século VI da Era Cristã, levou ao abandono das formas faraônicas de escrita – hieroglíficas, hieráticas ou demóticas. Apenas a linguagem falada sobreviveu, no copta; as fontes escritas caíram gradualmente em desuso. Foi só em 1822, quando Jean-François Champollion (1790-1832) decifrou a escrita hieroglífica, que se pôde novamente ter acesso aos documentos antigos, escritos pelos próprios egípcios. Essas fontes literárias egípcias antigas devem ser utilizadas com reservas, pois têm uma natureza particular. Frequentemente foram elaboradas com um propósito específico: enumerar as realizações de um faraó, para mostrar que ele cumprira plenamente sua missão terrestre de manter a ordem universal desejada pelos deuses (Maât) e de resistir às forças do caos que cada vez mais ameaçavam essa ordem. Podiam também ter o propósito de garantir eterna devoção e lembrança aos faraós que fizeram por merecer a gratidão das gerações seguintes. Nessas duas categorias de documentos enquadram-se, respectivamente, os longos textos e as imagens históricas que adornam certas partes dos templos egípcios, e as veneráveis listas de ancestrais, como aquelas entalhadas nos templos em Carnac, durante a XVIII dinastia, e em Abidos, durante a XIX.

Para compilar listas reais como as mencionadas acima, os escribas dispunham de documentos redigidos por sacerdotes ou por funcionários reais, o que sugere a existência de arquivos oficiais bem organizados. Infelizmente, apenas dois desses documentos chegaram até nós, e, ainda assim, incompletos. São eles a Pedra de Palermo e o Papiro real de Turim.

A Pedra de Palermo (assim chamada porque o maior fragmento do texto é conservado no museu dessa cidade da Sicília) é uma placa de diorito gravada nas duas faces, com os nomes de todos os faraós que reinaram no Egito desde o começo da V dinastia, por volta de -2450. A partir da III dinastia, a Pedra de Palermo arrola não só os nomes dos soberanos na ordem de sucessão, mas também os principais eventos de cada reinado ano a ano; tais listas constituem verdadeiros anais. É lamentável que esse documento incomparável esteja quebrado, tendo chegado incompleto até nós.

Imagem

figura 1  O Nilo, fotografado por um satélite Landsat em órbita a 920 km da Terra (do artigo de Farouk  El-Baz, “Le Courrier de l’Unesco”, jul
figura 3  O Papiro de Turim. (Fonte: A. H. Gardiner, “The Royal Canon of Turin”, Oxford, 1954
Figura  5  A  Paleta  em  xisto  de  Narmer,  I  dinastia,  face  anterior  e  posterior
figura 6  Estátua do escriba sentado, Knubaf. (Fonte: W. S. Smith, “The History of Egyptian Sculpture and  Painting in the Old Kingdom”, 1
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Referências

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