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A gestão multifatorial dos fatores de treino: estudo sobre a gestão multifatorial dos fatores de treino desportivo nos treinadores de futebol da Associação de Futebol de Viseu, do concelho de Viseu, nos escalões “D” (infantis) e “E” (escolas)

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

NOS ENSINOS BÁSICO E SE CUNDÁRIO

A GESTÃO MULTIFATORIAL DOS

FATORES DE TREINO

Estudo sobre a Gestão Multifatorial dos Fatores de Treino

Desportivo nos Treinadores de Futebol da Associação de

Futebol de Viseu, do concelho de Viseu, nos escalões “D”

(Infantis) e “E” (Escolas)

Ricardo Jorge Reis Fernandes

Professor Doutor Abel Aurélio Abreu Figueiredo

(2)
(3)

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

A GESTÃO MULTIFATORIAL DOS FATORES DE

TREINO

E

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Ricardo Jorge Reis Fernandes

Professor Doutor Abel Aurélio Abreu Figueiredo

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Dissertação apresentada à UTAD, no DEP – ECHS, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física dos Ensino Básico e Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2ºs Ciclos de Estudo em Ensino da UTAD, sob a orientação do Professor Abel Aurélio Abreu Figueiredo

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(8)

I

DEDICATÓRIA

Quero dedicar este trabalho a todos aqueles que me ajudaram a realiza-lo.

Nomeadamente à minha esposa, à minha filha, à minha família e aos meus amigos.

“ Corajoso não é aquele que tenta arranjar forças para continuar;

corajoso é aquele que continua mesmo, sem ter forças!”

(9)

II

AGRADECIMENTOS

Porque sozinho, seria mais difícil, não posso deixar de expressar os meus mais sinceros agradecimentos:

Ao Professor Orientador da dissertação, Professor Doutor Abel Figueiredo, por ter aceite invariavelmente, os meus pedidos de auxílio, e pelo acompanhamento da sua execução. Pela sua prontidão, disponibilidade, abertura, dedicação, humildade, vontade de ensinar e empenhamento demonstrados desde o primeiro momento; pelas sugestões e conselhos e pela ajuda constante durante todas as lecionações. Mas acima de tudo, por tudo aquilo, que me ajudou a crescer como professor, mas acima de tudo como ser humano, que sou por essência. A Ele, o meu muito obrigado, pelos seus infindáveis e muito úteis conselhos que me deu ao longo deste último ano.

À esposa, pela paciência homérica com que me ouviu falar infindavelmente desta dissertação, por me fazer descansar, pelo debate e por todas as ideias que fizeram deste trabalho uma coisa melhor, mas acima de tudo, pela sua ternura, carinho e amor demonstrado ao longo de todo este trabalho. É a ela que também devo, a conclusão deste trabalho, porque sem a sua ajuda teria sido impossível entrega-o dentro dos prazos estabelecidos.

À minha família que apesar de não estar presente fisicamente, não deixa de me conceder todo o seu apoio incondicional ao longo desta etapa, e em todas as etapas da minha vida, pois sem a sua ajuda e apoio não teria conseguido.

Aos meus colegas de trabalho e alunos, pela sua compreensão por todos os momentos “mortos” que necessitei para realizar esta dissertação.

Finalmente, e não menos importante, quero deixar vincado o meu agradecimento à minha filha por todo o amor, apoio e alento que sempre me dá quanto estou na sua presença. Com ela todos os problemas e dificuldades que me surgiram ao longo desta etapa afiguraram-se bem menores.

A todos aqueles que eu não referi, mas que de, alguma forma contribuíram para que este trabalho fosse realizado com êxito.

(10)

III

RESUMO

A gerência de toda uma multiplicidade de fatores de treino é, reconhecidamente, um dos agentes que mais influenciam na qualidade de desempenho do futebol, nomeadamente no que se reporta ao seu planeamento e gestão multifatorial dos fatores de treino. Paradoxalmente, no âmbito do processo de treino, nem sempre se verifica uma coerência entre a estrutura e conteúdo dessa mesma gestão e o modelo de treino preconizado pelo treinador. Para além disso, assistimos a uma massificação do futebol de 7 como um espaço ideal onde as crianças podem desenvolver o gosto que possuem pela sua prática.

Assim este trabalho é legitimado e justificado perante a necessidade em perceber a forma como se encara o processo de treino, nomeadamente com o nível de preocupação com a gestão multifatorial dos fatores de treino desportivo, junto dos treinadores de futebol de 7 do concelho de Viseu pertencentes aos quadros da Associação de Futebol de Viseu.

Para o efeito, foram inquiridos 40 treinadores de futebol, todos do género masculino, (31.63 anos de idade). O questionário foi desenvolvido visando a recolha de informação precisa, de modo extensivo, sobre as características individuais dos treinadores e de perceção institucional, grau de planeamento e grau de gestão multifatorial dos fatores de treino.

As conclusões mais relevantes do trabalho são: a) Mais de metade da amostra, 57,5%, possui um grau elevado de habilitações literárias (licenciatura ou mais), apresentando grande afinidade com a área da Ed. Física/Desporto com 19 inquiridos ligados à área; b) Os inquiridos relacionados com a área da Ed. Física/Desporto tenta fazer primeiramente uma experiência no futebol de 7 quando conclui o curso; c) A amostra procura a todo o instante atualizar-se com novos conhecimentos, novas tendências ou simplesmente fortalecer e robustecer os seus conhecimentos e competências; d) A amostra defendeu e os resultados assim o demonstram: existe uma relação bastante cúmplice entre o fator técnico e tático; e) Para a nossa amostra o fator físico “treina-se”, na maioria das vezes, em tarefas onde o maior pendor e focalização do exercício é centrado em fatores mais técnico-táticos; f) Os fatores psicológico e tático são aqueles que apresentam mais correlações significativas g) Com a experiência a amostra mostra-se menos preocupada com a planificação e integração do fator físico no seu modelo de treino, paradoxalmente ao fator social/teórico; h) A amostra é constituída de técnicos dotados de com uma grande sensibilidade e conhecedores da temática da otimização da gestão multifatorial dos fatores de treino bem como de portadores de conhecimentos académicos sobre as fases de crescimento em que as crianças destes escalões se encontram.

PALAVRAS CHAVE: FUTEBOL DE 7; JOVENS; PLANEAMENTO; GESTÃO

(11)

IV

ABSTRACT

The management of a whole multitude of factors training is recognized as one of the agents that influence the quality of football performance, particularly as it relates to its planning and management of multifactorial factors training. Paradoxically, in the training process, not always there is a consistency between the structure and content of the same management and training model recommended by the coach. In addition, we witnessed a mass Football 7 as an ideal space where children can develop a taste for having their practice.

So this work is legitimized and justified given the need to realize the way it views the training process, in particular the level of concern for the management of multifactorial factors sports training, among football coaches of football 7 belonging to the municipality of Viseu the frames of the Football Association in Viseu.

For this purpose, 40 respondents were football coaches, all males, (31.63 years). The questionnaire was developed in order to gather accurate information so extensively on the individual characteristics of the coaches and institutional perception, degree of planning and management degree multifactorial factors training.

The most relevant conclusions of this work are: a) More than half of the sample, 57.5%, has a high degree of academic qualifications (degree or more), with a great affinity with the area of Physical Education / Sports with 19 respondents linked the area, b) Respondents related to the field of Physical Education / Sport tries to make first a football experience in football 7 when they graduated c) The sample demand at any instant update with new knowledge, new trends or simply reinforce and strengthen their knowledge and skills d) The sample and the results thus defended the show: there is a relationship between factor accomplice quite technical and tactical e) For our sample the physical factor "train up" on most often, in tasks where the largest bias and focus of the exercise is focused on more technical and tactical factors f) The psychological and tactical factors are those with more significant correlations g) With experience shows the sample is less concerned with planning and integration of the physical factor in its training model, paradoxically to factor social / theoretical h) The sample consists of technicians endowed with great sensitivity and with experts in the topic of the optimization of multifactorial factors management training as well as carriers of academic knowledge about the growth phase in which these steps are children.

KEY WORDS: FOOTBALL 7; YOUNG; PLANNING, MANAGEMENT

(12)

V

ÍNDICE GERAL

DEDICATÓRIA ... I AGRADECIMENTOS ... II RESUMO ... III ABSTRACT ... IV ÍNDICE GERAL ... V ÍNDICE DE FIGURAS ... VII ÍNDICE DE GRÁFICOS ... VIII ÍNDICE DE TABELAS ... IX

INTRODUÇÃO ... 11

REVISÃO DA LITERATURA ... 16

1. O DESPORTO NA SOCIEDADE ... 16

2. A MATRIZ DA MOTRICIDADE HUMANA ... 18

3. TREINO DESPORTIVO ... 22

3.1. Definição ... 22

3.2. Objetivos do treino desportivo ... 25

3.3. Princípios do Treino Desportivo ... 26

3.3.1.Princípios biológicos ... 27 3.3.1.1. Sobrecarga ... 27 3.3.1.2. Especificidade ... 29 3.3.1.3. Reversibilidade ... 30 3.3.1.4.Heterocronismo ... 32 3.3.2.Princípios metodológicos ... 33

3.3.2.1. Relação ótima entre o exercício e o repouso ... 33

3.3.2.2. Participação ativa ... 34 3.3.2.3. Continuidade ... 35 3.3.2.3. Progressividade ... 36 3.3.2.4. Ciclicidade ... 40 3.3.2.5. Individualidade ... 41 3.3.2.6. Multilateralidade ... 43

4. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO PROCESSO DE DIRECÇÃO DO TREINO .... 46

4.1. Planeamento ... 46

4.1.1. Definição de objetivos ... 47

4.1.2. Avaliação ... 47

4.2. Organização ... 47

4.3. Liderança ... 48

4.3.1. O Treinador enquanto agente de mudança ... 49

4.3.2. O Treinador enquanto gestor de conflitos ... 49

(13)

VI

5. PLANEAMENTO ... 51

5.1. Definição ... 51

5.2. Periodização do treino desportivo ... 52

5.3. Modelos de Periodização do treino desportivo ... 53

5.3.1. Modelos Tradicionais ... 54 5.3.2. Modelos contemporâneos ... 62 6. FATORES DE TREINO ... 83 6.1. O que são ... 83 6.2. Sua Dinâmica ... 84 6.3. Preparação Física ... 84

6.4. Preparação Técnica (a Técnica) ... 85

6.5. Preparação Tática ... 87

6.6. Preparação Psicológica ... 88

6.7. Preparação Teórica-Social ... 89

6.8. A Gestão Integrada dos Fatores de Treino ... 90

ESTUDO EMPÍRICO... 93

1. METODOLOGIA ... 93

2. UNIVERSO, PROBLEMÁTICA E PROBLEMA ... 94

3. VARIÁVEIS ... 96

3.1. Identificação e classificação das variáveis ... 96

4. HIPÓTESES ... 97

5. RECOLHA E TRATAMENTO DOS DADOS ... 98

6. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ... 99

6.1. Análise Descritiva/Inferencial ... 99

6.1.1. Caracterização das variáveis identificadoras ... 100

6.1.2. Caracterização da perceção do contexto institucional da amostra ... 109

6.1.3. Caracterização do grau de planeamento do treino ... 118

6.1.4. Caracterização da Gestão Multifatorial dos Fatores de Treino ... 123

6.1.5.Matriz Correlacional entre as Variáveis Identificadoras, Grau de Planeamento e Gestão Multifatorial dos Fatores de Treino ... 135

6.1.6. Scores ... 138

6.2. Validação dos Objetivos de Estudo ... 141

6.2.1.Objectivo de Estudo OE A1 ... 141 6.2.2. Objetivo de Estudo OE A2 ... 142 6.2.3. Objetivo de Estudo OE A3 ... 143 CONCLUSÃO ... 144 BIBLIOGRAFIA ... 149 ANEXOS ... 154 ANEXO I – QUESTIONÁRIO ... 154

(14)

VII

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Matriz Referencial da Motricidade Humana (baseado em Figueiredo, 1994b; 1995)

cit in Figueiredo 2006, p. 36 ... 18

Figura 2 – Integração Cultural cit in Figueiredo 2006, p. 37 ... 20

Figura 3 – Progressão em carga standard de treino (Bompa, 1999, cit in Dias & Figueiredo, 2002). ... 37

Figura 4 - Progressão Linear da Carga de Treino (Bompa, 1999, cit. in Dias & Figueiredo, 2002). ... 38

Figura 5 - Progressão Escalonada da Carga de Treino (Bompa, 1999, cit. in Dias & Figueiredo, 2002) ... 39

Figura 6 - Evolução do Número de Sessões Intensas (Bompa, 1999, cit. in Dias & Figueiredo, 2002). ... 39

Figura 7 - Curva Ondulada (Bompa, 1999, cit. in Dias & Figueiredo, 2002). ... 40

Figura 8 – Fases do Treino a longo termo (Bompa, 1999, cit. in Dias & Figueiredo, 2002) ... 45

Figura 9 - Relação entre Desenvolvimento Multilateral e Treino Especializado em diferentes idades (Bompa, 1999, cit. in Dias & Figueiredo, 2002) ... 45

Figura 10 – A continuidade do processo de direção do treino (Leith, 1983, trad: 1992). ... 46

Figura 11 - Periodização para competidores de alto nível (Forteza, 2001, cit in Lopes, 2004)60 Figura 12 – Esquema de três integrantes do processo de treino (Verkhoshanski, 2001) ... 65

Figura 13 - Desenho esquemático da periodização em bloco (Verchoshanski, 1989, cit in Alves 2001) ... 68

Figura 14 - Operacionalidade do princípio da especificidade cit in Oliveira (2003) ... 73

Figura 15 – Treino geral e específico Rocha, 2000, cit. in Carvalhal, 2002) ... 82

Figura 16 - Fatores de Treino de Bompa (1999), cit in Figueiredo, 2006. ... 83

(15)

VIII

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 -Representação gráfica das habilitações literárias dos treinadores. ... 101

Gráfico 2 - Representação gráfica dos níveis de cursos dos treinadores. ... 103

Gráfico 3 - Representação gráfica dos níveis de cursos dos treinadores. ... 104

Gráfico 4 - Representação gráfica dos grupos de anos de atividade dos treinadores. ... 105

Gráfico 5 - Representação gráfica dos escalões que atualmente planeiam o treino ... 107

Gráfico 6 - Representação gráfica dos escalões onde já planeou o treino ... 107

Gráfico 7 - Representação gráfica em que outra modalidade possuem curso de treinador. ... 108

Gráfico 8 - Representação gráfica: exerce ou exerceu funções de treinador nessa modalidade. ... 109

Gráfico 9 - Representação gráfica dos horários das sessões de treino semanal dos clubes inquiridos. ... 111

Gráfico 10 - Representação gráfica dos recursos que possui o treinador. ... 115

Gráfico 11 - Representação gráfica do estabelecimento de objetivos por parte do treinador. 119 Gráfico 12 - Representação gráfica da utilização de instrumentos de planeamento por parte do treinador. ... 120

Gráfico 13 - Representação gráfica relativa à consideração dos vários fatores de treino por parte do treinador. ... 123

Gráfico 14 - Representação gráfica do grau de importância atribuída aos fatores de treino por parte do treinador. ... 125

Gráfico 15 - Representação gráfica dos scores totais do grau de planeamento e da planificação integrada dos fatores de treino ... 139

Gráfico 16 - Representação gráfica das estatísticas relativas ao grau de planeamento por parte dos treinadores. ... 141

Gráfico 17 - Representação gráfica das estatísticas relativas à integração dos fatores de treino por parte do treinador. ... 142

Gráfico 18 - Representação gráfica das estatísticas relativas ao grau de planeamento e gestão integrada dos fatores de treino por parte do treinador. ... 143

(16)

IX

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Estatísticas relativas ao género dos treinadores. ... 100

Tabela 2 - Representação das estatísticas relativas à idade dos treinadores. ... 100

Tabela 3 - Estatísticas relativas às profissões dos treinadores... 102

Tabela 4 - Estatísticas relativas aos grupos profissionais dos treinadores. ... 103

Tabela 5 – Representação das estatísticas relativas aos anos de atividade dos treinadores. .. 104

Tabela 6 – Estatísticas relativas aos anos de atividade como treinadores de futebol 7. ... 105

Tabela 7 – Estatísticas relativas aos anos de atividade como treinadores de futebol 11. ... 106

Tabela 8 – Estatísticas relativas à frequência e/ou conclusão do curso de treinador de outra modalidade. ... 108

Tabela 9 - Estatísticas relativas ao local habitual das sessões de treino. ... 109

Tabela 10 - Representação esquemática do nº de clubes que treinam no mesmo período e no mesmo dia, do nº de sessões por horário e do nº de sessões por dia da semana. ... 110

Tabela 11 - Representação das Estatísticas relativas ao tempo total de treino semanal. ... 111

Tabela 12 - Estatísticas relativas ao tempo total de treino semanal. ... 112

Tabela 13 - Representação esquemática dos tempos (minutos) de cada sessão de treino semanal dos clubes inquiridos, tempo total semanal e nº de treinos por semana. ... 113

Tabela 14 - Representação esquemática do nº de treinos por semana, e da duração de cada sessão de treino. ... 114

Tabela 15 – Matriz Correlacional entre as variáveis identificadoras. ... 116

Tabela 16 - Estatísticas relativas à elaboração do plano anual pelos treinadores. ... 118

Tabela 17 – Matriz Correlacional entre as variáveis identificadoras e o grau de planeamento. ... 121

Tabela 18 - Estatísticas relativas à planificação dos vários fatores de treino por parte do treinador. ... 123

Tabela 19 – Representação das estatísticas relativas à importância atribuída no seu modelo de treino de futebol aos fatores de treino por parte do treinador. ... 124

Tabela 20 – Matriz Correlacional entre as variáveis da gestão multifatorial dos fatores de treino (consideração e importância atribuída aos fatores de treino) ... 127

Tabela 21 - Estatísticas relativas ao planeamento de exercícios integrados ou não do fator de treino físico por parte do treinador. ... 129

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X

Tabela 22 - Estatísticas relativas ao planeamento de exercícios integrados ou não do fator de treino técnico por parte do treinador... 129 Tabela 23 - Estatísticas relativas ao planeamento de exercícios integrados ou não do fator de treino tático por parte do treinador. ... 130 Tabela 24 - Estatísticas relativas ao planeamento de exercícios integrados ou não do fator de treino psicológico por parte do treinador. ... 130 Tabela 25 - Estatísticas relativas ao planeamento de exercícios integrados ou não do fator de treino social/teórico por parte do treinador... 131 Tabela 26 – Matriz Correlacional entre as variáveis da gestão multifatorial dos fatores de treino ... 132 Tabela 27 – Matriz Correlacional entre as variáveis identificadoras, grau de planeamento e gestão multifatorial dos fatores de treino. ... 135 Tabela 28 - Scores totais dos graus de planeamento e planificação integrada dos fatores de treino por parte dos treinadores ... 138

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INTRODUÇÃO

“… não existe treinador que não pretenda ser o “Deus de Laplace” – conseguir prever com uma certeza infitesmal a evolução do jogo, controlar esse sistema multivariável. Por isso, talvez se preferisse substituir a variabilidade pela estereotipia na expectativa de que as atitudes dos seus jogadores fossem previstas e articuladas com a máxima certeza, de que as propriedades topológicas do movimento que eles manifestam fossem as menos variáveis. Ele deve, no entanto, aperceber-se que a máxima estereotipia, correspondendo à mínima variabilidade, corresponde, também á máxima adaptabilidade…”

Cunha e Silva, cit in Carvalhal (2002)

Todos sabemos que a maioria dos sistemas de ensino com maiores taxas de sucesso escolar, na área do desporto, possui uma grande simbiose com o treino desportivo, falando todos o mesmo “tipo de linguagem”.

Assim sendo foi nossa preocupação verificar se o paradigma vigente no sistema escolar era de certa forma seguido no treino desportivo. Assim consideramos que a elaboração deste trabalho nos servirá para, duma forma geral, verificar o modo/tratamento do processo ensino-aprendizagem desta modalidade no nosso contexto, bem como duma forma mais particular, me alertar quando um dia mais tarde entrar no sistema de ensino ter a clara noção das duas formas de encarar esta modalidade desportiva.

Desta forma o nosso trabalho tem como pano de fundo e elabora-se tendo em conta três conceitos fundamentais: Planeamento do treino desportivo, perspetiva multidimensional e o sistema de crenças e convicções.

Planeamento desportivo visto que é ele que permite redução de imprevisibilidade que leva a maior confiança, sentido de intencionalidade e um maior controlo do processo e eficácia do mesmo. Sendo condição dar-lhe também uma perspetiva multidimensional, visto que o Homem é um ser biopsicossocial, onde poderemos explorar diversas áreas.

No entanto, estes 2 aspetos serão sempre consoante as suas convicções e crenças de cada treinador. É segundo elas que vão influenciar e se deixam influenciar.

Pode-se definir o planeamento como o processo através do qual se pretende organizar o futuro, estabelecendo objetivos e implementando as estratégias necessárias para os alcançar.

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12

Segundo a literatura, existem diferentes formas de planear, mas todas elas de acordo que essa planificação deverá passar por diversos níveis, do mais micro ao mais macro possível. Isto torna-se pertinente porque posteriormente, no nosso trabalho, scorizamos os diversos dados em escalas crescentes dão do lhe uma maior valorização à escala macro/sim/mais.

Na longuíssima lista de desportos praticados nos nossos dias, há umas boas duas dezenas em que a bola é o objeto fundamental e o centro de todas as atenções. No entanto, ninguém estabelece confusões quando se utiliza a expressão “jogar à bola”: trata-se de uma única bola e um único desporto, o futebol. Por isso, e só por isso, alguém sentenciou: “ O Futebol carrega um pesadíssimo fardo: é o principal desporto do mundo”.

O Futebol afirma-se, cada vez mais, no domínio audiovisual, como o desporto mediático por excelência. O espírito olímpico puro e duro do barão Pierre de Coubertin não resistiria ao fascínio e, cada vez mais, aos interesses económicos do Futebol.

Desta forma, Pacheco (2001) afirma que a importância que inquestionavelmente assume o ensino do Futebol na atualidade, exige por parte dos clubes, que lhe seja prestada uma maior atenção e coordenação, através da implementação de um modelo de formação, com programas, formas e métodos de treino adequados.

O desporto sendo criação do homem, apareceu e desenvolveu-se simultaneamente com a civilização (Bayer, 1979, cit in, Castelo 1994), tornando-se nesse sentido, objeto do seu conhecimento. O conhecimento (entenda-se compreensão dos factos) e a prática do desporto constituem assim, a capacidade de se criar novos valores universais, que consubstanciam paralelamente com a construção de um novo sistema de convicções (Menaut, 1982, cit in Castelo, 1994).

Assim, este trabalho é legitimado e justificado perante tal necessidade em perceber a forma como se encara o processo de treino, neste caso a nível distrital. Senão, atendamos às palavras de Braunstein & Pépin (1999), quando a maior parte das interrogações atuais nas ciências humanas respeitam a questão das origens e dos fundamentos. Por isso, questionar as origens e os fundamentos do Desporto é procurar a construção de modelos de gestão mais adequados ao novo espaço institucional que, connosco, emerge aqui e agora.

Como já referimos o Futebol reclama, a todos os agentes que nele gravitam, uma cada vez mais responsabilização e competência, considerando as respetivas esferas de intervenção (Garganta, 1999, cit in Pacheco 2001). Podemos então afirmar, que aos treinadores exige-se

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13

que fundamentem a sua prática em ideias próprias. É também isso que faz deles especialistas na matéria.

Ainda, segundo o autor supracitado, um aspeto interessante que permite compreender melhor o papel o treinador no processo de treino desportivo, prende-se com as funções que este desempenha. A investigação centrada na atividade desenvolvida por estes agentes, com vista a melhorar a qualidade da sua intervenção, é fundamental e é nesse sentido que se justificam os estudos sobre o treinador, reconhecida que é a sua importância como líder ao nível do treino desportivo (Rodrigues & Alves, 2005, cit in Sequeira, 2005).

Opina Ralph Sabock (1992) cit in Graça & Oliveira (1995), que treinar não é uma atividade que se possa fazer mecanicamente, visto que se baseia no relacionamento humano, com pessoas de diferentes tipos – adultos e jovens, companheiros, treinadores, gente agradável, críticos, pessoas amigas, adversários e, convém não esquecer, pais de atletas. […]

Trata-se de trabalhar com um conjunto de situações bastantes complexas, em que está envolvida a mais preciosa das riquezas – os seres humanos – cada um deles com as suas esperanças, os seus sonhos e os seus objetivos de vida.

Ainda de acordo com o autor supracitado, “aqueles treinadores que pensam poder ter um grande sucesso na sua atividade, só pelo conhecimento dos aspetos específicos da sua modalidade, correm o risco de vir a sofrer uma desilusão. Não é preciso ser um super – dotado para descobrir uma maneira de marcar golos num jogo. Esta é a parte mais fácil da função! Aquilo que é preciso não esquecer é que, treinar é uma atividade em que estão envolvidas pessoas, pelo que pode acontecer que o fator condicionante de maior importância para o sucesso do treinador, venha a ser a sua capacidade de trabalhar com elas. Ora este aspeto já não é tão fácil quanto o anterior!”

No fundo, era isto que Mourinho cit in, Oliveira et al, (2006) refere quando se referia à sua descoberta guiada, “… o objetivo é que os jogadores percebam e acreditem no modelo de jogo, é fazerem algo por crenças própria, por sentirem que é a melhor forma de o fazerem e não porque alguém lhes disse “vamos fazer assim”. … Eu sei onde é que quero chegar. Agora, em vez de lhes dizer nós vamos por ali, quero que sejam eles a descobrir esse caminho, interagindo duma forma modesta, motivadora e cativante para eles.”

Segundo Ralph Xaboco (1992) cit in Graça & Oliveira (1995), pouco importa a dimensão do conhecimento que o treinador possui se ele não for capaz de o transmitir aos seus atletas. Reside aqui o ponto crucial do exercício desta função. Sem a capacidade de entender os atletas e a posse de uma certa empatia para eles, o treinador que venha a agir de

(21)

14

uma forma mecânica, vai estar fortemente limitado no exercício das suas tarefas, situação que é particularmente verdadeira no caso do desporto, área onde as emoções humanas e a relação entre as pessoas, estão presentes de uma forma absolutamente decisiva.

Outro aspecto significativo na vida de um treinador, será sempre o de operar uma análise permanente sobre o estado dos seus atletas. O efeito que pretendemos obter na equipa e nos atletas, muitas vezes, sem sabermos as razões objetivas, traduzem-se em efeitos secundários que se intrometem, como ervas daninhas num campo de flores (Carvalhal, 2002).

Assim, Castelo (1994), refere que tudo o que perspetivamos e planeamos deverá ser colocado em equação a cada momento. Os planos de treino fazem sentido se estiverem sujeitos a constantes adaptações, só assim se tornam importantes.

É então nesta perspetiva que os modelos representativos do processo de treino acabam por ser importantes, sendo de destacar nesta problemática o modelo dos fatores de treino.

Nesse sentido, o nosso problema centrou-se no estudo do nível de preocupação com a planificação dos fatores de treino desportivo junto dos treinadores de futebol de 7 do concelho de Viseu pertencentes aos quadros da Associação de Futebol de Viseu.

A escolha recaiu sobre os clubes do concelho de Viseu, que se inscreveram respetivamente nas diferentes séries dos campeonatos D e E da Associação de Futebol de Viseu, (Clube Futebol “Os Repesenses”, Lusitano Futebol Clube de Vildemoínhos, Casa do Benfica de Viseu, Viseu 2001, Asdreq - Associação Social Desportiva e Recreativa de Quintela de Orgens, Dínamo Clube da Estação, Viseu e Benfica de Viseu, Académico Clube de Viseu, Futebol Clube de Ranhados, Clube Futebol “Os Viriatos”, Associação de Solidariedade Social Recreativa e Desportiva de Vila Chã de Sá), uma vez que este assume-se como um espaço que interessa estudar no desenvolvimento do conhecimento sobre a gestão dos fatores de treino no futebol distrital infantil, ao qual temos acesso possível.

Para Bompa (1990, p.51), existem “cinco fatores fundamentais no treino: físico, técnico, tático, psicológico e teórico.”

A gestão dos fatores de treino (físico, técnico, tático, psicológico e teórico) pelo treinador desportivo é preponderante para se atingir os objetivos pretendidos no futebol.

A sistematização dos referidos fatores serve para ajudar o processo de gestão de treino. Sendo um referencial importante na análise dos atletas, no diagnóstico e na prescrição da sua preparação, permite esboçar áreas mais específicas de preocupação e, assim, de intervenção pelo treino (Figueiredo, 2006).

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Se por algum motivo os objetivos não estão a ser atingidos, o treinador terá de ter a perspicácia de reformular todo o plano de treino. No futebol a visão holística referente ao bio-psico-social adapta-se perfeitamente aos fatores de treino em que bio corresponde aos fatores físico, técnico e tático, psico tem a ver com o fator psicológico e social refere-se ao fator teórico.

O presente trabalho, estruturalmente, divide-se em duas partes lógicas: uma de natureza teórica, onde fazemos uma revisão da literatura, e outra de natureza empírica de recolha e tratamento de dados.

Após terminada a revisão da literatura, procedeu-se à elaboração do projeto prático do estudo. Assim, começamos por escolher uma amostra de 40 elementos que corresponde á totalidade da população alvo.

Para atingir o objetivo do estudo: conhecer, junto dos treinadores de futebol das diferentes séries da Associação de Futebol de Viseu, no escalão D e E, o nível de preocupação com a planificação dos fatores de treino desportivo (físico, técnico, tático, psicológico e teórico).

Neste sentido foi elaborado um questionário com os devidos itens a avaliar, que depois de aferido foi aplicado à amostra:

 Avaliar o grau de planeamento e gestão multifatorial dos fatores de treino;

 Analisar o modo como as variáveis socioprofissionais e de perceção do contexto institucional se revelam influenciadores do grau de planeamento e integração dos fatores de treino.

No final, foi realizada a análise e interpretação dos resultados dos dados dos questionários.

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REVISÃO DA LITERATURA

1.

O

DESPORTO

NA

SOCIEDADE

A compreensão que o treino é um fenómeno social, está demonstrada pelo facto de ser através do treino que o desporto hoje se vivencia em fenómenos mais institucionalizados.

Se o Desporto é um Facto Social no conceito sociológico de Durkheim (1895), é também um Fenómeno Social Total (Mauss, 1950; Gurvich, 1968, cit in Figueiredo 2006) explicável e compreensível à luz da ciência.

O desporto é uma criação do homem, que apareceu e se desenvolveu simultaneamente com a civilização. O conhecimento e a prática do desporto constituem atos de cultura; a cultura desportiva – tal como a cultura física – representa domínios da cultura material e espiritual universal (Teodorescu, 2003).

Como facto social, engloba um conjunto de “maneiras de agir, pensar e de sentir” (Durkheim, 1895, p.30) que, com “uma existência própria, independente das suas manifestações individuais”, exercem “uma coerção exterior sobre o indivíduo” (Ibidem, p. 39), seja ele agente desportivo direto ou não. Os grupos ou organizações no desporto são entidades identificáveis, com uma existência própria, para além dos indivíduos que as integram.

Se Durkheim considerou a realidade social como uma realidade específica e irredutível a qualquer outra, Mauss (1950) cit in Figueiredo (2006) desenvolve a ideia de que “os factos sociais são fenómenos totais, cujos diferentes aspetos perdem o seu sentido logo que os isolamos”, negando assim a “nefasta teoria do ‘fator predominante’” (Gurvich, 1968,

cit in Figueiredo, 2006, p.25). As teorias unilaterais ou as teorias dos fatores predominantes

consistem em se escolher, entre as causas ou os motivos de fenómenos sociais, um que se promova à categoria de causa universal.

O grupo, a equipa, o clube, a associação, a federação, a confederação, enfim, a instituição identificável num desporto organizado, dá, por um lado, sentido completo ao Desporto como fenómeno social total, mas necessita, por outro lado, de ser estudada nos limites da sua totalidade: como modalidades desportivas concretas.

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É dos grupos de praticantes e competidores de cada uma das múltiplas modalidades que as instituições surgem e se desenvolvem. A política desportiva mais ligada ao Estado olha para a diversidade e encontra o fator predominante, de forma a poder melhor gerir essa diversidade, criando estruturas “macro” de gestão do Desporto.

Opina Figueiredo (2006, p.26) que o próprio Desporto complexifica-se epistemicamente na sociedade em que se desenvolve. Nesse sentido, como toda a cultura refere parcialmente o mundo do Homem, a interpretação dos modelos próprios de diferentes culturas ajuda-nos a encontrar modelos mais adequados para o humano hodierno: transcultural; trans-parcial. Se hoje o Desporto dá lições à liderança no mundo dos negócios como uma rica metáfora de exame (Westerbeek, 2005 cit in Figueiredo, 2006, p.26), sem dúvida que a sua globalização não deixa de ter em conta a sua natureza cultural essencial.

Foi o elogio da “natureza anti neutral da Educação Física e do Desporto” que se tornou “a essência das problematizações atuais nestes domínios de atividade e, pelo seu enquadramento epistémico, também na cultura contemporânea onde se inclui a conceção científica moderna emergente dos séculos XVII e XVIII, consolidada com o positivismo do século XIX” (Figueiredo, 1996, p.58).

O treino desportivo materializa-se assim em olhar de forma complexa para o movimento humano desportivo, sem desprezar completamente as várias dimensões possíveis na matriz do desporto que se referencia também na da motricidade humana.

Neste contexto, o objeto de estudo mais macroscópico para a interpretação da complexidade do treino desportivo é a compreensão da Motricidade Humana que também é o objeto de estudo nos domínios da biomotricidade, psicomotricidade e sóciomotricidade. Os contextos diversos do seu estudo são essencialmente, com Parlebas (1999, cit in Figueiredo, 2006) os do trabalho (ergomotricidade) ou os do lazer (ludomotricidade), de entre os quais, o contexto mais institucional hodiernamente é o desporto.

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PÁGINA 18

2. A MATRIZ DA MOTRICIDADE HUMANA

A Motricidade Humana acompanha o movimento de integração de um indivíduo na sociedade inerente à realidade em constante mudança (Sérgio, 1987 cit in Figueiredo, 2006).

A palavra “desporto”, com origem latina, pode provir da expressão “de-portare” referente aos jogos fora das portas da cidade (Cagical, 1966, cit in Figueiredo, 2006), ou do francês antigo “déport” ou “desport”, que se conota com atividades “sem porte” e que Magalhães (2003, cit in FIGUEIREDO (2006) faz questão de esclarecer como “sem cobrança”, “gratuita por si mesma (lúdica) ”. Este mesmo autor identifica a provável linhagem do “latim tardio ‘desportare, diportare’ com o significado mais comum (…) de divertimento, recreação, decerto modo oposto a ‘suportar’” (IBIDEM).

É assim, a dimensão projeto, e a motivante natureza intencional que fazem o homem transcender-se na sua operacionalidade em contextos diversificados, como seja o contexto do Desporto (sistema desportivo), o contexto da Educação Física e Desportiva (sistema educativo), entre outros. Encarando o treino desportivo como constructo situacional de desenvolvimento humano em grupo, importa perceber aquilo que podemos aproveitar e aquilo que podemos rejeitar para manter-mos o nosso projeto de desenvolvimento humano, olhando para as atividades motoras sem reducionismos fronteiriços, sem ficar demasiado apegados ás etiquetas que vão sendo impostas, assim como modificadas (Figueiredo, 1996).

A clarificação de uma matriz teórica pode ajudar a compreender o espaço livre para as diversas conceções sem qualquer interesse uniformizador mas apenas esclarecedor do enquadramento conceptual acima referido.

Figura 1 - Matriz Referencial da Motricidade Humana (baseado em Figueiredo, 1994b; 1995) cit in Figueiredo 2006, p. 36

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A transcendência biopsicossocial promovida pela gestão adequada das dimensões lúdica, institucional, motora e agonista, num espaço integrado do Homem holístico, caracteriza a pós-modernidade em áreas de intervenção social com o Desporto, seja no sistema educativo seja no desportivo, em relação epistémica com outras áreas de intervenção sobre a motricidade humana (Educação Especial e Reabilitação, Medicina, Etc.).

É neste sentido que se faz a integração e superação do “sinto, logo existo”, tal como se faz em relação ao “penso, logo existo”. No Desporto pós-moderno olha-se para a tarefa motora ou exercício físico como instrumento fundamental para gerir a natureza intencional do sujeito de prática na sua globalidade. Porque há virtualidade e atualidade no movimento, são intencionalmente geridos os estímulos nele implícito, inclusivamente os sensitivos e cognitivos (penso e sinto enquanto me movo intencionalmente) (Figueiredo, 2006, p.37).

Assim sendo, em coerência de paradigma, damos primazia ao movo-me, logo existo1.

Não é que o sistema motor, em relação ao sistema sensorial ou cognitivo, esteja primordialmente envolvido no que entendemos fundamento da existência. É apenas porque, nas nossas áreas, o objeto de estudo é fundamentalmente a Motricidade Humana e através da ação, se intencionalmente assumida, cognição2 e sensorialidade3 estão certamente em

evidência.

Assinale-se que não se trata de um absolutismo da qualidade ou da quantidade da “mobilidade” ou “motilidade” ou ainda da “operacionalidade atuante” que ali importa realçar. Essencialmente importa elogiar a intencionalidade operante rumo à transcendência, ou seja, à

passagem do virtual ao atual.

Por outro lado, não é o movimento isolado que fundamenta o Homem biopsicossocial. É na transcendência do virtual ao atual estimulada em tarefas motrícias intencionalmente geridas enquanto professores ou treinadores que tocamos na Acão, Emoção e na Razão elogiadas por Damásio (1995) cit in Figueiredo, (2006). Operacionalmente, essas maneiras de pensar, sentir e agir evidenciam-se nas operações de co-implicação através das normas, valores e símbolos assumidos em comunidade.

1 Citando Manuel SÉRGIO, “Movo-me, logo existo: há assim uma ínsita garantia de que a motricidade sugere aspectos essenciais da existência e é, com toda a certeza, a sua expressão mais imediata.” (SÉRGIO, 1987, p. 15) 2 Pensamento também. Integrando a cognição em complexas elaborações mentais, num mundo interno e subjectivamente virtual.

3 Sentimento também. Integrando a sensorialidade com as emoções, ou seja com o seu sentido subjectivo quer centrifuga, quer centripetamente.

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Figura 2 – Integração Cultural cit in Figueiredo 2006, p. 37

Movo-me, logo existo! Há aqui, na expressão que Sérgio cit in Figueiredo (2006) diz com frequência há já 30 anos, uma clara mudança de paradigma a que a Educação Física e o Desporto não podem ficar indiferentes, se não fora por mais, pelas três razões que, de forma indicial, enunciamos:

Assume a morte do paradigma cartesiano na Educação Física;

Faz do movimento intencional visando a transcendência (a que Manuel Sérgio chama Motricidade Humana) um processo e não um facto;

Assinala que há uma história corporal do conhecimento.

Assim sendo, o conceito de Motricidade Humana (intencionalidade operante) assume a sua função plena de “campo e natureza das condutas motrizes” de Parlebas (1999, cit in Figueiredo, 2006), que, do nosso ponto de vista, deve ser assumido como campo e natureza das condutas motrícias4 e, assim, poderá ser definido como intencionalidade motrícia.

As operações paradigmáticas “penso logo existo”, “sinto logo existo” e “movo-me logo existo”, obtêm, no nosso modelo (Figueiredo, 1996), um quadro referencial institucional mais atual com o “estou implicado logo existo”. É hoje tempo de integração do pensar, sentir e agir do indivíduo co-implicado culturalmente.

4 Pierre PARLEBAS no seu “lexique de praxéologie motrice”, publicado sucessivamente desde 1981 e mais recentemente com o novo título (Jeux, Sports et Sociétés), distingue o termo “moteur” de “motrice”. Este último, dado o aspecto relevante atribuído à intencionalidade e ao sentido atribuído pelo sujeito actuante em motricidade, deverá aqui, e em coerência com Eugénia TRIGO na esteira de Manuel SÉRGIO, ser traduzido por motrício, apesar dos dicionários apontarem para “motriz”, do latim e francês motrice. Motrício está para a motricidade como motor ou motriz estão para a mobilidade. Do nosso ponto de vista, dever-se-á evoluir para uma especificidade de léxico com base na hipótese de que o motor tem a ver com o observável sendo claramente referenciável ao bio (biofisiológico, biomecânico e bioinformacional) enquanto que o motriz poderá ter a ver com o referenciável ao psico e ao sócio. Assim, o pano integrador da motricidade terá, hipoteticamente, a adjectivação predominante de motrício: inclui motor e motriz, a um só tempo, superando-os do observável e compreensível ao interpretável – o lado escondido; o outro lado.

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Assim sendo, às origens e aos fundamentos do Desporto como contexto de estudo das ciências humanas, junta-se a eterna pergunta sobre o seu sentido. Mais do que o lado operacional na motricidade humana, que é o lado motor expresso em contexto desportivo propriamente dito, temos o seu sentido intencional que nos intriga fundantemente. Trata-se de captar o sentido latente, o não expressado na ação motora, o não feito. Trata-se de olhar para o ato motor como conduta motrícia que integra o “motor” e o “não motor”, estando o motor para a mobilidade como o motrício está para a motricidade. Também nós nos juntamos a Trigo (1999), cit in Figueiredo (2006), na “criação do termo ‘MOTRÍCIO/A’ para adjetivar a motricidade”.

No entanto, é preciso não se confundir a categoria da intencionalidade inerente à interpretação da conduta motrícia como se fosse um pressuposto de que a motricidade depende exclusivamente da vontade do seu agente. Assumindo o postulado evidenciado por Bouthoul (1966) cit in Figueiredo, (2006) de que a “qualquer ciência do homem […] se reserva o direito de compreender os fenómenos melhor do que aqueles que os vivem”, numa atitude cientificamente vigilante portanto, devemo-nos interrogar constantemente “se uma realidade mais profunda não se esconde sob as aparências imediatas” (Bouthoul (1966) cit in Figueiredo, (2006).

É assim que o conceito de ação motrícia5, “numa perspetiva de ação-fenómeno, de

ação-sistema” (Parlebas (1999, cit in Figueiredo, 2006), emerge como integrador do conceito de conduta motrícia, símbolo do ponto de vista do sujeito em ação.

5 “Acção” com Paul RICOEUR (orig: 1977, 1988) e o seu Discurso da Acção. “Motrícia” com Manuel SÉRGIO explicitado em Eugénia TRIGO (1999)

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3. TREINO DESPORTIVO

3.1. Definição

O termo “treino”, “tal como acontece com muitos outros, não tem um só significado. No seu sentido mais amplo relaciona-se com qualquer processo de exercícios, de aprendizagem, ainda que a essência concreta do exercício possa ser completamente distinta” (Matvéiv, 1990, p. 13).

A noção de “treino”, “é empregue nas mais variáveis áreas, abrangendo um processo que, através de exercícios, visa atingir um nível mais elevado na área do objetivo previsto” (Castelo et al, 2000, p.5).

Para Matvéiv (1990) “o treino desportivo, como fenómeno pedagógico, é o processo especializado da educação física orientado diretamente para a obtenção de elevados resultados desportivos”.

Quer dizer, trata-se do processo da educação física «através do desporto», por meio do desporto. É importante ter aqui em consideração que o desporto, no seu aspecto pedagógico, não constitui um fim em si mesmo, mas sim um meio de educação, de melhoria da saúde e de preparação para a vida.

Já para Alves (2001, p.1), a noção de treino está, fundamentalmente, ligada a duas ideias principais:

- Ao trabalho a realizar num determinado campo de atividade para se conseguir um nível de eficácia elevado. Esta ideia aparece normalmente associada a uma prática de repetição de tarefas, muitas vezes apresentadas segundo sequências facilitadoras, organizadas de acordo com uma lógica de dificuldade crescente.

- Ao processo de preparação para um qualquer acontecimento que exija grande concentração por parte do indivíduo ou uma utilização dos recursos físicos e psíquicos de grande exigência.

Desta forma, o mesmo autor refere que o treino desportivo abarca estas duas ideias e subordina-as a um propósito principal: a obtenção do máximo desempenho desportivo.

Entende-se por desempenho desportivo, também conhecido pelo termo inglês “performance”, o resultado, obtido em competição, que expressa as possibilidades máximas individuais numa determinada disciplina desportiva, num determinado momento de desenvolvimento do atleta e da época de preparação.

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O treino é definido por Castelo et al (2000), como sendo um processo pedagógico que visa desenvolver as capacidades técnicas, táticas, físicas e psicológicas dos praticantes através da prática sistemática e planificada do exercício, orientada por princípios e regras devidamente fundamentadas no conhecimento científico.

Acrescenta, Castelo et al (2000), cit in Gomes (2004), que o treino desportivo se liga indissoluvelmente ao fenómeno desportivo e é condição essencial ao cumprimento de uma das facetas definidas deste fenómeno: a superação. De facto, universalmente o treino desportivo tem como um dos seus objetivos obter um rendimento desportivo máximo. Para Barbanti (1997) cit in , Gomes (2004), o Treino Desportivo define-se como um processo organizado e conduzido com base, em princípios científicos que visa estimular modificações funcionais e morfológicas no organismo para elevar a capacidade de rendimento do desportista.

Por outro lado, para Matvéiv (1990), “ a preparação física, técnico-tática, intelectual, psíquica e moral do desportista, através de exercícios físicos, é definida como “Treino Desportivo”, que constitui a forma principal da preparação do atleta, mas não os esgota.

Quando se fala em treino desportivo, portanto, estamos sempre a colocar a questão de uma preparação ótima e sistemática para a competição. Não existe treino desportivo sem um quadro competitivo definido e regulamentado que enquadre, do ponto de vista das dinâmicas sociais, esta prática.

Daí que Alves (2001, p.1), considere que, se bem que não exista desporto, ou treino desportivo, sem a competição, também não se poderá falar em treino desportivo quando este não é firmemente orientado segundo uma perspetiva pedagógica e formativa tendo em vista o desenvolvimento pessoal de cada praticante.

Consideramos, então o treino desportivo como um processo pedagógico complexo, porque aquilo que o treinador tem que fazer, essencialmente, é, de um modo apropriado e bem adaptado às capacidades e fraquezas de cada um, ensinar novas destrezas e formas de obter sucesso na competição, desenvolvendo, simultaneamente, a capacidade de trabalho e de entrega do praticante, o espírito de equipa e a aptidão de cooperação, a vontade de superação.

O treino desportivo, segundo Alves (2001, p.2) conduzido adequadamente enquanto processo pedagógico é, também, um fator de enriquecimento cultural e um estímulo para o desenvolvimento intelectual e cognitivo.

De acordo com Mesquita (2000) cit in Gomes (2004), o treino desportivo constitui um processo complexo, no qual o produto final resulta da convergência de múltiplos fatores, cuja

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explicação e entendimento radicam não apenas no domínio do conhecimento, mas também na arte e na intuição do treinador.

Desta forma, podemos concluir que a quantidade enorme de fatores com que se lida no dia-a-dia do treino desportivo fazem dele, também, um fenómeno complexo, que exige, para que seja bem-sucedido, saber e experiência por parte do elemento orientador e condutor deste processo: o treinador.

Já Verjoshanski (1990) cit in Gomes (2004), refere que “o treino é um processo pedagógico complexo, com aspetos muito variados que têm uma forma específica de organização que o converte numa ação sistemática, complexa e global, sobre a personalidade e sobre o estado físico do sujeito”.

O treino desportivo procura pois, estabelecer pelos seus efeitos, uma adaptação dos praticantes às condições que lhe são impostas pela competição, de modo a assegurar uma eficiência máxima com um dispêndio mínimo de energia e uma recuperação rápida. Em suma, podemos dizer que um treinador que orienta um treino desportivo na sua gestão, visa sempre a eficiência e eficácia.

O objetivo do treino desportivo é a melhoria das metodologias de aplicação dos estímulos e da capacidade de prognose dos seus efeitos sobre a prestação, enquadrados sempre numa visão interdisciplinar que tem em conta os diversos aspetos fisiológicos, psicológicos, pedagógicos, culturais e sociológicos entre o atleta e o treino (Manno, 1987) cit.

in Carvalhal (2002).

Segundo Tavares, & Faria, cit in Oliveira & Tavares, (1997, p.3), ao nível do processo de treino desportivo “a maior parte dos atletas tem sido sujeitos à realização constante de exercícios físicos, sendo poucos os treinadores que se preocupam com o desenvolvimento dos aspetos cognitivos ou mentais dos seus atletas. Isto resulta claramente de um entendimento “construtivista” da estrutura de rendimento entre as suas diferentes dimensões: energéticas/funcionais, coordenativas, cognitivas e emotivas. Contudo, atualmente, há a necessidade inadiável de que esta perspetiva construída a partir de um paradigma disjuntivo, seja rapidamente superada”.

Tal atitude parece-nos perfeitamente possível e ao nível dos Jogos Desportivos Coletivos (J.D.C.) o elemento chave desta eventual mudança de paradigma será o do claro entendimento do objeto empírico de estudo, isto é, a ação de jogo em si mesmo.

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3.2. Objetivos do treino desportivo

Bompa (1999) cit in Dias & Figueiredo (2002), considera que os objetivos gerais do treino desportivo são:

1. Desenvolvimento específico das aptidões e capacidades

O treino está centrado na preparação para a competição. Neste sentido, ele procura, em primeira instância, otimizar as aptidões que mais influências terão nos resultados desportivos. Isto implica uma integração dos vários fatores do treino, sendo o treino das qualidades físicas o suporte para um melhor aprofundamento das habilidades técnicas e uma melhor capacidade concretização dos procedimentos táticos.

2. Desenvolvimento físico multilateral

Apesar do anterior, é reconhecida a necessidade de uma base alargada de adaptações orgânicas e de um repertório motor vasto e variado para melhor responder às necessidades da preparação especializada. Esta temática é nuclear no âmbito da formação desportiva inicial e relaciona-se, naturalmente, com a manutenção do estado de saúde do atleta e da prevenção de lesões.

3. Desenvolvimento psicológico

Neste campo fala-se muitas vezes das “qualidades volitivas”: disciplina de treino e de comportamentos em competição; confiança; coragem; vontade de vencer; gosto pela superação individual.

4. Espírito de equipa

Surge como necessidade em todos os desportos, sejam coletivos ou individuais. Tem a ver com a criação de uma cultura de grupo propiciadora de coesão interna e com amplas consequências no campo da motivação, portanto, influenciando grandemente a otimização dos resultados desportivos e a longevidade da carreira do atleta.

5. Estado de saúde do atleta

A manutenção em estado ótimo da saúde do atleta e prevenção cuidadosa de todos os fatores de risco são preocupações centrais num programa de treino desportivo bem organizado e com impacte social. A consideração de fatores como a recuperação física, a integridade dos equipamentos, a organização dos exercícios, e muitos outros, podem ser incluídos neste quadro.

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6. Prevenção de lesões

Este objetivo, ligado ao anterior, reveste-se de um carácter mais restrito e detalhado, uma vez que diz respeito, muito especialmente à organização dos exercícios de treino e ao suporte articular e muscular envolvido, que deve estar plenamente assegurado. Pode ter uma importância específica no atleta jovem principalmente em disciplinas desportiva onde o impacto físico e o contacto entre oponentes é mais habitual.

7. Bases teóricas

A atividade do treino deve ser acompanhada pela exposição e discussão sobre os procedimentos e seus fundamentos. Não é aceitável que um atleta não saiba distinguir um esforço de base aeróbia de um outro de velocidade e que não entenda quais os mecanismos subjacentes. Esta questão alarga-se aos domínios técnicos e táticos, assim como à relevância de muitos fatores psicológicos, entre eles o controlo da ansiedade pré-competitiva.

3.3. Princípios do Treino Desportivo

O planeamento do Treino Desportivo marca o “processo racional de antecipar finalidades e objetivos, de estabelecer as tarefas e os recursos para os atingir e de avaliar esse percurso” (Dias & Figueiredo, 2002, p. 3).

De acordo com os mesmos autores, o Treinador deve perceber que o trajeto de melhoria pela prática tem raízes fundantes, como por exemplo os estádios de evolução, mas também tem de perceber que existem hoje avanços indiscutíveis na área da metodologia do treino e do planeamento que convém ir conhecendo, estabelecendo como tarefa básica a “redução do espaço que separa a ciência da prática” (Raposo, 2000, cit in Dias & Figueiredo, 2002)

Usando corretamente os princípios do treino, que advêm do relacionamento da teoria com a prática, criamos melhores condições de organização de todo o processo, desde o estabelecimento adequado das finalidades e objetivos até à avaliação do processo.

Alves (2001, p. 14), afirma que “os exercícios e o planeamento do treino devem obedecer a um conjunto de princípios de carácter biológico e metodológico que visam orientar a atividade prática no sentido de uma melhor eficácia na sua aplicação”.

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3.3.1.Princípios biológicos

3.3.1.1. Sobrecarga

O exercício de treino só poderá provocar modificações no organismo dos atletas, melhorando a sua capacidade de desempenho, “desde que seja executado numa duração e intensidade suficientes que provoquem uma ativação ótima dos mecanismos energéticos, musculares e mentais. Implícita na própria noção de “adaptação de treino” está a ideia de que apenas estímulos que perturbem de uma maneira importante o equilíbrio metabólico ou de regulação de uma determinada função serão indutores do processo de reorganização interna conducente ao surgir de uma capacidade de resposta superior” (Alves 2001, p. 15).

Deste modo, podemos perceber que para que haja desenvolvimento de capacidades, o músculo ou o sistema visados, terão que ser solicitados para níveis de atividade não habituais. Uma carga de treino que procura efeitos máximos de adaptação terá que provocar perturbar o equilíbrio interno de um modo significativo, terá que constituir um fator de stress físico relevante.

A ultrapassagem deste limiar criado pelas “rotinas de treino será tanto mais difícil quanto mais evoluído for o estado de treino do atleta, daí a procura de cargas mais exigentes, pela sua quantidade, intensidade ou frequência, mas também pela sua especificidade e /ou carácter seletivo” (Alves 2001, p. 15).

Assim, por exemplo, se a prescrição do treino da força para um determinado indivíduo for realizar 5 repetições máximas (5 repetições com o máximo de carga possível) e se, na realidade, o peso levantado já não corresponder a essa intensidade, mas possibilitar a realização de, por exemplo, 8 repetições, então os músculos não serão sujeitos a sobrecarga e os efeito do treino não serão os esperados, ou seja, poderá permitir a manutenção de aquisições anteriores, o que é uma estratégia de treino possível, em determinadas circunstâncias, mas falhará o alvo se a intenção for o desenvolvimento da força.

O mesmo se passará com o treina da resistência aeróbia. Para um atleta de fundo, treinar na zona do limiar anaeróbio é condição fundamental para aumentar a sua capacidade de desempenho a nível competitivo. Se as “velocidades de corrida não acompanharem a evolução ocorrida nas adaptações aeróbias e neuromusculares provenientes das semanas anteriores de treino, as cargas tornar-se-ão irrelevantes para o fim em vista.” (Alves 2001, p. 15).

A noção de sobrecarga implica a adequação das cargas de treino a par e passo com a mutação constante da capacidade máxima do indivíduo, ou seja, leva à organização de uma

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progressão dos exercícios de treino no que diz respeito às componentes da carga, noção que será explicitada mais à frente (princípio metodológico da progressão das cargas de treino).

Compreender “o princípio da sobrecarga exige levar em consideração o facto de o processo de adaptação ao treino incidir e reorientar a dinâmica de renovação contínua das estruturas biológicas. O organismo está em constante deterioração e reparação.” (Alves 2001, p. 15).

O estímulo de treino provoca danos específicos em alguns tecidos e provoca o desgaste das reservas celulares (substratos energéticos, água, sais minerais, etc.). Quando finalizamos uma sessão de treino e saímos do campo, da pista, ou da piscina, não estamos mais aptos mas mais fracos. O grau de debilidade relativa atingido depende da quantidade e da exigência do exercício. Após a sessão, no entanto, e segundo Alves (2001), se for proporcionado um tempo adequado de recuperação, o organismo ajustar-se-á através do processo de supercompensação e preparar-se-á, deste modo, para o próximo estímulo ou conjunto de estímulos.

Existe um nível de carga ótimo, “em cada situação, para cada atleta, que será aquele que melhor estimulará o organismo no sentido de obter as adaptações desejadas. A regra deverá ser de realizar o menor treino possível que permita atingir os objetivos em vista.” (Alves 2001, p. 15).

Deste modo, Alves (2001, p. 16), defende que “o treino não é, assim, um fim em si próprio mas um conjunto de procedimentos considerados necessários para elevar a capacidade de desempenho competitivo.”

Por outro lado o mesmo autor, afirma que um nível de carga excessivo é aquele que ultrapassa a capacidade de resposta do atleta nesse momento, implicando níveis muito elevados de fadiga, desmotivação e, muitas vezes, abandono da modalidade. Níveis de carga fracos não têm provavelmente qualquer efeito. No entanto, por vezes é conveniente aplicar cargas deste tipo como recuperação ativa ou por outras razões.

Existe, no entanto, um nível médio, inferior ao ótimo, “que é muito utilizado em treino em tarefas variadas de estabilização das aquisições e do nível de fadiga atingido. Pode-se dizer que os níveis de carga média e ótimo alternam constantemente e constituem a quase totalidade da estimulação de treino.” (Alves 2001, p. 16).

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3.3.1.2. Especificidade

“A especialização é o elemento fundamental para o sucesso num desporto ou especialidade, sendo multifactorial. Além de física, é também técnica, tática, e psicológica.” (Dias & Figueiredo, 2002, p. 3). Figueiredo (1996), na esteira de Bompa, referencia mais um fator: teórico. Este vem sendo explicitado em condicionantes socioculturais.

A natureza da carga associada a um determinado exercício condiciona os sistemas solicitados, a tipologia de recrutamento muscular e a resposta neuro endócrina envolvida. O núcleo central da resposta do organismo a uma carga de treino passa por 4 níveis básicos (Viru, 1996 cit in Alves, 2001): a estrutura muscular utilizada, a resposta hormonal específica, a ativação seletiva de órgãos e sistemas e o controlo (direto ou indireto) do movimento por parte do sistema nervoso central.

Para Alves (2001) um exercício de treino tem sempre um impacto definido no organismo do atleta, que depende das suas características no que diz respeito à sua estrutura (movimentos utilizados) e às componentes da carga que lhe estão associados (volume e intensidade, fundamentalmente).

Assim para este autor, a partir do momento em que o treino desportivo passou a ser considerado como um sistema de implicação global integrando muitos e variados elementos de uma forma estruturada e progredindo para objetivos claramente enunciados, a orientação que a ele preside passou a constituir-se a partir da preocupação da adequação dos exercícios ao sistema energético e ao gesto desportivo utilizados no desempenho competitivo.

O princípio “da especificidade é aquele que impõe, como ponto essencial que o treino deve ser concebido a partir dos requisitos próprios do desempenho desportivo em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmentos corporais e coordenação motora utilizados.” (Alves, 2001, p. 17).

Este princípio refletir-se-á em duas amplas categorias de fundamentos fisiológicos: os aspetos metabólicos e os aspetos neuromusculares. De “acordo com o princípio da especificidade, as adaptações decorrem das características espacio-temporais do movimento realizado ou seja, dos grupos musculares mobilizados e dos ângulos articulares utilizados mas também da intensidade do exercício com a solicitação metabólica que lhe é inerente.” (Alves, 2001, p. 17).

Podemos então concluir, que daqui decorre, naturalmente, que um exercício para o desenvolvimento da força terá uma estrutura diferente de um exercício para a estimulação da velocidade máxima.

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A estrutura do “movimento utilizado num exercício determina, então, sobre que músculos incidirá o estímulo de treino, em que grau de importância e qual o tipo de recrutamento dos vários tipos de fibras musculares (desempenho neuromuscular)” (Alves, 2001, p. 17).

Tal como, Dias & Figueiredo (2002), referiram, em grande parte das disciplinas desportivas, o treino da força muscular é parte integrante dos programas de treino, com o intuito de contribuir para a evolução do desempenho competitivo. Para que o aumento da força tenha um impacte real no desempenho, no entanto, teremos que assegurar que, pelo menos, parte desses exercícios se aproximem das condições próprias de execução do ponto de vista muscular e energético. Só assim poderemos assegurar, para a totalidade do programa de preparação, níveis elevados de transferência das adaptações metabólicas e neuromusculares conseguidas para a eficácia do gesto técnico usado na competição.

Perante isto, poderemos afirmar que esta será uma preocupação constante de todos os treinadores em qualquer modalidade desportiva.

Dominar o “princípio da especificidade na construção de exercícios de treino significa adequar a estrutura e as componentes da carga aos objetivos definidos para esse mesmo exercício. “(Alves, 2001, p. 18).

Neste sentido, é “necessário trabalhar com zonas de intensidade bem definidas, estimulando adequadamente os vários sistemas energéticos, as capacidades do atleta que se pretendem desenvolver – a força, a velocidade, a resistência ou a flexibilidade, nas suas várias subdivisões – ou, a outro nível, a técnica e a preparação tática para uma competição.” (Alves, 2001, p. 17).

3.3.1.3. Reversibilidade

Segundo Alves (2001, p.16), o organismo humano, “apesar de níveis elevados de redundância, próprios de todos os seres vivos, apresenta um grau elevado de eficiência e economia.” O ferro e os constituintes proteicos dos milhões de células sanguíneas que colapsam diariamente são quase completamente reutilizados para a montagem de novas células. As proteínas que se tornam desnecessárias deixam de ser sintetizadas, assim como a sua retenção.

A consequência do dinamismo das “estruturas orgânicas para o atleta é a rápida reversibilidade das adaptações de treino uma vez interrompida a atividade sistemática de preparação” (Alves, 2001, p. 16).

Imagem

Figura 1 - Matriz Referencial da Motricidade Humana (baseado em Figueiredo, 1994b; 1995) cit in  Figueiredo 2006, p
Figura 4 - Progressão Linear da Carga de Treino (Bompa, 1999, cit. in Dias & Figueiredo, 2002)
Figura 9 - Relação entre Desenvolvimento Multilateral e Treino Especializado em diferentes idades  (Bompa, 1999, cit
Figura 10 – A continuidade do processo de direção do treino (Leith, 1983, trad: 1992)
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Referências

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