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Universidade Federal do Rio de Janeiro

POR UMA ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM PORTUGUÊS: ANÁLISE OTIMALISTA

Hayla Thami da Silva

2013

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2 Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Letras

POR UMA ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM PORTUGUÊS: ANÁLISE OTIMALISTA

Hayla Thami da Silva

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victório Gonçalves.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2013

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3 POR UMA ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM

PORTUGUÊS: ANÁLISE OTIMALISTA Hayla Thami da Silva

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Tese de Doutorado submetida ao Programa e Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Examinada por:

_________________________________________________________________

Presidente, Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

_________________________________________________________________

Profa. Doutora Marília Lopes da C. Facó Soares – UFRJ

_________________________________________________________________

Prof. Doutor João Antonio de Moraes – UFRJ

_________________________________________________________________

Profa. Doutora Christina Abreu Gomes – UFRJ

_________________________________________________________________

Prof. Doutor Roberto Botelho Rondinini – UFRRJ

_________________________________________________________________

Prof. Doutor Gean Nunes Damulakis – UFRJ, suplente

_________________________________________________________________

Profa. Doutora Carmen Teresa Dorigo – UFRJ, suplente

Rio de Janeiro Fevereiro de 2013

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4 SINOPSE

Estudo sobre um processo não-linear de formação de palavras do português: a hipocorização. Reanálise dos padrões de hipocorização do português brasileiro. Proposta de unificação dos padrões A e B de encurtamentos afetivos. Apresentação dos dados e análise baseada na Teoria da Otimalidade, ROE – modelo de ranqueamento ordenado do avaliador.

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5 AGRADECIMENTOS

Há muito a agradecer em virtude deste trabalho que, mais adiante, será contemplado por vocês, leitores. O primeiro agradecimento que faço, sem qualquer dúvida, é aos meus guias e mentores espirituais que foram incansáveis em me dar subsídio nos momentos em que tudo parecia insolúvel.

Agradeço a calma que, como a maioria deve saber, não é uma de minhas qualidades e, portanto, aqueles que olham por mim tiveram sua participação em apaziguar angústias e consolidar pensamentos positivos que me fizeram alcançar mais um degrau na minha escala evolutiva aqui na Terra (e, claro, degraus na escritura da Tese em si).

Em segundo lugar, o meu muito obrigada aos meus pais – Rosilene Thami da Silva e José Luiz Ferreira da Silva – e à minha irmã – Helyn Thami da Silva. Minha família sempre foi presente na minha vida e, quando foi uma decisão minha assumir a responsabilidade de fazer doutorado, eles estavam presentes a todo instante. Algumas vezes para fornecer algumas palavras de afeto, outras para incentivar novos passos e conquistas, outras para, simplesmente, mostrar como a vida é na realidade: com percalços e decisões difíceis a serem tomadas. E essa minha incrível família sempre depositou em mim toda a confiança necessária para que, hoje, eu pudesse ter a possibilidade de concluir o primeiro doutorado da família. Acredito que venha por ai, com força total, minha irmã, a próxima da fila na empreitada. Espero ter servido de bom exemplo para você, irmã. Amo vocês.

Em terceiro e não menos importante lugar, agradeço ao meu marido - Manoel Lage - que, quando me conheceu, abraçou a causa de ter uma namorada e, pouco tempo depois, uma esposa ainda meio enrolada com

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6 compromissos relativos à feitura desta tese. Além de presente em todos os momentos de tensão que o trabalho acadêmico nos propicia, ele também foi incansável em fazer todo o possível para ajudar no que lhe cabia, sobretudo com números, coisa que não é lá o meu forte. Meu amor, a você, meus mais sinceros agradecimentos. Sei que, muitas vezes, deixamos de ficar juntos vendo um filme ou coisa do tipo para que eu pudesse concluir em tempo o meu trabalho; muito embora saiba que não foi nenhum grande problema para você, muito pelo contrário, você sempre me incentivou muito, desculpe-me por eventuais ausências e obrigada por tudo. Te amo demais!

Aproveito também para agradecer a pessoas que são essenciais em nossas vidas – os familiares e os amigos. Aos meus familiares, muito obrigada pelo apoio, pelas palavras de carinho e por me acolherem tão bem nessa família que eu amo tanto. Isso, inclui, é claro, a minha também família – os Teixeiras Lages. Vocês, desde sempre, participaram ativamente da reta final deste trabalho que hoje se finda. Muito obrigada por tudo. Vocês são incríveis.

Aos meus amigos, minhas sinceras desculpas e agradecimentos. Sei que, muitas vezes, não pude estar presente em comemorações, encontro e aniversários, em função de estar escrevendo ou pesquisando algo. Espero recompensá-los a partir de agora! Muito obrigada por tudo.

Faço um agradecimento especial aos meus amigos: Janderson, Lilian, Rosângela, Vítor, Bruno, Caio, demais membros do NEMP e a Malu que, embora não seja minha orientadora, é uma grande amiga e fonte de luz de meus conhecimentos. Vocês sempre foram (e continuarão sendo) uma inspiração para mim. Obrigada por tudo. Caio, a você um agradecimento

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7 especial, pois, sem sua ajudinha internética, não sairiam testes para a metodologia este trabalho. Obrigada.

O meu maior agradecimento, sem dúvidas, é para o melhor orientador que alguém pode ter no mundo: Carlos, você é incrível! Sempre que entro em profundo desespero e cansaço, lá está você para, mais do que me acalmar, trazer sensacionais soluções para tudo. Espero um dia ser parecida com você, porque igual será impossível. Muito obrigada por me mostrar o caminho das pedras, caminho este que me fez trilhar uma carreira acadêmica, que eu amo demais, e uma carreira federal. Muito obrigada por tudo. Você é demais.

Agora, voltemos à tese.

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8 RESUMO

POR UMA ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM PORTUGUÊS: ANÁLISE OTIMALISTA

Hayla Thami da Silva

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.

Ao considerar a Gramática Tradicional (GT), pode-se perceber que, na área destinada à Morfologia, mais especificamente à formação de palavras, não se analisam processos que, embora produtivos, são considerados marginais. Nesses processos, comumente conhecidos como processos marginais de formação de palavras, enquadra-se o estudo da redução de nomes próprios, isto é, o fenômeno da hipocorização, como em ‘Cristina ‘ >

‘Cris’ e ‘Francisco’ > ‘Chico’.

Como processos morfológicos que não se formam a partir do encadeamento de formativos não são estudados amplamente, busca-se, nesta proposta de análise, apresentar uma abordagem unificada da hipocorização no português brasileiro, a partir da descrição dos quatro tipos de hipocorísticos, apresentados por Gonçalves (2004a).

Cumpre salientar que os padrões de hipocorização já foram estudados e descritos por Gonçalves (2004a), Thami da Silva (2008) e Lima (2008);

entretanto, até o momento, não houve uma descrição única da hipocorização no português brasileiro. O objetivo desta proposta de trabalho é mostrar, a partir de um mesmo mecanismo de análise, todas as formas possíveis de encurtamento de prenomes utilizados pelos falantes, como é o caso de

‘Filomena’, cujas formas de saída na língua podem ser ‘Mena’ (padrão A), ‘Filó’

(padrão B) e ‘Fí’ (padrão C).

Dessa forma, o presente estudo visa a analisar, de modo unificado, a hipocorização e, para isso, será utilizada a Teoria da Otimalidade (TO), associada ao ROE (do inglês, rank-ordering model of EVAL). A TO trabalha com a hierarquização de restrições universais, fazendo, assim, emergir dessa hierarquia um candidato ótimo. Com a nova dimensão atribuída a AVAL, um dos componentes da gramática da TO, que funciona como o avaliador das formas candidatas a output, é possível trazer à superfície várias formas ótimas utilizadas pelos falantes, de modo a mostrar efetivamente, em um ranking único, todos os padrões de hipocorização do português.

Palavras-chave: morfologia não-concatenativa, hipocorização, Teoria da Otimalidade, ranqueamento ordenado.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2013.

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9 ABSTRATC

FOR A UNIFIED APPROACH OF HIPOCORISTICS NOUNS IN PORTUGUESE: OPTIMALITY ANALYSIS

Hayla Thami da Silva

Advisor: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Abstratct da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.

When considering the Traditional Grammar (GT), one can see that in morphology sections, specifically the formation of words, it does not analyze processes that, although productive, are considered marginal. Among these processes, commonly known as the marginal processes of word formation, there is the study of reduction of proper names, ie, the phenomenon of hypocoristic nouns, as in 'Cristina'> 'Cris' and 'Francisco'> 'Chico'.

As morphological processes that are not formed from the linking of formatives are not widely studied, the purpose, in this proposed analysis, is to present a unified approach of hypocoristic nouns in Brazilian Portuguese, based on the description of the four types of hypocoristic nouns presented by Gonçalves (2004a).

It should be noted that the patterns of hypocoristic nouns have been studied and described by Gonçalves (2004a), Thami da Silva (2008) and Lima (2008), altough, until now, there was not a unique description of hypocoristic nouns in Brazilian Portuguese. The objective of this proposed work is to show, from the same analysis method, all possible ways of shortening first names used by speakers, as the case of 'Philomena', whose output forms in the language can be 'Mena' (pattern A), 'Filo' (pattern B) and 'Fí' (pattern C).

Thus, this study aims to analyze, in a unified manner, the hypocoristic nouns and, therefore, our framework will be Optimality Theory (OT), associated with the ROE (English, rank-ordering model of EVAL). OT works with the hierarchy of universal constraints, making, thus, a candidate emerge from this great hierarchy. With the new dimension assigned to EVAL, a mechanism of OT grammar that works as the evaluator of the forms which are candidates for output, it is possible to bring up several optimal forms used by speakers, showing effectively, in a single ranking, all patterns of hypocoristic nouns of Portuguese.

Keywords: nonconcatenative morphology; hypocoristic nouns; Optimality Theory; rank-ordering model

Rio de Janeiro Fevereiro de 2013.

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10 RESUMEN

POR UN ENFOQUE UNIFICADO DE LA HIPOCORIZACIÓN EN PORTUGUÉS: ANÁLISIS OTIMALISTA

Hayla Thami da Silva

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Resumen da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.

Llevando en consideración la Gramática Tradicional (GT), se puede observar que en el área de la morfología, específicamente la que se destina a formación de palabras, no hay un análisis detallado de los procesos que, sin embargo productivos, se considera marginal. En esos procesos, conocidos comúnmente como los procesos marginales de formación de palabras, se incluye el estudio de la reducción de los nombres propios, es decir, el fenómeno de la hipocorización, como en 'Cristina' > 'Cris' y 'Francisco' > 'Chico'.

Como los procesos morfológicos que no se forman a partir de la concatenación de formativos no son ampliamente estudiados, el análisis propuesto presenta un enfoque unificado de la hipocorización en portugués de Brasil, a partir de la descripción de los cuatro tipos de hipocorísticos presentados por Gonçalves (2004a).

Cabe señalar que los patrones de hipocorización se han estudiado y descrito por Gonçalves (2004a), Thami da Silva (2008) y Lima (2008), pero, hasta ahora, no hay una descripción única de hipocorización en portugués de Brasil. El objetivo de este trabajo es mostrar, desde un único mecanismo de análisis, todas las posibilidades de acortar nombres utilizados por los interactates, como es el caso de 'Filomena', cuyas formas encurtadas pueden ser 'Mena' (default), ‘Filo’ (forma B) y 'Fi' (forma C).

Por lo tanto, este estudio tiene como objetivo analizar, de manera unificada, la hipocorización y, para eso, se utilizará la Teoría de Optimalidad (TO), asociada al ROE (del inglés, rank-ordering model of EVAL). TO trabaja con una jerarquía de restricciones universales, de la cual emerge el candidato que mejor satisface al ranking de restricciones. En el modelo ROE, el componente de la gramática optimalista, EVAL (del inglés, evaluator), pasa a tener una nueva dimensión, ya que funciona como el ranqueador de las formas candidatas óptimas. De ese modo, es posible llevar a la superficie varios outputs utilizados por los hablantes y, entonces, presentar un análisis unificado de la hipocorización en portugués de Brasil.

Palabras clave: morfología noconcatenativa; hipocorización; Teoría de Optimalidad.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2013

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11

“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê”.

(Arthur Schopenhauer)

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12 SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 14

2. A HIPOCORIZAÇÃO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO ... 17

3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ... 26

3.1. Teoria da Otimalidade Clássica ... 26

3.2. O tratamento da variação sob a perspectiva otimalista ... 35

3.2.1. O ranqueamento das formas candidatas a output no ROE ... 40

3.2.2. Uma divergência entre a proposta de Coetzee e a hipocorização – a questão da frequência ... 50

4. REVISÃO DAS ABORDAGENS OTIMALISTAS PARA OS PADRÕES DE HIPOCORIZAÇÃO DO PORTUGUÊS ... 58

4.1. Os padrões de hipocorização: as propostas de GONÇALVES, LIMA & THAMI DA SILVA (2009) ... 58

4.2. O padrão default de hipocorização ... 59

4.3. O padrão B de hipocorização ... 71

4.4. O padrão C de hipocorização ... 82

4.5. O padrão D de hipocorização ... 90

5. Metodologia e a reanálise dos padrões de hipocorização do português brasileiro ... 97

6. A ANÁLISE DA HIPOCORIZAÇÃO A PARTIR DO ROE ... 116

6.1. A DEFINIÇÃO DE RESTRIÇÕES QUE ATUAM NO NÍVEL 1 ... 116

6.1.1. Restritores invioláveis ... 117

6.1.2. Restritores de fidelidade posicional ... 123

6.1.3. Demais restrições relevantes ... 128

6.2. A DEFINIÇÃO DAS RESTRIÇÕES QUE ATUAM NO NÍVEL 2 ... 150

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 157

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 160

9. ANEXOS ... 165

9.1. Anexo I ... 165

(13)

13

9.2. Anexo II ... 167

9.3. Anexo III ... 169

9.4. Anexo IV ... 171

9.5. Anexo V ... 173

9.6. Anexo VI ... 174

9.7. Anexo VII ... 175

9.8. Anexo VIII ... 185

(14)

14 1. INTRODUÇÃO

A prescrição gramatical caracteriza a morfologia como prioritariamente aglutinativa, o que, por sua vez, faz com que processos não-concatenativos sejam considerados mal-comportados (SPENCER, 1991). Essa perspectiva acerca dos processos de formação de palavras dá à hipocorização o estatuto de fenômeno idiossincrático (CUNHA, 1975) ou assistemático (ZANOTTO, 1989), já que se baseia na perda de material fônico, e não na concatenação de formativos, para originar nova forma, oriunda do encurtamento de antropônimos, cuja marca lexical é a expressão da afetividade, como ocorre em

‘Manuela’ > ‘Manú1’; ‘Eduardo’ > ‘Edú’ e ‘Elisabeth’ > ‘Béth’.

Considerando que processo de hipocorização é usual e comumente acessado por falantes do português brasileiro, primeiramente Gonçalves (2004a) e, em seguida, Lima (2008) e Thami da Silva (2008) propõem a descrição formal dos quatro padrões estabelecidos em Gonçalves (op.cit.), ratificando que fenômenos de morfologia subtrativa compartilham características gerais no que concerne ao padrão estrutural e, por conseguinte, não são imprevisíveis (MONTEIRO, 1987), conforme preconiza a maior parte da literatura na área. Dessa forma, sob a luz da Teoria da Otimalidade (doravante TO), modelo paralelista que objetiva a seleção de um candidato ótimo através de um ranking de restrições universais passíveis de violação, para cada um dos quatro padrões de hipocorização, diferentes hierarquias foram propostas, como resumido em Gonçalves, Lima & Thami da Silva (2009).

1 Cumpre salientar que o uso do acento agudo, para vogais abertas, e circunflexo, para fechadas, indica unicamente a tonicidade da sílaba e, portanto, não está necessariamente de acordo com as regras de acentuação do português. A indicação da tonicidade é necessária ao trabalho, pois evidencia o respeito ou a violação a certos restritores, que serão abordados mais adiante. Dessa forma, ao longo do presente trabalho, as formações acentuadas, na realidade, denotam unicamente a tonicidade.

(15)

15 A partir da comparação entre as análises já feitas, observamos que, além de partilhar características comuns, como, por exemplo, o fato de constituir palavra mínima na língua, alguns dados possibilitam vários tipos de encurtamento, como ocorre com o prenome ‘Filomena’, cujos hipocorísticos podem ser ‘Filó’(padrão B), ‘Mêna’ (padrão A) e ‘Fifí’ e ‘Fí’ (padrão C). Sendo assim, neste trabalho, objetivamos (a) revisitar os padrões de hipocorização propostos por Gonçalves (op.cit.), a fim de determinar se, de fato, há, no português, quatro diferentes tipos estruturais de hipocorísticos; e, também, (b) unificar a abordagem dos padrões de hipocorização reanalisados nesta Tese.

A proposta de unificar a análise da hipocorização no português visa a conjugar, em uma mesma hierarquia de prioridades, a seleção de candidatos possíveis, licenciados pela gramática. Para tanto, lançamos mão da proposta de Coetzee (2004, 2006) que verifica, através de uma nova forma de encarar o papel do módulo Avaliador (do inglês, EVAL), a possibilidade de candidatos estarem raqueados numa escala que vai do melhor ao menos frequente2 output, trazendo à tona todas as formas efetivamente produzidas pelos

falantes. Assim, para cada antropônimo passível de hipocorização, em uma mesma hierarquia, poderá emergir mais de uma forma de output.

A proposta geral da tese, então, é comprovar que (a) processos de morfologia não-concatenativa, como é o caso da hipocorização, são efetivamente produtivos na língua e, mais do que isso, são regulares do ponto de vista estrutural; (b) a Teoria da Otimalidade, sobretudo no que se refere ao

2 É importante frisar, conforme apresentaremos mais adiante, que, no caso da hipocorização, o que estará em jogo não serão formas mais frequentes no sentido matemático (frequência relativa), como preconiza Coetzee (2004, 2006), mas sim mais aceitas pelos falantes, segundo alguns testes de aceitabilidade aplicados a informantes.

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16 ROE – Rank-ordering of EVAL3 – dá conta da análise de processos de interface morfologia-fonologia; e (c) fenômenos que apresentam mais de uma forma ótima, ou seja, variáveis, podem apontar para um continuum de aceitabilidade/frequência. Além disso, propomos uma redefinição dos padrões de hipocorização elencados por Gonçalves (2004a) e evidenciamos a existência de um ponto de corte crítico para a análise da hipocorização (COETZEE, op.cit), o que torna possível limitar a variação na perspectiva otimalista, uma das preocupações do modelo desenvolvido por Coetzee (op.cit).

Para tanto, a presente Tese organiza-se nos seguintes capítulos: em (2), apresentamos a perspectiva tradicional acerca da hipocorização em português, a fim de confrontá-la com a definição que adotamos para o processo. Em (3), definimos a Teoria da Otimalidade e a perspectiva de Coetzee (op.cit.) para o tratamento da variação na TO, o que nos levará à abordagem, ainda que brevemente, de algumas questões cruciais relativas à teoria, como a papel do Avaliador, um dos principais componentes da gramática da TO, frente à seleção dos candidatos ótimos. Em (4), propomos a revisão das análises otimalistas para os padrões de hipocorização do português de acordo com a perspectiva de Gonçalves, Lima & Thami da Silva (2009). Em (5), evidenciamos a metodologia adotada no trabalho, a qual, por sua vez, aponta para a redefinição dos padrões de hipocorização. Em (6), discutimos a nova abordagem da hipocorização sob a ótica do ROE para, então, em (7), tecermos algumas considerações finais sobre a análise ora proposta.

3 Rank-ordering of EVAL traduz-se por Modelo de ranqueamento ordenado do Avaliador.

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17 2. A HIPOCORIZAÇÃO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Neste capítulo, descrevemos o fenômeno da hipocorização no português brasileiro, de modo a destacar (i) as abordagens do processo sob o olhar da gramática tradicional (GT) e de autores como Monteiro (1983); (ii) a conceituação do fenômeno, demonstrando, assim, as características gerais dos quatro4 padrões de hipocorização de que pretendemos tratar nesta Tese; e (iii) o contraste entre a hipocorização e outro processo não-concatenativo de formação de palavras – o truncamento.

Pela tradição gramatical, infere-se que a morfologia do português se fundamenta, sobretudo, na formação de itens lexicais a partir do encadeamento de formativos; logo, pode-se dizer que vocábulos são gerados, basicamente, a partir de dois grandes processos – a derivação e a composição. Na derivação, como se sabe, acrescenta-se um afixo a uma base de maneira a formar uma nova palavra na língua; na composição, duas bases (radicais ou palavras) se combinam para gerar um novo vocábulo. Alguns fenômenos, entretanto, não se manifestam pela estrita concatenação de morfemas. A partir da perda de material fonológico, por exemplo, também se constituem novas formas linguísticas, como ocorre com a hipocorização – ‘Renata’ > ‘Rê’ – e com o truncamento – ‘refrigerante’ > ‘refrí’.

A gramática tradicional, quando cita processos como esses, não os organiza segundo características afins e, com isso, acaba por considerar os fenômenos de encurtamento anômalos ou irregulares do ponto de vista formal,

4 Segundo Gonçalves (2004a), há cinco padrões de hipocorização no português, mas, no presente trabalho, vamos nos ater, unicamente, aos que são formados a partir de uma base simples; logo, formas como ‘Maria Lúcia’ > Malú’ e ‘Carlos Eduardo’ > ‘Cadú’, já descritas por Lima (2008), não serão contempladas nesta tese.

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18 o que, por sua vez, faz deles os “mal-comportados” do português (SPENCER, 1991).

Em Cunha & Cintra (2001), por exemplo, encontramos, nas últimas páginas que abordam os processos de formação de palavras, um item denominado “abreviação vocabular”. Nesse item, os autores explicitam que, devido ao “ritmo acelerado da vida intensa de nossos dias”, acabamos por fazer uso de uma “elocução mais rápida”, de modo que, para “economizar tempo e palavra” (CUNHA & CINTRA, 2001: 116), utilizamos algumas reduções linguísticas, como ocorre em dados como ‘moto’, em lugar de ‘motocicleta’, e

‘auto’, em vez de ‘automóvel’.

Cumpre salientar, ainda, que os autores não apresentam nenhum dado de “abreviação” que tenha como base um antropônimo. Mas, segundo a definição proposta, os hipocorísticos parecem estar incluídos nesse grupo genérico, caracterizado, em linhas bem gerais, pela perda segmental e atrelado, por isso mesmo, à economia linguística.

Bechara (2009) propõe um apêndice no capítulo destinado aos processos de formação de palavras do português. No subitem “abreviação”, definido como “emprego de uma parte da palavra pelo todo” (op.cit.: 371), o autor inclui dados como ‘extraordinário’ e ‘extrafino’ > ‘êxtra’, o que confirma que Cunha & Cintra (op.cit.) e Bechara (op.cit.) atribuem o rótulo “abreviação” a todos os processos de encurtamento do português.

Com esse título genérico, os autores nos levam a pensar que dados como ‘televisão’ > ‘téle’ são equiparáveis a abreviações como ‘senhor.’ > ‘sr.’, por exemplo. É importante ressaltar que a hipocorização, bem como o truncamento, não são abreviações, pois, ao contrário do que ocorre em ‘você’ >

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19

‘vc’, típico fenômeno da língua escrita e sem qualquer compromisso com as bordas do constituinte-base, o hipocorístico respeita a integridade da margem mais à esquerda da palavra-matriz, como em ‘Cristina’ > ‘Crís’, ou da margem mais à direita, como em ‘Francisco’ > ‘Chíco’. O mesmo ocorre com o truncamento, que também preserva o material fonológico à esquerda da base, como descrito em Gonçalves (2004), Gonçalves & Vazques (2005), Belchor (2009) e Gonçalves (2011).

Por tentarem enquadrar os encurtamentos em um único processo, o de

“abreviação”, Bechara (op.cit.) e Cunha & Cintra (op.cit.), entre outros autores de mesma linha descritiva (p. ex., LUFT, 1978), não conseguem observar regularidades em fenômenos que envolvem perda de massa fônica; daí advém o rótulo de “imprevisíveis” (ZANOTTO, 1989) ou “limitados” (CARONE, 2004).

Uma abordagem um pouco mais detalhada acerca de processos “mal- comportados” (SPENCER, 1991) do português é a de Rocha Lima (2003). Para o autor, os hipocorísticos são uma “alteração, nascida em âmbito familiar, do prenome ou nome próprio individual” (op.cit.: 227), como ocorre em ‘Fabiana’ >

‘Fafá’; ‘Filomena’ > ‘Filó’; ‘Fernanda’ > ‘Nânda’ e ‘Roberto’ > ‘Betínho’.

De fato, Rocha Lima (op.cit.) percebe que a hipocorização se refere a antropônimos; no entanto, o grande problema de sua abordagem é denominar

“subsidiários” processos regulares e produtivos. Além disso, o autor agrupa, em um mesmo conjunto de dados, casos de encurtamento e outros de derivação, todos alocados na seção destinada a processos “subsidiários” ou marginais.

É importante reforçar, entretanto, que, se os hipocorísticos fossem formados a partir do encadeamento de afixos, como em ‘Roberto’ > ‘Betínho’, o processo estaria em consonância com a derivação e, por isso mesmo, não

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20 deveria ser descrito sob o rubrica de “subsidiário”. Na verdade, a hipocorização é responsável por gerar bases encurtadas que, por sua vez, podem sofrer o acréscimo de afixos expressivos variados, como -ico (‘Tonico’), -inho (‘Cadinho’), -ito (‘Eduzito’) e -ão (‘Xandão’), entre tantos outros.

Compactuando o ponto de vista de Rocha Lima (op.cit.), Monteiro5 (1983) propôs a análise dos hipocorísticos e, inclusive, um dicionário de dados6. O autor, entretanto, ao definir o processo como “uma alteração do prenome ou nome próprio individual” e apresentar a lista seguinte de hipocorísticos para ‘Antônio’

‘Totônio’, ‘Toim’, ‘Tõe’, ‘Totô’, ‘Tó’, ‘Tozinho’, ‘Nanan’, Toinho’, ‘Tom’,

‘Toni’, ‘Tonico’, ‘Toquinho’, ‘Tota’, ‘Tuquinho’, ‘Tonhão’, “Tonton’,

‘Tonho’, ‘Toninho’, ‘Toinzin’, ‘Niquinho’, Tonhozinho’, Totoca, Tonheiro’, ‘Mitonho’, ‘Nini’, ‘Nico’, ‘Tonca’, ‘Antoinho’, ‘Antoninho’,

‘Toinzinho’, ‘Tontonho’, ‘Tutu’, ‘Tutuca’, ‘Tonito’, Nito’, ‘Sitônio’,

‘Tonzinho’, ‘Tinoco’, ‘Tonico’, ‘Antoni’, ‘Antonieto’ e ‘Tonhim’

faz com que, de fato, o número de dados se torne infinito, considerando que é um hipocorístico qualquer alteração no prenome, sem se preocupar, por exemplo, com a relação de identidade entre a palavra-base e o item formado a partir de seu encurtamento afetivo.

No dicionário proposto por Monteiro (1999), há formas hipocorísticas extremamente opacas, a exemplo de ‘Antônio’ > ‘Tú’7, em que o rastreamento da base a partir da qual se forma o produto não tem relação estrita com o prenome e, por isso, não se observa a formação de um hipocorístico. Logo, se

5 Além de Lemos Monteiro, Brito (2003) também trata a hipocorização como “uma alteração do prenome, sendo também designações carinhosas familiares” (BRITO, 2003) e, portanto, a autora comete o mesmo equívoco de Monteiro ao considerar qualquer alteração carinhosa do prenome como um hipocorístico.

6 O dicionário de dados está disponível em www.geocities.com/Paris/cathedral/1036.

7 É importante frisar que essas formas compostas por sílabas CV ou CVC, em grande parte dos

dados, podem ser acrescidas de reduplicante, como ‘Tutú’, por exemplo.

(21)

21 não é possível associar ‘Tú’ a ‘Antônio’, a forma linguística resultante é opaca, o que comprova a não-correspondência mínima entre as duas.

Sendo assim, a hipocorização não é um “vale-tudo” de dados sem qualquer relação com o prenome a que fazem referência, como em ‘Tú’ para

‘Antônio’; hipocorísticos constituem formas estreitamente relacionadas à palavra-matriz. Em oposição a isso, tem-se o uso de apelidos. Estes não são criados a partir de vínculos formais, mas a partir de características extralinguísticas, como é o caso de ‘Anão’ referindo-se a alguém baixo, ou

‘Marrom’, que faz referência à cantora Alcione. O mesmo raciocínio se aplica a dados como ‘Bituca’ para o cantor Milton Nascimento ou ainda ‘Spider’ para o lutador Anderson Silva. Nesses exemplos, a relação entre indivíduo-apelido não tem a ver com o seu antropônimo e, portanto, não temos um processo morfológico, como é o caso da hipocorização.

Além de conceituar os hipocorísticos, Monteiro (op.cit.) propõe-se a dividi-los em padrões. Para o autor, a hipocorização pode ocorrer por meio dos seguintes processos:

(a) duplicação, esta sendo perfeita, como em ‘Fátima’ > ‘Fafá’, ou imperfeita, como ocorre em ‘Anália’ > ‘Lalá’; (b) braquissemia, esta se subdividindo em braquissemia por aférese, como em ‘Osvaldo’ >

‘Váldo’, por síncope, como ocorre em ‘Catarina’ > ‘Carína’, por apócope, como, por exemplo, ‘Filomena’ > ‘Filó’, e por aférese e apócope simultaneamente, como em ‘Elisabete’ > ‘Lís’; (c) acrossemia, como ocorre em ‘Maria Tereza’ > ‘Matê’; (d) sufixação, como em ‘Manuel’ > ‘Manéco’ e, por fim, (e) reforço, como, por exemplo, ‘Josefa’ > ‘Zefínha’.

A tipologia proposta por Monteiro (op.cit.) apropria-se de termos técnicos da gramática histórica, caracterizando, a partir de fenômenos fonológicos bem definidos, os vários tipos de redução a que o antropônimo está sujeito. Assim, o autor acaba correlacionando um processo morfoprosódico, como é o caso da

(22)

22 hipocorização, a processos puramente segmentais. Por exemplo, o autor considera a aférese uma estratégia para a formação de hipocorísticos como

‘Osvaldo’ > ‘Váldo’ e ‘Roberto’ > ‘Béto’. Esses dados, no entanto, não revelam qualquer motivação para a aplicação desse processo, uma vez que o apagamento não é determinado por questões segmentais, mas por questões prosódicas, como observou Gonçalves (2004a).

A partir dessas regularidades, Gonçalves (op.cit.) propôs a descrição da hipocorização, definindo-a e delimitando padrões gerais de formação. Segundo o autor, o fenômeno consiste no encurtamento de antropônimos, de modo a preservar parte da base para que seja possível o rastreamento do prenome a partir da forma encurtada. Gonçalves (op.cit.) observa, ainda, que os encurtamentos constituem palavra mínima na língua, já que são compostos por até um pé binário (as palavras resultantes são maximamente dissilábicas).

Tendo em vista a definição do autor, verifica-se que a hipocorização não deve ser entendida apenas como um processo morfológico, mas como um típico caso de interface morfologia-fonologia, já que a perda de segmentos fônicos, condicionada por questões de ordem morfoprosódica, atribui ao item lexical um caráter afetivo, típico dos encurtamentos.

Assim, Gonçalves (op.cit.) apresenta quatro tipos de hipocorísticos. O primeiro, amplamente estudado pelo autor, consiste na cópia dos segmentos melódicos à direita da palavra-base, como em ‘Augusto’ – ‘Gúto’. O segundo, analisado com mais profundidade em Thami da Silva (2008), copia os segmentos à esquerda da palavra, a exemplo do que ocorre em ‘Rafael’ –

‘Ráfa’. O terceiro, abordado com vagar por Lima (2008), copia a sílaba tônica do antropônimo, que, neste caso, é sempre a última, como em ‘Barnabé’ –

(23)

23

‘Bé’8. Por último, o quarto padrão, descrito por Thami da Silva (2008), rastreia a primeira sílaba com onset do antropônimo, como ocorre em ‘Alessandra’ – ‘Lê’.

Embora diferentes em alguns aspectos, os padrões de hipocorização propostos por Gonçalves (2004a) apresentam características comuns. Em primeiro lugar, conforme já mencionado, todos os encurtamentos são formados por até um pé binário9. Além disso, as formas derivadas sempre guardam alguma identidade com as derivantes, seja porque apresentam uma sequência periférica em comum (‘Rafael’ > ‘Ráfa’ e ‘Joana’ > ‘Jô’), seja porque se aproveitam do pé nuclear do antropônimo (‘Francisco’ > ‘Chíco’ e ‘Alcir’ > ‘Cí’).

Como se pode notar, a hipocorização não só apresenta características gerais, como é o caso de estar atrelada, necessariamente, à redução de antropônimos, como também se distribui em padrões formais, segundo regularidades estruturais. Isso evidencia que, em oposição a autores prescritivistas e à própria descrição de Monteiro (1983), a hipocorização é um processo regular e previsível na língua.

Após discutida a definição de hipocorização adotada neste trabalho, é importante destacar a diferença entre a hipocorização e o truncamento – outro processo não-concatenativo de formação de palavras, analisado em detalhes por Belchor (2009). Muitos autores, como é o caso de Benua (1995), Colina

8 É importante destacar que os padrões C e D podem ser acrescidos de reduplicantes. No entanto, como a reduplicação é um processo morfoposódico que ocorre após a delimitação da base encurtada, não vamos nos ater a descrevê-la nesta Tese, já que nosso objetivo é checar a formação das bases e não os demais processos a que estas podem ser submetidas na língua.

9 O pé binário é aquele composto por duas moras, ou seja, duas unidades de peso. No português, a posição de núcleo da sílaba e de coda (posição de travamento) constituem unidades peso e, por isso mesmo, são computadas como moras. Além disso, no inventário assimétrico de pés, um pé silábico, isto é, composto por duas sílabas, também é considerado binário; entretanto, em vez de tratarmos da contagem de moras, adotamos a contagem de sílabas. Em síntese, a divisão em pés de uma palavra prosódica pode ser dada pela sensibilidade à mora e, sendo assim, temos um pé binário sempre que houver duas moras (o que, no latim, era representado por duas vogais breves ou uma longa), ou pela sensibilidade à sílaba e, nesse caso, duas sílabas estruturam um pé.

(24)

24 (1996) e Piñeros (2000), defendem que a hipocorização é um subtipo do que se denomina truncamento. Nesta Tese, contudo, adotamos a visão de Gonçalves (2004a), reiterada por Thami da Silva (2008), Lima (2008) e Belchor (2009). Na proposta do autor, a hipocorização e o truncamento são processos distintos, ainda que impliquem encurtamentos e atuem na interface morfologia- fonologia.

Em primeiro lugar, é importante salientar que a hipocorização restringe- se aos antropônimos, enquanto o truncamento expande-se, além de substantivos próprios (‘Florianópolis’ > ‘Floripa’), a outras classes formais, como a dos substantivos comuns (‘beleza’ > ‘belê’) e a dos adjetivos (‘sofisticado’ > ‘sofís’). Em segundo lugar, deve-se frisar que o valor expressivo dos hipocorísticos está associado à afetividade e, portanto, demonstra proximidade entre os interactantes; ao contrário, o truncamento, na maior parte dos casos (cf. GONÇALVES, 2011), relaciona-se à expressão da pejoratividade, como em ‘vagabunda’ > ‘vagába’; ‘português’ > ‘portúga‘, ou à simples expressão do grau de (in)formalidade, como em ‘exposição’ > ‘expô’;

‘refrigerante’ > ‘refrí’. Por fim, truncamento e hipocorização devem ser vistos como processos distintos, posto que este gera uma forma de superfície de até um pé binário, como ocorre com ‘Mariana’ > ‘Mári’, e aquele admite um encurtamento formado, por exemplo, por três sílabas, como ‘salafrário’ >

‘saláfra’. Esta é a principal diferença entre os dois processos, na visão de Gonçalves (2006): hipocorísticos são palavras mínimas; truncamentos, não necessariamente.

Dessa forma, concluímos que a hipocorização, ao contrário do que descrevem a GT e autores como Monteiro, é um processo previsível e regular

(25)

25 na língua e que, por isso mesmo, obedece a restrições de marcação e de fidelidade, conforme preconiza o modelo teórico adotado nesta tese – a Teoria da Otimalidade (PRINCE & SMOLENSKY, 1993), descrita no capítulo 3, a seguir. Retomamos os estudos sobre a hipocorização em português no Capítulo 4, no qual apresentamos a análise dos quatro padrões aqui referenciados.

(26)

26 3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Neste capítulo, apresentamos as principais características da Teoria da Otimalidade (TO), modelo a partir do qual analisamos os padrões de hipocorização que constituem o objeto de estudo desta Tese. Para tanto, dividimos o capítulo nas seguintes subseções: em (3.1), apresentamos os aspectos gerais que norteiam a TO; e, em (3.2), descrevemos a versão mais recente no que se refere ao tratamento da variação na TO – o ROE (do inglês rank-ordering of EVAL) – proposto por Coetzee (2004, 2006), associando essa

visão à análise da hipocorização no português brasileiro.

3.1. Teoria da Otimalidade Clássica

A Teoria da Otimalidade (TO) surge como modelo para análises fonológicas e morfológicas em 1991 na conferência Optimality, realizada por Alan Prince & Paul Smolensky, no Arizona, Estados Unidos. Esse novo modelo, diferentemente do que postulam outras teorias gerativas, não se baseia em regras, ou seja, , uma infração a determinada restrição não representa agramaticalidade, como nos modelos que antecederam no tempo a TO, mas a satisfação a um restritor mais bem cotado em um ranking de prioridades estabelecido para cada língua. Dessa forma, a TO passa a não mais trabalhar com o emparelhamento entre input e output a partir de estratos derivacionais em que regras ordenadas são aplicadas até se chegar ao produto linguístico de superfície, mas com a avaliação de formas em paralelo, sendo essas formas geradas pelo GEN (do inglês, generator), um dos componentes da gramática otimalista, e avaliadas pelo conjunto de restrições universais (CON, do inglês, constraints).

(27)

27 Para dar conta desse novo modo de encarar as relações entre forma subjacente e de superfície, a TO respalda-se em cinco premissas básicas: (a) universalidade; (b) violabilidade; (c) hierarquização; (d) inclusividade e (e) paralelismo.

Na TO, a universalidade está diretamente relacionada ao um conjunto de restrições, presente em qualquer gramática. Desse modo, pode-se dizer que as restrições postuladas pela TO são aplicáveis a todas as línguas e a diferença entre cada língua está no modo como são hierarquizados os restritores. Por isso, a TO pretere restrições particulares a uma única língua, como ocorreu, em larga escala, nos modelos teóricos pautados em regras.

No que se refere à violabilidade, pode-se dizer que se caracteriza pela possibilidade de se violarem as restrições universais. Essa violação, no entanto, não ocorre fortuitamente, pois infringir uma restrição significa satisfazer a outra mais bem cotada na hierarquia de uma determinada língua.

Assim, a Teoria da Otimalidade traz à tona a violabilidade como um recurso inerente às línguas, mostrando que, para que uma forma seja ótima, ou seja, para que a forma escolhida seja, de fato, a realização do falante, não é fundamental obedecer a todo o conjunto de restrições, pois um candidato ótimo deve apenas consolidar-se em relação às demais formas como o que melhor atende as demandas de uma hierarquia.

A hierarquização é uma premissa aplicada às restrições universais.

Pode-se afirmar que a hierarquia é o que configura a gramática de uma língua.

Dessa maneira, a organização de um ranking de restrições muda em função de cada língua; assim, as diferenças interlinguísticas correspondem a diferenças no ranqueamento de restritores universais.

(28)

28 A inclusividade é uma premissa que se refere ao conjunto de análises candidatas, ou seja, às formas linguísticas vistas como possíveis candidatos a output. O gerador (do inglês, GEN) pode, em princípio, criar um conjunto infinito

de candidatos (propriedade denominada, por Prince & Smolensky (1993), de

“liberdade de análise”). No entanto, condições gerais de boa-formação e imposições de fidelidade podem limitar o número de formas incluídas na análise, de modo a evitar candidatos absurdos ou muito diferentes do input.

Por fim, o paralelismo pressupõe a análise dos candidatos em paralelo, ou seja, sem recorrer a estratos derivacionais, não havendo necessidade de filtros nem de ciclos derivacionais10 para que sejam avaliadas as formas candidatas a output: todas são analisadas em paralelo pelas várias demandas da hierarquia.

A avaliação dessas formas candidatas organiza-se a partir de uma

“gramática”, exemplificada, segundo Archangeli (1997), como em (01), a seguir:

10 Pelo menos no que diz respeito à TO Clássica. Em outros modelos otimalistas, acolhidos na rubrica genérica TO Estrastal, como a LPM-OT (Lexical Phonology-Morphology OT), desenvolvida por Kiparsky (1997), faz-se uso de ciclos, o que leva a descartar a premissa do paralelismo.

(29)

29 (01)

Como mostra a formalização em (01), o léxico fomenta a escolha do input. Este, por sua vez, após determinado, passa pelo crivo do gerador (GER),

componente da gramática que gerencia a criação de formas candidatas a output. É importante destacar que não são geradas formas aleatórias, mas

apenas aquelas que mantêm uma relação de identidade com a forma de input.

Determinados os candidatos, o avaliador, associado ao conjunto de restrições universais (CON, de constraints, do inglês), verifica a forma que melhor atende à hierarquia de relevância, selecionando, assim, o output ótimo.

No caso da hipocorização, a gramática da TO funciona como em (02), a seguir:

LÉXICO

/INPUT/

GERADOR (GER)

[Cand 1] [Cand 2] [Cand 3] [Cand 4]

AVALIADOR (AVAL) (CON)

[OUTPUT]

(30)

30 (02)

Conforme sinalizado em (02), o léxico fornece os antropônimos, como

‘Bernadete’, por exemplo, já que corresponde ao conjunto de elementos linguísticos que possibilitam a formação do input. Após determinada a forma subjacente (no nosso caso, sempre o antropônimo), o gerador cria candidatos a output, mas, como se sabe, esses candidatos devem possuir similaridades em relação à forma de input. Assim, para o antropônimo ‘Bernadete’, podem ser geradas formas como ‘Bêr’, ‘Bérna’, ‘Nadé’, ‘Déte’. Os candidatos, então, passam pela fase de avaliação, levada a cabo por EVAL (do inglês evaluator), que, por sua vez, alimenta-se de um conjunto de restrições universais (CON).

Finalmente, após avaliadas as formas, tem-se o output ótimo, realizado pelos falantes. No exemplo que serviu de ilustração, o candidato mais harmônico (forma ótima) seria ‘Déte’. Vale destacar que a forma ótima pode infringir restrições, desde que a infração seja necessária para que uma outra restrição mais bem hierarquizada seja satisfeita.

LÉXICO

/ANTROPÔNIMO/

GERADOR (GER)

[Cand 1] [Cand 2] [Cand 3] [Cand 4]

AVALIADOR (AVAL) (CON)

[HIPOCORÍSTICO]

(31)

31 Tratando-se de restrições, é imprescindível salientar que, na TO, há dois grandes grupos de restritores – o de marcação e o de fidelidade. O primeiro, segundo Gonçalves (2005a), configura “exigências estruturais de vários tipos”;

já o segundo requer “total semelhança entre input e output, determinando um mapeamento de um-para-um entre essas duas linhas de representação linguística” (GONÇALVES & PIZA, 2009:22). Dessa forma, a emergência de um candidato como ótimo advém do conflito entre essas duas famílias de restrições, uma que regula a boa-formação da estrutura linguística e outra que exige a máxima identidade entre input e output.

A depender de cada processo analisado, podemos ter rankings em que as restrições de marcação dominam as de fidelidade e vice-versa. Por exemplo, se, em uma língua, um restritor como MAX-IO (antiapagamento) domina a hierarquia de prioridades e ONSET (preenchimento do ataque) é um restritor posicionado abaixo de MAX, a língua requer que não sejam apagados segmentos do input para o output, mesmo que, para isso, haja uma sílaba em que a posição de ataque não esteja preenchida, como em (03)11, a seguir:

11 A notação utilizada nos tableaux condiciona o uso das barras - / / - à transcrição fonológica dos dados que correspondem ao input; os colchetes - [ ] - indicam palavras prosódica; o uso dos parênteses - ( ) - determina a formação de pés e os pontos delimitam as sílabas. Além disso, a marcação C refere-se à posição subespecificada para consoantes, enquanto V, para vogais.

(32)

32 (03)

/V.CV/ MAX-IO12 ONSET13

[(V.CV)] *

[(CV)] *!

Em (03), observamos o tableau, formalização utilizada no modelo otimalista para representar a avaliação de formas. Nele, no primeiro espaço à esquerda, aparece a forma de input, aqui representada entre barras, /VCV/, em que V e C representam, genericamente, um segmento vocálico (V) e um segmento consonântico (C). Na mesma linha, seguem as restrições ranqueadas conforme as prioridades da língua. Nesse caso, MAX-IO é seguida por ONSET, por dominar esse restritor. Na coluna em que é posta a forma de input, organizam-se as estruturas candidatas, aqui representadas entre

colchetes, [(V.CV)] e [(CV)]. A relação de dominância entre os restritores é evidenciada pelo uso de uma linha contínua que delimita, pois, a relação de dominância: A >> B.

Iniciada a avaliação de formas, o candidato 2 infringe a restrição de fidelidade e, portanto, recebe o sinal *, seguido de ! e está eliminado da disputa; daí o uso do hachurado para indicar que os demais restritores não terão seus efeitos visíveis na avaliação da forma já eliminada. O candidato 1, por mais que viole ONSET, é a forma ótima, já que a infração evidencia um maior respeito à fidelidade, que, nessa língua, é prioritária; logo, em (03), FIDELIDADE >> MARCAÇÃO.

12 Optamos por adotar a nomenclatura de restrições em inglês. Dessa forma, em nota, apresentaremos, sempre que possível, o correspondente em português. No caso. MAX significa MAXIMIDADE e, em português, temos MAX-IO, que corresponde à maximização dos elementos do input no output.

13 ONSET é nomeado, em português, ATAQUE. O restritor obriga que a posição de ataque silábico seja preenchida.

(33)

33 Conforme salientamos no Capítulo 2, a redução de antropônimos visa à formação de palavras mínimas e, portanto, um hipocorístico compõe-se por até um pé binário. Se, então, uma questão de natureza estrutural é primordial na seleção da forma ótima, MARCAÇÃO >> FIDELIDADE. Dessa forma, pode-se dizer que a relação de identidade entre o input e o output é mínima e capaz meramente de tornar possível o rastreamento do antropônimo a partir da forma hipocorizada, como mostra o tableau em (04)14:

(04)15

14 Utilizamos, apenas para fins de exemplificação, a restrição MAX-IO. Na proposta unificada de tratamento da hipocorização no português brasileiro, outras restrições de fidelidade estarão em jogo, como veremos mais adiante, no Capítulo 6. Entretanto, na análise proposta por Thami da Silva (2008) para o tratamento do tipo B de hipocorização (Capítulo 4), MAX tem papel importante na análise dos encurtamentos, por isso adotamos esse restritor para exemplificar a relação de dominância entre MARCAÇÃO e FIDELIDADE.

15 Faz necessário salientar que, no caso da hipocorização, a marcação acerca do acento é essencial à análise. Dessa forma, como na transcrição fonológica não se deve marcar o acento, consideramos uma formação simples que consiste em apresentar a grade métrica imediatamente acima da transcrição do input e, o acento primário da palavra na linha mais alta da grade. Assim, garantimos a formalização métrica do input.

16 PARSE-pode ser traduzida por ANALISE-Quanto à sua definição, requer que a categoria prosódica sílaba esteja intergrada à categoria prosódica pé.

17ALLFOOT(R) traduz-se por TODO-PÉ (D), ou seja, o pé deve estar alinhado à direita da palavra prosódica.

* ( * . * .)

/filomena/

PARSE16- ALLFOOT(R)17 MAX-IO

a) [(fi.’lɔ)]  ****

b) [fi.(lõ.’me)] *! **

(34)

34 Em (04), o antropônimo ‘Filomena’ é o input, seguido das formas candidatas (a), ‘Filó’18, e (b), ‘Filomê’. As restrições PARSE-que exige que sílabas sejam integradas a pés, e ALLFOOT(R), responsável pelo alinhamento do pé à direita da palavra prosódica, estão em um mesmo nível hierárquico (a linha tracejada indica a não-dominância entre elas, que corresponde à relação {A, B}). Esses dois restritores, por sua vez, dominam MAX-IO, responsável pelo não-apagamento de segmentos fônicos do input para o output.

O candidato (b) viola PARSE-, já que há uma sílaba não-integrada à categoria prosódica pé. Ainda que não infrinja ALLFOOT(R), (b) está eliminado da disputa, pois a forma (a) passa ilesa pelos dois primeiros restritores. A restrição MAX-IO é atendida, da melhor maneira, pela forma (b), posto que são apagados apenas dois segmentos do input para o output, enquanto, em (a), são apagados quatro segmentos. No entanto, como a hipocorização é um processo caracterizado pela perda de material segmental para a criação de uma nova forma, é importante frisar que MARCAÇÃO >> FIDELIDADE19 e, portanto, não atender a MAX, ainda assim, garante à forma (a) a vitória como output ótimo.

Assim, como podemos observar, a emergência de um candidato como forma de superfície depende do respeito às exigências de nível mais alto. Além disso, as relações de dominância entre as restrições de marcação e de fidelidade garantem a formação de uma hierarquia de relevância baseada no

18 É importante salientar que, no que se concerne às referências feitas aos candidatos no corpo do texto, utilizaremos grafemas, a fim de facilitar a leitura.

19 Na proposta de Thami da Silva (2008), apesar de dominada, a restrição MAX-IO mostrou-se responsável pela seleção de candidatos ótimos na hipocorização, visto que a perda de segmentos fônicos torna uma estrutura opaca e, portanto, a melhor satisfação a MAX pode conferir a uma forma candidata sua emergência como output ótimo. Quando, então, uma restrição dominada torna os seus efeitos decisivos na seleção da forma de superfície, temos a emergência do não-marcado (McCARTHY & PRINCE, 1994b).

(35)

35 conflito entre essas duas famílias de restritores que compõe CON, o conjunto de restrições universais, conforme prevê a teoria.

Como se pode perceber, a TO Clássica, proposta por Prince &

Smolensky (1993), é um arcabouço teórico capaz de trazer à tona questões importantes sobre o modo como entendemos o funcionamento das línguas em geral. Sendo assim, não mais tratamos o estudo da linguagem de modo dicotômico: de um lado, formas perfeitas que respeitam todas as regras de uma língua e, de outro, formas agramaticais que, muitas vezes, infringem um único princípio linguístico. Compreender que a variação é inerente a cada língua é fundamental para melhor descrever os fenômenos que nela se processam e, nesse sentido, a TO também nos fornece instrumentais capazes de explicar o comportamento variável de muitos fenômenos, como é o caso da hipocorização, como melhor descrevemos na subseção a seguir.

3.2. O tratamento da variação sob a perspectiva otimalista

Conforme dito anteriormente, a TO Clássica, apesar de fornecer uma série de vantagens no que se refere ao estudo linguístico, como se observa, por exemplo, nas premissas referentes à violabilidade e ao paralelismo, ainda assim não havia voltado o seu olhar para o estudo da variação, visto que, de acordo com o modelo, apenas uma única forma de superfície é capaz de melhor atender ao ranking de restrições.

Alguns fenômenos linguísticos, no entanto, admitem mais de uma forma de saída e, por isso mesmo, caracterizam-se como variáveis. A fim, então, de

(36)

36 analisar esses processos, muitos autores passaram a concentrar esforços para explicar a variação sob a perspectiva otimalista20.

O primeiro trabalho de que se tem notícia sobre o tema foi escrito por Hammond (1994) e trata do acento em Walmatjari. Para o autor, a emergência de mais de um output ótimo é oriunda do próprio ranqueamento proposto para a análise de um fenômeno, ou seja, se um processo linguístico varia, cabe à hierarquia proposta trazer à tona todos os outputs possíveis relativos à forma de input a que se referem, como mostra o tableau genérico a seguir:

(05)

/Input/ A B C

[cand 1]  [cand 2] 

[cand 3] *! *

Em (05), analisamos, hipoteticamente, um fenômeno linguístico através de um ranking em que A >> B >> C. As formas candidatas 1, 2 e 3 são avaliadas, primeiramente, pelo restritor A, o mais bem cotado da hierarquia. Os candidatos 1 e 2 passam ilesos por esse restritor e, portanto, o candidato 3, que o viola, está eliminado. As demais restrições são respeitadas por [cand1] e por [cand2] e, por isso mesmo, ambos emergem como forma ótima sem que violem uma restrição sequer. Assim, na proposta de Hammond (op.cit.), dois ou

20 Vários estudos acerca da variação na TO foram realizados, como bem observaram Oliveira &

Lee (2005), ao tratar de inúmeros trabalhos realizados nessa linha: Zubritskaya (1995);

Pesetsky (1995); Broihier (1995); Antilla & Cho (1998); Kager (1994 e 1999); Boersma (1997);

Boersma & Hayes (2001); Smolensky & Tesar (1998); Riggle & Wilson (2005) e Vaux (2002 e 2006); no entanto, por uma questão de economia e objetividade, optamos por abordar, unicamente, propostas de variação na TO já aplicadas à hipocorização, a fim de justificar a adoção do modelo de Coetzee (2006).

(37)

37 mais outputs podem vir à superfície e, mais do que isso, esses outputs, em geral, não violam nenhuma restrição do ranking proposto.

No padrão C de hipocorização, como em ‘Eduardo’ > ‘Dudú’ e ‘Dú’, conforme será descrito no Capítulo 4 desta Tese, as duas formas emergem por passarem ilesas pela avaliação dos restritores. Na análise proposta por Thami da Silva (2008 e 2009), o tratamento adotado para que venham à superfície dois outputs ótimos é equivalente ao de Hammond (op.cit.), conforme exemplificado em (05). Entretanto, o que se verifica acerca desse padrão é a emergência de estruturas fonológicas menos marcadas na língua, o que, na verdade, reforça o fato de que os candidatos ótimos, segundo o modelo de Hammond (op.cit.), respeitam todas as demandas da hierarquia.

Dessa forma, se, na TO, o(s) output(s) ótimos deve(m) emergir do conflito entre restrições de caráter universal, candidatos que passam ilesos pela hierarquia de prioridades não se superficializam pelo conflito nesse caso, mas sim porque são formados por estruturas menos marcadas, o que, por sua vez, faz com que esses candidatos respeitem maximamente as restrições que regulam a boa-formação das formas linguísticas. Com isso, candidatos cuja estrutura linguística seja mais marcada não são contemplados pela abordagem de Hammond (op.cit.), o que motivou novos estudos acerca da variação na TO.

Um desses estudos foi desenvolvido por Antilla (1997). Segundo o autor, a emergência de mais de um output é possível quando duas restrições não são crucialmente hierarquizadas. Dessa maneira, dois restritores menos cotados na hierarquia passam a atuar em conjunto, como mostra a formalização em (06), a seguir:

(38)

38 (06)

/Input/ A B C

[cand 1]  *

[cand 2]  *

Em (06), a dominância entre os restritores menos cotados na hierarquia – B e C – é representada por uma linha tracejada entre eles, o que confere ao ranking uma relação de dominância em que A >> B, C (a primeira domina as demais, que não se hierarquizam crucialmente). O candidato 1 passa ileso pela restrição A, bem como ocorre com o candidato 2. No entanto, [cand1] viola B que, por sua vez, está em pé de igualdade com a restrição C, violada por [cand2]. Assim, emergem como ótimas as formas 1 e 2.

Tendo como base o modelo de Antilla (op.cit.), Lima (2008 e 2009) analisa o padrão D de hipocorização. De acordo com o autor, duas restrições – RED = CV21 e EXPONENCE22 – atuam em conjunto no ranking de relevância para a análise do padrão e, por isso mesmo, até duas formas de output podem emergir a partir dessa hierarquia, como ocorre com ‘Isabel’ > ‘Bebél’ ou ‘Bél’, conforme será mostrado, a seguir, no Capítulo 4.

Todavia, por mais que as abordagens apresentadas acerca da variação na TO sejam capazes de selecionar mais de um output ótimo, no caso da hipocorização, isso só se processa quando cada padrão de hipocorístico é descrito separadamente. Desse modo, não seria possível analisar, por

21 RED=CV obriga que o reduplicante (RED), seja composto de uma sílaba CV (CONSOANTE + VOGAL).

22 EXPONÊNCIA MORFOLÓGICA (McCarthy & Prince, 1993) é um restritor que obriga que instâncias morfológicas do input sejam realizadas no output. Nesse caso, computa-se uma infração sempre que um candidato não seja composto de um reduplicante, já que RED, o morfema de reduplicação, está presente no input.

(39)

39 exemplo, o padrão C tendo como base os restritores e a própria abordagem teórica acerca da variação adotada pelo padrão D ou vice-versa. Sendo assim, a forma ‘Mári’, para ‘Mariana’, não emerge no mesmo ranking de revelância proposto para ‘Nâna’, por exemplo, ainda que, como observado no Capítulo 2, todos os tipos de hipocorísticos admitam características comuns e partam, nesse caso, de um mesmo input.

Pensando, então, em unificar a análise dos padrões de hipocorização, é necessário (a) revisar e redefinir o que entendemos como padrão de hipocorização, de maneira a avaliar se, de fato, há, em português, quatro tipos de hipocorísticos legítimos na língua e, feito isso, (b) propor um novo olhar para a variação, capaz de trazer à tona mais de um output, desde que estes sejam utilizados pelos falantes. Em outras palavras, se para o antropônimo ‘Filomena’

são atestadas as formas ‘Filó’ e ‘Mêna’, ambas deveriam emergir através de uma mesma hierarquia de prioridades e, mais do que isso, dentre as formas encurtadas, deve haver um ranking de boa-formação, a fim de que, assim, saibamos qual forma linguística é mais acessada pelos falantes, sem descartar, no entanto, outras também utilizadas em menor frequência23.

O tratamento da variação que melhor se aplica à hipocorização é também a abordagem mais recente sobre o tema e foi proposta por Coetzee (2004, 2006). De acordo com o autor, a variação não está condicionada ao ranking em si, como postulam Hammond (op.cit.) e Antilla (op.cit.), e sim ao

papel desempenhado pelo componente AVALIADOR (EVALUATOR) na gramática otimalista. Este, que, anteriormente, atuava apenas na avaliação de

23 A frequência a que fazemos referência ao longo desta seção será discutida no item (3.2.2).

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