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Contribuições Científicas

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 197-200)

O Egito faraônico nos deixou valiosa herança nos campos da física, química, zoologia, geologia, medicina, farmacologia, geometria e matemática aplicada. De fato, legou à humanidade uma grande reserva de experiências em cada um desses domínios, alguns dos quais foram combinados de modo a possibilitar a realização de objetivos específicos.

A mumificação

Um dos melhores exemplos da engenhosidade dos antigos egípcios é a mumificação, que ilustra o conhecimento profundo que tinham de inúmeras ciências, como a física, a química, a medicina e a cirurgia. Esse conhecimento era resultado do acúmulo de uma longa experiência. Por exemplo, à descoberta das propriedades químicas do natrão – encontrado em certas regiões do Egito, em particular no Uadi el -Natrum – seguiu -se a utilização das mesmas no cumpri- mento prático das exigências da crença na vida além -túmulo. Preservar o corpo humano era uma forma de dar realidade à crença. Análises recentes revelaram que o natrão se compõe de uma mistura de carbonato de sódio, bicarbonato de

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O legado do Egito faraônico

sódio, sal e sulfato de sódio. Os antigos egípcios conheciam, portanto, as funções químicas dessas substâncias. No processo de mumificação, o corpo era embe- bido em natrão durante setenta dias. O cérebro era extraído pelas narinas, e os intestinos removidos através de uma incisão num dos lados do corpo. Operações desse tipo exigiam um acurado conhecimento de anatomia, que é ilustrado pelo bom estado de conservação das múmias.

A Cirurgia

Foram sem dúvida os conhecimentos adquiridos com a prática da mumifica- ção que permitiram aos egípcios o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas desde os primeiros tempos de sua história. A cirurgia egípcia é, com efeito, bastante conhecida graças ao Papiro Smith, cópia de um original escrito durante o Antigo Império, entre -2600 e -2400, um verdadeiro tratado sobre cirurgia dos ossos e patologia externa. Quarenta e oito casos são examinados sistematicamente. Em cada um deles, o autor do tratado começa o estudo com um título geral: “Instruções acerca de [tal e tal caso]”. Segue -se então uma descrição clínica: “Se observares [tais sintomas]”. As descrições são invariavelmente precisas e incisivas, seguidas de um diagnóstico: “Em relação a isso, dirás: um caso de [tal e tal lesão]”, e, dependendo do caso, “um caso que poderei tratar” ou “um caso que não tem remédio”. Se o cirurgião pode tratar o paciente, o tratamento a ser administrado é então explicado em detalhes; por exemplo: “no primeiro dia, deves usar um pedaço de carne como bandagem; depois, deves colocar duas tiras de tecido de modo a juntar os lábios da ferida ...”.

Ainda hoje são aplicados vários tratamentos indicados no Papiro Smith. Os cirurgiões egípcios sabiam suturar ferimentos e curar fraturas empregando talas de madeira ou de cartonagem. Algumas vezes, o cirurgião simplesmente recomendava que se permitisse à natureza seguir o seu próprio curso. Em dois exemplos, o Papiro Smith instrui o paciente a manter sua dieta normal.

Dos casos estudados pelo Papiro Smith, a maioria se refere a lacerações superficiais do crânio ou da face. Há também casos de lesão dos ossos ou das juntas, como contusões das vértebras cervicais ou espinhais, luxações, perfura- ções do crânio ou do esterno, e diversas fraturas que afetam o nariz, o maxilar, a clavícula, o úmero, as costelas, o crânio e as vértebras. Exames nas múmias revelaram vestígios de cirurgia, como é o caso do maxilar (datado do Antigo Império) em que foram praticados dois orifícios para drenar um abscesso, ou do crânio fraturado por golpe de machado ou espada e recomposto com sucesso. Existem também indícios de tratamentos dentários, como obturações feitas com

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um cimento mineral; há uma múmia que apresenta uma espécie de ponte feita de ouro ligando dois dentes pouco firmes.

Por sua abordagem metódica, o Papiro Smith serve como testemunho da habilidade dos cirurgiões do antigo Egito, habilidade que, supõe -se, foi trans- mitida pouco a pouco à Africa, à Asia e à Antiguidade clássica pelos médicos que acompanhavam as expedições egípcias aos países estrangeiros. Além disso, sabe -se que soberanos estrangeiros, como o príncipe asiático de Baktan, Báctria, ou o próprio Cambises, mandavam chamar médicos egípcios, e que Hipócrates “tinha acesso à biblioteca do templo de Imhotep em Mênfis”. Posteriormente, outros médicos gregos seguiram -lhe o exemplo.

A Medicina

Pode -se considerar o conhecimento da medicina como uma das mais importantes contribuições científicas do antigo Egito à história da humani- dade. Documentos mostram detalhadamente os títulos dos médicos egípcios e seus diferentes campos de especialização. De fato, as civilizações do antigo Oriente Próximo e o mundo clássico reconheceram a habilidade e a reputação dos antigos egípcios no campo da medicina e da farmacologia. Imhotep, o vizir, arquiteto e médico do rei Zoser, da III dinastia, é uma das mais significativas personalidades da história da medicina. Sua fama manteve -se durante toda a história do antigo Egito, chegando até a época grega. Divinizado pelos egíp- cios com o nome de Imouthes, foi assimilado pelos gregos a Asclépio, o deus da medicina. Com efeito, a influência egípcia sobre o mundo grego, tanto na medicina como na farmacologia, é facilmente reconhecível nos remédios e nas prescrições. Alguns instrumentos médicos utilizados em operações cirúrgicas foram descobertos em escavações.

Os testemunhos escritos referentes à medicina egípcia antiga são consti- tuídos por documentos como o Papiro Ebers, o Papiro de Berlim, o Papiro Cirúrgico Edwin Smith, e muitos outros, que ilustram as técnicas de operação e descrevem, detalhadamente os métodos de cura prescritos. Esses textos são cópias de originais que remontam ao Antigo Império (cerca de -2500).

Ao contrário do Papiro Cirúrgico Edwin Smith, altamente científico, os textos puramente médicos baseavam -se na magia. Os egípcios consideravam a doença como obra dos deuses ou dos espíritos malévolos, o que justifica o recurso à magia. Isso também explica por que alguns dos remédios relacio- nados no Papiro Ebers, por exemplo, mais parecem feitiço do que prescrição médica.

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 197-200)